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*Ricardo Pinto
Com a mecanização de praticamente 90% de todas as ati-
vidades e processos de produção de cana na região Centro-Sul
do Brasil - desde o plantio até a colheita -, a necessidade de se
manter alta a disponibilidade mecânica de uma frota cada vez
maior refletiu num forte crescimento do custo do almoxarifado
de peças automotivas.
Hoje, não é difícil achar usinas cujo almoxarifado automotivo
atinja o valor de R$ 2 por t de cana processada. Assim, uma usina
que processe 2,4 milhões de t de cana por ano pode ter mais de
R$ 4,8 milhões em estoque de peças automotivas, sem citar as
compras (ou alocações) diretas de materiais.
Isso acontece não só pelo crescimento da frota, mas também
pelo seu envelhecimento, fruto da crise setorial, e pela grande
diversidade de modelos de equipamentos que uma frota de usi-
na canavieira precisa ter. Se há usinas com R$ 2 por t de cana
ou mais no seu almoxarifado automotivo e que poderiam ter R$
0,95 por t de cana ou menos, surge a pergunta: como sair do pa-
tamar mais caro e ir para o mais barato, economizando até R$
1,05 por t de cana?
CONHECER PARA DIAGNOSTICAR
Diferentemente de estoques de outras indústrias, o almoxari-
fado automotivo de usinas apresenta uma série de características
que demandam ações específicas. Vamos a estas características:
1º - Impossível ter todos os itens em estoque: usualmente o
estoque de uma usina canavieira costuma ter entre 7 mil e
12 mil itens cadastrados no seu sistema. Contudo, se con-
siderarmos que uma usina média do Centro-Sul possui 394
equipamentos motorizados em sua frota própria e que, para
cada modelo definido pelo fabricante, haja 3,7 equipamentos
iguais na frota, esta usina terá de dar manutenção em apro-
ximadamente 107 modelos de equipamentos em sua frota.
E se cada modelo de equipamento usar 5 mil itens para ser
fabricado e houver um índice de 20% de uso de mesma peça
em modelos diferentes, chegaremos a um universo estimado
de 428 mil itens que poderiam ser trocados nesta frota, ou
seja, 45 vezes mais itens do que há no cadastro das usinas.
2º - Maior parte das manutenções é corretiva: numa frota ca-
navieira, a enorme maioria das Ordens de Serviço de Manu-
tenção é aberta para fazer manutenções corretivas (conserto
de quebras). Este tipo de manutenção não obedece a critérios
estatisticamente bem definidos de ocorrência.
Muitas usinas possuem desnecessariamente muito
dinheiro parado em seu almoxarifado de peças para a
frota. Este é o caso, via de regra, daquelas cujo valor
total de peças no almoxarifado dividido pela moagem
anual da usina ultrapassa R$ 0,95/t de cana
gestão
43
3º - Revisão (ou reforma) de entressafra costuma recuperar
itens para durar uma safra: na entressafra, grande parte da
frota sofre uma revisão que busca deixá-la apta para operar
sem grandes corretivas por oito a nove meses.
4º - Lead time (período de reposição) é alto: como as usinas
constantemente fazem muitas compras de peças, o processo
de pedido de compra até haver a emissão das solicitações de
cotação costuma demandar pelo menos um dia para as peças
de um determinado lote. Para as cotações retornarem de pelo
menos três empresas fornecedoras, é necessário mais um dia.
Daí deve haver a aprovação da compra com duas a três assi-
naturas de diretorias e/ou gerências, dependendo da alçada, o
que representa pelo menos mais um dia. Posteriormente, ain-
da há uma renegociação junto com a empresa ganhadora da
cotação, incluindo forma e prazo de pagamento, o que pode
implicar mais um dia. Se a empresa enviar rapidamente os itens
comprados, como as usinas não costumam estar próximas dos
centros de distribuição de peças, isso pode demandar de dois
a três dias para entrega. Quando as peças chegam à usina, de-
vem ser conferidas e armazenadas, o que pode implicar em até
outro dia. Logo, o lead time costuma ser de sete a oito dias.
