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monoclonais
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ARTIGO DE REVISÃO
Aplicações terapêuticas dos anticorpos monoclonais
Monoclonal antibodies therapeutic applications
Rosaly V. dos Santos¹, Plínio M. G. de Lima2, Anderson Nitsche2,
Fabielle M. Harth2, Fernando Y. de Melo2, Helcio T. Akamatsu2, Hermênio C. Lima³
Resumo
Objetivo: Conduzir e apresentar revisão da literatura so-
bre a produção e uso clínico dos anticorpos monoclonais em-
pregados no tratamento de doenças.
Métodos: Revisão sistemática de trabalhos científicos rele-
vantes de banco de dados eletrônicos até janeiro de 2006. Fo-
ram selecionados artigos que abordassem o tema “anticorpos
monoclonais” nos seguintes aspectos: definição, mecanismo de
ação, aplicação terapêutica e efeitos colaterais.
Resultados: Muitos anticorpos monoclonais estão licencia-
dos para uso clínico e outros em desenvolvimento clínico avan-
çado. As terapias baseadas neste grupo de biológicos apresen-
tam vantagens e desvantagens quando comparadas a terapias
convencionais. Versatilidade, especificidade, e ações não repro-
duzidas pelas drogas tradicionais são as vantagens desses bio-
terápicos. Entretanto, o alto custo reduz seu uso em larga es-
cala.
Conclusão: Nos últimos anos anticorpos monoclonais pas-
saram a ser uma terapia de primeira linha para uma variedade
de condições que incluem infecções virais, distúrbios inflama-
tórios e neoplasias, além do mais, terapias baseadas em anti-
corpos podem ser desenvolvidas com sucesso para uso em si-
tuações clínicas onde nenhuma terapia efetiva esteja disponí-
vel. Médicos de diversas especialidades precisarão de mais ex-
periências clínicas para usarem rotineiramente esses compos-
tos e entenderem seus mecanismos básicos de ação.
Rev. bras. alerg. imunopatol. 2006; 29(2):77-85 anticorpos
monoclonais; tratamento, câncer; doenças auto-imunes; qui-
mioterapia.
Abstract
Objective: To conduct and present a literature review on
monoclonal antibodies production and clinical use for illnesses
treatment.
Methods: A systematic review of scientific literature on
electronic data base until January of 2006. Articles had been
selected that approached the subject "monoclonal antibodies"
in the following aspects: definition, mechanism of action, the-
rapeutical application and side-effect.
Results: Many monoclonal antibodies are permitted for cli-
nical use and others in advanced clinical development. The the-
rapies based on this biological group present advantages and
disadvantages when compared to conventional therapies. Ver-
satility, specificity, and actions not reproduced by traditional
drugs are the advantages of these biotherapeutics. However,
the high cost reduces its use in wide scale.
Conclusion: In the last years, monoclonal antibodies had
started to be the first line therapy or a variety of conditions
that include inflammatory, infectious, neoplasic diseases. The-
rapies based on antibodies can be developed successfully for
use in clinical situations where no therapy is available. Doctors
from different specialties will need more clinical experiences to
use routinely these composites and to understand its mecha-
nisms basic of action.
Rev. bras. alerg. imunopatol. 2006; 29(2):77-85 mono-
clonal antibodies; treatment; cancer; autoimmune diseases;
chemotherapy.
1. Especialista em Alergologia e Mestre em Pediatria pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR).
2. Alunos do 9° período do curso de medicina da UFPR.
3. Especialista em Alergologia, Imunolopatologia e Dermatologia,
Doutor em Imunologia pela Harvard University, Professor
Adjunto IV do Departamento de Patologia Médica, chefe da
Disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da UFPR,
Coordenador do Núcleo de Pesquisas em Imunodermatologia e
Imunologia Clínica da UFPR.
Artigo submetido em 21.08.2005, aceito em 11.03.2006.
Introdução
Histórico e desenvolvimento de anticorpos mono-
clonais
A era moderna da Imunologia teve início em 1890 com
a descoberta dos anticorpos como componentes principais
da imunidade protetora1
. Paul Ehrlich, no início do século
XX, quando mecanismos de especificidade como a ligação
entre antígeno e anticorpo já eram conhecidos, propôs um
modelo no qual o fármaco é ligado a um transportador es-
pecífico exibindo sua atividade farmacológica apenas no te-
cido alvo. Assim, os efeitos indesejáveis resultantes da sua
ação em outros tecidos seriam largamente diminuídos, en-
quanto o aumento da eficiência permitiria o decréscimo da
dose administrada. Esse modelo ficou conhecido por “Bala
Mágica de Ehrlich”2
.
No entanto, a resposta do sistema imunológico a qual-
quer antígeno é policlonal. Partindo da idéia já existente de
se criar uma substância que se ligasse, por exemplo, so-
mente às células cancerígenas no paciente, ou que des-
truísse essas células, e não as células normais, é que, em
1975, Georges J. F. Köhler e César Milstein descreveram os
primeiros anticorpos monoclonais com a descoberta da téc-
nica de hibridização celular somática, tendo como resultado
os hibridomas ou híbridos de células formadoras de anti-
corpo e linhagens celulares de replicação contínua (figura
1). Esta técnica consiste na fusão de esplenócitos de ca-
06/29-02/77
Rev. bras. alerg. imunopatol.
Copyright © 2006 by ASBAI
77
mundongos, imunizados a determinado antígeno, com cé-
lulas do mieloma. É utilizado um agente para facilitar a fu-
são das membranas plasmáticas adjacentes. A linhagem
celular de replicação é selecionada pela ausência de ativi-
dade de hipoxantina-fosforribosil transferase (HPRT) e au-
sência de produção ou secreção de imunoglobulinas. A par-
tir da fusão celular, três populações de células permane-
cem em cultura: esplenócitos, células do mieloma e os hí-
bridos. No meio de cultura HAT (hipoxantina, aminopterina
e timidina), as células HPRT não podem produzir hipoxanti-
na exógena para produzir purinas. Quando expostas a ami-
nopterina, elas são incapazes de utilizar a via endógena de
purinas e pirimidinas e ficam completamente dependentes
da HPRT para sobrevivência, ocasionando a morte da li-
nhagem de células do mieloma. Aguarda-se a morte natu-
ral dos esplenócitos, já que eles não podem crescer indefi-
nidamente pelo tempo médio de vida limitado. Os híbridos
são capazes de crescer indefinidamente e começam a se
multiplicar, com formação rápida de colônias. As células do
hibridoma são clonadas, e os sobrenadantes são testados
quanto à produção de anticorpos. São realizados extensos
testes para garantir a especificidade dos anticorpos. Podem
ser produzidas grandes quantidades de anticorpo in vitro
(em meios de cultura) ou in vivo (no líquido ascítico de ca-
mundongos). Essa descoberta lhes rendeu o prêmio Nobel
de Medicina e Fisiologia3
.
Figura 1 - Técnica de hibridização celular somática: 1. células tumorais são injetadas no camundongo para estimular a produção de linfócitos
B, que produzem diferentes tipos de anticorpos anti-tumor. 2. Células do mieloma são coletadas. 3. Linfócitos B são fundidos com as células do
mieloma para produzir células híbridas produtoras de anticorpos imortalizadas. 4. Híbridos que produzem o anticorpo necessário são seleciona-
dos e clonados para produzir quantidades ilimitadas de anticorpo monoclonal.
Apesar de a técnica ter sido descrita em 1975, seu uso
clínico, diagnóstico e terapêutico iniciou-se após a associa-
ção com a engenharia genética, já que os anticorpos de ca-
mundongos (também chamados de anticorpos murinos)
são “vistos” pelo sistema imune como estranho e o orga-
nismo humano pode produzir HAMA (anticorpos humanos
antianticorpos de camundongos), o que causa não só a rá-
pida eliminação destes anticorpos pelo hospedeiro como
também a formação de complexos imunes, que causam le-
são aos rins4
.
Usando a engenharia genética, foi possível produzir an-
ticorpos humano-camundongo híbridos, na tentativa de re-
duzir o problema do HAMA, e são chamados de anticorpos
quiméricos ou humanizados. O anticorpo quimérico é o an-
ticorpo que apresenta a combinação da região variável do
anticorpo de camundongo com a região constante do anti-
corpo humano. O anticorpo humanizado apresenta somen-
te as regiões hipervariáveis do anticorpo de camundongo,
e o restante de moléculas de anticorpo humano. Isto per-
mite a construção de anticorpos monoclonais sob medida
para o sítio de ligação mas com possíveis variações no ta-
manho, configuração, valência, e funções de ação5
.
Nomenclatura
Um fato que chama atenção nestas novas medicações é
a nomenclatura. Convenções para se definir uma nomen-
clatura de anticorpos e fragmentos de anticorpos foram es-
tabelecidas nos Estados Unidos. Quatro ou mais sílabas em
cada nome revelam muita informação sobre cada produto.
Os nomes que terminam com o sufixo “mab”, que significa
monoclonal antibody (anticorpo monoclonal) são precedi-
dos por uma ou duas letras que descrevem a fonte do anti-
corpo: letra “U” para o ser humano; “O” para o camundon-
go; “E” para o hamster; “I” para o primata; “A” para o ra-
to; “ZU” para humanizado; e “XI” para quimérico.
O alvo ou a doença de indicação do anticorpo é desig-
nado com uma sílaba interna adicional no jargão do órgão
regulador de nomenclatura, denominada “infix”, que pode-
mos chamar de prefixo. Estas sílabas incluem: “bac” para
bacteriano, “lim” para o imunomodulador, “mel” para o
melanoma, “pr(o)” para o tumor de próstata, “gov” para o
tumor de gônada (ovário), “ci(r)” para cardiovascular, “vir”
para viral, “col”para o tumor de colo, “mar” para o tumor
mamário, “got” para o tumor de gônada (testículo) e “tum”
para outros tumores. O prefixo é precedido por uma sílaba
Anticorpo
Linfócito B
Células do mieloma
Híbrido A
Híbrido B
Híbrido C
78 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
compatível que designa o produto para terminar o nome.
Monte todas as partes e palavras como biciromab, seviru-
mab, edobacumab e nebacumab começam a fazer sentido.
Se outra molécula for adicionada ao anticorpo, uma pa-
lavra separada será adicionada ao nome. Se uma toxina for
adicionada, o “tox” deve ser parte da segunda palavra. Co-
mo exemplo, “aritox” refere-se à toxina A da ricina, e “su-
dotox”, à exotoxina da Pseudomonas aeruginosa. Pende-
tide ou pentetate também são palavras utilizadas para todo
ligante que prende o anticorpo a uma toxina ou isótopo.
Um resumo da nomenclatura seria: final com “mab” são
anticorpos monoclonais; final em “ximab” são monoclonais
quiméricos e podem formar anticorpos neutralizantes; final
“zumab” são anticorpos monoclonais humanizados e menos
capazes de gerar anticorpos neutralizantes; final “cept” en-
volve fusão com a porção Fc da IgG1 humana5
.
Aplicações
Os anticorpos monoclonais, como terapia alvo, têm alta
especificidade com poucos efeitos colaterais e é o foco de
muitas pesquisas nas doenças que necessitam de trata-
mento clínico ou cirúrgico agressivo. Os anticorpos mono-
clonais podem ser aplicados intactos ou acoplados a outra
molécula, por exemplo, um átomo fortemente radioativo,
como o I131
, este com o objetivo de destruir uma célula
alvo. Alguns anticorpos monoclonais têm sido introduzidos
na medicina para suprimir o sistema imune (como Muro-
momab-CD3, Omalizumab) e para destruir ou inibir células
malignas (por exemplo, Rituxima, Alemtuzumab)6
.
