O documento discute as teorias e técnicas retrospectivas de restauração de monumentos históricos. Apresenta os principais pensadores da área como Alois Riegl, Giovanoni, Brandi, Panne e Bonelli. Destaca conceitos como valor documental, respeito às diferentes fases do monumento, restauro crítico e restauração criativa.
Aula3-TecnicasRetrospectivas-Teoria do Restauro-secXX.pdf
1. TÉCNICAS RETROSPECTIVAS
Aula 3 – PLE 2020
Teoria da Restauração
Século XX
Prof(a): Fernanda Alves de Brito Bueno
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS
DEARQ - DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
2. Alois Riegl
• Austríaco, restaurador com bagagem crítica e propositiva;
• Contribuições – final séc. XIX e início do XX;
• Analisa o monumento de forma objetiva, através de vários pontos de
vista;
• Ênfase no valor documental dos monumentos;
• Contribui para a consolidação de uma “disciplina autônoma”;
• Publicação O culto Moderno dos Monumentos (1903) – legislação
conservação Áustria;
• Monumentos - não apenas obras de arte – Culto ao Valor de
Antiguidade (preservação de estratificações); valor mais perene.
• Não mais a busca pela unidade de estilo – respeito ao documento
histórico;
• Valor artístico – considerado mutável (indivíduo, sociedade e época)
(KÜHL, 2005/2006)
(CUNHA, 2006)
3. Alois Riegl
• Conceitos de “rememoração”;
- valor de antiguidade do objeto que deve ser mantida com as marcas de
degradação do tempo e não deve sofrer intervenção arbitrária;
- valor histórico que pretende preservar através da intervenção;
- valor de rememoração intencional que almeja a perenidade do estado
original do monumento.
• Conceito de “contemporaneidade”;
- referem-se à manutenção da integridade do bem;
- valor de uso;
- valor artístico (relativos ou de novidade);
• Riegl mostra que não existe uma única forma de abordar a questão da
preservação e que, muitas vezes, os valores podem ser contraditórios.
• Não existe fórmula absoluta – soluções relativas. Isso não quer dizer
“arbitrário”; (muito atual)
(KÜHL, 1998)
(CUNHA, 2006)
4. valorartístico relativo
Casa de Câmara e Cadeia de Atibaia – antes e após as obras de restauro.
Fonte: CUNHA, C. R. Restauração: diálogos entre teoria e prática no Brasil nas experiências do IPHAN. 2010. 171f.
Tese (Doutorado – História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) – FAUUSP, São Paulo, 2010.
Cine Vila Rica
Imagem: CUNHA, 2010
Antigo Liceu de Artes e Ofícios
Imagem: Luiz Fontana – cerca de 1940
5. Giovanoni
• Reelabora as teorias de Camilo Boito na década de 1930;
• Importância de se conhecer os valores históricos e
documentais do monumento, em detrimento a valores
estéticos e artísticos;
• “restauro científico”
• Base para a Carta de Restauro Italiana de 1932;
• Considera todas as fases de valor artístico pelas quais passou
a construção, preferindo a consolidação e manutenção do
bem, limitando as intervenções;
• Em sendo necessário acréscimo, este deve se diferenciar do
material original, deve ser datado e documentado e ser livre
de apropriações estilísticas;
Referências: Kühl, 1998
Kühl, 2013
6. Giovanoni
• Projetos baseados em estudos rigorosos;
• Distinção entre monumentos vivos e monumentos mortos;
• Classifica os tipos de restauração como restauro de
consolidação; restauro de recomposição (anastilose);
restauro de liberação; restauro de completamento e de
renovação.
• Atenção também ao entorno.
Referências: Kühl, 1998
Kühl, 2013
10. Intervenção - consolidação
Torre medievalemCadiz
Andaluzia
Torre medieval de Cadiz, antes e após a restauração
Fonte: FRANCO, José Tomás. História e Arquitetura (2017). Imagens site Archdaily.
Disponível em: http://historiaearquitetura.blogspot.com/2017/03/restauracao-da-torre-medieval-de-
cadiz.html. Acesso em agosto de 2020.
• Arquiteto: Carlos Quevedo Rojas
11. Chafariz– Praça da Sé, Mariana
Exemplo de recomposiçãopor anastilose
Fonte: https://lugaresinesqueciveis.wordpress.com/2012/11/08/catedral-da-se-mariana/.
Acesso em: agosto de 2020.
12. Pelourinho – Praça Minas Gerais,Mariana
Exemplo de recomposiçãopor anastilose
Fonte: IPHAN. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/
Acesso em: agosto de 2020.
