Este artigo tem como objetivo apresentar um mapeamento das pesquisas brasileiras sobre o início da carreira docente em matemática e identificar as problemáticas apontadas nos estudos. A área de Educação Matemática no Brasil tem apontado um aumento expressivo no número de pesquisas produzidas, totalizando 4498 trabalhos até o ano de 2010 (Melo e Gama, 2013).
Para relatar a revisão desses estudos acadêmicos brasileiros selecionados - dissertações e teses – inicialmente apresentaremos alguns aspectos teóricos que embasam a problemática da fase inicial da carreira. A seguir, descrevemos os procedimentos metodológicos da pesquisa. E, por último, sistematizamos o mapeamento procurando contribuir com a sistematização das tendências e dos principais resultados encontrados vislumbrando indicativos para as novas pesquisas na área.
Tesis de Maestría de Pedro Sousa de Andrade (Resumen).pdf
A PROBLEMÁTICA DO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE EM MATEMÁTICA: MAPEAMENTO DOS ESTUDOS ACADÊMICOS BRASILEIROS
1. Problemas sobre os professores principiantes em seus processos de inserção
profissional
INFORMES DE INVESTIGAÇÃO
A PROBLEMÁTICA DO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE EM MATEMÁTICA:
MAPEAMENTO DOS ESTUDOS ACADÊMICOS BRASILEIROS
GAMA, Renata Prenstteter
rpgama@ufscar.br
Universidade Federal de São Carlos-UFSCar
Palavras-chave: início de carreira; matemática; estado da arte; pesquisas acadêmicas
Introdução
Este artigo tem como objetivo apresentar um mapeamento das pesquisas brasileiras
sobre o início da carreira docente em matemática e identificar as problemáticas
apontadas nos estudos. A área de Educação Matemática no Brasil tem apontado um
aumento expressivo no número de pesquisas produzidas, totalizando 4498 trabalhos até
o ano de 2010 (Melo e Gama, 2013).
Para relatar a revisão desses estudos acadêmicos brasileiros selecionados - dissertações
e teses – inicialmente apresentaremos alguns aspectos teóricos que embasam a
problemática da fase inicial da carreira. A seguir, descrevemos os procedimentos
metodológicos da pesquisa. E, por último, sistematizamos o mapeamento procurando
contribuir com a sistematização das tendências e dos principais resultados encontrados
vislumbrando indicativos para as novas pesquisas na área.
O iniciar da carreira docente
As características do início da carreira docente estão presentes nos estudos sobre ciclo
de vida profissional, marcada por sentimentos de “sobrevivência” e de “descoberta”
(Huberman, 1997). O sentimento de “sobrevivência” também conhecido na literatura
como “choque de realidade” (Veenman, 1988) e/ou confrontação inicial com a
complexidade da situação profissional, podem influenciar até mesmo na permanência, ou
não, do docente na profissão. Em contrapartida a esse sentimento, surge quase que
simultaneamente, o de “descoberta” (Huberman, 1997) pelas aprendizagens intensivas
sobre o aprender a ensinar, pelo entusiasmo inicial e por se sentir num determinado
corpo profissional. Estes sentimentos fortes e significativos do período de inserção na
carreira influenciam na identificação com a profissão, nas práticas e no próprio
desenvolvimento da carreira docente.
A extensão da fase inicial da carreira do professor depende de vários fatores, sobretudo
de ordem pessoal, institucional e sócio-cultural. Porém, a maioria dos pesquisadores
sobre ciclo de vida profissional, em especial Huberman (1997), indica, para esta fase, um
2. período que vai até os três primeiros anos de docência; e assim está sendo também
considerado nessa pesquisa. Barth apud Day (1999) destaca, além disso, que, de fato,
“[...] os aprendentes vorazes são aqueles que se encontram no início da carreira,
professores no seu primeiro ano de ensino, que se preocupam desesperadamente em
aprender o seu novo ofício” (p.85)
No caso das pesquisas brasileiras sobre o início da carreira, Gama (2007) apresentou um
mapeamento das pesquisas brasileiras de todas as áreas que indicaram a presença
destas características apontadas na literatura internacional, porém indicou que o
professor brasileiro em início de carreira é exposto a desafios e a dificuldades que se
mostram geralmente mais complexos que os dos professores experientes, por serem
atribuídas a eles turmas mais problemáticas, os horários mais desfavoráveis e em
escolas de difícil acesso ou marcadas pela violência escolar; ou seja, assumem as
posições em escolas e turmas que são rejeitadas e/ou evitadas pelos professores mais
antigos.