No total, dezoito biológicos foram aprovados para uso
terapêutico, e são os seguintes: Muronomab-CD3 (Ortho-
clone OKT3®
); Abciximab (ReoPro®
); Daclizumab (Zena-
pax®
); Rituximab (Rituxan®
); Basiliximab (Simulect®
); Pa-
livizumab (Synagis®
); Infliximab (Remicade®
); Trastuzu-
mab (Herceptin®
); Gemtuzumab ozogamicin (Mylotarg®
);
Alemtuzumab (Campath 1H®
); Ibritumomab tiuxetan (Ze-
valin®
); Adalimumab (Humira®
); Alefacept (Amevive®
);
Tositumomab (Bexxar®
); Etanercept (Enbrel®
); Efalizumab
(Raptiva®
); Omalizumab (Xolair®
); Bevacizumab (Avas-
tin®
). Suas indicações e efeitos colaterais serão discutidos
nesta revisão.
Método
Objetivo
Rever a literatura sobre as indicações e problemas asso-
ciados ao uso de anticorpos monoclonais e derivados co-
nhecidos como biológicos.
Critérios de consideração dos estudos para esta
revisão
Todos os estudos incluindo revisões, estudos clínicos,
editoriais, cartas, meta-análises, guias práticos estudos
clínicos randomizados e estudos clínicos controlados publi-
cados até janeiro de 2006. Não houve imposição de res-
trição na língua dos trabalhos.
Estratégia de pesquisa para identificação dos es-
tudos
Estudos relevantes de banco de dados eletrônicos foram
identificados de:
a) MEDLINE (a partir de 1966)
b) Ovid OLDMEDLINE(R) 1950 a 1965
c) EMBASE (a partir de 1980) e CINAHL (a partir de
1982)
d) Ovid MEDLINE(R) In-Process & Other Non-Indexed Ci-
tations
e) LILACS (Latin American and Caribbean Health Science
Information database)
f) CancerLit
g) Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED)--
1945-presente
h) Social Sciences Citation Index (SSCI)--1956-presente
i) Arts & Humanities Citation Index (A&HCI)--1975-pre-
sente
j) Books@Ovid 11 de janeiro de 2006
Bibliografias dos estudos selecionados foram analisadas.
Estudos não publicados ou em andamento foram pesquisa-
dos via correspondências com especialistas na área, auto-
res de trabalhos relevantes e companhias farmacêuticas.
Resumos de congressos foram pesquisados manualmente.
A estratégia de pesquisa
1. monoclonals antibodies, Muronomab-CD3, Orthoclone-
OKT3®
, Abciximab, ReoPro®
, Daclizumab, Zenapax®
,
Rituximab, Rituxan®
, Basiliximab, Simulect®
, Palivizu-
mab, Synagis®
, Infliximab, Remicade®
, Trastuzumab,
Herceptin®
, Gemtuzumab ozogamicin, Mylotarg®
,
Alemtuzumab, Campath 1H®
, Ibritumomab tiuxetan,
Zevalin®
, Adalimumab, Humira®
, Alefacept, Amevive®
,
Tositumomab, Bexxar®
, Etanercept, Enbrel®
, Efalizu-
mab, Raptiva®
, Omalizumab, Xolair®
, Bevacizumab,
Avastin®
;
2. Inflammatory OU inflamm* OU neoplasic* OU neopla-
sic disease OU autoimmune OU autoimmune disease;
3. Immunosuppressants OU Immunosuppressive Agents
OU Immunomodulators OU Biological Response Modi-
fiers;
Estes foram combinados com a estratégia de pesquisa
para localizar os artigos.
Método de seleção do estudo
O total de 1128 artigos científicos preenchia os critérios
acima descritos e arquivados em banco de dados do
EndNote 9.0®
. Deste, títulos e resumos foram identificados
das pesquisas e analisados pelos autores. Texto completo
de possível relevância foi obtido para avaliação. Os autores
decidiram qual publicação preenchia os critérios de inclu-
são pela sua qualidade metodológica, índice de impacto e
adequação ao texto da revisão.
Conflito de interesse potencial
Os autores envolvidos nesta revisão a fizeram sem qual-
quer conflito de interesse conhecido.
Resultados
Os biológicos foram apresentados na ordem em que o
autor sênior desta revisão considerou como mais relevante
para o público alvo. Um resumo destes biológicos é descri-
to na tabela 1.
Omalizumabe (Xolair®)
É um anticorpo anti-IgE monoclonal humanizado não-
anafilaticogênico, com características humanas >95%
(IgG1-κ). Ele reconhece o mesmo sítio de ligação do recep-
tor de alta afinidade FcεR1 da IgE livre circulante (porção
Fc específica), bloqueando-o e prevenindo a liberação de
mediadores inflamatórios por mastócitos e basófilos tais
como histamina, leucotrienos e citocinas. Esse anticorpo
forma pequenos complexos triméricos ou pentaméricos
com a IgE livre7
.
Está indicado para a asma e rinite alérgicas. Previne cri-
ses de asma após teste de provocação por inalação de
alérgenos, tanto a resposta imediata como a tardia, em pa-
cientes com doença alérgica leve8
. Outras aplicações têm
sido sugeridas9
. Recentemente, aplicação efetiva na der-
matite atópica foi relatada10
.
Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 79
Tabela 1 - Quadro apresentando anticorpos monoclonais usados na prática médica e detalhados neste trabalho.
Monoclonal* Nome Fonte Indicação(ões) Mecanismo
Abciximabe ReoPro Quimérico, IgG monoclonal Inibição da agregação
plaquetária
Liga-se ao receptor GPIIb/IIIa
Adalimumabe Humira Humano, monoclonal IgG1 Artrite reumatóide Liga-se a TNF-α
Alefacept Amevive receptor CD2 com fragmento Fc
IgG1
Psoríase Liga-se a CD2
Alemtuzumabe Campath Humanizado, monoclonal IgG Leucemia linfocítica crônica de
células B
Liga-se a CD52
Basiliximabe Simulect Quimérico, monoclonal Reijeição aguda renal Subunidade alfa do
IL-2R
Bevacizumabe Avastin Humanizado, monoclonal câncer coloretal metastatizado anti-fator de crescimento do
endotélio vascular (VEGF)
Daclizumabe Zenapax Humanizado, monoclonal GVHD e transplantes Subunidade alfa do
IL-2R
Efalizumabe Raptiva Ac contra CD11a (LFA-1) Psoríase Liga-se a CD11a (LFA-1)
Etanercept Enbrel receptor TNF com fragmento
Humano IgG Fc
Artrite reumatóide Age como um receptor para TNF
Gemtuzumabe
ozogamicin
Mylotarg Humanizado, monoclonal IgG Leucemia mieloide aguda Liga-se a CD33
Ibritumomabe
tiuxetan
Zevalin Camundongo, monoclonal IgG Tratmento de linfoma não
Hodgkin de células B
Liga-se a CD20
Infliximabe Remicade Quimérico, monoclonal IgG Doença de Crohn e artrite
reumatóide
Liga-se a TNF-a
Muromonabe-CD3 Orthoclone-OKT3 Imunoglobulina murina Ig2a Rejeição de transplante de
órgãos sólidos
Liga-se ao CD3
Omalizumabe Xolair Humanizado, monoclonal IgG1S Asma e atopias IgE livre circulante (porção Fc
específica)
Palivizumabe Synagis Humanizado, monoclonal Contra VRS Liga-se ao VRS
Rituximabe Rituxan Quimérico, monoclonal IgG Linfoma não-Hodgkin Liga-se a CD20
Tositumomabe Bexxar monoclonal IgG murino
radiomarcado com iodo-131
linfoma não-Hodgkin folicular Liga-se a CD20
Trastuzumabe Herceptin Humanizado, monoclonal IgG Câncer de mama Liga-se a proteína HER2
* a língua portuguesa exige o acréscimo de e ao mab
É capaz de reduzir exacerbações de asma, mesmo em
paciente com doença moderada e grave, a eosinofilia, me-
lhorar a qualidade de vida, diminuindo os sintomas e os
parâmetros das provas de função pulmonar, e reduzir as
doses de corticosteróides e de β-agonistas. Em pacientes
com rinite alérgica sazonal houve diminuição significativa
dos sintomas nasais e oculares e redução da necessidade
de medicamentos tais como os anti-histamínicos.
Após sua aplicação por via subcutânea ou IV, há queda
rápida dos níveis séricos de IgE livre (>99%), através de
uma ação dose-dependente. Ocorre redução da expressão
do receptor de alta afinidade FcεR1 e na liberação de hista-
mina antígeno-estimulada pelos basófilos. A dosagem anti-
IgE necessária deve ser individualizada de acordo com os
níveis de IgE total e peso de cada paciente. A formação
dos complexos acarreta aumento nos níveis de complexos
anti-IgE/ IgE, com conseqüente desaparecimento da IgE
livre circulante. Como esses complexos não podem se ligar
aos receptores IgE, são desprovidos de atividade IgE
biológica11
.
Devido à humanização do anticorpo e ao pequeno tama-
nho dos complexos anti-IgE/IgE, o omalizumabe não de-
sencadeia doenças auto-imunes porque esses complexos
são incapazes de ativar o complemento. Os efeitos adver-
sos são: reação no local da injeção, fadiga, rash cutâneo,
urticária, infecção viral, infecção de vias aéreas superiores,
sinusite, cefaléia e faringite. Embora o papel da IgE nas
infecções parasitárias tem sido considerado pouco eviden-
te, é seguro concluir que todas as evidências não suportam
um papel primário da IgE na proteção do hospedeiro, con-
siderando-se esquistossomose e estrongiloidíase. A predis-
posição a infecções parasitárias ainda necessita de maior
investigação, pois embora muitas das infecções sejam cos-
mopolitas, são encontradas principalmente em regiões tro-
picais e intertropicais, onde a prevalência é alta12
.
Daclizumabe (Zenapax®)
É um anticorpo monoclonal humanizado que atua contra
a subunidade alfa (Tac/CD25) do receptor da interleucina 2
(IL-2) das células T ativadas. É usado na prevenção da do-
ença aguda e crônica de enxerto versus hospedeiro no
transplante de órgãos maciços, principalmente o rim13
.
A dose recomendada é de 1mg/kg a cada 14 dias, em
cinco doses, sendo a primeira 24 horas antes da cirurgia.
Seu uso pode reduzir a dose de ciclosporina e glicocorticos-
teróide, diminuindo a nefrotoxicidade e os efeitos cushin-
góides. Quando adicionado à terapia tríplice de imunossu-
pressão (ciclosporina, azatioprina e prednisona), reduz em
36% a taxa de rejeição aguda em um ano no transplante
renal e pode ter bons resultados no transplante de outros
órgãos. Não aumenta o risco de infecção ou malignidade14
.
Muromonabe-CD3 (Orthoclone-OKT3®)
É uma imunoglobulina Ig2a produzida pela técnica do
hibridoma que reconhece, liga e bloqueia o complexo CD3
do receptor da célula T. Foi o primeiro anticorpo monoclo-
nal murino a se tornar disponível para terapia em huma-
nos. Foi aprovado pela Food and Drug Administration
80 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
(FDA) em 1985 como um agente anti-rejeição no trans-
plante renal e é considerado alternativa efetiva na profila-
xia e no tratamento de primeira linha da rejeição aguda de
aloenxertos de órgãos sólidos15
. Pode ser efetivo também
na prevenção ou reversão da doença do enxerto versus
hospedeiro em pacientes transplantados da medula ós-
sea16
.
