1. C
omo vimos em reportagens anterio-
res, os detalhes fazem total diferen-
ça no projeto comandado por Igor
Balestra, em Inhumas, GO. Nenhuma estra-
tégia é adotada antes de ser minuciosamen-
te avaliada e calculada, o que dá ao admi-
nistrador a vantagem de rever metas, adiar
ou acelerar processos sem prejuízo para
o desempenho do rebanho ou para o pró-
prio bolso, como veremos nesta quarta re-
portagem do Vitrine Tecnológica DBO. Em
abril, os pastos do retiro Boa Esperança,
que abriga os machos em engorda, apresen-
taram teor de proteína bruta (PB) superior
ao esperado: 17%, ante 15% normalmente
observados nas áreas adubadas nas águas.
Os resultados, embora positivos, atrapalha-
ram os planos da dupla. “Com um capim
de tamanha qualidade e com alta oferta, o
gado supriu praticamente toda a sua deman-
da de proteína por meio do pasto, buscan-
do pouco o cocho, o que resultou em me-
Mônica Costa
Edição: Maristela Franco
nor ingestão de energia via concentrado. O
consumo de ração ficou em 0,4% do peso
vivo (PV), quando se esperava 0,62%, e o
ganho de peso em 758 g/cab/dia, quando se
almejava 1 kg”, explica o técnico da DSM,
Gabriel Morais.
Para acelerar o desempenho dos gar-
rotes, que estavam pesando, em abril, uma
média de 370 kg, 30 kg abaixo dos 400 kg
projetados para o período, a saída foi revi-
sar a dieta. “Passamos a investir no acaba-
Controle das pastagens permite mudanças na dieta sem afetar o desempenho do
rebanho ou o bolso do criador
Um olho no pasto, outro no gado.
mento das carcaças dos garrotes, que co-
meram mais proteína do que deviam”, diz
Morais. Ele retirou parte da ureia e do fa-
relo de soja da dieta, diminuindo o teor de
proteína da formulação de 25% para 12%, e
aumentou o teor de Nutrientes Digestíveis
Totais (energia) de 70% para 80%. “Baixa-
mos a quantidade de sal e ureia, que são li-
mitadores de consumo e substituímos a mo-
nensina por um blend de óleos essenciais,
para estimular maior aproveitamento da ra-
ção”, explica. Além disso, a estratégia de
semiconfinamento foi antecipada em um
mês, elevando-se o fornecimento de ração
de 0,9% para 1% do peso vivo para garantir
o ganho de 1 kg/cab/dia e abater o primei-
ro lote de bois prontos no final de maio. O
consumo esperado para este mês é de 1,2%
do PV em ração, chegando-se a 1,6% em
junho para ganhos de peso de 1kg a 1,2 kg
diário. “Os machos crioulos serão os pri-
meiros a ser abatidos, pois ganharam 633 g/
cab/dia na seca, em regime de “sequestro”,
6,5% a mais do que os adquiridos de ter-
ceiros, que engordaram 594 g”, conta Igor.
Pastagem monitorada – Essa corre-
ção de “rota” somente foi possível devi-
do ao conceito de nutrição de precisão,
que se baseia na análise periódica dos nu-
trientes contidos nas pastagens. Na safra
2016/2017, foram feitas duas coletas de
capim: uma em dezembro e outra em fe-
Ganho de peso garantido com
pasto de alta qualidade
78 DBO maio 2017
Manter animais no pasto aumentará a receita em 54%
Período de abate Abril Setembro
Valor do bezerro (R$) 1.200 1.200
Custeio (R$)1 543,15 1.1163,88
Peso vivo atual (kg) 470 607
Rendimento (%) 55 57
Peso em @ 17,23 23,07
Cotação @ 125 130
Faturamento (R$) 2.154,17 2.998,58
Lucro por cabeça (R$) 411,02 634,70
1 Considerando-se custos com nutrição, sanidade, mão de obra, logística e adubação dos pastos. Fonte: Pecuária Balestra, adaptado DBO.
PecuáriaBalestra
2. vereiro. Para garantir resultados fidedig-
nos, Morais coleta apenas a parte superior
do capim, simulando o pastejo dos bovi-
nos, em vários pontos dentro do módulo
de pastejo rotacionado, e envia para um
laboratório credenciado pela DSM, que
analisa os teores de proteína, tipos de fi-
bra e ureia do material. Na próxima safra
(2017/2018), serão feitas avaliações em
novembro, logo que os garrotes entrarem
no pasto; entre janeiro e fevereiro, no meio
do período de pastagem; e em abril/maio,
na saída dos bovinos. “Qualquer produtor
pode solicitar esse serviço, pelo valor mé-
dio de R$ 180/amostra”, diz o técnico, que
já pensa em uma dieta para os machos na
próxima safra capaz de garantir os ganhos
esperados após o sequestro, e uma econo-
mia de R$ 9.500 (confira cálculo veja ta-
bela).
