2. Com base no conto “O auxílio mútuo”, do livro Jesus no Lar, pelo Espírito
Neio Lúcio. (Momentos de Paz Maria da Luz).
Nos conta assim o autor espiritual:
Diante dos companheiros, André leu expressivo trecho de Isaías e falou,
comovido, quanto às necessidades da salvação.
Comentou Mateus os aspectos menos agradáveis do trabalho e Filipe opinou
que é sempre muito difícil atender à própria situação, quando nos
consagramos ao socorro dos outros.
Jesus ouvia os apóstolos em silêncio e, quando as discussões, em derredor,
se enfraqueceram, comentou, muito simples:
3. Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos
amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se, quanto possível, contra
os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança
semimorta na estrada, ao sabor da ventania de inverno. Um deles fixou o
singular achado e clamou irritadiço:
- Não perderei tempo. A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos
à frente.
O outro, porém, mais piedoso, considerou:
- Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em Humanidade.
4. Não posso, disse o companheiro, endurecido, sinto-me cansado e doente.
Este desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade.
Precisamos ganhar a aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou para
diante em largas passadas. O viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se
para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colando-o
paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou
adiante, embora menos rápido.
A chuva gelada caiu, metódica, pela noite a dentro, mas ele, sobraçando o
valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a hospedaria do povoado que
buscava.
5. Com enorme surpresa, porém, não encontrou ai o colega que o precedera.
Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante
encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo à pressa e a sós, com a ideia egoística de preservar-se, não resistiu
à onda de frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos
com que pudesse fazer face ao congelamento, enquanto que o companheiro,
recebendo em troca, o suave calor da criança que sustentava junto do
próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, guardando-se
indene de semelhante desastre.
6. Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino
abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a
outrem, conseguira triunfar dos percalços da senda, alcançando as bênçãos
da salvação recíproca.
A história singela deixara os discípulos surpreendidos e sensibilizados.
Terna admiração transparecia nos olhos úmidos das mulheres humildes que
acompanhavam a reunião, ao passo que os homens se entreolhavam,
espantados. Foi então que Jesus, depois de curto silêncio, concluiu
expressivamente:
7. As mais eloquentes e exatas testemunhas de um homem, perante o Pai
Supremo, são as suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem
nosso sustentáculo. O coração que socorremos converter-se-á agora ou mais
tarde em recurso a nosso favor. Ninguém duvide. Um homem sozinho é
simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que coopera em
benefício do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos
ajudados. Dando, receberemos; esta é a Lei Divina.
Reflexão:
O homem é um animal social, isto é, precisa da coletividade, precisa do
grupo social para sobreviver.
8. Ninguém sobrevive vivendo sozinho. A força do homem, diante da
Natureza, está na sua coletividade, isto é, no grupo social em que vive.
Paradoxalmente, entretanto, isola-se dentro de si mesmo, em atitudes
egocêntricas que contrariam a sua própria natureza social. Como cuidar do
próximo, se já é tão difícil cuidar de nós mesmos, perguntam volta e meia.
Existem até aqueles que participam da ideia de que, quando existe farinha
pouca, meu pirão deve vir primeiro. Dividir por quê? Dividir pra quê? Esta
postura natural da evolução do homem é o que chamamos de egoísmo, que é
considerado como o pai de todos os defeitos e inferioridades do homem.
9. Com certeza, é algo a ser vencido, superado, para que se tenha condições de
assegurar a sobrevivência da coletividade humana. Mas o egoísmo é fruto
natural de uma fase da evolução do ser, que aflora com mais evidência no
homem pelo uso que ele faz de sua inteligência, de seu livre-arbítrio, para
escolher suas ações. Poder-se-ia dizer, mesmo, que é um estado necessário,
para que o homem atinja outros valores evolutivos. O próprio sentido de
sobrevivência e a própria lei da conservação levam o homem a conviver,
sem perceber, com atitudes egoísticas. Reconhecer o egoísmo como fruto da
evolução, entretanto, não significa que não devamos combatê-lo.
10. Porque, se assim não fizermos, estaremos estagnados em nosso estado
evolutivo, prisioneiros de heranças inferiores, que ainda trazemos de nossa
condição animal. A evolução dos seres passa por estágios de tomada de
consciência de si próprios, que podem durar bilhões de anos. Desde a fase
mineral, passando pela vegetal e pelo animal, o ser adquire novas
habilidades, e desenvolve e aprimora o princípio vital, princípio inteligente
e o princípio espiritual. Os animais, por exemplo, trazem em si o princípio
inteligente, pois têm a capacidade de reagir às contingências exteriores,
adequando-se às circunstâncias que lhes são próprias.
11. Neles, também, o princípio espiritual está presente, mas, em estágio de
baixa consciência de sua individualidade. Por isto, dizer-se que os animais
têm um espírito coletivo. No estágio animal, entretanto, o homem passa a
usar a sua inteligência, através não só dos seus atos e reflexos, mas também
do pensamento contínuo e da aplicação de seu livre-arbítrio. Desenvolve a
capacidade de criação, e tem consciência, cada vez mais apurada, de sua
individualidade como criatura. Daí, aflorar o comportamento egoísta, como
natural da evolução do ser. Essa evolução, contudo, é sempre no sentido da
coletividade, nunca no sentido da individualidade.
12. A felicidade e a sobrevivência do homem, só serão conseguidas quando ele
for capaz de ajudar, compartilhar, auxiliar seus semelhantes; reconhecendo
suas próprias dores e vicissitudes nas dores e aflições dos outros. Esta é a
única obra valorizada em sua evolução. Apoio mútuo, auxílio mútuo, este é
o segredo do crescimento espiritual, que libertará o homem do seu estado
individualista, tornando-o capaz de usar a sua individualidade em favor do
próximo. A tomada de consciência, o conhecimento de sua própria verdade,
faz o homem perceber o seu estado, e refletir sobre sua condição, para, daí,
traçar os rumos de sua evolução.
13. Conhece-te a ti mesmo, se quiseres evoluir. Já diziam os sábios desde as
mais remotas eras. Conhecer a si próprio, entretanto, não significa trancar-se
dentro de si; cuidar apenas de si. Pelo contrário. Para que sua condição
evolua, o homem tem que aprender a dar de si, a sair de si, a desenvolver o
espírito de coletividade, de união fraterna. Somente aí poderá atingir a
pureza necessária para compreender e participar da Criação de Deus. Assim,
ninguém duvide. Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da
solidão. Mas, aquele que coopera em benefício do próximo, é credor do
auxílio comum. Ajudando, seremos ajudados. Dando, receberemos.
14. Esta é a lei que nos indica o caminho da evolução.
Muita Paz!
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