Os fatos da vida estão evidenciando cada vez mais a necessidade de que o paradigma que tem norteado o desenvolvimento da sociedade humana desde a 1ª Revolução Industrial em 1786 seja profundamente modificado. A necessidade de que haja mudanças no paradigma que tem norteado o processo de desenvolvimento atual se impõe porque está demonstrado cientificamente que ele é o grande responsável pelo comprometimento do meio ambiente de todo o planeta. A Ciência demonstra com base em dados e fatos comprovados, a insustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento da sociedade pelo fato de ser ele o grande responsável pela exaustão dos recursos naturais do planeta, pela degradação em ritmo acelerado das águas potáveis e dos oceanos e pela mudança climática catastrófica que ameaçam a sobrevivência da humanidade.
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A CIÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Fernando Alcoforado*
Os fatos da vida estão evidenciando cada vez mais a necessidade de que o paradigma
que tem norteado o desenvolvimento da sociedade humana desde a 1ª Revolução
Industrial em 1786 seja profundamente modificado. A necessidade de que haja
mudanças no paradigma que tem norteado o processo de desenvolvimento atual se
impõe porque está demonstrado cientificamente que ele é o grande responsável pelo
comprometimento do meio ambiente de todo o planeta. A Ciência demonstra com base
em dados e fatos comprovados, a insustentabilidade do atual modelo de
desenvolvimento da sociedade pelo fato de ser ele o grande responsável pela exaustão
dos recursos naturais do planeta, pela degradação em ritmo acelerado das águas potáveis
e dos oceanos e pela mudança climática catastrófica que ameaçam a sobrevivência da
humanidade.
Todos os dados disponíveis apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo
seus limites no uso de seus recursos naturais. Um desses dados diz respeito à pegada
ecológica que é uma boa forma de dimensionar o impacto do ser humano no planeta
Terra. Sobre a pegada ecológica, é oportuno observar que é uma metodologia utilizada
cientificamente para medir as quantidades de terra e água (em termos de hectares
globais - gha) que seriam necessárias para sustentar o consumo de recursos naturais da
população. A pegada ecológica é um cálculo do que cada pessoa, cada país e, por fim, a
população mundial consome em recursos naturais. A medição é feita em hectares, e seis
categorias são avaliadas: terras para cultivo, campos de pastagem, florestas, áreas para
pesca, demandas de carbono e terrenos para a construção de prédios.
Considerando as seis categorias acima descritas, o planeta Terra possui
aproximadamente 13,4 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente
produtivas segundo dados de 2010 da Global Footprint Network e a pegada ecológica
da humanidade atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, em 2007, para
uma população mundial de 6,7 bilhões de habitantes na mesma data, segundo a ONU
(ALVES, José Eustáquio Diniz. A terra no limite. Disponível no
website <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/terra-limite-
humanidade-recursos-naturais-planeta-situacao-sustentavel-637804.shtml>, 2016). Com
a pegada ecológica da humanidade de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa significa
dizer que para sustentar a população atual na Terra de 7 bilhões de habitantes seriam
necessários 18,9 bilhões de gha (2,7 gha x 7 bilhões de habitantes) que é superior a 13,4
bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas da Terra,
fato este que indica que já ultrapassamos a capacidade de regeneração do planeta no
nível médio de consumo mundial atual. Hoje, por conta do atual ritmo de consumo, a
demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição da Terra. Se a
escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população
planetária estimada em 10 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terra para
satisfazê-la. Ressalte-se que, a partir de 2050, quando a população mundial poderá
ultrapassar 10 bilhões de habitantes, o planeta Terra poderá não resistir a tamanha
demanda por recursos naturais.
Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que usam mais recursos
naturais do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países capitalistas
centrais (União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já esgotaram
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seus próprios recursos naturais e têm de importá-los. No levantamento da Global
Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais recursos naturais do que têm
e seria necessária quatro Itália para abastecer os italianos. O padrão de consumo dos
países desenvolvidos desorganiza essa balança. Um fato indiscutível é o de que a
humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor.
