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O que é a cultura do estupro e por que é preciso
falar sobre ela Ana Freitas 27 Mai 2016
O estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro e a divulgação do vídeo do crime em redes sociais
colocou em evidência o debate público sobre cultura do estupro, o mecanismo de aceitação e replicação de conceitos
que normalizam o estupro com base em construções sociais sobre gênero e sexualidade. A cultura do estupro só é
possível em um contexto em que haja profunda desigualdade de gênero. Para que ela exista, é preciso que haja uma
constante desumanização da mulher e objetificação de seu corpo.
Como funciona a cultura do estupro
A cultura do estupro é uma construção que envolve crenças e normas de comportamento, estabelecidas a partir de
valores específicos, que acabam banalizando, legitimando e tolerando a violência sexual contra a mulher.
A maioria dessas normas está calcada na noção de que o valor da mulher como ser humano está atrelado a uma lista de
condutas que envolvem, frequentemente, uma moralidade relacionada à sexualidade.
O problema está na subjetividade desse conjunto de condutas e na maneira como elas se prestam a controlar o corpo, a
liberdade e a sexualidade da mulher. A existência dessas normas já caracteriza uma falta de direito da mulher sobre o
próprio corpo e suas vontades.
A partir daí, socialmente aceita-se que ela seja desumanizada e seja vista como um objeto. É por isso que há a ideia de
que existem mulheres “com valor” e “sem valor” - só objetos perdem valor.
“A mulher é desumanizada - não é sequer um objeto, é quase como se elas não fossem humanas. E se não
forem humanas, são passíveis de estupro, assassinato. Tira-se o direito da mulher sobre o corpo dela e ele
se torna da família, do homem, da igreja e da lei, mas nunca dela mesma.” Silvana Nascimento (Professora
do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo)
Outro elemento que aparece quando o valor da mulher é conectado com o controle de sua sexualidade é a ideia de que
é necessário preservar sua castidade para ser vista como digna de valor e respeito.
A discussão sobre consentimento passa pelo controle da sexualidade feminina e, ainda hoje,
a ideia de que “quando mulher fala ‘não’, quer dizer ‘sim’”, que segue corrente no senso
comum, ajuda a compor esse quadro.
É esse pano de fundo que, diante da notícia de um estupro, permite comentários que
questionam a roupa que a vítima usava, o que ela fazia na rua à noite ou se ela não teria
“provocado” o agressor. Nesse contexto, a culpa do estupro muitas vezes é atribuída à
mulher e a responsabilidade de evitá-lo também é sua responsabilidade.
As experiências de agressão sexual em diferentes escalas sofridas por mulheres no cotidiano
- entre elas, o assédio nas ruas e as piadas machistas, por exemplo - compartilham princípios
comuns: desigualdade de gênero, desumanização e desqualificação das mulheres. Em
outras palavras, ainda que as agressões tenham versões e consequências diferentes, são
resultado de um repertório compartilhado e socialmente aceito.
O termo “cultura do estupro” foi usado pela primeira vez nos anos 1970, por ativistas da segunda onda do feminismo,
como uma maneira de tentar explicar por que o estupro era um crime tão comum, ao contrário do que se imaginava.
1) O que faz ser possível a cultura do esturpo?
2)Exemplifique situações onde a mulher é objeto.
3) Onde começa a cultura do estupro?
As experiências de agressão sexual em diferentes escalas sofridas por mulheres no cotidiano - entre elas, o assédio nas
ruas e as piadas machistas, por exemplo - compartilham princípios comuns: desigualdade de gênero, desumanização e
desqualificação das mulheres. Em outras palavras, ainda que as agressões tenham versões e consequências diferentes,
são resultados de um repertório compartilhado e socialmente aceito.
A despeito do alto número de estupros no Brasil, especialmente por homens próximos da vítima, é recorrente que uma
cultura em torno da prática seja negada. Para a pesquisadora Arielle Sagrillo Scarpati, mestre em Psicologia pela
Universidade Federal do Espírito Santo e doutoranda em Psicologia Forense pela University of Kent, na Inglaterra, isso
acontece principalmente por três motivos:
• Entre homens, porque reconhecê-la enquanto demanda leva a necessidade de rever pequenos comportamentos
e hábitos que foram ensinados como normais e são parte inerente de seus conceitos de masculinidade desde a
infância. “Isso pode ser muito doloroso”, diz ela.
• Entre mulheres, porque acreditar que há uma lista de condutas que podem protegê-las do estupro gera conforto
e segurança. “Afasta a mulher da posição de possível vítima”, explica.
• Por que o estupro é visto como um dos piores crimes que existem, também é doloroso assumir que há um
mecanismo cultural que faz com que homens que sejam parte do círculo de relações sociais estuprem mulheres
- pode ser difícil se livrar da noção de que esses homens próximos sejam “monstros”, por exemplo.
4) Quais mecanismos existem entre homens e mulheres que auxiliam a negação da cultura do estupro?
5) A partir da leitura do texto, podemos identificar a cultura do estupro como algo cotidiano e presente em toda
a sociedade. Escreva como você percebe esse problema social a partir das suas experiências e vivências, faça uma
reflexão sobre como essa cultura está presente em cada um de nós e como nossas atitudes podem colaborar ou enfrentar
essa questão.

