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CoolHunting:
a desconstrução
do mito
by Ana Carolina Campos
www.trendsobserver.com
TrendsObserver
Ana Carolina Campos  mar. 2014
sócia-diretora da La Rock
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www.trendsobserver.com
CoolHunting: a desconstrução do mito
1. Introdução 2
2. O Mito 2
3. A Construção do Mito 3
4. A Desconstrução do Mito 3
5. Metodologia – CoolHunting 4
6. Conclusões 5
7. Referências 6
1. Introdução
A prática do CoolHunting, enquanto processo de pesquisa
de Tendências, ainda é pouco compreendida em relação ao seu
real significado. Criou-se um mito no que diz respeito ao pro-
cesso e à figura do CoolHunter (aquele que observa e identifica
manifestações de Tendências), resumindo-o a um profissional
que viaja muito, sempre com uma câmara fotográfica e um blo-
co de anotações. Por suposto, o Coolhunter procura constante-
mente o que é cool, baseado apenas na curiosidade e na intuição,
características estas que são necessárias, mas que constituem
apenas parte do processo.
Para que um CoolHunter possa desenvolver o seu trabalho
com coerência e consistência, torna-se necessário uma metod-
ologia precisa, visto que a prática de CoolHunting acontece
em um sistema altamente complexo de nichos de mercado e de
pesquisa exploratória, lidando principalmente com dados qual-
itativos. Coolhunting não se trata de observação e de imitação,
mas sim de observação e de interpretação. Portanto, somente
através de uma metodologia estruturada e específica, o profis-
sional estará apto para reconhecer padrões e identificar sinais.
Ao longo deste artigo, teremos a oportunidade de eluci-
dar conceitos relacionados com o mito, bem como o processo
de construção e de desconstrução do mito em relação à prática
do CoolHunting.
2. O Mito
No sentido em que se gerou um mito à volta da figura e
da atividade do Coolhunter, para iniciar a abordagem ao tema
definiremos o conceito: uma “narrativa fabulosa de origem pop-
ular; coisa inacreditável; utopia; representação de uma coisa
inteiramente irreal; lenda” (Dicionário da Língua Portuguesa,
1999). Ainda no campo das definições, “etimologicamente,
mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo
mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do
verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar)”
(CHAUI, 1999: 28).
Tendo como base tal conceituação, é possível afirmar
que o CoolHunting pode ser caracterizado como uma narrativa
mítica, dado seu objetivo de narrar, anunciar, nomear e designar
aquilo que é cool, novo e fresco, em determinado espaço, tem-
po e grupo, identificando comportamentos, produtos, serviços
e estilos de vida que ainda não se tornaram populares.
A partir desta definição, começamos a compreender a
associação do mito à prática do CoolHunting, ou seja, como
uma representação do irreal, ainda vista por muitos como algo
somente intuitivo, tendo a câmara fotográfica como o símbolo
maior de representação da figura mítica, sendo que todo mito
possui sua simbologia própria.
3. A Construção do Mito
Para compreender o processo de construção do mito e
relacioná-lo com a mitificação do CoolHunting, abordaremos as
definições do conceito sob a ótica de Roland Barthes e John Fiske.
Para Barthes (1988), o mito não pode ser um objeto, ideia
ou conceito, mas sim uma forma, ou seja, um modo de signifi-
cação. O autor afirma que o mito tem como função deformar,
ou seja, consiste em uma inflexão e não em uma mentira, ou
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CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos
até mesmo em uma confissão. Para Fiske (1998), o conceito de
mito normalmente se refere a ideias falsas. Ele acredita que o
mito consiste na compreensão de um dado aspeto da realidade e
defende que os mitos acabam obscurecendo as origens, univer-
salizando-as e fazendo-as parecer imutáveis e justas.
O mito do CoolHunting, objeto deste estudo, vai ao en-
contro da definição de Barthes, pois o imaginário que se criou
em torno da figura do CoolHunter não está totalmente errado,
de fato este profissional utiliza a câmara fotográfica, bloco de
anotações, curiosidade e capacidade intuitiva para desenvolver
seu trabalho. Porém, trata-se de uma deformação na forma como
a figura do CoolHunter e o processo de CoolHunting são vistos,
tomando a parte como o todo, ou seja, focando-se apenas nas fer-
ramentas de trabalho, habilidades e competências, sem levar em
conta a importância de conhecer e saber aplicar a metodologia
necessária para o sucesso do resultado final.
