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Distrofia neuroaxonal infantil
                                           ou
                                doença de Seitelberger
A distrofia neuroaxonal infantil foi descrita pela primeira vez em 1952 por Seitelberger.
É um processo geneticamente determinado e a sua etiologia é desconhecida.
É uma doença rara, neurodegenerativa, que possui herança autossômica recessiva.
Clinicamente, crianças com distrofia neuroaxonal infantil apresentam-se normais ao
nascimento, porém desenvolvem déficits neurológicos iniciando no primeiro ou
segundo ano de vida e, geralmente, morrem ao final da primeira década. A
característica anatomopatológica desta doença é a presença de esferóides
neuroaxonais em vários níveis do sistema nervoso.


“…É caracterizada por desenvolvimento psicomotor prejudicado entre os 6 meses e os 2
anos de idade, ataxia, disfunção do tronco cerebral e quadriparesia. As formas juvenil e
adulta também ocorrem. Entre os achados patológicos estão atrofia cerebral e amplo
acúmulo de esferóides axonais por todos os neuroeixos, nervos periféricos e polpa
dentária.” (Tradução livre do original: Davis & Robertson, Textbook of Neuropathology,
2nd ed, p927)


A forma infantil da distrofia neuroaxonal, ou doença de Seitelberger, é uma das
formas de apresentação mais precoce e de rápida evolução.
**********************************************************************
Sintomas típicos:
      Iniciam-se entre os 6 meses e 2 anos de idade com retardo do desenvolvimento
       neuropsicomotor, alterações visuais precoces, como diminuição da acuidade
       visual e atrofia óptica, hiperreflexia, atrofia, hipotonia e fraqueza muscular.
      As crises convulsivas são raras, porém, quando presentes, podem indicar um
       estado terminal da doença.
      A deterioração é progressiva com demência, evoluindo para estado de
       descerebração;
      A morte usualmente ocorre antes dos 10 anos de idade.
A investigação laboratorial e o LCR geralmente são normais. A eletromiografia
frequentemente mostra evidência de doença dos neurónios do corno anterior da
medula, porém pode ser normal num estado inicial da doença. Outra apresentação
eletroneuromiográfica relatada é a de uma neuropatia periférica.
Os achados neuropatológicos compreendem esferóides neuroaxonais com distribuição
tanto no sistema nervoso central quanto nos nervos periféricos. Porém, esferóides
neuroaxonais não são patognomónicos da distrofia neuroaxonal infantil, visto que
ocorrem noutras afecções como doença de Hallervorden-Spatz, mucoviscidose, doença
de Niemann-Pick tipo C, glicogenose tipo V e doença de Wilson. Assim sendo, entende-
se que o diagnóstico deve ser firmado somando-se os achados neuropatológicos com
as alterações clínicas, pois nenhum dos dois fatores isoladamente é característico
dessa doença.
O diagnóstico pode ser feito através de biópsia de pele, conjuntiva, músculo ou nervo.
Os achados da biopsia de nervo consistem em axónios com estruturas globulares,
ovóides ou fusiformes, geralmente com aumento de diâmetro maior que duas vezes o
normal. Nenhuma actividade inflamatória está presente. A biopsia do músculo bíceps
braquial, o qual é frequentemente utilizado para o diagnóstico de doenças
neuromusculares, geralmente possui nervos periféricos e junções neuromusculares
abundantes, podendo desta forma contribuir para o diagnóstico.
A ressonância nuclear magnética não possui sensibilidade nem especificidade para o
diagnóstico, porém descreve-se o achado de hiperintensidade difusa do córtex
cerebelar, devido a astrogliose e a perda neuronal extensa que ocorre nessa doença.


