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Lilian	Bechara	Elabras	Veiga
Federal	Institute	of	Education,	Science	ans	…
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Mauro	Velho	de	Castro	Faria
Medical	School	(Faculty	of	Medical	Sciences)
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2391
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
ARTIGO ARTICLE
Análise da contaminação dos sistemas
hídricos por agrotóxicos numa pequena
comunidade rural do Sudeste do Brasil
Pesticide pollution in water systems in a small
rural community in Southeast Brazil
1 Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, Brasil.
2 Coordenação de Programas
de Pós-graduação em
Engenharia, Universidade
Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, Brasil.
3 Departamento de Biologia
Celular e Genética,
Universidade do Estado
do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, Brasil.
Correspondência
M. M. Veiga
Departamento de
Saneamento e Saúde
Ambiental, Escola
Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz.
Rua Leopoldo Bulhões 1480,
5o andar, Rio de Janeiro, RJ
21041-210, Brasil.
mveiga@ensp.fiocruz.br
Marcelo Motta Veiga 1
Dalton Marcondes Silva 1
Lilian Bechara Elabras Veiga 2
Mauro Velho de Castro Faria 3
Abstract
Recent advances in analytical techniques allow
identifying pesticide pollution in water systems.
In small rural communities, the negative effects
of pesticide pollution can be aggravated by the
lack of infrastructure and adverse socioeconom-
ic conditions. This study investigated pesticide
pollution in potential water supply sources in a
tomato growing area in Paty do Alferes, Rio de
Janeiro State, Brazil. The study selected 27 points
where five monthly samples were collected. Pes-
ticide pollution was determined by analyzing
acetyl-cholinesterase inhibition. In 19 of the 27
sample points, some pesticide pollution was de-
tected, and in two points the pesticide pollution
was above the permitted limits. The results thus
proved the incidence of pesticide pollution in
water sources in Paty do Alferes that could jeop-
ardize the local population’s health.
Organosphosphorus Compounds; Carbamates;
Pesticides; Water Pollutants; Contamination
Introdução
Há muito tempo já se utilizavam químicos no
controle de pragas da agricultura, no intuito de
aumentar a produtividade agrícola. No início,
utilizava-se apenas um pequeno número de
compostos inorgânicos, principalmente basea-
dos em formulações envolvendo os elementos
químicos cobre e arsênio.
A partir da Segunda Guerra Mundial, visan-
do aumentar a provisão de alimentos para aten-
der uma explosão demográfica mundial que vi-
nha se desenhando, houve necessidade de se
buscar produtos mais eficientes. Após um len-
to desenvolvimento tecnológico, houve a intro-
dução dos primeiros produtos orgânicos com a
finalidade de agir como agrotóxicos, destacan-
do-se a ação inseticida do dicloro-difenil-tri-
cloroetano (DDT).
Este episódio deu uma nova importância
aos agrotóxicos à base de compostos orgânicos
no que se referia à saúde pública, tanto no au-
mento da produtividade agrícola quanto no
controle de vetores de doenças. Porém, da mes-
ma forma que algumas características quími-
cas, como a persistência, eram acrescidas à fun-
ção biocida dos agrotóxicos organoclorados,
resultando num fator positivo para a agricultu-
ra, pois um mesmo agrotóxico eliminaria mais
pragas por um período maior de tempo, tam-
bém representavam maiores riscos à saúde hu-
mana e ao meio ambiente 1.
Veiga MM et al.2392
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
Só mais tarde, quando a comunidade cien-
tífica passou a conhecer melhor os mecanis-
mos de atuação dos agrotóxicos organoclora-
dos no meio ambiente e seus efeitos à saúde
humana, foi que a utilização desses agrotóxi-
cos começou a ser substituída por agrotóxicos
inibidores da acetilcolinesterase. Com essa evo-
lução científica, os agrotóxicos organoclorados
que até então cumpriam um papel fundamen-
tal no controle de pragas, foram gradativamen-
te substituídos por agrotóxicos organofosfora-
dos e carbamatos 2,3.
Este modelo de produção agrícola, baseado
na utilização de agrotóxicos para aumento da
produtividade rural, foi capaz de atender as
crescentes necessidades alimentares da popu-
lação. Porém, só recentemente, houve a forma-
ção de uma consciência cientifica sobre as pos-
síveis conseqüências do uso indiscriminado de
agrotóxicos na agricultura. Com isso, levantou-
se a hipótese de que a utilização de agrotóxi-
cos, em certos casos, poderia gerar impactos à
saúde humana e ao meio ambiente, maiores do
que os benefícios associados aos seus ganhos
de produtividade 1.
Originalmente, os agrotóxicos eram estáti-
cos, possuíam baixa solubilidade e tinham um
forte poder de adesão ao solo. Com a evolução
tecnológica, os agrotóxicos passaram a ser mais
solúveis em água, possuir baixa capacidade de
adesão e ser mais voláteis. Essas inovações tec-
nológicas que eram baseadas na manipulação
de compostos químicos criaram agrotóxicos
cada vez mais tóxicos, persistentes e eficientes
para combater as pragas.
Conseqüentemente, estas alterações tecno-
lógicas nas características químicas dos agro-
tóxicos também aumentaram e prolongaram
ainda mais o potencial nocivo dos agrotóxicos
de causar danos à saúde humana e ao meio am-
biente. Por isso, existiria uma crescente preo-
cupação dos profissionais de saúde pública
com a contaminação dos sistemas hídricos por
agrotóxicos, principalmente devido ao aumen-
to do uso dos agrotóxicos nos últimos anos.
No Brasil, o consumo de agrotóxicos tem si-
do crescente e já está relacionado entre os paí-
ses de maior consumo no mundo. O aumento
na venda de agrotóxicos no Brasil entre os anos
de 1991 e 1998 foi da ordem de 160%. No setor
agrícola, cerca de 12 milhões de trabalhadores
rurais seriam expostos diariamente aos agrotó-
xicos. Na maioria das vezes, este trabalhador
ignora as práticas adequadas sobre o manejo e
uso destas substâncias químicas tornando-se o
principal alvo dos seus efeitos adversos 4.
Além do mais, essas inovações tecnológicas
nem sempre foram acompanhadas de estudos
científicos sobre seus efeitos adversos sobre o
meio ambiente e a saúde humana. Por isso, po-
der-se-ia afirmar que ainda não haveria funda-
mentação científica que sustentasse níveis se-
guros da presença de agrotóxicos no meio am-
biente e no corpo humano.
Reconhecendo os efeitos negativos de uma
potencial contaminação por agrotóxicos à saú-
de da população local, este estudo analisou a
possibilidade de contaminação por agrotóxi-
cos nos sistemas hídricos superficiais e subter-
râneos potencialmente utilizados para consu-
mo humano direto na região da cultura do to-
mate do Município de Paty do Alferes, Rio de
Janeiro, Brasil.
O Município de Paty do Alferes
O Município de Paty do Alferes é caracterizado
por pequenas propriedades rurais, sendo his-
toricamente o maior produtor de tomate do Es-
tado do Rio de Janeiro e o oitavo do Brasil. Ele
possui relevo acidentado, variando de terras
com altíssimo grau de suscetibilidade a terras
com ligeira suscetibilidade à erosão 5,6.
A cultura do tomate é uma das mais inten-
sivas na utilização de agrotóxicos. Uma parte
significativa da economia de Paty do Alferes ain-
da depende dos repasses orçamentários cons-
titucionais e de atividades intensivas em agro-
tóxicos.
A grande maioria dos trabalhadores rurais
no Município de Paty do Alferes tem baixa ins-
trução, o que indica uma inabilitação para o
desempenho da função, uma vez que a leitura
do rótulo e o entendimento dos procedimen-
tos de preparação e aplicação seriam condi-
ções indispensáveis para o manejo e aplicação
dos agrotóxicos 5.
O município não dispõe de hospitais con-
veniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), so-
mente possui unidades ambulatoriais. Os pro-
fissionais de saúde da região não foram treina-
dos para identificar, diagnosticar e tratar possí-
veis casos de intoxicação por agrotóxicos. Ape-
sar da comunicação de casos de intoxicação
por agrotóxicos ser obrigatória, não existem
casos de intoxicação reportados na base de da-
dos da Secretária Municipal de Saúde nos últi-
mos cinco anos.
Em Paty do Alferes, grande parte da popu-
lação seria de classe sócio-econômica baixa e
não contando com rede de abastecimento de
água tratada. Por isso, se utilizaria dos sistemas
hídricos in natura como única fonte de água
para consumo direto. Em 1991, uma pesquisa
do IBGE revelou que mais 80% dos quase cinco
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
mil domicílios do município não possuíam in-
fra-estrutura adequada 5.
Desta forma, os efeitos negativos da conta-
minação por agrotóxicos à saúde humana se-
riam potencializados pela falta de infra-estru-
tura e de condições sócio-econômicas da po-
pulação exposta à contaminação.
Agrotóxicos e a possibilidade de
contaminação dos sistemas hídricos
Um dos recursos mais utilizados pelos agricul-
tores para elevar a produtividade agrícola seria
o uso de agrotóxicos. Agrotóxicos quando apli-
cados podem contaminar o solo e os sistemas
hídricos, culminando numa degradação am-
biental que teria como conseqüência prejuízos
à saúde e alterações significativas nos ecossis-
temas.