14. Restauraçãoforro em gamela
Casa AfonsoPena – Santa Bárbara/MG
Foto da autora, 2006 Foto da autora, 2006
Janela de prospecção Janela de prospecção
15. Restauraçãoforro em gamela
Casa AfonsoPena – Santa Bárbara/MG
Estratigrafia
Foto da autora, 2007
Foto da autora, 2007
Foto da autora, 2007
Foto da autora, 2007
17. Restauraçãoforro em gamela
Casa AfonsoPena – Santa Bárbara/MG
Pintura artística descoberta retrata os quatro continentes
Fotos da autora
18. Restauraçãoforro em gamela
Casa AfonsoPena – Santa Bárbara/MG
Pintura artística descoberta retrata os quatro continentes
figura feminina, flora e fauna
20. séc. XIX (c.1880) séc. XX (c.1927) séc. XX (c.1941)
séc. XX (c.1969) séc. XX (c.1970) séc. XXI (2017)
LARGODECOIMBRA
Justificativapensamentomodernista–comorestaurodeliberação
Mercado de tropeiros
Fonte: Instituto Moreira Sales
Mercado Municipal - referências neoclássicas
Fonte: LEMOS, P. et al, 2001
Demolição do mercado
Fonte: IPHAN
Estacionamento de ônibus
Fonte: Iphan Rio - Plano Viana de Lima
Feira de hortifruti
Fonte: Acervo da ADELC
Feira de pedra sabão
Imagem: Tayami Fonseca França (2017)
21. Obra de restauração
Casa Afonso Pena – Santa Bárbara/MG
Demolição e reconstituição da varanda na fachada posterior
Nova varanda executada em estrutura de madeira, guarda-corpo de aço corten.
Uma nova escada também foi executada com desenho contemporâneo.
22. Contexto – década de 1930
• Carta de Restauro de Atenas de 1931;
- Preservação dos monumentos históricos;
- Tendência por abandonar reconstituições integrais;
- Adoção de manutenção regular e permanente;
“ (...) Nos casos em que uma restauração pareça indispensável devido a
deterioração ou destruição, a conferência recomenda que se respeite a obra
histórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época.”
- Utilização dos monumentos (finalidades que respeitem caráter
histórico e artístico);
- Direito da coletividade;
- Consolidação (aprovação técnicas modernas / emprego dissimulado)
- Anastilose
- Cooperação intelectual e Inventários.
23. Contexto – década de 1930
• Carta de Atenas CIAM de 1933.
- Imbuída de ideais modernistas;
- Defendia a modernidade mesmo que para isso fosse necessário
condenar o passado;
- Surge então na Europa - oposição entre modernistas e
preservacionistas.
• Após a Segunda Guerra Mundial, diante do quadro de
destruição de muitas cidades e da tentativa em salvar e
reconstruir muitos centros urbanos, novos rumos são dados aos
debates sobre preservação e uma nova postura relativa aos
procedimentos para restauração é instaurada.
Referência: Kühl, 1998
24. Contexto – pós guerra
• Após a Segunda Guerra Mundial;
• Quadro de destruição de muitas cidades (extensas áreas
devastadas);
• Tentativa em salvar e reconstruir muitos centros urbanos;
• Novos rumos são dados aos debates sobre preservação;
• Nova postura relativa aos procedimentos para restauração é
instaurada;
• Necessidade – estudos Estética (realidade figurativa dos
monumentos);
• Maior ênfase aos valores formais (não desconsiderando os
históricos);
• Enfoque conceitual do período destaca-se a atuação e
abrangência das teorias desenvolvidas por Cesare Brandi.
Referência: Kühl, 2005/2006.
25. Intervenções – pós guerra
Reconstrução centro de Varsóvia – Praça do Mercado em 1944 e 1990
Fonte: Coisas da Arquitetura. Disponível em: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2015/10/10/o-pensamento-
fraco-em-arquitetura-ii/. Acesso em: agosto de 2020.
26. Intervenções – pós guerra
Fonte: https://simplesmenteberlim.com/as-marcas-da-segunda-
guerra-mundial-em-berlim/. Acesso em: agosto de 2020.
Fonte: https://simplesmenteberlim.com/mai45-fruhling-in-
berlin-maio45-primavera-em-berlim-exposicoes-e-eventos-
lembram-os-70-anos-do-fim-da-2a-guerra-mundial/
Acesso em: agosto de 2020.
Fonte: Wikipedia. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Memorial_Imperador_
Guilherme
Acesso em: agosto de 2020.
27. Brandi
• Italiano formado em direito e
letras, crítico e filósofo da arte;
• Teorias - frutos de práticas em
projetos de restauração; (ICR –
diretor durante 20 anos)
• A teoria conhecida como
“Restauro Crítico”;
• Restauração deve ser precedida
do reconhecimento do Objeto
como “obra de arte”;
• A análise crítica deve abordar
duas instâncias: estética e
histórica (primeira prevalece
sobre a segunda)
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Brandi
28. Brandi
• Livro publicado em 1963 ainda é referência;
“a restauração constitue o momento metodológico do
reconhecimento da obra de arte na sua consistência
física e na dupla polaridade estética e histórica, tendo
em vista sua transmissão ao futuro". (Brandi)
• Natureza da “obra de arte” vai condicionar a ação;
• Para restauração deve haver consistência física e
material;
• Não deve realizar Reconstrução;
• Restauração acaba onde começa a hipótese;
• Carta de Veneza de 1964 – baseada no “Restauro
Crítico” e na “teoria brandiana”.