                                    Casos clínicos
                                          I
Descrevemos dois casos de distrofia neuroaxonal infantil ou doença de Seitelberger,
que é doença rara, neurodegenerativa, com herança autossômica recessiva. O
primeiro caso, sexo masculino, com 8 anos de idade, apresentava atraso do
desenvolvimento psicomotor, ataxia e fraqueza muscular. Ao exame físico foi
encontrado nistagmo horizontal e vertical com palidez do disco óptico, hipotonia e
arreflexia profunda. O segundo caso, sexo masculino, com 1 ano e 6 meses de idade,
apresentava atraso do desenvolvimento psicomotor e convulsões. No exame físico,
apresentava atrofia de nervo óptico, hipertonia e hiperreflexia. A biópsia de nervo
sural de ambos os pacientes mostrou aumento dos axônios, compatível com distrofia
neuroaxonal. As características clínicas pleomórficas, bem como os achados
neurofisiológicos variáveis tornam difícil firmar o diagnóstico, o qual é ajudado pela
confirmação anatomopatológica dos esferóides neuroaxonais.
PALAVRAS-CHAVE: distrofia neuroaxonal, biópsia de nervo, esferóide neuroaxonal.
                                          II
REFERÊNCIAS
Aicardi J, Castelein P. Infantile neuroaxonal dystrophy. Brain 1979;102:727-748.
Ramaekers VT, Lake BD, Harding SB, et al. Diagnostic difficulties in infantile
neuroaxonal dystrophy: a clinicopathological study of eight cases. Pediatr Neurosurg
1987;18:170-175.
Tanabe Y, Lai M, Ishii M, et al. The use of magnetic resonance imaging in diagnosing
infantile neuroaxonal dystrophy. Neurology 1993;43:110-113.
Wisniewski K, Czosnek H, Wisniewski H, et al. Reduction of neuronal specific protein
and some neurotransmitters in the infantile neuroaxonal dystrophy (INAD). Pediatr
Neurosurg 1981;13:123-129.
León GA, Mitchell MH. Histological and ultrastructural features of dystrophic
isocortical axons in infantile neuroaxonal dystrophy (Seitelberger's disease). Acta
Neuropathol (Berl) 1985;66:89-97.
Duncan C, Strub R, McGarry P, et al. Peripheral nerve biopsy as an aid to diagnosis in
infantile neuroaxonal dystrophy. Neurology 1970;20:1024-1032.
Arsénio-Nunes ML, Goutières F. Diagnosis of infantile neuroaxonal dystrophy by
conjunctival biopsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1978;41:511-515.
Medical Research Council. Aids to the examination of the peripheral nervous system.
London: HSMO, 1976: Memorandum 45.

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Doença rara neurodegenerativa: distrofia neuroaxonal infantil

