1) Sete casos de racismo em arenas esportivas no Brasil desde 2005, mas ninguém foi condenado à prisão.
2) Apenas um argentino foi preso em flagrante por dois dias após insultar um jogador brasileiro, mas pagou fiança.
3) Racismo é crime inafiançável e imprescritível no Brasil, mas poucos casos resultaram em punição efetiva.
1. Esportes
PÁGINA 1- BELO HORIZONTE, QUINTA-FEIRA, 30/9/2010 - esportes@hojeemdia.com.br
.Hoje EM DIA
Racismo no esporte não é punido
De sete casos de preconceito racial em arenas esportivas no Brasil, desde 2005, ninguém foi condenado a prisão
WLADIMIR DE SOUZA/AGÊNCIA GLOBO
Apenas o argentino Desábato, do Quilmes, acusado de insultar o atacante Grafite, então jogador do São Paulo, em 2005, foi preso em flagrante, mas pagou fiança após dormir dois dias na cadeia
BRUNO MORENO que tiveram repercussão na Olympico emitiu nota desa- metido racismo em campos ao Racismo” em eventos es- Grêmio por 3 a 1, no jogo de
REPÓRTER imprensa desde 2005, nin- provando qualquer atitude de futebol, e que sofreu puni- portivos realizados em Ca- ida da semifinal da Copa Li-
guém foi condenado e em racista. Entretanto, a assesso- ção, foi o zagueiro Antônio xias do Sul, onde fica o time bertadores, no Mineirão. Du-
O recente episódio em apenas um deles o acusado ria de imprensa do clube afir- Carlos Zago, que defendia o em que jogava. Além disso, rante a partida, o volante Eli-
que o meio-de-rede do Cru- foi preso. Em outro caso, o mou que o suposto agressor Juventude na época. No dia 5 não pôde se ausentar de Ca- carlos acusou o argentino Ma-
zeiro, Renato Felizardo, acu- acusado fez acordo com o Mi- não foi punido, uma vez que de março de 2006, quando xias por mais de 30 dias sem xi López, do Grêmio, de tê-lo
sou um torcedor do Olympi- ele não teria sido identifica- seu time empatou com o Grê- chamado de “Macaquito”.
co de tê-lo chamado de “ma- do. Mas segundo informa- mio, em 2 a 2, na disputa do Após o jogo, os dois foram pa-
caco”, em uma partida válida ções da delegação cruzeiren- Campeonato Gaúcho, no rar na delegacia do estádio.
pelo Campeonato Mineiro se, o agressor seria Rômulo Olímpico, ele foi acusado pe- Depois, segundo a Polícia Ci-
de Vôlei, no último sábado, Racismo é crime Rocha Mesquita. lo volante Jeovânio, do Grê- O zagueiro Antônio vil, o cruzeirense retirou a
reacendeu a discussão do ra- No Brasil, o único agres- mio, de tê-lo chamado de queixa.
cismo no meio esportivo. An- inafiançável e sor que saiu algemado de um “macaco”, além de ter esfre- Carlos fez acordo e Além desse episódio, ou-
tes reservado aos campos de estádio foi o zagueiro argenti- gado os dedos no antebraço, tros dois não resultaram em
futebol, principalmente en- imprescritível no no Leandro Desábato, então indicando a cor da pele do ad- teve que distribuir nada, nem mesmo boletim
tre jogadores, o principal sus- jogador do Quilmes, acusa- versário. de ocorrência. Em outubro
peito de ter feito as declara- Brasil desde a do pelo atacante Grafite, na Primeiro, o Tribunal de panfletos em eventos de 2005, Tinga, do Internacio-
ções agora é um dirigente, o época são-paulino, de tê-lo Justiça Desportiva do Rio nal, foi xingado pela torcida
vice-presidente administrati- Constituição de 1988 chamado de “negrinho” e Grande do Sul o suspendeu esportivos de Caxias do Juventude com expres-
vo do Olympico, que deveria, “macaco”. No dia 13 de abril preventivamente por 60 sões racistas. A agressão foi
no mínimo, preservar os prin- de 2005, em partida válida pe- dias. Depois, no dia 12 de registrada apenas na súmula
cípios do Estatuto do Torce- la Copa Libertadores, o São abril daquele ano, o zagueiro do jogo. O outro momento
