O documento analisa a obra "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, resumindo:
1) A estrutura fragmentada e circular da obra reflete a impossibilidade da vida contínua no sertão durante a seca;
2) Os personagens, especialmente Fabiano, são retratados de forma crua, quase animalesca, ilustrando o determinismo do meio sobre o homem do sertão;
3) A obra faz uma forte crítica social ao latifúndio e à imobilidade social no Nordeste durante o período da seca
2. Um drama sertanejoUm drama sertanejo
Lá no sertão quem temLá no sertão quem tem
coragem pra suportarcoragem pra suportar
tem que viver pra tertem que viver pra ter
coragem pra suportarcoragem pra suportar
ou entãoou então
vai emboravai embora
vai pra longevai pra longe
e deixa tudoe deixa tudo
tudo que é nadatudo que é nada
nada pra viver (Gilberto Gil, “Coragem pra suportar”)nada pra viver (Gilberto Gil, “Coragem pra suportar”)
3. Contexto históricoContexto histórico
Romance de 30 - RegionalistaRomance de 30 - Regionalista
A secaA seca
Segunda geração modernistaSegunda geração modernista
O homem como produto do meioO homem como produto do meio
Visão deterministaVisão determinista
Crítica socialCrítica social
4.
5. Estrutura:Estrutura:
A obra não segue o esquema tradicional,nãoA obra não segue o esquema tradicional,não
há sequência narrativa;há sequência narrativa;
Possui um estrutura fragmentada,circular: aPossui um estrutura fragmentada,circular: a
impossibilidade da vida contínua;impossibilidade da vida contínua;
MudançaMudança ee Fuga:Fuga: início e fiminício e fim
Foco narrativo: 3ª pessoa, narrador observadorFoco narrativo: 3ª pessoa, narrador observador
prismáticoprismático
Discurso indireto livre,intervenção narrativaDiscurso indireto livre,intervenção narrativa
6. Ainda sobre aAinda sobre a
estrutura:estrutura:
Tempo: o tempo psicológico se sobrepõeTempo: o tempo psicológico se sobrepõe
ao cronológicoao cronológico
Fluxo de consciência, rememoração,Fluxo de consciência, rememoração,
intensificação do dramaintensificação do drama
Espaço: é fundamental na obra, valendoEspaço: é fundamental na obra, valendo
até mesmo como uma ALEGORIAaté mesmo como uma ALEGORIA
7. PersonagensPersonagens
FABIANO - vaqueiro nordestino, embrutecido,FABIANO - vaqueiro nordestino, embrutecido,
emite sons guturais e é animalizado;emite sons guturais e é animalizado;
SINHA VITÓRIA – tem mais consciência dasSINHA VITÓRIA – tem mais consciência das
coisas, é menos agreste;coisas, é menos agreste;
OS MENINOS – há uma despersonalizaçãoOS MENINOS – há uma despersonalização
das crianças: menino mais velho/ menino maisdas crianças: menino mais velho/ menino mais
novonovo
BALEIA – antropomorfizada, humanizada, fazBALEIA – antropomorfizada, humanizada, faz
parte da famíliaparte da família
8. Os secundáriosOs secundários
importantes:importantes:
Seu Tomás da Bolandeira – símbolo deSeu Tomás da Bolandeira – símbolo de
sabedoria, não aparece de forma direta;sabedoria, não aparece de forma direta;
O soldado amarelo – opressor deO soldado amarelo – opressor de
Fabiano, símbolo despótico e deFabiano, símbolo despótico e de
humilhação;humilhação;
O dono da fazenda – representa oO dono da fazenda – representa o
latifúndio e a imobilidade sociallatifúndio e a imobilidade social
9. TEMÁTICA SOCIALTEMÁTICA SOCIAL
Regional e universalRegional e universal
Psicológico e socialPsicológico e social
Incomunicação e desumanização do serIncomunicação e desumanização do ser
Desejo de participação social/ justiçaDesejo de participação social/ justiça
Reforma agráriaReforma agrária
10. A fala ou a ausênciaA fala ou a ausência
““Ordinariamente a família falava pouco .Ordinariamente a família falava pouco .
e depois daquele desastre viviam todose depois daquele desastre viviam todos
calados,raramente soltavam palavrascalados,raramente soltavam palavras
curtas”.(pág.11)curtas”.(pág.11)
““[Fabiano] vivia longe dos homens, só se[Fabiano] vivia longe dos homens, só se
dava bem com os animais.[...]montado,dava bem com os animais.[...]montado,
confundia-se com o cavalo,grudava-se aconfundia-se com o cavalo,grudava-se a
ele. E falava uma linguagem cantada,ele. E falava uma linguagem cantada,
monossilábica e gutural”. (pág.19).monossilábica e gutural”. (pág.19).
11. SobreSobre FabianoFabiano
Fabiano significa “indivíduo inofensivo; pobreFabiano significa “indivíduo inofensivo; pobre
diabo; indivíduo qualquer; desconhecido; semdiabo; indivíduo qualquer; desconhecido; sem
importância”.importância”.
