O documento discute como as instituições de ensino superior brasileiras podem melhorar seus processos de gestão e ensino-aprendizagem adotando práticas de mercado e focando os esforços de tecnologia da informação no apoio à inovação pedagógica, ao invés do desenvolvimento de sistemas internos.
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toda instituição,
para ter sucesso,
deve ter foco no seu
negócio
Setembro 2006
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Elisa Wolynec
ewolynec@techne.com.br
Na maioria das nossas IES o setor de informática além
de cuidar da infra-estrutura tecnológica da instituição
dedica-se, também, a desenvolver sistemas para a
gestão institucional ou para a gestão da
aprendizagem. Esta estratégia era também adotada,
na década de 80 do século passado, pelas instituições
de ensino superior dos paises desenvolvidos.
Atualmente porém, nesses países, o setor de
tecnologia da informação (TI), no tocante a
desenvolvimentos internos, dedica-se a auxiliar os
docentes na construção de simuladores e sofisticados
objetos de aprendizagem, agregando
real valor ao negócio da instituição.
No nosso país, praticamente em todas
as instituições de ensino superior (IES)
onde os cursos e os mecanismos de
ensino-aprendizagem estão defasados
em relação às necessidades deste
milênio, verifica-se que a gestão
institucional também não adotou, ainda,
as práticas empresariais das últimas
décadas.
Nos países desenvolvidos, entre uma e duas décadas
atrás, ocorreu uma mudança fundamental na forma
pela qual faculdades e universidades implementavam
sistemas de gestão: os antigos sistemas,
desenvolvidos internamente, foram substituídos por
sistemas de mercado, seguindo a tendência de
sucesso do mundo empresarial. Atualmente, nem se
cogita desenvolver internamente qualquer sistema que
se possa adquirir no mercado. As razões para essa
decisão são as mesmas que as de qualquer outro
ramo empresarial: os pacotes de software de mercado
oferecem, em geral, importantes vantagens em relação
ao desenvolvimento interno.
Em primeiro lugar, para qualquer ramo de negócios, a
solução de mercado, embora vise lucro, tem o custo
do investimento amortizado entre muitos clientes,
sendo sempre muito menor que o custo do
desenvolvimento interno. Além disso, as empresas
desenvolvedoras de software possuem muito mais
recursos que a equipe interna de uma universidade,
porque esse é o cerne do seu negócio. Investem
pesadamente na arquitetura e engenharia de sistemas,
no projeto de funcionalidades, em metodologia de
desenvolvimento e suporte, em testes e controle de
qualidade. Além disso, investem continuamente na
atualização tecnológica e na inclusão de novas
funcionalidades e processos demandados pela
constante evolução do mercado.
Uma das principais características
dos sistemas de gestão da
atualidade é a inclusão, no software,
das melhores práticas para a
otimização do negócio. Como parte
do projeto de evolução do software,
as empresas trabalham em sintonia
com os seus clientes e reúnem
grupos de usuários para sugestões e
especificação de novas
funcionalidades e processos. Ao
comprar o produto, a universidade
recebe um sistema que engloba as melhores práticas
e os melhores processos, definidos por um grupo
abrangente de instituições. Assim, quanto maior o
número e a diversidade de clientes que utilizam uma
solução de gestão acadêmica, por exemplo, mais
abrangente, testada e aderente às necessidades do
mercado é a solução.
Em contraste, a maioria dos processos de negócios,
nas nossas instituições de ensino superior, não resulta
de um modelo bem planejado e analisado. São
processos que foram acontecendo, instalando-se ao
longo do tempo. Novos processos vão sendo
adicionados e processos antigos ganham novas
características, mas dificilmente são eliminados. Os
sistemas desenvolvidos internamente automatizam e
englobam todos os processos existentes, perpetuando
a burocracia, em vez de serem precursores de
melhorias significativas.