dor, que abomina qualquer nistério Público. Um ainda Paulo venceu o Quilmes, por foi denunciado pelo Ministé- autorização judicial e teve foi vivido por Toró, do Fla-
declaração racista. está sendo investigado pela 3 a 1, no Morumbi, Desábato rio Público (MP) gaúcho, por que se apresentar, mensal- mengo. Em um jogo-treino
Apesar de o racismo ser Polícia Civil, dois tiveram a saiu do estádio algemado, crime de preconceitos de ra- mente, em juízo. com o Huracán, do Uruguai,
crime inafiançável e impres- queixa retirada e em outros dormiu duas noites na ca- ça ou de cor. Entretanto, o De 2005 até hoje, apenas em 2008, os f lamenguistas
critível no Brasil desde a pro- dois não houve sequer regis- deia e foi solto após pagamen- MP fez um acordo com o joga- um caso de racismo foi regis- acusaram o zagueiro Fernan-
mulgação da Constituição tro do boletim de ocorrência. to de fiança de R$ 10 mil. Em dor, em que ele teve que im- trado em Minas Gerais em are- do Caballero de racismo. De-
da República, em 1988, não é Entretanto, se depender seguida, Grafite retirou a primir e distribuir dez mil nas esportivas. Foi no dia 24 pois de muito bate-boca, o
isso o que ser vê no meio es- de Renato Felizardo, este epi- queixa. panfletos com a frase “So- de junho do ano passado, uruguaio pediu desculpas e
portivo. Dos sete episódios sódio não ficará impune. Já o O outro acusado de ter co- mos Todos Iguais, Diga Não quando o Cruzeiro venceu o nada foi feito.
InquéritosobrecasonoPalestraItáliaestápertodeiràJustiça CARLOS ROBERTO
Dos sete casos de racismo hostilidade. Já Danilo pegou entre brancos e negros foi na
vividos por atletas no Brasil 11 jogos suspensão, mas cum- Olimpíada de 1936, em Ber-
desde 2005, apenas um tem in- priu apenas cinco. Os outros lim, quando o ditador nazista
vestigação policial em anda- seis foram trocados pela dis- Adolf Hitler, que se preparava
mento e outro ainda pode vi- tribuição de cestas básicas. para a II Grande Guerra, se re-
rar processo - o do jogador de Entretanto, na esfera crimi- cusou a entregar as quatro
vôlei Renato Felizardo, agre- nal, a Polícia Civil do Paraná medalhas de ouro ao norte-
dido no último sábado, em Be- está na fase de conclusão do americano Jesse Owens, atle-
lo Horizonte. inquérito e deve encaminhá- ta negro e vencedor dos 100 e
O caso que está mais pró- lo ao Ministério Público em 200 metros rasos, do reveza-
ximo de ser encaminhado à poucas semanas. mento 4x100m e do salto em
Justiça aconteceu na partida O preconceito racial no distância. Mas Hitler não viu
entre Palmeiras e Atlético- meio esportivo também ga- a vitória do norte-americano,
PR, dia 14 de abril deste ano, nhou as páginas dos jornais pois, ao saber que teria que
no Palestra Itália, quando o ti- europeus e chamou a aten- apertar a mão de Cornelius Jo-
me paulista venceu os para- ção da Fifa, que na Copa 2010, hnson, também negro, que
naenses por 1 a 0. Naquela tar- na África do Sul, lançou cam- vencera no salto em altura,
de, o zagueiro Manoel, do panha contra a discrimina- deixou o estádio.
Atlético-PR, garantiu que o ção. Antes, porém, a entidade Owens também chocou a
também zagueiro Danilo cus- já havia organizado movi- sociedade norte-americana,
piu nele e o chamou de “maca- mentos em jogos no Velho mergulhada no preconceito
co”. Para descontar, Manoel Continente, já que na Espa- da segregação racial, só venci-
pisou no adversário. nha e na Alemanha houve ca- da, parcialmente, no final da
Como punição, a Justiça sos de preconceito racial den- década de 1960, após o assassi-
Desportiva afastou Manoel tro e fora de campo. nato do líder negro Martin Lu-
por quatro jogos, por ato de O marco do preconceito ther King Jr., em 1968. (B.M.) O argentino Máxi Lopes (E), do Grêmio, teve que prestar depoimento na delegacia do Mineirão