““Não, provavelmente não seria um homem:Não, provavelmente não seria um homem:
seria aquilo mesmo a vida inteira,cabra,seria aquilo mesmo a vida inteira,cabra,
governado pelos brancos, quase uma rês nagovernado pelos brancos, quase uma rês na
fazenda alheia.”(pág. 24)fazenda alheia.”(pág. 24)
““andava banzeiros, pesado, direitinho umandava banzeiros, pesado, direitinho um
urubu” (pág. 51)urubu” (pág. 51)
12. A estéticaA estética
O realismo de Graciliano não é orgânico nemO realismo de Graciliano não é orgânico nem
espontâneo. É crítico. O ‘herói’ é sempre umespontâneo. É crítico. O ‘herói’ é sempre um
problema: não aceita o mundo, nem os outros,problema: não aceita o mundo, nem os outros,
nem a si mesmo. Sofrendo pelas distânciasnem a si mesmo. Sofrendo pelas distâncias
que o separam da placenta familiar ou grupal,que o separam da placenta familiar ou grupal,
introjeta o conflito numa conduta de extremaintrojeta o conflito numa conduta de extrema
dureza, que é a sua única máscara possível. Edureza, que é a sua única máscara possível. E
o romancista encontra no trato analítico dessao romancista encontra no trato analítico dessa
máscara a melhor fórmula de fixar as tensõesmáscara a melhor fórmula de fixar as tensões
sociais[...]”. ALFREDO BOSIsociais[...]”. ALFREDO BOSI
14. QUESTÃO 1 -CIDADE DE DEUS —QUESTÃO 1 -CIDADE DE DEUS —
filme de Fernando Meirelles.filme de Fernando Meirelles.
Em um dos locais mais violentos do Rio deEm um dos locais mais violentos do Rio de
Janeiro, um jovem pobre e negroJaneiro, um jovem pobre e negro
consegueconsegue
escapar do mundo do crime, tornando-seescapar do mundo do crime, tornando-se
fotógrafo profissionalfotógrafo profissional
15. II.II. Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia asComo não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia as
sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiamsílabas, imitava os berros dos animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiam
na catinga, roçando-se. Agora tinha tido a idéia de aprender uma palavra, com certezana catinga, roçando-se. Agora tinha tido a idéia de aprender uma palavra, com certeza
importante porque figurava na conversa de sinha Terta. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmãoimportante porque figurava na conversa de sinha Terta. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmão
e à cachorra. Baleia permaneceria indiferente, mas o irmão se admiraria invejoso.e à cachorra. Baleia permaneceria indiferente, mas o irmão se admiraria invejoso.
—— Inferno, inferno.Inferno, inferno.
Não acreditava que um nome tão bonito servisse para designar coisa ruim. E resolveraNão acreditava que um nome tão bonito servisse para designar coisa ruim. E resolvera
discutir com sinha Vitória. Se ela houvesse dito que tinha ido ao inferno, bem. Sinha Vitóriadiscutir com sinha Vitória. Se ela houvesse dito que tinha ido ao inferno, bem. Sinha Vitória
impunha-se, autoridade visível e poderosa. Se houvesse feito menção de qualquerimpunha-se, autoridade visível e poderosa. Se houvesse feito menção de qualquer
autoridade invisível e mais poderosa, muito bem. Mas tentara convencê-lo dando-lhe umautoridade invisível e mais poderosa, muito bem. Mas tentara convencê-lo dando-lhe um
cocorote, e isto lhe parecia absurdo. Achava as pancadas naturais quando as pessoascocorote, e isto lhe parecia absurdo. Achava as pancadas naturais quando as pessoas
grandes se zangavam, pensava até que a zanga delas era a causa única dos cascudos egrandes se zangavam, pensava até que a zanga delas era a causa única dos cascudos e
puxavantes de orelhas. Esta convicção tornava-o desconfiado, fazia-o observar os paispuxavantes de orelhas. Esta convicção tornava-o desconfiado, fazia-o observar os pais
antes de se dirigir a eles.antes de se dirigir a eles.
RAMOS, Graciliano.RAMOS, Graciliano. Vidas secasVidas secas. 74. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 59-60.. 74. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 59-60.
16. Do ponto de vista social, não poderia ser maior a distância entreDo ponto de vista social, não poderia ser maior a distância entre
os meninos do grupo de Zéos meninos do grupo de Zé
Pequeno — Cidade de Deus — e os meninos da família dePequeno — Cidade de Deus — e os meninos da família de
Fabiano — Vidas Secas. Em ambas as obras, eles são produtosFabiano — Vidas Secas. Em ambas as obras, eles são produtos
de espaços e momentos históricos distintos.de espaços e momentos históricos distintos.
Justifique essa afirmação, apoiando o seu ponto de vista emJustifique essa afirmação, apoiando o seu ponto de vista em
elementos das duas obras,demonstrando que elas representamelementos das duas obras,demonstrando que elas representam
leituras distintas da realidade brasileira.UFBA / UFRB – 2007 – 2aleituras distintas da realidade brasileira.UFBA / UFRB – 2007 – 2a
fase – Portuguêsfase – Português