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                           TRAÇADO HISTÓRICO DAS RAÍZES DO
                                                                                  1
                 DUALISMO SAGRADO/SECULARATÉ OS DIAS ATUAIS


       As raízes da dicotomia sagrado/secular se originam no pensamento
grego.Platão propunha uma origem dupla para o mundo; cria que tudo é composto
de duas coisas: matéria e forma. A matéria é em si desordenada e caótica, as
formas eram racionais e boas. Em outras palavras, o mundo visível é o reino das
sombras, do erro e da ilusão. O problema do mal e do sofrimento humano é a
matéria, o mundo visível, corpo, e etc., e o conhecimento verdadeiro só é
apreendido quando buscamos as formas imateriais que são eternas.
       Muitos pais da igreja (Clemente de Alexandria, Orígenes, Jerônimo e
principalmente Agostinho) adotaram diversos elementos desta filosofia como
ferramentas intelectuais para dar expressão filosófica à fé bíblica que tinham. A
consequência devastadora para a fé cristã que absorveu esse ensino foi que se o
mundo material é ruim, logo, a nossa meta espiritual é fugir dos aspectos materiais
da vida. Celebrar a meditação, denegrir trabalhos manuais, celebrar o celibato,
denegrir o casamento, celebrar o mosteiro, fugir da praça, atividade pública.
       Esses pais viam bondade na criação, mas na prática, a maioria deles
assimilou ao menos parte da atitude negativa dos gregos pelo mundo material. Esse
tipo de entendimento agostiniano perdurou por toda a Idade Média, continuou nos
escritos de Boécio, Anselmo e Boaventura, e só foi sofrer alterações no século XIII.
       Com a leitura de Aristóteles por parte do teólogo Tomás de Aquino boa parte
do pensamento cristão em relação aos processos naturais mudou para melhor.
Aquino recuperou um ponto de vista mais bíblico da criação. A partir de então, a
mensagem do aristotelismo cristão era que “Deus é bom, que sua criação é boa e
que a bondade e a causalidade da criação são evidências da bondade de Deus.”
       Todavia, a consequência ruim do pensamento de Aquino foi que ele
reelaborou a estrutura dualística da filosofia mudando sua terminologia. Sua
estrutura era a graça (a dimensão sobrenatural) e a natureza. Neste esquema, as
coisas do mundo e as coisas de Deus coexistiam em planos paralelos sem se
relacionar de maneira intrínseca. E pelo fato de a graça ser uma adição à natureza –
que pode “se virar” sozinha –, a realidade ficou novamente fragmentada.
1
 Toda esta reflexão está baseada na leitura dos capítulos 1-4 e 13 do livro “Verdade Absoluta” de
Nancy Pearcey.
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      Após da tentativa de Aquino, os mais bem-sucedidos em lutar contra o
dualismo sagrado/secular foram os reformadores do século XVI. Eles tinham como
uma de suas metas recuperar a unidade de vida e conhecimento debaixo da
autoridade da Palavra de Deus. Rejeitaram o elitismo exclusivista espiritual do clero
declarando o sacerdócio universal de todos os crentes.
      Lutero ensinava que todas as ocupações públicas (comerciante, fazendeiro,
tecelão, dona de casa, etc.) eram modos de obedecer ao mandato cultural. A
reforma se empenhou em reestabelecer o significado espiritual das atividades da
vida cotidiana.João Calvino ensinou que cada crente tem uma vocação para servir a
Deus no mundo – em cada esfera da existência humana –, dando nova dignidade e
significado ao trabalho diário. Calvino ensinou que Cristo era Redentor de todas as
partes da criação, inclusive a cultura, e que lhe servimos em nosso trabalho
cotidiano.
      No entanto, Lutero e Calvino não elaboraram um vocabulário filosófico para
expressar esse novo entendimento. Por conseguinte, seus sucessores e certos
puritanos caíram no mesmo erro: identificar o pecado com alguma parte da criação
(dança, cinema, tabaco, maquilagem). E espiritualidade, então, acabou sendo evitar
partes da criação e passar muito tempo em outras partes da mesma (igreja, escola
bíblica, grupos de estudo).