Hoje a humanidade utiliza 50% da água doce do planeta. Em 40 anos utilizará 80%. A
distribuição geográfica da água doce é desigual. Atualmente 1/3 da população mundial
vive em regiões onde ela é escassa. O uso da água imprópria para o consumo é
responsável por 60% dos doentes do planeta. Metade dos rios do mundo está
contaminada por esgoto, agrotóxicos e lixo industrial (PLANETA SUSTENTÁVEL.
Cai do Céu, mas pode faltar. Disponível no website
<http://veja.abril.com.br/300108/p_086.shtml>, 2008). A população mundial cresce
aproximadamente 80 milhões por ano agravando a demanda por água e seus serviços
(REDE WWF. Relatório Planeta Vivo 2008. Disponível no website
<http://assets.wwf.org.br/downloads/sumario_imprensa_relatorio_planeta_vivo_2008_2
8_10_08.pdf>, 2008). Relatório da ONU sobre o uso da água confirma que, sem
medidas contra o desperdício e a favor do consumo sustentável, o acesso à água potável
e ao saneamento serão ainda mais reduzidos (BLOG SOS RIOS DO BRASIL. Bilhões
sofrerão com falta de água e saneamento, diz relatório da ONU. Disponível no website
<http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/2009/03/bilhoes-sofrerao-com-falta-de-agua-
e.html, 2009).
Este Relatório da ONU estima que 5 bilhões de pessoas sofrerão com a falta de
saneamento básico em 2030. No mundo existe 1,197 bilhão de pessoas sem acesso à
água potável e 2,742 bilhões sem saneamento básico (dados do Relatório de
Desenvolvimento Humano de 2004) e, no Brasil, existe mais de 45 milhões de
habitantes sem acesso à água potável e mais de 90 milhões sem acesso à rede de esgoto
(dados do IBGE em 2004). De acordo com a ONU, 41% da superfície atual do planeta
são formadas por áreas secas, como o semiárido brasileiro, e 2 bilhões de pessoas vivem
nessas áreas. Todas essas pessoas, de regiões secas ou úmidas, não têm acesso à água
para beber.
A água está se convertendo em uma fonte geradora de guerras devido à competição
internacional pelos recursos hídricos. Muitos países constroem grandes represas
desviando a água dos sistemas naturais de drenagem dos rios em prejuízo de outros. Os
principais conflitos pela água no mundo atual envolvem Israel, Jordânia e Palestina pelo
Rio Jordão, Turquia e Síria pelo Rio Eufrates, China e Índia pelo Rio Brahmaputra,
Botswana, Angola e Namíbia pelo Rio Okavango, Etiópia, Uganda, Sudão e Egito pelo
Rio Nilo e Bangladesh e Índia pelo Rio Ganges (TAGUCHI, Clarissa. Ver para crer:
uma guerra pela água pode estar prestes a ser travada. Disponível no website
<http://panoramaecologia.blogspot.com.br/2006/03/ver-para-crer-uma-guerra-pela-gua-
pode.html>, 2006).
Apenas 12% das terras do planeta são cultiváveis. Nos últimos 30 anos dobrou o total
de terras cultiváveis atingidas por secas severas devido ao aquecimento global. Na
China a cada 2 anos uma área equivalente ao estado de Sergipe no Brasil se transforma
em deserto. Das 200 espécies de peixe com maior interesse comercial, 120 são
exploradas além do nível sustentável. Neste ritmo, o volume de pescado disponível terá
diminuído em mais de 90% até 2050. Estima-se que 40% da área dos oceanos esteja
gravemente degradada pela ação do homem. Nos últimos 50 anos o número de zonas
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mortas cresceu de 10 vezes (BLOGSPOT.COM. O WWF alerta para o esgotamento dos
recursos naturais. Disponível no website <http://arquivoetc.blogspot.com.br/2008/11/o-
wwf-alerta-para-o-esgotamento-dos.html>, 2008). Devido ao aquecimento global, a
redução desde 1970 até hoje de espécimes terrestres é de 33%, espécimes marinhos
corresponde a 14%; e de espécimes de água doce é de 35% (REDE WWF. Relatório
Planeta Vivo 2008. Disponível no website
<http://assets.wwf.org.br/downloads/sumario_imprensa_relatorio_planeta_vivo_2008_2
8_10_08.pdf>, 2008).
