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Nº 68 - Outubro / Dezembo de 2018
b o l e t i m d a F R A T E R N I T A S M O V I M E N T O
Correspondência dos leitores 3
Breves... 3
44º Encontro Nacional
Os Primeiros Cem Anos do Cristianismo
Bíblia responde de muitas maneiras
a uma só pergunta 8-9
Ecos... 9-10
Quando se descarta um padre 12
Humanidade e Coerência
(Comunicado da Direcção da Fraternitas) 13
Opinião com nome próprio
Purificando o nosso olhar... 4
O Calvário e Beire! 5
Faz mais ruído uma árvore que cai
que uma floresta a crescer 6-7
Do baú da memória (II) 11
Homilias... para quê? 14
Celebrações sem Eucaristia 15
Advento — tempo de optimismo
e plenitude!... 16
(continua na pág. seguinte)
"Deixo-vos agora um mandamento novo: amem-se
uns aos outros. Assim como eu vos amei; é preciso
que se amem também uns aos outros. Se tiverem
amor uns aos outros, toda a gente reconhecerá que
são meus discípulos." (Jo 13,34-35)
Não te peço apenas por eles, mas também por aque-
les que crerem em mim por meio da sua pregação, e
para que todos sejam um, Pai, que eles estejam tão
unidos a nós, como tu o estás e eu a ti. Desta manei-
ra, o mundo há-de acreditar que tu me enviaste. Dei-
-lhes a mesma glória que me deste, para que vivam
em perfeita unidade como nós. (Jo 17,20-22.)
Jesus salienta que a unidade dos cristãos é critério
para o mundo acreditar n'Ele.
No encontro do Papa Francisco com os jornalistas
durante o voo de regresso de Genebra, em 21 de
Junho de 2018, Roland Juchem, da agência católica
alemã CIC, dirigiu-se ao Papa Francisco nos seguin-
tes termos:
"Vossa Santidade fala frequentemente que se de-
vem dar passos concretos no ecumenismo. Hoje
[…] disse: "Vejamos o que é possível fazer concre-
tamente, em vez de nos desencorajar pelo que não
o é.”
[…] Como é possível que, tendo os bispos alemães
decidido recentemente dar um passo [na chamada
"inter-comunhão"], o arcebispo Ladaria [Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé] lhes tenha
escrito uma carta que lembra de certo modo o ac-
cionar um travão de emergência. Depois do encon-
tro de 3 de Maio passado, afirmara-se que os bis-
O ECUMENISMO E
A PRIMAZIA DO DIREITO CANÓNICO SOBRE O EVANGELHO
pos alemães deveriam encontrar uma solução,
possivelmente por unanimidade. Quais serão os
próximos passos? Será necessária uma interven-
ção do Vaticano para esclarecer ou os bispos ale-
mães deverão encontrar um acordo?”
O ECUMENISMO E A PRIMAZIA DO DIREI-
TO CANÓNICO SOBRE O EVANGELHO
O Papa Francisco respondeu:
"Certamente não se trata duma novidade, porque,
no Código de DireitoCanónico, está previsto aqui-
lo de que falavam os bispos alemães: a Comunhão
em casos especiais. Eles, tendo em mente o pro-
blema dos matrimónios mistos, perguntavam-se se
aquela é possível ou não. Entretanto o Código diz
que o bispo da Igreja particular — é importante
esta palavra «particular», se é bispo duma diocese
— deve decidir sobre o problema: está nas suas
mãos. Isto está no Código. Os bispos alemães,
vendo que o caso não era claro e que alguns sa-
cerdotes procediam à revelia do bispo, quiseram
debruçar-se sobre este tema estudando-o […].
E a conclusão é restritiva: aquilo que os bispos pre-
tendiam era dizer claramente o que está no Códi-
go. E também eu, que o li, digo: este é um docu-
mento restritivo. Não era para "abrir a todos"; não.
[…]
E quiseram fazer o estudo para a Igreja local: não
para a particular. […]Mas a questão deslizou para
outro nível, […] para a Conferência Episcopal Ale-
mã. E aqui há um problema, porque o Código não
prevê isto. Prevê a competência do bispo diocesa-
no, mas não da Conferência Episcopal. Porquê?
Porque uma coisa aprovada numa Conferência
Episcopal torna-se imediatamente universal. […]
Eles enviaram o documento; […] e o arcebispo
Ladaria enviou esta carta, mas com a minha auto-
rização, não o fez sozinho. Disse-lhe: «Sim, é me-
lhor dar um passo em frente, dizendo que o docu-
mento ainda não está maduro (isto dizia a carta!) e
deve-se estudar melhor o assunto». […]
Será um documento orientador, para que cada um
dos bispos diocesanos possa decidir aquilo que o
Direito Canónico já permite. […]
Quando visitei a Igreja Luterana de Roma, foi feita
uma pergunta deste género e eu respondi segun-
do o espírito do Código de Direito Canónico, o es-
pírito que eles [os bispos] procuram agora. […]
A situação é esta. Para a Igreja particular, o Códi-
go permite-o; para a Igreja local não, porque seria
universal.…"
Roland Juchem quis esclarecer:
"Para a Igreja local, é a Conferência?"
Papa Francisco:
"É a Conferência. Mas a Conferência pode estudar
e oferecer directrizes para ajudar os bispos a deci-
dir os casos particulares."
O espírito do Direito Canónico que está espelhado,
corporizado no comportamento do filho mais velho
da Parábola do Filho Pródigo, é restritivo. Não reflec-
te o amor inclusivo do pai que "correu e atirou-se ao
pescoço dele [filho] e beijou-o" (Lc 15,20; como, ain-
da, Lc 15,25-32).
Os relatos evangélicos (Mt 26,26-29; Mc 14,22-25;
Lc 22,14-20; Jo 6,51-59; 1Cor 11,23-27) descrevem
a última Ceia Pascal em que Jesus dá aos doze o
pão (Isto é o meu corpo) e o vinho (Este é o meu
sangue, sangue da Aliança), bem como o anúncio
da traiçãode JudasIscariotes(Mt 26,20-25; Mc14,17-
21; Lc 22,21-23; Jo 13,2.21-30).Aeste mesmo Judas,
Jesus também distribuiu o Pão e o Vinho. Como en-
tender o gesto de Jesus?
Para os discípulos de Emaús (Lc 24,13-32), não há
dúvida que o gesto do tomar o pão, pronunciar a bên-
ção, parti-lo e dá-lo para eles o comerem, foi
identitário, levou-os ao reconhecimento de Jesus, na
pessoa de um considerado visitante de Jerusalém
que se aproximara deles.
As origens cristãs não se caracterizam pela unanimi-
dade das vozes, mas pela vivência de pluralidade de
tradições orais e escritas. Nos primeiros 100 anos
aproximadamente, são redigidos 27 escritos
canónicos. Só evangelhos temos quatro! É preciso
fazer a refontalização preconizada pelo papa São
João XXIII.
O Papa Francisco foi a Genebra, por ocasião do 70.º
aniversário da fundação do Conselho Mundial das
Igrejas (CMI). O CMI é a principal organização
ecuménica, a nível internacional; congrega mais de
340 igrejas. "A Igreja Católica não tem nenhum vín-
culo e não faz parte da organização, mas tem com
ela um grupo de trabalho permanente e participa
como membro pleno de algumas comissões, como a
Comissão de Fé e Ordem, e a Comissão de Missão
e Evangelismo", pode ler-se na Wikipédia. Muita inér-
cia provavelmente imposta pelo Direito Canónico,
paralela à ausência do dinamismo da unidade dos
discípulos por quem Jesus pediu ao Pai. Andamos
surdos?
Muito gostaria de receber uma resposta que uma vez
me deram, quando perguntei a alguém: "Vem almo-
çar connosco?" E ele respondeu: "Sim, eu fui comun-
gar." 
Jorge da Silva Ribeiro
2018-11-15
(continuação da pág. anterior)
(continuação da página 2)
 NOVAS PRODUÇÕES: A
veia inspiradora do Olindo
Marques continua bem viva.
Há pouco, deu-nos notícia de
novas melodias que, graciosa-
mente, coloca à nossa disposi-
ção e ao serviço do Povo de
Deus. Podem ser encontradas,
para download gratuito,em:
h t t p s : / / c a n t a t e -
b r e v e s . . . laudate.webnode.pt
Os nossos parabéns!
 CURIOSIDADE: “Grão a
grão, enche a galinha o papo”,
como bem sabemos. Mas tal-
vez muitos desconheçam que o
blogue da Fraternitas, no pas-
sado dia 10 de Outubro, teve a
visita 2 222 222 (dois mi-
lhões, duzentos e vinte e dois
mil e duzentos e vinte e dois),
o que é, de facto, notável.
Felicitamos vivamente o Fer-
nando Félix que magistralmen-
te o dinamiza!
 LIVROS NOVOS: Sabe-
mos que há por aí novos “fi-
lhos” na forja ou já a saírem da
linha de produção!...
Agradecemos que nos comuni-
quem para que possamos di-
vulgar.
Caro Dr. Alberto Osório
Muito obrigado pelo envio do
boletim ESPIRAL.
Apreciei lentamente os textos
publicados...
Noto respiração saudável pelos
caminhos íntimos da verdade,
bondade e beleza...
Parabéns pela sua dedicação no
anúncio do REINO DE DEUS!
"A VERDADE vos libertará"!
Olhar e sentir o diferente leva-
nos a OLHAR PARAOALTO!
A minha pequena colaboração
neste número, foi concretizada
com estima e admiração.
Sempre admirei bastante o
Dr.Artur Oliveira, pois li textos
publicados por ele. Era um pen-
sador com grande alma!
Com muita estima, um grande
abraço.
José Rodrigues Lima
[jrodlima@hotmail.com]
(28 de julho de 2018)
Obrigada pelo envio do boletim
que muito apreciei. Obrigada
também pela partilha dos meus
poemas. Os melhores cumpri-
mentos.
Helena Alexandre
[jlc.alexandre@gmail.com]
(30-07-2018)
Muito obrigado pela gentileza
do envio do nº 67 de Espiral.
Um Domingo feliz.
† A. Taipa
[domantoniotaipa@diocese-porto.pt]
(29-07-2018)
Muito grato Alberto Osório
Pax
Agradeço a edição em formato
digital e em suporte de papel.
Cordialmente em Cristo
† D. José Cordeiro
[djosecordeiro@gmail.com] (04-08-
2018)
Caro Dr. Osório de Castro
Muito obrigado pelo último
número do Espiral, recebido em
papel e em suporte informático.
Com votos de boas férias, cor-
diais saudações de Paz e Bem
† António Montes Moreira
Bispo Emérito de Bragança-Miranda
[montes@ofm.org.pt] (05-08-2018)
Meu caro Alberto Osório de
Castro
Se agradeço o envio do último
número de “Espiral”, transmito,
sobremaneira, a minha saudade
e esperança pelo Artur Cunha
de Oliveira, de cuja morte tomei
conhecimento pelas vossas no-
tícias. Conheci-o há cinquenta
anos e tal, quando, ainda profes-
sor do Seminário deAngra, veio
ao Porto, tomar parte num
Curso de Cristandade, que eu
dirigi. Tinha 25 anos! Só muito
mais tarde nos reencontrámos!
Boas férias, sempre merecidas!
Os meus cumprimentos, do
† Januário Torgal Ferreira
(07-08-2018)
Saudações cordiais e votos de
saúde, paz e bem!
Reconhecidamente agradeço a
gentileza de me terem feito
chegar o vosso Boletim “Espi-
ral”, edição de julho/setembro,
à qual dedicarei a melhor
atenção.
Com a mais elevada estima e
consideração.
† Francisco José
Arcebispo de Évora (24-09-2018)
"Era velho e ouviste as mi-
nhas estórias, mil vezes repe-
tidas e, quando fiquei com
Alzheimer e comecei a não
"dizer coisa com coisa", não
te riste de mim, cuidaste de
mim com mais ternura ain-
da". (Mt 25)
"Felizes nós, sempre que
ajudamos com Misericórdia,
porqueseremosajudados com
Misericórdia" (Mt 5)
ENCANTAM-ME aqueles Ve-
lhos, cuja vida longa e ar feliz é,
claramente, uma graça imensa
de Deus… dada a nós, os mais
novos! Ainda que sejam daque-
les Velhos que só sabem assinar
de cruz,quantosaber feito de ex-
periência e quantos olhares tão
mais sábios que os nossos, que
nos achamos cultos e
actualizados…
QUESTIONAM-ME aqueles
Velhos,cujavidase chamaaban-
dono, desaparecido que foi o
contexto familiar alargado em
que velhos, menos velhos e cri-
anças se faziam uns aos outros
em com–panhia. Mesmo com
vícios e falhas, tornava impen-
sáveis os extremos de solidão e
desespero que hoje saltam à vis-
ta, e são notícia recorrente do
telejornal…
DOEM-ME aqueles Velhos,
escondidos em lares que não são
LAR. Onde não cheira a ternura
nem a família. Onde cheira a fe-
ridas incuradas e a silêncio.
Onde uma higiene estéril mata
as capacidades ainda vivas em
tantos deles…
ESPERANÇAM-ME aqueles
Velhos que fizeram dos seus dias
um Milagre de doação. Nada de-
tiveram. Nada têm. Nada lhes
falta. Os Pobres se encarregam
de que não lhes falte a Água, o
Pão e a com–panhia…
São homens e mulheresem
corpos já murchos, mapeados de
rugas.Reagem àternura com ter-
nura e aos abraços com abraços
embora a vida aconteça neles,
agora, a um outro ritmo que, na
nossa pressa desatenta, dificil-
mente entendemos, muito me-
nos aceitamos como profecia…
Negamo-nos a ler nos seus
olhos as lições que têm para a
nossa infância promissora ou
adultez vigorosa E vamos
desvivendo.