Contudo, partindo da premissa da narrativa e da repre-
sentação de algo pouco realista, está constituído o mito do Cool-
Hunting diante do imaginário coletivo, resumindo a prática à
fotografia, à curiosidade, à intuição, à busca de novidades e à
moda, não proporcionando à metodologia o destaque necessário.
A construção de mitos ocorre desde a Antiguidade e mui-
tas vezes está relacionada com uma narrativa fantasiosa do real.
Logo, o mito configura-se como uma representação da reali-
dade, oriunda do imaginário coletivo, que por sua vez é con-
stituído por símbolos, conceitos e ideias de um determinado
grupo. Assim, o mito é propagado a partir da narrativa, consti-
tuindo elementos simbólicos para explicar a realidade, ou seja,
símbolos que representam referenciais imaginários. Mas a partir
do momento que estas representações da realidade transcendem
o mundo real, adquirem a força de um mito e se tornam ícones.
Para rematar esta questão, apresentamos a definição do imag-
inário baseada em G. Durand:
 O conjunto das imagens não gratuitas e das relações de
imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser
humano. Este capital é formado pelo domínio do arquetipal – ou
das invariâncias e universais do comportamento do gênero hu-
mano – e pelo domínio do idiográfico, ou das variações e mod-
ulações do comportamento do homem localizado em contextos
específicos e no interior de unidades grupais (Durand apud Teix-
eira Coelho, 1997: 212).
4. A Desconstrução do Mito
Tendo conhecimento do mito criado em torno do Cool-
Hunting, torna-se agora necessária uma reflexão acerca desta
figura, bem como a sua relação com o “imaginário coletivo” por
oposição à “realidade”, para que seja possível desconstruir o mito
e esclarecer o trabalho do CoolHunter.
A prática do CoolHunting consiste fundamentalmente na
compreensão do comportamento de consumo por meio de uma
imersão no contexto social, utilizando-se técnicas da sociologia
e da antropologia. O CoolHunter, no seu campo de atuação, está
direcionado para a busca de ideias e de conceitos novos, result-
antes da observação e da análise do quotidiano. Uma visão pan-
orâmica, mas dedicada aos aspetos que podem ter maior influên-
cia sobre as evoluções das motivações de consumo, também faz
parte dos precedentes da pesquisa de Tendências.
Para muitos, o CoolHunting pode ser encarado como uma
“prática adivinhatória”, mas esta não é a realidade, pois não se
trata de futurologia.
O processo envolve curiosidade, essencial para o início da
investigação e a exploração dos dados; experiência intuitiva, que
consiste na intuição fundamentada, ou seja, é preciso ter obje-
tivo e um foco muito bem delineados em relação àquilo que se
procura; capacidade de observação, imprescindível para treinar
os sentidos e manter uma visão constante e crítica do processo;
somadas à utilização da metodologia apropriada.
Factos concretos, fotos e informações isoladas também não
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CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos
constituem input suficiente para as etapas seguintes do processo
de pesquisa de Tendências: a análise e a aplicação. O resultado do
material recolhido em campo deve apresentar coerência entre os
sinais encontrados e pertinência em relação aos objetivos defini-
dos. Por fim, em determinadas situações a observação não reside
sobre o objeto observado, mas sim o motivo pelo qual este objeto
pode ser definido como cool. Aqui, estamos a falar do significa-
do, ou seja, da correta interpretação dos sinais emitidos pelos
indivíduos como manifestações socioculturais das tendências e
da evolução da experiência de consumo.
O resultado final do trabalho do CoolHunter, consiste na
entrega de matéria-prima para o delineamento de novos concei-
tos, estratégias, ideias de negócios, produtos ou serviços.
5. Metodologia – CoolHunting
O enfoque metodológico da prática do CoolHunting é dif-
erente dos utilizados em pesquisas de mercado tradicionais, pois
está relacionado a um trabalho contínuo de monitoramento das
mudanças de mentalidades e de comportamento do consumidor.
