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1
Uma história social da mídia, tecnologia e escolarização
Vanessa Domine
Resumo
O artigo explora a literatura que relaciona os campos da mídia, tecnologia e escolarização,
nos Estados Unidos ao longo dos últimos dois séculos. A indagação está organizada em
uma perspectiva sócio-histórica, a partir de uma entrevista ficcional com uma arquetípica
professora da terceira geração de profissionais da escola pública urbana. Esta topografia
ilustra os problemas e possibilidades que emergem da contínua inserção de tecnologia nas
escolas. Dignos de nota são as referências feitas ao privilégio da oralidade e do letramento
na leitura realizada na escola primária, a mecanização da atividade escolar a partir das
máquinas de ensinar e da televisão, e o potencial transformador, ainda ser explorado, dos
computadores e da internet.
Palavras-chave: Educação midiática, história da mídia, história da educação, tecnologia,
letramento midiático.
Para entender e avaliar melhor as complexidades e desafios da educação midiática (media
literacy) na era digital, este ensaio faz uma reflexão a partir de uma relação histórica entre
mídia, tecnologia e vida escolar nos Estados Unidos. Embora essa história seja bem
estabelecida, ela está cheia de tensões e contradições1
, este ensaio segue a linha de outras
histórias sociais do ensino por combinar a pesquisa que ilustra uma história complexa que
é problemática, ao mesmo tempo em que repleta de possibilidades2
. O que se segue é uma
entrevista ficcional entre eu mesma e Grace Dubois, uma professora de inglês da sétima
série do nordeste dos Estados Unidos. Por meio desta conversa, o ensaio esboça em
grandes traços uma paisagem de duzentos anos de perspectivas, políticas e práticas
relacionados com a tecnologia e seus usos na educação. Mencionando revistas conhecidas,
artefatos e histórias orais, Grace explora sua própria identidade como uma professora
experiente e vislumbra o que significa ser uma professora no milênio de uma era pós-
digital.
***
1
Larry Cuban, Teachers and Machines: The Classroom Use of Technology Since 1920 (New York: Teachers
College Press, 1986).
D. LaMont Johnson e Cleborne D. Maddux, Technology in Education: A Twenty-Year Retrospective
(Philadelphia: Haworth Press, 2003).
2
Rosetta M. Cohen e Samuel Scheer, The Work of Teachers in America: A Social History Through Stories
(Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 1997).
Pamela B. Joseph, “One hundred years of schoolteaching: An invented interview,” In Images of
Schoolteachers in America, ed. Pamela B. Joseph e Gail E. Burnaford (Mahwah, NJ: Erlbaum, 2000), 3-27.
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2
Entrevistadora: Vamos começar com sua história, o que fez você escolher ser professora?
Grace: Você poderia dizer, ao contrário, que foi o ensino que me escolheu. Minha bisavó,
Beulah Mae Greene, foi uma reformista do oeste que ensinou numa pequena escola
doméstica em Indiana durante os anos de 1860. Sua filha, Bessie Virginia Greene, ensinou
nas escolas públicas de Nova Iorque no final dos anos 1890. Sua filha é minha mãe, Eloise
Dubois, que deu aulas na terceira série por 48 anos. Um ano após minha mãe aposentar-se,
eu recebi uma licença docente em Inglês. Atualmente, eu ensino na zona urbana de Nova
Jérsei.
Entrevistadora: Por que você acha que há tantas professoras na sua família?
Grace: Bem, nós trabalhamos realmente duro e até as últimas décadas o ensino era a única
profissão aceitável para uma mulher solteira ambiciosa3
. Minha bisavó Beulah Mae era
uma mulher educada e também uma protestante dedicada. Ela cursou a Escola Normal de
Rhode Island e depois foi para o oeste em 1856, com 19 anos. Seu primeiro emprego como
professora foi numa escola rural com uma única classe em Indiana. Ela escreveu em seu
diário sobre sua forte crença na ideia de Horace Mann de escola primária para servir a
todas as classes e religiões4
. Creio que minha bisavó acreditava firmemente que sua missão
na vida era o ensino escolar.
Entrevistadora: Como era para sua bisavó ensinar nos Estados Unidos durante os anos de
1850?
Grace: Bem, houve um intenso fluxo de imigrantes do leste europeu que eram muito
pobres e falavam diferentes línguas5
. Beulah ensinou estudantes de todas as idades em sua
escola de turma única. Ela escreveu em seus diários sobre ter certeza de que cada um de
seus estudantes aprendeu “retidão moral”. Sua missão era salvar essas “pobres crianças
imigrantes” ao ensinar-lhes o inglês e a Bíblia. Acredito, a partir de seus diários, que sua
meta como professora era principalmente religiosa. Todo dia ela iniciava a jornada escolar
rezando com os estudantes. Depois, ela ia para uma lição de leitura. Desse modo, a
alfabetização era essencialmente um veículo para a religião6
. E ser um bom cidadão
americano era um produto de tornar-se letrado.
