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DISCURSO
SOBRE O
POEMA
HERÓICO.
MANUEL PIRES DE ALMEIDA
O QUE É
POESIA?
POESIA, SEGUNDO O MODO
DE FALAR COMUM, QUER
DIZER
DUAS COISAS:
A arte que a ensina, e a obra feita
com a arte; a arte é a poesia, a obra
poema, o poeta o artífice.
Poesia é uma arte, que ensina a
imitar com a língua; poema é a
imitação feita com a linguagem;
imitar é o mesmo que arremedar e
contrafazer as obras da natureza e da
arte.
A arte
A obra
O poeta

Poesia
Poema
O artífice
QUAIS AS
DIFERENÇAS
DAS POESIAS?
TOMA A POESIA SUAS DIFERENÇAS, DAS
QUAIS CONSTITUI SUAS ESPÉCIES, DA
DIVERSIDADE DO GÊNERO DE IMITAÇÕES, E
SÃO TRÊS MANEIRAS:


1º Gênero de imitação: entre os muitos gêneros
que há de imitação se aproveita a poesia de três,
especialmente. Do próprio e essencial seu, que é
da linguagem; da imitação música; e da
tripudiante. E nestes modos fazem em si a
diferença, porque o heróico não administra outra
imitação mais que a que faz o poeta com sua
língua. O trágico, e cômico, não só imita com sua
língua, mas também se aproveita em diversos
tempos da imitação música e tripudiante. E a
ditirâmbica é imitação feita com a linguagem,
música e tripúdio
juntamente, não apartadas as imitações, senão
todas três unidas e feitas a um mesmo fim.
2º Gênero: Coisas imitadas.
 Há uns poetas que imitam aos bons melhores do
que foram, como os épicos, nas imitações de
heróis gravíssimos, só por persuadir aos
príncipes com seu exemplo a que os imitem nas
virtudes heróicas, em que os introduzem.
 Os trágicos imitam aos heróis nem bons, nem
maus; os cômicos ao contrário; os ditirâmbicos já
os melhores, já os piores, porque se o poeta
imitasse aos homens como eram,careceria de
admiração e doutrina.

 3º

gênero: A terceira diferença é do modo

diverso, no qual se consideram outras quatro
espécies. Aos primeiros Poemas se intitulam
narrativos, porque o poeta fala como narrando; os
segundos ativos, porque na ação e representação
têm muito de sua eficácia; a última espécie,
poema comum, porque participa de um e de
outro; e deixando os mais falarei deste, que é o
heróico, por obedecer ao que se me manda.
POR QUE O POEMA
HERÓICO TEM ESTE
NOME?
Este

poema se chama heróico,
porque escreve dos heróis: épico
de epos, que em grego significa o
verso hexâmetro, metro
ordinário destes poemas.



Hexâmetro:  é uma forma medida poética literária
 consistindo de seis pés métricos por verso.
DEFINIÇÃO DA DIVISÃO DA ÉPICA:


O épico era um montão ou envoltório de
tragédias;
prove-se com Virgílio na sua Eneida, que é uma
fina tragédia, e em todos os livros dela remata
com fim trágico.
ENEIDA: É UM POEMA ÉPICO LATINO ESCRITO POR
VIRGÍLIO NO SÉCULO I A.C.. CONTA A SAGA DE ENEIAS, UM
TROIANO QUE É SALVO DOS GREGOS EM TRÓIA, VIAJA
ERRANTE PELO MEDITERRÂNEO ATÉ CHEGAR À PENÍNSULA
ITÁLICA.
Eneida, de
Virgílio.
Surge
como a
mais bem
acaba do
gênero :
Tem
argumento
s
verdadeiro,
numerosos
episódios, e
é composta
por
agnições e
peripécias.
O que é fábula?


A alma é a imitação que por analogia se chama
fábula. Este nome fábula inclui em si e com uma
mesma razão ao que chamamos argumento,
hipótese, episódios e a ligadura de um e de
outros.



