1. Teorias e história da preservação do patrimônio.
AULA 01
DEBORAH PADULA KISHIMOTO
AGOSTO DE 2023
2. CONTEXTO INTERNACIONAL.
PATRIMÔNIOCULTURAL NA CONTEMPORANEIDADE
1º PERÍODO - CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS (Séculos XVIII e XIX )
A Revolução Francesa, a constituição dos estados nação e a institucionalização das práticas de preservação
A constituição da preservação como umcampo do conhecimento
2º PERÍODO - PATRIMÔNIO CULTURAL NA AGENDA DA PAZ MUNDIAL (1919 a1970)
Entre as duas guerras mundiais
Pós- Segunda Guerra Mundial – respeito à cultura de todos os povos
3º PERÍODO – PATRIMÔNIO NA AGENDA POLÍTICA EDO DESENVOLVIMENTO (1970 ...)
Processo deenvolvimento continental /regional para inclusão da cultura na agenda das políticas públicas e do desenvolvimento econômico.
Aproximação entrepatrimônio cultural e natural, cooperação, produção deconhecimento e patrimônio e diversidade/identidades.
A apropriação do patrimônio culturalpara o consumo visual – enobrecimento e o seu uso como produtos na disputa entre cidades em um
mercado globalizado.
3. 1º PERÍODO -
CONSTITUIÇÃO DOS
ESTADOS NACIONAIS
(Séculos XVIII e XIX )
Século XVIII e XIX as discussões
se concentraram na Europa
ocidental -
restauração, conservação, uso
e apropriação de bens,
desenvolvimento da
arqueologia etc.
Origem das práticas de
preservação e influência sobre
as práticas de construção
do patrimônio no mundo.
4. Palácio de Versalhes – Castelo real desde 1682, quando abrigouLuís XIV até 1789
SéculoXVIII - Revolução Francesa
Criação do Estado-nação, símbolos nacionais, instrumentos jurídicos. Surge, também, a noção de patrimônio como algo a ser
preservado, (...)
MONUMENTO HISTÓRICO - consagrado em 1830, quando foi criada a Inspetoria dos Monumentos Históricos (França)
estabelecendo a institucionalização da conservação do monumento histórico, uma jurisdição de proteção e fazendo da
restauração uma disciplina autônoma.
Canção revolucionária (1792), hino (1795) e hino
nacional(1830)
6. 2º PERÍODO - PATRIMÔNIO CULTURAL NA AGENDA DA PAZ MUNDIAL (1919 a 1972)
• A Convenção de Haia de 1889 foi o primeiro documento que estipulou proibição ao
confisco, a destruição ou qualquer dano aos monumentos históricos, aos objetos de
arte e ciência, assim como a proteção de bens religiosos e educacionais. (Artigo 56
referente à crimes de guerra).
• No entanto, foi a partir da Primeira Guerra Mundial que se institucionalizou uma
ação que inclui o patrimônio cultural na agenda da paz mundial.
7. Quando da criação do SPHAN, em 1937, duas cartas internacionais
já indicavam princípios para a intervenção na vizinhança de monumentos
antigos ou históricos e que foram norteadores das ações do IPHAN:
▪ Carta de Atenas, de 1931 (Conferência do Escritório
Internacional de Museus, da Sociedade das Nações)
▪ Carta de Atenas, de 1933 (4º Congresso Internacional de
Arquitetura Moderna) – teoria e metodologia de planejamento
7
8. Carta de Atenas
Essa denominação indica dois escritos distintos, produzidos por instâncias diferentes:
Carta de Atenas (1931) - elaborada pelo 1º Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos e Carta de
Atenas (1933) - redigida no âmbito do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM
Os documentos apresentam dois enfoques distintos apontando para as particularidades de dois segmentos daquele contexto: de um lado,
os arquitetos voltados à ação de conservação do patrimônio arquitetônico e urbano; de outro, os setores engajados com o Movimento
Moderno.
Sobre a carta do encontro realizado em 1933, se conhece várias versões: a primeira corresponde à ata do IV CIAM, publicada nos Anais
Técnicos da Câmara Técnica de Atenas; a segunda, publicada em 1941, sob o título de “A Carta de Atenas”, atribuída a Le Corbusier, na
qual o arquiteto teria acrescentado tópicos e ênfases particulares ao conteúdo do documento dos Anais. A terceira, de autoria de José-
Luis Sert, foi publicada nos Estados Unidos em 1942, como parte da obra Can Our Cities Survive? Há, ainda, referência a uma quarta
versão publicada em holandês, cujo conteúdo confronta o texto de Le Corbusier com o da data do IV Congresso.
