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Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
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Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?

  1. 14 O mercado de venda de usinas voltou a esquentar no Brasil. Entenda como funciona a due diligence agrícola, uma das mais importantes ferramentas para definir o sucesso ou o fracasso de quem compra uma usina canavieira *Ricardo Pinto Depois de uma forte onda de fusões e aquisições de usinas na segunda metade dos anos 2000, este movimento caiu muito de 2012 até 2015 (Figura 1). Contudo, com a sinalização de me- lhora dos preços internacionais do açúcar e do fim do controle artificial da inflação pelos preços dos combustíveis em 2016, vol- tou o interesse pela compra parcial ou total de usinas brasileiras, principalmente daquelas usinas e grupos em crise, os chamados distressed assets (ativos depreciados). Como neste mercado de Fusões e Aquisições há muitas termi- nologias em inglês, este artigo também se preocupará em elencar as palavras mais comuns usadas em inglês com suas respectivas traduções. Assim, as quatro operações de 2016 foram a compra da até então única usina da ADM no Brasil pela CMAA, a aquisição da participação da Petrobras na Nova Fronteira e na Guarani por São Martinho e Tereos, respectivamente, bem como a compra da Unialco em leilão pela Glencore. E o ano de 2017 começou ain- da mais aquecido em relação às Fusões e Aquisições de usinas, também chamadas de M&A (Merger and Acquisitions), princi- palmente na região Centro-Sul. COMO SE DESENROLAM OS PROCESSOS DE M&A DE USINAS? Ainda há quem acredite que usinas ou grupos de usinas sejam vendidos por corretores, como acontece com apartamentos, fa- zendas e carros. Desde 2006, quando a Infinity comprou a antiga Coopernavi (hoje Usinavi) e também a Alcana, não existe mais a figura de corretores em tais operações. Quem costuma fazer as vezes de corretor nestes negócios são os bancos de private equity. agrícola
  2. 15 Um processo de M&A de usina (ou grupo de usinas) é bastante complexo e dificilmente acontece em menos de seis a oito meses, mes- mo que a venda, ao final, não se concretize. De forma bastante sucinta, o quadro de processos de M&A mostra as duas óticas: do vendedor e do comprador da usina (Veja no infográfico). O QUE É UMA DUE DILIGENCE? Quando pretendemos comprar um carro usa- do, os especialistas sugerem que não acredite- mos em tudo que o vendedor diz do seu veículo, que não visitemos o carro de noite (quando a iluminação ruim pode nos impedir de ver danos e amassados na lataria) e que levemos um me- cânico junto para que ele faça uma averiguação do estado do carro, principalmente dos itens com maior risco de nos deixar arrependidos da com- pra, como motor e câmbio. Guardadas as proporções, a due diligence é um processo similar de averiguação das informa- ções fornecidas pela empresa à venda e também de investigação de demais itens e fatores que apresentem risco de surpreender negativamente o potencial comprador após assumir a empresa comprada. POR QUE A DUE DILIGENCE AGRÍCOLA É TÃO IMPORTANTE? Atualmente, a participação do custo agrícola no custo operacional total (ou Operational Ex- penditure: Opex) de uma usina canavieira gira em torno de 76%, como demonstra a Tabela 1, oriunda de minucioso levantamento efetuado pe- la empresa Sucrotec. Aliás, este levantamento de custo, efetuado há vários anos, demonstra que o custo agrícola tem crescido sua participação no custo final das usinas ao longo dos anos (Figura 2), tendo saído de 69,5% na safra 2005/2006 para, 10 anos de- pois, atingir 75,6% na safra 2015/2016. Logo, três quartos dos custos e, obviamen- te, três quartos dos riscos e surpresas (positivas ou negativas) de uma usina estão na sua parte agrícola da sua operação. Esta é a razão da im- portância da Due Diligence Agrícola de usinas. COMO É UMA DUE DILIGENCE AGRÍCOLA? Agora que já entendemos sua importância, precisamos detalhar como é com- posta uma Due Diligence Agrícola completa e eficaz de usina candidata à venda. Costumamos dividir a due diligence em 17 temas, sendo que alguns se entrelaçam: a) Avaliação das condições edafoclimáticas da região e uso da terra onde a usi- na está inserida: • quais são os tipos de solo e topografia da região; • como é a distribuição de chuvas, as temperaturas e suas amplitudes; • qual é o balanço hídrico, a evapotranspiração e necessidade de irrigação da região; • quais os valores de referência para arrendamento de terra (t cana/ha e R$/t cana) na região; • quais os tipos de contratos de arrendamento e de compra de cana na região; • quais as demais culturas agrícolas e usinas competidoras por cana e terra na região; • qual a infraestrutura de rodovias, ferrovias e hidrovias para escoamento de produção de açúcar e/ou etanol para os mercados interno e externo. b) Identificação do mais apropriado sistema de produção de cana para a usina, considerando: • período útil de industrialização da cana (número de dias úteis por safra); • principais práticas agrícolas recomendadas para a região; • definição dos melhores períodos ao longo do ano para plantio de cana; • potencial de mecanização para colheita e plantio de cana; • riscos de eventos climáticos extremos, como geadas, furacões e inundações; • distância média de canaviais à indústria e benchmarking de usinas na mes- ma região; • verificação de documentação do Plano de Aplicação de Vinhaça (PAV) e status do cronograma de atendimento à norma Cetesb P4.231, se usina es- tiver no Estado de São Paulo; • verificação de documentação do Plano de Eliminação de Queima de Cana
