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“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos  em  Memorial do Convento ” Burghard Baltrusch Universidade de Vigo Facultade de Filoloxía e Tradución http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ “ [...] homem e mulher não existem, só existe o que forem e a rebelião contra o que são, e a rainha declarou, eu rebelo-me  contra o que sou”  (MdC: 255) “ Como é que um boieiro se faz  homem, e Manuel Milho respondeu,  Não sei. Sete Sóis [...] disse, Talvez voando.”  (MdC: 264)
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“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Virginia Woolf (1920): “ [...] some of the most famous heroines [...] represent what men desire in women, but not necessarily what women are in themselves."  (in  "Men and Woman",  A Woman´s Essays , London: Penguin 1992, 19 ) Barbara Claire Freeman (1995):  "Unlike the masculinist sublime that seeks to master, appropriate, or colonize the other, I propose that the politics of the feminine sublime involves taking up a position of respect in response to incalculable otherness"  (in  The Feminine Sublime - Gender and Excess in Women´s Fiction , Berkeley: University of California Press, 11)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “  Luís de Sousa Rebelo (1983: 22-23): “ A originalidade de Saramago neste livro [...], na fusão da cultura popular e erudita e na extrema subtileza da sua escrita, passou praticamente desapercebida à grande maioria da crítica. [...] esta surdez singular a um discurso tão cheio de ressonâncias da nossa tradição literária e oral, onde se misturam os ecos e as fórmulas da crónica, do sermão e da poesia lírica, não deixa de ser inquietante. [...] É difícil encontrar-lhe precursores.”   (in “Os Rumos da Ficção de José Saramago”, prólogo à 3.ª ed. de  Manual de Pintura e Caligrafia )
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “  “ [...] personagem única na literatura portuguesa.”  (Mónica Reitor 1999: 188)  “ [...] talvez a mais fascinante figura feminina da ficção de Saramago.”   (Beatriz Berrini 1998: 147) “ Blimunda tem a pureza de alma da Virgem Maria. A Virgem é cheia de graça e Blimunda é cheia de vontade.”  (Reitor 1999: 187)  “ Ao jejuar, Blimunda resgatou Baltasar e, com ele, a alma do povo português.”  (Reitor 1999: 189) “ Completo, o nome Blimunda de Jesus aponta para uma fraternidade primitiva, metonimizada, principalmente, na relação com Baltasar, perfazendo o sincretismo que une o cristianismo inicial à bruxaria do insigne feiticeiro. E é sob esta perspectiva que sobressai o lugar de espiríto santo. O espaço ocupado por Blimunda na trindade é o da revelação, porque desvelador das mentiras dos homens.”  (Raquel Villardi  1992:  660).
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “  Dorotheia Maria Roza  (casada com P. B. Pedegache em 1724)  Charles Fréderic de Merveilleux (1738): [Madame Pedegache conseguia] ver o corpo humano, bem como o dos animais por dentro e outrossim o interior da terra a uma grande profundidade [...] Existe em Lisboa e nos arredores um grande número de poços que foram abertos por indicação desta mulher, que garantia onde e a que profundidade se encontrava a água abundante [...] e sempre se verificou com exacta precisão qualquer das suas previsões [...] O mesmo direi em relação à faculdade que tem esta senhora de ver no corpo humano as obstrusões que se formam nas partes nobres ofendidas quando as pessoas se desnudam na sua presença".  ( Mémoires instructifs pour un voyager dans les divers états de l’Europe )
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Descrição da Cidade de Lisboa  (1730): "uma rapariga portuguesa que […] nasceu com uns olhos que bem  pode dizer-se de lince; possui desde a mais tenra idade o dom de ver  no interior do corpo humano bem como as entranhas da terra.  Aparentemente os seus olhos são como os do comum dos mortais, apenas muito grandes e verdadeiramente belos. Ela vê no corpo humano os abcessos e outras incomodidades e muitas vezes fica indisposta por ver o corpo das pessoas atacadas de doenças venéreas. Ela vê a formação do quilo, sua distribuição e distingue a circulação do sangue. Nunca se engana, em mulheres grávidas de mais de sete meses, no sexo do fruto que trazem no seu ventre. A sua vista penetra a terra no lugar onde há nascentes que ela descobre a uma profundidade de trinta ou quarenta braças, sem recurso a vara; diz com precisão o curso da água, a profundidade a que se encontra a nascente e distingue as cores e variedade das camadas de terra que existem sob a superfície. Este dom maravilhoso só o usufrui enquanto está em jejum; contudo, já lhe aconteceu depois da sesta, ter momentos de visão mais penetrante do que de manhã e então ter visto nos corpos através dos trajos o que ordinariamente não descobria através da pele. Estes momentos felizes são, porém, muito raros. [...] O Rei [D. João V] e os homens entendidos estão convencidos que não há impostura nestas manifestações e tanto assim é que Sua Majestade lhe fez mercê, antes dela casar, do dom, que não é muito vulgar em Portugal, e do hábito de Cristo para seu marido [...]”