Entrevistadora: Havia tecnologias de qualquer tipo na escola naquela época?
Grace: Eu não sei se você consideraria a oração uma tecnologia, mas a palavra falada
certamente reinou absoluta em meados do século dezenove. As crianças aprendiam a ler
por métodos fônicos e fonéticos – pronunciando letras, misturando-as. Ao lê-las em voz
alta, eles iriam ter um entendimento das palavras de Deus. A palavra falada – e
3
Madelyn Holmes e B. J. Weiss, Lives of Women Public Schoolteachers: Scenes From American Edu-
cational History (New York: Garland, 1995).
4
Herbert Kliebard, The Struggle for the American Curriculum, 1893-1958 (New York: Routledge, 2004).
5
Paula Fass, Outside In: Minorities and the Transformation of American Education (New York: Oxford
University Press, 1991).
6
Matthew Hale Smith, William Bentley Fowle e Horace Mann, The Bible, the Rod and Religion in Common
Schools (Boston: Redding, 1847).
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3
especialmente a prece – era, ao menos para Beulah Mae, sagrada e um poderoso método de
ensino7
.
Entrevistadora: Assim, os livros eram os meios principais para o ensino?
Grace: Pelo que posso recolher dos diários de Beulah Mae, os instrumentos eram bastante
simples em 1857. Ela usava cadernos em branco, lápis de carbono, ardósias e esponjas
principalmente para os estudantes aprenderem como desenhar letras e imitar a escrita à
mão8
. Eu tenho um antigo daguerreotipo dela em frente a uma lousa de ardósia. Ela
escreveu o quanto ficou excitada por ensinar mais estudantes por ficar na frente da sala ao
invés de perambular entre cada aluno e ensiná-los individualmente em suas próprias
ardósias9
. Beulah Mae era muito grata por aquela lousa gigante de ardósia, mesmo com
frequência engasgando na poeira ao limpá-la. Esta era uma das tarefas de que menos
gostava, e ela muitas vezes pedia ajuda aos alunos no que eu imagino que era uma tarefa
bastante complexa.
Entrevistadora: Quais livros sua bisavô utilizava na escola?
Grace: Beulah Mae mantinha três livros na sua mesa sempre: a Bíblia, o McGuffey’s
Fourth Eclectic Reader e o Dicionário Webster10
. Ela escreveu em seu diário sobre o
quanto ficou animada ao adquirir seu primeiro Eclectic Reader. Ele custou 75 centavos,
que era o pagamento por um dia e meio de trabalho. Ela escreveu: “Meus alunos adoram as
histórias da Bíblia, literatura e contos folclóricos. Eles dão às crianças uma sólida
formação quanto ao que acreditar e como se comportar”. Então, basicamente o currículo
era a lealdade a Deus, aos vizinhos e ao país – e nesta ordem particular11
.
Entrevistadora: Beulah Mae escreveu em seu diário sobre os seus métodos de ensino?
Grace: Creio que Beulah Mae queria que seus alunos lessem em voz alta, ao invés de
apenas imitar sua professora durante a recitação, o que era o costume na época. Ao ler
essas histórias juntos em vez alta, os estudantes davam vida a elas. Eu estava folheando um
desses Eclectic Readers e as ilustrações eram, de fato, bastante elaboradas e inovadoras
para aquele período. Num trecho de 1884, minha bisavó escreveu: “Tive imensa satisfação
por meus alunos conhecerem esta nova forma de arte, antes mesmo que as crianças das
ricas escolas da Nova Inglaterra”. Ela também tinha bastante orgulho de sua coleção de
mapas que levava com ela. Creio que podemos dizer que suas tecnologias eram voltadas
principalmente para a palavra falada – com alguns recursos visuais.
7
Gretchen A. Duling, Oral Life Histories of One-Room Schoolhouse Teachers: Voices from the Recitation
Bench (Lewiston, NY: Edwin Mellen Press, 1997).
8
Sarah Mondale, ed., School: The Story of American Public Education (Boston: Beacon Press, 2002).
9
R. G. George, “Technology and Teaching Methodology,” Contemporary Education 63 (1991): 62-64.
10
David L. Elliott e Arthur Woodward, eds., Textbooks and Schooling in the United States (89th Yearbook of
the National Society for the Study of Education, Part I) (Chicago: University of Chicago Press, 1990).
11
Dolores P. Sullivan, William Holmes McGuffey: Schoolmaster to the Nation (London: Associated Uni-
versity Presses, 1994).