Os agrotóxicos são desenvolvidos visando
potencializar suas características químicas de
tal forma que sejam tóxicos a certos tipos de
insetos, animais, plantas ou fungos. Embora,
essa função letal dos agrotóxicos seja direcio-
nada, estes também podem causar danos fora
do seu alvo.
Com isso, os agrotóxicos que seriam com-
postos químicos desenvolvidos para maximi-
zar características biocidas naturais, seriam,
também, potencialmente danosos para todos
os organismos vivos. O conceito de agrotóxico
e afins na legislação brasileira está descrito, no
artigo 1o, inciso IV do Decreto n. 4.074 de 2002
que regulamenta a Lei n. 7.802 de 1989.
Atualmente, os agrotóxicos mais utilizados
na agricultura são os organofosforados e car-
bamatos, que possuem uma atividade insetici-
da muito eficiente, devido a sua característica
de inibidor da enzima acetilcolinesterase no
sistema nervoso, que tanto atua em insetos
quanto em mamíferos.
No Brasil, ainda não existem dados confiá-
veis que retratem a realidade das intoxicações
e mortes por agrotóxicos. A Organização Mun-
dial da Saúde (OMS) estima que ocorram cerca
de três milhões de intoxicações agudas por
agrotóxicos anualmente no mundo, provocan-
do um total aproximado de 220 mil mortes 7.
Até o final da década de 70, os sistemas hí-
dricos subterrâneos eram considerados imu-
nes à contaminação por agrotóxicos, pois se
acreditava que os agrotóxicos se degradariam
em partículas inofensivas ou ficariam retidos
no ambiente natural antes de contaminá-los.
Recentemente, com o uso intensivo de agro-
tóxicos e com o avanço das tecnologias analíti-
cas é que foi possível detectar-se a contamina-
ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2393
ção por agrotóxicos em sistemas hídricos. Com
isso, os cientistas descobriram que os agrotóxi-
cos, além de serem sorvidos pelo solo, poderiam
acabar contaminando os sistemas hídricos.
Entretanto, ainda existe muita dificuldade
de se avaliar a contaminação ambiental por
agrotóxicos, principalmente em se tratando de
organofosforados e carbamatos, que teriam
um ciclo de vida pequeno (degradabilidade)
quando comparado com organoclorados 8,9,10.
Assim, o uso de agrotóxicos e seus possíveis
efeitos à saúde humana e ambiental tornaram-
se uma grande preocupação à comunidade cien-
tifica, principalmente quando o recurso hídri-
co potencialmente contaminado seria utiliza-
do para consumo humano 11.
Entretanto, já foi comprovado através de di-
versos estudos 6,12,13,14,15 que a presença de agro-
tóxicos nos sistemas hídricos seria mais co-
mum do que se imaginava, principalmente nos
sistemas hídricos próximos de regiões agríco-
las intensivas na utilização de agrotóxicos.
A cultura do tomate no Município de Paty
do Alferes, esquematizada na Figura 1, é plan-
tada estaqueada e utilizando-se encostas bas-
tante inclinadas. As características geomorfo-
lógicas da região quando associadas a um solo
pobre e intemperizado favorecem a contami-
nação dos sistemas hídricos. A elevação da de-
clividade favorece o processo de deflúvio su-
perficial, enquanto a erosão do solo e a falta de
cobertura vegetal favorecem o processo de lixi-
viação dos agrotóxicos.
Quando o terreno não conta com cobertura
vegetal ou quando a plantação está nas fases
iniciais de crescimento, existe uma maior pro-
babilidade de contaminação dos sistemas hí-
dricos subterrâneos. Por outro lado, a planta-
ção mais desenvolvida conseguiria reter parte
desta contaminação. Além disso, o deflúvio su-
perficial e o transporte de agrotóxicos pelo ar
atmosférico seriam possíveis fontes de conta-
minação dos sistemas hídricos superficiais 10.
Outro aspecto importante no sentido de
avaliar os efeitos adversos dos agrotóxicos diz
respeito aos riscos de exposição. Principal-
mente em se tratando de pequenas proprieda-
des rurais, é comum verificar uma proximida-
de inadequada das culturas agrícolas, com re-
sidências e animais domésticos. Como retrata-
do na Figura 1, é provável que pequenas cultu-
ras intensivas na utilização de agrotóxicos es-
tejam próximas das residências de seus pro-
prietários, aumentando o risco de exposição.
Devido à intercomunicabilidade dos siste-
mas hídricos, qualquer contaminação em um
determinado sistema hídrico poderia resultar
em uma contaminação distante das áreas em
Veiga MM et al.2394
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
que foram originalmente aplicados. Por isso, a
contaminação de um sistema hídrico não re-
presenta só a contaminação da água consumi-
da pela população local, mas também a conta-
minação de toda a população abastecida por
esta água contaminada 16.
De acordo com informações obtidas no co-
mércio de Paty do Alferes, os agrotóxicos mais
utilizados na região seriam: os inseticidas or-
ganofosforados e carbomatos, alguns piretroi-
des, agentes biológicos, agentes fisiológicos e
os fungicidas.
Os efeitos adversos dos agrotóxicos à saú-
de dependem das características químicas, da
quantidade de agrotóxicos absorvidos ou inge-
ridos, do tempo de exposição aos agrotóxicos e
das condições gerais de saúde da pessoa con-
taminada. Assim, por atuarem sobre processos
vitais, eles têm grande parte de seus efeitos ne-
gativos sobre a constituição física e a saúde do
ser humano.
Por isso, seria importante tentar minimizar
a probabilidade desses produtos tóxicos conta-
minarem os sistemas hídricos. Principalmente,
em pequenas comunidades rurais onde os efei-
tos negativos dessa contaminação ainda pode-
riam ser potencializados. Por isso, poder-se-ia
afirmar que existiria uma relação natural entre
a produtividade agrícola, a degradação ambien-
tal, o uso de agrotóxicos e os danos à saúde hu-
mana 17.
Estabeleceu-se na União Européia o valor
de 0,1µg/L como concentração máxima permi-
tida de qualquer agrotóxico em águas destina-
das ao consumo humano independente de sua
toxicidade. O USEPA (United States Environ-
mental Protection Agency) e a OMS estabele-
ceram níveis máximos individualizados por
agrotóxico baseados em estudos toxicológicos
e epidemiológicos. No Brasil, a legislação esta-
beleceu limites máximos dos contaminantes
em águas dependendo do seu destino 13.
Metodologia
O objetivo deste estudo foi analisar a possível
contaminação por agrotóxicos (organofosfora-
dos e carbamatos) nos sistemas hídricos super-
ficiais e subterrâneos potencialmente utilizados
para consumo humano direto na região da cul-
tura do tomate do Município de Paty do Alferes.
O Município de Paty do Alferes foi selecio-
nado por se tratar de uma região do Estado do
Figura 1
Efeitos previsíveis dos agrotóxicos.
Falta de cobertura vegetal
Fatores de risco à saúde humana
Decomposição química
Degradação biológica
Erosão do solo
ADSORÇÃO
Água subterrânea
Água subterrâneaÁgua superficial
Lixiviação
Capilaridade
VolatilizaçãoFoto-decom
posição
Precipitação
pluviom
étrica
Radiação
solar e
lum
inosidade
Plantação
do
tom
ate
Deflúvio
superficial
ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2395
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
Rio de Janeiro, com grande parte da população
em área rural, com precárias condições sócio-
econômicas, com solos bastante degradados,
com relevo acidentado e dependente de ativi-
dades intensivas em agrotóxicos. A cultura do
tomate foi selecionada por se tratar de uma
produção agrícola das mais intensivas na utili-
zação de agrotóxicos, e que nas condições exis-
tentes em Paty do Alferes só se viabilizaria atra-
vés do uso de agrotóxicos. Na região estudada
existem outras culturas, mas a predominância
era da cultura do tomate.
Selecionaram-se 27 pontos de coleta, sen-
do vinte em sistemas hídricos superficiais e se-
te em sistemas hídricos subterrâneos, todos
em localidades que não fossem atendidas por
rede de abastecimento de água tratada, o que
tornava esses sistemas hídricos potenciais fon-
tes de água para consumo humano direto.
Neste estudo, financiado dentro do Progra-
ma de Pesquisa Estratégica da Fundação Os-
waldo Cruz, coletou-se um total de 135 amos-
tras para análise, correspondendo a uma cole-
ta mensal durante cinco meses de baixa inten-
sidade pluviométrica no período de março a
setembro de 2004, em cada um dos 27 pontos
previamente selecionados.
O Município de Paty do Alferes conta com
cinco microbacias, porém nem todas possuem
cultura ativa de tomate. Por isso, este estudo
procurou identificar os locais onde a contami-
nação fosse mais provável. Portanto, na sele-
ção de pontos de coleta procurou-se abranger
todas as cinco microbacias, mas, privilegiando
as localidades onde a cultura de tomate esti-
vesse ativa.
Alguns outros aspectos foram determinan-
tes no critério de seleção dos pontos de coleta:
outros pontos pré-selecionados foram excluí-
dos, pois estavam dentro de propriedades pri-
vadas e não se obteve permissão para acesso,
ou encontravam-se em localidades de difícil
acesso; tentou-se privilegiar localidades com
culturas ativas de tomates; e a distância e o pés-
simo estado das vias rodoviárias entre os pon-
tos pré-selecionados foram outros fatores limi-
tantes para o número e a localização dos pontos.