OBS.: Há se de advertir que, para ficar poesia a
fábula fundada em verdade, é necessário que a
ficção seja muito mais que a história,porque de
outra maneira ficara historiador o poeta.
A GRANDEZA DO
ARGUMENTO
O argumento de sua natureza há de ser breve,
porque com a freqüência dos episódios e grandeza
deles chegue a fábula a tão justa proporção, que
nem por pequena tenha tanta claridade em suas
partes, que por elas se venha de improviso a
manifestar, nem por grande seja
incompreensível.
EPISÓDIOS


Episódios se chamam aquelas ações, as quais,
ainda que sejam externas, se podem tirar dela,
ficando inteira e perfeita; Poderá o poeta tirar e
variar os episódios conforme
sua vontade sem detrimento do argumento.
DIVISÃO DA FÁBULA:
A fábula pode ser simples ou composta .
 Simples é a que não tem agnições, nem
peripécias, como a Ilíada de Homero. Composta: a
que tem agnições, e peripécias, como a Eneida de
Virgílio.


O que é agnição?
 Agnição se diz uma notícia súbita e repentina de
alguma coisa, pela qual vimos em grande amor,
ou ódio dela.

O

que é
Peripécia e, há
quantos modelos?


Peripécia é uma mudança súbita da coisa em
contrário estado do que antes era, como Enéias
vencido e foragido em Tróia, vencedor e glorioso
em Italia. Há dois modos de peripécias: uma, que
passa de mal a bem, como esta de Enéias; outra
de bem a mal.
Condições

Fábula:

da
1ª Condição: A fábula há de ser uma e vária;
perturbadora e quietadora; admirável e
verossímil.
 Uma na ação, porque há de ser única, de maneira
que olhe a uma só pessoa e herói, como na Eneida
a Enéias, e que para a fazer mais verissímil
concorram a ela, contanto que o principal autor o
seja na obra de que se trata.
 Há de ser vária, porque a fábula tanto tem de
deleitosa, quanto de variedade.

2ª Condição: É perturbadora e quietadora.
 Diz Aristóteles que: a perturbação é uma ação
cheia de alegria, ou tristeza; e assim toda a
fábula épica deve de perturbar e alvoroçar por
duas maneiras: por espanto, ou por comiseração.




Comiseração: Pesar pela dor do outro.
3ª condição: Há de ser admirável e verissímil:
 Admirável porque os poetas que não trazem
admiração consigo não movem coisa alguma.
 Verissímil porque é tão necessária esta condição
que, se lhe falta,falta a alma da poética e a
forma.


 Estas

são as condições essenciais da
fábula.
Partes da Fábula:
 Em

quatro partes se divide a fábula
conforme os afetos que move.


A primeira se chama prótasis, porque é um
princípio do movimento da ação. A segunda
tarasis, porque o movimento vai crescendo e
turbando-se. A terceira catástasis, em o qual a
turbação está no cume: a esta terceira parte se
dizem nó; a quarta catástrofe, e é o mesmo que
soltura. De maneira que a fábula se considera
uma no nó; duas em o nó e soltura; três no
princípio, meio e fim; quatro no prótasis, tarasis,
catástasis, catástrofe, e o – nó, soltura, princípio,
meio e fim.
ARGUMENTO DA ÉPICA:


Todo o argumento da épica há de ser da vida
civil, e em tudo as partes principais entre as
pessoas se dão aos reis e aos heróis.
FIM DO POEMA:


O fim da épica há de ser sempre deleitoso e
alegre por razão do sujeito principal dela, para o
qual ordinariamente se busca um Príncipe de
muito valor e amador da justiça e de sumas
perfeições.
DIVISÃO DO POEMA
CONFORME SUA
QUANTIDADE:


Dividido o poema heróico segundo sua essência,
falta dividilo conforme sua quantidade; demais
das partes em que se divide como fábula, tem
outras que lhe servem de corpo, as quais chamam
prólogo, proposição, invocação, dedicação,
narração.
O QUE É PROPOSIÇÃO?