Inúmeros efeitos colaterais prejudicaram sua difusão na
prática clínica. A administração é freqüentemente acompa-
nhada por uma síndrome de liberação de citocinas: febre
alta, calafrios, hipertensão arterial e edema pulmonar. Vá-
rios pacientes desenvolvem anticorpos contra o epítopo xe-
nogênico (murino) diminuindo sua eficácia. As reações cru-
zadas com o tecido não-alvo podem produzir trombocito-
penia e neutropenia ou meningoencefalite asséptica. Com-
plicações infecciosas foram relatadas sugerindo imunossu-
pressão excessiva17
.
Abciximabe (ReoPro®)
É um fragmento de anticorpo que inibe a agregação pla-
quetária e leucocitária, ligando-se aos receptores da glico-
proteína (GP) II b/IIIa. Foi o primeiro agente aprovado pa-
ra o uso como terapia adjuvante para a prevenção de com-
plicações isquêmicas cardíacas nos pacientes que se sub-
meteram a intervenção coronariana percutânea. As princi-
pais indicações cardiovasculares adicionais são - angina
instável, stent na carótida, ataque isquêmico e doença vas-
cular periférica18
.
Estudos em pacientes submetidos à intervenção percu-
tânea com síndrome coronariana aguda mostraram que, a
adição de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa com heparina
e aspirina, reduziu mortes ou infartos miocárdios quando
comparada às terapias somente com aspirina e heparina. A
principal discussão sobre sua segurança é o risco de san-
gramento tanto pelo potente efeito antiplaquetário quanto
pelo risco de trombocitopenia. Foi relatado um caso de
trombocitopenia grave induzida por abciximabe que causou
hemorragia intracraniana fatal19
.
Rituximabe (Mabthera®, Rituxan®)
É um anticorpo monoclonal quimérico IgG1-κ que se liga
especificamente ao antígeno transmembrana CD20. Este
antígeno está localizado nos linfócitos pré-B e linfócitos B
maduros, mas não em células progenitoras, células pró-B,
células plasmáticas normais ou outros tecidos normais. O
antígeno CD20 encontra-se presente em mais de 95% de
todas as células B dos linfomas não-Hodgkin (LNH). Os
possíveis mecanismos para a lise celular são citotoxicidade
complemento-dependente e citotoxicidade celular anticor-
po-dependente20
.
Foi o primeiro anticorpo não conjugado aprovado pelo
FDA, em 1997, para o tratamento de recidiva de linfomas.
Em 2002 tornou-se a principal droga antineoplásica no
mundo. É indicado para os casos de linfoma, não-Hodgkin
de baixo grau e folicular CD20+, que não responderam ou
que progrediram durante ou após pelo menos um trata-
mento padrão contendo agente alquilante21
. É efetivo quan-
do combinado com quimioterapia, com longa duração de
resposta no tratamento de linfoma agressivo. A combina-
ção com CHOP (ciclofosfamida/doxorubicina/vincristina/
prednisona) aumentou as taxas de resposta e sobrevida.
Os eventos tóxicos observados com a combinação não são
maiores nem mais tóxicos do que aqueles presentes na te-
rapia isolada com CHOP.
Seu uso contra doenças auto-imunes, como artrite reu-
matóide (AR), púrpura trombocitopênica imune, anemia
hemolítica auto-imune, lupus eritematoso sistêmico e es-
clerose múltipla estão sob investigação22
.
A dose recomendada é de 375 mg/m2
por infusão intra-
venosa uma vez por semana, por quatro semanas, através
de uma via de acesso exclusiva. O tratamento é bem tole-
rado. Reações adversas relacionadas à infusão incluem a
síndrome de liberação de citocinas, principalmente febre,
calafrios e tremores. Estas ocorrem na maioria dos paci-
entes durante a primeira infusão, geralmente nas primeiras
duas horas23
.
Basiliximabe (Simulect®)
É um anticorpo monoclonal quimérico que se liga espe-
cificamente à subunidade alfa (CD25) do complexo do re-
ceptor da interleucina-2 (IL-2R) de alta afinidade, seletiva-
mente expresso na superfície dos linfócitos ativados, ini-
bindo sua proliferação e induzindo apoptose, uma via cru-
cial na rejeição de aloenxertos24
.
Os anticorpos anti-IL-2R são usados como terapia indu-
tora, imediatamente após transplante renal, para preven-
ção da rejeição celular aguda em crianças e adultos. Du-
rante rejeição aguda, a cadeia IL-2R alfa não é mais ex-
pressa nas células T, portanto, não podem ser usados para
tratar uma rejeição aguda existente. Em até 24 horas após
uma única dose intravenosa de basiliximabe 2,5 a 25mg,
aproximadamente 90% das IL-2R disponíveis nos linfócitos
T estarão complexadas com a droga. Esta ligação foi man-
tida por quatro a seis semanas quando pacientes renais
transplantados receberam basiliximabe 20mg duas horas
antes e quatro dias após a cirurgia25
.
O basiliximabo reduziu significantemente a rejeição agu-
da quando comparado com placebo em receptores trans-
plantados renais recebendo imunoterapia dupla (microe-
mulsão de ciclosporina e corticosteróides) e tripla (basea-
das em azatioprina ou micofenolato mofetil). A incidência
de eventos adversos foi semelhante, sem acréscimo na
incidência de infecção. Distúrbios linfoproliferativos pós-
-transplante após tratamento com basiliximabe foram ra-
ros. Existiram raros casos de reações de hipersensibilidade.
Sua eficácia foi semelhante àquela da globulina antitimóci-
to eqüina (ATG) e do daclizumabe, e similar ou maior do
que à do muromonabe-CD3. Permite a redução segura de
corticosteróides e de inibidores da calcineurina, sem au-
mentar o custo total do tratamento em pacientes renais
transplantados26
.
Palivizumabe (Synagis®)
É um anticorpo monoclonal humanizado contra o vírus
sincicial respiratório (VSR). Essa droga foi aprovada para
uso na prevenção da infecção do trato respiratório pelo
VSR em crianças prematuras, com displasia broncopulmo-
nar, doença pulmonar crônica e cardíaca congênita hemo-
dinamicamente significante27
. Em imunodeficiência e fibro-
se cística, mesmo sem indicação formal, parece trazer be-
nefícios importantes ao paciente28
.
Estudos demonstram redução de até 55% na taxa de
hospitalização por infecção por VSR em crianças pré-termo
(≤ 35 sem) com ou sem doença pulmonar crônica. A dosa-
gem utilizada nesses estudos é de 15mg/kg a cada 30 dias
por cinco meses. Os eventos adversos e as reações locais a
injeção da droga são raras e leves, porém pode ocorrer fe-
bre, ansiedade e diarréia. Não interfere na administração
de outras vacinas pediátricas29
.
Infliximabe (Remicade®)
É um anticorpo (IgG1) monoclonal quimérico anti-fator
de necrose tumoral alfa (anti-TNF-α). Foi aprovado pelo
FDA em 1998 para uso em pacientes com doença de
Crohn, com atividade de moderada a grave, que respon-
diam inadequadamente à terapia convencional. Em 1999
foi aprovado para uso no tratamento de AR em associação
com metotrexato. Em 2000 seu uso foi expandido para uso
para outras doenças inflamatórias30
.
Na doença de Crohn com acometimento luminal a dose
única de 5 mg/kg intravenosa (IV) é eficiente. Quando há
Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 81
fistulização, três doses IV de 5mg/kg, uma na semana 0 e
outras nas semanas 2 e 6, são o tratamento preconizado,
porém ainda são necessários mais estudos para definição
das doses ideais. A dose recomendada para tratamento de
AR é de 3mg/kg IV nas semanas 0, 2 e 6, seguida de dose
de manutenção a cada oito semanas31
.
A principal razão para suspensão do tratamento são as
reações infusionais como dispnéia, rubor, rash cutâneo e
cefaléia. Outros efeitos são mialgias, poliartralgias e febre.
A contra-indicação absoluta para seu uso é a insuficiência
cardíaca congestiva em grau moderado ou grave. Há risco
aumentado para infecções graves e é recomendado des-
continuação se infecção for diagnosticada. Tem-se relatado
o aparecimento de anticorpos anti-nucleares e anti-dupla
hélice do DNA, com significado clínico desconhecido. A as-
sociação de infliximabe com metotrexato diminui a forma-
ção desses anticorpos32
.
Adalimumabe (Humira®)
É um anticorpo monoclonal IgG1 totalmente humano
que se liga especificamente ao Fator de Necrose Tumoral
alfa (TNF-α) e neutraliza a função biológica do TNF blo-
queando a sua interação com os receptores TNF p55 e p75
da superfície celular, também modula as respostas biológi-
cas induzidas ou reguladas pelo TNF, incluindo as altera-
ções dos níveis das moléculas de adesão responsáveis pela
migração leucocitária (ELAM-1, VCAM-1 e ICAM-1)33
.
Seu uso foi aprovado para redução dos sinais e sinto-
mas de artrite reumatóide (AR) e inibição da progressão do
dano estrutural de articulações. Indicado para adultos com
AR ativa moderada a grave, e que não tenham apresenta-
do resposta eficaz a um dos tratamentos anti-reumatóides
tradicionais. Após o seu uso em doentes com AR, há uma
queda rápida dos níveis séricos de marcadores de inflama-
ção de fase aguda (proteína C reativa), VHS e citocinas
(IL-6)34
.
Este deve ser administrado em dose única, 40 mg via
subcutânea, em semanas alternadas. Pode ser utilizado co-
mo monoterapia ou em combinação com medicamentos
anti-reumáticos modificadores da doença tais como meto-
trexato. Os efeitos indesejáveis mais freqüentes são a dor
no local da injeção, queda dos níveis de hemoglobina, hi-
perlipidemia, cefaléias, tonturas, infecção de via aérea su-
perior, pneumonia, náuseas, diarréia, odinofagia, exante-
ma, prurido, herpes simplex, infecção urinária, astenia, dor
abdominal e infecção35
.
Etanercept (Enbrel®)
É uma proteína resultante da fusão entre o receptor de
TNF tipo II e a região Fc da IgG1 humana. É um bloquea-
dor do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) que inibe a
ligação do TNF aos receptores presentes nas superfícies ce-
lulares, reduzindo o processo inflamatório. As principais in-
dicações são para pacientes com AR, espondilite anquilo-
sante (EA), artrite psoriática (AP), artrite reumatóide juve-
nil (ARJ) ou doença de Crohn36
.
Em um estudo, utilizando-o na AR, mostrou redução
significativa no processo inflamatório das articulações e
marcadores bioquímicos. Após um ano de tratamento apre-
sentou a mesma eficácia que o metrotexato na redução de
sinais e sintomas da AR, e melhores resultados na diminui-
ção das erosões radiográficas. Os efeitos colaterais mais
comuns foram no local da injeção e infecções no trato res-
piratório superior37
. Foi aprovado como terapia de primeira
linha em pacientes com moderada a grave atividade de AR
e na EA, AP e ARJ36
. Indicações para psoríase em placa co-
locam esta droga como uma das mais efetivas para esta
doença38
.
Alefacept (Amevive®)
O Alefacept (B-9273) é um anticorpo monoclonal anta-
gonista de LFA-3-Ig fusion protein CD2. Atua na memória
da célula T, ligando-se ao CD2 na superfície do linfócito
T39
. Diminui a contagem de linfócitos T (CD45RO+) no san-
gue periférico, células responsáveis pela sustentação da
psoríase.
É usado no tratamento de psoríase moderada a grave.