Normalmente, as maiores contaminações
por agrotóxicos nos sistemas hídricos são iden-
tificadas após períodos chuvosos. Visando ma-
ximizar a probabilidade de detecção dos agro-
tóxicos e pelo fato de as coletas neste estudo
não poderem ser feitas no período mais chuvo-
so, procurou-se fazer as coletas após alguma
precipitação pluviométrica. Por isso, não hou-
ve coletas de amostras nos meses de junho e
agosto, porque quase não apresentaram preci-
pitação pluviométrica.
As coletas de amostras de águas em siste-
mas hídricos subterrâneos foram feitas somen-
te em poços preexistentes. As profundidades
destes poços não foram aferidas, muito embo-
ra se soubesse tratar de poços de pouca profun-
didade (menor do que 30m), o que indicaria
possibilidade de contaminação. Poços mais pro-
fundos seriam dificilmente contaminados por
organofosforados e carbamatos.
A retirada (coleta) de água dos sistemas hí-
dricos subterrâneos se deu da mesma forma
que esta água seria utilizada para consumo, ou
seja, depois de ligada à bomba, deixava-se va-
zar água na mangueira por pelo menos um mi-
nuto e só então era feita a coleta em um frasco
plástico, evitando o contato deste com objetos
ao redor.
A coleta em sistemas hídricos superficiais
foi feita com seqüência e locais previamente
determinados. Nestas coletas tentou-se evitar a
presença de sólidos em suspensão, que preju-
dicariam as análises. Por isso, procurou-se co-
letar amostras em regiões do sistema hídrico
superficial que tivessem maior profundidade.
Todas as coletas (sistemas hídricos superfi-
ciais e subterrâneos) foram feitas com frascos
plásticos previamente lavados, que foram no-
vamente lavados (rinsados) no momento da
coleta com a água que seria coletada, visando,
assim, minimizar contaminação por fontes ex-
ternas.
Após todas as coletas, as amostras eram ar-
mazenadas em bolsas térmicas contendo gelo
químico, sendo que ao final do dia eram trans-
feridas para um freezer. Essas amostras eram,
então, transportadas congeladas, nas mesmas
bolsas térmicas contendo gelo químico, na ma-
nhã seguinte para o laboratório onde seriam
analisadas.
Método analítico
Para a determinação do teor de contaminação
por agrotóxicos (organofosforados e carbama-
tos) nos sistemas hídricos realizou-se um con-
vênio com o Laboratório de Toxicologia Enzi-
mática (Enzitox), Departamento de Biologia Ce-
lular e Genética, Instituto de Biologia, Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro.
O Enzitox desenvolveu uma metodologia
para água e alimentos baseada em preparações
da enzima acetilcolinestarase capazes de ativar
os tionofosforados, possibilitando o monitora-
mento de todos os organofosforados e carba-
matos 18.
O método analítico desenvolvido pelo En-
zitox utiliza duas formas de extração para amos-
tras de água: o método do acetato de etila-sul-
Veiga MM et al.2396
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
fato de sódio, para extração de organofosfora-
dos e carbamatos polares; e o método do diclo-
rometano, para maioria dos organofosforados
e carbamatos, excetos os que são muito polares.
A dosagem enzimática é realizada através
da adição da preparação enzimática aos extra-
tos da incubação durante 120 minutos a 37ºC,
da adição do reagente iônico Triton X-100, da
adição do reagente de cor ditionitrobenzoato
(DTNB) e da medida do acréscimo de absorbân-
cia a cada minuto.
Comparando-se a média do extrato de água
destilada (controle que corresponde a 100% de
atividade enzimática) determina-se a percen-
tagem de inibição da enzima em cada amostra.
Tendo em conta a curva padrão de Metil Para-
tion, que relaciona a porcentagem de inibição
à concentração de Metil Paration, interpolam-
se os resultados de porcentagem de inibição na
curva padrão e expressam-se os resultados em
partes por bilhão (ppb) equivalentes em Metil
Paration.
Portanto, um dos indicativos de contami-
nação de sistemas hídricos por organofosfora-
dos e carbamatos seria, então, determinado pe-
la atividade da enzima acetilcolinesterase, de
forma a avaliar a porcentagem de inibição des-
ta, conforme estabelecido na Portaria n. 518/04
do Ministério da Saúde 19 que estabelece os va-
lores máximos das substâncias químicas que
representam risco para a saúde. O método ana-
lítico utilizado não permite segregar as even-
tuais contaminações por princípio ativo dos
agrotóxicos, sendo uma medida agregada da
presença de carbamatos e organofosforados.
Para efeito deste estudo, adotaram-se os pa-
râmetros da legislação brasileira, onde o valor
máximo permitido de contaminação é de 20%
de inibição da enzima colinesterase de mamí-
feros, que corresponde a 10µg/L em equivalen-
tes em Metil Paration.
Apresentação e análise dos resultados
Uma informação importante, para determinar
se a amostra estaria ou não contaminada, é o
limite de detecção do método utilizado para
análise, que neste caso é de 10% ou 5µg/L. As-
sim, resultados acima do limite de detecção po-
dem ser considerados contaminados (conta-
minação detectável) muito embora estes valo-
res ainda possam estar dentro da faixa permiti-
da pela legislação.
A Tabela 1 apresenta um consolidado dos
resultados encontrados, onde se pode verificar
que nos meses de abril, maio, julho e setembro
não houve valores acima do permitido pela le-
gislação (máximo de 10µg/L em equivalente de
Metil Paration). Contudo, em dois desses me-
ses (maio, com quatro amostras; e setembro,
com 11 amostras), houve contaminação detec-
tável, ou seja, acima do limite de detecção do
método, embora abaixo do permitido na legis-
lação.
As células sombreadas mais claras mostra-
das na Tabela 1 indicam que os valores encon-
trados ultrapassaram o limite de detecção do
método indicando uma contaminação, mas,
estão dentro do limite permitido pela norma.
As células sombreadas mais escuras (dois ca-
sos) indicam que estas amostras ultrapassa-
ram, além do limite de detecção, o valor permi-
tido pela legislação vigente.
Os sete pontos de coleta que correspondem
aos sistemas hídricos subterrâneos estão indi-
cados na Tabela 1 pelos números: 3; 8; 9; 12; 13;
22; e 27. Não houve tentativa de estratificar a
análise dos resultados por tipo de sistema hí-
drico, uma vez que os sistemas hídricos são in-
tercomunicáveis; os poços onde foram coleta-
das as amostras não são profundos; e o núme-
ro de pontos de coleta (27) é relativamente pe-
queno.
Para o período analisado, o mês de março
foi o que apresentou maior precipitação plu-
viométrica, e foi o único mês que apresentou
duas amostras com contaminação acima do
permitido pela legislação e ainda apresentou
outras nove amostras com contaminação de-
tectável, porém dentro dos valores permitidos
pela legislação.
Nestas 135 coletas não houve tentativa de
vínculo com a efetiva aplicação de agrotóxico
por algum agricultor. Porém, sabe-se que os or-
ganofosforados e carbamatos em sistemas hí-
dricos se degradam rapidamente, tornando bas-
tante difícil a sua detecção depois de decorrido
um determinado espaço de tempo.
Por isso, este tipo de contaminação ambien-
tal por carbamatos e organofosforados poderia
ser caracterizado como diluída, sazonal e de-
gradável. Uma contaminação que fosse grande
em um dado momento tenderia a concentra-
ções decrescentes dos contaminantes com o
passar do tempo, dependendo das condições
climáticas, grau de degradabilidade do agrotó-
xico e do volume de água no sistema hídrico.
Portanto, para os meses analisados, dos 27
pontos de coleta selecionados, apenas em oito
pontos – dois em sistemas hídricos subterrâ-
neos e seis em sistemas hídricos superficiais –,
não foram encontrados contaminação detectá-
vel pelo método utilizado. Em duas ocasiões,
essas contaminações ultrapassaram, inclusive,
o permitido pela legislação.
ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2397
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
Levando-se em conta, que o período anali-
sado não correspondeu ao período de maior
probabilidade de ocorrência de contaminação
dos sistemas hídricos por agrotóxicos, os valo-
res encontrados foram bastante significativos.
Os resultados indicam que em 70% dos pontos
analisados foi encontrada contaminação de-
tectável nos meses “secos”.
Nos períodos chuvosos, espera-se um au-
mento das pragas com um conseqüente aumen-
to da aplicação de agrotóxicos. Os agricultores,
ainda, aplicariam uma nova quantidade de agro-
tóxico a cada chuva mais intensa, o que signifi-
ca que haveria de uma forma geral, uma maior
quantidade relativa de agrotóxicos utilizados,
sendo que grande parte destes agrotóxicos po-
deria ser carreada pela ação da chuva. Porém,
devido ao aumento do risco de pragas e conse-
qüente queda de produtividade, existe um nú-
mero menor de culturas ativas.
Deste modo, uma forma de aumentar a pro-
babilidade de detectar contaminação nos sis-
temas hídricos seria coletar as amostras no pe-
ríodo em que a aplicação de agrotóxicos coin-
cidisse com o período de chuvas mais intensas
na região (novembro a fevereiro). Este estudo
sugere que futuros estudos analisem a conta-
minação dos sistemas hídricos por agrotóxicos
durante o período chuvoso. Além disso, uma
outra sugestão de estudo seria tentar coorde-
nar as coletas de amostras com a efetiva apli-
cação de agrotóxicos por algum agricultor, o
que não foi possível, devido ao cronograma res-
trito de financiamento do estudo.
Uma importante consideração é a existên-
cia de outras culturas agrícolas na região que
também utilizam agrotóxicos (carbamatos e
organofosforados) no seu processo produtivo.