29. Brandi
• Intervenções feitas a partir de leitura crítica;
• Matéria – suporte e imagem;
• Espaço – paisagem entorno importante para
entendimento objeto arquitetônico (ambiente
gerador);
• Tempo
. Criação – tempo original
. Passagem – trajetória do objeto (intervenções ao longo
do tempo que configuram estado atual)
. Reconhecimento – atitude crítica em momento
presente, ações devem ser reversíveis (momento
metodológico);
30. Brandi
• Unidade Potencial – Obra mantém-se nas suas
partes, não precisa estar inteira. Intervenções
inadequadas podem ser removidas, por falta de
integração estética (análise crítica);
• Instância Estética e Instância Histórica (valores, que
podem ser contraditórios). Quais aspectos mais
importantes?
• Conservação Preventiva
31. Ruínas da Igreja de Nossa Senhora “Frauenkirche”,
na cidade de Dresden, Alemanha (1967).
Imagem da Igreja de Nossa Senhora “Frauenkirche”,
na cidade de Dresden, Alemanha (2005)
Fonte: http://www.monumente-
online.de/10/02/leitartikel/Deutsche_Stiftung_Denkmalschutz_25_Jahre_Jubilaeum.php
• Frauenkirche, concluída em 1743 e destruída em 1945;
• reconstrução promovida somente no início da década de 90, após a
Reunificação;
Intervenções – pós guerra
ComoseriaoparecerdeBrandoparaessaintervenção?
(SOUZA, Luiz Antonio L. de. WIEDERAUFBAU: a Alemanha e o Sentido da
Reconstrução. Arquitextos, 2009. Fonte: Disponível em:
<https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.112/29> Acesso em:
09/10/19.
32. Roberto Panne e Renato Bonelli
• Restauração Crítico Criativa – Roberto Panne e
Renato Bonelli; (valores do objeto define possibilidade
e necessidade de intervenção / estabelece limites) –
anos 60;
• Enfoque conceitual: teoria de Cezare Brandi. (crítico e
filósofo da arte / 1906 - 1988);
• Deve haver conhecimento profundo do Objeto;
• Quadro resumo Prof. italiano De Angelis;
• Objetivo: Estabelecer texto autêntico do objeto;
33. Roberto Panne e Renato Bonelli
Ato Crítico : Juízo de valor limites e
parâmetro de intervenção.
• Ato Criativo: Complementa Ato Crítico. Busca
recompor a Unidade Potencial do Objeto, estabelecida
criticamente. (reversibilidade)
. Quanto mais íntegro, menor deve ser a intervenção.
. Intervenção feita de forma criativa, deve se diferenciar
do conjunto, porém dialogando com o antigo.
. Devemos manter e conservar as características
originais do objeto.
35. Referências
• BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. São Paulo, Ateliê, 2004.
• CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje. Tradução
Desígnio, São Paulo, n. 6, p. 35-47, 2006. Tradução: Beatriz Mugayar Kühl.
• CUNHA, Claudia dos Reis e. Alois Riegl e “O culto moderno dos monumentos”. Revista
CPC, São Paulo, v.1, n.2, p.6-16, maio/out. 2006 .
• CURY, Isabelle (Coord.). Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro: Edições do Patrimônio:
IPHAN, 2000. 384p.
• KÜHL, B. M. Cesare Brandi e a teoria da restauração. Revista PÓS, São Paulo, n. 21, p.
198-243, 2007.
• KÜHL, B. M (org.). GIOVANNONI, Gustavo. Textos escolhidos. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2013.
• KÜHL, B. M. Arquitetura do ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo: reflexões
sobre sua preservação. São Paulo: Atelier Editorial: Fapesp: Secretaria de Cultura,
1998.
• KÜHL, B. M. História e ética na conservação e na restauração de monumentos
históricos. Revista Cpc, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2005/2006.
• KÜHL, B. M. Notas sobre a Carta de Veneza. São Paulo: Anais do Museu Paulista, v.2,
n.2, p.287-320, 2010;
36. Referências
• MENICONI, Rodrigo Otávio de Marco. Compilação Elizabeth Sales de Carvalho. Curso
de Revitalização Urbana e Arquitetônica, UFMG. Notas de aula, disciplina Ateliê de
Conservação e Recuperação do Patrimônio Edificado, Belo Horizonte, 2004.
• Apostilas Especialização em Revitalização Urbana e Arquitetônica da UFMG. Prof.
Elizabeth Salles de Carvalho.
• Apostilas do Curso de Arquitetura e Urbanismo - Izabela Hendrix. Produzidas pelo
Prof. Rodrigo Meniconi.