      Nos séculos XVII-XVIII, com o Iluminismo, o cristianismo foi privatizado a uma
esfera de segundo plano enquanto as filosofias seculares, como o materialismo e o
naturalismo, foram promovidas como ideais puros, objetivos e neutros, colocando-os
como as únicas perspectivas satisfatórias para a esfera pública. Já que o credo do
Iluminismo é a razão,os assuntos cotidianos só podem ser entendidos pela razão,
por causa disso, a graça se tornou cada vez mais irrelevante. A Palavra de Deus foi
confinada ao foro íntimo, e tida como irrelevante para administrar os assuntos
públicos.
      No dualismo secular – relacionado a René Descartes –, a noção de um
universo mecanicista floresceu intensamente. Depois dele e da física newtoniana a
natureza passou a ser descrita como uma grandiosa máquina, governada pelas leis
naturais tão estritamente quanto às engrenagens de um relógio. Não demorou muito
tempo e a ciência do Iluminismo, com seu universo de mecanismo de relógio,
começara a mostrar-se inimiga dos valores humanitários. Entretanto, a divisão entre
o que é fato e o que é um valor foi desenvolvida com o surgimento do darwinismo.
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       Charles Darwin propôs um mecanismo naturalista plausível para a origem da
vida. Por conseguinte, o naturalismo tornou-se uma filosofia completa e abrangente.
Como consequência disso, a esfera sobrenatural foi excluída da história, ciência e
razão. Mas algo foi percebido: o ser humano ainda se enxergava digno e com o
direito a liberdade moral.Todavia, ética, liberdade e valores humanos são irreais
para um sistema materialista, tudo é produto da subjetividade humana. Valores
humanos não cabem na intelectualidade naturalista. Isso gerou um efeito colateral,
como afirma Schaeffer: “Embora o homem diga que não é mais que uma máquina,
sua vida interior o nega.”
      Eis a crise dualística da pós-modernidade: as coisas que são mais
importantes na vida – liberdade e dignidade, significado –, foram reduzidas a nada
mais que ficções vantajosas. Pensamento tendencioso. Misticismo irracional.
Onaturalismo põe a religião e as ciências humanas na defensiva, não há mais
metanarrativas, não existe mais o certo e errado.
      Isto explica a celebração da irracionalidade que testemunhamos na cultura de
drogas dos anos sessenta, no movimento da Nova Era. O misticismo, a fantasia, o
poder dos alucinógenos é um exemplo do impacto mortal do naturalismo. Chegamos
então na dicotomia atual. No mundo pós-moderno não importa se a religião é
objetivamente verdadeira, mas se exerce uma função benéfica para o seu
consumidor. O conceito de espiritualidade ganhou significado de experiência
destituída de conteúdo doutrinário e desinteressado de qualquer afirmação histórica
analisável. Conclusão: o sagrado é particular e não se mete em assuntos públicos.


                             A COSMOVISÃO CRISTÃ E
                 OS DESAFIOS DO DUALISMO SAGRADO/SECULAR


      Nosso desafio em tempos ditos “pós-modernos” é enxergar que o cristianismo
é a verdade sobre a totalidade da realidade. O cristianismo não pode ser restrito a
uma área especializada de crença religiosa e devoção pessoal. Precisa ser um
sistema do coração e do cérebro. O evangelho é uma força redentora em todas as
áreas da vida. Não é um gosto pessoal, mas uma maneira de unir a esfera particular
com a pública de uma maneira racional e prática.
      A crítica da autora é que na qualidade de ser uma pessoa religiosa, o cristão
segue a Bíblia, mas quando é um ser pensante, sucumbe diante da secularidade.
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Ela propõe que o cristianismo é a única perspectiva que interpreta verdadeiramente
todos os assuntos da vida. E a metodologia para confrontar outras cosmovisões com
a verdade cristã é identificar: 1. De onde tudo veio? Quem somos nós e como
chegamos aqui? 2. O que deu errado com o mundo? Por que há guerras e conflitos?