A ciência e a medicina
aprenderam a prolongar os anos
mas não ensinaram os mais no-
vos a descodificar as alterações
biológicas e comportamentais
que isso traz — as memórias a
esboroarem-se… o esquecimen-
to de quem são ou, de quem são
hoje os seus amados de on-
tem…. Alguns de nós iremos
acabar assim… Sem saber os
Purificando o nosso olhar…
nomesdos que nossão próximos
e olhando perdidos o vazio…
HOJE é o tempo propício
para não deitarmos para trás das
costas a Memória, que inscreve
nas relações a Gratidão, a Ale-
gria e o Perdão que nos restau-
raram a todos… Porque nem
tudo é linear, nem belo, nem
humano, na vida da gente —na
nossa nau navega tudo— o des-
mesuradamente bom e o incri-
velmente mau de que somos ca-
pazes. TODOS nós…Sem ex-
cepção!!!
Grande é a Insensatez do
nosso coração quando menos-
prezamos o fio da História e o
simples e natural envelhecimen-
to que a todos toca, preferindo
negar as evidências e esconde-
mos os nossos medos na procu-
ra do elixir da eterna juventu-
de…
Pobres de nós quando per-
demos o sentido do valor de um
sorriso ou de uma carícia que,
passando como brisa suave, são
capazes de sarar, como que por
encanto, todas as dores… tam-
bém, quando esquecemos que o
mimo,na sua IN–utilidade,pode
encher de Graça um dia! Todos
os dias!
AMEN! 
Glória
(Associada Nº 22)
10 de Junho 2017
Tem sido noticia. O Calvário
foi a menina dos olhos do Padre
Américo. Ao longo de sessenta
anos tem acolhido deserdados,
maltrapilhos, os sem eira nem
beira, toda a espécie de dor, so-
frimento e abandono: Farrapos
humanos que ninguém queria. E
deu-lhes guarida, uma cama e
mesa, muita ternura, muito cari-
nho, muito amor.
O Calvário sempre viveu da
caridade dos fiéis e da boa von-
tade dos voluntários. Os própri-
os utentes se solidarizam e
apoiam os outros com mais difi-
culdades físicas. Ninguém se
sente inútil. Cada um à sua ma-
neira e segundo as suas possibi-
lidades dá felicidade e alegria
aos demais.
O Calvário e Beire!
O Calvário não é um lar ofi-
cial. É uma casa de família onde
todos os utentes se entreajudam.
É claro que isto é um ideal e
como todas as coisas humanas,
sofre altos e baixos. Este lar é
pedagógico. Os utentes não es-
tão passivos como nos lares tra-
dicionais. Estes "moradores" es-
tão ativos e segundo as suas ca-
pacidades desempenham bom
trabalho.
Ostécnicos da SegurançaSo-
cial não vêem o Calvário deste
modo. Estes são burocratas e
tecnocratas.
Vêem e analisam tudo em
função dos livros e das teorias
que decoraram. No Calvário há
vida! Vive-se em amor.
O Padre Batista dirigiu a casa
durante décadas. Agora com 85
anos vê esta casa ser invadida
por estranhos. Retiram-lhe os
idosos,sem uma explicação con-
vincente. Ainda não vi reações
da Igreja. Espero que a hierar-
quia não fique de fora.
Tu, amigo/a, deixa o teu sos-
sego e vai a Beire ver, com teus
próprios olhos, este milagre de
amor.
Apoia o padre que dirige.
Conforta, dá uma palavra amiga
àqueles residentes. Mostra-lhes
queDeusserve-sedoshomens…
Às vezes estes é que não sinto-
nizam nessa dimensão, mas
Deus continua presente. 
Joaquim Soares
(Associado Nº 72)
10 de Novembro 2018
Querido irmão e irmã jornalista:
Sou um simples sacerdote católico, feliz e or-
gulhoso da minha vocação.Hávinteanos que vivo
em Angola como missionário.
Vejo em muitos meios de informação, sobre-
tudo no vosso jornal, a ampliação do tema dos
sacerdotes pedófilos, com investigações de for-
ma mórbida sobre a vida de alguns sacerdotes.
Falam de um de uma cidade nos Estados Uni-
dos dos anos 70, de outro na Austrália dos anos
80, e seguida de outros casos recentes...
Certamente isto deve ser condenado! Veem-se
alguns artigos de jornal equilibrados, mas tam-
bém outros cheios de preconceitos e até de ódio.
O facto de pessoas, que deveriam ser manifesta-
ção do amor de Deus, serem como um punhal na
vida de inocentes, provoca em mim uma imensa
dor.
Não existem palavras para justificar tais ac-
ções. E não há dúvida de que a Igreja não pode
deixar de estar ao lado dos mais fracos e dos mais
indefesos. Portanto, todas as medidas que sejam
tomadas para a protecção e a prevenção da digni-
dade das crianças serão sempre uma prioridade
absoluta.
O que não é notícia e devia ser:
Todavia, suscita curiosidade a desinformação
e o desinteresse perante milhares e milhares de
sacerdotes que se esforçam em prol de milhões
de crianças, de muitíssimos adolescentes e dos
mais pobres em todo o mundo!
Considero que ao vosso meio de informação
não interesse saber que eu, em 2002, passando
por zonas cheias de minas, fui obrigado a transfe-
rir muitas crianças desnutridas de Cangumbe para
Luena (em Angola), porque nem o governo se
importava, nem as ONGs estavam autorizadas.
E penso que também não vos importa que eu
tenha tido de sepultar dezenas de criancinhas,
mortas na tentativa de fugir das zonas de guerra
ou procurando regressar (a casa), nem que salva-
mos a vida a milhares de pessoas no México gra-
ças ao único posto médico em 90.000 Km2, e gra-
ças também à distribuição de alimentos e semen-
tes.
Não vos interessa também saber que nos últi-
mos dez anos demos a oportunidade de receber
educação e instrução a mais de 110.000 crianças...
Não tem uma ressonância mediática o facto de
que eu e outros sacerdotes tivemos de fazer frente
à crise humanitária de quase 15.000 pessoas nos
acampamentos da guerrilha, após a sua rendição,
porque não chegavam alimentos nem do Gover-
no, nem da ONU.
Não é notícia que um sacerdote de 75 anos, o
padre Roberto, todas as noites percorra a cidade
de Luanda e cuide dos meninos de rua, os leve
para uma casa de acolhimento na tentativa de os
desintoxicar da gasolina e que às centenas sejam
alfabetizadas.
Não é notícia que outros sacerdotes, como o
padre Stefano, se ocupem a acolher e dar protec-
ção a crianças maltratadas e até violadas.
E não é de vosso interesse saber que o frei
Maiato, não obstante os seus 80 anos, vai de casa
em casa confortando pessoas doentes e sem espe-
rança.
Não é notícia que mais de 60.000, entre os
400.000 sacerdotes e religiosos, tenham deixado
a própria pátria e a própria família para servir os
seus irmãos num leprosário, nos hospitais, nos
campos de refugiados, nos institutos para crian-
ças acusadas de feitiçaria ou órfãs de pais mortos
por SIDA, nas escolas para os mais pobres, nos
centros de formação profissional, nos centros de
assistência aos seropositivos... ou, sobretudo, nas
paróquias e nas missões, encorajando as pessoas
a viver e a amar.
Não é notícia que o meu amigo, o padre Mar-
co Aurélio, para salvar alguns jovens durante a
guerra em Angola os tenha conduzido de Kalulo
até Dondo e no caminho de regresso à sua missão
foi cravado de balas; não interessa que o frei
Francesco e cinco catequistas, para ir ajudar nas
zonas rurais mais isoladas, tenham morrido na
estrada num acidente; não importa a ninguém que
dezenas de missionários em Angola sejam mor-
tos por falta de assistência sanitária, por uma sim-
O autor, Padre Martín Lasarte,
dirigiu, em 6 de Abril de 2010,
ao New York Times a carta aqui
reproduzida e que teve divul-
gação pública generalizada
apenas em 2018! O conceitua-
do diário de Nova Iorque é co-
nhecido pelos seus combates
pela justiça e democracia, mas,
como o padre Martín Lasarte indica, "errar é humano" e
"faz mais ruído uma árvore que cai do que uma floresta a
crescer".
Importa nunca perder a consciência disto.
ples malária; que outros tenham
morrido por causa de uma mina
ao ir visitar a sua gente. No ce-
mitério de Kalulo encontramos os
túmulos dos primeiros sacerdotes
que chegaram a esta região... ne-
nhum deles chegou a completar
os 40 anos!
Não é notícia acompanhar a
vida de um sacerdote "normal" na
sua vida quotidiana, entre as suas
alegrias e as suas dificuldades,
enquanto gasta a própria vida,
sem fazer ruído, a favor da comu-
nidade pela qual está ao serviço.
Na verdade não procuramos ser notícia, mas
procuramos simplesmente levar a Boa Nova,
aquela iniciada sem ruído na noite de Páscoa.
Faz mais ruído uma árvore que cai do que uma
floresta a crescer.
Não é minha intenção fazer uma apologia da
Igreja e dos sacerdotes. O sacerdote não é nem
um herói, nem um neurótico. É um simples ho-
mem que, com a sua humanidade, procura seguir
Jesus e servir os seus irmãos. Nele existem misé-
rias, pobreza e fragilidade como em cada ser hu-
mano; mas existem também beleza e bondade
como em cada criatura...
Insistir de forma obsessiva e persecutória so-
bre um tema, perdendo a visão do todo, cria real-
"Fazmaisruídoumaárvorequecaidoqueumaflorestaacrescer"
mente caricaturas ofensivas do sacerdócio católi-
co e é por isso que me sinto ofendido.
Jornalista: procure a Verdade, o Bem e a Bele-
za. Tudo isto o fará nobre na sua profissão.
Amigo... peço-lhe apenas isto...
Em Cristo,
Pe. Martín Lasarte, sdb

Nota Ed.: Da congregação dos Salesianos de Dom
Bosco, o padre Martín Lasarte deixou, ainda jovem,
o seu país natal (Uruguai), e viveu 25 anos em An-
gola, encontrando-se actualmente em Roma.
página oficial na Internet: http://fraternitasmovimento.blogspot.com NIF: 504 602 136 IBAN: PT50 0033 0000 4521 8426 660 05
Apergunta de Jesus "Que di-
zem os homens que Eu sou?",
inscrita nos quatro Evangelhos
(Mt 16,13-20; Mc 8,27-30; Lc
9,18-21; Jo 6,67-71), foi a per-
gunta que deu origem ao Novo
Testamento da Bíblia: as Cartas,
os Evangelhos, os Atos dos
Apóstolos e o Apocalipse. Foi
deste modo que o pastor Dimas
deAlmeida resumiu as três con-
ferências que orientou no En-
contro Nacional da FRATERNITAS,
com o tema "Os primeiros 100
anos do Cristianismo".
Para responder a esta pergun-
ta, os primeiros cristãos come-
çaram por rezar juntos, a invo-
car o Espírito Santo e a ler as
Escrituras; por ouvir os testemu-
nhos dos Apóstolos; por sentir
continuamente a presença de Je-
sus Ressuscitado na Eucaristia;
e por praticar o mandamento do
amor ao próximo.
A tradição oral manteve viva
e acesa a memória do Senhor Je-
sus. Depois, a inspiração interi-
or por meio do Espírito Santo e
do próprio Jesus — como acon-
teceu com S. Pedro e S. Paulo
— esclareceram os cristãos acer-
ca da Boa Notícia a comunicar,
para reunir toda aa humanidade
como discípulos do Senhor. As-
sim ficaria registado no Evange-
lho de S. Mateus: "Ide, pois,
fazei discípulos de todos os po-
vos, batizando-os em nome do
Pai, do Filho e do Espírito San-
to, ensinando-os a cumprir tudo
quanto vos tenho mandado. E
sabei que Eu estarei sempre
convosco até ao fimdos tempos"
(Mt 28,19).
Os primeiros escritos do
Novo Testamento foram as Car-
tas de S. Paulo, que não conhe-
ceu pessoalmente Jesus, e, se-
gundo ele diz na Carta aos Gá-
latas, apenas conheceu dois
Apóstolos: "Subi a Jerusalém,
para conhecer a Cefas, e fiquei
com ele durante quinze dias.
Mas não vi nenhum outroApós-
tolo, a não ser Tiago, o irmão do
Senhor." Todavia, Paulo, ao dei-
xar de perseguir os cristãos e ao
conviver com eles, e graças à
inspiração divina, pode fazer
nascernovas igrejas eexortá-las,
inspirado na Boa Notícia (Evan-
gelho de Jesus).
Os Evangelhos foram redigi-
dos pelas comunidades cristãs
muito tempo depois dos aconte-
cimentos, depois, até, das Car-
tas de S. Paulo, e propuseram-
-se transmitir factos e palavras
da vida de Jesus de Nazaré, que
as Cartas não tinham ainda refe-
rido, como resposta às dúvidas,
Os primeiros cem anos
(continua na pág. 9)
Geral: fraternitasmovimento@gmail.com Secretariado: secretariado@gmail.com Direcção: direcao.fraternitas@gmail.com
 Desafiada por um amigo, e
com alguma insistência, fui ao
encontro "Os primeiros 100
anos do cristianismo". O tema
era fascinante, mas a agenda
para variar está sempre ocupa-
da e era difícil introduzir mais
uma actividade, mas
"O tema tinha a minha cara!"
O encontro acabou por superar
todas as expectativas, a forma
como foi tratado e abordado, o
orador, a organização dos
temas, do tempo, o espaço, foi
excelente! Deu para aprender, e
muito! E ainda fiquei com
muitas referências e aponta-
mentos. A par disso foi possí-
vel espaço de partilha e troca
de impressões. Foi interessante
perceber o que está a acontecer
noutras paróquias, as suas
e c o s . . .
dinâmicas (tão diferentes das
nossas!), como há tantas
formas de ser Cristão e Católi-
co. Gostei de perceber que há
outras pessoas, tal como eu,
que defendem uma participa-
ção diferente para as mulheres
e a possibilidade de haver
sacerdotes casados.