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ “ [...] a História é e sempre foi escrita pelos vencedores porque uma História escrita pelos vencidos seria completamentre diferente. E mais, a História é escrita de um ponto  de vista masculino, se o fosse de  um ponto de vista feminino  também seria completamente  diferente.”  (Saramago 2008: 367)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Marguerite Yourcenar  (entrevistada por  Matthieu Galey): “ Je sais que tombe dans l´inexplicable, quand j´affirme que la realité - cette notion si flottante -, la connaissance la plus exacte possible des êtres est notre point de con­tact, et notre voie d´accès aux choses qui dépassent la réalité. [E a citação continua:] Le jour où nous sortons de certaines réalités très simples, nou fabulons, nous tombons dans la rhétorique ou dans intellectualisme mort.“ (in  Les yeux ouverts , Paris,   Gallimard 1980: 60)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Blimunda: "Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê"  (MdC: 56) Frei António de S. José: "Sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade se serve para falar, a fé não tem mais que responder"  (MdC: 14)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ José Saramago:  No caso dos meus romances, os personagens femininos são aqueles que eu mais quero, que eu prefiro. Os homens, nesses romances, são sempre, ou quase sempre, não diria pobres diabos, mas gente menor... [...] A força está nas mulheres... Claramente nas mulheres. Isto não é uma atitude feminista ‑ deve‑se ao facto de eu crer que elas são realmente fortes, que têm muito para dar. E porque eu gosto muito delas... Acho que, para não cair na frase [...] do Aragon, aquela famosa « la femme est l´avenir de l´homme » - que é uma coisa mais vazia do que à primeira vista se possa pensar ou dizer -, eu penso que elas têm mais autenticidade e mais generosidade que nós. Valem mais que nós, homens. Na verdade, daquilo que é substancial e essencial na vida, aprendi pouco com homens e aprendi muito com as mulheres. Não por idealizações. É o ser humano inteiro, aquilo que elas são... Bom, algumas, eu sei, não são nada disto...  (in  Ler  6, 1989: 19)
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“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Saramago sobre a Blimunda:  "Essa senhora [Blimunda] fez-se a si própria. Nunca a  projectei para ser assim ou assim... Foi no processo da escrita que a personagem se foi formando. E ela surge, surgiu-me, com uma força que a partir de certa altura me limitei a... acompanhar. Aquele sentimento pleno da personagem que se faz a si mesma é a Blimunda. Mas, é curioso, só no fim me apercebi de que tinha escrito uma história de amor sem palavras de amor... Eles, o Baltasar e a Blimunda, não precisaram afinal de as dizer... E no entanto, o leitor percebe que aquele é um amor de entranhas... Julgo que isso resulta da personagem feminina. É ela que impõe as regras do jogo... Porquê? (sorriso) Porque é assim na vida... A mulher é o motor do homem. (Pausa) Se você vir, os meus personagens masculinos são mais débeis, são homens que têm duvidas, são personagens masculinos com complexos... As mulheres, não.“   (in  PÚBLICO , 9 de Maio de 1991)
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“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ [...] é aquele o seu homem e servidor, que lhe está dedicando  a vergastada violenta e que, não podendo falar, berra como o  toiro em cio, mas se às mais mulheres da rua, e a ela própria,  pareceu que faltou vigor ao braço do penitente ou que a  vergastada foi em jeito de não abrir lanho na pele e rasgões que  cá de cima se vejam, então levanta-se do coro feminil grande assuada, e possessas, frenéticas as mulheres recla­mam força no braço, querem ouvir o estralejar dos rabos do chicote, que o sangue corra como correu o do Divino Salvador, enquanto latejam por baixo das redondas saias, e apertam e abrem as coxas segundo o ritmo da excitação e do seu adianta­mento. Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó, ou tia azedíssima, mas todas sabendo muito bem o que se passa, por experiência fresca ou recordação remota, que Deus não tem nada que ver com isto, é tudo coisa de fornicação, e provavelmente o espasmo de cima veio em tempo de responder ao espasmo de baixo, o homem de joelhos no chão, desferindo golpes furiosos, já frenéticos, enquanto geme de dor, a mulher arregalando os olhos para o macho derrubado, abrindo a boca para lhe beber o sangue e o resto. Parou a procissão o tempo bastante para se concluir o acto, o bispo abençoou e santificou, a mulher sente aque­le delicioso relaxamento dos membros, o homem passou adiante, vai pensando, ali­viadamente, que daqui para a frente não precisará vergastar-se com tanta força, ou­tros o façam para gáudio doutras.  (MdC: 29-30)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Análise ginocrítica da Blimunda  (a partir de Luce  Irigaray:  Sexes et parentés , 1987 e  Julia Kristeva:  Desire in Language: A Semiotic Approach to Literature and Art  1980) : Em que medida, o romance MdC estará a reduzir a  Blimunda (e com ela a comunicação das mulheres) a  uma expressividade pre-verbal?  Até que ponto estará a colocá-las fora da linguagem (uma vez que Blimunda fala muito pouco ao longo do romance)?  Ou será que esta forma de expressão/comunicação  pretende prevenir a função predicativa ou paterna da linguagem, a fim de “tornar possível uma linguagem diferente” das “condições autoreferenciais” do discurso patriarcal?