5º - Usinas buscam eliminar as compras diretas: pelo fato de
não haver a devida cotação com demais concorrentes e nem
tempo hábil de negociação, os setores de compras das usinas
insistem para que as compras ou alocações diretas de peças
sejam minimizadas ou até eliminadas.
ESTOQUE MÍNIMO NÃO MELHORA
DISPONIBILIDADE
Vários já foram os exemplos de usinas que lotaram seu almo-
xarifado automotivo de itens com estoque mínimo atendido e, para
a sua surpresa, a disponibilidade mecânica da frota, principalmente
na segunda metade da safra, continuou a cair, como acontecia antes.
Afinal, é impossível e impensável ter em estoque suprimentos
suficientes para cobrir mais de 400 mil itens que podem falhar ao
acaso numa frota de usina.
CONFLITO: COMPRAS X
MANUTENÇÃO DE FROTA
É comum ouvir do pessoal de manutenção automotiva das usinas
que seu departamento de compras não os atende adequadamente,
pois o tempo entre o pedido de compra e a chegada de determina-
da peça sempre é grande, prejudicando a disponibilidade da frota.
Paralelamente, o departamento de compras reclama da impre-
visibilidade que existe na área de manutenção automotiva quanto à
demanda de peças. Daí o almoxarifado fica cheio, mas com baixo
giro dos itens.
SOLUÇÃO: MUDANÇA DE FAZER
MANUTENÇÃO
Se a equipe de manutenção da usina continuar fazendo prio-
ritariamente atendimentos corretivos que surjam aleatoriamente,
quando somente no ato do atendimento é que se verificará qual ou
quais peças terão de ser trocadas, e sabendo que o pedido de compra
de peças que não existam no estoque é de sete a oito dias, tanto a
área de Compras como a área de Manutenção Automotiva estarão
sempre correndo atrás, bem atrás, do problema. Nem o almoxari-
fado inchado resolve.
É fundamental que se mude a forma como se diagnostica a ne-
cessidade de peças. Ao invés de se descobrir a necessidade da peça
somente após a sua quebra, é preciso que haja inspeções periódi-
cas do estado das peças, identificando peças que vão sofrer falha
e disparando o pedido de sua compra antes. Pelo menos oito dias
antes de sua quebra.
Isso é possível se, além de cuidar das manutenções corretivas, a
equipe de manutenção do campo também tiver a atribuição de fazer
inspeções detalhadas de rotina dos equipamentos, informando a um
responsável pelo PCMA (Planejamento e Controle de Manutenção
Automotiva) das peças que já devem ter pedidos de compra dispa-
rados por estarem em processo de avaria adiantado.
ESTOQUE MÍNIMO
Com as inspeções ocorrendo da forma como esperado, bastará
a usina ter cadastrado em seu sistema de almoxarifado automotivo
os itens de giro em até 90 dias.
EXEMPLO DE AVALIAÇÃO DE
ALMOXARIFADO AUTOMOTIVO DE USINA
É impossível ter no almoxarifado todos os itens que possam
ser demandados pela frota de uma usina
44
Numa avaliação de almoxarifado automotivo recentemente
efetuada pela RPA Consultoria em usina com capacidade para pro-
cessar quase 3 milhões de t de cana por ano, de aproximadamente
6.900 itens cadastrados com estoque, apenas 40,3% deles estavam
com giro menor ou igual a 90 dias. São estes itens que se pode di-
zer que são de “consumo regular” e que merecem figurar dentre os
itens com estoque mínimo e ponto de ressuprimento automático.
Vale dizer que os 40,3% de itens com giro até 90 dias represen-
tavam 48% do valor total com itens armazenados no almoxarifado
automotivo daquela usina. Além disso, o giro médio do almoxari-
fado automotivo desta usina ultrapassava um ano.