Foi aprovado pelo FDA em 2003. O tratamento consiste em
uma injeção semanal, durante doze semanas, seguido de
doze semanas sem o uso da droga. Ocorre melhora clínica
significativa dos sintomas da psoríase na maioria dos paci-
entes, com benefício de sete meses sem a necessidade de
fototerapia e terapia sistêmica. Não foram observados au-
mento da incidência de infecção ou malignidade41
.
Efalizumabe (Raptiva®)
É um anticorpo monoclonal humanizado, recombinante,
IgG1, cujo alvo é a molécula de adesão da célula T, antíge-
no função leucocitária associado-1 (LFA-1). Liga-se ao
CD11a – a subunidade alfa do LFA-1 – impedindo a ligação
deste com seu ligante, molécula de adesão intercelular-1
(ICAM-1). Assim, inibe vários processos da célula T que se
acredita serem importantes na patogenia da psoríase, in-
cluindo a ativação, a adesão às células endoteliais e a mi-
gração das células T40
.
Administrado via subcutânea uma vez por semana, me-
lhora a qualidade de vida em pacientes com psoríase mo-
derada a grave. Seu início de ação é precoce, apresentan-
do melhora com 2-4 semanas. Recidiva da doença é obser-
vada com 60-70 dias após descontinuação do tratamento41
.
Apresenta efeitos adversos agudos nas primeiras injeções,
diminuindo a incidência nas doses subseqüentes. Pode ser
administrado seguramente por longos períodos. Resultados
iniciais em pacientes transplantados renais também são
promissores42
.
Trastuzumabe (Herceptin®)
É um anticorpo monoclonal humanizado que atinge sele-
tivamente o domínio extracelular da proteína do receptor 2
do fator de crescimento epidérmico humano (HER2). É
uma IgG1 que contém regiões de estrutura humana e re-
giões que determinam a complementaridade, provenientes
de um anticorpo murino anti-p185 HER2, que se liga ao
HER243
. O proto-oncogene HER2 ou c-erbB2 codifica uma
proteína transmembrana de 185 Kda, semelhante ao re-
ceptor, que está estruturalmente relacionado ao fator de
crescimento epidérmico.
O aumento de expressão de HER2 é um marcador de
agressividade para tumores de mama. Acredita-se que em
20 a 30% dos tumores de mama haja uma expressão de
HER2. Uma conseqüência da amplificação do gene HER2 é
o aumento da proteína HER2 na superfície destas células
tumorais resultando em um receptor HER2 constitutiva-
mente ativado. O trastuzumabe é capaz de inibir a prolife-
ração de células tumorais humanas com aumento de ex-
pressão de HER2 e é recomendado como monoterapia, no
tratamento de segunda ou terceira linha em mulheres com
câncer de mama metastático com aumento de expressão
de HER2, ou em combinação com paclitaxel, como trata-
mento de primeira linha de mulheres com câncer de mama
metastático com expressão de HER244
. Vários estudos te-
ntam encontrar novos usos terapêuticos como no câncer
de próstata, de pulmão e de cólon.
Aproximadamente 50% dos pacientes podem apresentar
reações adversas. As mais comuns são causadas pela infu-
são como febre e calafrio. A reação mais importante foi a
síndrome de disfunção cardíaca, encontrada em menos de
5% dos pacientes45
.
Gemtuzimabe ozogamicin (Mylotarg®)
É um anticorpo monoclonal humanizado IgG4 contra
CD33 para entregar uma potente citotoxina, calicheamicin,
82 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
nas células. O antígeno CD33 está expresso na superfície
celular dos blastos em mais de 90% dos pacientes com
leucemia mielóide aguda, mas não está presente em célu-
las normais. Depois da ligação com o CD33 na superfície
da célula, ele entra na célula e é hidrolisado. Seus dois
componentes são liberados no citoplasma e calicheamicin
entra no núcleo onde se associa ao DNA, causando quebra
da dupla hélice, destruindo a célula46
.
Foi aprovado como segunda linha para o tratamento de
pacientes com leucemia mielóide aguda CD33+ que pos-
suem 60 anos ou mais de idade ou que não são considera-
dos candidatos para outra quimioterapia citotóxica. A dose
é de 9 mg/m2
em infusão IV durante duas horas, em um
total de duas doses com intervalo de 14 dias47
.
Hepatoxicidade química pode ocorrer com o uso da dro-
ga e doença hepática veno-oclusiva é relativamente co-
mum. Pode ocorrer a síndrome relacionada à infusão (cala-
frios, febre, náusea, hipotensão e dor). Em todos os paci-
entes há mielossupressão grave, mas mucosite grave e in-
fecções são infreqüentes. A hiperbilirrubinemia grave e a
elevação das transaminases são geralmente transitórias.
Cerca de 16% dos pacientes necessitam de internação
hospitalar48
.
Alemtuzumabe (Campath 1H®)
É um anticorpo monoclonal derivado do DNA que é diri-
gido contra a glicoproteína de superfície CD52 expressa na
superfície de todas os linfócitos B e T, a maioria dos monó-
citos, macrófagos e uma subpopulação de granulócitos. É
uma IgG1 Kappa, com peso molecular aproximado de 150
kD, sendo produzido a partir de culturas de células de ma-
míferos (ovários de camundongos) em um meio contendo
neomicina49
.
Formas murinas, Campath-1G e Campath-1M, têm sido
utilizadas extensivamente em transplantes alogênicos de
medula óssea. A forma humanizada, Campath-1H, é atual-
mente o foco de vários estudos em neoplasias hematoló-
gicas (leucemia linfocítica crônica de células B e leucemia
prólinfocítica de células T), doenças auto-imunes (AR, es-
clerose múltipla) e transplante de órgãos. Está em estudo
a possibilidade de seu uso em pacientes com síndrome de
Sezary50
.
Os principais efeitos colaterais são febre, hipotensão,
tremores, rash cutâneo e dispnéia, mais comuns na pri-
meira semana de infusão da droga. Significativa toxicidade
hematológica e imunossupressiva são observadas. Induz
profunda linfopenia, com grande variedade de infecções
oportunistas observadas em pacientes que estão fazendo
uso dessa droga. Há relatos de grave e prolongada mielos-
supressão e, em alguns estudos, de aplasia e hipoplasia de
medula óssea, mesmo na dose recomendada. A incidência
dessas complicações é maior com o aumento da dose.
Além disso, foram relatadas anemia auto-imune grave e
trombocitopenia51
.
Ibritumomabe tiuxetan (Zevalin®)
É um imunoconjugado resultante de uma ligação cova-
lente estável entre o anticorpo monoclonal ibritumomabe e
o tiuxecan, no qual é acoplado um radioisótopo (Indium-11
ou Yttrium-90). O Ibritumomabe é uma IgG1 Kappa dirigi-
da contra o antígeno CD20, encontrado na superfície de
linfócitos B normais e malignos, sendo encontrado em mais
de 90% das células B nos linfomas não-Hodgkin. É obtido a
partir das células ovarianas de hamsters chineses. De-
monstrou-se, in vitro, que após ligação ao antígeno CD20
dos linfócitos B, ocorre indução de apoptose nessas células.
Além disso, a emissão de radiação beta a partir dos radio-
-isótopos, promove dano celular a partir da formação de
radicais livres contra as células alvo e as células vizinhas52
.
A administração é feita em duas etapas: a primeira in-
clui uma infusão de Rituximabe precedendo In-111 Zeva-
lin®
. A segunda, que dura de sete a nove dias, consiste de
segunda infusão de Rituximabe seguido por Y-90 Zevalin®
.
As indicações para seu uso são: tratamento de pacientes
com linfoma não-Hodgkin de células B, folicular ou de bai-
xo grau refratários ou recidivados, incluindo aqueles com
linfoma não-Hodgkin folicular refratário ao tratamento iso-
lado com Rituximabe. As reações adversas mais comuns
incluem infecções (principalmente bacterianas), alérgicas
(broncoespasmo e linfoedema), e hemorragia por trompo-
citopenia. Há casos de desenvolvimento de neoplasias e
displasias mielóides53
.
Tositumomabe (Bexxar®)
É um anticorpo monoclonal IgG murino radiomarcado
com iodo-131 que se liga ao antígeno CD20 na superfície
de células B humanas normais e malignas. Aprovado em
2003 para o tratamento de pacientes com linfoma não-
-Hodgkin folicular, com ou sem transformação, cuja doença
é refratária ao rituximabe e recidivou à quimioterapia
subseqüente54
.
O tratamento freqüentemente exige hospitalização devi-
do ao risco inerente da exposição a emissões gama, e pa-
cientes e familiares devem seguir instruções detalhadas
para prevenir exposição indevida. Apesar de 10% dos pa-
cientes tratados com tositumomabe desenvolverem anti-
corpos anti-rato humanos (HAMA), seu uso não impede a
administração de terapias subseqüentes de anticorpos qui-
méricos. A maioria dos eventos adversos não-hematológi-
cos varia de leve a moderada e é autolimitada. Toxicidade
hematológica é o principal limitante quando associado à
radioimunoterapia. Complicações incluem mielosupressão,
leucemia aguda secundária e mielodisplasia. Entretanto, a
dosimetria de corpo inteiro manteve a toxicidade hemato-
lógica dentro de limites previsíveis, transitórios e manejá-
veis55
.
Bevacizumabe (Avastin®)
É um anticorpo anti-fator de crescimento do endotélio
vascular (VEGF) monoclonal humanizado. Foi aprovado pe-
lo FDA em fevereiro de 2004 para o tratamento de primeira
linha no câncer coloretal metastatizado em combinação
com quimioterapia. É o primeiro agente aprovado contra
um tumor de angiogênese56
.
Tem sido demonstrado o VEGF como um mediador de
angiogênese patológica. Ainda mais, VEGF está relacionado
com neovascularização intraocular associada com retinopa-
tia diabética e degeneração macular relacionada com a ida-
de. Estudos clínicos com bevacizumab em uma variedade
de neoplasias e distúrbios oftalmológicos estão em anda-
mento57
.
Conclusão
O desenvolvimento dos anticorpos monoclonais pela
engenharia genética tem oferecido novas esperanças para
o tratamento de várias doenças. A habilidade dos an-
ticorpos monoclonais de ligar-se a uma estrutura química
pré-determinada estimulou o desenvolvimento dessas no-
vas drogas. A complexidade da molécula, feita de quatro
cadeias polipeptídicas, o grande peso molecular, os domí-
nios funcionais múltiplos e versáteis, a origem de camun-
dongo e a dificuldade de seleção das estruturas-alvo apro-
priadas na superfície das células foram os obstáculos ini-
ciais para sua produção e utilização. A reposição da maioria
das seqüências murinas com seqüências humanas equiva-
lentes, o decréscimo concomitante na imunogenicidade e a
identificação de componentes da superfície celular, torna-
ram os anticorpos monoclonais armas valiosas na luta con-
tra doenças virais, inflamatórias, autoimunes e neoplasias.
Devemos também acentuar que os biológicos não são usa-
dos apenas para fins terapêuticos de doenças graves ou
Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 83
complexas. A biotecnologia dos monoclonais é extensa-
mente utilizada na medicina diagnóstica58-60
.
Vários desses monoclonais já estão disponíveis no mer-
cado nacional ou podem ser importadas pelos fabricantes
através dos seus escritórios brasileiros. Entretanto, uma
idéia concreta de farmacoeconomia, ou seja, o impacto
dessa droga com relação ao seu custo benefício, só se fará
completa após a aplicação dessas em estudos comparati-
vos de médio e longo prazo adaptado para situação nacio-
nal. Algumas desses estudos ainda não estão disponíveis
mesmo em países aonde o uso dos biológicos já é uma
realidade, porém há expectativa que o custo tenha uma
progressiva redução à medida que a tecnologia de produ-
ção da droga se amplie em vários países61
.