3. Como é possível consertar a realidade? Qual é o real propósito do mundo
existente? A partir dos conceitos criação, queda e redenção somos desafiados a
criar um sistema para explicar e viver o mundo tanto na esfera privada como na
pública.
      Há de fato uma perspectiva bíblica sobre tudo, não apenas sobre assuntos
espirituais. O propósito de Deus é renovar a criação humana. Ser cristão, então,
significa entrar num processo vitalício de crescimento na vida pessoal e em nossa
vocação de criar cultura.É entender que o serviço profissional não é mero trampolim
para compartilhar o evangelho, mas uma maneira de criar uma cultura renovada e
obedecer ao mandato cultural de Deus.
      Temos o desafio de desenvolver princípios de atuação cristã na advocacia, na
engenharia, nas empresas de marketing, nos negócios, na matemática, na química,
na medicina, na biologia, na esfera política, e inclusive, na própria igreja. Temos o
desafio de ser uma igreja que treina a suamembresia para a noção de que a
espiritualidade e a vida pública são linhas de frente para o Reino. Temos o desafio
de preparar a nossa juventude para o encontro com outras cosmovisões através de
boa teologia integral.
      No campo missionário, temos o desafio de evangelizar as nações não apenas
para a transformação de suas almas, antes, oferecer-lhes uma proposta de
mudança total na pessoa do Redentor que redime tudo o que em nós está caído.
Ensinando os novos convertidos a falar com os filósofos na língua da filosofia, com
políticos na língua da política e com cientistas na língua da ciência.
      E, por último, crer na cosmovisão cristã como resposta ao dualismo ocidental
só tem significado quando é o primeiro passo para viver a verdade total do
evangelho no dia a dia. Só há significado em nossa cosmovisão professa quando ela
se torna operante. Nosso desafio é trazer esta teoria maravilhosa para a luz do dia a
dia em tudo o que pensarmos, falarmos e fazermos.
      Como afirmou um dos mais notáveis puritanos do século XVII, Richard Baxter,
“o mundo tem maior capacidade de ler a natureza da religião na vida de um homem
do que na própria Bíblia.”

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Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)

  • 1. Página |1 TRAÇADO HISTÓRICO DAS RAÍZES DO 1 DUALISMO SAGRADO/SECULARATÉ OS DIAS ATUAIS As raízes da dicotomia sagrado/secular se originam no pensamento grego.Platão propunha uma origem dupla para o mundo; cria que tudo é composto de duas coisas: matéria e forma. A matéria é em si desordenada e caótica, as formas eram racionais e boas. Em outras palavras, o mundo visível é o reino das sombras, do erro e da ilusão. O problema do mal e do sofrimento humano é a matéria, o mundo visível, corpo, e etc., e o conhecimento verdadeiro só é apreendido quando buscamos as formas imateriais que são eternas. Muitos pais da igreja (Clemente de Alexandria, Orígenes, Jerônimo e principalmente Agostinho) adotaram diversos elementos desta filosofia como ferramentas intelectuais para dar expressão filosófica à fé bíblica que tinham. A consequência devastadora para a fé cristã que absorveu esse ensino foi que se o mundo material é ruim, logo, a nossa meta espiritual é fugir dos aspectos materiais da vida. Celebrar a meditação, denegrir trabalhos manuais, celebrar o celibato, denegrir o casamento, celebrar o mosteiro, fugir da praça, atividade pública. Esses pais viam bondade na criação, mas na prática, a maioria deles assimilou ao menos parte da atitude negativa dos gregos pelo mundo material. Esse tipo de entendimento agostiniano perdurou por toda a Idade Média, continuou nos escritos de Boécio, Anselmo e Boaventura, e só foi sofrer alterações no século XIII. Com a leitura de Aristóteles por parte do teólogo Tomás de Aquino boa parte do pensamento cristão em relação aos processos naturais mudou para melhor. Aquino recuperou um ponto de vista mais bíblico da criação. A partir de então, a mensagem do aristotelismo cristão era que “Deus é bom, que sua criação é boa e que a bondade e a causalidade da criação são evidências da bondade de Deus.” Todavia, a consequência ruim do pensamento de Aquino foi que ele reelaborou a estrutura dualística da filosofia mudando sua terminologia. Sua estrutura era a graça (a dimensão sobrenatural) e a natureza. Neste esquema, as coisas do mundo e as coisas de Deus coexistiam em planos paralelos sem se relacionar de maneira intrínseca. E pelo fato de a graça ser uma adição à natureza – que pode “se virar” sozinha –, a realidade ficou novamente fragmentada. 1 Toda esta reflexão está baseada na leitura dos capítulos 1-4 e 13 do livro “Verdade Absoluta” de Nancy Pearcey.
