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mi
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DOMINGO

Em 3 de fevereiro, jovens estudantes da
Boa Vista estiveram na casa de número 2 da
Rua da Mangueira e transformaram aquele
grupo que batia bola no bairro, e
diariamente se reunia em frente à Igreja de
Santa Cruz, num clube. José Luiz Vieira
(foto) foi o primeiro presidente, tendo como
vice Quintino Miranda Paes Barreto.

POPULARIZAÇÃO
do futebol no Recife
encontrou as portas
do recém-fundado
Santa Cruz abertas

elegante e ideal para o exercício físico e saúde corporal.
No entanto, nos primeiros anos da
década de 1910, ele foi deixando de
ser praticado exclusivamente nos
campos oficiais e com uniformes e
bolas trazidos da Inglaterra. O esporte ganhava o improviso de uma parcela da sociedade excluída do rol de
“gente de bem”. Mendigos, moradores de mocambos, artesões, caixeiros
de lojas, pescadores, além de trabalhadores da pequena indústria, transformavam a várzea e largos do centro
da cidade em campo, e faziam de papelões e jornais velhos, amarrados por
barbantes, a bola.
Neste período, nascia o Santa Cruz
Footbal Club, sob a batuta de jovens de
classe média da Boa Vista, a quarta freguesia (bairro) mais populosa do Recife. Entre os fundadores, Teófilo de
Carvalho, o Lacraia.
O estudante que se preparava para
ingressar na faculdade de Engenharia,
filho do doutor Batista de Carvalho, conhecido médico da cidade, seria apenas mais um garoto a praticar o esporte ainda amado pelas elites. Seria,

1915

não fossem o cabelo crespo e a cor escura da pele, características físicas abominadas nos outros clubes do Recife.
O primeiro negro a integrar um team
no futebol pernambucano abriu as
portas do Santa para todas as etnias e
classes sociais.
A popularização do esporte mudou
a maneira como as pessoas assistiam
às partidas de futebol. Aqueles espectadores que se comportavam num
match como se fora uma ópera passaram a se preocupar com a gritaria e
excesso de gestos do novo torcedor
que se formava.
Incomodada com a integração social, parte das elites execrava o agora
“violento sport (grafia da época) bretão”. A cada dia, os jornais recebiam
dos leitores cartas despejadas de termos preconceituosos direcionadas
aos praticantes de futebol.
O Jornal do Recife chegou a publicar, na sua seção de cartas, uma
queixa de moradores da Boa Vista,
classificando de “grupo de meninos
vadios e mal-educados” aqueles que
teimavam em passar o dia corrrendo
atrás de uma bola improvisada na esquina da Rua da Mangueira. Detalhe:
local da fundação do Santa Cruz.
Os mesmos “moleques” e “desocupados”, outros adjetivos utilizados
na época para aqueles que jogavam
futebol e não eram “gente de bem”,
foram tratados de forma muito diferente na edição do mesmo Jornal do
Recife de 31 de janeiro de 1919, um dia
depois do Santa Cruz se tornar o pri-

HONRA
esportiva de
Pernambuco
resgatada
pelos garotos
do Santa Cruz,
segundo o
Jornal do
Recife, de
1919

Um privilégio dos
sonhos de todo torcedor
O historiador e escritor Leonardo
Dantas Silva pode se considerar um torcedor do Santa Cruz privilegiado. Os
detalhes do que aconteceu nos dias
que antecederam e sucederam a criação do clube chegaram aos seus ouvidos quando ele ainda usava calças
curtas, contadas por um integrante
do grupo que, no dia 3 de fevereiro de
1914, se reuniu na casa de número 2 da
Rua da Mangueira, na Boa Vista.
O endereço era a residência de Antônio Machado Gomes da Silva Neto,

Hesíodo Góes

meiro clube do Norte/Nordeste a bater
uma equipe do Sudeste. A vitória por
3x2 sobre o Botafogo “vingava” a goleada imposta pelos cariocas ao Sport
Club do Recife por 6x1, na inauguração da nova arquibancada do seu
campo, o da Malaquias.
“…Em toda parte a multidão fulgurante, pela radiosa attitude daquelles
onze rapazes denodados, gritava continuamente na imponencia da tarde.
Não havia ali partidarismo. Era a alma
pernambucana que estava numa crença pura, numa confiança radiosa, de
que os bravos defensores da honra esportiva de Pernambuco saberiam zelar
com galhardia o nome da nossa terra”,
publicou o JR.

