Este estudo avaliou os efeitos de um programa de treinamento de força de 10 semanas em indivíduos com hérnia de disco lombar. Os resultados mostraram um aumento na massa muscular e uma redução no percentual de gordura no grupo que realizou o treinamento, mas não no grupo controle. O treinamento de força pode ser benéfico para esta população quando bem planejado e adaptado às necessidades individuais.
Atividades e propostas criativas para crianças de até 4 anos
Efeitos de treino de força em hérnia de disco
1. EFEITOS DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO DE FORÇA EM
ADULTOS PORTADORES DE HÉRNIA DE DISCO LOMBAR
Rodrigo Torma1
, Cíntia H. Ritzel1
, Marco A. Vaz1
.
1
Laboratório de Pesquisa do Exercício - Lapex - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - POA - RS.
Resumo: Os benefícios da prática regular de treinamento de força têm sido estudados em inúmeros trabalhos, e sua
aplicabilidade e eficácia em populações especiais. Este estudo tem por objetivo investigar os efeitos de um programa de
treinamento de força em indivíduos portadores de hérnia de disco lombar. A massa muscular e o percentual de gordura
foram avaliados e, dezesseis sujeitos pré e após 10 semanas de treinamento de força, e em oito sujeitos do grupo
controle. Os indivíduos do grupo treinamento apresentaram aumento na massa muscular e redução no percentual de
gordura comparando-se as avaliações pré e pós-treinamento (p<0,05). Não foram encontradas diferenças nessas
variáveis no grupo controle. Os resultados sugerem que a prática de treinamento de força produz resultados satisfatórios
para os parâmetros avaliados.
Palavras-chave: Hérnia de disco, dor lombar, treinamento de força.
Abstract: The benefits of a regular strength-training program and its efficacy and applicability in special populations
have received attention in several studies. The purpose of this study was to evaluate muscle mass and fat free mass in
twenty-four subjects with low back pain. Sixteen subjects were assessed before and after a 10-weeks training period.
Eight subjects participated in the control group and were evaluated with the same interval of the experimental group.
Muscle mass increased and fat mass percentage decreased (p<0.05) from pre- to post-training in the experimental
group. No changes were observed in the control group between tests. The results show that the strength-training
program produced satisfactory results for the assessed parameters, despite the wrong belief that strength training
should be avoided with low-back pain patients.
Keywords: lumbar disc herniation, low- back pain, strength training.
INTRODUÇÃO
A discopatia é uma doença que pode ser
descrita como uma saliência, hérnia, ruptura,
deslizamento, degeneração ou extrusão, que ocorre
no disco intervertebral [1]. Essa doença está
relacionada com a ruptura de fibras do anel fibroso
do dosco intervertebral, permitindo ou não a
extrusão ou protusão do centro do disco (núcleo
pulposo).
O grau de deslocamento do núcleo está
associado ao grau da dor lombar. Quando as
camadas do anel se rompem em camadas
sucessivas, o espaço entre elas é ocupado por gel
fluido. Essa ruptura do anel determina um aumento
do volume do disco protusado, resultando em
aumento da dor referida [2].
O treinamento de força tem sido contra-
indicado para pacientes com problemas ósteo-
articulares e portadores de discopatias. Acredita-se
que os discos intervertebrais sejam submetidos a
sobrecargas exageradas quando o corpo é
submetido ao levantamento de pesos [3].
Entretanto, exercícios de força tem sido indicados
em programas de reabilitação [4, 5], devido às
adaptações neuromusculares obtidas com o
treinamento. Essas adaptações incluem a melhora
na coordenação de movimentos e a hipertrofia
muscular.
O uso de exercícios para o tratamento de
lombalgias e discopatias resulta em maior
eficiência na reabilitação, com enfoque na variação
da freqüência, duração e intensidade dos exercícios
[4, 6]. Resultados positivos em relação as
2. lombalgias foram encontrados em estudos que
utilizaram programas de treinamento de força
muscular [7]. Exercícios de fortalecimento
muscular têm sido indicados na reabilitação de
doenças degenerativas discais [4, 8].