AGREGADOS DE RESERVA
Uma prática também bastante positiva para conseguir separar
o tempo de atendimento do tempo de espera de compra de peças
é ir construindo os agregados (ou kits) de reserva, tais como di-
visor de linha e elevador de colhedora de cana, rodante de trator
de esteira etc.
Assim, quando houver alguma falha em algum lugar destes
agregados, faz a substituição completa do agregado, liberando o
equipamento para trabalhar. O agregado com dano passará a ser
consertado com mais vagar e, se necessário, perdendo tempo ao
aguardar peças em processo de compra, mas sem interferir no de-
sempenho do equipamento em que estava antes.
É importante que o almoxarifado disponha de uma área para
armazenar e mesmo controlar os agregados de reserva.
MÍNIMO IGUAL A ZERO
Grosso modo, a ideia que se sugere é que o estoque mínimo
para itens cujo giro ultrapasse 90 dias seja zero, ou seja, nenhuma
peça. Como todos os itens que não sejam de consumo serão inspe-
cionados e acompanhados durante os dias de trabalho dos equipa-
mentos nos quais estejam, assim que o pessoal de campo informar
o PCMA de sua futura necessidade de troca, sua compra será dis-
parada, mas ainda com o equipamento em funcionamento. Desta
forma, somente haverá o cálculo do ponto de ressuprimento para
os itens cujo giro seja menor ou igual a 90 dias.
EVITAR O CONTROLE
DESNECESSÁRIO
É importante lembrar que, às vezes, a equipe do almoxari-
fado automotivo implanta rotinas de controle que não agregam
nenhum valor, apenas tomando tempo e foco de usuários e co-
laboradores. Tal é o caso de se exigir que itens de baixíssimo
valor unitário sejam controlados individualmente. Por exemplo,
porcas, arruelas e parafusos costumam ser controlados individu-
almente em algumas usinas.
Para se ter uma ideia, no custo por hora de trabalho de uma
colhedora de cana, se informarmos a requisição individual de
cada porca e parafuso usado nela durante um mês, dificilmente
este custo irá aparecer na segunda casa depois da vírgula, ou se-
ja, ele nem atingirá R$ 0,01/hora. Além disso, o fato de se exi-
gir a requisição individual em nada dificulta o roubo das peças,
se este for o desejo do mecânico. E ainda toma tempo precioso
dele nesta tarefa inútil.
Então, por que este controle individualizado continua a acon-
tecer? A sugestão é que se implantem almoxarifados self service
para estes itens, com o custo das porcas, arruelas e parafusos (R$/
quilograma) de colhedoras de cana usados em um mês, sendo
rateados para todas as colhedoras naquele mês.
LEILÃO
Finalmente, os itens de giro mais lento e que não tenham
mais equipamentos presentes e atuantes na frota que os recebam,
devem ser eliminados do almoxarifado automotivo.
Aqui se indica também que equipamentos motorizados pre-
sentes na frota da usina que não tenham trabalhado mais de 1 mil
horas (se forem tratores e máquinas) ou mais de 18 mil km (se
forem veículos e caminhões) nos últimos 12 meses devem ser
individualmente avaliados quanto à necessidade de continuarem
presentes na frota. Há casos excepcionais e especiais, como am-
bulância, caminhão-oficina, trator guincho e outros que devem
continuar. Mas os demais, aqueles que não tiverem justificativa
bastante verossímil, devem entrar no leilão, levando suas peças
do almoxarifado junto.
AVALIAÇÃO DO ALMOXARIFADO
DA SUA USINA
A equipe da RPA Consultoria está capacitada para realizar,
com metodologia própria e objetiva, uma avaliação detalhada do
almoxarifado automotivo de sua usina, identificando pontos de
enxugamento e redução de custo com peças, almoxarifes e até
ganhos com leilões dos desperdícios.
Este trabalho é independente, mas é melhor aproveitado quan-
do da união com a metodologia de MAD (Manutenção para Alta
Disponibilidade) que a RPA desenvolveu para ocorrer em 2 tur-
nos de 10 horas no CCT.
