Análise Literária sobre a Escritora Clarice Lispector, abordando sobre sua vida pessoal e profissional. Trabalho feito na disciplina de Literatura seguindo as normas abnt 2016.
1. ESCOLA ESTADUAL MANOEL ANDRÉ
3 ANO “U” VESPERTINO DO ENSINO MÉDIO
REGINA GABRIELA DA PONCIUNCULA FERREIRA
Análise Literária: CLARICE LISPECTOR
“Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”
ARAPIRACA/AL
MAIO DE 2017
REGINA GABRIELA DA PONCIUNCULA FERREIRA
2. Análise Literária: CLARICE LISPECTOR
Análise crítica literária, solicitada pela
professora Ivone Sandes, como requisito
de obtenção de nota do primeiro bimestre
na disciplina de Literatura.
Arapiraca, 03 de Maio de 2017.
Arapiraca/Al
Maio de 2017
5. INTRODUÇÃO
Clarice Lispector (1920 – 1977) despertou no cenário literário brasileiro
nos anos 40 um enorme choque, tanto para os críticos quanto para os
leitores da época, esta escritora de “nome estranho e desagradável” que
muitos acreditavam ser pseudônimo, estava prestes a mudar visão das
mulheres na literatura, as personagens femininas ganhariam uma nova
postura, não mais sendo consideradas frágeis, mas sim capazes, fortes
e triunfantes.
Olga Borelli, sua melhor amiga, deu ênfase sobre quem Clarice era: "Ela
era uma dona-de-casa que escrevia romances e contos". Já o psiquiatra
Hélio Pellegrino a via como "vidente e visionária". Mesmo sendo uma
pessoa muito reservada, podemos conhecer mais de Clarice em cada
uma de suas obras, onde ela deixa um pedaço e reflexo de si em cada
frase, cada personagem, cada narrador que se coloca na obra, em cada
um deles há um pouco dessa mulher com personalidade forte,
obsessiva em detalhes e descrições, agitada, tudo isso sobre uma
máscara de fantasia e cotidiano que suas obras mostram.
Suas obras vão muito além da simplicidade de dona de casa que ela
acreditava ter, é claro que Clarice era uma ótima dona de casa,
conseguia conciliar a escrita com os afazeres domésticos, educar os
filhos e receber amigos, mas apesar de ela acreditar que era uma
simples dona de casa, sempre foi mais que isso. “Eu não sou uma
profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e
faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que
tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro,
em relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser uma profissional
para manter minha liberdade. ”
Durante seus 30 anos de profissão e suas 25 obras, sendo elas
crônicas, livros infantis e contos, Clarice foi e ainda é inconcebível,
mitificada, indecifrável e até mesmo rejeitada por alguns que não
compreendem ou se fecham para suas obras. Não há uma forma
específica para definir ou tentar encaixar Clarice em um padrão, pois,
mesmo depois de 40 anos de sua morte, Clarice se mantém com sua
hora de estrela.
6. Clarice Lispector.
“Caótica, intensa e inteiramente fora da realidade da vida. ” Era assim
que Clarice Lispector se descrevia como escritora, profissão esta que
ela resolveu adotar antes mesmo de saber direito o que era “ser
escritora”, durante a infância, tornou-se, e aos 7 anos enviava seus
primeiros contos infantis. " Quando eu aprendi a ler e escrever, eu
devorava os livros! [...] Eu pensava que livro é como árvore, como bicho:
coisa que nasce! Não descobria que era um autor! Lá pelas tantas, eu
descobri que era um autor. Aí disse: 'Eu também quero' "
Como imigrante, se considerava brasileira, mas jamais se considerou
ucraniana. "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de
colo" Os Lispector vieram ao Brasil escapando da miséria na Ucrânia.
Sua mãe havia sido estuprada pelos russos, e seu avô, assassinado.
Ela buscava entreter sua mãe com suas criações, para que aliviasse um
pouco a doença, Marieta sofria de uma paralisia que em 1930, levou a
morte. Clarice então, em homenagem a ela, compõe sua primeira peça
para piano.