Quanto aos recursos minerais, o ferro, o alumínio e possivelmente o titânio são
abundantes na crosta terrestre cujas reservas podem ser consideradas ilimitadas. No
entanto, os demais minerais não renováveis formados por processos geológicos em
milhões de anos apresentam reservas que se reduzem continuamente sendo tão escassos
e preciosos quanto os combustíveis fósseis (MEADOWS, Donella et al. Beyond the
limits. Vermont: Chelsea Green Publishing Company, 1992). Nos últimos dois séculos a
extração dos recursos minerais tornou-se mais intensa, retirando volumes cada vez
maiores da natureza. A preocupação é que a grande maioria desses recursos não é
renovável, ou seja, não são repostos pela natureza. Com base em reservas existentes
hoje, determinados recursos minerais já possuem uma possível data para se esgotar. Os
dados disponíveis sobre as reservas dos recursos minerais apontam no sentido de que o
planeta Terra já está atingindo seus limites.
Estimativa de exaustão de recursos minerais do planeta Terra é apresentada no
artigo Quando os recursos minerais se esgotarão? (ABREU, Kátia. Quando os recursos
minerais se esgotarão? Disponível no website
<http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/quando-recursos-minerais-se-
esgotarao-648952.shtml>, 2008), baseado na informação da US Geological Survey,
órgão do governo norte-americano responsável por pesquisas geológicas que cruzou
informações sobre o consumo anual, as reservas minerais disponíveis no planeta e sua
previsível extinção: 1) Platina (uso em materiais cirúrgicos)-Extinção em 2049;
2) Prata (uso na fabricação de espelhos e talheres)- Extinção em 2016; 3) Cobre (uso
em fios e cabos e dutos de ar condicionado)- Extinção em 2027; 4) Antimônio (uso
em controles remotos e com outros materiais para aumento da resistência)- Extinção
em 2020; 5) Lítio (uso em baterias de celulares, laptops e videogames)- Extinção
em 2053; 6) Fósforo (uso em fertilizantes agrícolas)- Extinção em
2149; 7) Urânio (uso na geração de energia elétrica)- Extinção em 2026; 8) Índio (uso
em telas de touchscreen de smartphones e tablets)-Extinção em 2020; 9) Tântalo (uso
em lentes de câmeras fotográficas)- Extinção em 2027; 10) Níquel (uso em ligas
metálicas de revestimento, de eletrônicos, como os celulares)- Extinção
em 2064; 11) Estanho (uso no revestimento de ligas metálicas, como as usadas nas
latinhas de refrigerante)- Extinção em 2024; 12) Chumbo (uso em baterias de carros e
caminhões e em soldas e rolamentos)- Extinção em 2015; 13) Ouro (uso como joias e
em microships de computadores)- Extinção em 2043; 14) Zinco (uso para cobrir ligas
metálicas, impedindo que a ferrugem destrua objetos como as moedas)- Extinção
em 2041.