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Saramago numa entrevista: Não gostaria nada de que a minha atitude perante as mulheres, tanto as de carne e osso como as que vão aparecendo nas histórias que conto, fosse de veneração, no sentido quase religioso em que a palavra muitas vezes é usada. […] De todo o modo, quero deixar claro que não me entusiasmam nada certos lugares-comuns como o ‘eterno feminino’ ou ‘sonho inspirador’, que mais me parecem reflexos ‘marianos’.  (Berrini 1998: 240)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Miguel Real ,  Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em MdC : “ corpo, sonho, procissão e milagre constituem‑se como elementos  de um composto cuja unidade e cujo sentido exprimem [...] a  previsível finalidade para que caminha o mundo [...].” (1996: 83) [Blimunda é uma] “nova Nossa Senhora“ (95) [Blimunda é] "a mulher liberta do futuro" ou a "nova mulher" (66) Orlando Grossegesse ,  Saramago lesen - Werk, Leben, Biographie: [Blimunda é a expressão de uma] “poética que transcende as projecções patriarcais de santa e bruxa [com a intenção de  construir uma] utopia feminina fundamentada no telúrico, diametralmente oposta àquela da ‘mulher santa’, inserida numa ideologia de estado católico-conservadora."   (1999: 75, trad. minha)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ José Saramago: Também eu [...] sou a Blimunda e o Baltasar de  Memorial  do Convento , em  O Evangelho segundo Jesus Cristo  não  sou apenas Jesus e Maria Madalena, ou José e Maria, porque sou também o Deus e o Diabo que lá estão. (in  Cadernos de Lanzarote. Diario - IV , 1997: 195) [...] enquanto eu às vezes digo, no caso da adaptaçãp ao cinema, não quereria ver as caras das minhas personagens, no caso do teatro não me importo, isso não me choca. Mas provavelmente eu não aguentaria ver a Madonna, para dar um exemplo bastante disparatado, a representar a Blimunda ou a Maria Madalena, num filme.   (in  Diálogos com José Saramago ,  1998: 106)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ (Prof. B. Baltrusch) Ópera em 3 actos de Azio Corghi, com libretto de A. Corghi e J. Saramago, Estreia: Milano, Teatro alla Scala, 20/V/1990,  com encenação de Jerôme Savary. “ Corghi and Saramago […] make of Blimunda and of all women the depositary of men’s dreams”  (Graziella Seminara 1999: 171) “ […] when the Passarola rises in the air the composer inserts […] a song of African provenance and totemic character which symbolizes the reproductive power of nature and adapts well to the association proposed by Saramago between the land and the female body […].”   (Seminara 1999: 170) Kathia Lytting no papel da Blimunda na estreia
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ “ Uma Leitura Encenada do Memorial do Convento”,    adaptação de Filomena Oliveira e Miguel Real,  encenação a cargo da Companhia de Teatro Casa dos Afectos, estreia: Palácio Nacional de Mafra, 27 de março de 2007 http://www.youtube.com/watch?v=LW67f-vv2ak
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Letícia Sabatella no papel da Blimunda, na adaptação de José Sinisterra e dirigida por Christiane Jatahy pelo Panorama Teatral,  estreia: 2003 no Teatro Castro Alves
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ http://marionetasjorgecerqueira.blogspot.com/2009/02/blimunda-sete-luas.html
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ http://blimunda7luas.blogspot.com/2007/08/blimunda-simpson-presents.html
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ José Saramago:  "Acho que, se há uma subversão, é a da aceitação muito consciente do papel do autor como pessoa, como sensibilidade, como inteligência, como lugar particular de reflexão, na sua própria cabeça"  (Diálogos com José Saramago, 1998: 97) "Em, certo sentido poder-se-á mesmo dizer que  [...] tenho vindo, sucessivamente, a implantar no  homem que fui as personagens que criei."  ( Jornal de Letras,  736, 1998: 4 ) [ O Romance é um simples] "lugar literário"  (Diálogos 1998: 138) [No romance há uma] "tentativa de uma descrição totalizadora[, de] dizer tudo"  (ibid.)   "quando convoco o romance, no fundo entendo-o como uma tentativa de o transformar numa espécie de soma"  (ibid.)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ José Saramago: [A inexistência do narrador faz com que o romancista se substitua ao] "lugar literário“ (ibid.:97) "o leitor não lê o romance, o leitor lê  o romancista" (ibid.) "um livro é, acima de tudo, a expressão  [...do] seu autor“(ibid.)  "aquilo a que eu aspiro é traduzir uma  simultaneidade, é dizer tudo ao mesmo tempo. [..] Isto mostra até que ponto os escritores [...] aspiramos a essa forma de expressão total" (99s). “ como o meu romance é um romance em construção contínua, é um romance que se vai fazendo a si mesmo“ (133) "desejo que [n]a leitura dos meus livros [...] se perceba o sinal de uma pessoa“ (98)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ “ estou que a mulher é uma só no  mundo, só múltipla de apariência,  por isso se escusariam outros  nomes, e tu és Blimunda, diz-me  se precisas de Jesus, Sou cristã,  Quem o duvida, perguntou o padre  Bartolomeu Lourenço, e rematou, Bem me entendes, mas dizer-se alguém de Jesus, crença ou nome, não é mais que vento da boca para fora, deixa-te ser Blimunda, não darás outra resposta quando fores perguntada.”  (MdC: 145)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Barbara Freeman ( The Feminine Sublime , 1997):  “ At stake in the notion of the feminine sublime is the refusal to define the feminine as a specific set of qualities or attributes that we might call irreducible and unchanging. [...] The appeal to a «feminine sublime» is not to a specifically feminine subjectivity or mode of expression, but rather to that which calls such categories into question.” (9)  “ to focus upon the place and function of the imagination in producing it [the sublime] is to become aware that the pocess elaborated by Kant and disseminated by most classical theorists of the beautiful and sublime is not sexually neutral. Indeed, the interaction between the reason and the imagination in the sublime is itself an allegory of gender relations within patriarchy. “ ( 72)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ On what condition does goodness exist beyond all calculation? On the condition that goodness forget itself, [...], hence a movement of infinite love. Only infinite love can remove itself and, in order to  become finite , become incarnated in order to love the other, to love the other as a finite other.  This gift of infinite love comes from someone  and is addressed to someone; responsability demands irreplaceable singularity. Yet only death or rather the apprehension of death can give this irreplaceability, and it is only on the basis of it that one can speak of a responsable subject [...]. We have thus deduced the possibility of a mortal’s accession to responsability through the experience of his irreplaceability, that which an approaching death [...] gives him. But the mortal thus deduced is someone whose very responsability requires that he concern himself not only with objective Good but with a gift of infinite love, a goodness that is forgetful of itself.  (Jacques Derrida,  The Gift of Death  1996: 50-51) [Blimunda:] O pecado não existe, só há morte e vida, A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar, a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso não morremos de vez,  E quando vamos para debaixo da terra, e quando Francisco Marques fica esmagado sob o carro da pedra, não será isso morte sem recurso, Se estamos falando dele, nasce Francisco Marques, Mas ele não o sabe, Tal como nós não sabemos bastante quem somos, e, apesar disso, estamos vivos, Blimunda, onde foi que aprendeste essas coisas, estive de olhos abertos na barriga da minha mãe, de lá via tudo.  (MdC:331)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Não era raro que falando sobre isto com outras mulheres as deixasse pensativas, afinal, que faltas são essas nossas, as tuas,  as minhas, se nós somos, mulheres, verdadeiramente o cordeiro que tirará  o pecado do mundo, no dia em que  isto for compreendido vai ser preciso  começar outra vez tudo.  (MdC: 354)
“ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em  Memorial do Convento “ Será o sublime feminino da Blimunda “um papel, uma imagem, um valor, que se impõe às mulheres através dos sistemas de representação masculinos"  (Irigaray 1987: 138) ?   Será que o discurso crítico do romance, em relação ao género,  é, afinal, só uma máscara ou uma redução do feminino, tendo  em conta as suas imensas diversidades e potencialidades ? Talvez seja excessivo esperar de um autor português, que nasceu a princípios do século XX, que lograsse subverter a "male phalogocentric logic" e que consiga "[to] split open the closure of the binary opposition and reveal the pleasures of open-ended textuality”  (Toril Moi  1985: 108) ? "Deus quando quer, não precisa de homens, embora não possa dispensar-se de mulheres.”  (MdC: 17)
 

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  • 1. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento ” Burghard Baltrusch Universidade de Vigo Facultade de Filoloxía e Tradución http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 2. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ “ [...] homem e mulher não existem, só existe o que forem e a rebelião contra o que são, e a rainha declarou, eu rebelo-me contra o que sou” (MdC: 255) “ Como é que um boieiro se faz homem, e Manuel Milho respondeu, Não sei. Sete Sóis [...] disse, Talvez voando.” (MdC: 264)
  • 3.