Além disso, muitos dos agrotóxicos comerciali-
zados na região são aprovados e utilizados pa-
ra mais de um tipo de cultura. Desta forma, não
se pôde vincular contaminação a alguma fonte
produtiva específica, que no caso deste estudo
seria a cultura do tomate.
Porém, a cultura do tomate é uma das mais
intensivas em agrotóxicos, corresponde a maior
parte da produção rural de Paty do Alferes e os
pontos de coleta foram escolhidos de forma a
se encontrarem próximos de culturas ativas do
tomate. Por isso, no caso específico deste estu-
do, não seria totalmente incorreto inferir que a
fonte de contaminação, principal ou talvez to-
tal, dos agrotóxicos nos sistemas hídricos fosse
a cultura do tomate.
Todavia, o objetivo deste estudo foi eviden-
ciar, de uma forma geral, a possibilidade de con-
taminação por carbamatos e organofosforados
nos sistemas hídricos em regiões próximas de
culturas onde a utilização de agrotóxicos fosse
intensa e não tentar vincular especificamente
a uma determinada cultura, que no caso deste
estudo seria a cultura do tomate.
Logo, a principal contribuição deste estudo
foi a comprovação pelos resultados apresenta-
dos, da existência de contaminação por orga-
nofosforados e carbamatos nos sistemas hídri-
cos superficiais e subterrâneos utilizados para
consumo humano direto na região da cultura
do tomate no Município de Paty do Alferes.
Conclusões e considerações finais
O modelo de produção agrícola baseado na uti-
lização de agrotóxicos para aumento da produ-
Tabela 1
Contaminação dos sistemas hídricos por organofosforados e carbamatos.
Microbacias Pontos Organofosforados e carbamatos totais
de coleta de inibição da acetilcolinesterase (%)
Março Abril Maio Julho Setembro
Bela Vista 1 5 0 13 2 10
2 4 3 0 3 7
3 9 0 4 0 9
4 8 0 4 0 11
5 6 3 9 0 10
6 8 0 2 0 7
7 2 0 4 0 5
8 3 7 0 0 11
9 0 6 16 0 10
10 14 0 7 3 2
Rio Fagundes 11 13 0 1 5 13
12 7 2 0 3 6
13 22 0 0 0 7
14 8 0 0 0 11
15 10 0 15 0 13
16 11 3 9 7 10
17 0 1 0 0 0
18 11 0 0 0 1
19 17 0 0 4 4
Córrego do Sertão 20 9 5 7 0 5
Ribeirão do 21 4 5 5 0 8
Secretário 22 1 6 7 0 12
23 12 0 13 0 6
Córrego da 24 35 0 8 0 2
Cachoeira 25 11 9 7 0 9
26 16 9 4 4 4
27 7 9 0 0 11
Nota: as células com sombreamento claro indicam que os valores encontrados
ultrapassaram o limite de detecção do método indicando uma contaminação,
mas, estão dentro do limite permitido pela norma; as células com sombreamento
escuras (dois casos) indicam que estas amostras ultrapassaram, além do limite de
detecção, o valor permitido pela legislação vigente.
Veiga MM et al.2398
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
tividade agrícola teria como resultado uma sé-
rie de conseqüências adversas à saúde humana
e ao meio ambiente, que muitas vezes pode-
riam ultrapassar as vantagens associadas a seu
ganho de produtividade.
A hipótese central deste estudo foi que uma
parte dos agrotóxicos aplicados na agricultura
não seria completamente retida pelas plantas,
sorvida pelo solo ou teriam suas moléculas de-
compostas pelo sol, por microorganismos exis-
tentes no solo ou através de reações químicas,
podendo contaminar os sistemas hídricos.
Os resultados apresentados neste estudo
mostraram que 70% dos pontos de coleta sele-
cionados apresentaram contaminação detec-
tável, o que validou a hipótese de que os agro-
tóxicos quando aplicados na agricultura po-
dem contaminar os sistemas hídricos superfi-
ciais e subterrâneos.
Por esses resultados, ficou comprovada a
contaminação por agrotóxicos nos sistemas hí-
dricos superficiais e subterrâneos potencial-
mente utilizados para consumo humano direto
na região da cultura do tomate no Município
de Paty do Alferes.
Contudo, alguns efeitos negativos dessa
contaminação dos sistemas hídricos por agro-
tóxicos seriam potencializados em municípios
com condições semelhantes a Paty do Alferes,
onde grande parte da população rural local não
conta com rede de abastecimento regular de
água; com infra-estrutura adequada; com con-
dições sócio-econômicas favoráveis; e ainda,
possui um sistema de saúde deficiente.
Algumas das possíveis soluções visando re-
duzir essa possibilidade de contaminação dos
sistemas hídricos seriam: proteção das fontes
de água subterrâneas e superficiais; gestão e
manuseio dos agrotóxicos em áreas de produ-
ção rural; regulação estatal; educação ambien-
tal; e adoção de práticas que minimizem os da-
nos ao meio ambiente e a saúde humana.
No entanto, qualquer proposta de interven-
ção deveria passar por programas de educação
visando à mudança de comportamento do tra-
balhador rural com relação ao manejo e utiliza-
ção do agrotóxico. Para isso, seria necessário
que qualquer ação seja planejada de forma par-
ticipativa, envolvendo de forma sinérgica a co-
munidade e o poder público local em todo o
processo decisório.
Além disso, dever-se-ia incentivar a adoção
mais responsável das novas tecnologias de agro-
tóxicos, ou seja, o desenvolvimento de agrotó-
xicos deveria ser acompanhado pela evolução
do conhecimento dos mecanismos de atuação
desses agrotóxicos no meio ambiente e na saú-
de humana.
Dever-se-ia, ainda, estimular práticas mais
sustentáveis de gestão do uso e do descarte dos
agrotóxicos, o que contribuiria, inclusive, para
mitigar possíveis efeitos negativos da presença
desses agrotóxicos no meio ambiente e no cor-
po humano.
Resumo
Só recentemente, com a evolução das técnicas analíti-
cas foi possível a detecção de contaminação por agro-
tóxicos nos sistemas hídricos. Em pequenas comuni-
dades rurais, os efeitos negativos à saúde pública de
uma contaminação dos sistemas hídricos seriam agra-
vados pela falta de infra-estrutura e de condições só-
cio-econômicas. O objetivo deste estudo foi analisar
essa possível contaminação por agrotóxicos nos siste-
mas hídricos superficiais e subterrâneos utilizados pa-
ra consumo humano direto na região da cultura do to-
mate no Município de Paty do Alferes, Rio de Janeiro,
Brasil. Para isso, este estudo selecionou 27 pontos de
coleta, onde foram feitas cinco coletas mensais, perfa-
zendo um total de 135 amostras. A contaminação de
sistemas hídricos por organofosforados e carbamatos
foi determinada pela análise da inibição da atividade
da enzima acetilcolinesterase. O resultado encontrado
foi que em 19 dos 27 pontos selecionados houve conta-
minação detectável, sendo que em duas ocasiões essas
contaminações ultrapassaram o permitido pela legis-
lação. Com isso, comprovou-se a contaminação dos
sistemas hídricos na região de Paty do Alferes, o que
colocaria a saúde da população local em risco.
Compostos Organofosforados; Carbamatos; Praguici-
das; Poluentes da Água; Contaminação
ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2399
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006
Colaboradores
Todos os autores fizeram parte da equipe que atuou
no projeto financiado pelo programa de pesquisa es-
tratégica da Fundação Oswaldo Cruz, que deu origem
a este artigo. M. M. Veiga coordenou o projeto, foi res-
ponsável pela redação do artigo e colaborou em to-
das as partes do artigo (referencial teórico, metodo-
logia, discussão e análise dos resultados). D. M. Silva
contribuiu na metodologia, análises químicas e dis-
cussão dos resultados; atuando também, como revi-
sor do texto. L. B. E. Veiga colaborou no referencial
teórico (impactos à saúde humana e ao meio ambien-
te) e na metodologia. M. V. C. Faria participou na me-
todologia, discussão e análise dos resultados e coor-
denou as análises químicas.
Referências
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gilância da qualidade da água para consumo hu-
mano e seu padrão de potabilidade, e dá outras
providências. Diário Oficial da União 2004; 26 mar.