Fechamos com chave de ouro
com uma cerimónia ecuménica
presidida por uma mulher!
Gostei de conhecer a Fraterni-
tas e perceber as sua dinâmicas
e linhas de pensamento.
Sílvia Martins
18/11/2018
do Cristianismo
às angústias e aos desafios das
comunidades nascentes e que se
iam multiplicando por todo o
império romano.
Todos os discípulos de Jesus
se tornaram missionários, anun-
ciando e testemunhando como
Jesus mudou o mundo em geral
e o deles, em particular. Por isso,
o Novo Testamento é tão rico e
tão diversificado. A quantidade
de estilos literários; a abundân-
cia de assuntos; a multidão de
nomes referidos; a intempora-
lidade do seu conteúdo… tudo
isso nos incumbe de dar o devi-
do valor divino e humano à Bí-
blia, e nos "obriga" a lê-la todos
os dias, porque vamos encontrar
sempre nela uma orientação e
umaforçapara os desafios dodia
a dia. 
Ferando félix
(Associado Nº 105)
e c o s . . .
 Inscrevi-me no encontro "Os
primeiros cem anos do Cristianis-
mo" aliciada pelo tema e pelo
nome do orador.
A forma como o tema foi desen-
volvido satisfez-me plenamente.
Gostei também de conhecer mais
de perto este grupo de reflexão e
inter-ajuda que é o Movimento
Fraternitas. Sinto-me agradecida
pela confiança que depositaram
em mim, convidando-me para
presidir à Celebração da Palavra,
o que fiz com agrado, colocando
nisso todo o empenho que no
momento me foi possível.
Obrigada por tudo quando recebi
do grupo.
Ilda Fontoura Pires
17/11/2018
 O encontro celebrado em
Alfragide foi para mim uma
experiência muito enriquece-
dora. Já o pressentia, mas pude
sentir que caminhantes de
caminhos idênticos geram
entre si uma solidariedade
espontânea. E foi bom sentir
 Os Primeiros Cem Anos do
Cristianismo
Foi este o título do 2º Encontro
em que a Fraternitas Movimento
fez jus ao seu nome, que signifi-
ca, primeiramente, parentesco,
relação entre irmãos. Decorreu
em Alfragide, no Seminário
Nossa Senhora de Fátima, de 5
a 6 de outubro p.p., e foi orienta-
do pelo Pastor Dimas de
Almeida.
O 1º, realizado a 14 de janeiro de
2017, intitulado Ecuménico,
ajudou-nos a reconhecer como
verdadeiros irmãos cristãos os
vários oradores de diferentes
Igrejas cristãs.
Em outubro, o Professor e Pastor
Dimas transportou-nos aos
primeiros cem anos do cristianis-
mo com grande mestria e saber.
Entusiasmou a audiência expli-
cando, demoradamente, através
de esquema dividido em três
fases, a história plausível do 1º
século do Cristianismo. Que
maravilha!
Mais uma vez, ficamos convictos
que a Mensagem de Jesus
permanece, mas cada ser
humano utiliza-a conforme os
seus interesses e conhecimento.
Parabéns à Direção da Fraterni-
tas Movimento pela ideia da
escolha do orador em causa que
tão belos esclarecimentos
prestou.
Eduarda Cunha
15/11/2018
o que lhes convém. Não se
comprometem.
4. São formadas por elementos
burgueses ou da meia-bur-
guesia. Que vivem bem…
5. Não se formam verdadeiras
famílias paroquiais. Até por-
que são quase exclusivamen-
te constituídas por elementos
do sexo feminino, na sua mai-
oria solteiros.
para essas comunidades, embo-
ra pequenas, mas que transmi-
tam na vida a mensagem cristã.

Antonino Mendonça
[antonino.mendonca@gmail.com]
(12-11-2018)
Nota do Editor: Dado o espaço dispo-
nível neste número, a parte final deste
“Do Baú da Memória (II)”, será pu-
blicada no próximo número. Do facto,
pedimos desculpa ao autor e aos leito-
res.
DO BAÚ DA MEMÓRIA (II)
(conclusão da pág. 11)
Todos estes contras e outros
mais que se poderiam apontar
impedemumaevangelização efi-
caz. Para mim, o problema é an-
gustiante e não vejo fácil saída.
Mas creio que é necessário e
urgente buscar soluções, ouvir
o povo, sentir as suas necessi-
dades e angústias.
Creio que uma evangelização
eficiente depende muito da ac-
ção missionária das comunida-
des cristãs. Temos de caminhar
que não precisámos de másca-
ras.
Quanto ao texto da celebração,
devo felicitar o autor, ou
autores. Já o li e gostei. Em
celebração deve ter sido ainda
mais bonito!
Miguel M. Costa
6/11/2018
Notamos na nossa
vida uma falta grave
de força evangeli-
zadora.Emborase tenham apro-
veitado muitas oportunidades
(casamentos, festas, missas e fu-
nerais…) a eficácia da Palavra
perde-se dolorosamente. Tere-
mos de examinar as raízes deste
mal.
A missão evangelizadora da
Comunidade Cristã é, por outro
lado, nula ou quase. Temos
consciência da necessidade da
formação de comunidades ver-
dadeiramente evangelizadoras.
Para os quais o "Ide em paz" no
final da missa, seja uma missão
paralela ao "Ide pelo Mundo
inteiro" do final do Evangelho.
Meditando nestas duas situa-
ções críticas e tentando encon-
trar as raízes, parece-nos:
1. Avida do padre,pormaissan-
ta e espiritual que seja, não
convence o homem do nosso
tempo e do nosso meio. Não é
sinal legível e eficaz da sua
Palavra. Porque:
a) Está afastado da vida co-
mum e igual à do homem
vulgar.
b) Veste diferente. É uma
casta à parte…
c) É um funcionário das
"mentiras" que nosprega.O
culto é o seu ganha-pão.
d) Vive do trabalho dos ou-
tros.
2. O ministério sacerdotal não
aparece como serviço, verda-
deiro ministério, mas comouma
profissão. O padre pensionista
da Comunidade ou simoníaco.
DO BAÚ DA MEMÓRIA (II)
Do Baú da memória
e não só. Entre pa-
péis velhos com po-
esias, apontamentos, fotografias
e outras recordações de há cerca
de meio século (dois ou três anos
apósa conclusão doVaticano II),
encontrei umas páginas de uma
comunicação feita numa Confe-
rência Eclesiástica. Era assim
que se denominavam as actuais
reuniões arciprestais. Foi feita
por um jovem presbítero e
dirigida como reflexão ao clero
mais idoso e experiente e peran-
te o arcebispo-bispo da diocese.
Hoje, ao reler o texto
amarelecidopelotempo eesque-
cido numa mala ou numa gave-
ta, constato duas coisas: quase
nada mudou desde então e é im-
portante voltar a reflectir sobre
os mesmos assuntos.
O tema principal era a "Pastoral
do Baptismo", que incluía a
"Evangelização" e a "Cateque-
se". Pela actualidade que ainda
apresentam as ideias então ex-
postas, vejo-me obrigado a reco-
piar aquilo que me resta do tex-
to dactilografado que não arran-
quei do baú da memória, mas do
pó de um arquivo pessoal.
Está a exposição escrita na pri-
meira pessoa do plural, que não
me parece que seja intencional-
mente plural majestático, mas
tão-somente fruto de uma refle-
xão feita anteriormente em gru-
po. Transcrevo o capítulo sobre
a "Evangelização" tal como o
encontrei,semalterar uma vírgu-
la ou ponto final e sem suprimir
ou alterar qualquer vocábulo.
3. Éextremamente doloroso sen-
tir o que os outros pensam,
quando,de manhã,saem para
o trabalho e nós ficamos em
casa vivendo uma vida, para
eles, ociosa.
4. É profundamente inquietante
o problema de sabê-los pen-
sar que vivemos à sua custa,
que vivemos deles e não para
eles.
5. Até o próprio celibato, sinal
de entrega total à Igreja e à
Comunidade, é considerado
egoísmo. "Porque têm
quantas querem…"
6. A nossa vida está mais volta-
da para o culto e para as prá-
ticas sacramentais, do que
para a evangelização. Por
isso somente saibamos apro-
veitar os actos de culto para
evangelizar.Anossatransmis-
são da mensagem deve ser fei-
ta primeiro na vida e depois
na palavra. Mas se a vida se
torna contra-sinal?
Parece-me de grande importân-
cia meditar e reflectir nestes
pontos importantes da vida do
padre como sinal de
evangelização, de que deriva
muita da ineficácia.
As Comunidades cristãsexisten-
tes falham também. Começam
por não serem verdadeiras co-
munidades de fé e de amor. São
ineficazes também.
1. Não são adultas na sua fé. O
temor e a superstição é que
vão aguentando a sua existên-
cia.
2. Perdem-se em questões ba-
nais e murmurações.
3. Aceitam doEvangelho apenas
(conclui na pág. 10)
A. B.
Quando se descarta um padre
O padre Giselo foi literalmente
escorraçado por uma autoridade
sem tino e sem bom senso da Pa-
róquia do Monte no mês de Feve-
reiro deste ano. Até agora vive de
ummíserosalárioqueaDioceselhe
concede todos os meses e não tem
nenhuma função eclesiástica digna
como exige a sua condição de sa-
cerdote da Igreja Católica.
Foi literalmenteabandonadope-
los seus pares.E umapequenacla-
que literalmente meteu a autorida-
de máxima à frente do "bulling cle-
rical"contraopadreGiseloparaque
fosse torrando em lume brando.
Já vi outros casos de poster-
gação nesta terra, mas eu nunca
imaginei que um dia ia presenciar
um ostracismo contra um colega,
tão cheio de veneno, cuspido pelas
ventas tenebrosas de satanás re-
vestido com uma máscara eclesi-
ástica. Bem se queixou com razão
o Papa Bento XVI dos corvos. Se
alguma vez conseguisse imaginar
que a hierarquia católica da minha
terra fosse capaz de semelhante
maquievalismo, eu digo, sincera-
mente, parece que tinha recusado
ser o que sou.
Enfim, o padre Giselo continua
descartado,porqueprocriou,fezver
a luz a uma criança com os olhos
da cor do céu. Com isso rebentou o
ódio, a vingança e a inveja clerical,
que são venenos terríveis dentro
das hierarquias. Pois, fez um "pe-
cado mortal" para a hipocrisia do-
minante da Igreja e da sociedade
emgeral,quesomaséculosdeabu-
sos sexuais, prepotência, abuso de
podereoreincidentefarisaísmoque
impõe leis e mais leis para os ou-
tros cumprirem, ostracizando mul-
tidões de fiéis que tiveram que car-
regar fardos pesados impostos por
aqueles que nem com a ponta do
dedo lhe tocavam.
Mas, certo é que o padre Giselo
continuarádefora,descartado, por-
que o "bulling clerical" continua, até
verseaguenta edesistedafeliz dig-
nidade com que assumiu os seus
actos, quiçá também um dos ges-
tos, entre outros com certeza, dos
mais corajosos destes cinco sécu-
los da história da Igreja da Madei-
ra... É coisa pouca para uma gran-
de parte, mas um passo enorme
que devia fazer pensar toda a co-
munidade católica da Madeira, se
tivéssemos uma Igreja iluminada
pela luz do Evangelho e com matu-
ridade suficiente para pensar sem
preconceitos.
Fica-me outra vez sem surpre-
sa,atestadoqueéprecisocozer um
padre em lume brando até que se
"faça ao largo" para as missões ou
para casar, pois seja só ele a resol-
ver o imbróglio que a autoridade
froixanãofoicapaz deresolver.Não
há terceira via, porque o poder que
não serve, mas serve-se, manda e
deseja que continue assim tudo
aparecer o que não é.
Quando se descarta um padre
só porque comanda o medo e uma
claquebatepalmasaisso,andamos
muito mal e de Evangelho, afinal,
não faltará pregação e palavreado,
mas fica zero absolutamente vivi-
do.
Para terminar resta dizer o que
isto representa de mau exemplo
para uma sociedade que se bate
com tanto filho por aí a ser deixado
ao Deus dará e que para recebe-
rem a dignidade da paternidade
começam a vida na barra dos tribu-
naisejogadosparaoscuidados das
instituições estatais. À face de tudo
isto muitos pensarão seguramente,
se esta igreja trata os seus "traba-
lhadores" e filhos diletos desta for-
ma, como procederá com os ou-
tros? 
Padre José Luís Rodrigues
in O Banquete da Palavra
(22-10-2018)
"Seiscentos e quinze padres deixaram o ministério nos últimos quinze anos!" — É assustador!… É infor-
mação do Jornal de Notícias, na edição de 21 de Outubro de 2018. Porquê? — Interrogamo-nos. A questão não é
simples e também não nos satisfazemos com superficialidades ou com respostas rotineiras.
Ainda lembramos o Padre Giselo. Fomos surpreendidos com o reconhecimento paternal de uma sua filha.
Um acto de coragem, de transparência e de humanidade. Quem acompanhou este caso constatou a responsabili-
dade e seriedade com que o Padre Giselo enfrentou a questão. Até se dispôs a continuar a sua atividade pastoral
na Senhora do Monte, com aceitação e agrado da maioria dos paroquianos.
É evidente que o Padre Giselo calcou o risco. Com aquele procedimento pisou o Direito Canónico.
O bispo é um Apóstolo. Deve viver a humanidade e incarna a misericórdia de Jesus. Ele é testemunha viva
do amor de Deus presente na Sua Igreja. Ora o bispo seguiu o Direito Canónico... e calou o padre. Contradição!
Quando falamos de vocações, da falta de presbíteros e de comunidades sem pastor… quem nos leva a sério?
Não foi por incompetência ou má preparação que o padre foi afastado da "sua" paróquia. Foi apenas por
uma questão disciplinar. E pronto! Toda a gente de consciência tranquila… Mais uma paróquia sem pastor, uma
filha com a afetividade paterna comprometida, uma mãe sozinha… e uma igreja que fecha os olhos à realidade e
vive uma situação contrária à Palavra que prega… Tudo corre às mil maravilhas, mesmo contrariando o Evange-
lho!