  3. 16 ÓTICA DO VENDEDOR DA USINA 1) Contratação de um Adviser: normalmente um banco de private equity ou uma consultoria especializada em M&A para assessorar a usina em todo o processo de venda. 2) Avaliação do valor da usina (Valuation): construção de modelo matemático, normalmente uma planilha Excel, contendo um fluxo de caixa descontado da geração futura de caixa da usina com cenários de produção e custos, de forma a definir um valor atrativo de venda. 3) Mandato de venda da usina: um banco de private equity ou mesmo o próprio Adviser já contratado recebe o mandato de vender a usina nas condições estabelecidas pelo Valuation realizado. 4) Preparação da documentação para divulgação da venda: mon- ta-se um teaser (ou book de venda) da usina para ser apresentado às prováveis empresas candidatas à compra. Neste material consta um breve resumo do mercado de atuação da empresa, os diferenciais e as projeções financeiras da empresa. 5) Roadshow junto a potencias candidatos à compra: abordagem das empresas que podem ter interesse na compra pelo Adviser, con- vidando-as para participar do processo de M&A. 6) Acordo de Confidencialidade (ou Non-Disclosure Agreement: NDA) é assinado por interessados no negócio para ter acesso ao Memorando de Informações (ou Confidential Information Memorandum: CIM). 7) Non-binding offer ou Indicative offer: inicia-se a fase em que os potenciais compradores fazem uma oferta não vinculante pela compra da usina, ou seja, oferecem um preço caso a usina tenha as características e seja da forma como imaginam, ainda sem a conhe- cerem a fundo. 8) Escolha de candidatas à compra para aprofundarem-se no co- nhecimento da usina à venda: a usina à venda escolhe as ofertas mais atraentes de alguns dos potenciais compradores para partici- parem da nova fase, quando terão acesso a todas as informações da usina à venda. 9) Acesso ao data room e execução de due diligences (diligências prévias): agora os potenciais compradores terão acesso a todas as informações do data room, farão visitas às dependências da usina e aos canaviais e também enviarão equipes para fazerem as due di- ligences legal, contábil/financeira, agrícola, industrial, comercial e sócio-ambiental, com apoio e supervisão da equipe da usina à venda e de seu Adviser. 10) Binding offer: com total conhecimento da usina à venda, agora os candidatos devem fazer suas ofertas vinculantes (Binding offer), ou seja, as propostas firmes de preço pela aquisição da usina. 11 )Finalização da venda: quando a oferta mais atrativa é escolhida e os termos finais da venda são estipulados, acordados e contratados. ÓTICA DO COMPRADOR DA USINA 1) Conhecimento da usina à venda em roadshow: após tomar conhecimento da usina à venda, empresa candi- data à compra monta um time para tocar o processo. 2) Escolha de um Adviser: equipe da empresa candi- data à compra normalmente contrata um banco de private equity ou uma consultoria especializada em M&A para assessorá-la em todo o processo de compra. 3) Assinatura do Acordo de Confidencialidade: acor- do é assinado para ter acesso ao Memorando de In- formações. 4) Avaliação do valor da usina (Valuation): constru- ção de modelo matemático, normalmente uma plani- lha Excel, contendo um fluxo de caixa descontado da geração futura de caixa da usina com alguns cenários de produção e custos, de forma a definir um valor atrativo de compra da usina. 5) Non-binding offer ou Indicative offer: faz-se uma oferta não vinculante pela compra da usina, ou seja, oferecem um preço caso a usina tenha as caracterís- ticas e seja da forma como imaginam, ainda sem a conhecerem a fundo. 6) Indo para a próxima fase, contratação de empresas para due diligences: com a ajuda do Adviser, serão escolhidas e contratadas as empresas especializadas para fazerem as due diligences legal (incluindo tribu- tária, trabalhista e previdenciária), contábil/financei- ra, agrícola, industrial, comercial e socioambiental. 7) Acesso ao data room e execução de due diligen- ces: agora os potenciais compradores irão conhecer a fundo a usina à venda acessando seu data room, fazendo visitas às dependências da usina e aos cana- viais, bem como enviando equipes para fazerem as due diligences. 8) Binding offer: de posse dos relatórios das due dili- gences e do maior conhecimento da usina, os fluxos de caixa descontados são atualizados e até refeitos, para que se chegue a um valor adequado e seguro para ser ofertado de forma vinculante pela usina, ou seja, a Binding offer. 9) Finalização da venda: quando a oferta mais atrativa é escolhida e os termos finais da venda são estipula- dos, acordados e contratados.