O estudo (op.cit) também apontou a existência de algumas dificuldades no processo de
formação inicial de professores, sobre as dicotomias entre formação inicial e continuada;
universidade e escola; teoria e prática; conteúdos específicos e pedagógicos. Estes
aspectos estão vinculados diretamente ao processo de desenvolvimento profissional
docente que considera a multiplicidade de fatores que participam e interferem as
diferentes aprendizagens ao longo da carreira. O processo de desenvolvimento
profissional trata de um processo pessoal, interativo, dinâmico, contínuo, evolutivo e sem
fim, que envolve aspectos conceituais e comportamentais. Além disso, o
desenvolvimento profissional dos professores depende também das políticas e dos
contextos escolares nos quais realizam a sua atividade docente (Gama, 2007).
Metodologia da pesquisa
O mapeamento das pesquisas acadêmicas brasileiras sobre o início de carreira docente
em matemática considerou inicialmente os títulos dos trabalhos. Posteriormente foram
lidos na íntegra os resumos para identificar as investigações desenvolvidas com
professores que ensinam matemática.
A busca considerou o banco de dissertações e teses da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES1
) vinculado ao Ministério de
Educação (MEC) e por tratar-se da área de Educação Matemática, foi realizada também
outra busca por trabalhos na revista Zetetiké2
vinculada a Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (FE/Unicamp). Esta Revista tem a tradição de
divulgar as pesquisas na área desenvolvidas anualmente no país, indicando quando e
onde são produzidas; em quais PPG e cursos. Mais do que uma popularização das
pesquisas, tem sido um meio de “registrar historicamente” estes trabalhos demarcando
alguns temas, algumas questões teóricas, epistemológicas e também metodológicas.
1
Site: http://www.capes.gov.br
2
Site: www.fe.unicamp.br/zetetike
3. Nestes bancos de dissertações e teses foram identificadas poucas pesquisas sobre o
início da carreira em matemática até os anos 2000, sendo apenas três pesquisas na área
de Educação Matemática que abordam parcialmente o tema (Passos, 1995; Camargo,
1998; Cusati, 1999). Na ultima década (2001-2011) foram identificados os trabalhos
específicos com professores que ensinam matemática (16) e que serão analisadas a
seguir: Gama, 2001; Teixeira, 2002; Kochhan, 2002; Rocha, 2005; Santos, 2005; Gama,
2007; Paz, 2008; Freitas, 2008; Barros, 2008; Souza, 2009; Farias, 2009; Silva, 2009;
Souza, 2009; Perin, 2009; Oliveira, 2010; Pilz, 2011. Também foram identificados na
pesquisa cinco pesquisas que continham professores de várias áreas incluindo
professores de Matemática (Inforsato, 1995; Souza, 1999; Freitas, 2000 e Amorin, 2002)
Partindo destas pesquisas de mestrado e doutorado selecionados foi realizado o
mapeamento para este artigo considerando-se duas dimensões: 1. Balanço geral
contendo instituição, ano de produção e nível de titulação e 2. Panorama das pesquisas
considerando as temáticas, os aspectos teóricos e metodológicos utilizados e os
principais resultados.
1. Descrição geral e um pequeno balanço das dissertações e teses brasileiras sobre
o início da carreira dos professores que ensinam Matemática
No mapeamento foram localizados (quadro 1) pesquisas que estudam o início de carreira
docente de professores de várias áreas incluindo professores que ensinam matemática,
mas que destacam poucos aspectos específicos de matemática. Estas pesquisas não
foram objeto de estudo deste artigo.
Quadro 1: Pesquisas sobre início de carreira de várias áreas incluindo a Matemática (1980-2011)
Dentre as pesquisas realizas até o ano 2000, três são correlatas ao tema, portanto não
possuem foco principal na inserção profissional (Passos, 1995; Cusati, 1996; Camargo,
1998).