Naverdadevemoscom mágoaqueosbispos"nãocheiramaovelha!"Vivemlonge,noalto,isolados,ondesó
chegam ecos da vidadura e amarguradado povo. Conhecerão as necessidadesdas suas ovelhas?Serão reconheci-
dos como verdadeiros pastores? Ou serão apenas agentes do direito canónico?
Olhando à nossa volta, vemos que há muitos casos idênticos ao do Padre Giselo. E há muitas e muitas
comunidades sem pastor, que não celebram os mistérios do amor de Deus, nem o Evangelho é palavra ativa. E as
comunidades aceitam esta imposição, como se fosse a vontade de Deus. E os bispos resignam-se cruzando os
braços como uma fatalidade. Mentira!
Há outras soluções, há outros caminhos. Demos voz ao Povo de Deus. Que os bispos, os padres, os cristãos
— numa palavra a Igreja — sejam coerentes, equilibrados, humanos, humanizados e humanizadores, homens
e mulheres de Fé, que celebram na alegria este amor de predileção com o qual o nosso Deus e nosso Pai nos
acaricia.
Ao Padre Giselo e a todos os corajosos que denunciam, que enfrentam ou enfrentaram questões parecidas,
a nossa solidariedade. Fazemos votos profundos para que esta Igreja tão desumanizadora encontre caminhos de
convergência,demodo quetestemunhena vidaaPalavraqueanuncia.Nósacreditamos noEspíritoquerevitaliza
esta Igreja. Acreditamos que Ele tem força dinamizadora para evitar discussões supérfluas. Que leve esta Igreja a
redescobrir os tempos primitivos do Cristianismo e encontre forças de renovação...
Não desesperes, amigo! Nesta Igreja nem tudo é desilusão. Recorda que, a caminho de Jericó (Lc 10,30-36),
passou um sacerdote e um levita que desviaram os olhos e seguiram em frente. Alguém, um desconhecido, tomou
à sua conta um marginalizado e assumiu as despesas da recuperação. Só este ficou para a estória. OEspírito está
presenteedesperta quandomenos seespera.Umamigo doPadreGiselotomouapalavraeacordouadormecidos.
Não acordou a Igreja toda, mas nós acreditamos que o Espírito tem os seus caminhos e há-de levar a água ao Seu
moinho.No nossoTempo? Masisso écompletamente secundário.Nós somos filhos do Eterno etrabalhamos para
a eternidade. Importa que trabalhemos. Por experiência, sabemos que uns semeiam e outros farão a colheita.
Compete-nos semear... 
29 de Outubro de 2018
Comunicado da Direcção da Fraternitas Movimento
Cerca de 24% dos cidadãos
do nosso país reúnem-se em
cada domingo nas igrejas cató-
licas para a celebração domini-
cal. Qualquer cristão, dócil e
cumpridor, ouve maisdetrês mil
sermões desde a infância até aos
sessenta anos. Umas 520 horas
da sua vida.AIgreja católicadis-
põe, assim, de uma oportunida-
de única de evangelizar, de fa-
zer crescer nos caminhos da fé
cristãosfrequentadoresdostem-
plos. E,apesardisso,muitos cris-
tãos não mostram nas suas vidas
coerência com a fé que dizem
professar face às arremetidas da
'cultura' que os rodeia,no queela
temde incompatívelcom as pro-
postas da Boa Nova.
A homilia é o 'calcanhar de
Aquiles' das nossas celebrações
e a ela se limita grande parte do
exercício do ministério da Pala-
vra por parte dos 'detentores do
poder da palavra' nas celebra-
çõesnomeadamente dominicais.
Para muitos cristãos é a única
oportunidade de confrontar as
suas vidas com a Palavra Reve-
lada, fonte e alimento da sua fé.
É conhecido o episódio refe-
rido numa carta de La Fontaine
a sua mulher. Conta o fabulista:"
No domingo saímos de madru-
gada, mas tivemos que esperar
cerca de três horas devido a uma
avaria na diligência. Para não
nos aborrecermos, ou para nos
aborrecermos ainda mais, não
sei bem como dizê-lo, fomos
ouvir uma missa paroquial. A
procissão, a água benta, a ora-
ção dos fiéis… não faltou nada.
Tivemos a grande sorte de o cura
ser um ignorante e, graças a
Deus, não pregou".
Esta questão não é de agora.
Vale a pena retomar aqui cita-
ções famosas a este respeito re-
colhidas em La Homilia, de
Vittorio Peri, Vigário Episcopal
para a Cultura da diocese deAs-
sis e presidente da União Apos-
tólica do Clero, em Itália.
De Joseph Ratzinger, o futu-
ro Papa Bento XVI: "É um au-
têntico milagre que a Igreja so-
breviva aos milhões de péssimas
homilias de cada domingo"; de
Yves Congar, um dos teólogos
do Vaticano II: "Ainda é possí-
vel encontrar fé em França, ape-
sar das trinta mil pregações de
cada domingo"; de Thomas
Spidik, num desabafo mordaz:
"A Igreja colocou o Credo de-
pois da homilia para convidar-
-nos a proclamar a nossa fé, ape-
sar do que acabamos de ouvir";
comentário de Julien Green: "A
pregação é útil, porque submete
a dura prova a fé de quem escu-
ta"; desabafo de Carlos Bo: "A
homilia é o tormento dos fiéis".
François Mauriac, por sua vez,
escreveu que "em nenhum lugar
se vêm tantos rostos inexpres-
sivos como na igreja durante a
pregação".
Há homilias que cansam, ou-
tras que irritam, outras que são
autênticos atentados contra a in-
teligência de quem as ouve. Há,
com efeito, homilias que em vez
de evangelizar,moralizam,oque
qualquer monge budista faria
com a mesma ou melhor profi-
ciência.
Na Evangelii Gaudium es-
creve o Papa Francisco: "Sabe-
mos que os fiéis lhe dão (à
homilia) muita importância; e,
muitas vezes, tanto eles como os
própriosministros ordenados so-
frem: uns a ouvir e os outros a
pregar. É triste que assim seja.A
homilia pode ser, realmente,
uma experiência intensa e feliz
do Espírito, um consolador en-
contro com a Palavra, uma fon-
te constante de renovaçãoe cres-
cimento"(nº135).E,na Laudato
Si’ (nº 17), adverte ainda o Papa
Francisco: "A Palavra de Deus
pode soar como mensagem re-
petida e vazia, se não for apre-
sentada novamente a partir de
um confronto com o contexto
actual… A fé traz novas moti-
vações e exigências face ao
mundo de quefazemos parte…".
Palavras, leva-as o vento,
quando elas não soam articula-
das com a vida real de quem as
ouve e de quem as diz. 
A. Teixeira Coelho
[in: RODA VIVA
(nº 354 - 9 de Agosto 2018)]
HOMILIAS…para quê?
"Há falta de padres!"
— é uma afirmação tão
frequente que já nem sen-
sibiliza. No nosso hori-
zonte está a igreja
tridentina. Assim é a esta
igreja que faltam pa-
dres… Ela distingue o sa-
cerdócio comum e o ministeri-
al. Mais: dá relevo ao sacerdó-
cio ministerial e tirou vigor ao
sacerdócio fundamental, vulga-
rizou-o, diremos mesmo, bana-
lizou-o, identificando-o como
sacerdócio comum. Mas este sa-
cerdócio comum é essencial. É
por ele que nós fazemos parte do
reino de Deus e faz dos cristãos
um reino de sacerdotes…
Este clima emocional tam-
bém me envolveu. Deixei-me
ofuscar pela falta de padres! Por
isso vi como uma grande opor-
tunidade pastoral, a Celebração
da Palavra sem Eucaristia, pre-
sidida por leigos. E apoiei… Já
lá vão alguns anos!…
Recentemente assistindo aal-
gumas celebrações. Não gostei!
Revi os meus valores. O que
antes me pareceu uma boa solu-
ção pastoral, agora senti-lhe fal-
ta de vigor.
Olhei à volta. Quem partici-
pa nestas celebrações? Não sen-
ti entusiasmo, alegria. Foi uma
rotina! É engraçado o sentido
crítico do nosso povo. Muitas
vezes não sabe explicar o por-
quê das suas posições. Engole o
que lhe é proposto, mas nada
escapa à sua perspicácia, crítica
e atéirónica. De facto a estes mi-
nistros que orientam essas cele-
brações, chamam-lhes mini-pa-
dres. Estão bem caracterizados.
Revestem-se como tal. Não
usam estola nem casula, mas a
sua linguagem, seu comporta-
mento assim os identificam.Ofi-
ciam numa celebração clerica-
lizada. Vestem um fato que não
lhes está adaptado. Dá a impres-
são de haver algo postiço.Fiquei
triste!
Gostava de participar numa
celebração presidida por um lei-
go ou uma leiga, com um com-
portamento natural e uma lin-
guagem própria. Não precisam
dos adereços próprios de um sa-
cerdote. Presidiriam como se
vestem ou com as vestes
litúrgicas próprias dos leigos: as
opas. Usem as vestes que os li-
bertam e ajudam a viver,com in-
tensidade, a alegria do encontro.
Partilhem! Falem daquilo que
lhes interessa, lhes enche a vida,
das suas preocupações e das res-
postas que eles buscam para as
muitas perguntas que a vida nos
põe, com simplicidade. Usem os
textos litúrgicos de
forma natural. Gos-
tava de uma cele-
bração com mais
vida, mas que soas-
se a verdade vivida,
transparência, sem
imitações. Não gos-
to de uma palavra colada.
Então tudo está mal? Nada se
aproveita? Não. O clericalismo
contaminou a Igreja. Mas nem
sempre foi assim. "Como se
pode nascer de novo" — é a per-
gunta do confuso Nicodemos, a
Jesus (Jo 3,4), que nos pode aju-
dar. "Renascer" é voltar às ori-
gens, é ver e aprender como fa-
ziam os primeiros cristãos e se-
guir-lhe as pisadas. Esta forma
de Igreja, que hoje vivemos está
anquilosada, ultrapassada. Pre-
cisamos de uma Igreja nova?
Não! Precisamos de uma Igreja
diferente. Os cristãos devem ter
voz activa, basta de celebrações
com gente anónima. Queremos
cristãos identificados, não as-
sembleias de anónimos,descom-
prometidos. Isto tudo vem do
Vaticano II. Não é novo. Nós é
que nos acomodamos neste faz
de conta… Deixamos correr.
Mas pode ser outro modo: "A
Igreja é nossa".Temos de tervoz
activa. 
Joaquim Soares
(Associado Nº 72)
7 de Novembro 2018
Rua Dr. Sá Carneiro, 182 - 1º Dtº
3700-254 S. JOÃO DA MADEIRA
e-mail: espiral.fraternitas@gmail.com
boletim de
fr a t er n it a s m o v im en t o
Responsável: Alberto Osório de Castro
Nº 68 - Outubro/Dezembro de 2018
Amigo leitor: Vamos entrar no Advento.
O Advento é tempo de optimismo e de plenitude, na pre-
paração do Natal. Para nós, cristãos, é um recomeçar, sempre
entusiasmante, de projectos já perspectivados para a colabo-
raçãonaobraredentoradeCristo, eda criaçãode outrospro-
jectos,comanossacapacidadedereflexãoeanossadisponibi-
lidadeparasermosagentesdapastoralcomunitária.Deusas-
sociou-nosàsuaobradaCriação,e Cristochamou-nosacola-
borar na Redenção, nossa e do mundo inteiro, porque somos
povo deDeus, sem fronteiras.Nãopodemosviver sóparanós,
porquequempretenderviversóparasi,acabapormorrerpara
sieparaos outros.E também nãosomoscristãosapenas para
os nossos dias: Temos de olhar o Infinito, sem medo de avan-
çarnoescuro,semmedodonovo,apesardascontingênciasda
nossa finitude. Sabemos que somos conduzidos pela mão de
Deus, e isso nos basta para termos confiança no avançar!...
Talvez não nos reconheçam agora o esforço da nossa luta
pelo bem, pela paz e pelo amor. Também não é para isso que
nos damos ao serviço dos outros!... Mas o nosso testemunho
ficará na história da vida, e ela encarregar-se-á de o mostrar
às gerações futuras. Até na vida material assim acontece. O
grande mistério de toda a cultura, de todo o saber, de toda a
ciênciaedetodaacriaçãoartística,sejaqualfor,assentaneste
conhecidofenómeno:osqueseprojectamparaofuturo,quase
nunca são aqueles que o presente consagrou. O irrequieto e
imortal poeta português, Camões, elegante e original na sua
forma de escrever, morreu precocemente envelhecido, sem ter
completado os 50 anos e sem dinheiro para comprar uma ga-
linha! Hoje é o embaixador literário de toda uma Pátria!
O grande compositor alemão, Sebastian Bach, com a sub-
tileza e os celestiais voos da sua música, só modernamente foi
reconhecido como um grande modelo e mereceu a admiração
incontidae extasiadade todos os cantosdo mundo! O austrí-
aco Mozart, apesar de toda a graça e poder de emoção das
suascomposiçõesmusicais,morreutãoesquecidodetodosque,
quandofoiasepultar,emdiachuvosoedepenumbracerrada,
apenasfoiacompanhadoàtumbaporumcarroceiroeumcão!
Nem a sua famosa composição musical "Requiem" o
acompanhou!...FernandoPessoa,deolharlongínquo,quenão
poisou no seu tempo, alma de futurista e modernista, termi-
nouosseusdiasnasolidãodeumquartodehospital,talcomo
tinha vivido durante a sua crucificada vida!