Cf. ALMEIDA, Eneida. Uma releitura dasCartas de Atenas. Disponível em < ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/5_60.pdf>
9. Carta de Atenas - 1933
CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – 1933
1 - A Cidade é só uma parte de um conjunto econômico, social e político que constitui a região.
Raramente a unidade administrativa coincide com a unidade geográfica, ou seja, com a região.
(...)
6 - No decorrer da História, circunstâncias particulares determinaram as características da cidade: defesa
militar, descobertas científicas, administrações sucessivas, desenvolvimento progressivo das
comunicações e dos meios de transporte (rotas terrestres, fluviais e marítimas, ferroviárias e aéreas).
A história está inscrita no traçado e na arquitetura das cidades. Aquilo que deles subsiste forma
o fio condutor que, juntamente com os textos e os documentos gráficos, permite a
representação de imagens sucessivas do passado. Os motivos que deram origem às cidades
foram de natureza diversa. (...) Podemos encontrar ainda no desenho das cidades o primeiro núcleo
compacto do burgo, as muralhas sucessivas e o traçado dos caminhos divergentes.
10. Construção da noção de patrimônio cultural no Brasil
A década de 1930/1967 – A fase heroica
A necessidade de preservar os imóveis históricos – Institucionalização da preservação do patrimônio
histórico e artístico nacional.
Construção de uma Identidade Nacional
Construção de uma legitimidade Nacional
Construção de uma memória coletiva
Construção de um Estado unificado
Construção da Cultura brasileira.
Os responsáveis: Gustavo Capanema – Ministro da Educação e Saúde (1930)
Mário de Andrade - Anteprojeto de 1936
Rodrigo M. F. De Andrade - Texto do Decreto- Lei 25/1937
11. Construção de valor no campo do Patrimônio Cultural.
O Estadoera o responsável na atribuição de valores;
- Monumental;
- Nacional;
- Excepcional.
Legados deixados até hoje.
12. Intelectuais Modernistas
Estilo Barroco Mineiro – Artístico Nacional
Arquitetura Colonial
O que gostaria que fosse a imagem da Nação Brasileira;
Quais seriam os objetos que representaria a verdadeira cultura brasileira;
A legitimidade artística Brasileira.
Construção de valor no campo do Patrimônio Cultural.
13. História da preservação do
patrimônio histórico no Brasil
“...colocar em evidência aspectos das políticas públicas para o
campo do patrimônio cultural no Brasil a partir da construção
histórica da noção de patrimônio, distanciando-se da
concepção de uma linha de continuidade em que bens
culturais de diferentes naturezas e tipos foram sendo
agregados a essa categoria, segundo qual praticamente tudo
pode ser patrimonializado.” (CHUVA, 2011, p.149)
Serra da Capivara, São Raimundo Nonato, Piauí
14. Texto: A rosa por outro nome tão doce...seria?
Autora: Ruth Verde Zein, Anita di Marco
Publicado: 7º Seminário Docomomo Brasil,Porto Alegre, 2007.
Esclarecimentos gerais:
(séc. XVIII) Giuseppe Valadier: RestauroArqueológico
(1814-1879)Violet Le-Duc : RestauroEstilístico
(1818-1900)John Ruskin : RestauroRomântico
(1836– 1914)Camilo Boito: Restauro Histórico (Monumentoe Documento)
Restauro Moderno (Ato excepcional)
(1873– 1943)GustavoGiovannoni : Restauro Científico (valor de documento é maior que a real forma)
Carta de Restauraçãode Atenas (1931)/Inventários(1932)Rest. Italiano
15. (1843 – 1903) Camillo Sitte: Tecido Urbano tradicional + edificação como meio circundante
(1858 - 1905)Alois Riegl: Criou o Inventário dos bens austríacos
(1940) Cesare Brandi: Restauro Crítico – Reconhecimento como Obra de Arte
- Cesare Brandi, Roberto Pane, Pietro Gazzala e Renato Bonelli: Carta de Veneza (1964)
- Contribuição da Carta de Veneza: Cada país possui a tarefa de empregar as terminologias de acordo com sua cultura;
- Ampliou da noção de patrimônio cultural para abranger a arquitetura não excepcional e o entorno;
-Preservação como “procedimento interdisciplinar”
Uso constante da edificação como garantia da conservação;
Restauração termina quando começa as hipóteses e conjecturas”
(1950) Restauro Urbanístico – requalificação de todo o ambiente urbano, as reutilizações dos imóveis.