* Ricardo Pinto é sócio-diretor da RPA Consultoria e da revista
RPAnews
Controlar a requisição individual de porcas não traz nenhuma
vantagem

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Como reduzir o custo do almoxarifado automotivo em usinas de cana

  • 1. 42 *Ricardo Pinto Com a mecanização de praticamente 90% de todas as ati- vidades e processos de produção de cana na região Centro-Sul do Brasil - desde o plantio até a colheita -, a necessidade de se manter alta a disponibilidade mecânica de uma frota cada vez maior refletiu num forte crescimento do custo do almoxarifado de peças automotivas. Hoje, não é difícil achar usinas cujo almoxarifado automotivo atinja o valor de R$ 2 por t de cana processada. Assim, uma usina que processe 2,4 milhões de t de cana por ano pode ter mais de R$ 4,8 milhões em estoque de peças automotivas, sem citar as compras (ou alocações) diretas de materiais. Isso acontece não só pelo crescimento da frota, mas também pelo seu envelhecimento, fruto da crise setorial, e pela grande diversidade de modelos de equipamentos que uma frota de usi- na canavieira precisa ter. Se há usinas com R$ 2 por t de cana ou mais no seu almoxarifado automotivo e que poderiam ter R$ 0,95 por t de cana ou menos, surge a pergunta: como sair do pa- tamar mais caro e ir para o mais barato, economizando até R$ 1,05 por t de cana? CONHECER PARA DIAGNOSTICAR Diferentemente de estoques de outras indústrias, o almoxari- fado automotivo de usinas apresenta uma série de características que demandam ações específicas. Vamos a estas características: 1º - Impossível ter todos os itens em estoque: usualmente o estoque de uma usina canavieira costuma ter entre 7 mil e 12 mil itens cadastrados no seu sistema. Contudo, se con- siderarmos que uma usina média do Centro-Sul possui 394 equipamentos motorizados em sua frota própria e que, para cada modelo definido pelo fabricante, haja 3,7 equipamentos iguais na frota, esta usina terá de dar manutenção em apro- ximadamente 107 modelos de equipamentos em sua frota. E se cada modelo de equipamento usar 5 mil itens para ser fabricado e houver um índice de 20% de uso de mesma peça em modelos diferentes, chegaremos a um universo estimado de 428 mil itens que poderiam ser trocados nesta frota, ou seja, 45 vezes mais itens do que há no cadastro das usinas. 2º - Maior parte das manutenções é corretiva: numa frota ca- navieira, a enorme maioria das Ordens de Serviço de Manu- tenção é aberta para fazer manutenções corretivas (conserto de quebras). Este tipo de manutenção não obedece a critérios estatisticamente bem definidos de ocorrência. Muitas usinas possuem desnecessariamente muito dinheiro parado em seu almoxarifado de peças para a frota. Este é o caso, via de regra, daquelas cujo valor total de peças no almoxarifado dividido pela moagem anual da usina ultrapassa R$ 0,95/t de cana gestão
  • 2. 43 3º - Revisão (ou reforma) de entressafra costuma recuperar itens para durar uma safra: na entressafra, grande parte da frota sofre uma revisão que busca deixá-la apta para operar sem grandes corretivas por oito a nove meses. 4º - Lead time (período de reposição) é alto: como as usinas constantemente fazem muitas compras de peças, o processo de pedido de compra até haver a emissão das solicitações de cotação costuma demandar pelo menos um dia para as peças de um determinado lote. Para as cotações retornarem de pelo menos três empresas fornecedoras, é necessário mais um dia. Daí deve haver a aprovação da compra com duas a três assi- naturas de diretorias e/ou gerências, dependendo da alçada, o que representa pelo menos mais um dia. Posteriormente, ain- da há uma renegociação junto com a empresa ganhadora da cotação, incluindo forma e prazo de pagamento, o que pode implicar mais um dia. Se a empresa enviar rapidamente os itens comprados, como as