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4
Entrevistadora: Você mencionou anteriormente que sua avó também foi professora?
Grace: Sim. Minha bisavó Beulah Mae parou de dar aulas em 1861, na época que ela se
casou com Clovis Dubois, que era um banqueiro. Eles tiveram três filhos – um dos quais é
minha avó, Bessie Virginia. Quando Bessie tinha 17 anos, ela foi para a cidade de Nova
Iorque. Era o auge da Revolução Industrial, quando houve um grande influxo de
imigrantes do leste europeu que praticamente triplicaram a população do país. Muitas
famílias moviam-se da zona rural para a urbana para trabalhar em fábricas e prosperar
economicamente. Mas minha avó Bessie escreveu que o sistema escolar era “rígido
demais” e debatia-se com a ideia de ver a escola como uma fábrica12
. Em 10 de março de
1904, ela escreveu em seu diário:
Hoje o inspetor disse-me que as escolas precisam possuir a “eficiência de uma
linha de montagem”, e que meu trabalho é “produzir bons trabalhadores para esta
nação”. Porém, eu me recuso a tratar meus queridos alunos deste modo. O que
posso imaginar que faço com os alunos que o inspetor considere “defeituoso”? Eu
deveria simplesmente tirá-los da “linha de montagem” e jogá-los de lado como
lixo? Embora não me atreva a desobedecer ao inspetor, continuo a pensar se meu
trabalho é ensinar as crianças ou produzir lâmpadas? O moderno sistema escolar
nada mais é que uma blasfêmia em sua ignorância da criatividade humana.
Creio que ela temia a possibilidade de ser surpreendida em algum momento por seu
inspetor. Vovó Bessie desejava parecer uma firme disciplinadora, porém dizia que isso era
difícil em uma sala de aula de terceira série em que os alunos variavam em idade de 5 a 18
anos e a maioria deles não tinha o inglês como língua mãe. Ela escreveu que um aluno
ficou “extremamente afeiçoado” a ela um dia e, após ela “ter uma conversa séria com ele”,
ele nunca mais voltou à escola.
Entrevistadora: Você acredita que as experiências de ensino de Bessie foram parecidas
com as de sua mãe?
Grace: Acredito que suas experiências foram bastante diferentes. Os diários e cartas da
avó Bessie pintam um retrato muito diferente da escolarização do que aquele da bisavó
Beulah Mae. Por um lado, Bessie estava na urbana cidade de Nova Iorque e não na rural
Indiana. As tradições orais e morais que minha bisavó Beulah Mae apreciava quando
utiliza o McGuffey’s na escola primária durante os anos de 1860 tinham desaparecido na
época que Bessie Virginia estava no auge de sua carreira docente em Nova Iorque no início
dos anos 190013
. O conteúdo religioso foi expurgado dos livros didáticos, o que ia contra a
filosofia da educação de sua mãe. Bessie estava interessada em teorias científicas e
métodos de ensino. Eu encontrei sua cópia anotada do How to Make a Curriculum de
Franklin Bobbitt. O que penso que minhas bisavó e avó compartilhavam era uma crença no
valor pedagógico da palavra falada. Bessie ficou desapontada ao ver a tradição oral
desaparecer nos anos 1930 quando a série de livros didáticos Dick and Jane surgiu e
promoveu a leitura silenciosa mais do que a recitação oral. Ela ficou bastante chateada que
12
Raymond E. Callahan, Education and the Cult of Efficiency (Chicago: University of Chicago Press, 1962).
13
Jonathan Zimmerman, Whose America? Culture Wars in the Public Schools (Cambridge, MA: Harvard
University Press, 2005).
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seu diretor tenha eliminado o método de recitação oral totalmente em 1930. Para ela, a
leitura em voz alta era uma atividade comunitária essencial na sala de aula.
Entrevistadora: Você mencionou que sua avó, Bessie, ensinou durante a Revolução
Industrial do início do século vinte. Isto coincidiu com o aparecimento de algumas das
principais tecnologias de comunicação, incluindo a máquina de escrever, o telefone, a
caneta esferográfica, o fonógrafo, a fotografia, o cinema e o rádio. Ela fez uso de algumas
delas em sua prática docente?
Grace: Em 1923, Bessie escreveu que a direção escolar tinha “recomendado fortemente” a
ela o uso do rádio e do filme em sua prática. Porém, pelo que posso dizer a partir de seus
diários e fotografias, ela usava principalmente livros, mapas e figuras. Ela conta que seu
diretor comprou um projetor de filmes e anunciou a todos os professores que o aparelho
iria por si só combater a instrução “entediante e sem vida” da sala de aula, revolucionando
o ensino dos professores. Vovó escreveu que exigiram que ela participasse de um dia de
treinamento em que um técnico mostrou a todos os professores como apresentar o filme a
seus alunos, realizando discussões paralelas, e inserindo atividades de classe entre trechos
do filme14
. Ela escreveu: “Algo que me consola é o fato de que os filmes são considerados,
ainda, complementares e não um substituto do professor”.