Texto: A rosa por outro nome tão doce...seria?
Continuação
16. Teoria da Restauração – Cesare Brandi
Debate em sala sobre o livro
Capitulo 1
Capitulo 3
Apêndice 2
Apêndice 3
Definição do imóvel a ser trabalhado
17. Panorama geral da obra:
Publicado em 1964;
Uma das principais referenciais teóricos para as práticas de restauro;
É a base teórica para documentos patrimoniais, como exemplo Carta de
Veneza (1964);
A concepção de restauro para Brandi, era de uma intervenção voltada a
dar novamente a eficiência a um produto da atividade humana.
Mas...
Questiona as distintas restaurações, no caso, de um produto industrial e
de uma obra de arte;
O objetivo de devolver um uso a obra de arte jamais deve ser o fim
principal, pois no caso das obras de artes é indissociável a matéria da
imagem. http://www.atelie.c
om.br/shop/img/loj
a/249_01.jpg
18. O autor, assim, preconizava a importância do caráter de
reversibilidade que as intervenções deveriam seguir.
Brandi conclui que a restauração não pode presumir nem o
tempo passado como reversível, nem a abolição da historia, a
ação do restauro deve ser pontuada como evento histórico, tal
como é, pelo fato de ser ato humano e de se inserir no processo
de transmissão da obra de arte para o futuro. O autor entende
que “na atuação prática essa exigência histórica deverá traduzir-
se não apenas na diferença das zonas integradas, mas também
no respeito pela pátina, que pode ser concebida como o próprio
sedimentar-se do tempo sobre a obra”. Grifo nosso.
Imagem 01: Cesare Brandi
19. 1. O conceito de Restauro
Os conceitos de restauro e de obra de arte são os entendimentos centrais
da Teoria de Restauro;
Conceito RESTAURO:
- Qualquer intervenção voltada a eficiência ao produto da atividade
humana;
“... A restauração constitui o momento metodológico do reconhecimento
da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade
estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro”
(BRANDI,2004, p.30)
“ ... A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da
obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico
ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra
de arte no tempo. Grifo nosso.
Imagem 03: Escultura de David.
Autor: Michelangelo,1504.
20. 3. A Unidade Potencial da Obra de Arte
Necessário fazer as referencias para definir os limites da
restauração. (BRANDI,2004,P.41)
Critérios de intervenção:
1º a intervenção deverá sempre ser facilmente
reconhecível, sem infringir a unidade reconstruída;
2º Matéria que resulta a imagem, os suportes, as
estruturas portantes;
3º “se refere ao futuro: prescreve que qualquer
intervenção de restauro facilite as eventuais intervenções
futuras;
Imagem 03. Restauraçãochamada
arqueológicaFonte:Sítio
Eletrônico.
21. Imagem 05: Anunciação,1474.
por Antonelloda Messina
3. A Unidade Potencial da Obra de Arte
A analise das formas (gestaltimos) ajuda a
interpretar o sentido da lacuna e a buscar
os meios para neutraliza-la. (BRANDI,2004,
p.49)
*Gestaltismo: teoria psicológica que
considera os fenômenos como conjuntos
constitutivos de unidades autônomas,
dotadas de solidariedade interna e de leis
próprias; teoriada forma.
- Mutilação da imagem = desvalorização;
-Tinta neutra, deixar-se perceber a
continuidade da pintura sob a mancha;
(mancha no vidro = lacuna) Imagem 06: Anunciação,1474.
por Antonelloda Messina.
Outras intervenções.
22. Apêndice 2.
Apostila Teórica para o Tratamento das Lacunas.
Dizer para que consiste a premissateórica e assim assegurar a racionalidade do tratamento das
lacunas;
Sobre a obra de arte; aspectos que vão da sua consistência material, do estado de conservação
até a apresentação museográfica;
Tratamento da Obra de arte como circuito fechado, apenas intervir nos casos de conservação da
estrutura material;
Não podemos interver o curso do tempo – importante deixar As Marcas do Tempo. – seus
valores de antiguidade.
A questão do gestaltimos comoferramenta de trabalho.
23. Apêndice 2.
Apostila Teórica para o Tratamento das Lacunas.