  • 2. Página |2 Após da tentativa de Aquino, os mais bem-sucedidos em lutar contra o dualismo sagrado/secular foram os reformadores do século XVI. Eles tinham como uma de suas metas recuperar a unidade de vida e conhecimento debaixo da autoridade da Palavra de Deus. Rejeitaram o elitismo exclusivista espiritual do clero declarando o sacerdócio universal de todos os crentes. Lutero ensinava que todas as ocupações públicas (comerciante, fazendeiro, tecelão, dona de casa, etc.) eram modos de obedecer ao mandato cultural. A reforma se empenhou em reestabelecer o significado espiritual das atividades da vida cotidiana.João Calvino ensinou que cada crente tem uma vocação para servir a Deus no mundo – em cada esfera da existência humana –, dando nova dignidade e significado ao trabalho diário. Calvino ensinou que Cristo era Redentor de todas as partes da criação, inclusive a cultura, e que lhe servimos em nosso trabalho cotidiano. No entanto, Lutero e Calvino não elaboraram um vocabulário filosófico para expressar esse novo entendimento. Por conseguinte, seus sucessores e certos puritanos caíram no mesmo erro: identificar o pecado com alguma parte da criação (dança, cinema, tabaco, maquilagem). E espiritualidade, então, acabou sendo evitar partes da criação e passar muito tempo em outras partes da mesma (igreja, escola bíblica, grupos de estudo). Nos séculos XVII-XVIII, com o Iluminismo, o cristianismo foi privatizado a uma esfera de segundo plano enquanto as filosofias seculares, como o materialismo e o naturalismo, foram promovidas como ideais puros, objetivos e neutros, colocando-os como as únicas perspectivas satisfatórias para a esfera pública. Já que o credo do Iluminismo é a razão,os assuntos cotidianos só podem ser entendidos pela razão, por causa disso, a graça se tornou cada vez mais irrelevante. A Palavra de Deus foi confinada ao foro íntimo, e tida como irrelevante para administrar os assuntos públicos. No dualismo secular – relacionado a René Descartes –, a noção de um universo mecanicista floresceu intensamente. Depois dele e da física newtoniana a natureza passou a ser descrita como uma grandiosa máquina, governada pelas leis naturais tão estritamente quanto às engrenagens de um relógio. Não demorou muito tempo e a ciência do Iluminismo, com seu universo de mecanismo de relógio, começara a mostrar-se inimiga dos valores humanitários. Entretanto, a divisão entre o que é fato e o que é um valor foi desenvolvida com o surgimento do darwinismo.