  • 4. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Virginia Woolf (1920): “ [...] some of the most famous heroines [...] represent what men desire in women, but not necessarily what women are in themselves." (in "Men and Woman", A Woman´s Essays , London: Penguin 1992, 19 ) Barbara Claire Freeman (1995): "Unlike the masculinist sublime that seeks to master, appropriate, or colonize the other, I propose that the politics of the feminine sublime involves taking up a position of respect in response to incalculable otherness" (in The Feminine Sublime - Gender and Excess in Women´s Fiction , Berkeley: University of California Press, 11)
  • 5. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “
  • 6. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “
  • 7. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Luís de Sousa Rebelo (1983: 22-23): “ A originalidade de Saramago neste livro [...], na fusão da cultura popular e erudita e na extrema subtileza da sua escrita, passou praticamente desapercebida à grande maioria da crítica. [...] esta surdez singular a um discurso tão cheio de ressonâncias da nossa tradição literária e oral, onde se misturam os ecos e as fórmulas da crónica, do sermão e da poesia lírica, não deixa de ser inquietante. [...] É difícil encontrar-lhe precursores.” (in “Os Rumos da Ficção de José Saramago”, prólogo à 3.ª ed. de Manual de Pintura e Caligrafia )
  • 8. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ “ [...] personagem única na literatura portuguesa.” (Mónica Reitor 1999: 188) “ [...] talvez a mais fascinante figura feminina da ficção de Saramago.” (Beatriz Berrini 1998: 147) “ Blimunda tem a pureza de alma da Virgem Maria. A Virgem é cheia de graça e Blimunda é cheia de vontade.” (Reitor 1999: 187) “ Ao jejuar, Blimunda resgatou Baltasar e, com ele, a alma do povo português.” (Reitor 1999: 189) “ Completo, o nome Blimunda de Jesus aponta para uma fraternidade primitiva, metonimizada, principalmente, na relação com Baltasar, perfazendo o sincretismo que une o cristianismo inicial à bruxaria do insigne feiticeiro. E é sob esta perspectiva que sobressai o lugar de espiríto santo. O espaço ocupado por Blimunda na trindade é o da revelação, porque desvelador das mentiras dos homens.” (Raquel Villardi 1992: 660).
  • 9. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Dorotheia Maria Roza (casada com P. B. Pedegache em 1724) Charles Fréderic de Merveilleux (1738): [Madame Pedegache conseguia] ver o corpo humano, bem como o dos animais por dentro e outrossim o interior da terra a uma grande profundidade [...] Existe em Lisboa e nos arredores um grande número de poços que foram abertos por indicação desta mulher, que garantia onde e a que profundidade se encontrava a água abundante [...] e sempre se verificou com exacta precisão qualquer das suas previsões [...] O mesmo direi em relação à faculdade que tem esta senhora de ver no corpo humano as obstrusões que se formam nas partes nobres ofendidas quando as pessoas se desnudam na sua presença". ( Mémoires instructifs pour un voyager dans les divers états de l’Europe )
  • 10. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Descrição da Cidade de Lisboa (1730): "uma rapariga portuguesa que […] nasceu com uns olhos que bem pode dizer-se de lince; possui desde a mais tenra idade o dom de ver no interior do corpo humano bem como as entranhas da terra. Aparentemente os seus olhos são como os do comum dos mortais, apenas muito grandes e verdadeiramente belos. Ela vê no corpo humano os abcessos e outras incomodidades e muitas vezes fica indisposta por ver o corpo das pessoas atacadas de doenças venéreas. Ela vê a formação do quilo, sua distribuição e distingue a circulação do sangue. Nunca se engana, em mulheres grávidas de mais de sete meses, no sexo do fruto que trazem no seu ventre. A sua vista penetra a terra no lugar onde há nascentes que ela descobre a uma profundidade de trinta ou quarenta braças, sem recurso a vara; diz com precisão o curso da água, a profundidade a que se encontra a nascente e distingue as cores e variedade das camadas de terra que existem sob a superfície. Este dom maravilhoso só o usufrui enquanto está em jejum; contudo, já lhe aconteceu depois da sesta, ter momentos de visão mais penetrante do que de manhã e então ter visto nos corpos através dos trajos o que ordinariamente não descobria através da pele. Estes momentos felizes são, porém, muito raros. [...] O Rei [D. João V] e os homens entendidos estão convencidos que não há impostura nestas manifestações e tanto assim é que Sua Majestade lhe fez mercê, antes dela casar, do dom, que não é muito vulgar em Portugal, e do hábito de Cristo para seu marido [...]”