Quadro 2: Pesquisas sobre início de carreira de Matemática (1980 - 2000)
ÁREA NÚMERO
DE
PESQUISAS
INSTITUIÇÃO DA PESQUISA
(pesquisador, ano)
AREA NÚMERO
DE
PESQUISA
S
INSTITUIÇÃO DA PESQUISA
(pesquisador, ano)
Várias áreas
incluindo
matemática
4 1 Ms/USP-São Paulo/SP (INFORSATO, 1995)
1 Ms/UFJF – Juiz de Fora/MG (SOUZA, 1999)
1 Ms/PUC-Rio de Janeiro/RJ (FREITAS, 2000)
1 Ms/UFMG – Belo Horizonte/MG (AMORIN, 2002)
Letras e
Matemática
1 1 Ms/UNISINOS – São Leopoldo/RS (PIOVESAN,
2006)
4. Matemática
(aborda alguns
aspectos do
tema)
3
1 Ms/UFSCar (séries iniciais) - São Carlos/SP
(CUSATI, 1996)
1 Ms/UNICAMP (séries iniciais) – Campinas/SP
(PASSOS, 1995)
1 Ms/UNIMEP – Piracicaba/SP (CAMARGO, 1998)
Importante destacar que as três pesquisas foram produzidas em Programas de Pós-
graduação em Educação, sendo que duas destas pesquisas referem-se ao ensino da
Matemática nas séries iniciais do ensino fundamental (PASSOS, 1995 e CUSATI, 1999),
portanto formados em Magistério ou em Pedagogia e a pesquisa de Camargo (1998),
refere-se a professores formados em licenciatura em Matemática.
No quadro, a seguir, são apresentadas as dezesseis pesquisas específicas com
professores que ensinam matemática indicando a instituição e cidade onde foram
realizadas, ano em que foram produzidas e seus autores.
Quadro 3: Pesquisas sobre início de carreira de Matemática (2001-2011)
ÁREA
MATEMÁTICA
NÚMERO
DE
PESQUISAS
INSTITUIÇÃO DA PESQUISA
(pesquisador, ano)
Matemática
(Mestrado)
10 1 UNIMEP - Piracicaba/SP (GAMA, 2001)
1 PUC/MG – Belo Horizonte/MG (TEIXEIRA, 2002)
1 UFMT – Cuiabá/MT (KOCHHAN, 2002)
1 PUC/RS – Porto Alegre/RS (SANTOS, 2005)
1 UNICAMP – Campinas/SP (ROCHA, 2005)
1 CEFET/MG – Belo Horizonte/MG (PAZ, 2008)
1 UNIMEP – Piracicaba/SP (BARROS, 2008)
1UFSCar – São Carlo/SP (CARNEIRO, 2008)
1 UFMS – Campo Grande/MS (OLIVEIRA, 2010)
1 UFPR – Curitiba/PR (PILZ, 2011)
Matemática
(Mestrado
Profissional)
3 1 PUC/SP (séries iniciais) – São Paulo/SP (SILVA,
2009)
1 PUC/SP – São Paulo/SP (SOUZA, 2009)
1 PUC/MG – Belo Horizonte/MG (FREITAS, 2008)
Matemática
(Doutorado)
3 1 UNICAMP – Campinas/SP (GAMA, 2007)
1 UNIMEP – Piracicaba/SP (PERIN, 2009)
1 UFMS (séries iniciais) – Campo Grande/MS
(FARIAS, 2009)
Foram identificados 13 mestrados, sendo dois mestrados profissionais, além de 3 teses
sobre a temática. Dentre os trabalhosselecionados, 13 trabalhos foram desenvolvidos
com professores de matemática que atuam nas séries finais do Ensino Fundamental e/ou
Ensino Médio e três trabalhos com professores que ensinam matemática nas séries
iniciais do Ensino Fundamental.
5. Em relação aos programas de pós-graduação acadêmicos temos 8 investigações
produzidas em Programas de Pós-graduação em Educação, sendo 5 mestrados (Gama,
2001; Rocha, 2005; Carneiro, 2008; Barros, 2008; Pilz, 2011) e 3 doutorados (Gama,
2007; Perin, 2009; Farias, 2009). Em programa específicos de Educação Matemática ou
Ensino de Ciências e Matemática, foram localizados 3 (Teixeira, 2002; Santos, 2005,
Oliveira, 2010) e 1 (Paz, 2008) em Programa de Pós-Graduação em Educação
Tecnológica. Por fim, temos 3 mestrados em Programa de Pós-graduação Profissional
em Educação Matemática (Freitas, 2008; Silva, 2009; Souza, 2009).