“...A nossa única postura, em relação à obra de arte que entrou no mundo da vida, é considerar
a obra de arte na presença atual que se faz realidade em nossa consciência e de restringir nosso
comportamentoem relação à obra de arte ao respeito pela obra de arte, o que implica a sua
conservação e o respeito à integridade daquilo que chegou até nós, sem prejudicar o seu
futuro.”(p.126)
“...não demos receitas e não as daremos; mas o principio não muda e os dois monumentos da
história da arte permanecerão sempre distintos, assim como permanece distinta a historicidade
da obra de arte como criação do artista, da historicidade de que gozauma vez que entrou no
mundo da vida”.(p.129)
24. Apêndice 3.
Princípios para a Restauração dos Monumentos
Instancia histórica e Estética recaem sobre as questões dos
monumentos históricos, obras de arte e restauro
arquitetônico;
Em caso de necessidade, a possibilidade de reconstruir –
ainda que não totalmente – o bem cultural, utilizando de
sua anastilose no próprio lugar.
ANASTILOSE. Sig. substantivofeminino
restauração de monumento(s) ou construções em que se
reagrupam as partes arruinadas, utilizando-se, se
necessário, novos materiais;
Imagem 08: exemplo de anastilose
25. Apêndice 3.
Princípios para a Restauração dos Monumentos
Inabilidade do Monumento:
Ilegitimidade da decomposição e recomposição de um
monumentoem outro lugar – invalida como obra de arte;
Sobrepor a questão estética sobre a histórica anulando seus
valores imateriais;
Imagem 07: Acervo Museu do Louvre.
26. Imagem 02: Parthenon. Atenas, Grécia.
Apêndice 3.
Princípios para a Restauração dos Monumentos
A legitimidade da decomposição e
recomposição ligada apenas a salvaguarda
do monumento, quando não for possível
assegurar a sua salvação de outro modo,
mas sempre e somente em relação ao sitio
histórico onde foi realizado. (p.134)
27. Apêndice 3.
Princípios para a Restauração dos Monumentos
Exemplos de Brandi.
Imagem 09: colinaSan Miniatoal Todesco Imagem 10: Torre de Frederico II
Abatidapelos alemães
28. Apêndice 3.
Princípios para a Restauração dos Monumentos
Imagem 11: Praça Navona.Itália.
Exemplos de Brandi.
Imagem 12: Intervençãopor contraste
A elaboraçãode uma intervençãode maneira originalinserindo uma imagem novano sítio histórico.
29. Concluir que...
A teoria da restauração construída por Brandi traz contribuições absolutamente validas para os
dias atuais. A maior delas foi, sem dúvida, romper com as abordagens anteriores que definiam
fórmulas prontas e fechadas de restauro, como o fizeram Ruskin e Viollet-le-Duc, ao propor uma
metodologia de restauro, aplicável a qualquer tempo e em qualquer lugar, estritamente
vinculada as características do bem. (LIRA, 2012)
30. Próxima Aula
RODA DE CONVERSA E APRESENTAÇÃO DAS CARTAS PATRIMONIAIS - PPT MAXIMO 10 SLIDES
1931 - Carta de Atenas
1964 - Carta de Veneza
1964 - Carta de Brasília
1967 - Normas de Quito
1972 - Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural
1975 - Manifesto de Amsterdã
1976 - Recomendação de Nairobi
1977 - Carta de Machu Picchu
1980 - Carta de Burra
1988 - Constituição Federal do Brasil
2003 - Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (2003)
2010 - Plano Nacional de Cultura (2010)
31. Referências bibliográficas da aula.
Bibliografias:
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Tradução Beatriz MugayarKuhl; Cotia, SP: Atelie
Editorial, 2004.
LIRA, Flaviana Barreto. Teoria do RestauroII. Centro de Estudos Avançados da Conservação
Integrada – CECI, 2012.
62. 1a Fase heróica
2ª Fase moderna
3a Fase monumento
Na atualidade,a área do patrimônioenglobaum
conjuntosignificativode questões de ordem politica,
de relações de poder, de campos de forças e âmbitos
do social;
• Propriedade intelectual
• Meio ambiente
• Direitosculturais
• Direitosdifusos
• Direitosautorais
• Impacto cultural pelo grande empreendimentos
• Questões de urbanismo
• Uso do solo
• Expansões urbanassobre áreas históricas
decadentes
• Questões habitacionaisem áreas históricas
urbanas
• Os limitesque o tombamentoimpõe à
propriedadeprivada
63. Resumo
Patrimônio Cultural constitui em uma atribuição de valor de um grupo ou sociedade que
reconhecem o bem cultural, sejam eles materiais ou imateriais;
Os pensamentos e ideais impressos desde os anos 30 ainda são praticados por algumas
vertentes intelectuais, sendo importante compreender!
Na atualidade as leis, portarias, instruções normativas e etc são o instrumento utilizado pelas
instituições para balizar as ações institucionalizadas.