  • 11. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ “ [...] a História é e sempre foi escrita pelos vencedores porque uma História escrita pelos vencidos seria completamentre diferente. E mais, a História é escrita de um ponto de vista masculino, se o fosse de um ponto de vista feminino também seria completamente diferente.” (Saramago 2008: 367)
  • 12. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Marguerite Yourcenar (entrevistada por Matthieu Galey): “ Je sais que tombe dans l´inexplicable, quand j´affirme que la realité - cette notion si flottante -, la connaissance la plus exacte possible des êtres est notre point de con­tact, et notre voie d´accès aux choses qui dépassent la réalité. [E a citação continua:] Le jour où nous sortons de certaines réalités très simples, nou fabulons, nous tombons dans la rhétorique ou dans intellectualisme mort.“ (in Les yeux ouverts , Paris, Gallimard 1980: 60)
  • 13. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Blimunda: "Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê" (MdC: 56) Frei António de S. José: "Sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade se serve para falar, a fé não tem mais que responder" (MdC: 14)
  • 14. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ José Saramago: No caso dos meus romances, os personagens femininos são aqueles que eu mais quero, que eu prefiro. Os homens, nesses romances, são sempre, ou quase sempre, não diria pobres diabos, mas gente menor... [...] A força está nas mulheres... Claramente nas mulheres. Isto não é uma atitude feminista ‑ deve‑se ao facto de eu crer que elas são realmente fortes, que têm muito para dar. E porque eu gosto muito delas... Acho que, para não cair na frase [...] do Aragon, aquela famosa « la femme est l´avenir de l´homme » - que é uma coisa mais vazia do que à primeira vista se possa pensar ou dizer -, eu penso que elas têm mais autenticidade e mais generosidade que nós. Valem mais que nós, homens. Na verdade, daquilo que é substancial e essencial na vida, aprendi pouco com homens e aprendi muito com as mulheres. Não por idealizações. É o ser humano inteiro, aquilo que elas são... Bom, algumas, eu sei, não são nada disto... (in Ler 6, 1989: 19)
  • 15.
  • 16. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Saramago sobre a Blimunda: "Essa senhora [Blimunda] fez-se a si própria. Nunca a projectei para ser assim ou assim... Foi no processo da escrita que a personagem se foi formando. E ela surge, surgiu-me, com uma força que a partir de certa altura me limitei a... acompanhar. Aquele sentimento pleno da personagem que se faz a si mesma é a Blimunda. Mas, é curioso, só no fim me apercebi de que tinha escrito uma história de amor sem palavras de amor... Eles, o Baltasar e a Blimunda, não precisaram afinal de as dizer... E no entanto, o leitor percebe que aquele é um amor de entranhas... Julgo que isso resulta da personagem feminina. É ela que impõe as regras do jogo... Porquê? (sorriso) Porque é assim na vida... A mulher é o motor do homem. (Pausa) Se você vir, os meus personagens masculinos são mais débeis, são homens que têm duvidas, são personagens masculinos com complexos... As mulheres, não.“ (in PÚBLICO , 9 de Maio de 1991)
  • 17.
  • 18. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ [...] é aquele o seu homem e servidor, que lhe está dedicando a vergastada violenta e que, não podendo falar, berra como o toiro em cio, mas se às mais mulheres da rua, e a ela própria, pareceu que faltou vigor ao braço do penitente ou que a vergastada foi em jeito de não abrir lanho na pele e rasgões que cá de cima se vejam, então levanta-se do coro feminil grande assuada, e possessas, frenéticas as mulheres recla­mam força no braço, querem ouvir o estralejar dos rabos do chicote, que o sangue corra como correu o do Divino Salvador, enquanto latejam por baixo das redondas saias, e apertam e abrem as coxas segundo o ritmo da excitação e do seu adianta­mento. Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó, ou tia azedíssima, mas todas sabendo muito bem o que se passa, por experiência fresca ou recordação remota, que Deus não tem nada que ver com isto, é tudo coisa de fornicação, e provavelmente o espasmo de cima veio em tempo de responder ao espasmo de baixo, o homem de joelhos no chão, desferindo golpes furiosos, já frenéticos, enquanto geme de dor, a mulher arregalando os olhos para o macho derrubado, abrindo a boca para lhe beber o sangue e o resto. Parou a procissão o tempo bastante para se concluir o acto, o bispo abençoou e santificou, a mulher sente aque­le delicioso relaxamento dos membros, o homem passou adiante, vai pensando, ali­viadamente, que daqui para a frente não precisará vergastar-se com tanta força, ou­tros o façam para gáudio doutras. (MdC: 29-30)
  • 19. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Análise ginocrítica da Blimunda (a partir de Luce Irigaray: Sexes et parentés , 1987 e Julia Kristeva: Desire in Language: A Semiotic Approach to Literature and Art 1980) : Em que medida, o romance MdC estará a reduzir a Blimunda (e com ela a comunicação das mulheres) a uma expressividade pre-verbal? Até que ponto estará a colocá-las fora da linguagem (uma vez que Blimunda fala muito pouco ao longo do romance)? Ou será que esta forma de expressão/comunicação pretende prevenir a função predicativa ou paterna da linguagem, a fim de “tornar possível uma linguagem diferente” das “condições autoreferenciais” do discurso patriarcal?