Muitos foram admirados no seu tempo, mas raramente
reconhecidos pela história como estes, porque há distâncias
infinitas entre ser admirado e ser reconhecido. Admirados...
há multidões deles! O mundo está cheio deles e delas, desde a
Marylin até ao Pavaroti!... Reconhecidos... há poucos, e geral-
mente,muitotarde.Masesteséqueforamecontinuarãoaser
os benfeitores da Humanidade. Aqueles não vão além de be-
neficiados dela... Embora custe muito ao nosso comodismo, o
cristão não pode limitar os seus horizontes aos dias de hoje,
mastemdeseprojectarparatodoofuturodaIgreja,pelaqual
foi baptizado. Para isso tem de recomeçar, a cada momento,
uma vida nova, rasgando com coragem, sempre novos hori-
zontes.
CarregamosopesoearesponsabilidadedamissãodeCris-
to, com a sua divindade humanizada, com a sua presença ac-
tuantenareconciliaçãodoshomensentresiecomDeus.Uma
utopia?!...Podem chamar-lhe assim, se quiserem. Todos nós
somosperegrinosdautopia,masdeumautopiaquenãoéum
sonho de criança, porque se transformará, um dia, em plena
realidade.
Durante o Advento vão passar diante de nós figuras que
talvez tenham sentido na sua vida, a sede estonteante do de-
serto,comoumS.JoãoBaptista,eocruelesquecimentodopovo
dacidade,comoCristonasuaagonia,esuamãenosilênciode
quem sabe sofrer por amor! Mas essas figuras vão surgir,
agigantadaspelaHistória,porqueoseutestemunhoaindahoje
é vibrante. E às vezes até incomodativo para quem se acomo-
dou a uma vida sem Vida!...
O Advento é para olhar, bem de frente, a vida dessas ex-
traordináriasfiguras, paraavivercomoelasaviveram.O Ad-
vento é tempo de optimismo e plenitude! E também de refle-
xão e conversão!...Difícil?!... Pois é! Nos nossossonhos é mui-
to fácil ser mártir. Mas nas tarefas quotidianas a favor dos
outros, é difícil ser homem. Mas são esses homens que ficam
na História!...E nós,cristãos,senãofor-
moshomens,tambémnãosomosnada!...
E muito menos cristãos!... 
Manuel Paiva
(Associado Nº 28)
ADVENTO–TEMPODEOPTIMISMOEPLENITUDE!...

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O ECUMENISMO E A PRIMAZIA DO DIREITO CANÓNICO

  • 1. Nº 68 - Outubro / Dezembo de 2018 b o l e t i m d a F R A T E R N I T A S M O V I M E N T O Correspondência dos leitores 3 Breves... 3 44º Encontro Nacional Os Primeiros Cem Anos do Cristianismo Bíblia responde de muitas maneiras a uma só pergunta 8-9 Ecos... 9-10 Quando se descarta um padre 12 Humanidade e Coerência (Comunicado da Direcção da Fraternitas) 13 Opinião com nome próprio Purificando o nosso olhar... 4 O Calvário e Beire! 5 Faz mais ruído uma árvore que cai que uma floresta a crescer 6-7 Do baú da memória (II) 11 Homilias... para quê? 14 Celebrações sem Eucaristia 15 Advento — tempo de optimismo e plenitude!... 16 (continua na pág. seguinte) "Deixo-vos agora um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu vos amei; é preciso que se amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns aos outros, toda a gente reconhecerá que são meus discípulos." (Jo 13,34-35) Não te peço apenas por eles, mas também por aque- les que crerem em mim por meio da sua pregação, e para que todos sejam um, Pai, que eles estejam tão unidos a nós, como tu o estás e eu a ti. Desta manei- ra, o mundo há-de acreditar que tu me enviaste. Dei- -lhes a mesma glória que me deste, para que vivam em perfeita unidade como nós. (Jo 17,20-22.) Jesus salienta que a unidade dos cristãos é critério para o mundo acreditar n'Ele. No encontro do Papa Francisco com os jornalistas durante o voo de regresso de Genebra, em 21 de Junho de 2018, Roland Juchem, da agência católica alemã CIC, dirigiu-se ao Papa Francisco nos seguin- tes termos: "Vossa Santidade fala frequentemente que se de- vem dar passos concretos no ecumenismo. Hoje […] disse: "Vejamos o que é possível fazer concre- tamente, em vez de nos desencorajar pelo que não o é.” […] Como é possível que, tendo os bispos alemães decidido recentemente dar um passo [na chamada "inter-comunhão"], o arcebispo Ladaria [Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé] lhes tenha escrito uma carta que lembra de certo modo o ac- cionar um travão de emergência. Depois do encon- tro de 3 de Maio passado, afirmara-se que os bis- O ECUMENISMO E A PRIMAZIA DO DIREITO CANÓNICO SOBRE O EVANGELHO pos alemães deveriam encontrar uma solução, possivelmente por unanimidade. Quais serão os próximos passos? Será necessária uma interven- ção do Vaticano para esclarecer ou os bispos ale- mães deverão encontrar um acordo?”
  • 2. O ECUMENISMO E A PRIMAZIA DO DIREI- TO CANÓNICO SOBRE O EVANGELHO O Papa Francisco respondeu: "Certamente não se trata duma novidade, porque, no Código de DireitoCanónico, está previsto aqui- lo de que falavam os bispos alemães: a Comunhão em casos especiais. Eles, tendo em mente o pro- blema dos matrimónios mistos, perguntavam-se se aquela é possível ou não. Entretanto o Código diz que o bispo da Igreja particular — é importante esta palavra «particular», se é bispo duma diocese — deve decidir sobre o problema: está nas suas mãos. Isto está no Código. Os bispos alemães, vendo que o caso não era claro e que alguns sa- cerdotes procediam à revelia do bispo, quiseram debruçar-se sobre este tema estudando-o […]. E a conclusão é restritiva: aquilo que os bispos pre- tendiam era dizer claramente o que está no Códi- go. E também eu, que o li, digo: este é um docu- mento restritivo. Não era para "abrir a todos"; não. […] E quiseram fazer o estudo para a Igreja local: não para a particular. […]Mas a questão deslizou para outro nível, […] para a Conferência Episcopal Ale- mã. E aqui há um problema, porque o Código não prevê isto. Prevê a competência do bispo diocesa- no, mas não da Conferência Episcopal. Porquê? Porque uma coisa aprovada numa Conferência Episcopal torna-se imediatamente universal. […] Eles enviaram o documento; […] e o arcebispo Ladaria enviou esta carta, mas com a minha auto- rização, não o fez sozinho. Disse-lhe: «Sim, é me- lhor dar um passo em frente, dizendo que o docu- mento ainda não está maduro (isto dizia a carta!) e deve-se estudar melhor o assunto». […] Será um documento orientador, para que cada um dos bispos diocesanos possa decidir aquilo que o Direito Canónico já permite. […] Quando visitei a Igreja Luterana de Roma, foi feita uma pergunta deste género e eu respondi segun- do o espírito do Código de Direito Canónico, o es- pírito que eles [os bispos] procuram agora. […] A situação é esta. Para a Igreja particular, o Códi- go permite-o; para a Igreja local não, porque seria universal.…" Roland Juchem quis esclarecer: "Para a Igreja local, é a Conferência?" Papa Francisco: "É a Conferência. Mas a Conferência pode estudar e oferecer directrizes para ajudar os bispos a deci- dir os casos particulares." O espírito do Direito Canónico que está espelhado, corporizado no comportamento do filho mais velho da Parábola do Filho Pródigo, é restritivo. Não reflec- te o amor inclusivo do pai que "correu e atirou-se ao pescoço dele [filho] e beijou-o" (Lc 15,20; como, ain- da, Lc 15,25-32). Os relatos evangélicos (Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,14-20; Jo 6,51-59; 1Cor 11,23-27) descrevem a última Ceia Pascal em que Jesus dá aos doze o pão (Isto é o meu corpo) e o vinho (Este é o meu sangue, sangue da Aliança), bem como o anúncio da traiçãode JudasIscariotes(Mt 26,20-25; Mc14,17- 21; Lc 22,21-23; Jo 13,2.21-30).Aeste mesmo Judas, Jesus também distribuiu o Pão e o Vinho. Como en- tender o gesto de Jesus? Para os discípulos de Emaús (Lc 24,13-32), não há dúvida que o gesto do tomar o pão, pronunciar a bên- ção, parti-lo e dá-lo para eles o comerem, foi identitário, levou-os ao reconhecimento de Jesus, na pessoa de um considerado visitante de Jerusalém que se aproximara deles. As origens cristãs não se caracterizam pela unanimi- dade das vozes, mas pela vivência de pluralidade de tradições orais e escritas. Nos primeiros 100 anos aproximadamente, são redigidos 27 escritos canónicos. Só evangelhos temos quatro! É preciso fazer a refontalização preconizada pelo papa São João XXIII. O Papa Francisco foi a Genebra, por ocasião do 70.º aniversário da fundação do Conselho Mundial das Igrejas (CMI). O CMI é a principal organização ecuménica, a nível internacional; congrega mais de 340 igrejas. "A Igreja Católica não tem nenhum vín- culo e não faz parte da organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de algumas comissões, como a Comissão de Fé e Ordem, e a Comissão de Missão e Evangelismo", pode ler-se na Wikipédia. Muita inér- cia provavelmente imposta pelo Direito Canónico, paralela à ausência do dinamismo da unidade dos discípulos por quem Jesus pediu ao Pai. Andamos surdos? Muito gostaria de receber uma resposta que uma vez me deram, quando perguntei a alguém: "Vem almo- çar connosco?" E ele respondeu: "Sim, eu fui comun- gar."  Jorge da Silva Ribeiro 2018-11-15 (continuação da pág. anterior)
  • 3. (continuação da página 2)  NOVAS PRODUÇÕES: A veia inspiradora do Olindo Marques continua bem viva. Há pouco, deu-nos notícia de novas melodias que, graciosa- mente, coloca à nossa disposi- ção e ao serviço do Povo de Deus. Podem ser encontradas, para download gratuito,em: h t t p s : / / c a n t a t e - b r e v e s . . . laudate.webnode.pt Os nossos parabéns!  CURIOSIDADE: “Grão a grão, enche a galinha o papo”, como bem sabemos. Mas tal- vez muitos desconheçam que o blogue da Fraternitas, no pas- sado dia 10 de Outubro, teve a visita 2 222 222 (dois mi- lhões, duzentos e vinte e dois mil e duzentos e vinte e dois), o que é, de facto, notável. Felicitamos vivamente o Fer- nando Félix que magistralmen- te o dinamiza!  LIVROS NOVOS: Sabe- mos que há por aí novos “fi- lhos” na forja ou já a saírem da linha de produção!... Agradecemos que nos comuni- quem para que possamos di- vulgar. Caro Dr. Alberto Osório Muito obrigado pelo envio do boletim ESPIRAL. Apreciei lentamente os textos publicados... Noto respiração saudável pelos caminhos íntimos da verdade, bondade e beleza... Parabéns pela sua dedicação no anúncio do REINO DE DEUS! "A VERDADE vos libertará"! Olhar e sentir o diferente leva- nos a OLHAR PARAOALTO! A minha pequena colaboração neste número, foi concretizada com estima e admiração. Sempre admirei bastante o Dr.Artur Oliveira, pois li textos publicados por ele. Era um pen- sador com grande alma! Com muita estima, um grande abraço. José Rodrigues Lima [jrodlima@hotmail.com] (28 de julho de 2018) Obrigada pelo envio do boletim que muito apreciei. Obrigada também pela partilha dos meus poemas. Os melhores cumpri- mentos. Helena Alexandre [jlc.alexandre@gmail.com] (30-07-2018) Muito obrigado pela gentileza do envio do nº 67 de Espiral. Um Domingo feliz. † A. Taipa [domantoniotaipa@diocese-porto.pt] (29-07-2018) Muito grato Alberto Osório Pax Agradeço a edição em formato digital e em suporte de papel. Cordialmente em Cristo † D. José Cordeiro [djosecordeiro@gmail.com] (04-08- 2018) Caro Dr. Osório de Castro Muito obrigado pelo último número do Espiral, recebido em papel e em suporte informático. Com votos de boas férias, cor- diais saudações de Paz e Bem † António Montes Moreira Bispo Emérito de Bragança-Miranda [montes@ofm.org.pt] (05-08-2018) Meu caro Alberto Osório de Castro Se agradeço o envio do último número de “Espiral”, transmito, sobremaneira, a minha saudade e esperança pelo Artur Cunha de Oliveira, de cuja morte tomei conhecimento pelas vossas no- tícias. Conheci-o há cinquenta anos e tal, quando, ainda profes- sor do Seminário deAngra, veio ao Porto, tomar parte num Curso de Cristandade, que eu dirigi. Tinha 25 anos! Só muito mais tarde nos reencontrámos! Boas férias, sempre merecidas! Os meus cumprimentos, do † Januário Torgal Ferreira (07-08-2018) Saudações cordiais e votos de saúde, paz e bem! Reconhecidamente agradeço a gentileza de me terem feito chegar o vosso Boletim “Espi- ral”, edição de julho/setembro, à qual dedicarei a melhor atenção. Com a mais elevada estima e consideração. † Francisco José Arcebispo de Évora (24-09-2018)