Entrevistadora: Ela usava filmes em sua sala de aula?
Grace: Na sua diretoria eles mostravam viagens de campo, demonstrações, dramatizações
e, no colegial, eles mostravam aulas gravadas – o que é interessante, uma vez que, de
acordo com o diretor, as aulas reais eram “entediantes e sem vida”. Vovó dizia que apenas
uns poucos professores, de fato, usavam filmes, e mesmo assim apenas para saciar a fome
de eficiência dos inspetores. Acredito que os estudantes provavelmente estavam ávidos
pela nova tecnologia, porém assistir a filmes não necessariamente ajudava-os a aprender o
assunto principal melhor ou mais rápido do que com o uso de métodos tradicionais15
.
Encontrei uma carta que Bessie recebeu de uma colega em Chicago que estava preocupada
em ser substituída por um projetor de filmes, como se o projetor e o professor fossem
intercambiáveis. A meta daquele tempo era aumentar a produtividade e a eficiência por
meio do uso do filme, porém vovó Bessie contou-me que quando ela se aposentou do
ensino em 1931 ela não tinha visto ainda nenhuma inovação real na educação como
resultado do uso de filmes na escola primária16
. Em vez disso, ela descobriu que quanto
mais os estudantes gostavam de um filme, menos de fato eles aprendiam dele. Creio que
Bessie utilizava os filmes como um meio instrucional; entretanto, tenho a impressão que
ela ficava frustrada com a abordagem burocrática, verticalizada, de implementação dos
filmes como uma tecnologia educativa nas escolas. Os técnicos e os políticos – não os
professores – estavam no comando da utilização de filmes em escolas. Ela estava mais
14
L. Paul Saettler, The Evolution of American Educational Technology (Englewood, CO: Libraries Unlim-
ited, Inc., 1990).
15
Ibid.
16
National Education Association, “Audio-Visual Education in City School Systems,” Research Bulletin 24
(1946): 131-170.
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interessada em estudar os filmes e programas de rádio como textos a serem analisados
criticamente mais do que em celebrar a própria máquina. Eu encontrei uma antiga cópia
surrada de Public Opinion de Walter Lippman com suas anotações nas margens. Com o
surgimento das pesquisas com leitores, os levantamentos de audiência, pesquisas de
opinião e estudos de propaganda, durante os anos 1920 e 1930, acredito que um monte de
educadores percebeu a importância de ensinar os estudantes a pensar criticamente sobre as
mensagens sendo transmitidas a diferentes públicos pelo cinema, pelo rádio e, afinal, pela
televisão17
. Mas havia, de fato, usos supérfluos das tecnologias naquela época.
Entrevistadora: Você pode dar um exemplo do que você considera “supérfluo”?
Grace: Meu exemplo favorito é a história que Bessie escreveu sobre a máquina de ensinar.
Após a Segunda Guerra, as Forças Armadas americanas tinham um grande excedente de
máquinas que foram usadas para treinar especialistas da Força Aérea. Eles mudaram a
temática de treinamento e colocaram-nas nas escolas18
. A administração escolar anunciou
que eles iriam colocar algumas dessas máquinas na sala de aula da terceira série de minha
mãe. Ela ficou furiosa no início. Até ela perceber que era bastante fácil apenas ignorá-las.
A máquina era mais uma espécie de mobília. Era basicamente um tabuleiro perfurado
contendo itens de múltipla escolha e a máquina iria avaliar as respostas do estudante e
repetir as questões até o estudante selecionar as que fossem corretas. Era uma espécie de
talão de resposta a testes, mas com a máquina dando a devolutiva na hora, de modo que os
estudantes poderiam testar e praticar. As máquinas liberavam o professor para fazer outras
coisas enquanto o estudante recebia instrução individualizada da máquina. Se o estudante
precisava de reforço ou praticar para um teste, então ele ou ela poderia usar a máquina de
costas para a sala de aula. Minha mãe admitiu que um ponto em que a máquina era útil era
para o ensino de soletração ou no ensino de língua estrangeira. Porém, ela frequentemente
brincava que sua sala de era um “depósito para guardar a sucata do governo”.
Entrevistadora: Sua bisavó, Beulah, era apaixonada pela Bíblia e pelo McGuffey’s
Eclectic Readers. Havia alguma tecnologia ao qual sua mãe, Eloise, estivesse
particularmente ligada?