  4. 17 (PEQ) e status de atendimento; • potenciais ameaças à continuidade do negócio, como presença de movi- mentos sociais, descumprimento de leis atuais ou futuras, áreas de pragas endêmicas e biomas ou ambientes protegidos. c) Checagem do planejamento agrícola informado pela usina na safra atual e para as safra futuras, incluindo: • o plano de manejo da cana nos próximos anos (quadro de evolução da la- voura, área de plantio e métodos de plantio – 12 meses, 18 meses e/ou de inverno); • os mapas de solos, ilustrando os ambientes de produção de cana que estão e serão ocupados; • o planejamento de uso de insumos agrícolas e a utilização de resíduos agroin- dustriais. d) Avaliação das variedades de cana em uso e em plantio recente, incluindo: • quadro varietal atual versus o quadro recomendado em função da matriz de variedades para cada ambiente de produção da usina; • potencial de variedades e as recomendações para seu emprego na usina; • análise dos viveiros existentes e seu estado fitossanitário; • avaliação dos contratos existentes com provedores de novas variedades. e) Avaliação das atividades agrícolas e de seus KPIs (indicadores-chave de de- sempenho) a partir de controles informatizados agroindustriais instalados na usi- na, tais como: • plantio de cana manual e mecanizado; • colheita manual e mecanizada, carregamento/transbordo e transporte; • técnicas adotadas de conservação do solo para o controle da erosão; • verificação da evolução da produtividade agrícola e do rendimento de açú- cares (t/ha e ATR/t); • número de cortes por ciclo e porcentagem de renovação anual dos canaviais; • porcentual realizado e tipos de operações agrícolas mecanizadas; • infraestrutura e equipamentos de irrigação existentes, incluindo verificação de outorgas existentes para uso de água para irrigação de cana; • benchmarking de rendimentos agroindustriais (t/ha e ATR/t) de usi- nas da região, separando cana pró- pria de cana de fornecedores. f) Vistoria em campo (site visits) dos cana- viais, subdivididos em: • canaviais instalados atualmente (ca- na soca), onde será identificada a re- al qualidade destes canaviais em ter- mos do que já foi realizado (tratos culturais de cana soca, irrigações e/ ou fertirrigações, nível de controle de plantas daninhas, infestação de pragas, danos por doenças, falhas de stand e estágio de desenvolvimento dos canaviais); • canaviais recém-plantados, onde se verificará o seu estado atual em ter- mos de manejo do campo (falhas de stand, nível de controle de plantas daninhas, ajuste da variedade, nutri- ção realizada, identificação de do- enças, presença de insetos, dentre outros). g) Construção da projeção independente de produção da cana própria (cana em terras próprias da usina e em terras ar- rendadas) para a próxima safra e pelo menos das 4 safras subsequentes, incluin- do estimativa de produtividade agrícola por corte e de ATR e ART mensal da cana en- tregue à indústria. h) Estimativa de cana disponível de forne- cedores contratados na safra em curso e nas seguintes, juntamente com avaliação de cana disponível de fornecedores atualmen- te na região, dentro de uma distância eco- nômica para venda à usina em avaliação. i) Cálculo de demanda por renovação de canaviais próprios pelo menos nos próxi- mos cinco anos. j) Verificação dos custos operacionais (Opex) realizados e projetados de pre- paro de solo, plantio de cana, tratos cul- turais de cana planta, tratos culturais de cana soca e CTT da usina comparando-os