  • 4. "Era velho e ouviste as mi- nhas estórias, mil vezes repe- tidas e, quando fiquei com Alzheimer e comecei a não "dizer coisa com coisa", não te riste de mim, cuidaste de mim com mais ternura ain- da". (Mt 25) "Felizes nós, sempre que ajudamos com Misericórdia, porqueseremosajudados com Misericórdia" (Mt 5) ENCANTAM-ME aqueles Ve- lhos, cuja vida longa e ar feliz é, claramente, uma graça imensa de Deus… dada a nós, os mais novos! Ainda que sejam daque- les Velhos que só sabem assinar de cruz,quantosaber feito de ex- periência e quantos olhares tão mais sábios que os nossos, que nos achamos cultos e actualizados… QUESTIONAM-ME aqueles Velhos,cujavidase chamaaban- dono, desaparecido que foi o contexto familiar alargado em que velhos, menos velhos e cri- anças se faziam uns aos outros em com–panhia. Mesmo com vícios e falhas, tornava impen- sáveis os extremos de solidão e desespero que hoje saltam à vis- ta, e são notícia recorrente do telejornal… DOEM-ME aqueles Velhos, escondidos em lares que não são LAR. Onde não cheira a ternura nem a família. Onde cheira a fe- ridas incuradas e a silêncio. Onde uma higiene estéril mata as capacidades ainda vivas em tantos deles… ESPERANÇAM-ME aqueles Velhos que fizeram dos seus dias um Milagre de doação. Nada de- tiveram. Nada têm. Nada lhes falta. Os Pobres se encarregam de que não lhes falte a Água, o Pão e a com–panhia… São homens e mulheresem corpos já murchos, mapeados de rugas.Reagem àternura com ter- nura e aos abraços com abraços embora a vida aconteça neles, agora, a um outro ritmo que, na nossa pressa desatenta, dificil- mente entendemos, muito me- nos aceitamos como profecia… Negamo-nos a ler nos seus olhos as lições que têm para a nossa infância promissora ou adultez vigorosa E vamos desvivendo. A ciência e a medicina aprenderam a prolongar os anos mas não ensinaram os mais no- vos a descodificar as alterações biológicas e comportamentais que isso traz — as memórias a esboroarem-se… o esquecimen- to de quem são ou, de quem são hoje os seus amados de on- tem…. Alguns de nós iremos acabar assim… Sem saber os Purificando o nosso olhar… nomesdos que nossão próximos e olhando perdidos o vazio… HOJE é o tempo propício para não deitarmos para trás das costas a Memória, que inscreve nas relações a Gratidão, a Ale- gria e o Perdão que nos restau- raram a todos… Porque nem tudo é linear, nem belo, nem humano, na vida da gente —na nossa nau navega tudo— o des- mesuradamente bom e o incri- velmente mau de que somos ca- pazes. TODOS nós…Sem ex- cepção!!! Grande é a Insensatez do nosso coração quando menos- prezamos o fio da História e o simples e natural envelhecimen- to que a todos toca, preferindo negar as evidências e esconde- mos os nossos medos na procu- ra do elixir da eterna juventu- de… Pobres de nós quando per- demos o sentido do valor de um sorriso ou de uma carícia que, passando como brisa suave, são capazes de sarar, como que por encanto, todas as dores… tam- bém, quando esquecemos que o mimo,na sua IN–utilidade,pode encher de Graça um dia! Todos os dias! AMEN!  Glória (Associada Nº 22) 10 de Junho 2017
  • 5. Tem sido noticia. O Calvário foi a menina dos olhos do Padre Américo. Ao longo de sessenta anos tem acolhido deserdados, maltrapilhos, os sem eira nem beira, toda a espécie de dor, so- frimento e abandono: Farrapos humanos que ninguém queria. E deu-lhes guarida, uma cama e mesa, muita ternura, muito cari- nho, muito amor. O Calvário sempre viveu da caridade dos fiéis e da boa von- tade dos voluntários. Os própri- os utentes se solidarizam e apoiam os outros com mais difi- culdades físicas. Ninguém se sente inútil. Cada um à sua ma- neira e segundo as suas possibi- lidades dá felicidade e alegria aos demais. O Calvário e Beire! O Calvário não é um lar ofi- cial. É uma casa de família onde todos os utentes se entreajudam. É claro que isto é um ideal e como todas as coisas humanas, sofre altos e baixos. Este lar é pedagógico. Os utentes não es- tão passivos como nos lares tra- dicionais. Estes "moradores" es- tão ativos e segundo as suas ca- pacidades desempenham bom trabalho. Ostécnicos da SegurançaSo- cial não vêem o Calvário deste modo. Estes são burocratas e tecnocratas. Vêem e analisam tudo em função dos livros e das teorias que decoraram. No Calvário há vida! Vive-se em amor. O Padre Batista dirigiu a casa durante décadas. Agora com 85 anos vê esta casa ser invadida por estranhos. Retiram-lhe os idosos,sem uma explicação con- vincente. Ainda não vi reações da Igreja. Espero que a hierar- quia não fique de fora. Tu, amigo/a, deixa o teu sos- sego e vai a Beire ver, com teus próprios olhos, este milagre de amor. Apoia o padre que dirige. Conforta, dá uma palavra amiga àqueles residentes. Mostra-lhes queDeusserve-sedoshomens… Às vezes estes é que não sinto- nizam nessa dimensão, mas Deus continua presente.  Joaquim Soares (Associado Nº 72) 10 de Novembro 2018
  • 6. Querido irmão e irmã jornalista: Sou um simples sacerdote católico, feliz e or- gulhoso da minha vocação.Hávinteanos que vivo em Angola como missionário. Vejo em muitos meios de informação, sobre- tudo no vosso jornal, a ampliação do tema dos sacerdotes pedófilos, com investigações de for- ma mórbida sobre a vida de alguns sacerdotes. Falam de um de uma cidade nos Estados Uni- dos dos anos 70, de outro na Austrália dos anos 80, e seguida de outros casos recentes... Certamente isto deve ser condenado! Veem-se alguns artigos de jornal equilibrados, mas tam- bém outros cheios de preconceitos e até de ódio. O facto de pessoas, que deveriam ser manifesta- ção do amor de Deus, serem como um punhal na vida de inocentes, provoca em mim uma imensa dor. Não existem palavras para justificar tais ac- ções. E não há dúvida de que a Igreja não pode deixar de estar ao lado dos mais fracos e dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que sejam tomadas para a protecção e a prevenção da digni- dade das crianças serão sempre uma prioridade absoluta. O que não é notícia e devia ser: Todavia, suscita curiosidade a desinformação e o desinteresse perante milhares e milhares de sacerdotes que se esforçam em prol de milhões de crianças, de muitíssimos adolescentes e dos mais pobres em todo o mundo! Considero que ao vosso meio de informação não interesse saber que eu, em 2002, passando por zonas cheias de minas, fui obrigado a transfe- rir muitas crianças desnutridas de Cangumbe para Luena (em Angola), porque nem o governo se importava, nem as ONGs estavam autorizadas. E penso que também não vos importa que eu tenha tido de sepultar dezenas de criancinhas, mortas na tentativa de fugir das zonas de guerra ou procurando regressar (a casa), nem que salva- mos a vida a milhares de pessoas no México gra- ças ao único posto médico em 90.000 Km2, e gra- ças também à distribuição de alimentos e semen- tes. Não vos interessa também saber que nos últi- mos dez anos demos a oportunidade de receber educação e instrução a mais de 110.000 crianças... Não tem uma ressonância mediática o facto de que eu e outros sacerdotes tivemos de fazer frente à crise humanitária de quase 15.000 pessoas nos acampamentos da guerrilha, após a sua rendição, porque não chegavam alimentos nem do Gover- no, nem da ONU. Não é notícia que um sacerdote de 75 anos, o padre Roberto, todas as noites percorra a cidade de Luanda e cuide dos meninos de rua, os leve para uma casa de acolhimento na tentativa de os desintoxicar da gasolina e que às centenas sejam alfabetizadas. Não é notícia que outros sacerdotes, como o padre Stefano, se ocupem a acolher e dar protec- ção a crianças maltratadas e até violadas. E não é de vosso interesse saber que o frei Maiato, não obstante os seus 80 anos, vai de casa em casa confortando pessoas doentes e sem espe- rança. Não é notícia que mais de 60.000, entre os 400.000 sacerdotes e religiosos, tenham deixado a própria pátria e a própria família para servir os seus irmãos num leprosário, nos hospitais, nos campos de refugiados, nos institutos para crian- ças acusadas de feitiçaria ou órfãs de pais mortos por SIDA, nas escolas para os mais pobres, nos centros de formação profissional, nos centros de assistência aos seropositivos... ou, sobretudo, nas paróquias e nas missões, encorajando as pessoas a viver e a amar. Não é notícia que o meu amigo, o padre Mar- co Aurélio, para salvar alguns jovens durante a guerra em Angola os tenha conduzido de Kalulo até Dondo e no caminho de regresso à sua missão foi cravado de balas; não interessa que o frei Francesco e cinco catequistas, para ir ajudar nas zonas rurais mais isoladas, tenham morrido na estrada num acidente; não importa a ninguém que dezenas de missionários em Angola sejam mor- tos por falta de assistência sanitária, por uma sim-
  • 7. O autor, Padre Martín Lasarte, dirigiu, em 6 de Abril de 2010, ao New York Times a carta aqui reproduzida e que teve divul- gação pública generalizada apenas em 2018! O conceitua- do diário de Nova Iorque é co- nhecido pelos seus combates pela justiça e democracia, mas, como o padre Martín Lasarte indica, "errar é humano" e "faz mais ruído uma árvore que cai do que uma floresta a crescer". Importa nunca perder a consciência disto. ples malária; que outros tenham morrido por causa de uma mina ao ir visitar a sua gente. No ce- mitério de Kalulo encontramos os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram a esta região... ne- nhum deles chegou a completar os 40 anos! Não é notícia acompanhar a vida de um sacerdote "normal" na sua vida quotidiana, entre as suas alegrias e as suas dificuldades, enquanto gasta a própria vida, sem fazer ruído, a favor da comu- nidade pela qual está ao serviço. Na verdade não procuramos ser notícia, mas procuramos simplesmente levar a Boa Nova, aquela iniciada sem ruído na noite de Páscoa. Faz mais ruído uma árvore que cai do que uma floresta a crescer. Não é minha intenção fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói, nem um neurótico. É um simples ho- mem que, com a sua humanidade, procura seguir Jesus e servir os seus irmãos. Nele existem misé- rias, pobreza e fragilidade como em cada ser hu- mano; mas existem também beleza e bondade como em cada criatura... Insistir de forma obsessiva e persecutória so- bre um tema, perdendo a visão do todo, cria real- "Fazmaisruídoumaárvorequecaidoqueumaflorestaacrescer" mente caricaturas ofensivas do sacerdócio católi- co e é por isso que me sinto ofendido. Jornalista: procure a Verdade, o Bem e a Bele- za. Tudo isto o fará nobre na sua profissão. Amigo... peço-lhe apenas isto... Em Cristo, Pe. Martín Lasarte, sdb  Nota Ed.: Da congregação dos Salesianos de Dom Bosco, o padre Martín Lasarte deixou, ainda jovem, o seu país natal (Uruguai), e viveu 25 anos em An- gola, encontrando-se actualmente em Roma.