Ao iniciar a sua pesquisa, o profissional precisa de um
briefing claro e de objetivos definidos, para então poder inves-
tigar os gostos e as motivações de determinado(s) grupo(s) de
consumidores. Logo, a metodologia necessária para a prática do
CoolHunting vai para além do ato de fotografar e de anotar, pois
trata-se de um processo em que o CoolHunter se encontra na
intermediação cultural, o que torna necessário ter a habilidade
de perceber aquilo que é distintivo e novo. Mas para que algo
possa ser categorizado como “novo”, implica saber intercetar e
distinguir, ou seja, perceber aquilo que é distintivo e fresco di-
ante do cenário em que se encontra. Algo pode ser considerado
novo em determinado contexto e não ser em outro. Portanto, é
imprescindível que um CoolHunter aprimore a sua capacidade
de ler os sinais presentes no tecido social.
O profissional ligado à área da pesquisa de Tendências ne-
cessita obrigatoriamente de um background conceptual para at-
uar de forma segura e confiante junto às áreas que irá percorrer
em busca de seus objetivos.
Antecipar o futuro faz parte do processo, mas sem deixar
de lado a importância de conhecer o passado e de entender o pre-
sente. Portanto, a atualização constante e contínua faz parte do
conjunto de atributos deste profissional. Abaixo, seguem algu-
mas sugestões onde é possível encontrar novidades e manter-se
atualizado em relação ao que acontece ao redor:
	 - artes e exposições
	 - comportamentos
	 - sociedade
	 - jornais / revistas
	 - livros
	 - design / arquitetura
	 - jovens / trendsetters
	 - hobbies
	 - música e cultura pop
	 - cinema / filmes
	 - cultura / história
	
Alguns lugares também são de grande importância para
o processo de rastreamento de Tendências, como Londres,
Nova Iorque e Tóquio. Grandes centros urbanos, ou seja, ci-
dades onde tudo acontece e é possível perceber sinais frescos de
manifestações culturais e da sociedade, além de crenças e ori-
entações, resultando num mix inspirador. Mas além do global,
o CoolHunter não deve esquecer de olhar constante e perma-
nentemente para o local. A pesquisa regional, baseada no estudo
da identidade cultural, procura o aproveitamento dos talentos
locais, diferenciação e exclusividade, constituindo excelentes
pólos para a pesquisa de Tendências.
Outro fator importante ao identificar uma tendência, tra-
ta-se de demonstrar a sua rastreabilidade, ou seja, todo o proces-
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CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos
so de observação, as pistas coletadas e a construção do raciocínio
durante a fase de investigação, através de imagens e highlights de
informações. Com todas as evidências reunidas, torna-se então
possível descodificar e contextualizar a informação.
Contudo, para além de toda fundamentação necessária,
um CoolHunter precisa de se despir de qualquer preconcei-
to, evitar subjetividades e configurar-se na forma mais neutra
possível ao inserir-se no território de pesquisa. Isto porque a
sugestão de respostas deve ser evitado, a fim de que os dados
coletados não sejam contaminados. Parte-se da premissa que o
pesquisador quando inserido em determinado contexto, deve
observar e escutar sem julgamentos, deixando a análise para a
etapa seguinte. Muito importante também, é não aceitar tudo
como óbvio, questionar e procurar descobrir pistas disruptivas.
6. Conclusões
O CoolHunting começou a ser difundido e reconhecido
como prática de observação, identificação e análise de tendên-
cias, a partir do da publicação do artigo “The Coolhunt” em
1997, escrito por Malcom Gladwell, pela The New Yorker.
Logo, como toda atividade recente, entende-se que o acultur-
amento da população em relação à prática aconteça aos poucos,
de forma a que o processo de difusão das ferramentas, técnicas
e competências necessárias a um Investigador Social sejam com-
preendidos e assimilados.
De um modo geral, a grande massa ainda compreende
muito pouco sobre a prática do CoolHunting, visto que a sua
origem e os reais objetivos foram ignorados diante de infor-
mações incompletas, publicadas em grande parte pelos meios
de comunicação. Tais veículos e outros disseminadores de in-
formação acabam por vezes propagando conteúdo sem o cuidado
necessário de consulta das fontes seguras e qualificadas, no intu-
ito de introduzir o assunto ao grande público.