Proposição é o lugar primeiro da obra, em que
propõe o poeta o que intenta cantar nela: esta
seja breve e clara, possível, e em a qual não se
ponha o nome próprio do príncipe, ou herói, senão
usando-se de perífrase.
O QUE É INVOCAÇÃO?


Invocação, é donde o poeta invoca socorro e ajuda
divina, para poder começar e acabar o intento; há
de ser breve também; e esta se pode repetir na
narração todas as vezes que se oferece tratar de
coisa grave e de importância.
O QUE É NARRAÇÃO?


Narração é todo o resto do poema, e assim há se
de guardar nela o que está referido da fábula e
mais partes. Pode-se começar o poema, ou da
proposição, como fez Virgílio.
PALAVRAS PRÓPRIAS PARA O
HERÓICO:


As palavras próprias para a heróica em suma são
todas aquelas que estão em uso e se podem falar
diante de pessoas graves, aos quais o ornato de
figuras é conveniente, mas não muito pintado e
florido, porém com gravidade heróica, e não com
pintura lírica, donde estas cores se desejam.
COMO SE FORMAM OS
VOCÁBULOS:


Compõem-se os vocábulos das letras, e das letras,
no que toca à poética para acomodá-los à
colocação do que se trata, se há de considerar o
sonido, porque desta sorte se fará a oração
sonora, triste, horrenda, marcial, e enfim se
aplicarão as palavras ao afeto e significação das
coisas.
CONCEITOS GRAVES E
AGUDOS:


Conceito grave: se diz a notícia que o homem concebe
da coisa que é magnífica e alta, ou aquele que o
entendimento forma da coisa maior que ela é; com
este gênero de conceito foi feita a Ilíada e Eneida, e
esta se deve freqüentar na épica. O conceito agudo: é o
que forma o entendimento muitas vezes menos da
coisa que é, porém mais sutil e delicado, e este não
serve para a epopéia: assim porque, como o poema
heróico deve de ser feito em linguagem peregrino e
com conceitos agudos se faria enigmas e nada
inteligível, como também porque a épica é imitação de
príncipes, e estes falam com mais gravidade e
simplicidade alta e pura que a gente menor, a quem a
necessidade, grande mestra de agudezas, faz sutil, e
aguda.
OBSCURIDADES:


Há alguns poetas que afetam tanto a obscuridade que querem
qualificá-la por verdadeira poesia, e só usam do estilo dificultoso,
orações desatadas, palavras figuras e metáforas mui continuadas,
e sobretudo a colocação das Coisas e disposição do argumento
intricado, sem ordem, nem arte, nem claridade: confesso que não
achei até agora autor sábio em esta arte que aprovasse doutrina
tão falsa e mal-fundada.s esquisitas, translações nunca vistas,
locuções peregrinas, tropos duplicados.
Tipos

de
Obscuridades:
 obscuridade

boa: A primeira artificiosa é a que

nasce, ou da alteza do conceito, ou da indústria
do poeta, por algum particular que repreende.



obscuridade louvada: A segunda obscuridade

se origina da muita lição, na qual não tem culpa,
antes merece grandes louvores e excelências, e
mui poucos o leitor que por falta dela deixa de
entender os poemas de Homero, Virgílio, Estácio,
Lucano, Claudiano; e enfim os mais latinos e
gregos usaram desta obscuridade e são claros aos
homens doutos e lidos.
 obscuridade

viciosa: A terceira é a viciosa e

condenada, que se produz da falta de invenção,
de confusão de engenho, de ruim colocação de
conceitos intricados e dificultosos.

 obscuridade

alegórica e prezada: Outra
obscuridade há bem artificiosa, e é a que
se inclui na alegoria, mui freqüentada na
épica, e de grande louvor e excelência e
primor nela é comum aos livros sagrados,
por donde consegue o primeiro lugar.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:


ALMEIDA, Manuel Pires. (São Paulo, faculdade
de Filosofia, letras e Ciências Humanas de São
Paulo, 1955) “Discurso Sobre o Poema Heróico”.