Recebido em 11/Jul/2005
Versão final reapresentada em 08/Fev/2006
Aprovado em 14/Fev/2006

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Agrotoxicos

  • 1. See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/6706446 Pesticide pollution in water systems in a small rural community in Southeast Brazil Article in Cadernos de Saúde Pública · December 2006 Impact Factor: 0.98 · Source: PubMed CITATIONS 19 READS 792 4 authors, including: Marcondes Silva Universidade Federal do Piauí 4 PUBLICATIONS 47 CITATIONS SEE PROFILE Lilian Bechara Elabras Veiga Federal Institute of Education, Science ans … 12 PUBLICATIONS 117 CITATIONS SEE PROFILE Mauro Velho de Castro Faria Medical School (Faculty of Medical Sciences) 38 PUBLICATIONS 455 CITATIONS SEE PROFILE All in-text references underlined in blue are linked to publications on ResearchGate, letting you access and read them immediately. Available from: Mauro Velho de Castro Faria Retrieved on: 30 May 2016
  • 2. 2391 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 ARTIGO ARTICLE Análise da contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos numa pequena comunidade rural do Sudeste do Brasil Pesticide pollution in water systems in a small rural community in Southeast Brazil 1 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Coordenação de Programas de Pós-graduação em Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 3 Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. Correspondência M. M. Veiga Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480, 5o andar, Rio de Janeiro, RJ 21041-210, Brasil. mveiga@ensp.fiocruz.br Marcelo Motta Veiga 1 Dalton Marcondes Silva 1 Lilian Bechara Elabras Veiga 2 Mauro Velho de Castro Faria 3 Abstract Recent advances in analytical techniques allow identifying pesticide pollution in water systems. In small rural communities, the negative effects of pesticide pollution can be aggravated by the lack of infrastructure and adverse socioeconom- ic conditions. This study investigated pesticide pollution in potential water supply sources in a tomato growing area in Paty do Alferes, Rio de Janeiro State, Brazil. The study selected 27 points where five monthly samples were collected. Pes- ticide pollution was determined by analyzing acetyl-cholinesterase inhibition. In 19 of the 27 sample points, some pesticide pollution was de- tected, and in two points the pesticide pollution was above the permitted limits. The results thus proved the incidence of pesticide pollution in water sources in Paty do Alferes that could jeop- ardize the local population’s health. Organosphosphorus Compounds; Carbamates; Pesticides; Water Pollutants; Contamination Introdução Há muito tempo já se utilizavam químicos no controle de pragas da agricultura, no intuito de aumentar a produtividade agrícola. No início, utilizava-se apenas um pequeno número de compostos inorgânicos, principalmente basea- dos em formulações envolvendo os elementos químicos cobre e arsênio. A partir da Segunda Guerra Mundial, visan- do aumentar a provisão de alimentos para aten- der uma explosão demográfica mundial que vi- nha se desenhando, houve necessidade de se buscar produtos mais eficientes. Após um len- to desenvolvimento tecnológico, houve a intro- dução dos primeiros produtos orgânicos com a finalidade de agir como agrotóxicos, destacan- do-se a ação inseticida do dicloro-difenil-tri- cloroetano (DDT). Este episódio deu uma nova importância aos agrotóxicos à base de compostos orgânicos no que se referia à saúde pública, tanto no au- mento da produtividade agrícola quanto no controle de vetores de doenças. Porém, da mes- ma forma que algumas características quími- cas, como a persistência, eram acrescidas à fun- ção biocida dos agrotóxicos organoclorados, resultando num fator positivo para a agricultu- ra, pois um mesmo agrotóxico eliminaria mais pragas por um período maior de tempo, tam- bém representavam maiores riscos à saúde hu- mana e ao meio ambiente 1.
  • 3. Veiga MM et al.2392 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 Só mais tarde, quando a comunidade cien- tífica passou a conhecer melhor os mecanis- mos de atuação dos agrotóxicos organoclora- dos no meio ambiente e seus efeitos à saúde humana, foi que a utilização desses agrotóxi- cos começou a ser substituída por agrotóxicos inibidores da acetilcolinesterase. Com essa evo- lução científica, os agrotóxicos organoclorados que até então cumpriam um papel fundamen- tal no controle de pragas, foram gradativamen- te substituídos por agrotóxicos organofosfora- dos e carbamatos 2,3. Este modelo de produção agrícola, baseado na utilização de agrotóxicos para aumento da produtividade rural, foi capaz de atender as crescentes necessidades alimentares da popu- lação. Porém, só recentemente, houve a forma- ção de uma consciência cientifica sobre as pos- síveis conseqüências do uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura. Com isso, levantou- se a hipótese de que a utilização de agrotóxi- cos, em certos casos, poderia gerar impactos à saúde humana e ao meio ambiente, maiores do que os benefícios associados aos seus ganhos de produtividade 1. Originalmente, os agrotóxicos eram estáti- cos, possuíam baixa solubilidade e tinham um forte poder de adesão ao solo. Com a evolução tecnológica, os agrotóxicos passaram a ser mais solúveis em água, possuir baixa capacidade de adesão e ser mais voláteis. Essas inovações tec- nológicas que eram baseadas na manipulação de compostos químicos criaram agrotóxicos cada vez mais tóxicos, persistentes e eficientes para combater as pragas. Conseqüentemente, estas alterações tecno- lógicas nas características químicas dos agro- tóxicos também aumentaram e prolongaram ainda mais o potencial nocivo dos agrotóxicos de causar danos à saúde humana e ao meio am- biente. Por isso, existiria uma crescente preo- cupação dos profissionais de saúde pública com a contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos, principalmente devido ao aumen- to do uso dos agrotóxicos nos últimos anos. No Brasil, o consumo de agrotóxicos tem si- do crescente e já está relacionado entre os paí- ses de maior consumo no mundo. O aumento na venda de agrotóxicos no Brasil entre os anos de 1991 e 1998 foi da ordem de 160%. No setor agrícola, cerca de 12 milhões de trabalhadores rurais seriam expostos diariamente aos agrotó- xicos. Na maioria das vezes, este trabalhador ignora as práticas adequadas sobre o manejo e uso destas substâncias químicas tornando-se o principal alvo dos seus efeitos adversos 4. Além do mais, essas inovações tecnológicas nem sempre foram acompanhadas de estudos científicos sobre seus efeitos adversos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Por isso, po- der-se-ia afirmar que ainda não haveria funda- mentação científica que sustentasse níveis se- guros da presença de agrotóxicos no meio am- biente e no corpo humano. Reconhecendo os efeitos negativos de uma potencial contaminação por agrotóxicos à saú- de da população local, este estudo analisou a possibilidade de contaminação por agrotóxi- cos nos sistemas hídricos superficiais e subter- râneos potencialmente utilizados para consu- mo humano direto na região da cultura do to- mate do Município de Paty do Alferes, Rio de Janeiro, Brasil. O Município de Paty do Alferes O Município de Paty do Alferes é caracterizado por pequenas propriedades rurais, sendo his- toricamente o maior produtor de tomate do Es- tado do Rio de Janeiro e o oitavo do Brasil. Ele possui relevo acidentado, variando de terras com altíssimo grau de suscetibilidade a terras com ligeira suscetibilidade à erosão 5,6. A cultura do tomate é uma das mais inten- sivas na utilização de agrotóxicos. Uma parte significativa da economia de Paty do Alferes ain- da depende dos repasses orçamentários cons- titucionais e de atividades intensivas em agro- tóxicos. A grande maioria dos trabalhadores rurais no Município de Paty do Alferes tem baixa ins- trução, o que indica uma inabilitação para o desempenho da função, uma vez que a leitura do rótulo e o entendimento dos procedimen- tos de preparação e aplicação seriam condi- ções indispensáveis para o manejo e aplicação dos agrotóxicos 5. O município não dispõe de hospitais con- veniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), so- mente possui unidades ambulatoriais. Os pro- fissionais de saúde da região não foram treina- dos para identificar, diagnosticar e tratar possí- veis casos de intoxicação por agrotóxicos. Ape- sar da comunicação de casos de intoxicação por agrotóxicos ser obrigatória, não existem casos de intoxicação reportados na base de da- dos da Secretária Municipal de Saúde nos últi- mos cinco anos. Em Paty do Alferes, grande parte da popu- lação seria de classe sócio-econômica baixa e não contando com rede de abastecimento de água tratada. Por isso, se utilizaria dos sistemas hídricos in natura como única fonte de água para consumo direto. Em 1991, uma pesquisa do IBGE revelou que mais 80% dos quase cinco