Além disso, também contamos com o fator “desconheci-
mento”, ou seja, indivíduos que se auto- intitulam “CoolHunt-
ers” sem terem a experiência e o conhecimento necessários
para a prática da atividade. Esta cenário demonstra a procura no
mercado por profissionais devidamente capacitados, que possam
aplicar o CoolHunting de forma qualificada e fundamentada.
É certo que ao longo da experiência e atuação no âmbito
profissional, cada CoolHunter construirá a sua forma de tra-
balhar. Porém, as premissas da metodologia aplicada deverão
estar alinhadas ao cerne das práticas comumente aplicadas no
meio.
Por fim, é necessário frisar que a prática do CoolHunting
não está somente relacionada com o mundo “fashion”. Portanto,
cada vez mais, tal atividade tem se voltado para outros segmen-
tos que visam alinhar os seus produtos e serviços às expectativas
dos consumidores; procurar alternativas diante de ciclos de vida
de produto cada vez menores; obter vantagem competitiva em
mercados altamente competitivos e fragmentados. As empresas
hoje, mais do que nunca, precisam de se antecipar aos compor-
tamentos dos consumidores, de forma a estabelecer e a manter
uma sintonia nos comportamentos socioculturais e de consumo.
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CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos
7. Referências
BARTHES, Roland. “Mito Hoje” in Mitologias. Lisboa:
Edições 70, 1988/1957.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12ª Ed. São Paulo:
Ática, 1999.
COELHO, Teixeira. Guerras culturais: arte e política no
novecentos tardio. São Paulo, Iluminuras, 2000.
FISKE, John. Mitos, Sonhos e Mistérios. Lisboa: Edições
70, 1998/1957.
GLADWELL, Malcom. “The Coolhunt”. The New York-
er, 1997.
Dicionário da Língua Portuguesa (1999) Lisboa: Flumin-
ense, Empresa Literária. ISBN 972-555-001-3
 
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property laws.
Ana Carolina Campos
Formação em Business Administration (MBA) na
Fundação Getulio Vargas. Bacharel em Publicidade e
Propaganda pela Universidade do Sul de Santa Catarina.
Diversos cursos nas áreas de Branding e Tendências.
Trendhunter e sócia-diretora da La Rock.

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Desconstruindo o mito do CoolHunting

  • 1. CoolHunting: a desconstrução do mito by Ana Carolina Campos www.trendsobserver.com TrendsObserver
  • 2. Ana Carolina Campos mar. 2014 sócia-diretora da La Rock - 2 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mito 1. Introdução 2 2. O Mito 2 3. A Construção do Mito 3 4. A Desconstrução do Mito 3 5. Metodologia – CoolHunting 4 6. Conclusões 5 7. Referências 6 1. Introdução A prática do CoolHunting, enquanto processo de pesquisa de Tendências, ainda é pouco compreendida em relação ao seu real significado. Criou-se um mito no que diz respeito ao pro- cesso e à figura do CoolHunter (aquele que observa e identifica manifestações de Tendências), resumindo-o a um profissional que viaja muito, sempre com uma câmara fotográfica e um blo- co de anotações. Por suposto, o Coolhunter procura constante- mente o que é cool, baseado apenas na curiosidade e na intuição, características estas que são necessárias, mas que constituem apenas parte do processo. Para que um CoolHunter possa desenvolver o seu trabalho com coerência e consistência, torna-se necessário uma metod- ologia precisa, visto que a prática de CoolHunting acontece em um sistema altamente complexo de nichos de mercado e de pesquisa exploratória, lidando principalmente com dados qual- itativos. Coolhunting não se trata de observação e de imitação, mas sim de observação e de interpretação. Portanto, somente através de uma metodologia estruturada e específica, o profis- sional estará apto para reconhecer padrões e identificar sinais. Ao longo deste artigo, teremos a oportunidade de eluci- dar conceitos relacionados com o mito, bem como o processo de construção e de desconstrução do mito em relação à prática do CoolHunting. 