Pelo exposto muitos minérios do planeta estão chegando ao fim, o que poderá
interromper o uso de várias tecnologias utilizadas atualmente. Quanto ao petróleo, terá
uma duração de 40 anos (BLOG PARACLETO. Futuro do Petróleo. Disponível no
website <http://institutoparacleto.org/2013/05/23/o-futuro-do-petroleo/>, 2013). O gás
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natural dispõe de reservas que podem garantir sua produção até 60 anos (BARBOSA,
Vanessa. Os 10 países com as maiores reservas de gás natural do mundo. Disponível
no website <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/os-10-paises-com-as-maiores-
reservas-de-gas-natural-do-mundo>, 2012). O carvão, por sua vez, tem reservas
suficientes para durar 250 anos (BLOGSPOT.COM. Reservas de Carvão no Mundo.
Disponível no website <http://carvaomineral.blogspot.com.br/2006/09/reservas-de-
carvo-no-mundo.html>, 2006). O shale gas em exploração recente nos Estados Unidos,
que poderia suprir a demanda doméstica do país por gás natural nos níveis atuais de
consumo por mais de 100 anos, é extremamente negativo para o meio ambiente porque
gera metade das emissões de carbono produzidas pelo carvão, além de contaminar os
lençóis aquíferos subterrâneos.
Tudo o que acaba de ser descrito sobre a duração das reservas de combustíveis
fósseis indica que, diante da longevidade do carvão, ele poderá ser a fonte de energia a
ser utilizada no futuro quando os demais combustíveis fósseis se exaurirem, fato este
que agravaria ainda mais o efeito estufa na atmosfera. A humanidade precisa tomar
consciência da urgente necessidade da substituição dos combustíveis fósseis por fontes
renováveis de energia, bem como deve substituir o modelo atual de desenvolvimento
pelo desenvolvimento sustentável, que, por meio da logística reversa, com a
reutilização, a recuperação e a reciclagem de materiais, atingindo assim o chamado ciclo
fechado de produção, poderia adiar a exaustão dos recursos naturais do planeta Terra.
A mudança climática catastrófica que se prevê para o futuro resulta da evidência
cientificamente comprovada do aquecimento global que vem das medições de
temperatura de estações meteorológicas em todo o globo terrestre desde 1860. Os dados
dessas medições mostram que o aumento médio da temperatura foi de 0.6 ± 0.2 ºC
durante o século XX. Os maiores aumentos foram em dois períodos: 1910 a 1945 e de
1976 a 2000, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) da
ONU. Evidências sobre o aquecimento global são obtidas através da observação das
variações da cobertura de neve das montanhas e de áreas geladas, do aumento do nível
global dos mares, do aumento das precipitações, da cobertura de nuvens, do El Niño e
outros eventos extremos de mau tempo. Desde 1961, a quantidade de gases poluentes
despejada pelo homem na atmosfera cresceu 10 vezes. Essa descarga acelera o
aquecimento do planeta provocando secas, inundações, extinção de espécies e a
possibilidade de elevação do nível dos mares de até 7 metros se ocorrer o degelo dos
polos, da Groenlândia e das cordilheiras do Himalaia, dos Alpes e dos Andes da qual
resultaria o desaparecimento de muitas ilhas e cidades litorâneas (ALCOFORADO,
Fernando. Aquecimento global e catástrofe planetária. S. Cruz do Rio Pardo: Viena
Gráfica e Editora, 2010).
O ano de 2014 foi o mais quente do planeta desde o início dos registros em 1880,
revelou o relatório divulgado pela Agência Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla
em inglês) dos Estados Unidos. Em dezembro de 2014, também, marcou uma
temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos sem precedentes nos últimos
134 anos para este período do ano. Globalmente, a temperatura média da superfície dos
mares foi a maior da história, 0,57°C acima da média do século XX, enquanto a da
superfície da terra ultrapassou em 1°C esta mesma média. As regiões polares da Terra
são locais onde a mudança climática está tendo impactos visíveis e significativos. O
gelo marinho no Ártico diminuiu drasticamente nos últimos anos. As plataformas de
gelo da Antártica estão se desintegrando e rompendo. A Antártica é a maior massa
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congelada com 90% do gelo da Terra. A maior parte do gelo fica na Antártica Oriental
que é mais alta, mais fria e menos propensa a derreter. Na Antártica Ocidental, parte do
gelo está em depressões vulneráveis a derretimento. Dados da Agência Espacial
Europeia indicam que o continente antártico desprendeu 160 bilhões de toneladas
métricas de gelo por ano de 2010 a 2013 (ALCOFORADO, Fernando. Aquecimento
global e catástrofe planetária. S. Cruz do Rio Pardo: Viena Gráfica e Editora, 2010).