  • 8. página oficial na Internet: http://fraternitasmovimento.blogspot.com NIF: 504 602 136 IBAN: PT50 0033 0000 4521 8426 660 05 Apergunta de Jesus "Que di- zem os homens que Eu sou?", inscrita nos quatro Evangelhos (Mt 16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21; Jo 6,67-71), foi a per- gunta que deu origem ao Novo Testamento da Bíblia: as Cartas, os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse. Foi deste modo que o pastor Dimas deAlmeida resumiu as três con- ferências que orientou no En- contro Nacional da FRATERNITAS, com o tema "Os primeiros 100 anos do Cristianismo". Para responder a esta pergun- ta, os primeiros cristãos come- çaram por rezar juntos, a invo- car o Espírito Santo e a ler as Escrituras; por ouvir os testemu- nhos dos Apóstolos; por sentir continuamente a presença de Je- sus Ressuscitado na Eucaristia; e por praticar o mandamento do amor ao próximo. A tradição oral manteve viva e acesa a memória do Senhor Je- sus. Depois, a inspiração interi- or por meio do Espírito Santo e do próprio Jesus — como acon- teceu com S. Pedro e S. Paulo — esclareceram os cristãos acer- ca da Boa Notícia a comunicar, para reunir toda aa humanidade como discípulos do Senhor. As- sim ficaria registado no Evange- lho de S. Mateus: "Ide, pois, fazei discípulos de todos os po- vos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito San- to, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fimdos tempos" (Mt 28,19). Os primeiros escritos do Novo Testamento foram as Car- tas de S. Paulo, que não conhe- ceu pessoalmente Jesus, e, se- gundo ele diz na Carta aos Gá- latas, apenas conheceu dois Apóstolos: "Subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. Mas não vi nenhum outroApós- tolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor." Todavia, Paulo, ao dei- xar de perseguir os cristãos e ao conviver com eles, e graças à inspiração divina, pode fazer nascernovas igrejas eexortá-las, inspirado na Boa Notícia (Evan- gelho de Jesus). Os Evangelhos foram redigi- dos pelas comunidades cristãs muito tempo depois dos aconte- cimentos, depois, até, das Car- tas de S. Paulo, e propuseram- -se transmitir factos e palavras da vida de Jesus de Nazaré, que as Cartas não tinham ainda refe- rido, como resposta às dúvidas, Os primeiros cem anos (continua na pág. 9)
  • 9. Geral: fraternitasmovimento@gmail.com Secretariado: secretariado@gmail.com Direcção: direcao.fraternitas@gmail.com  Desafiada por um amigo, e com alguma insistência, fui ao encontro "Os primeiros 100 anos do cristianismo". O tema era fascinante, mas a agenda para variar está sempre ocupa- da e era difícil introduzir mais uma actividade, mas "O tema tinha a minha cara!" O encontro acabou por superar todas as expectativas, a forma como foi tratado e abordado, o orador, a organização dos temas, do tempo, o espaço, foi excelente! Deu para aprender, e muito! E ainda fiquei com muitas referências e aponta- mentos. A par disso foi possí- vel espaço de partilha e troca de impressões. Foi interessante perceber o que está a acontecer noutras paróquias, as suas e c o s . . . dinâmicas (tão diferentes das nossas!), como há tantas formas de ser Cristão e Católi- co. Gostei de perceber que há outras pessoas, tal como eu, que defendem uma participa- ção diferente para as mulheres e a possibilidade de haver sacerdotes casados. Fechamos com chave de ouro com uma cerimónia ecuménica presidida por uma mulher! Gostei de conhecer a Fraterni- tas e perceber as sua dinâmicas e linhas de pensamento. Sílvia Martins 18/11/2018 do Cristianismo às angústias e aos desafios das comunidades nascentes e que se iam multiplicando por todo o império romano. Todos os discípulos de Jesus se tornaram missionários, anun- ciando e testemunhando como Jesus mudou o mundo em geral e o deles, em particular. Por isso, o Novo Testamento é tão rico e tão diversificado. A quantidade de estilos literários; a abundân- cia de assuntos; a multidão de nomes referidos; a intempora- lidade do seu conteúdo… tudo isso nos incumbe de dar o devi- do valor divino e humano à Bí- blia, e nos "obriga" a lê-la todos os dias, porque vamos encontrar sempre nela uma orientação e umaforçapara os desafios dodia a dia.  Ferando félix (Associado Nº 105)
  • 10. e c o s . . .  Inscrevi-me no encontro "Os primeiros cem anos do Cristianis- mo" aliciada pelo tema e pelo nome do orador. A forma como o tema foi desen- volvido satisfez-me plenamente. Gostei também de conhecer mais de perto este grupo de reflexão e inter-ajuda que é o Movimento Fraternitas. Sinto-me agradecida pela confiança que depositaram em mim, convidando-me para presidir à Celebração da Palavra, o que fiz com agrado, colocando nisso todo o empenho que no momento me foi possível. Obrigada por tudo quando recebi do grupo. Ilda Fontoura Pires 17/11/2018  O encontro celebrado em Alfragide foi para mim uma experiência muito enriquece- dora. Já o pressentia, mas pude sentir que caminhantes de caminhos idênticos geram entre si uma solidariedade espontânea. E foi bom sentir  Os Primeiros Cem Anos do Cristianismo Foi este o título do 2º Encontro em que a Fraternitas Movimento fez jus ao seu nome, que signifi- ca, primeiramente, parentesco, relação entre irmãos. Decorreu em Alfragide, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, de 5 a 6 de outubro p.p., e foi orienta- do pelo Pastor Dimas de Almeida. O 1º, realizado a 14 de janeiro de 2017, intitulado Ecuménico, ajudou-nos a reconhecer como verdadeiros irmãos cristãos os vários oradores de diferentes Igrejas cristãs. Em outubro, o Professor e Pastor Dimas transportou-nos aos primeiros cem anos do cristianis- mo com grande mestria e saber. Entusiasmou a audiência expli- cando, demoradamente, através de esquema dividido em três fases, a história plausível do 1º século do Cristianismo. Que maravilha! Mais uma vez, ficamos convictos que a Mensagem de Jesus permanece, mas cada ser humano utiliza-a conforme os seus interesses e conhecimento. Parabéns à Direção da Fraterni- tas Movimento pela ideia da escolha do orador em causa que tão belos esclarecimentos prestou. Eduarda Cunha 15/11/2018 o que lhes convém. Não se comprometem. 4. São formadas por elementos burgueses ou da meia-bur- guesia. Que vivem bem… 5. Não se formam verdadeiras famílias paroquiais. Até por- que são quase exclusivamen- te constituídas por elementos do sexo feminino, na sua mai- oria solteiros. para essas comunidades, embo- ra pequenas, mas que transmi- tam na vida a mensagem cristã.  Antonino Mendonça [antonino.mendonca@gmail.com] (12-11-2018) Nota do Editor: Dado o espaço dispo- nível neste número, a parte final deste “Do Baú da Memória (II)”, será pu- blicada no próximo número. Do facto, pedimos desculpa ao autor e aos leito- res. DO BAÚ DA MEMÓRIA (II) (conclusão da pág. 11) Todos estes contras e outros mais que se poderiam apontar impedemumaevangelização efi- caz. Para mim, o problema é an- gustiante e não vejo fácil saída. Mas creio que é necessário e urgente buscar soluções, ouvir o povo, sentir as suas necessi- dades e angústias. Creio que uma evangelização eficiente depende muito da ac- ção missionária das comunida- des cristãs. Temos de caminhar que não precisámos de másca- ras. Quanto ao texto da celebração, devo felicitar o autor, ou autores. Já o li e gostei. Em celebração deve ter sido ainda mais bonito! Miguel M. Costa 6/11/2018
  • 11. Notamos na nossa vida uma falta grave de força evangeli- zadora.Emborase tenham apro- veitado muitas oportunidades (casamentos, festas, missas e fu- nerais…) a eficácia da Palavra perde-se dolorosamente. Tere- mos de examinar as raízes deste mal. A missão evangelizadora da Comunidade Cristã é, por outro lado, nula ou quase. Temos consciência da necessidade da formação de comunidades ver- dadeiramente evangelizadoras. Para os quais o "Ide em paz" no final da missa, seja uma missão paralela ao "Ide pelo Mundo inteiro" do final do Evangelho. Meditando nestas duas situa- ções críticas e tentando encon- trar as raízes, parece-nos: 1. Avida do padre,pormaissan- ta e espiritual que seja, não convence o homem do nosso tempo e do nosso meio. Não é sinal legível e eficaz da sua Palavra. Porque: a) Está afastado da vida co- mum e igual à do homem vulgar. b) Veste diferente. É uma casta à parte… c) É um funcionário das "mentiras" que nosprega.O culto é o seu ganha-pão. d) Vive do trabalho dos ou- tros. 2. O ministério sacerdotal não aparece como serviço, verda- deiro ministério, mas comouma profissão. O padre pensionista da Comunidade ou simoníaco. DO BAÚ DA MEMÓRIA (II) Do Baú da memória e não só. Entre pa- péis velhos com po- esias, apontamentos, fotografias e outras recordações de há cerca de meio século (dois ou três anos apósa conclusão doVaticano II), encontrei umas páginas de uma comunicação feita numa Confe- rência Eclesiástica. Era assim que se denominavam as actuais reuniões arciprestais. Foi feita por um jovem presbítero e dirigida como reflexão ao clero mais idoso e experiente e peran- te o arcebispo-bispo da diocese. Hoje, ao reler o texto amarelecidopelotempo eesque- cido numa mala ou numa gave- ta, constato duas coisas: quase nada mudou desde então e é im- portante voltar a reflectir sobre os mesmos assuntos. O tema principal era a "Pastoral do Baptismo", que incluía a "Evangelização" e a "Cateque- se". Pela actualidade que ainda apresentam as ideias então ex- postas, vejo-me obrigado a reco- piar aquilo que me resta do tex- to dactilografado que não arran- quei do baú da memória, mas do pó de um arquivo pessoal. Está a exposição escrita na pri- meira pessoa do plural, que não me parece que seja intencional- mente plural majestático, mas tão-somente fruto de uma refle- xão feita anteriormente em gru- po. Transcrevo o capítulo sobre a "Evangelização" tal como o encontrei,semalterar uma vírgu- la ou ponto final e sem suprimir ou alterar qualquer vocábulo. 3. Éextremamente doloroso sen- tir o que os outros pensam, quando,de manhã,saem para o trabalho e nós ficamos em casa vivendo uma vida, para eles, ociosa. 4. É profundamente inquietante o problema de sabê-los pen- sar que vivemos à sua custa, que vivemos deles e não para eles. 5. Até o próprio celibato, sinal de entrega total à Igreja e à Comunidade, é considerado egoísmo. "Porque têm quantas querem…" 6. A nossa vida está mais volta- da para o culto e para as prá- ticas sacramentais, do que para a evangelização. Por isso somente saibamos apro- veitar os actos de culto para evangelizar.Anossatransmis- são da mensagem deve ser fei- ta primeiro na vida e depois na palavra. Mas se a vida se torna contra-sinal? Parece-me de grande importân- cia meditar e reflectir nestes pontos importantes da vida do padre como sinal de evangelização, de que deriva muita da ineficácia. As Comunidades cristãsexisten- tes falham também. Começam por não serem verdadeiras co- munidades de fé e de amor. São ineficazes também. 1. Não são adultas na sua fé. O temor e a superstição é que vão aguentando a sua existên- cia. 2. Perdem-se em questões ba- nais e murmurações. 3. Aceitam doEvangelho apenas (conclui na pág. 10) A. B.
  • 12. Quando se descarta um padre O padre Giselo foi literalmente escorraçado por uma autoridade sem tino e sem bom senso da Pa- róquia do Monte no mês de Feve- reiro deste ano. Até agora vive de ummíserosalárioqueaDioceselhe concede todos os meses e não tem nenhuma função eclesiástica digna como exige a sua condição de sa- cerdote da Igreja Católica. Foi literalmenteabandonadope- los seus pares.E umapequenacla- que literalmente meteu a autorida- de máxima à frente do "bulling cle- rical"contraopadreGiseloparaque fosse torrando em lume brando. Já vi outros casos de poster- gação nesta terra, mas eu nunca imaginei que um dia ia presenciar um ostracismo contra um colega, tão cheio de veneno, cuspido pelas ventas tenebrosas de satanás re- vestido com uma máscara eclesi- ástica. Bem se queixou com razão o Papa Bento XVI dos corvos. Se alguma vez conseguisse imaginar que a hierarquia católica da minha terra fosse capaz de semelhante maquievalismo, eu digo, sincera- mente, parece que tinha recusado ser o que sou. Enfim, o padre Giselo continua descartado,porqueprocriou,fezver a luz a uma criança com os olhos da cor do céu. Com isso rebentou o ódio, a vingança e a inveja clerical, que são venenos terríveis dentro das hierarquias. Pois, fez um "pe- cado mortal" para a hipocrisia do- minante da Igreja e da sociedade emgeral,quesomaséculosdeabu- sos sexuais, prepotência, abuso de podereoreincidentefarisaísmoque impõe leis e mais leis para os ou- tros cumprirem, ostracizando mul- tidões de fiéis que tiveram que car- regar fardos pesados impostos por aqueles que nem com a ponta do dedo lhe tocavam. Mas, certo é que o padre Giselo continuarádefora,descartado, por- que o "bulling clerical" continua, até verseaguenta edesistedafeliz dig- nidade com que assumiu os seus actos, quiçá também um dos ges- tos, entre outros com certeza, dos mais corajosos destes cinco sécu- los da história da Igreja da Madei- ra... É coisa pouca para uma gran- de parte, mas um passo enorme que devia fazer pensar toda a co- munidade católica da Madeira, se tivéssemos uma Igreja iluminada pela luz do Evangelho e com matu- ridade suficiente para pensar sem preconceitos. Fica-me outra vez sem surpre- sa,atestadoqueéprecisocozer um padre em lume brando até que se "faça ao largo" para as missões ou para casar, pois seja só ele a resol- ver o imbróglio que a autoridade froixanãofoicapaz deresolver.Não há terceira via, porque o poder que não serve, mas serve-se, manda e deseja que continue assim tudo aparecer o que não é. Quando se descarta um padre só porque comanda o medo e uma claquebatepalmasaisso,andamos muito mal e de Evangelho, afinal, não faltará pregação e palavreado, mas fica zero absolutamente vivi- do. Para terminar resta dizer o que isto representa de mau exemplo para uma sociedade que se bate com tanto filho por aí a ser deixado ao Deus dará e que para recebe- rem a dignidade da paternidade começam a vida na barra dos tribu- naisejogadosparaoscuidados das instituições estatais. À face de tudo isto muitos pensarão seguramente, se esta igreja trata os seus "traba- lhadores" e filhos diletos desta for- ma, como procederá com os ou- tros?  Padre José Luís Rodrigues in O Banquete da Palavra (22-10-2018)