2. O Mito No sentido em que se gerou um mito à volta da figura e da atividade do Coolhunter, para iniciar a abordagem ao tema definiremos o conceito: uma “narrativa fabulosa de origem pop- ular; coisa inacreditável; utopia; representação de uma coisa inteiramente irreal; lenda” (Dicionário da Língua Portuguesa, 1999). Ainda no campo das definições, “etimologicamente, mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar)” (CHAUI, 1999: 28). Tendo como base tal conceituação, é possível afirmar que o CoolHunting pode ser caracterizado como uma narrativa mítica, dado seu objetivo de narrar, anunciar, nomear e designar aquilo que é cool, novo e fresco, em determinado espaço, tem- po e grupo, identificando comportamentos, produtos, serviços e estilos de vida que ainda não se tornaram populares. A partir desta definição, começamos a compreender a associação do mito à prática do CoolHunting, ou seja, como uma representação do irreal, ainda vista por muitos como algo somente intuitivo, tendo a câmara fotográfica como o símbolo maior de representação da figura mítica, sendo que todo mito possui sua simbologia própria. 3. A Construção do Mito Para compreender o processo de construção do mito e relacioná-lo com a mitificação do CoolHunting, abordaremos as definições do conceito sob a ótica de Roland Barthes e John Fiske. Para Barthes (1988), o mito não pode ser um objeto, ideia ou conceito, mas sim uma forma, ou seja, um modo de signifi- cação. O autor afirma que o mito tem como função deformar, ou seja, consiste em uma inflexão e não em uma mentira, ou
  • 3. - 3 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos até mesmo em uma confissão. Para Fiske (1998), o conceito de mito normalmente se refere a ideias falsas. Ele acredita que o mito consiste na compreensão de um dado aspeto da realidade e defende que os mitos acabam obscurecendo as origens, univer- salizando-as e fazendo-as parecer imutáveis e justas. O mito do CoolHunting, objeto deste estudo, vai ao en- contro da definição de Barthes, pois o imaginário que se criou em torno da figura do CoolHunter não está totalmente errado, de fato este profissional utiliza a câmara fotográfica, bloco de anotações, curiosidade e capacidade intuitiva para desenvolver seu trabalho. Porém, trata-se de uma deformação na forma como a figura do CoolHunter e o processo de CoolHunting são vistos, tomando a parte como o todo, ou seja, focando-se apenas nas fer- ramentas de trabalho, habilidades e competências, sem levar em conta a importância de conhecer e saber aplicar a metodologia necessária para o sucesso do resultado final. Contudo, partindo da premissa da narrativa e da repre- sentação de algo pouco realista, está constituído o mito do Cool- Hunting diante do imaginário coletivo, resumindo a prática à fotografia, à curiosidade, à intuição, à busca de novidades e à moda, não proporcionando à metodologia o destaque necessário. A construção de mitos ocorre desde a Antiguidade e mui- tas vezes está relacionada com uma narrativa fantasiosa do real. Logo, o mito configura-se como uma representação da reali- dade, oriunda do imaginário coletivo, que por sua vez é con- stituído por símbolos, conceitos e ideias de um determinado grupo. Assim, o mito é propagado a partir da narrativa, consti- tuindo elementos simbólicos para explicar a realidade, ou seja, símbolos que representam referenciais imaginários. Mas a partir do momento que estas representações da realidade transcendem o mundo real, adquirem a força de um mito e se tornam ícones. Para rematar esta questão, apresentamos a definição do imag- inário baseada em G. Durand:  O conjunto das imagens não gratuitas e das relações de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humano. Este capital é formado pelo domínio do arquetipal – ou das invariâncias e universais do comportamento do gênero hu- mano – e pelo domínio do idiográfico, ou das variações e mod- ulações do comportamento do homem localizado em contextos específicos e no interior de unidades grupais (Durand apud Teix- eira Coelho, 1997: 212). 4. A Desconstrução do Mito Tendo conhecimento do mito criado em torno do Cool- Hunting, torna-se agora necessária uma reflexão acerca desta figura, bem como a sua relação com o “imaginário coletivo” por oposição à “realidade”, para que seja possível desconstruir o mito e esclarecer o trabalho do CoolHunter. A prática do CoolHunting consiste fundamentalmente na compreensão do comportamento de consumo por meio de uma imersão no contexto social, utilizando-se técnicas da sociologia e da antropologia. O CoolHunter, no seu campo de atuação, está direcionado para a busca de ideias e de conceitos novos, result- antes da observação e da análise do quotidiano. Uma visão pan- orâmica, mas dedicada aos aspetos que podem ter maior influên- cia sobre as evoluções das motivações de consumo, também faz