Em 1934, Clarice se muda para o Rio de Janeiro com seu pai e suas
irmãs, mas anotava: “Meu pai acreditava que todos os anos se devia
fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto naquelas
temporadas de banhos em Olinda, Recife. Meu pai também acreditava
que o banho de mar salutar era o tomado antes do sol nascer. Como
explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de
madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda ainda na
escuridão? ”
Mudando-se para o Rio, decide então cursar direito, por não ter outra
orientação profissional, diz ela. Em 1940 inicia sua atividade de
jornalista e simultaneamente a de escritora, as duas quais levou sua
vida toda, no mesmo ano, publica seu primeiro conto: Triunfo, aos 19
anos. Neste conto, Clarice começa a revelar sua sensibilidade para
retratar ações e transformações psíquicas e sociais a partir de sua
delicadeza na escrita, como podemos ver no seguinte trecho: "Meu filho,
eu era uma mulher casada e sou agora uma mulher". A simples
mudança na frase, tem sentido de um ritual de passagem para a
personagem.
Em 1943, lança Perto do Coração Selvagem, que se destaca como a
mais séria tentativa de romance introspectivo, obra essa que impactou a
literatura brasileira, que não sofria mudanças desde os anos 30. A obra
mudou o cenário da literatura que mantinha o foco regionalista de
denúncia, com escritores renomados como “José Lins do Rego, Rachel
de Queiroz, Graciliano Ramos e Jorge Amado. ”
7. Antônio Candido fala "A jovem romancista ainda adolescente estava
mostrando à narrativa predominante em seu país que o mundo da
palavra é uma possibilidade infinita de aventura, e que antes de ser
coisa narrada a narrativa é forma que narra" Lispector e João
Guimarães Rosa, foram o marco de uma quebra com a forma de
representar a realidade utilizada até o momento. Os dois autores
acreditavam que os escritores criam não apenas os personagens, mas
também seus leitores.
Clarice tinha o hábito de guardar folhas soltas, guardanapos, tíquetes,
papéis de chiclete etc. Com ideias surgidas ao longo da sua rotina
cotidiana. A junção dessas ideias compõe o romance de estreia “Perto
do Coração Selvagem”, que marca também seu método desde então
definitivo: jamais reescrevia suas anotações. "Eu acrescento ou corto,
mas não reescrevo." Esse jeito “caótico" de criação era sempre
acompanhado de uma angústia intensa, durante vários e longos
períodos de absoluta inatividade.
Suas duas primeiras obras dão foco principal para a luta da mulher com
seu meio. Ao lado de escritoras como Virgínia Woolf e Katherine
Mansfield, Lispector mudou a visão das narrativas centradas sob visão
patriarcal do feminino. A partir dos anos 80, a problemática feminina
ganhou espaço nos estudos sobre a mulher na literatura.
Os anos que antecederam a publicação de Água Viva foram turbulentos
na vida de Clarice. Em 1967, um incêndio, causado por um cigarro
aceso esquecido fere gravemente sua mão direita, a que escrevia, ficou
dois meses hospitalizada, passando por cirurgias e ficando entre a vida
e a morte, mas conseguindo superar isso, fato esse que relata em uma
futura crônica. No mesmo período, descobriu que seu filho mais velho,
Pedro, sofria de esquizofrenia.
A criação de seus contos era a mesma dos romances, os “temas” não
eram escolhidos, mas apareciam para ela. Seguindo esse pensamento
surgiram, em épocas aleatórias os 13 contos de Laços de Família(1960);
Alguns já tinham sido publicados em 1952 no livro Alguns Contos, e os
outros estavam distribuídos em jornais e revistas.
O Ovo e a Galinha, é o conto considerado pela autora seu texto mais
hermético e seu favorito, foi escolhido por ela para ser lido em 1976 no
Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá. Se trata das reflexões de
uma dona de casa sobre um ovo de cozinha. "Sendo impossível
entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender
é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo".