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Discurso sobre o poema heróico e as características da épica

  • 3. POESIA, SEGUNDO O MODO DE FALAR COMUM, QUER DIZER DUAS COISAS: A arte que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice. Poesia é uma arte, que ensina a imitar com a língua; poema é a imitação feita com a linguagem; imitar é o mesmo que arremedar e contrafazer as obras da natureza e da arte.
  • 4. A arte A obra O poeta Poesia Poema O artífice
  • 6. TOMA A POESIA SUAS DIFERENÇAS, DAS QUAIS CONSTITUI SUAS ESPÉCIES, DA DIVERSIDADE DO GÊNERO DE IMITAÇÕES, E SÃO TRÊS MANEIRAS:  1º Gênero de imitação: entre os muitos gêneros que há de imitação se aproveita a poesia de três, especialmente. Do próprio e essencial seu, que é da linguagem; da imitação música; e da tripudiante. E nestes modos fazem em si a diferença, porque o heróico não administra outra imitação mais que a que faz o poeta com sua língua. O trágico, e cômico, não só imita com sua língua, mas também se aproveita em diversos tempos da imitação música e tripudiante. E a ditirâmbica é imitação feita com a linguagem, música e tripúdio juntamente, não apartadas as imitações, senão todas três unidas e feitas a um mesmo fim.
  • 7. 2º Gênero: Coisas imitadas.  Há uns poetas que imitam aos bons melhores do que foram, como os épicos, nas imitações de heróis gravíssimos, só por persuadir aos príncipes com seu exemplo a que os imitem nas virtudes heróicas, em que os introduzem.  Os trágicos imitam aos heróis nem bons, nem maus; os cômicos ao contrário; os ditirâmbicos já os melhores, já os piores, porque se o poeta imitasse aos homens como eram,careceria de admiração e doutrina. 
  • 8.  3º gênero: A terceira diferença é do modo diverso, no qual se consideram outras quatro espécies. Aos primeiros Poemas se intitulam narrativos, porque o poeta fala como narrando; os segundos ativos, porque na ação e representação têm muito de sua eficácia; a última espécie, poema comum, porque participa de um e de outro; e deixando os mais falarei deste, que é o heróico, por obedecer ao que se me manda.
  • 9. POR QUE O POEMA HERÓICO TEM ESTE NOME? Este poema se chama heróico, porque escreve dos heróis: épico de epos, que em grego significa o verso hexâmetro, metro ordinário destes poemas.  Hexâmetro:  é uma forma medida poética literária  consistindo de seis pés métricos por verso.
  • 10. DEFINIÇÃO DA DIVISÃO DA ÉPICA:  O épico era um montão ou envoltório de tragédias; prove-se com Virgílio na sua Eneida, que é uma fina tragédia, e em todos os livros dela remata com fim trágico.
  • 11. ENEIDA: É UM POEMA ÉPICO LATINO ESCRITO POR VIRGÍLIO NO SÉCULO I A.C.. CONTA A SAGA DE ENEIAS, UM TROIANO QUE É SALVO DOS GREGOS EM TRÓIA, VIAJA ERRANTE PELO MEDITERRÂNEO ATÉ CHEGAR À PENÍNSULA ITÁLICA.
  • 12. Eneida, de Virgílio. Surge como a mais bem acaba do gênero : Tem argumento s verdadeiro, numerosos episódios, e é composta por agnições e peripécias.
  • 13. O que é fábula?
  • 14.  A alma é a imitação que por analogia se chama fábula. Este nome fábula inclui em si e com uma mesma razão ao que chamamos argumento, hipótese, episódios e a ligadura de um e de outros.  OBS.: Há se de advertir que, para ficar poesia a fábula fundada em verdade, é necessário que a ficção seja muito mais que a história,porque de outra maneira ficara historiador o poeta.
  • 15. A GRANDEZA DO ARGUMENTO O argumento de sua natureza há de ser breve, porque com a freqüência dos episódios e grandeza deles chegue a fábula a tão justa proporção, que nem por pequena tenha tanta claridade em suas partes, que por elas se venha de improviso a manifestar, nem por grande seja incompreensível.