parte dos precedentes da pesquisa de Tendências. Para muitos, o CoolHunting pode ser encarado como uma “prática adivinhatória”, mas esta não é a realidade, pois não se trata de futurologia. O processo envolve curiosidade, essencial para o início da investigação e a exploração dos dados; experiência intuitiva, que consiste na intuição fundamentada, ou seja, é preciso ter obje- tivo e um foco muito bem delineados em relação àquilo que se procura; capacidade de observação, imprescindível para treinar os sentidos e manter uma visão constante e crítica do processo; somadas à utilização da metodologia apropriada. Factos concretos, fotos e informações isoladas também não
  • 4. - 4 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos constituem input suficiente para as etapas seguintes do processo de pesquisa de Tendências: a análise e a aplicação. O resultado do material recolhido em campo deve apresentar coerência entre os sinais encontrados e pertinência em relação aos objetivos defini- dos. Por fim, em determinadas situações a observação não reside sobre o objeto observado, mas sim o motivo pelo qual este objeto pode ser definido como cool. Aqui, estamos a falar do significa- do, ou seja, da correta interpretação dos sinais emitidos pelos indivíduos como manifestações socioculturais das tendências e da evolução da experiência de consumo. O resultado final do trabalho do CoolHunter, consiste na entrega de matéria-prima para o delineamento de novos concei- tos, estratégias, ideias de negócios, produtos ou serviços. 5. Metodologia – CoolHunting O enfoque metodológico da prática do CoolHunting é dif- erente dos utilizados em pesquisas de mercado tradicionais, pois está relacionado a um trabalho contínuo de monitoramento das mudanças de mentalidades e de comportamento do consumidor. Ao iniciar a sua pesquisa, o profissional precisa de um briefing claro e de objetivos definidos, para então poder inves- tigar os gostos e as motivações de determinado(s) grupo(s) de consumidores. Logo, a metodologia necessária para a prática do CoolHunting vai para além do ato de fotografar e de anotar, pois trata-se de um processo em que o CoolHunter se encontra na intermediação cultural, o que torna necessário ter a habilidade de perceber aquilo que é distintivo e novo. Mas para que algo possa ser categorizado como “novo”, implica saber intercetar e distinguir, ou seja, perceber aquilo que é distintivo e fresco di- ante do cenário em que se encontra. Algo pode ser considerado novo em determinado contexto e não ser em outro. Portanto, é imprescindível que um CoolHunter aprimore a sua capacidade de ler os sinais presentes no tecido social. O profissional ligado à área da pesquisa de Tendências ne- cessita obrigatoriamente de um background conceptual para at- uar de forma segura e confiante junto às áreas que irá percorrer em busca de seus objetivos. Antecipar o futuro faz parte do processo, mas sem deixar de lado a importância de conhecer o passado e de entender o pre- sente. Portanto, a atualização constante e contínua faz parte do conjunto de atributos deste profissional. Abaixo, seguem algu- mas sugestões onde é possível encontrar novidades e manter-se atualizado em relação ao que acontece ao redor: - artes e exposições - comportamentos - sociedade - jornais / revistas - livros - design / arquitetura - jovens / trendsetters - hobbies - música e cultura pop - cinema / filmes - cultura / história Alguns lugares também são de grande importância para o processo de rastreamento de Tendências, como Londres, Nova Iorque e Tóquio. Grandes centros urbanos, ou seja, ci- dades onde tudo acontece e é possível perceber sinais frescos de manifestações culturais e da sociedade, além de crenças e ori- entações, resultando num mix inspirador. Mas além do global, o CoolHunter não deve esquecer de olhar constante e perma- nentemente para o local. A pesquisa regional, baseada no estudo da identidade cultural, procura o aproveitamento dos talentos locais, diferenciação e exclusividade, constituindo excelentes pólos para a pesquisa de Tendências. Outro fator importante ao identificar uma tendência, tra- ta-se de demonstrar a sua rastreabilidade, ou seja, todo o proces-