Clarice também foi escritora infantil, começando em 1967 com o livro O
Mistério do Coelho Pensante, criava uma comparação entre animais e
as paixões humanas e suas contradições, Em A Mulher Que Matou os
8. Peixes (1968), a personagem esquece de alimentar seus peixes. A
história era um fato real que aconteceu com a própria autora, e ela
mesmo afirma que escreveu o livro “Por uma sensação de culpa da qual
queria me redimir. ”
O perfil padrão de mulher trabalhado por Clarice, era o de mulheres
sozinhas, profissionalmente bem-sucedidas, voltadas para sua própria
existência e solidão. Mas A Hora da Estrela é uma mudança brusca
desse “Estereótipo clariciano”, pois, sua personagem principal era uma
mulher de baixa classe social, não era bonita, muito menos inteligente.
O livro é praticamente seu testamento ou a visão da escritora sobre a
morte. A Ucraniana que se mudou para o Nordeste e depois para o Rio,
se projetava em Macabéa, que sai de Alagoas para morrer no Rio de
Janeiro, "uma cidade feita toda contra ela".
Antes de partir Clarice doou grande parte de suas obras à USP, dando
origem à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Em 1997, Clarice é
entrevistada por Júlio Lerner na TV Cultura, mas pede a emissora para
que o programa só seja publicado depois de sua morte. Após publicar A
hora da estrela, Clarice é hospitalizada com um câncer de ovário que se
espalhou e a levou à morte em 9 de dezembro do mesmo ano, um dia
antes de completar 57 anos. Está enterrada no cemitério do Caju, no
Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro.
9. CONCLUSÃO
Com toda sua rebeldia e simplicidade, a principal dificuldade foi a do
narrar, narrar um mundo que as mulheres eram postas em destaque e
não submissas à um homem, e ainda por cima fazer aquilo dar certo.
Parecia loucura, mas foi o caminho que Clarice escolheu.
Mesmo em sua época de faculdade, quando ainda não pensava que se
tornaria essa escritora que mudou as ideias do seu tempo, com apenas
um artigo, Lispector já problematizava o “destino biológico” das
mulheres, mostrando que, as mulheres poderiam apenas continuar
sendo apenas mães e donas de casa, mas, por outro lado, também
seria possível escolher um outro caminho, aquele que a própria mulher
pudesse escolher.
E quando resolveu quebrar a tradição literária de sua época, acabou
influenciando as novas gerações de escritores brasileiros dos anos 70,
tais como Lygia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Seus dois lados como escritora, sendo eles a temática existencial e
filosófica com o sentido realista e social, junto à figura particular e
histórica da mulher é a principal característica de sua escrita.
Clarice também conquistou, e ainda conquista uma legião de fãs,
mesmo depois de sua morte, a maioria sendo o público jovem que
buscam ser “hipsters” e “Oldschool”, acolhem para si as suas obras,
transformando-as muitas vezes no famoso “livro de cabeceira” isso junto
a todas as citações e interpretações que estão por toda parte na
internet.
Clarice teve, e ainda tem, a sua Hora de estrela.
10. REFERÊNCIAS
Entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, em 1 de fevereiro de
1977, para o programa “Panorama”, da TV Cultura, de São Paulo.
Disponível em < : https://www.youtube.com/watch?v=ohHP1l2EVnU e
http://www.revistabula.com/503-a-ultima-entrevista-de-clarice-lispector
BORELLI, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. 2.
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
FERREIRA, Teresa Cristina Montero. Eu sou uma pergunta: uma
biografia de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. São Paulo:
Ática, 1995.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1981.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro:
Rocco, 1998.
MIRANDA, Antônio; SIMEÃO, Elmira (Org.). Informação e tecnologia:
conceitos e recortes. Brasília: Universidade de Brasília, Departamento
de Ciência da Informação e Documentação, 2005.
MONTEIRO, Teresa (Org.). Clarice na cabeceira. Rio: Rocco, 2009.
MOSER, Benjamin. Clarice,. Trad. José Geraldo Couto. São Paulo:
Cosac & Naify Edições, 2009.
NOLASCO, Edgar Cézar. Clarice Lispector: nas entrelinhas da escritura.
São Paulo: Annablume, 2001.