Tratamentos fisioterapêuticos de curta
duração têm resultados limitados, e os melhores
ganhos têm sido obtidos com intervenções de
longa duração, em torno de três meses [9].
Entretanto, as adaptações neurais e morfológicas
obtidas com um tratamento fisioterapêutico de
longa duração podem se perder facilmente com o
retorno do paciente às suas atividades de vida
diária, quando o mesmo não realiza a prática
regular de exercícios físicos.
De acordo com o princípio da
reversibilidade [10], as adaptações ocorrem ao
longo do tempo desde que o treinamento seja
contínuo, pois a interrupção do treinamento leva a
reversibilidade das adaptações ocorridas, levando
ao destreino, o qual costuma ocorrer mais rápido
que o treinamento. Portanto, a continuidade de um
trabalho de força estruturado para consolidar o
processo de adaptação seria uma boa alternativa
para levar o paciente de discopatia a ter uma vida
normal, prevenindo e/ou reduzindo as crises e a
incidência de dor.
O treinamento de força, se bem estruturado,
pode levar a inúmeros benefícios, tais como
aumento da força e hipertrofia musculares,
aumento de massa livre de gordura e diminuição de
massa gorda, melhora na amplitude de movimentos
e melhora na qualidade de vida [11].
Além disso, estudos indicam que exercícios
de extensão do tronco têm uma importância
primordial no tratamento das discopatias [12].
Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar os
efeitos de um programa de treinamento de força no
percentual de gordura e na massa muscular em
sujeitos com diagnóstico de hérnia de disco
lombar.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo é de caráter investigativo quase-
experimental. Após o diagnóstico clínico por
médico especialista da presença de hérnia de disco
lombar, os pacientes foram encaminhados a uma
clínica de fisioterapia para a realização de
tratamento conservador. Os pacientes foram
convidados a participar voluntariamente da
pesquisa. Pacientes que não demonstraram
interesse em participar do programa de treinamento
foram convidados a participar do grupo controle. A
partir dessa metodologia, foram selecionados 16
sujeitos para o grupo experimental (ou grupo de
treinamento) e 8 para o grupo controle.
Avaliação de massa muscular e percentual
de gordura foram realizadas com o uso de
protocolos para mensuração das dobras cutâneas,
perimetria, diâmetros ósseos, altura e massa
corporal [13, 14]. A partir da densidade corporal
obtida por meio dos protocolos antropométricos foi
efetuado o fracionamento corporal a fim de se
obter os dados de massa muscular e percentual de
gordura.
As avaliações foram realizadas no pré e pós-
treinamento para o grupo experimental; e para o
grupo controle foram realizadas avaliações nas
semanas 1 e 10.
Antes da sessão de treinamento todos os
sujeitos realizaram um alongamento para cada
grupo muscular a ser treinado, totalizando 10
alongamentos. Além disso, a pressão arterial e a
freqüência cardíaca dos pacientes foram
controladas durante as sessões de treinamento.
3. Tabela 1:Periodização do programa de treinamento
de 10 semanas em microciclos.
Variável
1o
microciclo
2o
microciclo
3o
microciclo
Carga moderada moderada alta
% 1 RM 50% 50-65% 75%
Séries 2 2 3
Repetições 12 a 15 15 a 25 6 a 12
Intervalo
entre séries
30s e 60s 30s a 90s 60s a 90s
Velocidade
Execução
moderada moderada lenta
Sessões
treinamento
10 10 10
Respiração livre ativa ativa
O programa de treinamento de musculação
consistiu em 30 sessões, com freqüência de três
sessões semanais e intervalo de um ou dois dias
entre as sessões (tabela 1). O programa foi
composto pelos seguintes exercícios: supino reto,
puxada pela frente fechada, abdominal, extensão
de tronco, voador invertido, rosca bíceps, tríceps
testa, leg press, extensão de joelhos, flexão de
joelhos, abdução de quadril e adução de quadril
[15, 16].
