2. A PROSA
aspectos técnicos
Estruturado em parágrafos [linhas regulares q vão até o final da margem direita], o texto em
prosa é linear, evolutivo, e, a priori, exige preocupação maior c/ o sentido e não c/ a forma.
O CANGURU BRANCO, Oswaldo França Júnior
Como todos aqui têm suas raridades eu, para não me sentir diferente,
peguei minha fortuna e comprei uma raridade. Fui comprá-la longe, na
Austrália. E agora sou igual a todos, também tenho a minha raridade.
Comprei um canguru branco. Não serve para nada, não faz nada, mas é
uma raridade. É um canguru branco. E muitos me invejam e admiram.
3. O VERSO
aspectos técnicos
Estruturado em linhas irregulares que não vão até o final da página, o verso pode articular
poemas épicos
poemas q contam histórias [poemas épicos] e q apresentam os mesmos elementos que a
narrativa [narrador, personagem, tempo, espaço, enredo]: O desertor, Morte e vida severina
poemas líricos
poemas centrados em torno da subjetividade de um eu e que apresentam comentários,
sentimentos, emoções ou mesmo fazem reflexão sobre o próprio fazer poético.
4. O POEMA ÉPICO
prosa e verso
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
5. POESIA E EXPRESSIVIDADE
aspectos técnicos
nem todos poemas líricos falam de sentimentos ou emoções
poético prosaico
belo cotidiano
especial comum
incomum dia-a-dia
6. POESIA E EXPRESSIVIDADE
poético ou prosaico
ANTIODE, João Cabral de Melo Neto
Poesia, te escrevia flor
Sabendo que és fezes
Fezes como um cogumelo qualquer
Nascendo em nossa boca
MERDA E OURO, Paulo Leminski
Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.
LEITURA SILENCIOSA, José Américo Miranda
Já li seu corpo
Com os olhos
Agora quero lê-lo
Em braile.
7. O LIRISMO
aspectos técnicos
consiste na revelação da subjetividade, do sentimento, da emoção; pode ser
social filosófico amoroso metalinguístico
política mundo amor poema
sociedade morte amado[a] verso
história homem afetividade estrofe
economia vida sentimento amoroso fazer poético
9. POESIA E EXPRESSIVIDADE
espécies de lirismo
DESENCANTO, Manuel Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
12. POESIA E EXPRESSIVIDADE
espécies de lirismo
PESSOA, Arnaldo Antunes
Coisa que acaba. Troço que tem fim. Sujeito. Que não dura, que se extingue. Míngua.
Negócio finito, que finda. Festa que termina. Coisa que passa, se apaga, fina. Pessoa. Troço
que definha. Que será cinzas. Que o chão devora. Fogo que o vento assopra. Bolha que
estoura. Sujeito. Líquido que evapora. Lixo que se joga fora. Coisa que não sobra, soçobra,
vai embora. Que nada fixa. A foto amarela o filme queima embolora a memória falha o
papel se rasga se perde não se repete. Pessoa. Pedaço de perda. Coisa que cessa, fenece,
apodrece. Fome que se sacia. Negócio que some, que se consome. Sujeito. Água que o sol
seca, que a terra bebe. Algo que morre, falece, desaparece. Cara, bicho, objeto. Nome que
se esquece.
13. POESIA E EXPRESSIVIDADE
espécies de lirismo
ALÇAR AS NUVENS, Manoel Neves
alçar as nuvens
soprar segredos
nos teus cabelos
alçar as nuvens
levar brinquedos
pros teus desejos
alçar as nuvens
soltar os elos
deste meu medo
alçar as nuvens
dizer teu nome
no meu degredo
14. A PROSA POÉTICA
prosa e verso
parágrafo lirismo figuras de ling.
ORIENTAÇÃO, Guimarães Rosa [fragmento]
Ora, casaram-se. Com festa, a comedida comédia: noiva e noivo e bolo. O par – o
compimpo – til no i, pingo no a, o que de ambos, parecidos como uma rapadura e uma
escada. Ele, gravata no pescoço, aos pimpolins de gato, feliz como um assovio. Ela,
pomposa, ovante feito galinha que pôs. Só não se davam o braço. No que não, o mundo
não movendo-se, em sua válida intraduzibilidade.
Nem se soube o que se passaram, depois, nesse rio-acima. Lolalita dona-de-casa, de
panelas, leque e badulaques, num oco. Quim, o novo-casado, de mesuras sem cura, com
esquisitâncias e coisinhezas, lunático-de-mel, ainda mais felizquim. Deu a ela um quimão
de baeta, lenço bordado, peça de seda, os chinelinhos de pano.