Grace: Sem dúvida, a televisão. Bem mais por seu conteúdo de programação do que pela
tecnologia em si. Ela era uma adolescente quando seu avô levou-a em 1939 para a Feira
Mundial de Londres onde a televisão estreou. Ela lembra o quanto ficou impressionada
inicialmente com o que descreveu como “simplesmente um grande rádio com uma janela
na frente”19
. Entretanto, sendo uma adolescente na década de 1940, ela ficava vidrada
assistindo a Ozzie and Harriet e ao Ed Sullivan Show. Ela contava-nos sobre os jantares
familiares em que comiam com bandejas assistindo à TV na sala. Você pode ver em
fotografias antigas como a mobília da sala esta organizada ao redor da TV como um
17
E. C. Broome, Report of the Committee on Propaganda in the Schools (Atlanta, GA: National Education
Association, 1929).
18
B. F. Skinner, “Teaching Machines,” Science 128 (1958): 969-977.
19
George Gilder, Life After Television (New York: W.W. Norton & Company, 1994).
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santuário. Agora que penso sobre isso, aposto que a maioria das salas está configurada
deste modo hoje.
Entrevistadora: Eloise fez algum uso da televisão como professora?
Grace: Não tanto quanto você poderia imaginar. Em 1951, um comerciante local doou
aparelhos de TV para sua escola como parte de um projeto de pesquisa. E minha mãe foi
um dos professores que depois foi entrevistado para descobrir como eles estavam usando a
TV na sala de aula20
. Ela reconheceu que, naquela época, ela não se preocupava, de fato,
com o projeto de pesquisa ou mesmo com o uso da TV numa forma sistemática de ensino.
Ela simplesmente desejou ter um aparelho de televisão em sua sala de aula, como uma
“janela para o mundo lá fora”21
. Entretanto, a programação educacional para as salas de
aula era bastante limitada naquele momento. Os programas consistiam de recitais musicais,
entrevistas curtas, declamações e esquetes. Minha mãe escreveu sobre dois programas em
particular de 1959. Em um, o instrutor demostrava o método correto para escovar os
dentes. O outro ilustrava os movimentos de lábio e língua corretos para pronunciar
palavras francesas. Imagino que isso estivesse bem distante de Ozzie and Harriet durante a
hora do jantar, mas isso é compreensível, dado que os programas educativos durante as
décadas de 1950 e 1960 foram criados por técnicos para desenvolver ainda mais a
tecnologia da televisão, em vez de servir à educação22
. Numa linha similar, minha mãe
percebeu um aumento da pressão para o uso da TV após o lançamento pelos soviéticos do
Sputnik, em 1957. Nesta reforçada ênfase na tecnologia em si mesma, havia uma falta de
destaque sobre como ensinar com a televisão. Assumia-se simplesmente que todos os
estudantes assistiam e tomavam notas e assim a aprendizagem ocorria. De modo que a
maioria dos professores de escolas básicas não apenas gostava de utilizar a televisão, mas
passou a ser dependente dela23
. Estranhamente minha mãe não conseguiu localizar uma
única pesquisa durante os anos 1960 que mostrasse quaisquer vantagens de aprendizado
com o uso da televisão, em comparação com a aula ao vivo24
. Ela observou, contudo, um
aumento generalizado pelo interesse dos alunos em leitura, porém ele não atribuía isso à
assistência da TV por eles25
. Nesse momento seu supervisor defendeu que a conferência
pela televisão daria um “toque mais pessoal”. Isto enfureceu minha mãe. Ela enviou um
memorando para seu diretor, datado de outubro de 1961, perguntando: “Como podemos
comparar algo tão espontâneo com uma coisa tão estruturada?” Creio que ela sentiu que
seu diretor estava tentando direcionar as coisas ao mesmo modelo orientado à eficiência
que minha avó rejeitara na década de 1920. Tanto Beulah Mae quanto Bessie rejeitaram a
20
Midwest Program on Airborne Television Instruction, Using Television in the Classroom (New York:
McGraw-Hill, 1961).
21
Thomas Hutchinson, Here is Television: Your Window to the World (Winter Park, FL: Hastings House,
1950).
22
Hideya Kumata, An Inventory of Instructional Television Research (Ann Arbor, MI: Educational Televi-
sion and Radio Center, 1956).
23
Wilbur Schramm, “Learning from Instructional Television,” Review of Educational Research 32 (1962):
156-167.
24
David H. Jonassen, ed., Handbook of Research on Educational Communications and Technology (Mah-
wah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003).
25
Robert M. Diamond, ed., A Guide to Instructional Television (New York: McGraw-Hill, 1964).
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noção simplista que o conhecimento pode ser transmitido do rádio, do cinema ou da TV
diretamente para a cabeça dos estudantes como um quadro negro vazio26
.