  • 4. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 mil domicílios do município não possuíam in- fra-estrutura adequada 5. Desta forma, os efeitos negativos da conta- minação por agrotóxicos à saúde humana se- riam potencializados pela falta de infra-estru- tura e de condições sócio-econômicas da po- pulação exposta à contaminação. Agrotóxicos e a possibilidade de contaminação dos sistemas hídricos Um dos recursos mais utilizados pelos agricul- tores para elevar a produtividade agrícola seria o uso de agrotóxicos. Agrotóxicos quando apli- cados podem contaminar o solo e os sistemas hídricos, culminando numa degradação am- biental que teria como conseqüência prejuízos à saúde e alterações significativas nos ecossis- temas. Os agrotóxicos são desenvolvidos visando potencializar suas características químicas de tal forma que sejam tóxicos a certos tipos de insetos, animais, plantas ou fungos. Embora, essa função letal dos agrotóxicos seja direcio- nada, estes também podem causar danos fora do seu alvo. Com isso, os agrotóxicos que seriam com- postos químicos desenvolvidos para maximi- zar características biocidas naturais, seriam, também, potencialmente danosos para todos os organismos vivos. O conceito de agrotóxico e afins na legislação brasileira está descrito, no artigo 1o, inciso IV do Decreto n. 4.074 de 2002 que regulamenta a Lei n. 7.802 de 1989. Atualmente, os agrotóxicos mais utilizados na agricultura são os organofosforados e car- bamatos, que possuem uma atividade insetici- da muito eficiente, devido a sua característica de inibidor da enzima acetilcolinesterase no sistema nervoso, que tanto atua em insetos quanto em mamíferos. No Brasil, ainda não existem dados confiá- veis que retratem a realidade das intoxicações e mortes por agrotóxicos. A Organização Mun- dial da Saúde (OMS) estima que ocorram cerca de três milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos anualmente no mundo, provocan- do um total aproximado de 220 mil mortes 7. Até o final da década de 70, os sistemas hí- dricos subterrâneos eram considerados imu- nes à contaminação por agrotóxicos, pois se acreditava que os agrotóxicos se degradariam em partículas inofensivas ou ficariam retidos no ambiente natural antes de contaminá-los. Recentemente, com o uso intensivo de agro- tóxicos e com o avanço das tecnologias analíti- cas é que foi possível detectar-se a contamina- ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2393 ção por agrotóxicos em sistemas hídricos. Com isso, os cientistas descobriram que os agrotóxi- cos, além de serem sorvidos pelo solo, poderiam acabar contaminando os sistemas hídricos. Entretanto, ainda existe muita dificuldade de se avaliar a contaminação ambiental por agrotóxicos, principalmente em se tratando de organofosforados e carbamatos, que teriam um ciclo de vida pequeno (degradabilidade) quando comparado com organoclorados 8,9,10. Assim, o uso de agrotóxicos e seus possíveis efeitos à saúde humana e ambiental tornaram- se uma grande preocupação à comunidade cien- tifica, principalmente quando o recurso hídri- co potencialmente contaminado seria utiliza- do para consumo humano 11. Entretanto, já foi comprovado através de di- versos estudos 6,12,13,14,15 que a presença de agro- tóxicos nos sistemas hídricos seria mais co- mum do que se imaginava, principalmente nos sistemas hídricos próximos de regiões agríco- las intensivas na utilização de agrotóxicos. A cultura do tomate no Município de Paty do Alferes, esquematizada na Figura 1, é plan- tada estaqueada e utilizando-se encostas bas- tante inclinadas. As características geomorfo- lógicas da região quando associadas a um solo pobre e intemperizado favorecem a contami- nação dos sistemas hídricos. A elevação da de- clividade favorece o processo de deflúvio su- perficial, enquanto a erosão do solo e a falta de cobertura vegetal favorecem o processo de lixi- viação dos agrotóxicos. Quando o terreno não conta com cobertura vegetal ou quando a plantação está nas fases iniciais de crescimento, existe uma maior pro- babilidade de contaminação dos sistemas hí- dricos subterrâneos. Por outro lado, a planta- ção mais desenvolvida conseguiria reter parte desta contaminação. Além disso, o deflúvio su- perficial e o transporte de agrotóxicos pelo ar atmosférico seriam possíveis fontes de conta- minação dos sistemas hídricos superficiais 10. Outro aspecto importante no sentido de avaliar os efeitos adversos dos agrotóxicos diz respeito aos riscos de exposição. Principal- mente em se tratando de pequenas proprieda- des rurais, é comum verificar uma proximida- de inadequada das culturas agrícolas, com re- sidências e animais domésticos. Como retrata- do na Figura 1, é provável que pequenas cultu- ras intensivas na utilização de agrotóxicos es- tejam próximas das residências de seus pro- prietários, aumentando o risco de exposição. Devido à intercomunicabilidade dos siste- mas hídricos, qualquer contaminação em um determinado sistema hídrico poderia resultar em uma contaminação distante das áreas em
  • 5. Veiga MM et al.2394 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 que foram originalmente aplicados. Por isso, a contaminação de um sistema hídrico não re- presenta só a contaminação da água consumi- da pela população local, mas também a conta- minação de toda a população abastecida por esta água contaminada 16. De acordo com informações obtidas no co- mércio de Paty do Alferes, os agrotóxicos mais utilizados na região seriam: os inseticidas or- ganofosforados e carbomatos, alguns piretroi- des, agentes biológicos, agentes fisiológicos e os fungicidas. Os efeitos adversos dos agrotóxicos à saú- de dependem das características químicas, da quantidade de agrotóxicos absorvidos ou inge- ridos, do tempo de exposição aos agrotóxicos e das condições gerais de saúde da pessoa con- taminada. Assim, por atuarem sobre processos vitais, eles têm grande parte de seus efeitos ne- gativos sobre a constituição física e a saúde do ser humano. Por isso, seria importante tentar minimizar a probabilidade desses produtos tóxicos conta- minarem os sistemas hídricos. Principalmente, em pequenas comunidades rurais onde os efei- tos negativos dessa contaminação ainda pode- riam ser potencializados. Por isso, poder-se-ia afirmar que existiria uma relação natural entre a produtividade agrícola, a degradação ambien- tal, o uso de agrotóxicos e os danos à saúde hu- mana 17. Estabeleceu-se na União Européia o valor de 0,1µg/L como concentração máxima permi- tida de qualquer agrotóxico em águas destina- das ao consumo humano independente de sua toxicidade. O USEPA (United States Environ- mental Protection Agency) e a OMS estabele- ceram níveis máximos individualizados por agrotóxico baseados em estudos toxicológicos e epidemiológicos. No Brasil, a legislação esta- beleceu limites máximos dos contaminantes em águas dependendo do seu destino 13. Metodologia O objetivo deste estudo foi analisar a possível contaminação por agrotóxicos (organofosfora- dos e carbamatos) nos sistemas hídricos super- ficiais e subterrâneos potencialmente utilizados para consumo humano direto na região da cul- tura do tomate do Município de Paty do Alferes. O Município de Paty do Alferes foi selecio- nado por se tratar de uma região do Estado do Figura 1 Efeitos previsíveis dos agrotóxicos. Falta de cobertura vegetal Fatores de risco à saúde humana Decomposição química Degradação biológica Erosão do solo ADSORÇÃO Água subterrânea Água subterrâneaÁgua superficial Lixiviação Capilaridade VolatilizaçãoFoto-decom posição Precipitação pluviom étrica Radiação solar e lum inosidade Plantação do tom ate Deflúvio superficial
  • 6. ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2395 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 Rio de Janeiro, com grande parte da população em área rural, com precárias condições sócio- econômicas, com solos bastante degradados, com relevo acidentado e dependente de ativi- dades intensivas em agrotóxicos. A cultura do tomate foi selecionada por se tratar de uma produção agrícola das mais intensivas na utili- zação de agrotóxicos, e que nas condições exis- tentes em Paty do Alferes só se viabilizaria atra- vés do uso de agrotóxicos. Na região estudada existem outras culturas, mas a predominância era da cultura do tomate. Selecionaram-se 27 pontos de coleta, sen- do vinte em sistemas hídricos superficiais e se- te em sistemas hídricos subterrâneos, todos em localidades que não fossem atendidas por rede de abastecimento de água tratada, o que tornava esses sistemas hídricos potenciais fon- tes de água para consumo humano direto. Neste estudo, financiado dentro do Progra- ma de Pesquisa Estratégica da Fundação Os- waldo Cruz, coletou-se um total de 135 amos- tras para análise, correspondendo a uma cole- ta mensal durante cinco meses de baixa inten- sidade pluviométrica no período de março a setembro de 2004, em cada um dos 27 pontos previamente selecionados. O Município de Paty do Alferes conta com cinco microbacias, porém nem todas possuem cultura ativa de tomate. Por isso, este estudo procurou identificar os locais onde a contami- nação fosse mais provável. Portanto, na sele- ção de pontos de coleta procurou-se abranger todas as cinco microbacias, mas, privilegiando as localidades onde a cultura de tomate esti- vesse ativa. Alguns outros aspectos foram determinan- tes no critério de seleção dos pontos de coleta: outros pontos pré-selecionados foram excluí- dos, pois estavam dentro de propriedades pri- vadas e não se obteve permissão para acesso, ou encontravam-se em localidades de difícil acesso; tentou-se privilegiar localidades com culturas ativas de tomates; e a distância e o pés- simo estado das vias rodoviárias entre os pon- tos pré-selecionados foram outros fatores limi- tantes para o número e a localização dos pontos. Normalmente, as maiores contaminações por agrotóxicos nos sistemas hídricos são iden- tificadas após períodos chuvosos. Visando ma- ximizar a probabilidade de detecção dos agro- tóxicos e pelo fato de as coletas neste estudo não poderem ser feitas no período mais chuvo- so, procurou-se fazer as coletas após alguma precipitação pluviométrica. Por isso, não hou- ve coletas de amostras nos meses de junho e agosto, porque quase não apresentaram preci- pitação pluviométrica. As coletas de amostras de águas em siste- mas hídricos subterrâneos foram feitas somen- te em poços preexistentes. As profundidades destes poços não foram aferidas, muito embo- ra se soubesse tratar de poços de pouca profun- didade (menor do que 30m), o que indicaria possibilidade de contaminação. Poços mais pro- fundos seriam dificilmente contaminados por organofosforados e carbamatos. A retirada (coleta) de água dos sistemas hí- dricos subterrâneos se deu da mesma forma que esta água seria utilizada para consumo, ou seja, depois de ligada à bomba, deixava-se va- zar água na mangueira por pelo menos um mi- nuto e só então era feita a coleta em um frasco plástico, evitando o contato deste com objetos ao redor. A coleta em sistemas hídricos superficiais foi feita com seqüência e locais previamente determinados. Nestas coletas tentou-se evitar a presença de sólidos em suspensão, que preju- dicariam as análises. Por isso, procurou-se co- letar amostras em regiões do sistema hídrico superficial que tivessem maior profundidade. Todas as coletas (sistemas hídricos superfi- ciais e subterrâneos) foram feitas com frascos plásticos previamente lavados, que foram no- vamente lavados (rinsados) no momento da coleta com a água que seria coletada, visando, assim, minimizar contaminação por fontes ex- ternas. Após todas as coletas, as amostras eram ar- mazenadas em bolsas térmicas contendo gelo químico, sendo que ao final do dia eram trans- feridas para um freezer. Essas amostras eram, então, transportadas congeladas, nas mesmas bolsas térmicas contendo gelo químico, na ma- nhã seguinte para o laboratório onde seriam analisadas. Método analítico Para a determinação do teor de contaminação por agrotóxicos (organofosforados e carbama- tos) nos sistemas hídricos realizou-se um con- vênio com o Laboratório de Toxicologia Enzi- mática (Enzitox), Departamento de Biologia Ce- lular e Genética, Instituto de Biologia, Univer- sidade do Estado do Rio de Janeiro. O Enzitox desenvolveu uma metodologia para água e alimentos baseada em preparações da enzima acetilcolinestarase capazes de ativar os tionofosforados, possibilitando o monitora- mento de todos os organofosforados e carba- matos 18. O método analítico desenvolvido pelo En- zitox utiliza duas formas de extração para amos- tras de água: o método do acetato de etila-sul-