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aulas entediantes,
rotineiras e a
relação autoritária
do professor com o
aluno
No Brasil a maioria das Instituições de Ensino Superior
(IES), notadamente as particulares, ainda acredita no
desenvolvimento interno em vez de acompanhar o
mercado. É curioso verificar que em seus cursos
jamais aconselhariam aos alunos que um
supermercado, ou um banco, por exemplo, deveriam
desenvolver internamente seu sistema de gestão. O
que ensinam a seus alunos são as boas práticas e a
mais fundamental delas é que, toda instituição, para
ter sucesso, deve ter foco no seu negócio.
Só que boa parte das IES não utiliza na sua gestão o
que recomenda aos seus alunos. Toda a IES, para ter
sucesso, deve ter seu foco principal na transmissão e
produção de conhecimento: esse é o coração do seu
negócio. Assim, em vez de
desenvolver internamente um sistema
de matrículas ou uma ferramenta de
e-learning, a IES deve utilizar seus
profissionais de tecnologia da
informação para desenvolver objetos
de aprendizagem, simuladores,
laboratórios virtuais, apoiando os
docentes no desenvolvimento de
novas experiências de aprendizagem.
Dessa forma a IES estaria
introduzindo o seu diferencial, a sua
forma característica de ensinar, a sua
personalidade, a sua marca.
O ponto positivo dessa situação é que, como nessas
instituições a gestão não está otimizada, há espaço
para conseguir-se significativa redução de custos e
modernização de processos, liberando recursos
humanos e materiais para as transformações
necessárias no processo de ensino-aprendizagem. A
modernização da gestão deve, nesses casos, ser
planejada em sintonia com a necessária atualização
do ambiente de ensino-aprendizagem.
As transformações no conteúdo dos cursos e no
ambiente de ensino-aprendizagem são prioritárias e
urgentes para as instituições que pretendem
sobreviver nesta década. Segundo artigo publicado no
Universia em 24/7/06, atualmente as maiores
reclamações dos alunos das IES são: aulas
entediantes, rotineiras e a relação autoritária do
professor com o aluno. O Pró-Reitor de Graduação da
UFPB (Universidade Federal da Paraíba), Umbelino de
Freitas Neto, explica: “O estudante de hoje cresceu no
mundo interativo da Internet. Quando ele chega para
assistir à mesma aula expositiva que era dada há 20
anos, não vê sentido nela. O comportamento dele é
totalmente diferente do aluno de 20 anos atrás. Nós,
professores, precisamos nos atualizar para
acompanhá-los ”1
Várias IES já perceberam essa necessidade de
mudança, já introduziram ambientes de ensino-
aprendizagem baseados em e-learning e estão
colhendo os frutos dessa inovação, expandindo seu
alunado a taxas elevadas, tirando alunos das que
permanecem com os métodos tradicionais de décadas
atrás. Praticamente todas essas instituições
investiram, também, em processos de gestão
sintonizados com a tecnologia do século 21,
oferecendo aos alunos e docentes uma secretaria
acadêmica completamente virtual,
além de outros serviços via Internet.
Diminuíram custos otimizando o uso de
recursos, especialmente da carga
didática docente, diminuíram
mensalidades, ampliando as
possibilidades de acesso, melhoraram
os resultados da aprendizagem e
oferecem aos alunos um ambiente
universitário e um programa de cursos
em maior sintonia com as
necessidades atuais. O setor de
informática dedica-se a escolher as
melhores soluções de mercado para as necessidades
da instituição, gerencia a implementação e dedica-se a
apoiar e capacitar o corpo docente na incorporação
das novas tecnologias ao ambiente de ensino-
aprendizagem. Em vez de desenvolver sistemas para
a atividade meio da instituição, torna-se estratégico no
apoio à inovação na atividade fim.
É ainda um início, pois há um longo caminho a
percorrer para tornar a aprendizagem mais eficaz,
realmente centrada no aluno. O rumo está correto, é
preciso acelerar o passo.
1
Aprendendo a Ensinar – Reportagem de Bárbara Semerene,
Universa Brasil, 27/07/2006.