usinas não costumam estar próximas dos centros de distribuição de peças, isso pode demandar de dois a três dias para entrega. Quando as peças chegam à usina, de- vem ser conferidas e armazenadas, o que pode implicar em até outro dia. Logo, o lead time costuma ser de sete a oito dias. 5º - Usinas buscam eliminar as compras diretas: pelo fato de não haver a devida cotação com demais concorrentes e nem tempo hábil de negociação, os setores de compras das usinas insistem para que as compras ou alocações diretas de peças sejam minimizadas ou até eliminadas. ESTOQUE MÍNIMO NÃO MELHORA DISPONIBILIDADE Vários já foram os exemplos de usinas que lotaram seu almo- xarifado automotivo de itens com estoque mínimo atendido e, para a sua surpresa, a disponibilidade mecânica da frota, principalmente na segunda metade da safra, continuou a cair, como acontecia antes. Afinal, é impossível e impensável ter em estoque suprimentos suficientes para cobrir mais de 400 mil itens que podem falhar ao acaso numa frota de usina. CONFLITO: COMPRAS X MANUTENÇÃO DE FROTA É comum ouvir do pessoal de manutenção automotiva das usinas que seu departamento de compras não os atende adequadamente, pois o tempo entre o pedido de compra e a chegada de determina- da peça sempre é grande, prejudicando a disponibilidade da frota. Paralelamente, o departamento de compras reclama da impre- visibilidade que existe na área de manutenção automotiva quanto à demanda de peças. Daí o almoxarifado fica cheio, mas com baixo giro dos itens. SOLUÇÃO: MUDANÇA DE FAZER MANUTENÇÃO Se a equipe de manutenção da usina continuar fazendo prio- ritariamente atendimentos corretivos que surjam aleatoriamente, quando somente no ato do atendimento é que se verificará qual ou quais peças terão de ser trocadas, e sabendo que o pedido de compra de peças que não existam no estoque é de sete a oito dias, tanto a área de Compras como a área de Manutenção Automotiva estarão sempre correndo atrás, bem atrás, do problema. Nem o almoxari- fado inchado resolve. É fundamental que se mude a forma como se diagnostica a ne- cessidade de peças. Ao invés de se descobrir a necessidade da peça somente após a sua quebra, é preciso que haja inspeções periódi- cas do estado das peças, identificando peças que vão sofrer falha e disparando o pedido de sua compra antes. Pelo menos oito dias antes de sua quebra. Isso é possível se, além de cuidar das manutenções corretivas, a equipe de manutenção do campo também tiver a atribuição de fazer inspeções detalhadas de rotina dos equipamentos, informando a um responsável pelo PCMA (Planejamento e Controle de Manutenção Automotiva) das peças que já devem ter pedidos de compra dispa- rados por estarem em processo de avaria adiantado. ESTOQUE MÍNIMO Com as inspeções ocorrendo da forma como esperado, bastará a usina ter cadastrado em seu sistema de almoxarifado automotivo os itens de giro em até 90 dias. EXEMPLO DE AVALIAÇÃO DE ALMOXARIFADO AUTOMOTIVO DE USINA É impossível ter no almoxarifado todos os itens que possam ser demandados pela frota de uma usina
  • 3. 44 Numa avaliação de almoxarifado automotivo recentemente efetuada pela RPA Consultoria em usina com capacidade para pro- cessar quase 3 milhões de t de cana por ano, de aproximadamente 6.900 itens cadastrados com estoque, apenas 40,3% deles estavam com giro menor ou igual a 90 dias. São estes itens que se pode di- zer que são de “consumo regular” e que merecem figurar dentre os itens com estoque mínimo e ponto de ressuprimento automático. Vale dizer que os 40,3% de itens com giro até 90 dias represen- tavam 48% do valor total com itens armazenados no almoxarifado automotivo daquela usina. Além disso, o giro médio do almoxari- fado automotivo desta usina ultrapassava um ano. AGREGADOS DE RESERVA Uma prática também bastante positiva para conseguir separar o tempo de atendimento