  • 7. Veiga MM et al.2396 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 fato de sódio, para extração de organofosfora- dos e carbamatos polares; e o método do diclo- rometano, para maioria dos organofosforados e carbamatos, excetos os que são muito polares. A dosagem enzimática é realizada através da adição da preparação enzimática aos extra- tos da incubação durante 120 minutos a 37ºC, da adição do reagente iônico Triton X-100, da adição do reagente de cor ditionitrobenzoato (DTNB) e da medida do acréscimo de absorbân- cia a cada minuto. Comparando-se a média do extrato de água destilada (controle que corresponde a 100% de atividade enzimática) determina-se a percen- tagem de inibição da enzima em cada amostra. Tendo em conta a curva padrão de Metil Para- tion, que relaciona a porcentagem de inibição à concentração de Metil Paration, interpolam- se os resultados de porcentagem de inibição na curva padrão e expressam-se os resultados em partes por bilhão (ppb) equivalentes em Metil Paration. Portanto, um dos indicativos de contami- nação de sistemas hídricos por organofosfora- dos e carbamatos seria, então, determinado pe- la atividade da enzima acetilcolinesterase, de forma a avaliar a porcentagem de inibição des- ta, conforme estabelecido na Portaria n. 518/04 do Ministério da Saúde 19 que estabelece os va- lores máximos das substâncias químicas que representam risco para a saúde. O método ana- lítico utilizado não permite segregar as even- tuais contaminações por princípio ativo dos agrotóxicos, sendo uma medida agregada da presença de carbamatos e organofosforados. Para efeito deste estudo, adotaram-se os pa- râmetros da legislação brasileira, onde o valor máximo permitido de contaminação é de 20% de inibição da enzima colinesterase de mamí- feros, que corresponde a 10µg/L em equivalen- tes em Metil Paration. Apresentação e análise dos resultados Uma informação importante, para determinar se a amostra estaria ou não contaminada, é o limite de detecção do método utilizado para análise, que neste caso é de 10% ou 5µg/L. As- sim, resultados acima do limite de detecção po- dem ser considerados contaminados (conta- minação detectável) muito embora estes valo- res ainda possam estar dentro da faixa permiti- da pela legislação. A Tabela 1 apresenta um consolidado dos resultados encontrados, onde se pode verificar que nos meses de abril, maio, julho e setembro não houve valores acima do permitido pela le- gislação (máximo de 10µg/L em equivalente de Metil Paration). Contudo, em dois desses me- ses (maio, com quatro amostras; e setembro, com 11 amostras), houve contaminação detec- tável, ou seja, acima do limite de detecção do método, embora abaixo do permitido na legis- lação. As células sombreadas mais claras mostra- das na Tabela 1 indicam que os valores encon- trados ultrapassaram o limite de detecção do método indicando uma contaminação, mas, estão dentro do limite permitido pela norma. As células sombreadas mais escuras (dois ca- sos) indicam que estas amostras ultrapassa- ram, além do limite de detecção, o valor permi- tido pela legislação vigente. Os sete pontos de coleta que correspondem aos sistemas hídricos subterrâneos estão indi- cados na Tabela 1 pelos números: 3; 8; 9; 12; 13; 22; e 27. Não houve tentativa de estratificar a análise dos resultados por tipo de sistema hí- drico, uma vez que os sistemas hídricos são in- tercomunicáveis; os poços onde foram coleta- das as amostras não são profundos; e o núme- ro de pontos de coleta (27) é relativamente pe- queno. Para o período analisado, o mês de março foi o que apresentou maior precipitação plu- viométrica, e foi o único mês que apresentou duas amostras com contaminação acima do permitido pela legislação e ainda apresentou outras nove amostras com contaminação de- tectável, porém dentro dos valores permitidos pela legislação. Nestas 135 coletas não houve tentativa de vínculo com a efetiva aplicação de agrotóxico por algum agricultor. Porém, sabe-se que os or- ganofosforados e carbamatos em sistemas hí- dricos se degradam rapidamente, tornando bas- tante difícil a sua detecção depois de decorrido um determinado espaço de tempo. Por isso, este tipo de contaminação ambien- tal por carbamatos e organofosforados poderia ser caracterizado como diluída, sazonal e de- gradável. Uma contaminação que fosse grande em um dado momento tenderia a concentra- ções decrescentes dos contaminantes com o passar do tempo, dependendo das condições climáticas, grau de degradabilidade do agrotó- xico e do volume de água no sistema hídrico. Portanto, para os meses analisados, dos 27 pontos de coleta selecionados, apenas em oito pontos – dois em sistemas hídricos subterrâ- neos e seis em sistemas hídricos superficiais –, não foram encontrados contaminação detectá- vel pelo método utilizado. Em duas ocasiões, essas contaminações ultrapassaram, inclusive, o permitido pela legislação.
  • 8. ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2397 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 Levando-se em conta, que o período anali- sado não correspondeu ao período de maior probabilidade de ocorrência de contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos, os valo- res encontrados foram bastante significativos. Os resultados indicam que em 70% dos pontos analisados foi encontrada contaminação de- tectável nos meses “secos”. Nos períodos chuvosos, espera-se um au- mento das pragas com um conseqüente aumen- to da aplicação de agrotóxicos. Os agricultores, ainda, aplicariam uma nova quantidade de agro- tóxico a cada chuva mais intensa, o que signifi- ca que haveria de uma forma geral, uma maior quantidade relativa de agrotóxicos utilizados, sendo que grande parte destes agrotóxicos po- deria ser carreada pela ação da chuva. Porém, devido ao aumento do risco de pragas e conse- qüente queda de produtividade, existe um nú- mero menor de culturas ativas. Deste modo, uma forma de aumentar a pro- babilidade de detectar contaminação nos sis- temas hídricos seria coletar as amostras no pe- ríodo em que a aplicação de agrotóxicos coin- cidisse com o período de chuvas mais intensas na região (novembro a fevereiro). Este estudo sugere que futuros estudos analisem a conta- minação dos sistemas hídricos por agrotóxicos durante o período chuvoso. Além disso, uma outra sugestão de estudo seria tentar coorde- nar as coletas de amostras com a efetiva apli- cação de agrotóxicos por algum agricultor, o que não foi possível, devido ao cronograma res- trito de financiamento do estudo. Uma importante consideração é a existên- cia de outras culturas agrícolas na região que também utilizam agrotóxicos (carbamatos e organofosforados) no seu processo produtivo. Além disso, muitos dos agrotóxicos comerciali- zados na região são aprovados e utilizados pa- ra mais de um tipo de cultura. Desta forma, não se pôde vincular contaminação a alguma fonte produtiva específica, que no caso deste estudo seria a cultura do tomate. Porém, a cultura do tomate é uma das mais intensivas em agrotóxicos, corresponde a maior parte da produção rural de Paty do Alferes e os pontos de coleta foram escolhidos de forma a se encontrarem próximos de culturas ativas do tomate. Por isso, no caso específico deste estu- do, não seria totalmente incorreto inferir que a fonte de contaminação, principal ou talvez to- tal, dos agrotóxicos nos sistemas hídricos fosse a cultura do tomate. Todavia, o objetivo deste estudo foi eviden- ciar, de uma forma geral, a possibilidade de con- taminação por carbamatos e organofosforados nos sistemas hídricos em regiões próximas de culturas onde a utilização de agrotóxicos fosse intensa e não tentar vincular especificamente a uma determinada cultura, que no caso deste estudo seria a cultura do tomate. Logo, a principal contribuição deste estudo foi a comprovação pelos resultados apresenta- dos, da existência de contaminação por orga- nofosforados e carbamatos nos sistemas hídri- cos superficiais e subterrâneos utilizados para consumo humano direto na região da cultura do tomate no Município de Paty do Alferes. Conclusões e considerações finais O modelo de produção agrícola baseado na uti- lização de agrotóxicos para aumento da produ- Tabela 1 Contaminação dos sistemas hídricos por organofosforados e carbamatos. Microbacias Pontos Organofosforados e carbamatos totais de coleta de inibição da acetilcolinesterase (%) Março Abril Maio Julho Setembro Bela Vista 1 5 0 13 2 10 2 4 3 0 3 7 3 9 0 4 0 9 4 8 0 4 0 11 5 6 3 9 0 10 6 8 0 2 0 7 7 2 0 4 0 5 8 3 7 0 0 11 9 0 6 16 0 10 10 14 0 7 3 2 Rio Fagundes 11 13 0 1 5 13 12 7 2 0 3 6 13 22 0 0 0 7 14 8 0 0 0 11 15 10 0 15 0 13 16 11 3 9 7 10 17 0 1 0 0 0 18 11 0 0 0 1 19 17 0 0 4 4 Córrego do Sertão 20 9 5 7 0 5 Ribeirão do 21 4 5 5 0 8 Secretário 22 1 6 7 0 12 23 12 0 13 0 6 Córrego da 24 35 0 8 0 2 Cachoeira 25 11 9 7 0 9 26 16 9 4 4 4 27 7 9 0 0 11 Nota: as células com sombreamento claro indicam que os valores encontrados ultrapassaram o limite de detecção do método indicando uma contaminação, mas, estão dentro do limite permitido pela norma; as células com sombreamento escuras (dois casos) indicam que estas amostras ultrapassaram, além do limite de detecção, o valor permitido pela legislação vigente.