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Aula0706 (cultura do estupro - roteiro de leitura)

  • 1. O que é a cultura do estupro e por que é preciso falar sobre ela Ana Freitas 27 Mai 2016 O estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro e a divulgação do vídeo do crime em redes sociais colocou em evidência o debate público sobre cultura do estupro, o mecanismo de aceitação e replicação de conceitos que normalizam o estupro com base em construções sociais sobre gênero e sexualidade. A cultura do estupro só é possível em um contexto em que haja profunda desigualdade de gênero. Para que ela exista, é preciso que haja uma constante desumanização da mulher e objetificação de seu corpo. Como funciona a cultura do estupro A cultura do estupro é uma construção que envolve crenças e normas de comportamento, estabelecidas a partir de valores específicos, que acabam banalizando, legitimando e tolerando a violência sexual contra a mulher. A maioria dessas normas está calcada na noção de que o valor da mulher como ser humano está atrelado a uma lista de condutas que envolvem, frequentemente, uma moralidade relacionada à sexualidade. O problema está na subjetividade desse conjunto de condutas e na maneira como elas se prestam a controlar o corpo, a liberdade e a sexualidade da mulher. A existência dessas normas já caracteriza uma falta de direito da mulher sobre o próprio corpo e suas vontades. A partir daí, socialmente aceita-se que ela seja desumanizada e seja vista como um objeto. É por isso que há a ideia de que existem mulheres “com valor” e “sem valor” - só objetos perdem valor. “A mulher é desumanizada - não é sequer um objeto, é quase como se elas não fossem humanas. E se não forem humanas, são passíveis de estupro, assassinato. Tira-se o direito da mulher sobre o corpo dela e ele se torna da família, do homem, da igreja e da lei, mas nunca dela mesma.” Silvana Nascimento (Professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo) Outro elemento que aparece quando o valor da mulher é conectado com o controle de sua sexualidade é a ideia de que é necessário preservar sua castidade para ser vista como digna de valor e respeito. A discussão sobre consentimento passa pelo controle da sexualidade feminina e, ainda hoje, a ideia de que “quando mulher fala ‘não’, quer dizer ‘sim’”, que segue corrente no senso comum, ajuda a compor esse quadro. É esse pano de fundo que, diante da notícia de um estupro, permite comentários que questionam a roupa que a vítima usava, o que ela fazia na rua à noite ou se ela não teria “provocado” o agressor. Nesse contexto, a culpa do estupro muitas vezes é atribuída à mulher e a responsabilidade de evitá-lo também é sua responsabilidade. As experiências de agressão sexual em diferentes escalas sofridas por mulheres no cotidiano - entre elas, o assédio nas ruas e as piadas machistas, por exemplo - compartilham princípios comuns: desigualdade de gênero, desumanização e desqualificação das mulheres. Em outras palavras, ainda que as agressões tenham versões e consequências diferentes, são resultado de um repertório compartilhado e socialmente aceito. O termo “cultura do estupro” foi usado pela primeira vez nos anos 1970, por ativistas da segunda onda do feminismo, como uma maneira de tentar explicar por que o estupro era um crime tão comum, ao contrário do que se imaginava. 1) O que faz ser possível a cultura do esturpo? 2)Exemplifique situações onde a mulher é objeto. 3) Onde começa a cultura do estupro?
  • 2. As experiências de agressão sexual em diferentes escalas sofridas por mulheres no cotidiano - entre elas, o assédio nas ruas e as piadas machistas, por exemplo - compartilham princípios comuns: desigualdade de gênero, desumanização e desqualificação das mulheres. Em outras palavras, ainda que as agressões tenham versões e consequências diferentes, são resultados de um repertório compartilhado e socialmente aceito. A despeito do alto número de estupros no Brasil, especialmente por homens próximos da vítima, é recorrente que uma cultura em torno da prática seja negada. Para a pesquisadora Arielle Sagrillo Scarpati, mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutoranda em Psicologia Forense pela University of Kent, na Inglaterra, isso acontece principalmente por três motivos: • Entre homens, porque reconhecê-la enquanto demanda leva a necessidade de rever pequenos comportamentos e hábitos que foram ensinados como normais e são parte inerente de seus conceitos de masculinidade desde a infância. “Isso pode ser muito doloroso”, diz ela. • Entre mulheres, porque acreditar que há uma lista de condutas que podem protegê-las do estupro gera conforto e segurança. “Afasta a mulher da posição de possível vítima”, explica. • Por que o estupro é visto como um dos piores crimes que existem, também é doloroso assumir que há um mecanismo cultural que faz com que homens que sejam parte do círculo de relações sociais estuprem mulheres - pode ser difícil se livrar da noção de que esses homens próximos sejam “monstros”, por exemplo. 4) Quais mecanismos existem entre homens e mulheres que auxiliam a negação da cultura do estupro? 5) A partir da leitura do texto, podemos identificar a cultura do estupro como algo cotidiano e presente em toda a sociedade. Escreva como você percebe esse problema social a partir das suas experiências e vivências, faça uma reflexão sobre como essa cultura está presente em cada um de nós e como nossas atitudes podem colaborar ou enfrentar essa questão.