  • 13. "Seiscentos e quinze padres deixaram o ministério nos últimos quinze anos!" — É assustador!… É infor- mação do Jornal de Notícias, na edição de 21 de Outubro de 2018. Porquê? — Interrogamo-nos. A questão não é simples e também não nos satisfazemos com superficialidades ou com respostas rotineiras. Ainda lembramos o Padre Giselo. Fomos surpreendidos com o reconhecimento paternal de uma sua filha. Um acto de coragem, de transparência e de humanidade. Quem acompanhou este caso constatou a responsabili- dade e seriedade com que o Padre Giselo enfrentou a questão. Até se dispôs a continuar a sua atividade pastoral na Senhora do Monte, com aceitação e agrado da maioria dos paroquianos. É evidente que o Padre Giselo calcou o risco. Com aquele procedimento pisou o Direito Canónico. O bispo é um Apóstolo. Deve viver a humanidade e incarna a misericórdia de Jesus. Ele é testemunha viva do amor de Deus presente na Sua Igreja. Ora o bispo seguiu o Direito Canónico... e calou o padre. Contradição! Quando falamos de vocações, da falta de presbíteros e de comunidades sem pastor… quem nos leva a sério? Não foi por incompetência ou má preparação que o padre foi afastado da "sua" paróquia. Foi apenas por uma questão disciplinar. E pronto! Toda a gente de consciência tranquila… Mais uma paróquia sem pastor, uma filha com a afetividade paterna comprometida, uma mãe sozinha… e uma igreja que fecha os olhos à realidade e vive uma situação contrária à Palavra que prega… Tudo corre às mil maravilhas, mesmo contrariando o Evange- lho! Naverdadevemoscom mágoaqueosbispos"nãocheiramaovelha!"Vivemlonge,noalto,isolados,ondesó chegam ecos da vidadura e amarguradado povo. Conhecerão as necessidadesdas suas ovelhas?Serão reconheci- dos como verdadeiros pastores? Ou serão apenas agentes do direito canónico? Olhando à nossa volta, vemos que há muitos casos idênticos ao do Padre Giselo. E há muitas e muitas comunidades sem pastor, que não celebram os mistérios do amor de Deus, nem o Evangelho é palavra ativa. E as comunidades aceitam esta imposição, como se fosse a vontade de Deus. E os bispos resignam-se cruzando os braços como uma fatalidade. Mentira! Há outras soluções, há outros caminhos. Demos voz ao Povo de Deus. Que os bispos, os padres, os cristãos — numa palavra a Igreja — sejam coerentes, equilibrados, humanos, humanizados e humanizadores, homens e mulheres de Fé, que celebram na alegria este amor de predileção com o qual o nosso Deus e nosso Pai nos acaricia. Ao Padre Giselo e a todos os corajosos que denunciam, que enfrentam ou enfrentaram questões parecidas, a nossa solidariedade. Fazemos votos profundos para que esta Igreja tão desumanizadora encontre caminhos de convergência,demodo quetestemunhena vidaaPalavraqueanuncia.Nósacreditamos noEspíritoquerevitaliza esta Igreja. Acreditamos que Ele tem força dinamizadora para evitar discussões supérfluas. Que leve esta Igreja a redescobrir os tempos primitivos do Cristianismo e encontre forças de renovação... Não desesperes, amigo! Nesta Igreja nem tudo é desilusão. Recorda que, a caminho de Jericó (Lc 10,30-36), passou um sacerdote e um levita que desviaram os olhos e seguiram em frente. Alguém, um desconhecido, tomou à sua conta um marginalizado e assumiu as despesas da recuperação. Só este ficou para a estória. OEspírito está presenteedesperta quandomenos seespera.Umamigo doPadreGiselotomouapalavraeacordouadormecidos. Não acordou a Igreja toda, mas nós acreditamos que o Espírito tem os seus caminhos e há-de levar a água ao Seu moinho.No nossoTempo? Masisso écompletamente secundário.Nós somos filhos do Eterno etrabalhamos para a eternidade. Importa que trabalhemos. Por experiência, sabemos que uns semeiam e outros farão a colheita. Compete-nos semear...  29 de Outubro de 2018 Comunicado da Direcção da Fraternitas Movimento
  • 14. Cerca de 24% dos cidadãos do nosso país reúnem-se em cada domingo nas igrejas cató- licas para a celebração domini- cal. Qualquer cristão, dócil e cumpridor, ouve maisdetrês mil sermões desde a infância até aos sessenta anos. Umas 520 horas da sua vida.AIgreja católicadis- põe, assim, de uma oportunida- de única de evangelizar, de fa- zer crescer nos caminhos da fé cristãosfrequentadoresdostem- plos. E,apesardisso,muitos cris- tãos não mostram nas suas vidas coerência com a fé que dizem professar face às arremetidas da 'cultura' que os rodeia,no queela temde incompatívelcom as pro- postas da Boa Nova. A homilia é o 'calcanhar de Aquiles' das nossas celebrações e a ela se limita grande parte do exercício do ministério da Pala- vra por parte dos 'detentores do poder da palavra' nas celebra- çõesnomeadamente dominicais. Para muitos cristãos é a única oportunidade de confrontar as suas vidas com a Palavra Reve- lada, fonte e alimento da sua fé. É conhecido o episódio refe- rido numa carta de La Fontaine a sua mulher. Conta o fabulista:" No domingo saímos de madru- gada, mas tivemos que esperar cerca de três horas devido a uma avaria na diligência. Para não nos aborrecermos, ou para nos aborrecermos ainda mais, não sei bem como dizê-lo, fomos ouvir uma missa paroquial. A procissão, a água benta, a ora- ção dos fiéis… não faltou nada. Tivemos a grande sorte de o cura ser um ignorante e, graças a Deus, não pregou". Esta questão não é de agora. Vale a pena retomar aqui cita- ções famosas a este respeito re- colhidas em La Homilia, de Vittorio Peri, Vigário Episcopal para a Cultura da diocese deAs- sis e presidente da União Apos- tólica do Clero, em Itália. De Joseph Ratzinger, o futu- ro Papa Bento XVI: "É um au- têntico milagre que a Igreja so- breviva aos milhões de péssimas homilias de cada domingo"; de Yves Congar, um dos teólogos do Vaticano II: "Ainda é possí- vel encontrar fé em França, ape- sar das trinta mil pregações de cada domingo"; de Thomas Spidik, num desabafo mordaz: "A Igreja colocou o Credo de- pois da homilia para convidar- -nos a proclamar a nossa fé, ape- sar do que acabamos de ouvir"; comentário de Julien Green: "A pregação é útil, porque submete a dura prova a fé de quem escu- ta"; desabafo de Carlos Bo: "A homilia é o tormento dos fiéis". François Mauriac, por sua vez, escreveu que "em nenhum lugar se vêm tantos rostos inexpres- sivos como na igreja durante a pregação". Há homilias que cansam, ou- tras que irritam, outras que são autênticos atentados contra a in- teligência de quem as ouve. Há, com efeito, homilias que em vez de evangelizar,moralizam,oque qualquer monge budista faria com a mesma ou melhor profi- ciência. Na Evangelii Gaudium es- creve o Papa Francisco: "Sabe- mos que os fiéis lhe dão (à homilia) muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os própriosministros ordenados so- frem: uns a ouvir e os outros a pregar. É triste que assim seja.A homilia pode ser, realmente, uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador en- contro com a Palavra, uma fon- te constante de renovaçãoe cres- cimento"(nº135).E,na Laudato Si’ (nº 17), adverte ainda o Papa Francisco: "A Palavra de Deus pode soar como mensagem re- petida e vazia, se não for apre- sentada novamente a partir de um confronto com o contexto actual… A fé traz novas moti- vações e exigências face ao mundo de quefazemos parte…". Palavras, leva-as o vento, quando elas não soam articula- das com a vida real de quem as ouve e de quem as diz.  A. Teixeira Coelho [in: RODA VIVA (nº 354 - 9 de Agosto 2018)] HOMILIAS…para quê?
  • 15. "Há falta de padres!" — é uma afirmação tão frequente que já nem sen- sibiliza. No nosso hori- zonte está a igreja tridentina. Assim é a esta igreja que faltam pa- dres… Ela distingue o sa- cerdócio comum e o ministeri- al. Mais: dá relevo ao sacerdó- cio ministerial e tirou vigor ao sacerdócio fundamental, vulga- rizou-o, diremos mesmo, bana- lizou-o, identificando-o como sacerdócio comum. Mas este sa- cerdócio comum é essencial. É por ele que nós fazemos parte do reino de Deus e faz dos cristãos um reino de sacerdotes… Este clima emocional tam- bém me envolveu. Deixei-me ofuscar pela falta de padres! Por isso vi como uma grande opor- tunidade pastoral, a Celebração da Palavra sem Eucaristia, pre- sidida por leigos. E apoiei… Já lá vão alguns anos!… Recentemente assistindo aal- gumas celebrações. Não gostei! Revi os meus valores. O que antes me pareceu uma boa solu- ção pastoral, agora senti-lhe fal- ta de vigor. Olhei à volta. Quem partici- pa nestas celebrações? Não sen- ti entusiasmo, alegria. Foi uma rotina! É engraçado o sentido crítico do nosso povo. Muitas vezes não sabe explicar o por- quê das suas posições. Engole o que lhe é proposto, mas nada escapa à sua perspicácia, crítica e atéirónica. De facto a estes mi- nistros que orientam essas cele- brações, chamam-lhes mini-pa- dres. Estão bem caracterizados. Revestem-se como tal. Não usam estola nem casula, mas a sua linguagem, seu comporta- mento assim os identificam.Ofi- ciam numa celebração clerica- lizada. Vestem um fato que não lhes está adaptado. Dá a impres- são de haver algo postiço.Fiquei triste! Gostava de participar numa celebração presidida por um lei- go ou uma leiga, com um com- portamento natural e uma lin- guagem própria. Não precisam dos adereços próprios de um sa- cerdote. Presidiriam como se vestem ou com as vestes litúrgicas próprias dos leigos: as opas. Usem as vestes que os li- bertam e ajudam a viver,com in- tensidade, a alegria do encontro. Partilhem! Falem daquilo que lhes interessa, lhes enche a vida, das suas preocupações e das res- postas que eles buscam para as muitas perguntas que a vida nos põe, com simplicidade. Usem os textos litúrgicos de forma natural. Gos- tava de uma cele- bração com mais vida, mas que soas- se a verdade vivida, transparência, sem imitações. Não gos- to de uma palavra colada. Então tudo está mal? Nada se aproveita? Não. O clericalismo contaminou a Igreja. Mas nem sempre foi assim. "Como se pode nascer de novo" — é a per- gunta do confuso Nicodemos, a Jesus (Jo 3,4), que nos pode aju- dar. "Renascer" é voltar às ori- gens, é ver e aprender como fa- ziam os primeiros cristãos e se- guir-lhe as pisadas. Esta forma de Igreja, que hoje vivemos está anquilosada, ultrapassada. Pre- cisamos de uma Igreja nova? Não! Precisamos de uma Igreja diferente. Os cristãos devem ter voz activa, basta de celebrações com gente anónima. Queremos cristãos identificados, não as- sembleias de anónimos,descom- prometidos. Isto tudo vem do Vaticano II. Não é novo. Nós é que nos acomodamos neste faz de conta… Deixamos correr. Mas pode ser outro modo: "A Igreja é nossa".Temos de tervoz activa.  Joaquim Soares (Associado Nº 72) 7 de Novembro 2018
  • 16. Rua Dr. Sá Carneiro, 182 - 1º Dtº 3700-254 S. JOÃO DA MADEIRA e-mail: espiral.fraternitas@gmail.com boletim de fr a t er n it a s m o v im en t o Responsável: Alberto Osório de Castro Nº 68 - Outubro/Dezembro de 2018 Amigo leitor: Vamos entrar no Advento. O Advento é tempo de optimismo e de plenitude, na pre- paração do Natal. Para nós, cristãos, é um recomeçar, sempre entusiasmante, de projectos já perspectivados para a colabo- raçãonaobraredentoradeCristo, eda criaçãode outrospro- jectos,comanossacapacidadedereflexãoeanossadisponibi- lidadeparasermosagentesdapastoralcomunitária.Deusas- sociou-nosàsuaobradaCriação,e Cristochamou-nosacola- borar na Redenção, nossa e do mundo inteiro, porque somos povo deDeus, sem fronteiras.Nãopodemosviver sóparanós, porquequempretenderviversóparasi,acabapormorrerpara sieparaos outros.E também nãosomoscristãosapenas para os nossos dias: Temos de olhar o Infinito, sem medo de avan- çarnoescuro,semmedodonovo,apesardascontingênciasda nossa finitude. Sabemos que somos conduzidos pela mão de Deus, e isso nos basta para termos confiança no avançar!... Talvez não nos reconheçam agora o esforço da nossa luta pelo bem, pela paz e pelo amor. Também não é para isso que nos damos ao serviço dos outros!... Mas o nosso testemunho ficará na história da vida, e ela encarregar-se-á de o mostrar às gerações futuras. Até na vida material assim acontece. O grande mistério de toda a cultura, de todo o saber, de toda a ciênciaedetodaacriaçãoartística,sejaqualfor,assentaneste conhecidofenómeno:osqueseprojectamparaofuturo,quase nunca são aqueles que o presente consagrou. O irrequieto e imortal poeta português, Camões, elegante e original na sua forma de escrever, morreu precocemente envelhecido, sem ter completado os 50 anos e sem dinheiro para comprar uma ga- linha! Hoje é o embaixador literário de toda uma Pátria! O grande compositor alemão, Sebastian Bach, com a sub- tileza e os celestiais voos da sua música, só modernamente foi reconhecido como um grande modelo e mereceu a admiração incontidae extasiadade todos os cantosdo mundo! O austrí- aco Mozart, apesar de toda a graça e poder de emoção das suascomposiçõesmusicais,morreutãoesquecidodetodosque, quandofoiasepultar,emdiachuvosoedepenumbracerrada, apenasfoiacompanhadoàtumbaporumcarroceiroeumcão! Nem a sua famosa composição musical "Requiem" o acompanhou!...FernandoPessoa,deolharlongínquo,quenão poisou no seu tempo, alma de futurista e modernista, termi- nouosseusdiasnasolidãodeumquartodehospital,talcomo tinha vivido durante a sua crucificada vida! Muitos foram admirados no seu tempo, mas raramente reconhecidos pela história como estes, porque há distâncias infinitas entre ser admirado e ser reconhecido. Admirados... há multidões deles! O mundo está cheio deles e delas, desde a Marylin até ao Pavaroti!... Reconhecidos... há poucos, e geral- mente,muitotarde.Masesteséqueforamecontinuarãoaser os benfeitores da Humanidade. Aqueles não vão além de be- neficiados dela... Embora custe muito ao nosso comodismo, o cristão não pode limitar os seus horizontes aos dias de hoje, mastemdeseprojectarparatodoofuturodaIgreja,pelaqual foi baptizado. Para isso tem de recomeçar, a cada momento, uma vida nova, rasgando com coragem, sempre novos hori- zontes. CarregamosopesoearesponsabilidadedamissãodeCris- to, com a sua divindade humanizada, com a sua presença ac- tuantenareconciliaçãodoshomensentresiecomDeus.Uma utopia?!...Podem chamar-lhe assim, se quiserem. Todos nós somosperegrinosdautopia,masdeumautopiaquenãoéum sonho de criança, porque se transformará, um dia, em plena realidade. Durante o Advento vão passar diante de nós figuras que talvez tenham sentido na sua vida, a sede estonteante do de- serto,comoumS.JoãoBaptista,eocruelesquecimentodopovo dacidade,comoCristonasuaagonia,esuamãenosilênciode quem sabe sofrer por amor! Mas essas figuras vão surgir, agigantadaspelaHistória,porqueoseutestemunhoaindahoje é vibrante. E às vezes até incomodativo para quem se acomo- dou a uma vida sem Vida!... O Advento é para olhar, bem de frente, a vida dessas ex- traordináriasfiguras, paraavivercomoelasaviveram.O Ad- vento é tempo de optimismo e plenitude! E também de refle- xão e conversão!...Difícil?!... Pois é! Nos nossossonhos é mui- to fácil ser mártir. Mas nas tarefas quotidianas a favor dos outros, é difícil ser homem. Mas são esses homens que ficam na História!...E nós,cristãos,senãofor- moshomens,tambémnãosomosnada!... E muito menos cristãos!...  Manuel Paiva (Associado Nº 28) ADVENTO–TEMPODEOPTIMISMOEPLENITUDE!...