  • 9. Veiga MM et al.2398 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 tividade agrícola teria como resultado uma sé- rie de conseqüências adversas à saúde humana e ao meio ambiente, que muitas vezes pode- riam ultrapassar as vantagens associadas a seu ganho de produtividade. A hipótese central deste estudo foi que uma parte dos agrotóxicos aplicados na agricultura não seria completamente retida pelas plantas, sorvida pelo solo ou teriam suas moléculas de- compostas pelo sol, por microorganismos exis- tentes no solo ou através de reações químicas, podendo contaminar os sistemas hídricos. Os resultados apresentados neste estudo mostraram que 70% dos pontos de coleta sele- cionados apresentaram contaminação detec- tável, o que validou a hipótese de que os agro- tóxicos quando aplicados na agricultura po- dem contaminar os sistemas hídricos superfi- ciais e subterrâneos. Por esses resultados, ficou comprovada a contaminação por agrotóxicos nos sistemas hí- dricos superficiais e subterrâneos potencial- mente utilizados para consumo humano direto na região da cultura do tomate no Município de Paty do Alferes. Contudo, alguns efeitos negativos dessa contaminação dos sistemas hídricos por agro- tóxicos seriam potencializados em municípios com condições semelhantes a Paty do Alferes, onde grande parte da população rural local não conta com rede de abastecimento regular de água; com infra-estrutura adequada; com con- dições sócio-econômicas favoráveis; e ainda, possui um sistema de saúde deficiente. Algumas das possíveis soluções visando re- duzir essa possibilidade de contaminação dos sistemas hídricos seriam: proteção das fontes de água subterrâneas e superficiais; gestão e manuseio dos agrotóxicos em áreas de produ- ção rural; regulação estatal; educação ambien- tal; e adoção de práticas que minimizem os da- nos ao meio ambiente e a saúde humana. No entanto, qualquer proposta de interven- ção deveria passar por programas de educação visando à mudança de comportamento do tra- balhador rural com relação ao manejo e utiliza- ção do agrotóxico. Para isso, seria necessário que qualquer ação seja planejada de forma par- ticipativa, envolvendo de forma sinérgica a co- munidade e o poder público local em todo o processo decisório. Além disso, dever-se-ia incentivar a adoção mais responsável das novas tecnologias de agro- tóxicos, ou seja, o desenvolvimento de agrotó- xicos deveria ser acompanhado pela evolução do conhecimento dos mecanismos de atuação desses agrotóxicos no meio ambiente e na saú- de humana. Dever-se-ia, ainda, estimular práticas mais sustentáveis de gestão do uso e do descarte dos agrotóxicos, o que contribuiria, inclusive, para mitigar possíveis efeitos negativos da presença desses agrotóxicos no meio ambiente e no cor- po humano. Resumo Só recentemente, com a evolução das técnicas analíti- cas foi possível a detecção de contaminação por agro- tóxicos nos sistemas hídricos. Em pequenas comuni- dades rurais, os efeitos negativos à saúde pública de uma contaminação dos sistemas hídricos seriam agra- vados pela falta de infra-estrutura e de condições só- cio-econômicas. O objetivo deste estudo foi analisar essa possível contaminação por agrotóxicos nos siste- mas hídricos superficiais e subterrâneos utilizados pa- ra consumo humano direto na região da cultura do to- mate no Município de Paty do Alferes, Rio de Janeiro, Brasil. Para isso, este estudo selecionou 27 pontos de coleta, onde foram feitas cinco coletas mensais, perfa- zendo um total de 135 amostras. A contaminação de sistemas hídricos por organofosforados e carbamatos foi determinada pela análise da inibição da atividade da enzima acetilcolinesterase. O resultado encontrado foi que em 19 dos 27 pontos selecionados houve conta- minação detectável, sendo que em duas ocasiões essas contaminações ultrapassaram o permitido pela legis- lação. Com isso, comprovou-se a contaminação dos sistemas hídricos na região de Paty do Alferes, o que colocaria a saúde da população local em risco. Compostos Organofosforados; Carbamatos; Praguici- das; Poluentes da Água; Contaminação
  • 10. ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DOS SISTEMAS HÍDRICOS POR AGROTÓXICOS 2399 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2391-2399, nov, 2006 Colaboradores Todos os autores fizeram parte da equipe que atuou no projeto financiado pelo programa de pesquisa es- tratégica da Fundação Oswaldo Cruz, que deu origem a este artigo. M. M. Veiga coordenou o projeto, foi res- ponsável pela redação do artigo e colaborou em to- das as partes do artigo (referencial teórico, metodo- logia, discussão e análise dos resultados). D. M. Silva contribuiu na metodologia, análises químicas e dis- cussão dos resultados; atuando também, como revi- sor do texto. L. B. E. Veiga colaborou no referencial teórico (impactos à saúde humana e ao meio ambien- te) e na metodologia. M. V. C. Faria participou na me- todologia, discussão e análise dos resultados e coor- denou as análises químicas. Referências 1. Tomita RY, Beyruth Z. Toxicologia de agrotóxicos em ambiente aquático. Biológico 2002; 64:135-42. 2. International Programme on Chemical Safety/ United Nations Environment Programme/Inter- national Labour Organisation/World Health Or- ganization. Environmental health criteria for car- bamate pesticides: a general introduction. Gene- va: World Health Organization; 1986. 3. International Programme on Chemical Safety/ United Nations Environment Programme/Inter- national Labour Organisation/World Health Or- ganization. Environmental health criteria for orga- nophosphorous insecticides: a general introduc- tion. Geneva: World Health Organization; 1986 4. Oliveira-Silva JJ, Meyer A. O sistema de notifica- ção das intoxicações: o fluxograma da joeira. In: Peres F, Moreira JC, organizadores. É veneno ou remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003. p. 317-26. 5. Coutinho JAG. Uso de agrotóxicos no município de Paty do Alferes: um estudo de caso. Caderno de Geociências 1994; 10:23-31. 6. Ramalho JFGP, Amaral Sobrinho NMB, Velloso ACX. Contaminação da microbacia de caetés com metais pesados pelo uso de agroquímicos. Pesq Agropec Bras 2000; 35:1289-303. 7. Organização Pan-Americana da Saúde. Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasília: Organização Pan-Ameri- cana da Saúde; 1996. 8. Landon M, Jacobsen J, Johnson G. Pesticide man- agement for water quality protection. Bozeman: Montana State University; 1990. 9. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. In- dicadores de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatística; 2002. (Estudos e Pesquisas Informação Geográfica, 2). 10. Buttler T, Martinkovic W, Nesheim ON. Factors in- fluencing pesticide movement to ground water. Gainesville: University of Florida/Institute of Food and Agricultural Services; 1998. 11. Wisconsin State Laboratory of Hygiene. Pesticides in drinking water. http://www.slh.wisc.edu/ehd/ pamphlets/pesticide.php (acessado em Mar/2005). 12. Governo do Estado do Rio de Janeiro. Programa estadual de investimentos da bacia do Rio de Ja- neiro: poluição por fontes difusas. Sub-região B. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Meio Am- biente/Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas; 1998. 13. Dores EFGC, De-Lamonica-Freire EM. Contami- nação do ambiente aquático por pesticidas. Estu- do de caso: águas usadas para humano em Pri- mavera do Leste, Mato Grosso – análise prelimi- nar. Quím Nova 2001; 24:27-36. 14. Pesticide Action Network UK. Pesticides in water: costs to health and the environment. London: Pesticide Action Network UK; 2000. (Briefing Pa- per, 1). 15. Lind P. Poisoned waters: pesticide contamination of waters and solutions to protect Pacific salmon. Eugene: Northwest Coalition for Alternatives to Pesticides; 2002. 16. Peres F, Moreira JC, Dubois GS. Agrotóxicos, saú- de e ambiente: uma introdução ao tema. In: Peres F, Moreira JC, organizadores. É veneno ou remé- dio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janei- ro: Editora Fiocruz; 2003. p. 21-41. 17. Waswa F, Gachene CKK, Eggers H. Assessment of erosion damage in Ndome and Ghazi, Taita Tave- ta, Kenya: towards an integrated erosion manage- ment approach. GeoJournal 2002; 56:171-6. 18. Castro-Faria MV. Avaliação de ambientes e pro- dutos contaminados por agrotóxicos. In: Peres F, Moreira JC, organizadores. É veneno ou remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003. p. 177-209. 19. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 518 de 25 de março de 2004 que estabelece os procedimen- tos e responsabilidades relativos ao controle e vi- gilância da qualidade da água para consumo hu- mano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União 2004; 26 mar. Recebido em 11/Jul/2005 Versão final reapresentada em 08/Fev/2006 Aprovado em 14/Fev/2006