  • 16. EPISÓDIOS  Episódios se chamam aquelas ações, as quais, ainda que sejam externas, se podem tirar dela, ficando inteira e perfeita; Poderá o poeta tirar e variar os episódios conforme sua vontade sem detrimento do argumento.
  • 17. DIVISÃO DA FÁBULA: A fábula pode ser simples ou composta .  Simples é a que não tem agnições, nem peripécias, como a Ilíada de Homero. Composta: a que tem agnições, e peripécias, como a Eneida de Virgílio.  O que é agnição?  Agnição se diz uma notícia súbita e repentina de alguma coisa, pela qual vimos em grande amor, ou ódio dela. 
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  • 19. O que é Peripécia e, há quantos modelos?
  • 20.  Peripécia é uma mudança súbita da coisa em contrário estado do que antes era, como Enéias vencido e foragido em Tróia, vencedor e glorioso em Italia. Há dois modos de peripécias: uma, que passa de mal a bem, como esta de Enéias; outra de bem a mal.
  • 22. 1ª Condição: A fábula há de ser uma e vária; perturbadora e quietadora; admirável e verossímil.  Uma na ação, porque há de ser única, de maneira que olhe a uma só pessoa e herói, como na Eneida a Enéias, e que para a fazer mais verissímil concorram a ela, contanto que o principal autor o seja na obra de que se trata.  Há de ser vária, porque a fábula tanto tem de deleitosa, quanto de variedade. 
  • 23. 2ª Condição: É perturbadora e quietadora.  Diz Aristóteles que: a perturbação é uma ação cheia de alegria, ou tristeza; e assim toda a fábula épica deve de perturbar e alvoroçar por duas maneiras: por espanto, ou por comiseração.   Comiseração: Pesar pela dor do outro.
  • 24. 3ª condição: Há de ser admirável e verissímil:  Admirável porque os poetas que não trazem admiração consigo não movem coisa alguma.  Verissímil porque é tão necessária esta condição que, se lhe falta,falta a alma da poética e a forma.   Estas são as condições essenciais da fábula.
  • 25. Partes da Fábula:  Em quatro partes se divide a fábula conforme os afetos que move.
  • 26.  A primeira se chama prótasis, porque é um princípio do movimento da ação. A segunda tarasis, porque o movimento vai crescendo e turbando-se. A terceira catástasis, em o qual a turbação está no cume: a esta terceira parte se dizem nó; a quarta catástrofe, e é o mesmo que soltura. De maneira que a fábula se considera uma no nó; duas em o nó e soltura; três no princípio, meio e fim; quatro no prótasis, tarasis, catástasis, catástrofe, e o – nó, soltura, princípio, meio e fim.
  • 27. ARGUMENTO DA ÉPICA:  Todo o argumento da épica há de ser da vida civil, e em tudo as partes principais entre as pessoas se dão aos reis e aos heróis.
  • 28. FIM DO POEMA:  O fim da épica há de ser sempre deleitoso e alegre por razão do sujeito principal dela, para o qual ordinariamente se busca um Príncipe de muito valor e amador da justiça e de sumas perfeições.
  • 29. DIVISÃO DO POEMA CONFORME SUA QUANTIDADE:  Dividido o poema heróico segundo sua essência, falta dividilo conforme sua quantidade; demais das partes em que se divide como fábula, tem outras que lhe servem de corpo, as quais chamam prólogo, proposição, invocação, dedicação, narração.
  • 30. O QUE É PROPOSIÇÃO?  Proposição é o lugar primeiro da obra, em que propõe o poeta o que intenta cantar nela: esta seja breve e clara, possível, e em a qual não se ponha o nome próprio do príncipe, ou herói, senão usando-se de perífrase.