Para fazer a sua inscrição na Liga, o Santa Cruz precisou deixar de
ser alvinegro, por causa de uma divergência com outro filiado, o Flamengo, também branco e preto. O vermelho foi incorporado, influenciado pelo uniforme usado pelo Fla carioca da época, o cobra coral.
Coube ao Santa Cruz realizar a primeira partida da história do Campeonato Pernambucano, diante da Coligação Sportiva Recifense, no
dia 1º de agosto, na Campina do Derby. Do escrete tricolor veio o primeiro gol, de Mário Rodrigues, na vitória por 1x0.

1916

LEONARDO
Dantas Silva
(E) relembra
as histórias do
seu pai,
Tonico, cuja
residência
serviu de sede
provisória na
fundação do
Santa

Em 15 de abril, o Santa Cruz
protagonizou a maior virada da
história do futebol pernambucano.
Após estar perdendo por 5x1 para
o América, os tricolores foram
buscar a vitória já no segundo tempo com grandes atuações
de Tiano e Pitota. No final da partida realizada no campo dos
Aflitos, o placar cravava inacreditáveis 7x5 para o Santa.

1917
Os rivais sentiram o veneno da Cobra Coral. O
primeiro confronto contra o Náutico aconteceu
no dia 29 de junho, no campo dos Aflitos. Num
jogo válido pelo Torneio Beneficente, o time
tricolor bateu os alvirrubros por 3x0. A goleada
levou os tricolores à final com o Sport. Nova
vitória, desta vez por 1x0, e o título da
competição.

1919
No dia 30 de janeiro, o Santa Cruz se tornava o
primeiro nordestino a vencer uma equipe do
Sul-Sudeste. Os tricolores aproveitaram a vinda do
Botafogo ao Recife para inaugurar as novas
arquibancadas do campo do Sport (que perdeu por
6x1) e marcaram um amistoso com o poderoso clube
carioca, no mesmo local. Mesmo com os alvinegros
marcando um gol de mão, o Santa venceu por 3x2.

3

pai de Leonardo, que costumava abrir
as portas da sua casa para os encontros daquele grupo de garotos que
batia peladas no Largo da Igreja de
Santa Cruz. Aos 20 anos, Tonico não
tinha pretensão de fazer parte da diretoria. Queria ser apenas um torcedor,
um dos primeiros de uma nação que
viria a ser referência no futebol nacional pela sua fidelidade e paixão sem
limite.
“Meu pai usava um chapéu de palha,
com tiras branca e preta, ainda em referência às primeiras cores do Santa”,
recorda Leonardo, lembrando das histórias que ouvia de Tonico quando
ainda era criança. “Ele contava que
cada jogador daquele primeiro time
tinha um verso, que era cantado na
época. O refrão era: ‘Ai meu Deus
que barulho / quantas palmas, que horror / torcedores tão contentes a vibrar
com o tricolor’. E daí eles saíam emendando os versos dos jogadores”.
Um dos seus preferidos era o de Martiano Fernandes, ou simplesmente
Tiano, um dos grandes atacantes da
equipe que, por ter os olhos puxados,
era chamado de japonês, como dizia
o verso: “Ai Tiano, centreforward pavoroso / japonês perigoso / primeiro da
posição / és um center de primeira / faz
um gol em quantos queira”.

te

1914

Recife, 1º de dezembro de 2013

mi

Recife vivia, no início
do século XX, o seu
baile da modernidade.
O capitalismo estrangeiro havia aportado
na capital pernambucana, controlando o sistema de transporte urbano, a rede ferroviária, além
dos serviços de gás e telefonia.
Urbanisticamente, a cidade passava por um processo de melhoramento da sua infra-estrutura, como calçamento de ruas, saneamento, iluminação pública e revitalização de praças. A reforma do Porto logo o transformaria num dos mais movimentados
do País e o Recife num valioso entreposto comercial.
As novas oportunidades atraíam
migrantes de diversas regiões e a cidade sofria uma brusca alteração nas
suas camadas sociais. Além da velha
elite açucareira, dividiam agora o
topo da pirâmide os banqueiros e os
grandes comerciantes. Logo abaixo, a
então classe média, formada por profissionais liberais, burocratas e comerciantes mais modestos.
Os ventos da modernidade transformaram os chamados divertimentos
públicos, até então restritos a festas religiosas e apresentações das bandas de
música da polícia, em diversas outras
atividades, esportivas ou não, ao ar
livre. Entre elas, o futebol começou a
criar raízes na sociedade predominantemente branca e endinheirada
dos recifenses. O esporte era visto pela
elite, até então, como um esporte