Neste item, podemos perceber que há uma predominância dos trabalhos nos programas
acadêmicos provavelmente pelo objeto de estudo do mestrado profissional que prioriza
investigações voltadas a prática profissional sobre o processo de ensino e aprendizagem
de conteúdo específico. Também podemos destacar que as pesquisas estão divididas
entre os programas de educação e específicos da área de Educação Matemática.
Em relação à localização geográfica na qual essas pesquisas foram desenvolvidas,
temos: 11 na região sudeste, com destaque para o estado de São Paulo com 8 trabalhos
e 5 distribuídas entre as regiões centro-oeste (3) e sul (2). Assim, podemos apontar a
necessidade de novas pesquisas preferencialmente nas regiões norte e nordeste sobre a
inserção na docência em matemática, considerando que os contextos regionais são
diversos no país em relação à formação inicial e continuada dos professores, condições
de trabalhos, aspectos culturais e sociais, entre outros fatores.
2. Um panorama das pesquisas brasileiras sobre o início da carreira de professores
que ensinam matemática
Considerando o balanço das pesquisas já relatado no item anterior, apresentamos um
panorama dos estudos realizados que incluem as principais temáticas pesquisadas sobre
o início da carreira do professor de matemática, os aspectos teóricos e metodológicos
utilizados nas investigações e os principais resultados apontados pelos autores.
O primeiro trabalho que teve como foco específico de investigação os professores
iniciantes de Matemática foi o de Gama (2001). A autora em um estudo exploratório e
descritivo destaca como características desta fase aspectos relacionados:
1º) ao ponto de vista pessoal: adaptação à escola; interação com alunos; dilemas de
como enfrentar a realidade; gestão escolar (motivação, didática específica);
desconhecimento da política educacional vigente; e resistências a apoios oficiais.
2º) ao ponto de vista macro: influência ambiental; questão pessoal e natureza pedagógica
de uma formação docente.
O trabalho aponta que a formação inicial e contínua do professor deve ser entendida a
partir da complexidade do modelo ainda vigente em nossas instituições formadoras. Além
disso, o reafirma que crenças e valores pessoais e suas intenções sociais externas à
escola também devem ser levados em consideração na análise e na interpretação dos
sujeitos/professor.
Os próximos dois estudos realizados (Teixeira, 2003 e Santos, 2005) recorrem a estudos
sobre egressos dos cursos de Licenciatura para identificar fatores determinantes para a
escolha da profissão, percepção das facilidades e dificuldades da profissão e saberes da
docência. Estes trabalhos evidenciam a relevância de se relacionar saberes científicos
trabalhados na universidade com os saberes escolares trabalhados nas instituições da
educação básica.
6. Após esses trabalhos temos os dois trabalhos realizados na Unicamp, sendo um
mestrado (Rocha, 2005) e o primeiro doutorado realizado com professores iniciantes na
Educação Matemática (Gama, 2007). Estes trabalhos reafirmam as pesquisas realizadas
nas outras áreas (Mariano, 2006 e Gama 2009) sobre indícios de problemas estruturais e
na atribuição de aulas para professores iniciantes: à noite, em bairros afastados e com
alto índice de violência. Também em relação a dificuldades, aponta a gestão de aula com
a indisciplina, a motivação dos alunos, a relação professor-aluno, a falta de recursos
didáticos, sobretudo computadores. Em menor escala aparecem: matéria de ensino,
recursos financeiros, efetivação/inexperiência, sentimentos de medo e grande exposição.
Em relação à formação inicial, os professores iniciantes apontam aspectos que poderiam
facilitar a iniciação na carreira docente como, por exemplo, a pouca articulação teoria e
prática e a falta de discussão e de estudos relativos à prática e à legislação escolar. A
Prática de Ensino foi considerada por eles como altamente relevante, pois representou
um espaço de reflexão e (re)significação dos saberes/conhecimentos.
O maior índice de trabalhos (8) identificados foi nos anos de 2008 e 2009. Em 2008, duas
pesquisas focaram os egressos de cursos utilizando questionários e entrevistas com o
objetivo de investigar as contribuições das licenciaturas para o uso das tecnologias da
informação e comunicação nas suas aulas (Carneiro, 2008) e para conhecer as
necessidades do professor, indicando as demandas para formação continuada (Freitas,
2008). Estas pesquisas apontam que não há relação direta entre a formação inicial e as
ações em sala de aula dos egressos pela complexidade que permeia as práticas
escolares.