  • 20. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Saramago numa entrevista: Não gostaria nada de que a minha atitude perante as mulheres, tanto as de carne e osso como as que vão aparecendo nas histórias que conto, fosse de veneração, no sentido quase religioso em que a palavra muitas vezes é usada. […] De todo o modo, quero deixar claro que não me entusiasmam nada certos lugares-comuns como o ‘eterno feminino’ ou ‘sonho inspirador’, que mais me parecem reflexos ‘marianos’. (Berrini 1998: 240)
  • 21. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Miguel Real , Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em MdC : “ corpo, sonho, procissão e milagre constituem‑se como elementos de um composto cuja unidade e cujo sentido exprimem [...] a previsível finalidade para que caminha o mundo [...].” (1996: 83) [Blimunda é uma] “nova Nossa Senhora“ (95) [Blimunda é] "a mulher liberta do futuro" ou a "nova mulher" (66) Orlando Grossegesse , Saramago lesen - Werk, Leben, Biographie: [Blimunda é a expressão de uma] “poética que transcende as projecções patriarcais de santa e bruxa [com a intenção de construir uma] utopia feminina fundamentada no telúrico, diametralmente oposta àquela da ‘mulher santa’, inserida numa ideologia de estado católico-conservadora." (1999: 75, trad. minha)
  • 22. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ José Saramago: Também eu [...] sou a Blimunda e o Baltasar de Memorial do Convento , em O Evangelho segundo Jesus Cristo não sou apenas Jesus e Maria Madalena, ou José e Maria, porque sou também o Deus e o Diabo que lá estão. (in Cadernos de Lanzarote. Diario - IV , 1997: 195) [...] enquanto eu às vezes digo, no caso da adaptaçãp ao cinema, não quereria ver as caras das minhas personagens, no caso do teatro não me importo, isso não me choca. Mas provavelmente eu não aguentaria ver a Madonna, para dar um exemplo bastante disparatado, a representar a Blimunda ou a Maria Madalena, num filme. (in Diálogos com José Saramago , 1998: 106)
  • 23. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “
  • 24. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ (Prof. B. Baltrusch) Ópera em 3 actos de Azio Corghi, com libretto de A. Corghi e J. Saramago, Estreia: Milano, Teatro alla Scala, 20/V/1990, com encenação de Jerôme Savary. “ Corghi and Saramago […] make of Blimunda and of all women the depositary of men’s dreams” (Graziella Seminara 1999: 171) “ […] when the Passarola rises in the air the composer inserts […] a song of African provenance and totemic character which symbolizes the reproductive power of nature and adapts well to the association proposed by Saramago between the land and the female body […].” (Seminara 1999: 170) Kathia Lytting no papel da Blimunda na estreia
  • 25. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ “ Uma Leitura Encenada do Memorial do Convento”,   adaptação de Filomena Oliveira e Miguel Real, encenação a cargo da Companhia de Teatro Casa dos Afectos, estreia: Palácio Nacional de Mafra, 27 de março de 2007 http://www.youtube.com/watch?v=LW67f-vv2ak
  • 26. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Letícia Sabatella no papel da Blimunda, na adaptação de José Sinisterra e dirigida por Christiane Jatahy pelo Panorama Teatral, estreia: 2003 no Teatro Castro Alves
  • 27. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ http://marionetasjorgecerqueira.blogspot.com/2009/02/blimunda-sete-luas.html
  • 28. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ http://blimunda7luas.blogspot.com/2007/08/blimunda-simpson-presents.html
  • 29. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “
  • 30. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ José Saramago: "Acho que, se há uma subversão, é a da aceitação muito consciente do papel do autor como pessoa, como sensibilidade, como inteligência, como lugar particular de reflexão, na sua própria cabeça" (Diálogos com José Saramago, 1998: 97) "Em, certo sentido poder-se-á mesmo dizer que [...] tenho vindo, sucessivamente, a implantar no homem que fui as personagens que criei." ( Jornal de Letras, 736, 1998: 4 ) [ O Romance é um simples] "lugar literário" (Diálogos 1998: 138) [No romance há uma] "tentativa de uma descrição totalizadora[, de] dizer tudo" (ibid.) "quando convoco o romance, no fundo entendo-o como uma tentativa de o transformar numa espécie de soma" (ibid.)