Entrevistadora: Para ser justo, a programação de TV evoluiu bastante desde a década de
1950, não?
Grace: Claro. E tendo crescido com a televisão, eu mesma sou um produto desta evolução.
Minha família foi a primeira no quarteirão a assinar a TV a cabo e posso relembrar o exato
dia de verão de 1981, quando meus irmãos e irmãs vimos a estreia do primeiro vídeo
musical da MTV, Video Killed the Radio Star, dos The Buggles. Ainda lembro a letra e a
música desta canção. Quando jogava em nosso console Atari, amava assistir ao You Can’t
Do That on Television, no Nickelodeon. Porém, foi alguns anos depois disso – quando meu
pai comprou nosso primeiro videocassete caseiro em 1979 – que minha mãe começou a
gravar programas e filmes para usar em sua sala de aula. Nesta época, ela estava ensinando
na sexta série e lembro dela fazer coisas como gravar os primeiros 15 minutos de um
noticiário de TV e os estudantes explorarem o que tinha sido considerado interessante
naquele dia. Ela também pedia aos estudantes para analisar e ver criticamente as técnicas
de persuasão dos comerciais do McDonald’s. Minha mãe costumava dizer que o controle
remoto era a “melhor invenção já criada”, por que ela podia eliminar os comerciais e
pausar um trecho para uma discussão de classe. Acho que a mais forte memória de uso da
TV por ela ocorreu mais tarde. Em 1990, os estudantes assistiram a um episódio da série de
documentários da PBS American Experience sobre a 54ª Infantaria Racialmente Mista de
Massachusetts. Depois disso, seus estudantes viram o filme de Hollywood Glory, e então
ela pediu que eles analisassem essas diferentes representações da Guerra Civil. Eu estava
finalizando minha licenciatura naquela época e lembro dela perguntar aos alunos: “Quais
histórias são contadas? Quais histórias são deixadas de lado?” Ela deu para mim um
exemplo doméstico de que a TV e os filmes – tanto como tecnologias quanto como mídia –
são poderosos agentes da história, da política e da sociedade em geral27
. Na verdade,
durante a década de 1980 houve um monte de crítica sobre a televisão ser um agente
cultural poderoso demais28
. De qualquer modo, embora minha mãe utilizasse
habilidosamente a TV em sala de aula, ela rejeitava a noção de que a TV fosse mais
pedagogicamente excitante ou mais efetiva do que um professor real. Da mesma forma que
sua mãe, minha mãe acreditava que o sucesso ou fracasso da tecnologia na sala de aula
depende inteiramente do professor29
. Neste sentido, minha mãe foi uma pioneira do
movimento de educação midiática (media literacy) antes mesmo de surgirem manuais
26
John Locke, An Essay Concerning Human Understanding, Dover Publications Google Books,
http://books.google.com/books?id=FdCQ_T_0dpwC&lpg=PP1&ots=k_BiVXN9I6&dq=An%20Essay%20C
oncerning%20Human%20Understanding&pg=PA9 (acesso em 27 de junho, 2009).
27
Marshall McLuhan, Understanding Media: The Extensions of Man (New York: McGraw Hill, 1964).
28
Neil Postman, Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business (New York:
Alfred Knopf, 1985).
29
David H. Jonassen, ed., Handbook of Research on Educational Communications and Technology (Mah-
wah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003).
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9
didáticos de língua inglesa e artes30
. Infelizmente, sei de muitos professores que usam os
programas de TV como um preenchimento de tempo ou mostram um filme como uma
recompensa por bom comportamento, mais do que os usam como um texto para a análise
crítica31
.
Entrevistadora: Sua mãe sentiu um empurrão para usar a TV na aula, como sua avó teve
com o cinema e o rádio?
Grace: No caso da programação do Canal Um, ela não teve escolha. O programa estreou
em 1989 como um programa noticioso de doze minutos para escolas secundárias e de
ensino médio em todo o país. Dois desses doze minutos eram anúncios comerciais de
doces, refrigerante, videogames, e tudo mais que pudesse ser endereçado a adolescentes.
Ele foi propagado como uma solução para as altas taxas de evasão, os baixos resultados em
testes e a falta de recursos. A escola secundária em minha região foi uma das primeiras a
assinar contrato com a Whittle Communications em 1990. Em troca de uma antena
parabólica, fiação e uma TV e videocassete em todas as salas de aula, nosso diretor tinha
que garantir que todos os estudantes assistiriam aos programas (inclusive os comerciais),
ao menos 90% das vezes. Minha mãe estava no conselho escolar que então votou a
assinatura de um contrato de três anos com a Whittle, mas essa foi uma decisão bastante
controversa. A principal questão era se fazer com que os estudantes assistissem aos
comerciais violava ou não os seus direitos civis, uma vez que a audiência escolar era
obrigatória. Pais, professores, administradores e membros da comunidade estiveram
igualmente pró e contra. Isso gerou uma enorme discussão.