As outras duas pesquisas desenvolvidas nesse mesmo ano apresentam propostas
distintas até este momento. A pesquisa de Barros (2008) propõe ampliar a discussão
sobre as percepções e crenças sobre o processo de iniciação a docência. Nesta
pesquisa, as entrevistas são realizadas com professores iniciantes e experientes para
levantar as diferentes percepções no que se refere à fase inicial e a de Paz (2008)
discute a questão identitária e a diversidade de características que a determinam.
Em 2009, temos as duas pesquisas produzidas no mestrado profissional que discutem os
dilemas, as dificuldades e saberes dos professores das séries iniciais em relação à
matemática (Silva, 2009) e dos professores do Ensino Fundamental II (Souza, 2009). As
pesquisas também identificam as dificuldades com a falta de apoio por parte dos
gestores, colegas de trabalho e pais de alunos. No estudo de Silva com professores das
séries iniciais, os dilemas são apontados na indisciplina, no conteúdo matemático
Também neste ano, foram produzidas duas teses de doutorado, sendo a primeira de
Perin (2009) que também descreve e analisa as dificuldades vivenciadas por professores
de matemática em início de carreira apontados na literatura, porém destaca a falta de
domínio do conteúdo matemático escolar que gera um dilema entre a prática de um
ensino tradicional e de um ensino contextualizado. A segunda de Farias (2009) investiga
os saberes que os professores das séries iniciais mobilizam para trabalhar os conteúdos
matemáticos através de diários pessoais, caderno de campo e discussão coletiva. Os
resultados desta pesquisa com professores das séries iniciais apontam a pré-disposição
para julgar a própria prática e alterá-la quando suas metas não eram alcançadas e
recomenda que os professores iniciantes se envolvam em situações de pesquisa sobre a
suas práticas e saberes mobilizados no cotidiano docente.
Em 2010, temos um trabalho que investiga a relação entre os conhecimentos adquiridos
na formação inicial de professores e aqueles mobilizados durante a prática pedagógica
7. (Oliveira, 2010) utilizando além das entrevistas e observações em classe, análise de
livros didáticos utilizados e planejamento didático.
A última pesquisa identificada foi a de Pilz (2011) que teve como objetivo compreender as
dificuldades com que os professores de matemática se deparam no início de sua carreira
bem como as estratégias profissionais que utilizam para superá-las. Os resultados
indicam que os professores iniciantes em relação a superação apontam as lacunas da
dimensão técnica e política da formação, além da preocupação com a crise que os novos
tempos trouxeram à escola.
Compondo o panorama, podemos perceber que as pesquisas priorizam as temáticas das
dificuldades e saberes dos professores iniciantes no seu processo de inserção. As
pesquisas também se dedicaram a destacar elementos que contribuíssem com
elementos para a formação inicial e continuada de professores. Duas pesquisas (Gama,
2007 e Pilz, 2011) focaram o processo de acompanhamento ou estratégias profissionais
de superação dos desafios da inserção a docência. Gama (2007) estudou o processo de
iniciação a docência e de desenvolvimento profissional, quando o recém-formado em
matemática participa de grupos colaborativos e Pilz (2011) estudos as estratégias
utilizadas pelos iniciantes para superar as próprias dificuldades.
Em relação aos aspectos metodológicos, todas as pesquisas são de natureza qualitativa
utilizando em sua maioria entrevistas semi-estruturadas, com exceção de uma pesquisa
(Freitas, 2008) que realiza um estudo em duas etapas, sendo a primeira quantitativa
(questionário) e a segunda qualitativa (vídeo gravação).
O referencial teórico utilizado nas investigações aponta principalmente para autores da
Educação e da Educação Matemática sobre a formação de professores, saberes e para
conhecimentos docentes. Também são referenciados os principais autores clássicos
internacionais sobre o ciclo de vida do professor e sobre a fase inicial da carreira docente
(Veenman, 1988; Huberman, 1997).