do tempo de espera de compra de peças é ir construindo os agregados (ou kits) de reserva, tais como di- visor de linha e elevador de colhedora de cana, rodante de trator de esteira etc. Assim, quando houver alguma falha em algum lugar destes agregados, faz a substituição completa do agregado, liberando o equipamento para trabalhar. O agregado com dano passará a ser consertado com mais vagar e, se necessário, perdendo tempo ao aguardar peças em processo de compra, mas sem interferir no de- sempenho do equipamento em que estava antes. É importante que o almoxarifado disponha de uma área para armazenar e mesmo controlar os agregados de reserva. MÍNIMO IGUAL A ZERO Grosso modo, a ideia que se sugere é que o estoque mínimo para itens cujo giro ultrapasse 90 dias seja zero, ou seja, nenhuma peça. Como todos os itens que não sejam de consumo serão inspe- cionados e acompanhados durante os dias de trabalho dos equipa- mentos nos quais estejam, assim que o pessoal de campo informar o PCMA de sua futura necessidade de troca, sua compra será dis- parada, mas ainda com o equipamento em funcionamento. Desta forma, somente haverá o cálculo do ponto de ressuprimento para os itens cujo giro seja menor ou igual a 90 dias. EVITAR O CONTROLE DESNECESSÁRIO É importante lembrar que, às vezes, a equipe do almoxari- fado automotivo implanta rotinas de controle que não agregam nenhum valor, apenas tomando tempo e foco de usuários e co- laboradores. Tal é o caso de se exigir que itens de baixíssimo valor unitário sejam controlados individualmente. Por exemplo, porcas, arruelas e parafusos costumam ser controlados individu- almente em algumas usinas. Para se ter uma ideia, no custo por hora de trabalho de uma colhedora de cana, se informarmos a requisição individual de cada porca e parafuso usado nela durante um mês, dificilmente este custo irá aparecer na segunda casa depois da vírgula, ou se- ja, ele nem atingirá R$ 0,01/hora. Além disso, o fato de se exi- gir a requisição individual em nada dificulta o roubo das peças, se este for o desejo do mecânico. E ainda toma tempo precioso dele nesta tarefa inútil. Então, por que este controle individualizado continua a acon- tecer? A sugestão é que se implantem almoxarifados self service para estes itens, com o custo das porcas, arruelas e parafusos (R$/ quilograma) de colhedoras de cana usados em um mês, sendo rateados para todas as colhedoras naquele mês. LEILÃO Finalmente, os itens de giro mais lento e que não tenham mais equipamentos presentes e atuantes na frota que os recebam, devem ser eliminados do almoxarifado automotivo. Aqui se indica também que equipamentos motorizados pre- sentes na frota da usina que não tenham trabalhado mais de 1 mil horas (se forem tratores e máquinas) ou mais de 18 mil km (se forem veículos e caminhões) nos últimos 12 meses devem ser individualmente avaliados quanto à necessidade de continuarem presentes na frota. Há casos excepcionais e especiais, como am- bulância, caminhão-oficina, trator guincho e outros que devem continuar. Mas os demais, aqueles que não tiverem justificativa bastante verossímil, devem entrar no leilão, levando suas peças do almoxarifado junto. AVALIAÇÃO DO ALMOXARIFADO DA SUA USINA A equipe da RPA Consultoria está capacitada para realizar, com metodologia própria e objetiva, uma avaliação detalhada do almoxarifado automotivo de sua usina, identificando pontos de enxugamento e redução de custo com peças, almoxarifes e até ganhos com leilões dos desperdícios. Este trabalho é independente, mas é melhor aproveitado quan- do da união com a metodologia de MAD (Manutenção para Alta Disponibilidade) que a RPA desenvolveu para ocorrer em 2 tur- nos de 10 horas no CCT. * Ricardo Pinto é sócio-diretor da RPA Consultoria e da revista RPAnews Controlar a requisição individual de porcas não traz nenhuma vantagem