Entrevistadora: O Canal Um ajudou os estudantes a aprender?
Grace: Essa é uma pergunta interessante. A pesquisa que o diretor divulgou entre os
professores informava uma diferença média de sete pontos percentuais nos resultados dos
testes entre os estudantes que viam o Canal Um e aqueles que não assistiam aos
programas32
. Mesmo assim, para uma série de professores e pais, esta não parecia uma
diferença suficientemente significativa, para dar a licença para os estudantes verem
comerciais durante a jornada escolar.
Entrevistadora: O que sua mãe achou do Canal Um?
Grace: No início ficou impressionada. Gostou do fato dos âncoras serem adolescentes bem
falantes. E ele era chamativo, como a MTV, com música acelerada e gráficos coloridos.
Porém, além da estética, ela era cética. Ela aposentou-se no ano que ele foi implementado
na região. Ele era transmitido de nossa biblioteca escolar por um circuito interno. Quando
comecei a lecionar na escola secundária, fiquei frustrada pelo contrato com a Whittle não
permitir parar ou retroceder para discussões sobre alguma das notícias ou comerciais com
30
Robert Kubey e Frank Baker, “Has Media Literacy Found a Curricular Foothold?” Education Week (1999):
19, 56.
31
Renee Hobbs, “Non-Optimal Uses of Video in the Classroom.” Learning, Media and Technology 31
(2006): 35-50.
32
Ann De Vaney, ed., Watching Channel One: The Convergence of Students, Technology, and Private
Business (Albany: SUNY Press, 1994).
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os alunos. Essencialmente, nós não tínhamos controle sobre a programação e não podíamos
usá-la realmente como parte do currículo escolar. Dessa forma, simplesmente íamos em
frente. Sendo uma professora nova, eu não dizia nada. Apenas permitia que os estudantes
fizessem sua lição de casa e dava atendimento durante a transmissão. Acredito que os
professores efetivos toleravam o Canal Um, pois eles pensavam que os equipamentos de
vídeo poderiam ser usados pelos estudantes para outras coisas como gravar seus próprios
comunicados matutinos e transmiti-los para todas as classes pelo sistema da escola, mas
isso nunca ocorreu. A transmissão pelo satélite e a rede de TV na escola era tão ajustadas
ao Canal Um que os professores não acharam fácil adaptá-las a outras formas de ensino. E,
honestamente, eu simplesmente não tinha tempo ou energia para descobrir como fazer isso.
De qualquer modo, o Comitê de Educação não renovou o contrato depois dos três
primeiros anos. A justificativa oficial era que eles estavam cansados da luta interna que foi
criada, porém acredito que o supervisor percebeu que o contrato não oferecia muito para
nós, exceto o equipamento “grátis”. Nessa época, as TVs e videocassetes não eram mais
considerados tecnologias inovadoras. O comentário geral no meu distrito é que o
supervisor queria, ao invés delas, investir nos microcomputadores.
Entrevistadora: Sua mãe utilizou computadores como professora?
Grace: Sim, na verdade. Mas eu preciso começar dizendo que minha família estava fora da
curva quando começou a tecnologia do computador. Meu pai trabalhou para a IBM na
década de 1970 e início da de 1980, e nosso lar foi exposto à tecnologia do computador
muito antes de outras famílias. Acredito que nosso primeiro computador pessoal em casa
foi em 1978. Era o TRS-80 e rodava a partir de fitas cassete, se você pode acreditar nisso.
Depois, em 1981, pedimos que meu pai comprasse um computador Apple Iie e minha mãe
usava-o para registrar notas e criar folhas de tarefas e testes para seus alunos. Ela estava na
vanguarda da curva de aprendizado quanto aos usos pessoais e profissionais do
computador. Em 1989, ela solicitou uma dotação que resultou em cinco computadores
Apple para sua classe. Esta foi uma transação excepcional, pois dificilmente qualquer um
estava usando computadores com os alunos na sala de aula. Ela teve um par de anos antes
de se aposentar para explorar o uso do computador como parte do currículo. Embora ela
estivesse familiarizada com a utilização do computador num nível pessoal e profissional,
ficou perplexa quando começou a usá-lo com um grupo de estudantes. Não havia recursos
para o aperfeiçoamento profissional33
. Na época, eu estava fazendo meu treinamento na
mesma escola, assim, ela de vez em quando me pedia ajuda para fazer algo no computador.