  • 5. - 5 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos so de observação, as pistas coletadas e a construção do raciocínio durante a fase de investigação, através de imagens e highlights de informações. Com todas as evidências reunidas, torna-se então possível descodificar e contextualizar a informação. Contudo, para além de toda fundamentação necessária, um CoolHunter precisa de se despir de qualquer preconcei- to, evitar subjetividades e configurar-se na forma mais neutra possível ao inserir-se no território de pesquisa. Isto porque a sugestão de respostas deve ser evitado, a fim de que os dados coletados não sejam contaminados. Parte-se da premissa que o pesquisador quando inserido em determinado contexto, deve observar e escutar sem julgamentos, deixando a análise para a etapa seguinte. Muito importante também, é não aceitar tudo como óbvio, questionar e procurar descobrir pistas disruptivas. 6. Conclusões O CoolHunting começou a ser difundido e reconhecido como prática de observação, identificação e análise de tendên- cias, a partir do da publicação do artigo “The Coolhunt” em 1997, escrito por Malcom Gladwell, pela The New Yorker. Logo, como toda atividade recente, entende-se que o acultur- amento da população em relação à prática aconteça aos poucos, de forma a que o processo de difusão das ferramentas, técnicas e competências necessárias a um Investigador Social sejam com- preendidos e assimilados. De um modo geral, a grande massa ainda compreende muito pouco sobre a prática do CoolHunting, visto que a sua origem e os reais objetivos foram ignorados diante de infor- mações incompletas, publicadas em grande parte pelos meios de comunicação. Tais veículos e outros disseminadores de in- formação acabam por vezes propagando conteúdo sem o cuidado necessário de consulta das fontes seguras e qualificadas, no intu- ito de introduzir o assunto ao grande público. Além disso, também contamos com o fator “desconheci- mento”, ou seja, indivíduos que se auto- intitulam “CoolHunt- ers” sem terem a experiência e o conhecimento necessários para a prática da atividade. Esta cenário demonstra a procura no mercado por profissionais devidamente capacitados, que possam aplicar o CoolHunting de forma qualificada e fundamentada. É certo que ao longo da experiência e atuação no âmbito profissional, cada CoolHunter construirá a sua forma de tra- balhar. Porém, as premissas da metodologia aplicada deverão estar alinhadas ao cerne das práticas comumente aplicadas no meio. Por fim, é necessário frisar que a prática do CoolHunting não está somente relacionada com o mundo “fashion”. Portanto, cada vez mais, tal atividade tem se voltado para outros segmen- tos que visam alinhar os seus produtos e serviços às expectativas dos consumidores; procurar alternativas diante de ciclos de vida de produto cada vez menores; obter vantagem competitiva em mercados altamente competitivos e fragmentados. As empresas hoje, mais do que nunca, precisam de se antecipar aos compor- tamentos dos consumidores, de forma a estabelecer e a manter uma sintonia nos comportamentos socioculturais e de consumo.
  • 6. - 6 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos 7. Referências BARTHES, Roland. “Mito Hoje” in Mitologias. Lisboa: Edições 70, 1988/1957. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12ª Ed. São Paulo: Ática, 1999. COELHO, Teixeira. Guerras culturais: arte e política no novecentos tardio. São Paulo, Iluminuras, 2000. FISKE, John. Mitos, Sonhos e Mistérios. Lisboa: Edições 70, 1998/1957. GLADWELL, Malcom. “The Coolhunt”. The New York- er, 1997. Dicionário da Língua Portuguesa (1999) Lisboa: Flumin- ense, Empresa Literária. ISBN 972-555-001-3  
  • 7. - 7 - www.trendsobserver.com CoolHunting: a desconstrução do mitoAna Carolina Campos This document has been provided by the TrendsObserver. The information provided herein is for general informational and educational purposes only. The information contained herein may not be applicable in all situations and may not, after the date of its presentation, even reflect the most current authority. Reproduction is authorised provided the source is acknowledged. The owner is not responsible for the republishing of the content found on this platform on other Web sites or media without permission. The content on our Websites is protected by trademark, copyright and other intellectual property laws. Ana Carolina Campos Formação em Business Administration (MBA) na Fundação Getulio Vargas. Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Diversos cursos nas áreas de Branding e Tendências. Trendhunter e sócia-diretora da La Rock.