As pesquisas brasileiras sobre o início de carreira do professor de matemática, de certa
forma, confirmam a existência de muitas dificuldades e problemas nesse período inicial,
como apontadas pelos estudos internacionais (op.cit) sobre o choque de realidade e as
características de uma fase de sentimentos intensos e muitas aprendizagens. As
principais dificuldades destacam aspectos contextuais da profissão e do local de trabalho,
principalmente a gestão de sala de aula, a estrutura e as condições de trabalho na
escola.
Também encontramos indícios, nas pesquisas revisadas, que muitas dificuldades e
problemas são decorrentes das próprias dicotomias do processo de formação inicial,
sobretudo: entre teoria e prática; entre escola e universidade e entre conteúdos
específicos e pedagógicos (Camargo, 1998; Gama, 2001 e Rocha, 2005). As relações
entre a formação inicial, o momento de inserção e as formas de aprendizagens são
pouco enfatizadas nessas pesquisas e indicam que não há propriamente uma formação
voltada à realidade complexa da escola atual. Mais especificamente, Rocha, (2005)
revela também a falta de articulação entre os conteúdos do curso e os da prática docente
nas escolas, bem como a falta, na formação inicial, de estudos e discussões relativos à
gestão da vida profissional e à legislação escolar. Ainda em relação aos conteúdos
específicos, é importante destacar as dificuldades com os conteúdos matemáticos na
escola básica, sobretudo em pesquisas com professores que ensinam Matemática nas
séries iniciais (Passos, 1995 e Cusati, 1999).
8. Por fim, importante destacar identificação do elemento de ordem pessoal, cognitivo e
afetivo na inserção a docência revelado pela importância atribuída às trajetórias
estudantis e/ou profissionais dos professores iniciantes no processo de formação e
construção da identidade profissional nessa fase de inserção à docência (Santos, 2005 e
Paz, 2008).
Considerações finais
Neste trabalho realizamos um mapeamento das pesquisas brasileiras sobre o início da
carreira docente em matemática e identificar as problemáticas apontadas nos estudos.
Para isso, primeiramente foram localizadas, através de bancos de dissertações e teses
(Capes e Zetetiké), três pesquisas correlatas ao tema, cinco pesquisas com professores
de diversas áreas incluindo professores de matemática e dezesseis trabalhos realizados
especificamente com professores que ensinam matemática.
Dentre os dezesseis trabalhos, temos apenas três voltados a professores das séries
iniciais e uma predominância de pesquisas realizadas na região sudeste, que nos
indicam a necessidade de mais pesquisas nesta problemática dos professores iniciantes
na Educação Matemática para abranger a complexidade da inserção e sustentabilidade
dos professores de matemática na carreira docente e das diferenças contextuais,
culturais e sociais do país.
No segundo momento, com base no balanço realizado, foi construído um panorama que
indicou a predominância de temas como as dificuldades predominantes do professor
iniciante de matemática que se revelam nos aspectos formativos indicando a pouca
articulação entre as disciplinas do curso, os conteúdos acadêmicos e escolares e a
própria universidade com a escola básica. Também são apontados dificuldades de ordem
pessoal e contextual, como: os diversos e muitas vezes contraditórios sentimentos
(angústia e satisfação, entre outros); as salas de aulas geralmente as mais problemáticas
da escola; a falta de apoio da gestão escolar, dos professores mais experientes e dos
país dos alunos. Apesar das dificuldades as pesquisa mostram o professor iniciante na
busca de superação.
Outra temática recorrente foi a procura pela compreensão dos saberes construídos e /ou
mobilizados nesta fase inicial. As pesquisas indicam que os saberes da docência são
construídos ao longo da trajetória e não apenas na formação inicial dos professores.
Ainda em relação as temáticas das pesquisas apenas duas focaram estratégias
profissionais de superação dos desafios da inserção a docência, indicando um campo
importante de novas pesquisas.
Neste panorama também pudemos evidenciar que os aspectos teóricos e metodológicos
são homogêneos tendo a predominância da pesquisa qualitativa e dos referenciais
clássicos da formação de professores e das investigações sobre o ciclo da carreira
docente, em especial das características da fase inicial da carreira.
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(Mestrado Profissional em Educação Matemática). Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Laurizete Ferragut Passos.
SOUZA, Ariovaldo Jacquier de (2009). Dilemas e dificuldades dos professores de
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Profissional em Educação Matemática). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Laurizete Ferragut Passos.
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