A humanidade se defronta com uma fronteira temporal que não é 2100, mas bem mais
cedo, 2030! Esta data não é arbitrária. Em 2030, viveremos em um planeta que terá
cerca de 9 bilhões de habitantes dos quais dois terços vivendo em uma Terra saturada de
poluição e dejetos e já afetada por uma alta sensível de temperaturas. Em 2030,
estaremos entrando em uma fase de penúria em relação ao petróleo e de forte tensão
sobre outros combustíveis fósseis, em um contexto de redução dos recursos naturais e
empobrecimento de terras cultiváveis. A concentração de gás carbônico na atmosfera
que era de 280 ppm (partículas por milhão) em volume no início da era industrial
poderá alcançar no século XXI valores entre 540 e 970 ppm. Este aumento da
concentração de gás carbônico é responsável por 70% do aquecimento global em curso.
O mundo está diante de um desafio que é o de não permitir o aquecimento global no
século XXI superior a dois graus centígrados sem o qual terá que arcar com as
consequências catastróficas resultantes das mudanças climáticas. Para evitar que o
aquecimento global ultrapasse 2 ºC será preciso uma radical descarbonização da
economia mundial. Trata-se de uma tarefa de difícil realização, mas ainda possível.
Neste sentido, o mundo precisa limitar todas as emissões de gás carbônico (CO2) a um
trilhão de toneladas.
Um compromisso global objetivando limitar o aumento do aquecimento global a 2 ºC
foi firmado em dezembro de 2015, na Conferência do Clima de Paris, a COP 21. Os
estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU
recomendam a redução de emissões de gases do efeito estufa responsáveis pelo
aquecimento global da ordem de 60% a 70% até meados deste século. Em outras
palavras, as emissões per capita devem convergir para não mais do que duas toneladas
de CO equivalente (COe) em 2050. Para alcançar este objetivo terá que haver em todos
os países do mundo um gigantesco esforço no sentido de diminuir drasticamente as
emissões de gases do efeito estufa.
Inúmeros estudiosos do aquecimento global informam que há duas maneiras de reagir
às mudanças climáticas no planeta. A primeira é reduzir drasticamente a emissão de
gases poluentes. A segunda medida é procurar adaptar-se da melhor maneira possível às
transformações que o mundo viverá nas próximas décadas. Essas mudanças são
inevitáveis, mesmo que se consiga diminuir a participação humana no efeito estufa,
porque um terço do aquecimento tem causas naturais. Para evitar o futuro catastrófico
que se prenuncia para a humanidade resultante do aquecimento global, é imprescindível
a implementação do modelo de desenvolvimento sustentável, que tem por objetivo
atender as necessidades atuais da população da Terra sem comprometer seus recursos
naturais, legando-os às gerações futuras. Significa dizer que o modelo de
desenvolvimento sustentável deve ser implementado objetivando a compatibilização do
meio ambiente com os fatores econômico e social.
Para implementar o desenvolvimento sustentável, torna-se um imperativo reduzir as
emissões globais de carbono com a promoção de mudanças na atual matriz energética
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mundial baseada fundamentalmente em combustíveis fósseis (carvão e petróleo), por
outro estruturado com base nos recursos energéticos renováveis, na hidroeletricidade, na
biomassa e nas fontes de energia solar e eólica para evitar ou minimizar o aquecimento
global e, consequentemente, a ocorrência de mudanças catastróficas no clima da Terra.