Esses exercícios, assim como a sobrecarga
do treinamento, foram adaptados às necessidades
individuais de cada paciente, de acordo com o
nível de dor que cada um apresentava em cada
sessão de treinamento. Portanto, a metodologia
utilizada em cada sessão de treinamento sofreu
pequenos ajustes individuais, apesar de se ter
procurado manter a mesma metodologia para o
grupo treinamento ao longo das 10 semanas de
treino.
Os dados de porcentagem de gordura e
massa corporal foram comparados entre os grupos
no pré e no pós-treinamento por meio de um test-t
para amostras independentes. Na comparação
intra-grupos, os dados pré e pós-treinamento para o
grupo treinado e teste 1 e 2 para o grupo controle
foi utilizado o test-t pareado. Todas as análises
foram realizadas com o programa SPSS 13. O
nível de significância adotado para todas as
análises foi de p<0,05.
RESULTADOS
Um aumento da massa muscular foi
observado quando se comparou o grupo
treinamento nos períodos pré e pós-
treinamento. O mesmo não ocorreu para o
grupo controle na comparação dos testes da
semana 1 e 10 (Figura1).
Figura 1. Dados da massa muscular (kg) avaliados
na semana 1 (pré) e 10 (pós), nos grupos
treinamento (GT) e controle (GC);
*=p<0,05.
24
25
26
27
28
GT GC
massamusc(Kg)
pré (1sem)
pós (10sem)*
24
25
26
27
28
GT GC
massamusc(Kg)
pré (1sem)
pós (10sem)*
4. Na comparação do percentual de
gordura, foi encontrada uma redução para o
grupo treinamento na comparação entre o pré e
pós-treinamento, mas não houve diferença
nessa variável para o grupo controle (Figura
2).
Figura 2. Dados de percentual de gordura avaliados
nas semanas 1 e 10 dos grupos
treinamento (GT) e controle (GC);
*=p<0,05.
DISCUSSÃO
O treinamento de força realizado com a
freqüência e intensidade propostas na literatura
para sujeitos saudáveis aumenta a massa muscular
e diminui o percentual de gordura. No entanto,
quando se realizam adaptações no treinamento de
acordo com a individualidade biológica de
populações especiais, estes resultados podem não
ser encontrados.
Nosso protocolo de exercícios teve de ser
adaptado para cada um dos pacientes, tendo em
vista a incidência de dor lombar de cada paciente
no dia de treinamento. Apesar dessas pequenas
adaptações à individualidade biológica de cada um
dos pacientes, nossos resultados demonstram que,
mesmo adaptando os exercícios para as
necessidades dos pacientes, todos puderam se
beneficiar destas melhoras. Estes resultados
estão de acordo com os resultados encontrados
após o treinamento de força com sujeitos
saudáveis [11, 17, 18, 19, 20].
Existe uma influência benéfica da prática
de exercícios no tratamento de algias
vertebrais, doenças degenerativas discais e
lombalgias. Os exercícios utilizados em nosso
programa de treinamento não trouxe nenhuma
piora dos quadros de dor a partir de consulta
verbal a todos os pacientes do grupo de
treinamento ao longo das 10 semanas de
tratamento.
Apesar da resistência na utilização de
exercícios de força em programas de atividade
física para pacientes com lombalgias e hérnias
discais, devido à possibilidade das forças
aplicadas durante os exercícios sobre o local
de herniação produzirem uma piora do quadro
clínico, quando bem planejados e aplicados
adequadamente, os exercícios de força podem
ser indicados para fazer parte de programas de
reabilitação de pacientes com hérnia de disco
[4, 5].
CONCLUSÃO
O treinamento de força de 10 semanas
aumentou a massa muscular e diminuiu o
percentual de gordura em indivíduos com
diagnóstico de hérnia de disco lombar.
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GT GC
%gordura
pré (1 sem)
pós (10sem)
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