O contínuo sucesso no desenvolvimento das terapias ba-
seadas em anticorpos exigirá extensa pesquisa clínica, pa-
ra detalhar como usar adequadamente esses compostos e
quais os pacientes que irão se beneficiar e os efeitos cola-
terais a longo prazo. A pesquisa imunológica também se
beneficiará pois revelará importantes aspectos dos meca-
nismos básicos de ação dos anticorpos e fundamentos dos
mecanismos imunológicos envolvidos.
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nomic review of its use in rheumatoid arthritis. Pharmacoeco-
nomics. 2004; 22:107-32.
Correspondência:
Prof. Dr. Hermênio C. Lima
Núcleo de Pesquisas em Imunodermatologia Clínica e Imunologia
Clínica
Rua XV de Novembro, 1206 – Centro
80060-950 – Curitiba – PR
E-mail: hclima@ufpr.br hclima@uol.com.br
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  • 2. ARTIGO DE REVISÃO Aplicações terapêuticas dos anticorpos monoclonais Monoclonal antibodies therapeutic applications Rosaly V. dos Santos¹, Plínio M. G. de Lima2, Anderson Nitsche2, Fabielle M. Harth2, Fernando Y. de Melo2, Helcio T. Akamatsu2, Hermênio C. Lima³ Resumo Objetivo: Conduzir e apresentar revisão da literatura so- bre a produção e uso clínico dos anticorpos monoclonais em- pregados no tratamento de doenças. Métodos: Revisão sistemática de trabalhos científicos rele- vantes de banco de dados eletrônicos até janeiro de 2006. Fo- ram selecionados artigos que abordassem o tema “anticorpos monoclonais” nos seguintes aspectos: definição, mecanismo de ação, aplicação terapêutica e efeitos colaterais. Resultados: Muitos anticorpos monoclonais estão licencia- dos para uso clínico e outros em desenvolvimento clínico avan- çado. As terapias baseadas neste grupo de biológicos apresen- tam vantagens e desvantagens quando comparadas a terapias convencionais. Versatilidade, especificidade, e ações não repro- duzidas pelas drogas tradicionais são as vantagens desses bio- terápicos. Entretanto, o alto custo reduz seu uso em larga es- cala. Conclusão: Nos últimos anos anticorpos monoclonais pas- saram a ser uma terapia de primeira linha para uma variedade de condições que incluem infecções virais, distúrbios inflama- tórios e neoplasias, além do mais, terapias baseadas em anti- corpos podem ser desenvolvidas com sucesso para uso em si- tuações clínicas onde nenhuma terapia efetiva esteja disponí- vel. Médicos de diversas especialidades precisarão de mais ex- periências clínicas para usarem rotineiramente esses compos- tos e entenderem seus mecanismos básicos de ação. Rev. bras. alerg. imunopatol. 2006; 29(2):77-85 anticorpos monoclonais; tratamento, câncer; doenças auto-imunes; qui- mioterapia. Abstract Objective: To conduct and present a literature review on monoclonal antibodies production and clinical use for illnesses treatment. Methods: A systematic review of scientific literature on electronic data base until January of 2006. Articles had been selected that approached the subject "monoclonal antibodies" in the following aspects: definition, mechanism of action, the- rapeutical application and side-effect. Results: Many monoclonal antibodies are permitted for cli- nical use and others in advanced clinical development. The the- rapies based on this biological group present advantages and disadvantages when compared to conventional therapies. Ver- satility, specificity, and actions not reproduced by traditional drugs are the advantages of these biotherapeutics. However, the high cost reduces its use in wide scale. Conclusion: In the last years, monoclonal antibodies had started to be the first line therapy or a variety of conditions that include inflammatory, infectious, neoplasic diseases. The- rapies based on antibodies can be developed successfully for use in clinical situations where no therapy is available. Doctors from different specialties will need more clinical experiences to use routinely these composites and to understand its mecha- nisms basic of action. Rev. bras. alerg. imunopatol. 2006; 29(2):77-85 mono- clonal antibodies; treatment; cancer; autoimmune diseases; chemotherapy. 1. Especialista em Alergologia e Mestre em Pediatria pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 2. Alunos do 9° período do curso de medicina da UFPR. 3. Especialista em Alergologia, Imunolopatologia e Dermatologia, Doutor em Imunologia pela Harvard University, Professor Adjunto IV do Departamento de Patologia Médica, chefe da Disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da UFPR, Coordenador do Núcleo de Pesquisas em Imunodermatologia e Imunologia Clínica da UFPR. Artigo submetido em 21.08.2005, aceito em 11.03.2006. Introdução Histórico e desenvolvimento de anticorpos mono- clonais A era moderna da Imunologia teve início em 1890 com a descoberta dos anticorpos como componentes principais da imunidade protetora1 . Paul Ehrlich, no início do século XX, quando mecanismos de especificidade como a ligação entre antígeno e anticorpo já eram conhecidos, propôs um modelo no qual o fármaco é ligado a um transportador es- pecífico exibindo sua atividade farmacológica apenas no te- cido alvo. Assim, os efeitos indesejáveis resultantes da sua ação em outros tecidos seriam largamente diminuídos, en- quanto o aumento da eficiência permitiria o decréscimo da dose administrada. Esse modelo ficou conhecido por “Bala Mágica de Ehrlich”2 . No entanto, a resposta do sistema imunológico a qual- quer antígeno é policlonal. Partindo da idéia já existente de se criar uma substância que se ligasse, por exemplo, so- mente às células cancerígenas no paciente, ou que des- truísse essas células, e não as células normais, é que, em 1975, Georges J. F. Köhler e César Milstein descreveram os primeiros anticorpos monoclonais com a descoberta da téc- nica de hibridização celular somática, tendo como resultado os hibridomas ou híbridos de células formadoras de anti- corpo e linhagens celulares de replicação contínua (figura 1). Esta técnica consiste na fusão de esplenócitos de ca- 06/29-02/77 Rev. bras. alerg. imunopatol. Copyright © 2006 by ASBAI 77
  • 3. mundongos, imunizados a determinado antígeno, com cé- lulas do mieloma. É utilizado um agente para facilitar a fu- são das membranas plasmáticas adjacentes. A linhagem celular de replicação é selecionada pela ausência de ativi- dade de hipoxantina-fosforribosil transferase (HPRT) e au- sência de produção ou secreção de imunoglobulinas. A par- tir da fusão celular, três populações de células permane- cem em cultura: esplenócitos, células do mieloma e os hí- bridos. No meio de cultura HAT (hipoxantina, aminopterina e timidina), as células HPRT não podem produzir hipoxanti- na exógena para produzir purinas. Quando expostas a ami- nopterina, elas são incapazes de utilizar a via endógena de purinas e pirimidinas e ficam completamente dependentes da HPRT para sobrevivência, ocasionando a morte da li- nhagem de células do mieloma. Aguarda-se a morte natu- ral dos esplenócitos, já que eles não podem crescer indefi- nidamente pelo tempo médio de vida limitado. Os híbridos são capazes de crescer indefinidamente e começam a se multiplicar, com formação rápida de colônias. As células do hibridoma são clonadas, e os sobrenadantes são testados quanto à produção de anticorpos. São realizados extensos testes para garantir a especificidade dos anticorpos. Podem ser produzidas grandes quantidades de anticorpo in vitro (em meios de cultura) ou in vivo (no líquido ascítico de ca- mundongos). Essa descoberta lhes rendeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia3 . Figura 1 - Técnica de hibridização celular somática: 1. células tumorais são injetadas no camundongo para estimular a produção de linfócitos B, que produzem diferentes tipos de anticorpos anti-tumor. 2. Células do mieloma são coletadas. 3. Linfócitos B são fundidos com as células do mieloma para produzir células híbridas produtoras de anticorpos imortalizadas. 4. Híbridos que produzem o anticorpo necessário são seleciona- dos e clonados para produzir quantidades ilimitadas de anticorpo monoclonal. Apesar de a técnica ter sido descrita em 1975, seu uso clínico, diagnóstico e terapêutico iniciou-se após a associa- ção com a engenharia genética, já que os anticorpos de ca- mundongos (também chamados de anticorpos murinos) são “vistos” pelo sistema imune como estranho e o orga- nismo humano pode produzir HAMA (anticorpos humanos antianticorpos de camundongos), o que causa não só a rá- pida eliminação destes anticorpos pelo hospedeiro como também a formação de complexos imunes, que causam le- são aos rins4 . Usando a engenharia genética, foi possível produzir an- ticorpos humano-camundongo híbridos, na tentativa de re- duzir o problema do HAMA, e são chamados de anticorpos quiméricos ou humanizados. O anticorpo quimérico é o an- ticorpo que apresenta a combinação da região variável do anticorpo de camundongo com a região constante do anti- corpo humano. O anticorpo humanizado apresenta somen- te as regiões hipervariáveis do anticorpo de camundongo, e o restante de moléculas de anticorpo humano. Isto per- mite a construção de anticorpos monoclonais sob medida para o sítio de ligação mas com possíveis variações no ta- manho, configuração, valência, e funções de ação5 . Nomenclatura Um fato que chama atenção nestas novas medicações é a nomenclatura. Convenções para se definir uma nomen- clatura de anticorpos e fragmentos de anticorpos foram es- tabelecidas nos Estados Unidos. Quatro ou mais sílabas em cada nome revelam muita informação sobre cada produto. Os nomes que terminam com o sufixo “mab”, que significa monoclonal antibody (anticorpo monoclonal) são precedi- dos por uma ou duas letras que descrevem a fonte do anti- corpo: letra “U” para o ser humano; “O” para o camundon- go; “E” para o hamster; “I” para o primata; “A” para o ra- to; “ZU” para humanizado; e “XI” para quimérico. O alvo ou a doença de indicação do anticorpo é desig- nado com uma sílaba interna adicional no jargão do órgão regulador de nomenclatura, denominada “infix”, que pode- mos chamar de prefixo. Estas sílabas incluem: “bac” para bacteriano, “lim” para o imunomodulador, “mel” para o melanoma, “pr(o)” para o tumor de próstata, “gov” para o tumor de gônada (ovário), “ci(r)” para cardiovascular, “vir” para viral, “col”para o tumor de colo, “mar” para o tumor mamário, “got” para o tumor de gônada (testículo) e “tum” para outros tumores. O prefixo é precedido por uma sílaba Anticorpo Linfócito B Células do mieloma Híbrido A Híbrido B Híbrido C 78 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