  • 3. Página |3 Charles Darwin propôs um mecanismo naturalista plausível para a origem da vida. Por conseguinte, o naturalismo tornou-se uma filosofia completa e abrangente. Como consequência disso, a esfera sobrenatural foi excluída da história, ciência e razão. Mas algo foi percebido: o ser humano ainda se enxergava digno e com o direito a liberdade moral.Todavia, ética, liberdade e valores humanos são irreais para um sistema materialista, tudo é produto da subjetividade humana. Valores humanos não cabem na intelectualidade naturalista. Isso gerou um efeito colateral, como afirma Schaeffer: “Embora o homem diga que não é mais que uma máquina, sua vida interior o nega.” Eis a crise dualística da pós-modernidade: as coisas que são mais importantes na vida – liberdade e dignidade, significado –, foram reduzidas a nada mais que ficções vantajosas. Pensamento tendencioso. Misticismo irracional. Onaturalismo põe a religião e as ciências humanas na defensiva, não há mais metanarrativas, não existe mais o certo e errado. Isto explica a celebração da irracionalidade que testemunhamos na cultura de drogas dos anos sessenta, no movimento da Nova Era. O misticismo, a fantasia, o poder dos alucinógenos é um exemplo do impacto mortal do naturalismo. Chegamos então na dicotomia atual. No mundo pós-moderno não importa se a religião é objetivamente verdadeira, mas se exerce uma função benéfica para o seu consumidor. O conceito de espiritualidade ganhou significado de experiência destituída de conteúdo doutrinário e desinteressado de qualquer afirmação histórica analisável. Conclusão: o sagrado é particular e não se mete em assuntos públicos. A COSMOVISÃO CRISTÃ E OS DESAFIOS DO DUALISMO SAGRADO/SECULAR Nosso desafio em tempos ditos “pós-modernos” é enxergar que o cristianismo é a verdade sobre a totalidade da realidade. O cristianismo não pode ser restrito a uma área especializada de crença religiosa e devoção pessoal. Precisa ser um sistema do coração e do cérebro. O evangelho é uma força redentora em todas as áreas da vida. Não é um gosto pessoal, mas uma maneira de unir a esfera particular com a pública de uma maneira racional e prática. A crítica da autora é que na qualidade de ser uma pessoa religiosa, o cristão segue a Bíblia, mas quando é um ser pensante, sucumbe diante da secularidade.
  • 4. Página |4 Ela propõe que o cristianismo é a única perspectiva que interpreta verdadeiramente todos os assuntos da vida. E a metodologia para confrontar outras cosmovisões com a verdade cristã é identificar: 1. De onde tudo veio? Quem somos nós e como chegamos aqui? 2. O que deu errado com o mundo? Por que há guerras e conflitos? 3. Como é possível consertar a realidade? Qual é o real propósito do mundo existente? A partir dos conceitos criação, queda e redenção somos desafiados a criar um sistema para explicar e viver o mundo tanto na esfera privada como na pública. Há de fato uma perspectiva bíblica sobre tudo, não apenas sobre assuntos espirituais. O propósito de Deus é renovar a criação humana. Ser cristão, então, significa entrar num processo vitalício de crescimento na vida pessoal e em nossa vocação de criar cultura.É entender que o serviço profissional não é mero trampolim para compartilhar o evangelho, mas uma maneira de criar uma cultura renovada e obedecer ao mandato cultural de Deus. Temos o desafio de desenvolver princípios de atuação cristã na advocacia, na engenharia, nas empresas de marketing, nos negócios, na matemática, na química, na medicina, na biologia, na esfera política, e inclusive, na própria igreja. Temos o desafio de ser uma igreja que treina a suamembresia para a noção de que a espiritualidade e a vida pública são linhas de frente para o Reino. Temos o desafio de preparar a nossa juventude para o encontro com outras cosmovisões através de boa teologia integral. No campo missionário, temos o desafio de evangelizar as nações não apenas para a transformação de suas almas, antes, oferecer-lhes uma proposta de mudança total na pessoa do Redentor que redime tudo o que em nós está caído. Ensinando os novos convertidos a falar com os filósofos na língua da filosofia, com políticos na língua da política e com cientistas na língua da ciência. E, por último, crer na cosmovisão cristã como resposta ao dualismo ocidental só tem significado quando é o primeiro passo para viver a verdade total do evangelho no dia a dia. Só há significado em nossa cosmovisão professa quando ela se torna operante. Nosso desafio é trazer esta teoria maravilhosa para a luz do dia a dia em tudo o que pensarmos, falarmos e fazermos. Como afirmou um dos mais notáveis puritanos do século XVII, Richard Baxter, “o mundo tem maior capacidade de ler a natureza da religião na vida de um homem do que na própria Bíblia.”