O

DOMINGO

Recife, 1º de dezembro de 2013

0 li

Pa
ixã
o 10

Página 1

Preconceito leva seu primeiro revés

te

29/11/2013

o 10
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O primeiro negro no futebol pernambucano que abriu as portas do Santa Cruz para todas as etnias e classes

  • 1. 20:38 mi 0 li DOMINGO Em 3 de fevereiro, jovens estudantes da Boa Vista estiveram na casa de número 2 da Rua da Mangueira e transformaram aquele grupo que batia bola no bairro, e diariamente se reunia em frente à Igreja de Santa Cruz, num clube. José Luiz Vieira (foto) foi o primeiro presidente, tendo como vice Quintino Miranda Paes Barreto. POPULARIZAÇÃO do futebol no Recife encontrou as portas do recém-fundado Santa Cruz abertas elegante e ideal para o exercício físico e saúde corporal. No entanto, nos primeiros anos da década de 1910, ele foi deixando de ser praticado exclusivamente nos campos oficiais e com uniformes e bolas trazidos da Inglaterra. O esporte ganhava o improviso de uma parcela da sociedade excluída do rol de “gente de bem”. Mendigos, moradores de mocambos, artesões, caixeiros de lojas, pescadores, além de trabalhadores da pequena indústria, transformavam a várzea e largos do centro da cidade em campo, e faziam de papelões e jornais velhos, amarrados por barbantes, a bola. Neste período, nascia o Santa Cruz Footbal Club, sob a batuta de jovens de classe média da Boa Vista, a quarta freguesia (bairro) mais populosa do Recife. Entre os fundadores, Teófilo de Carvalho, o Lacraia. O estudante que se preparava para ingressar na faculdade de Engenharia, filho do doutor Batista de Carvalho, conhecido médico da cidade, seria apenas mais um garoto a praticar o esporte ainda amado pelas elites. Seria, 1915 não fossem o cabelo crespo e a cor escura da pele, características físicas abominadas nos outros clubes do Recife. O primeiro negro a integrar um team no futebol pernambucano abriu as portas do Santa para todas as etnias e classes sociais. A popularização do esporte mudou a maneira como as pessoas assistiam às partidas de futebol. Aqueles espectadores que se comportavam num match como se fora uma ópera passaram a se preocupar com a gritaria e excesso de gestos do novo torcedor que se formava. Incomodada com a integração social, parte das elites execrava o agora “violento sport (grafia da época) bretão”. A cada dia, os jornais recebiam dos leitores cartas despejadas de termos preconceituosos direcionadas aos praticantes de futebol. O Jornal do Recife chegou a publicar, na sua seção de cartas, uma queixa de moradores da Boa Vista, classificando de “grupo de meninos vadios e mal-educados” aqueles que teimavam em passar o dia corrrendo atrás de uma bola improvisada na esquina da Rua da Mangueira. Detalhe: local da fundação do Santa Cruz. Os mesmos “moleques” e “desocupados”, outros adjetivos utilizados na época para aqueles que jogavam futebol e não eram “gente de bem”, foram tratados de forma muito diferente na edição do mesmo Jornal do Recife de 31 de janeiro de 1919, um dia depois do Santa Cruz se tornar o pri- HONRA esportiva de Pernambuco resgatada pelos garotos do Santa Cruz, segundo o Jornal do Recife, de 1919 Um privilégio dos sonhos de todo torcedor O historiador e escritor Leonardo Dantas Silva pode se considerar um torcedor do Santa Cruz privilegiado. Os detalhes do que aconteceu nos dias que antecederam e sucederam a criação do clube chegaram aos seus ouvidos quando ele ainda usava calças curtas, contadas por um integrante do grupo que, no dia 3 de fevereiro de 1914, se reuniu na casa de número 2 da Rua da Mangueira, na Boa Vista. O endereço era a residência de Antônio Machado Gomes da Silva Neto, Hesíodo Góes meiro clube do Norte/Nordeste a bater uma equipe do Sudeste. A vitória por 3x2 sobre o Botafogo “vingava” a goleada imposta pelos cariocas ao Sport Club do Recife por 6x1, na inauguração da nova arquibancada do seu campo, o da Malaquias. “…Em toda parte a multidão fulgurante, pela radiosa attitude daquelles onze rapazes denodados, gritava continuamente na imponencia da tarde. Não havia ali partidarismo. Era a alma pernambucana que estava numa crença pura, numa confiança radiosa, de que os bravos defensores da honra esportiva de Pernambuco saberiam zelar com galhardia o nome da nossa terra”, publicou o JR. Para fazer a sua inscrição na Liga, o Santa Cruz precisou deixar de ser alvinegro, por causa de uma divergência com outro filiado, o Flamengo, também branco e preto. O vermelho foi incorporado, influenciado pelo uniforme usado pelo Fla carioca da época, o cobra coral. Coube ao Santa Cruz realizar a primeira partida da história do Campeonato Pernambucano, diante da Coligação Sportiva Recifense, no dia 1º de agosto, na Campina do Derby. Do escrete tricolor veio o primeiro gol, de Mário Rodrigues, na vitória por 1x0. 