  • 31. O QUE É INVOCAÇÃO?  Invocação, é donde o poeta invoca socorro e ajuda divina, para poder começar e acabar o intento; há de ser breve também; e esta se pode repetir na narração todas as vezes que se oferece tratar de coisa grave e de importância.
  • 32. O QUE É NARRAÇÃO?  Narração é todo o resto do poema, e assim há se de guardar nela o que está referido da fábula e mais partes. Pode-se começar o poema, ou da proposição, como fez Virgílio.
  • 33. PALAVRAS PRÓPRIAS PARA O HERÓICO:  As palavras próprias para a heróica em suma são todas aquelas que estão em uso e se podem falar diante de pessoas graves, aos quais o ornato de figuras é conveniente, mas não muito pintado e florido, porém com gravidade heróica, e não com pintura lírica, donde estas cores se desejam.
  • 34. COMO SE FORMAM OS VOCÁBULOS:  Compõem-se os vocábulos das letras, e das letras, no que toca à poética para acomodá-los à colocação do que se trata, se há de considerar o sonido, porque desta sorte se fará a oração sonora, triste, horrenda, marcial, e enfim se aplicarão as palavras ao afeto e significação das coisas.
  • 35. CONCEITOS GRAVES E AGUDOS:  Conceito grave: se diz a notícia que o homem concebe da coisa que é magnífica e alta, ou aquele que o entendimento forma da coisa maior que ela é; com este gênero de conceito foi feita a Ilíada e Eneida, e esta se deve freqüentar na épica. O conceito agudo: é o que forma o entendimento muitas vezes menos da coisa que é, porém mais sutil e delicado, e este não serve para a epopéia: assim porque, como o poema heróico deve de ser feito em linguagem peregrino e com conceitos agudos se faria enigmas e nada inteligível, como também porque a épica é imitação de príncipes, e estes falam com mais gravidade e simplicidade alta e pura que a gente menor, a quem a necessidade, grande mestra de agudezas, faz sutil, e aguda.
  • 36. OBSCURIDADES:  Há alguns poetas que afetam tanto a obscuridade que querem qualificá-la por verdadeira poesia, e só usam do estilo dificultoso, orações desatadas, palavras figuras e metáforas mui continuadas, e sobretudo a colocação das Coisas e disposição do argumento intricado, sem ordem, nem arte, nem claridade: confesso que não achei até agora autor sábio em esta arte que aprovasse doutrina tão falsa e mal-fundada.s esquisitas, translações nunca vistas, locuções peregrinas, tropos duplicados.
  • 38.  obscuridade boa: A primeira artificiosa é a que nasce, ou da alteza do conceito, ou da indústria do poeta, por algum particular que repreende.  obscuridade louvada: A segunda obscuridade se origina da muita lição, na qual não tem culpa, antes merece grandes louvores e excelências, e mui poucos o leitor que por falta dela deixa de entender os poemas de Homero, Virgílio, Estácio, Lucano, Claudiano; e enfim os mais latinos e gregos usaram desta obscuridade e são claros aos homens doutos e lidos.
  • 39.  obscuridade viciosa: A terceira é a viciosa e condenada, que se produz da falta de invenção, de confusão de engenho, de ruim colocação de conceitos intricados e dificultosos.  obscuridade alegórica e prezada: Outra obscuridade há bem artificiosa, e é a que se inclui na alegoria, mui freqüentada na épica, e de grande louvor e excelência e primor nela é comum aos livros sagrados, por donde consegue o primeiro lugar.
  • 40. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:  ALMEIDA, Manuel Pires. (São Paulo, faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas de São Paulo, 1955) “Discurso Sobre o Poema Heróico”.