  • 31. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ José Saramago: [A inexistência do narrador faz com que o romancista se substitua ao] "lugar literário“ (ibid.:97) "o leitor não lê o romance, o leitor lê o romancista" (ibid.) "um livro é, acima de tudo, a expressão [...do] seu autor“(ibid.) "aquilo a que eu aspiro é traduzir uma simultaneidade, é dizer tudo ao mesmo tempo. [..] Isto mostra até que ponto os escritores [...] aspiramos a essa forma de expressão total" (99s). “ como o meu romance é um romance em construção contínua, é um romance que se vai fazendo a si mesmo“ (133) "desejo que [n]a leitura dos meus livros [...] se perceba o sinal de uma pessoa“ (98)
  • 32. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ “ estou que a mulher é uma só no mundo, só múltipla de apariência, por isso se escusariam outros nomes, e tu és Blimunda, diz-me se precisas de Jesus, Sou cristã, Quem o duvida, perguntou o padre Bartolomeu Lourenço, e rematou, Bem me entendes, mas dizer-se alguém de Jesus, crença ou nome, não é mais que vento da boca para fora, deixa-te ser Blimunda, não darás outra resposta quando fores perguntada.” (MdC: 145)
  • 33. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Barbara Freeman ( The Feminine Sublime , 1997): “ At stake in the notion of the feminine sublime is the refusal to define the feminine as a specific set of qualities or attributes that we might call irreducible and unchanging. [...] The appeal to a «feminine sublime» is not to a specifically feminine subjectivity or mode of expression, but rather to that which calls such categories into question.” (9) “ to focus upon the place and function of the imagination in producing it [the sublime] is to become aware that the pocess elaborated by Kant and disseminated by most classical theorists of the beautiful and sublime is not sexually neutral. Indeed, the interaction between the reason and the imagination in the sublime is itself an allegory of gender relations within patriarchy. “ ( 72)
  • 34. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ On what condition does goodness exist beyond all calculation? On the condition that goodness forget itself, [...], hence a movement of infinite love. Only infinite love can remove itself and, in order to become finite , become incarnated in order to love the other, to love the other as a finite other. This gift of infinite love comes from someone and is addressed to someone; responsability demands irreplaceable singularity. Yet only death or rather the apprehension of death can give this irreplaceability, and it is only on the basis of it that one can speak of a responsable subject [...]. We have thus deduced the possibility of a mortal’s accession to responsability through the experience of his irreplaceability, that which an approaching death [...] gives him. But the mortal thus deduced is someone whose very responsability requires that he concern himself not only with objective Good but with a gift of infinite love, a goodness that is forgetful of itself. (Jacques Derrida, The Gift of Death 1996: 50-51) [Blimunda:] O pecado não existe, só há morte e vida, A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar, a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso não morremos de vez, E quando vamos para debaixo da terra, e quando Francisco Marques fica esmagado sob o carro da pedra, não será isso morte sem recurso, Se estamos falando dele, nasce Francisco Marques, Mas ele não o sabe, Tal como nós não sabemos bastante quem somos, e, apesar disso, estamos vivos, Blimunda, onde foi que aprendeste essas coisas, estive de olhos abertos na barriga da minha mãe, de lá via tudo. (MdC:331)
  • 35. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Não era raro que falando sobre isto com outras mulheres as deixasse pensativas, afinal, que faltas são essas nossas, as tuas, as minhas, se nós somos, mulheres, verdadeiramente o cordeiro que tirará o pecado do mundo, no dia em que isto for compreendido vai ser preciso começar outra vez tudo. (MdC: 354)
  • 36. “ A Mulher na Obra de José Saramago: Mito e Sublime Femininos em Memorial do Convento “ Será o sublime feminino da Blimunda “um papel, uma imagem, um valor, que se impõe às mulheres através dos sistemas de representação masculinos" (Irigaray 1987: 138) ? Será que o discurso crítico do romance, em relação ao género, é, afinal, só uma máscara ou uma redução do feminino, tendo em conta as suas imensas diversidades e potencialidades ? Talvez seja excessivo esperar de um autor português, que nasceu a princípios do século XX, que lograsse subverter a "male phalogocentric logic" e que consiga "[to] split open the closure of the binary opposition and reveal the pleasures of open-ended textuality” (Toril Moi 1985: 108) ? "Deus quando quer, não precisa de homens, embora não possa dispensar-se de mulheres.” (MdC: 17)
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