1916 LEONARDO Dantas Silva (E) relembra as histórias do seu pai, Tonico, cuja residência serviu de sede provisória na fundação do Santa Em 15 de abril, o Santa Cruz protagonizou a maior virada da história do futebol pernambucano. Após estar perdendo por 5x1 para o América, os tricolores foram buscar a vitória já no segundo tempo com grandes atuações de Tiano e Pitota. No final da partida realizada no campo dos Aflitos, o placar cravava inacreditáveis 7x5 para o Santa. 1917 Os rivais sentiram o veneno da Cobra Coral. O primeiro confronto contra o Náutico aconteceu no dia 29 de junho, no campo dos Aflitos. Num jogo válido pelo Torneio Beneficente, o time tricolor bateu os alvirrubros por 3x0. A goleada levou os tricolores à final com o Sport. Nova vitória, desta vez por 1x0, e o título da competição. 1919 No dia 30 de janeiro, o Santa Cruz se tornava o primeiro nordestino a vencer uma equipe do Sul-Sudeste. Os tricolores aproveitaram a vinda do Botafogo ao Recife para inaugurar as novas arquibancadas do campo do Sport (que perdeu por 6x1) e marcaram um amistoso com o poderoso clube carioca, no mesmo local. Mesmo com os alvinegros marcando um gol de mão, o Santa venceu por 3x2. 3 pai de Leonardo, que costumava abrir as portas da sua casa para os encontros daquele grupo de garotos que batia peladas no Largo da Igreja de Santa Cruz. Aos 20 anos, Tonico não tinha pretensão de fazer parte da diretoria. Queria ser apenas um torcedor, um dos primeiros de uma nação que viria a ser referência no futebol nacional pela sua fidelidade e paixão sem limite. “Meu pai usava um chapéu de palha, com tiras branca e preta, ainda em referência às primeiras cores do Santa”, recorda Leonardo, lembrando das histórias que ouvia de Tonico quando ainda era criança. “Ele contava que cada jogador daquele primeiro time tinha um verso, que era cantado na época. O refrão era: ‘Ai meu Deus que barulho / quantas palmas, que horror / torcedores tão contentes a vibrar com o tricolor’. E daí eles saíam emendando os versos dos jogadores”. Um dos seus preferidos era o de Martiano Fernandes, ou simplesmente Tiano, um dos grandes atacantes da equipe que, por ter os olhos puxados, era chamado de japonês, como dizia o verso: “Ai Tiano, centreforward pavoroso / japonês perigoso / primeiro da posição / és um center de primeira / faz um gol em quantos queira”. te 1914 Recife, 1º de dezembro de 2013 mi Recife vivia, no início do século XX, o seu baile da modernidade. O capitalismo estrangeiro havia aportado na capital pernambucana, controlando o sistema de transporte urbano, a rede ferroviária, além dos serviços de gás e telefonia. Urbanisticamente, a cidade passava por um processo de melhoramento da sua infra-estrutura, como calçamento de ruas, saneamento, iluminação pública e revitalização de praças. A reforma do Porto logo o transformaria num dos mais movimentados do País e o Recife num valioso entreposto comercial. As novas oportunidades atraíam migrantes de diversas regiões e a cidade sofria uma brusca alteração nas suas camadas sociais. Além da velha elite açucareira, dividiam agora o topo da pirâmide os banqueiros e os grandes comerciantes. Logo abaixo, a então classe média, formada por profissionais liberais, burocratas e comerciantes mais modestos. Os ventos da modernidade transformaram os chamados divertimentos públicos, até então restritos a festas religiosas e apresentações das bandas de música da polícia, em diversas outras atividades, esportivas ou não, ao ar livre. Entre elas, o futebol começou a criar raízes na sociedade predominantemente branca e endinheirada dos recifenses. O esporte era visto pela elite, até então, como um esporte O DOMINGO Recife, 1º de dezembro de 2013 0 li Pa ixã o 10 Página 1 Preconceito leva seu primeiro revés te 29/11/2013 o 10 ixã Pa 2 0112santa23:Layout 1