  • 4. compatível que designa o produto para terminar o nome. Monte todas as partes e palavras como biciromab, seviru- mab, edobacumab e nebacumab começam a fazer sentido. Se outra molécula for adicionada ao anticorpo, uma pa- lavra separada será adicionada ao nome. Se uma toxina for adicionada, o “tox” deve ser parte da segunda palavra. Co- mo exemplo, “aritox” refere-se à toxina A da ricina, e “su- dotox”, à exotoxina da Pseudomonas aeruginosa. Pende- tide ou pentetate também são palavras utilizadas para todo ligante que prende o anticorpo a uma toxina ou isótopo. Um resumo da nomenclatura seria: final com “mab” são anticorpos monoclonais; final em “ximab” são monoclonais quiméricos e podem formar anticorpos neutralizantes; final “zumab” são anticorpos monoclonais humanizados e menos capazes de gerar anticorpos neutralizantes; final “cept” en- volve fusão com a porção Fc da IgG1 humana5 . Aplicações Os anticorpos monoclonais, como terapia alvo, têm alta especificidade com poucos efeitos colaterais e é o foco de muitas pesquisas nas doenças que necessitam de trata- mento clínico ou cirúrgico agressivo. Os anticorpos mono- clonais podem ser aplicados intactos ou acoplados a outra molécula, por exemplo, um átomo fortemente radioativo, como o I131 , este com o objetivo de destruir uma célula alvo. Alguns anticorpos monoclonais têm sido introduzidos na medicina para suprimir o sistema imune (como Muro- momab-CD3, Omalizumab) e para destruir ou inibir células malignas (por exemplo, Rituxima, Alemtuzumab)6 . No total, dezoito biológicos foram aprovados para uso terapêutico, e são os seguintes: Muronomab-CD3 (Ortho- clone OKT3® ); Abciximab (ReoPro® ); Daclizumab (Zena- pax® ); Rituximab (Rituxan® ); Basiliximab (Simulect® ); Pa- livizumab (Synagis® ); Infliximab (Remicade® ); Trastuzu- mab (Herceptin® ); Gemtuzumab ozogamicin (Mylotarg® ); Alemtuzumab (Campath 1H® ); Ibritumomab tiuxetan (Ze- valin® ); Adalimumab (Humira® ); Alefacept (Amevive® ); Tositumomab (Bexxar® ); Etanercept (Enbrel® ); Efalizumab (Raptiva® ); Omalizumab (Xolair® ); Bevacizumab (Avas- tin® ). Suas indicações e efeitos colaterais serão discutidos nesta revisão. Método Objetivo Rever a literatura sobre as indicações e problemas asso- ciados ao uso de anticorpos monoclonais e derivados co- nhecidos como biológicos. Critérios de consideração dos estudos para esta revisão Todos os estudos incluindo revisões, estudos clínicos, editoriais, cartas, meta-análises, guias práticos estudos clínicos randomizados e estudos clínicos controlados publi- cados até janeiro de 2006. Não houve imposição de res- trição na língua dos trabalhos. Estratégia de pesquisa para identificação dos es- tudos Estudos relevantes de banco de dados eletrônicos foram identificados de: a) MEDLINE (a partir de 1966) b) Ovid OLDMEDLINE(R) 1950 a 1965 c) EMBASE (a partir de 1980) e CINAHL (a partir de 1982) d) Ovid MEDLINE(R) In-Process & Other Non-Indexed Ci- tations e) LILACS (Latin American and Caribbean Health Science Information database) f) CancerLit g) Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED)-- 1945-presente h) Social Sciences Citation Index (SSCI)--1956-presente i) Arts & Humanities Citation Index (A&HCI)--1975-pre- sente j) Books@Ovid 11 de janeiro de 2006 Bibliografias dos estudos selecionados foram analisadas. Estudos não publicados ou em andamento foram pesquisa- dos via correspondências com especialistas na área, auto- res de trabalhos relevantes e companhias farmacêuticas. Resumos de congressos foram pesquisados manualmente. A estratégia de pesquisa 1. monoclonals antibodies, Muronomab-CD3, Orthoclone- OKT3® , Abciximab, ReoPro® , Daclizumab, Zenapax® , Rituximab, Rituxan® , Basiliximab, Simulect® , Palivizu- mab, Synagis® , Infliximab, Remicade® , Trastuzumab, Herceptin® , Gemtuzumab ozogamicin, Mylotarg® , Alemtuzumab, Campath 1H® , Ibritumomab tiuxetan, Zevalin® , Adalimumab, Humira® , Alefacept, Amevive® , Tositumomab, Bexxar® , Etanercept, Enbrel® , Efalizu- mab, Raptiva® , Omalizumab, Xolair® , Bevacizumab, Avastin® ; 2. Inflammatory OU inflamm* OU neoplasic* OU neopla- sic disease OU autoimmune OU autoimmune disease; 3. Immunosuppressants OU Immunosuppressive Agents OU Immunomodulators OU Biological Response Modi- fiers; Estes foram combinados com a estratégia de pesquisa para localizar os artigos. Método de seleção do estudo O total de 1128 artigos científicos preenchia os critérios acima descritos e arquivados em banco de dados do EndNote 9.0® . Deste, títulos e resumos foram identificados das pesquisas e analisados pelos autores. Texto completo de possível relevância foi obtido para avaliação. Os autores decidiram qual publicação preenchia os critérios de inclu- são pela sua qualidade metodológica, índice de impacto e adequação ao texto da revisão. Conflito de interesse potencial Os autores envolvidos nesta revisão a fizeram sem qual- quer conflito de interesse conhecido. Resultados Os biológicos foram apresentados na ordem em que o autor sênior desta revisão considerou como mais relevante para o público alvo. Um resumo destes biológicos é descri- to na tabela 1. Omalizumabe (Xolair®) É um anticorpo anti-IgE monoclonal humanizado não- anafilaticogênico, com características humanas >95% (IgG1-κ). Ele reconhece o mesmo sítio de ligação do recep- tor de alta afinidade FcεR1 da IgE livre circulante (porção Fc específica), bloqueando-o e prevenindo a liberação de mediadores inflamatórios por mastócitos e basófilos tais como histamina, leucotrienos e citocinas. Esse anticorpo forma pequenos complexos triméricos ou pentaméricos com a IgE livre7 . Está indicado para a asma e rinite alérgicas. Previne cri- ses de asma após teste de provocação por inalação de alérgenos, tanto a resposta imediata como a tardia, em pa- cientes com doença alérgica leve8 . Outras aplicações têm sido sugeridas9 . Recentemente, aplicação efetiva na der- matite atópica foi relatada10 . Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 79
  • 5. Tabela 1 - Quadro apresentando anticorpos monoclonais usados na prática médica e detalhados neste trabalho. Monoclonal* Nome Fonte Indicação(ões) Mecanismo Abciximabe ReoPro Quimérico, IgG monoclonal Inibição da agregação plaquetária Liga-se ao receptor GPIIb/IIIa Adalimumabe Humira Humano, monoclonal IgG1 Artrite reumatóide Liga-se a TNF-α Alefacept Amevive receptor CD2 com fragmento Fc IgG1 Psoríase Liga-se a CD2 Alemtuzumabe Campath Humanizado, monoclonal IgG Leucemia linfocítica crônica de células B Liga-se a CD52 Basiliximabe Simulect Quimérico, monoclonal Reijeição aguda renal Subunidade alfa do IL-2R Bevacizumabe Avastin Humanizado, monoclonal câncer coloretal metastatizado anti-fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) Daclizumabe Zenapax Humanizado, monoclonal GVHD e transplantes Subunidade alfa do IL-2R Efalizumabe Raptiva Ac contra CD11a (LFA-1) Psoríase Liga-se a CD11a (LFA-1) Etanercept Enbrel receptor TNF com fragmento Humano IgG Fc Artrite reumatóide Age como um receptor para TNF Gemtuzumabe ozogamicin Mylotarg Humanizado, monoclonal IgG Leucemia mieloide aguda Liga-se a CD33 Ibritumomabe tiuxetan Zevalin Camundongo, monoclonal IgG Tratmento de linfoma não Hodgkin de células B Liga-se a CD20 Infliximabe Remicade Quimérico, monoclonal IgG Doença de Crohn e artrite reumatóide Liga-se a TNF-a Muromonabe-CD3 Orthoclone-OKT3 Imunoglobulina murina Ig2a Rejeição de transplante de órgãos sólidos Liga-se ao CD3 Omalizumabe Xolair Humanizado, monoclonal IgG1S Asma e atopias IgE livre circulante (porção Fc específica) Palivizumabe Synagis Humanizado, monoclonal Contra VRS Liga-se ao VRS Rituximabe Rituxan Quimérico, monoclonal IgG Linfoma não-Hodgkin Liga-se a CD20 Tositumomabe Bexxar monoclonal IgG murino radiomarcado com iodo-131 linfoma não-Hodgkin folicular Liga-se a CD20 Trastuzumabe Herceptin Humanizado, monoclonal IgG Câncer de mama Liga-se a proteína HER2 * a língua portuguesa exige o acréscimo de e ao mab É capaz de reduzir exacerbações de asma, mesmo em paciente com doença moderada e grave, a eosinofilia, me- lhorar a qualidade de vida, diminuindo os sintomas e os parâmetros das provas de função pulmonar, e reduzir as doses de corticosteróides e de β-agonistas. Em pacientes com rinite alérgica sazonal houve diminuição significativa dos sintomas nasais e oculares e redução da necessidade de medicamentos tais como os anti-histamínicos. Após sua aplicação por via subcutânea ou IV, há queda rápida dos níveis séricos de IgE livre (>99%), através de uma ação dose-dependente. Ocorre redução da expressão do receptor de alta afinidade FcεR1 e na liberação de hista- mina antígeno-estimulada pelos basófilos. A dosagem anti- IgE necessária deve ser individualizada de acordo com os níveis de IgE total e peso de cada paciente. A formação dos complexos acarreta aumento nos níveis de complexos anti-IgE/ IgE, com conseqüente desaparecimento da IgE livre circulante. Como esses complexos não podem se ligar aos receptores IgE, são desprovidos de atividade IgE biológica11 . Devido à humanização do anticorpo e ao pequeno tama- nho dos complexos anti-IgE/IgE, o omalizumabe não de- sencadeia doenças auto-imunes porque esses complexos são incapazes de ativar o complemento. Os efeitos adver- sos são: reação no local da injeção, fadiga, rash cutâneo, urticária, infecção viral, infecção de vias aéreas superiores, sinusite, cefaléia e faringite. Embora o papel da IgE nas infecções parasitárias tem sido considerado pouco eviden- te, é seguro concluir que todas as evidências não suportam um papel primário da IgE na proteção do hospedeiro, con- siderando-se esquistossomose e estrongiloidíase. A predis- posição a infecções parasitárias ainda necessita de maior investigação, pois embora muitas das infecções sejam cos- mopolitas, são encontradas principalmente em regiões tro- picais e intertropicais, onde a prevalência é alta12 . Daclizumabe (Zenapax®) É um anticorpo monoclonal humanizado que atua contra a subunidade alfa (Tac/CD25) do receptor da interleucina 2 (IL-2) das células T ativadas. É usado na prevenção da do- ença aguda e crônica de enxerto versus hospedeiro no transplante de órgãos maciços, principalmente o rim13 . A dose recomendada é de 1mg/kg a cada 14 dias, em cinco doses, sendo a primeira 24 horas antes da cirurgia. Seu uso pode reduzir a dose de ciclosporina e glicocorticos- teróide, diminuindo a nefrotoxicidade e os efeitos cushin- góides. Quando adicionado à terapia tríplice de imunossu- pressão (ciclosporina, azatioprina e prednisona), reduz em 36% a taxa de rejeição aguda em um ano no transplante renal e pode ter bons resultados no transplante de outros órgãos. Não aumenta o risco de infecção ou malignidade14 . Muromonabe-CD3 (Orthoclone-OKT3®) É uma imunoglobulina Ig2a produzida pela técnica do hibridoma que reconhece, liga e bloqueia o complexo CD3 do receptor da célula T. Foi o primeiro anticorpo monoclo- nal murino a se tornar disponível para terapia em huma- nos. Foi aprovado pela Food and Drug Administration 80 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