  5. 18 com os de mercado para identificar processos que não sejam competitivos e suas causas. k) Estimativa de moagem total de cana da usina nas próximas cinco sa- fras considerando em separado a cana própria e a de fornecedores já contratados, ilustrando prováveis gaps de capacidade industrial e de- manda por expansão e/ou maior compra de cana ano a ano. l) Diagnóstico das principais causas do desempenho agrícola da usina na safra em curso e risco destes fatores persistirem nas safras seguintes, bem como ações mitigadoras e/ou saneadoras a serem tomadas. m) Avaliação detalhada da frota existente na usina com identificação e produção de laudo do estado de cada equipamento, incluindo equipa- mentos de irrigação/fertirrigação. n) Avaliação do quadro de funcionários, do organograma e da qualidade da gestão agrícola. o) Projeção independente da demanda atual de investimento (Capital Ex- penditure ou Capex) para aquisição e/ou renovação de frota (colhedoras, tratores, caminhões, máquinas e implementos) para realização de serviços agrícolas demandados de formação, tratos e/ou CTT de canaviais da usina, além de projeção para pelo menos mais 4 safras. p) Apoio completo ao Adviser na construção de cenários de Fluxo de Caixa descontado no tocante às assumptions (premissas) agrícolas, de forma a se obter um seguro valuation da usina para ser apresentado como Binding offer. q) Análise final de riscos (com sua materialidade, ou seja, impacto finan- ceiro provável) e oportunidades agrícolas oferecidos pela usina à venda. Para cumprir estes 17 temas numa usina, costuma ser necessário ao redor de 60 dias de trabalho árduo de uma equipe multidisciplinar de diversos espe- cialistas, como a que a RPA Consultoria possui. Vale dizer que, tendo realizado 68 due diligences agrícolas de usinas, tanto no Brasil como no exterior nos últimos 11 anos, e com mais duas delas em cur- so, a equipe da RPA Consultoria desenvolveu muitas das metodologias hoje adotadas em projeções e ava- liações de due diligences agrícolas de usinas, como a do cálculo do potencial de produtividade agrícola e a da projeção da curva potencial mensal de ATR. ALGUNS FRACASSOS EM M&A DE USINAS Como se pode depreender de tudo o que foi apresentado até aqui, é impossível que apenas uma pessoa consiga fazer uma due diligence agrícola completa, seja ela um ótimo professor de universi- dade, um experiente ex-gerente agrícola de usinas ou mesmo um preparado consultor, mas que traba- lhe sozinho. E se todos os temas listados acima não forem eficazmente tratados, há grande chance de proble- mas e/ou riscos importantes deixarem de ser vistos, causando brechas para arrependimentos e até pesa- delos posteriores. Como exemplo, haja vista que o NDA que eu as- sinei venceu já faz quase sete anos, posso citar um caso bastante emblemático. Entre junho e meados de julho de 2007, realizamos, eu e minha equipe, a due diligence agrícola das três usinas (Usina São Luiz, Usina São João da Boa Vista e Usina Maluf) da então Dedini Agro para a empresa australiana CSR. Na disputa final entre CSR e a espanhola Aben- goa, o maior preço ofertado foi o da Abengoa, que não havia feito due diligence agrícola nas usinas. A CSR tinha chegado no seu limite e teve de parar no leilão que se criou entre as duas candidatas à compra. Porém, desde que a Abengoa assumiu o controle da Dedini Agro, o mantra que tem sido rezado interna- mente nas usinas é o de que compraram “gato por lebre” em termos de cana disponível e capacidade de moagem. Há vários outros casos de usinas e grupos compra- dos nos últimos anos que, por falta de due diligence agrícola ou por due diligence agrícola superficial e/ou malfeita, em nenhum momento conseguiram concre- tizar os planos de negócio traçados quando da com- pra. É como comprar carro usado à noite sem levar o mecânico junto. *Ricardo Pinto é engenheiro agrícola, administra- dor de empresa e mestre em Agronomia, além de sócio fundador da RPA Consultoria, com 30 anos de experiência no setor sucroenergético, sendo 23 anos como consultor
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