  • 1. Distrofia neuroaxonal infantil ou doença de Seitelberger A distrofia neuroaxonal infantil foi descrita pela primeira vez em 1952 por Seitelberger. É um processo geneticamente determinado e a sua etiologia é desconhecida. É uma doença rara, neurodegenerativa, que possui herança autossômica recessiva. Clinicamente, crianças com distrofia neuroaxonal infantil apresentam-se normais ao nascimento, porém desenvolvem déficits neurológicos iniciando no primeiro ou segundo ano de vida e, geralmente, morrem ao final da primeira década. A característica anatomopatológica desta doença é a presença de esferóides neuroaxonais em vários níveis do sistema nervoso. “…É caracterizada por desenvolvimento psicomotor prejudicado entre os 6 meses e os 2 anos de idade, ataxia, disfunção do tronco cerebral e quadriparesia. As formas juvenil e adulta também ocorrem. Entre os achados patológicos estão atrofia cerebral e amplo acúmulo de esferóides axonais por todos os neuroeixos, nervos periféricos e polpa dentária.” (Tradução livre do original: Davis & Robertson, Textbook of Neuropathology, 2nd ed, p927) A forma infantil da distrofia neuroaxonal, ou doença de Seitelberger, é uma das formas de apresentação mais precoce e de rápida evolução. ********************************************************************** Sintomas típicos:  Iniciam-se entre os 6 meses e 2 anos de idade com retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, alterações visuais precoces, como diminuição da acuidade visual e atrofia óptica, hiperreflexia, atrofia, hipotonia e fraqueza muscular.  As crises convulsivas são raras, porém, quando presentes, podem indicar um estado terminal da doença.  A deterioração é progressiva com demência, evoluindo para estado de descerebração;  A morte usualmente ocorre antes dos 10 anos de idade. A investigação laboratorial e o LCR geralmente são normais. A eletromiografia frequentemente mostra evidência de doença dos neurónios do corno anterior da medula, porém pode ser normal num estado inicial da doença. Outra apresentação eletroneuromiográfica relatada é a de uma neuropatia periférica. Os achados neuropatológicos compreendem esferóides neuroaxonais com distribuição tanto no sistema nervoso central quanto nos nervos periféricos. Porém, esferóides neuroaxonais não são patognomónicos da distrofia neuroaxonal infantil, visto que ocorrem noutras afecções como doença de Hallervorden-Spatz, mucoviscidose, doença de Niemann-Pick tipo C, glicogenose tipo V e doença de Wilson. Assim sendo, entende- se que o diagnóstico deve ser firmado somando-se os achados neuropatológicos com
  • 2. as alterações clínicas, pois nenhum dos dois fatores isoladamente é característico dessa doença. O diagnóstico pode ser feito através de biópsia de pele, conjuntiva, músculo ou nervo. Os achados da biopsia de nervo consistem em axónios com estruturas globulares, ovóides ou fusiformes, geralmente com aumento de diâmetro maior que duas vezes o normal. Nenhuma actividade inflamatória está presente. A biopsia do músculo bíceps braquial, o qual é frequentemente utilizado para o diagnóstico de doenças neuromusculares, geralmente possui nervos periféricos e junções neuromusculares abundantes, podendo desta forma contribuir para o diagnóstico. A ressonância nuclear magnética não possui sensibilidade nem especificidade para o diagnóstico, porém descreve-se o achado de hiperintensidade difusa do córtex cerebelar, devido a astrogliose e a perda neuronal extensa que ocorre nessa doença. Casos clínicos I Descrevemos dois casos de distrofia neuroaxonal infantil ou doença de Seitelberger, que é doença rara, neurodegenerativa, com herança autossômica recessiva. O primeiro caso, sexo masculino, com 8 anos de idade, apresentava atraso do desenvolvimento psicomotor, ataxia e fraqueza muscular. Ao exame físico foi encontrado nistagmo horizontal e vertical com palidez do disco óptico, hipotonia e arreflexia profunda. O segundo caso, sexo masculino, com 1 ano e 6 meses de idade, apresentava atraso do desenvolvimento psicomotor e convulsões. No exame físico, apresentava atrofia de nervo óptico, hipertonia e hiperreflexia. A biópsia de nervo sural de ambos os pacientes mostrou aumento dos axônios, compatível com distrofia neuroaxonal. As características clínicas pleomórficas, bem como os achados neurofisiológicos variáveis tornam difícil firmar o diagnóstico, o qual é ajudado pela confirmação anatomopatológica dos esferóides neuroaxonais. PALAVRAS-CHAVE: distrofia neuroaxonal, biópsia de nervo, esferóide neuroaxonal. II
  • 3. REFERÊNCIAS Aicardi J, Castelein P. Infantile neuroaxonal dystrophy. Brain 1979;102:727-748. Ramaekers VT, Lake BD, Harding SB, et al. Diagnostic difficulties in infantile neuroaxonal dystrophy: a clinicopathological study of eight cases. Pediatr Neurosurg 1987;18:170-175. Tanabe Y, Lai M, Ishii M, et al. The use of magnetic resonance imaging in diagnosing infantile neuroaxonal dystrophy. Neurology 1993;43:110-113. Wisniewski K, Czosnek H, Wisniewski H, et al. Reduction of neuronal specific protein and some neurotransmitters in the infantile neuroaxonal dystrophy (INAD). Pediatr Neurosurg 1981;13:123-129. León GA, Mitchell MH. Histological and ultrastructural features of dystrophic isocortical axons in infantile neuroaxonal dystrophy (Seitelberger's disease). Acta Neuropathol (Berl) 1985;66:89-97. Duncan C, Strub R, McGarry P, et al. Peripheral nerve biopsy as an aid to diagnosis in infantile neuroaxonal dystrophy. Neurology 1970;20:1024-1032. Arsénio-Nunes ML, Goutières F. Diagnosis of infantile neuroaxonal dystrophy by conjunctival biopsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1978;41:511-515. Medical Research Council. Aids to the examination of the peripheral nervous system. London: HSMO, 1976: Memorandum 45.