  • 6. (FDA) em 1985 como um agente anti-rejeição no trans- plante renal e é considerado alternativa efetiva na profila- xia e no tratamento de primeira linha da rejeição aguda de aloenxertos de órgãos sólidos15 . Pode ser efetivo também na prevenção ou reversão da doença do enxerto versus hospedeiro em pacientes transplantados da medula ós- sea16 . Inúmeros efeitos colaterais prejudicaram sua difusão na prática clínica. A administração é freqüentemente acompa- nhada por uma síndrome de liberação de citocinas: febre alta, calafrios, hipertensão arterial e edema pulmonar. Vá- rios pacientes desenvolvem anticorpos contra o epítopo xe- nogênico (murino) diminuindo sua eficácia. As reações cru- zadas com o tecido não-alvo podem produzir trombocito- penia e neutropenia ou meningoencefalite asséptica. Com- plicações infecciosas foram relatadas sugerindo imunossu- pressão excessiva17 . Abciximabe (ReoPro®) É um fragmento de anticorpo que inibe a agregação pla- quetária e leucocitária, ligando-se aos receptores da glico- proteína (GP) II b/IIIa. Foi o primeiro agente aprovado pa- ra o uso como terapia adjuvante para a prevenção de com- plicações isquêmicas cardíacas nos pacientes que se sub- meteram a intervenção coronariana percutânea. As princi- pais indicações cardiovasculares adicionais são - angina instável, stent na carótida, ataque isquêmico e doença vas- cular periférica18 . Estudos em pacientes submetidos à intervenção percu- tânea com síndrome coronariana aguda mostraram que, a adição de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa com heparina e aspirina, reduziu mortes ou infartos miocárdios quando comparada às terapias somente com aspirina e heparina. A principal discussão sobre sua segurança é o risco de san- gramento tanto pelo potente efeito antiplaquetário quanto pelo risco de trombocitopenia. Foi relatado um caso de trombocitopenia grave induzida por abciximabe que causou hemorragia intracraniana fatal19 . Rituximabe (Mabthera®, Rituxan®) É um anticorpo monoclonal quimérico IgG1-κ que se liga especificamente ao antígeno transmembrana CD20. Este antígeno está localizado nos linfócitos pré-B e linfócitos B maduros, mas não em células progenitoras, células pró-B, células plasmáticas normais ou outros tecidos normais. O antígeno CD20 encontra-se presente em mais de 95% de todas as células B dos linfomas não-Hodgkin (LNH). Os possíveis mecanismos para a lise celular são citotoxicidade complemento-dependente e citotoxicidade celular anticor- po-dependente20 . Foi o primeiro anticorpo não conjugado aprovado pelo FDA, em 1997, para o tratamento de recidiva de linfomas. Em 2002 tornou-se a principal droga antineoplásica no mundo. É indicado para os casos de linfoma, não-Hodgkin de baixo grau e folicular CD20+, que não responderam ou que progrediram durante ou após pelo menos um trata- mento padrão contendo agente alquilante21 . É efetivo quan- do combinado com quimioterapia, com longa duração de resposta no tratamento de linfoma agressivo. A combina- ção com CHOP (ciclofosfamida/doxorubicina/vincristina/ prednisona) aumentou as taxas de resposta e sobrevida. Os eventos tóxicos observados com a combinação não são maiores nem mais tóxicos do que aqueles presentes na te- rapia isolada com CHOP. Seu uso contra doenças auto-imunes, como artrite reu- matóide (AR), púrpura trombocitopênica imune, anemia hemolítica auto-imune, lupus eritematoso sistêmico e es- clerose múltipla estão sob investigação22 . A dose recomendada é de 375 mg/m2 por infusão intra- venosa uma vez por semana, por quatro semanas, através de uma via de acesso exclusiva. O tratamento é bem tole- rado. Reações adversas relacionadas à infusão incluem a síndrome de liberação de citocinas, principalmente febre, calafrios e tremores. Estas ocorrem na maioria dos paci- entes durante a primeira infusão, geralmente nas primeiras duas horas23 . Basiliximabe (Simulect®) É um anticorpo monoclonal quimérico que se liga espe- cificamente à subunidade alfa (CD25) do complexo do re- ceptor da interleucina-2 (IL-2R) de alta afinidade, seletiva- mente expresso na superfície dos linfócitos ativados, ini- bindo sua proliferação e induzindo apoptose, uma via cru- cial na rejeição de aloenxertos24 . Os anticorpos anti-IL-2R são usados como terapia indu- tora, imediatamente após transplante renal, para preven- ção da rejeição celular aguda em crianças e adultos. Du- rante rejeição aguda, a cadeia IL-2R alfa não é mais ex- pressa nas células T, portanto, não podem ser usados para tratar uma rejeição aguda existente. Em até 24 horas após uma única dose intravenosa de basiliximabe 2,5 a 25mg, aproximadamente 90% das IL-2R disponíveis nos linfócitos T estarão complexadas com a droga. Esta ligação foi man- tida por quatro a seis semanas quando pacientes renais transplantados receberam basiliximabe 20mg duas horas antes e quatro dias após a cirurgia25 . O basiliximabo reduziu significantemente a rejeição agu- da quando comparado com placebo em receptores trans- plantados renais recebendo imunoterapia dupla (microe- mulsão de ciclosporina e corticosteróides) e tripla (basea- das em azatioprina ou micofenolato mofetil). A incidência de eventos adversos foi semelhante, sem acréscimo na incidência de infecção. Distúrbios linfoproliferativos pós- -transplante após tratamento com basiliximabe foram ra- ros. Existiram raros casos de reações de hipersensibilidade. Sua eficácia foi semelhante àquela da globulina antitimóci- to eqüina (ATG) e do daclizumabe, e similar ou maior do que à do muromonabe-CD3. Permite a redução segura de corticosteróides e de inibidores da calcineurina, sem au- mentar o custo total do tratamento em pacientes renais transplantados26 . Palivizumabe (Synagis®) É um anticorpo monoclonal humanizado contra o vírus sincicial respiratório (VSR). Essa droga foi aprovada para uso na prevenção da infecção do trato respiratório pelo VSR em crianças prematuras, com displasia broncopulmo- nar, doença pulmonar crônica e cardíaca congênita hemo- dinamicamente significante27 . Em imunodeficiência e fibro- se cística, mesmo sem indicação formal, parece trazer be- nefícios importantes ao paciente28 . Estudos demonstram redução de até 55% na taxa de hospitalização por infecção por VSR em crianças pré-termo (≤ 35 sem) com ou sem doença pulmonar crônica. A dosa- gem utilizada nesses estudos é de 15mg/kg a cada 30 dias por cinco meses. Os eventos adversos e as reações locais a injeção da droga são raras e leves, porém pode ocorrer fe- bre, ansiedade e diarréia. Não interfere na administração de outras vacinas pediátricas29 . Infliximabe (Remicade®) É um anticorpo (IgG1) monoclonal quimérico anti-fator de necrose tumoral alfa (anti-TNF-α). Foi aprovado pelo FDA em 1998 para uso em pacientes com doença de Crohn, com atividade de moderada a grave, que respon- diam inadequadamente à terapia convencional. Em 1999 foi aprovado para uso no tratamento de AR em associação com metotrexato. Em 2000 seu uso foi expandido para uso para outras doenças inflamatórias30 . Na doença de Crohn com acometimento luminal a dose única de 5 mg/kg intravenosa (IV) é eficiente. Quando há Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 81
  • 7. fistulização, três doses IV de 5mg/kg, uma na semana 0 e outras nas semanas 2 e 6, são o tratamento preconizado, porém ainda são necessários mais estudos para definição das doses ideais. A dose recomendada para tratamento de AR é de 3mg/kg IV nas semanas 0, 2 e 6, seguida de dose de manutenção a cada oito semanas31 . A principal razão para suspensão do tratamento são as reações infusionais como dispnéia, rubor, rash cutâneo e cefaléia. Outros efeitos são mialgias, poliartralgias e febre. A contra-indicação absoluta para seu uso é a insuficiência cardíaca congestiva em grau moderado ou grave. Há risco aumentado para infecções graves e é recomendado des- continuação se infecção for diagnosticada. Tem-se relatado o aparecimento de anticorpos anti-nucleares e anti-dupla hélice do DNA, com significado clínico desconhecido. A as- sociação de infliximabe com metotrexato diminui a forma- ção desses anticorpos32 . Adalimumabe (Humira®) É um anticorpo monoclonal IgG1 totalmente humano que se liga especificamente ao Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) e neutraliza a função biológica do TNF blo- queando a sua interação com os receptores TNF p55 e p75 da superfície celular, também modula as respostas biológi- cas induzidas ou reguladas pelo TNF, incluindo as altera- ções dos níveis das moléculas de adesão responsáveis pela migração leucocitária (ELAM-1, VCAM-1 e ICAM-1)33 . Seu uso foi aprovado para redução dos sinais e sinto- mas de artrite reumatóide (AR) e inibição da progressão do dano estrutural de articulações. Indicado para adultos com AR ativa moderada a grave, e que não tenham apresenta- do resposta eficaz a um dos tratamentos anti-reumatóides tradicionais. Após o seu uso em doentes com AR, há uma queda rápida dos níveis séricos de marcadores de inflama- ção de fase aguda (proteína C reativa), VHS e citocinas (IL-6)34 . Este deve ser administrado em dose única, 40 mg via subcutânea, em semanas alternadas. Pode ser utilizado co- mo monoterapia ou em combinação com medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença tais como meto- trexato. Os efeitos indesejáveis mais freqüentes são a dor no local da injeção, queda dos níveis de hemoglobina, hi- perlipidemia, cefaléias, tonturas, infecção de via aérea su- perior, pneumonia, náuseas, diarréia, odinofagia, exante- ma, prurido, herpes simplex, infecção urinária, astenia, dor abdominal e infecção35 . Etanercept (Enbrel®) É uma proteína resultante da fusão entre o receptor de TNF tipo II e a região Fc da IgG1 humana. É um bloquea- dor do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) que inibe a ligação do TNF aos receptores presentes nas superfícies ce- lulares, reduzindo o processo inflamatório. As principais in- dicações são para pacientes com AR, espondilite anquilo- sante (EA), artrite psoriática (AP), artrite reumatóide juve- nil (ARJ) ou doença de Crohn36 . Em um estudo, utilizando-o na AR, mostrou redução significativa no processo inflamatório das articulações e marcadores bioquímicos. Após um ano de tratamento apre- sentou a mesma eficácia que o metrotexato na redução de sinais e sintomas da AR, e melhores resultados na diminui- ção das erosões radiográficas. Os efeitos colaterais mais comuns foram no local da injeção e infecções no trato res- piratório superior37 . Foi aprovado como terapia de primeira linha em pacientes com moderada a grave atividade de AR e na EA, AP e ARJ36 . Indicações para psoríase em placa co- locam esta droga como uma das mais efetivas para esta doença38 . Alefacept (Amevive®) O Alefacept (B-9273) é um anticorpo monoclonal anta- gonista de LFA-3-Ig fusion protein CD2. Atua na memória da célula T, ligando-se ao CD2 na superfície do linfócito T39 . Diminui a contagem de linfócitos T (CD45RO+) no san- gue periférico, células responsáveis pela sustentação da psoríase. É usado no tratamento de psoríase moderada a grave. Foi aprovado pelo FDA em 2003. O tratamento consiste em uma injeção semanal, durante doze semanas, seguido de doze semanas sem o uso da droga. Ocorre melhora clínica significativa dos sintomas da psoríase na maioria dos paci- entes, com benefício de sete meses sem a necessidade de fototerapia e terapia sistêmica. Não foram observados au- mento da incidência de infecção ou malignidade41 . Efalizumabe (Raptiva®) É um anticorpo monoclonal humanizado, recombinante, IgG1, cujo alvo é a molécula de adesão da célula T, antíge- no função leucocitária associado-1 (LFA-1). Liga-se ao CD11a – a subunidade alfa do LFA-1 – impedindo a ligação deste com seu ligante, molécula de adesão intercelular-1 (ICAM-1). Assim, inibe vários processos da célula T que se acredita serem importantes na patogenia da psoríase, in- cluindo a ativação, a adesão às células endoteliais e a mi- gração das células T40 . Administrado via subcutânea uma vez por semana, me- lhora a qualidade de vida em pacientes