É necessário, também, aperfeiçoar a eficiência energética desenvolvendo ações que
levem à obtenção de economias de energia na cidade e no campo, nas edificações, na
agricultura, nas indústrias e nos meios de transporte em geral contribuindo, dessa forma,
para a redução das emissões globais de carbono e, consequentemente, do efeito estufa.
Os esforços no âmbito da eficiência energética devem fazer com que os veículos
automotores e equipamentos de usos domésticos, agrícolas e industriais tenham maior
rendimento, as edificações sejam projetadas objetivando o máximo de economia de
iluminação, refrigeração e calefação, a agricultura e a indústria sejam modeladas no
sentido de requererem o mínimo de recursos energéticos e matérias-primas,
contemplando também a autoprodução de energia com o uso de resíduos de seus
processos de produção e, finalmente, a utilização de novas alternativas de transporte
desde a bicicleta até aqueles de alta capacidade baseadas em ferrovias, dentre outras
iniciativas.
É preciso combater a poluição da terra, do ar e da água, reduzindo os desperdícios com
a reciclagem dos materiais atualmente utilizados e descartados. Nessa perspectiva, os
materiais essenciais só devem ser utilizados nos processos produtivos e em outras
aplicações apenas em último caso. Quando usados nas diversas aplicações, devem, em
primeiro lugar, ser reutilizados inúmeras vezes; em segundo lugar, devem ser reciclados
para formarem um novo produto; em terceiro lugar, devem ser queimados de modo a
extrair toda a energia que contenham e, apenas em última instância, devem ser
removidos para um aterro sanitário.
É imprescindível ajustar o crescimento da população aos recursos disponíveis no
planeta, reduzindo suas taxas de natalidade, sobretudo nos países e regiões com
elevadas taxas de crescimento populacional. Hoje, a população da Terra é de 6,1 bilhões
de habitantes. No ano 2030, deverá atingir 9 bilhões. Até o ano 2100 ultrapassará 11
bilhões de habitantes Segundo estudos da ONU, considerando a média de consumo de
energia vegetal em alimentos, sementes e ração animal e o avanço técnico, a produção
potencial de alimentos do mundo poderia sustentar pouco mais de 11 bilhões de
habitantes. Com uma população superior a 11 bilhões de habitantes, o planeta Terra
poderá não resistir a tamanha demanda por recursos naturais.
O desenvolvimento sustentável tem também por objetivo reduzir as desigualdades
sociais, contemplando a adoção de medidas que contribuam para o atendimento das
necessidades básicas da população mundial, tais como alimentos, vestuário, habitação,
serviços de saúde, emprego e uma melhor qualidade de vida. Para que haja
desenvolvimento sustentável, é preciso, portanto, que todos os seres humanos tenham
atendidas suas necessidades básicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de
concretizar suas aspirações a uma vida melhor.
Isso significa dizer que o crescimento econômico e a riqueza dele resultante devem ser
compartilhados por todos, que os serviços de educação possibilitem ampliar os níveis de
qualificação para o trabalho e a cultura da população mundial, que os serviços de saúde
sejam eficazes no combate à mortalidade infantil e contribuam para o aumento da
expectativa de vida da população, que todos os homens e mulheres do planeta tenham
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uma habitação decente e que hajam investimentos públicos e privados no nível
necessário que contribuam para a redução do desemprego em massa em decorrência da
crise geral do sistema capitalista mundial que se registra na atualidade e que tende a se
agravar no futuro.
Pelo exposto, ficou evidenciado que as informações contidas neste capítulo resultaram
de amplo e profundo trabalho de pesquisa científica realizada há séculos por inúmeras
instituições científicas. Além de contribuir para a realização de pesquisas e avaliação do
meio ambiente, em escalas local e global, trabalhos desenvolvidos por inúmeros
cientistas em todo o mundo apresentaram as soluções visando a passagem do
insustentável modelo atual de desenvolvimento para o modelo de desenvolvimento
sustentável.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.