O monitoramento da qualidade nutri-
cional é importante também para o ajuste
da adubação e lotação nos módulos de ro-
tacionado do retiro Boa Esperança duran-
te o período das águas. “Calculei que iría
mos rodar com 8 UA/ha, então, seguindo
orientações de especialistas como o pro-
fessor Geleomar Gabriel, chefe geral da
embrapa pecuária sudeste e ex consultor
da Pecuária Balestra, aplicamos na área
40 kg de nitrogênio (N) por UA, quanti-
dade equivalente a 320 kg/ N/ha, ou 720
kg de ureia, que foram divididos em cinco
aplicações de 144 kg por hectare em cada
saída do gado do piquete”, explica o exe-
cutivo. A adubação “personalizada” tem
como objetivo aumentar a produção de
capim por área para suportar a densidade
animal. “Além disso, esta fazenda fica se-
parada dos demais retiros; se há um con-
tratempo no clima, preciso garantir que
ainda haverá pasto para os animais, por-
que não tenho como deslocá-los para ou-
tras áreas”, esclarece.
Mudança de cenário – A previsão ini-
cial de Igor era abater os primeiros lotes de
machos em abril com mínimo de 17@, mas
devido ao ganho mais lento e à queda de
12,8% na cotação do boi gordo, que des-
pencou de R$ 140, em janeiro, para R$ 122
à vista, sem descontar o Funrural, em abril,
segundo o Cepea (Centro de Estudos Avan-
çados em Economia Aplicada), Igor deci-
diu manter os animais por mais tempo no
pasto, esperando o melhor momento para
comercializá-los. “Como planejo tudo, te-
nho mais flexibilidade”, assegura. Em uma
simulação, considerando que estes animais
tenham que ficar na fazenda até setembro,
quando, segundo estimativas do mercado, a
arroba do boi gordo no Estado, pode atingir
a casa dos R$ 130, Igor prevê um aumen-
to dos ganhos de R$ 411 para R$ 632/cab.
“Aumento os gastos com ração, mas coloco
quase 6@ a mais por animal”, afirma (veja
tabela da página anterior).
A inclusão da fazenda no Paint (Pro-
grama de Melhoramento Genético para
Bovinos de Corte) da CRV Lagoa, para
concessão do certificado especial de iden-
tificação e produção (Ceip), não afeta o
manejo nutricional dos machos. Segundo
Igor, “antes de ser Ceip, o boi é carne”. To-
dos recebem a mesma dieta para que seja
possível isolar o efeito genético do nutri-
cional. Os técnicos do programa visitam a
fazenda duas vezes por ano, fazendo ava-
liação de peso, conformação, precocida-
de, musculosidade, tamanho do umbigo
no desmame e observando estas mesmas
características, além do temperamento e
circunferência escrotal, no sobreano. Os
resultados são inseridos em um banco de
dados que contém informações de todas as
fazendas participantes. Somente os 20%
melhores recebem o certificado. “Normal-
mente, os animais que se destacam nes-
sas avaliações são apartados, mas eu levo
o lote todo junto até a divulgação do su-
mário”, diz Igor. Na safra passada, 36 tou-
ros da fazenda constavam entre os melho-
res do Paint. Destes, o produtor separou 15
para venda como tourinhos. n
4
abril 2017 DBO 91
Veja mais:
Na próxima reportagem vamos acompanhar
a última fase do processo de engorda e os
cuidados para obtenção de acabamento
adequado no gancho.
Acompanhe o projeto também pelo
endereço:
www.vitrinetecnologica.blogspot.com.br
Genética Balestra consta entre os
20% certificados no Paint
Revisão da dieta pode render
economia de R$ 9.5001
Dieta atual Prevista
PB (%) 25 12
NDT (%) 70,5 72,6
CUSTO (R$) 0,66 0,49
* Diferença de R$ 0,17 x 2 kg/dia x 90 dias x 308 cabeças
resulta em economia de R$ 9.425. Fonte: Pecuária Balestra,
adaptado DBO
Mônicacosta