com psoríase mo- derada a grave. Seu início de ação é precoce, apresentan- do melhora com 2-4 semanas. Recidiva da doença é obser- vada com 60-70 dias após descontinuação do tratamento41 . Apresenta efeitos adversos agudos nas primeiras injeções, diminuindo a incidência nas doses subseqüentes. Pode ser administrado seguramente por longos períodos. Resultados iniciais em pacientes transplantados renais também são promissores42 . Trastuzumabe (Herceptin®) É um anticorpo monoclonal humanizado que atinge sele- tivamente o domínio extracelular da proteína do receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2). É uma IgG1 que contém regiões de estrutura humana e re- giões que determinam a complementaridade, provenientes de um anticorpo murino anti-p185 HER2, que se liga ao HER243 . O proto-oncogene HER2 ou c-erbB2 codifica uma proteína transmembrana de 185 Kda, semelhante ao re- ceptor, que está estruturalmente relacionado ao fator de crescimento epidérmico. O aumento de expressão de HER2 é um marcador de agressividade para tumores de mama. Acredita-se que em 20 a 30% dos tumores de mama haja uma expressão de HER2. Uma conseqüência da amplificação do gene HER2 é o aumento da proteína HER2 na superfície destas células tumorais resultando em um receptor HER2 constitutiva- mente ativado. O trastuzumabe é capaz de inibir a prolife- ração de células tumorais humanas com aumento de ex- pressão de HER2 e é recomendado como monoterapia, no tratamento de segunda ou terceira linha em mulheres com câncer de mama metastático com aumento de expressão de HER2, ou em combinação com paclitaxel, como trata- mento de primeira linha de mulheres com câncer de mama metastático com expressão de HER244 . Vários estudos te- ntam encontrar novos usos terapêuticos como no câncer de próstata, de pulmão e de cólon. Aproximadamente 50% dos pacientes podem apresentar reações adversas. As mais comuns são causadas pela infu- são como febre e calafrio. A reação mais importante foi a síndrome de disfunção cardíaca, encontrada em menos de 5% dos pacientes45 . Gemtuzimabe ozogamicin (Mylotarg®) É um anticorpo monoclonal humanizado IgG4 contra CD33 para entregar uma potente citotoxina, calicheamicin, 82 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 Anticorpos monoclonais
  • 8. nas células. O antígeno CD33 está expresso na superfície celular dos blastos em mais de 90% dos pacientes com leucemia mielóide aguda, mas não está presente em célu- las normais. Depois da ligação com o CD33 na superfície da célula, ele entra na célula e é hidrolisado. Seus dois componentes são liberados no citoplasma e calicheamicin entra no núcleo onde se associa ao DNA, causando quebra da dupla hélice, destruindo a célula46 . Foi aprovado como segunda linha para o tratamento de pacientes com leucemia mielóide aguda CD33+ que pos- suem 60 anos ou mais de idade ou que não são considera- dos candidatos para outra quimioterapia citotóxica. A dose é de 9 mg/m2 em infusão IV durante duas horas, em um total de duas doses com intervalo de 14 dias47 . Hepatoxicidade química pode ocorrer com o uso da dro- ga e doença hepática veno-oclusiva é relativamente co- mum. Pode ocorrer a síndrome relacionada à infusão (cala- frios, febre, náusea, hipotensão e dor). Em todos os paci- entes há mielossupressão grave, mas mucosite grave e in- fecções são infreqüentes. A hiperbilirrubinemia grave e a elevação das transaminases são geralmente transitórias. Cerca de 16% dos pacientes necessitam de internação hospitalar48 . Alemtuzumabe (Campath 1H®) É um anticorpo monoclonal derivado do DNA que é diri- gido contra a glicoproteína de superfície CD52 expressa na superfície de todas os linfócitos B e T, a maioria dos monó- citos, macrófagos e uma subpopulação de granulócitos. É uma IgG1 Kappa, com peso molecular aproximado de 150 kD, sendo produzido a partir de culturas de células de ma- míferos (ovários de camundongos) em um meio contendo neomicina49 . Formas murinas, Campath-1G e Campath-1M, têm sido utilizadas extensivamente em transplantes alogênicos de medula óssea. A forma humanizada, Campath-1H, é atual- mente o foco de vários estudos em neoplasias hematoló- gicas (leucemia linfocítica crônica de células B e leucemia prólinfocítica de células T), doenças auto-imunes (AR, es- clerose múltipla) e transplante de órgãos. Está em estudo a possibilidade de seu uso em pacientes com síndrome de Sezary50 . Os principais efeitos colaterais são febre, hipotensão, tremores, rash cutâneo e dispnéia, mais comuns na pri- meira semana de infusão da droga. Significativa toxicidade hematológica e imunossupressiva são observadas. Induz profunda linfopenia, com grande variedade de infecções oportunistas observadas em pacientes que estão fazendo uso dessa droga. Há relatos de grave e prolongada mielos- supressão e, em alguns estudos, de aplasia e hipoplasia de medula óssea, mesmo na dose recomendada. A incidência dessas complicações é maior com o aumento da dose. Além disso, foram relatadas anemia auto-imune grave e trombocitopenia51 . Ibritumomabe tiuxetan (Zevalin®) É um imunoconjugado resultante de uma ligação cova- lente estável entre o anticorpo monoclonal ibritumomabe e o tiuxecan, no qual é acoplado um radioisótopo (Indium-11 ou Yttrium-90). O Ibritumomabe é uma IgG1 Kappa dirigi- da contra o antígeno CD20, encontrado na superfície de linfócitos B normais e malignos, sendo encontrado em mais de 90% das células B nos linfomas não-Hodgkin. É obtido a partir das células ovarianas de hamsters chineses. De- monstrou-se, in vitro, que após ligação ao antígeno CD20 dos linfócitos B, ocorre indução de apoptose nessas células. Além disso, a emissão de radiação beta a partir dos radio- -isótopos, promove dano celular a partir da formação de radicais livres contra as células alvo e as células vizinhas52 . A administração é feita em duas etapas: a primeira in- clui uma infusão de Rituximabe precedendo In-111 Zeva- lin® . A segunda, que dura de sete a nove dias, consiste de segunda infusão de Rituximabe seguido por Y-90 Zevalin® . As indicações para seu uso são: tratamento de pacientes com linfoma não-Hodgkin de células B, folicular ou de bai- xo grau refratários ou recidivados, incluindo aqueles com linfoma não-Hodgkin folicular refratário ao tratamento iso- lado com Rituximabe. As reações adversas mais comuns incluem infecções (principalmente bacterianas), alérgicas (broncoespasmo e linfoedema), e hemorragia por trompo- citopenia. Há casos de desenvolvimento de neoplasias e displasias mielóides53 . Tositumomabe (Bexxar®) É um anticorpo monoclonal IgG murino radiomarcado com iodo-131 que se liga ao antígeno CD20 na superfície de células B humanas normais e malignas. Aprovado em 2003 para o tratamento de pacientes com linfoma não- -Hodgkin folicular, com ou sem transformação, cuja doença é refratária ao rituximabe e recidivou à quimioterapia subseqüente54 . O tratamento freqüentemente exige hospitalização devi- do ao risco inerente da exposição a emissões gama, e pa- cientes e familiares devem seguir instruções detalhadas para prevenir exposição indevida. Apesar de 10% dos pa- cientes tratados com tositumomabe desenvolverem anti- corpos anti-rato humanos (HAMA), seu uso não impede a administração de terapias subseqüentes de anticorpos qui- méricos. A maioria dos eventos adversos não-hematológi- cos varia de leve a moderada e é autolimitada. Toxicidade hematológica é o principal limitante quando associado à radioimunoterapia. Complicações incluem mielosupressão, leucemia aguda secundária e mielodisplasia. Entretanto, a dosimetria de corpo inteiro manteve a toxicidade hemato- lógica dentro de limites previsíveis, transitórios e manejá- veis55 . Bevacizumabe (Avastin®) É um anticorpo anti-fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) monoclonal humanizado. Foi aprovado pe- lo FDA em fevereiro de 2004 para o tratamento de primeira linha no câncer coloretal metastatizado em combinação com quimioterapia. É o primeiro agente aprovado contra um tumor de angiogênese56 . Tem sido demonstrado o VEGF como um mediador de angiogênese patológica. Ainda mais, VEGF está relacionado com neovascularização intraocular associada com retinopa- tia diabética e degeneração macular relacionada com a ida- de. Estudos clínicos com bevacizumab em uma variedade de neoplasias e distúrbios oftalmológicos estão em anda- mento57 . Conclusão O desenvolvimento dos anticorpos monoclonais pela engenharia genética tem oferecido novas esperanças para o tratamento de várias doenças. A habilidade dos an- ticorpos monoclonais de ligar-se a uma estrutura química pré-determinada estimulou o desenvolvimento dessas no- vas drogas. A complexidade da molécula, feita de quatro cadeias polipeptídicas, o grande peso molecular, os domí- nios funcionais múltiplos e versáteis, a origem de camun- dongo e a dificuldade de seleção das estruturas-alvo apro- priadas na superfície das células foram os obstáculos ini- ciais para sua produção e utilização. A reposição da maioria das seqüências murinas com seqüências humanas equiva- lentes, o decréscimo concomitante na imunogenicidade e a identificação de componentes da superfície celular, torna- ram os anticorpos monoclonais armas valiosas na luta con- tra doenças virais, inflamatórias, autoimunes e neoplasias. Devemos também acentuar que os biológicos não são usa- dos apenas para fins terapêuticos de doenças graves ou Anticorpos monoclonais Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 29, Nº 2, 2006 83
  • 9. complexas. A biotecnologia dos monoclonais é extensa- mente utilizada na medicina diagnóstica58-60 . Vários desses monoclonais já estão disponíveis no mer- cado nacional ou podem ser importadas pelos fabricantes através dos seus escritórios brasileiros. Entretanto, uma idéia concreta de farmacoeconomia, ou seja, o impacto dessa droga com relação ao seu custo benefício, só se fará completa após a aplicação dessas em estudos comparati- vos de médio e longo prazo adaptado para situação nacio- nal. Algumas desses estudos ainda não estão disponíveis mesmo em países aonde o uso dos biológicos já é uma realidade, porém há expectativa que o custo tenha uma progressiva redução à medida que a tecnologia de produ- ção da droga se amplie em vários países61 . O contínuo sucesso no desenvolvimento das terapias ba- seadas em anticorpos exigirá extensa pesquisa clínica, pa- ra detalhar como usar adequadamente esses compostos e quais os pacientes que irão se beneficiar e os efeitos cola- terais a longo prazo. A pesquisa imunológica também se beneficiará pois revelará importantes aspectos dos meca- nismos básicos de ação dos anticorpos e fundamentos dos mecanismos imunológicos envolvidos. Referências 1. Braun J, Saxon A, Wall R, Morrison SL. The second century of the antibody. Molecular perspectives in regulation, pathophy- siology, and therapeutic applications. West J Med. 1992 Aug; 157:158-68. 2. Santos NC, Castanho MARB. Liposomes: has the magic bullet hit the target? Quím Nova 2002 ; 25:1181-85. 3. Colcher D, Goel A, Pavlinkova G, Beresford G, Booth B, Batra SK. Effects of genetic engineering on the pharmacokinetics of antibodies. Q J Nucl Med. 1999;43:132-9. 4. Nakamura RM. 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