Eu ajudava-a a organizar grupos de estudantes ao redor do computador para escrever
ensaios no processador de texto. Ela achava que o método de cortar e colar era muito
poderoso, pois permitia aos estudantes pensar conceitualmente, em vez de se limitarem ao
tradicional formato linear de narrativa, como na máquina de escrever. Muito possivelmente
o processador de texto ultrapassou o controle remoto como a tecnologia mais usada em
sala de aula por minha mãe.
33
Judith Haymore Sandholtz, Cathy Ringstaff e David C. Dwyer, Teaching with Technology: Creating
Student-Centered Classrooms (New York: Teachers College Press, 1997).
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Entrevistadora: Como suas próprias experiências com a tecnologia influenciaram sua
docência?
Grace: Finalizei meu curso de licenciatura um ano antes de minha mãe aposentar-se do
ensino em 1991. Eu ensinei na terceira série e basicamente utilizava as mesmas coisas que
meu professor orientador usava: livros didáticos, figuras, calculadoras e reprodutores
cassete de áudio. Também tinha um velho piano compacto na minha sala de aula, que
tocava com frequência. Os estudantes amavam essa interação. Acho que eu era a única
pessoa na escola que eles conheciam além da professora de música que sabia tocar. A
biblioteca tinha também computadores e TV/videocassetes em carrinhos que eu podia levar
para minha sala quando necessário. Eu praticamente fazia o mesmo que meu orientador:
você sabe, a abordagem padrão de leitura e apostila. Eu poderia dar algum tipo de leitura –
no livro ou mostrar a eles um vídeo ou apresentação na lousa – e depois eles iriam
responder questões numa planilha. Quando chegava a hora deles concluírem seus ensaios,
eu os conduzia à biblioteca para digitar e imprimir seus trabalhos.
Entrevistadora: Seu diretor incentivou-a usar os computadores na sala de aula?
Grace: Honestamente, não acho que o diretor estava muito preocupado se usávamos
tecnologia em nossa prática. Esse não foi, de fato, um problema. Tornou-se mais uma
questão quando eu me mudei para uma escola secundária para ensinar na sétima série, em
1994. Como eu disse, nós tínhamos o Canal Um durante as manhãs na sala de aula, e em
1995 o superintendente da região instalou laboratórios de computadores em todas as
escolas e bibliotecas. Isso foi ótimo porque eram computadores Apple com multimídia e
nossa bibliotecária – agora chamada de “especialista em mídia da biblioteca” –
encomendou um monte de programas em CD-ROM como as enciclopédias Encarta e
Grolier. O Oregon Trail foi um dos jogos mais populares entre os estudantes. Havia
também um programa de Human Body virtual que os estudantes gostavam. Lembro que os
estudantes tentavam remover as folhas de parreira digital das partes íntimas dos corpos.
Acho que minha bisavó ficaria encantada com a alusão bíblica das folhas de parreira em
um retrato clínico e científico do corpo humano. Penso que os programas eram realmente
inovadores em termos de integração de multimídia. A interatividade de texto, imagens e
áudio eram incrivelmente sofisticadas naquela época e apelaram a diferentes modalidades
de aprendizado que realmente ajudaram meus estudantes com dificuldades. No geral, o
software era pouco mais do que “edutretenimento”. Também sinto que nós estávamos
gastando dinheiro de maneira imprudente com equipamentos de computador e softwares
em prejuízo de algumas de nossas necessidades mais básicas. Nossa escola não tinha
dinheiro para um contrato de ônibus para transportar os alunos atletas para os jogos, as
telhas do telhado estavam caindo em algumas das salas de aula, e não havia supostamente
dinheiro disponível para um programa pós-escola. Penso que não é uma mensagem
apropriada a dar a nossos estudantes – que se eles completarem a “chata” tarefa escolar,
depois eles poderão jogar videogames “divertidos”. Acho que é uma falsa dicotomia. O
que eu aprendi é que a mídia interativa não garante aprendizagem interativa ou mesmo
ensino inovador. E, nos últimos tempos, os softwares simplesmente ficam esquecidos num
disco rígido em algum lugar. Como o uso da TV, o software foi usado principalmente para
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entretenimento ou recompensa. Creio que programas não são itens da lista de compras da
escola este ano, já que a maioria dos aplicativos que nós usamos agora está na web.
Entrevistadora: Falando da web, qual é a sua avaliação do impacto da internet na escola?
Grace: Quando isso veio para a escola, creio que existia um monte de oportunidades e
desafios em dois níveis. Primeiro, num nível informativo, a internet permite que nós
acessemos uma quantidade ilimitada de informação. Acredito que como educadores nós
precisamos determinar o objetivo da escolarização e perguntar a nós mesmos porque nos
reunimos no mesmo prédio diariamente se atualmente existem mais informações fora das
escolas do que dentro delas. Eu também acho que enganamos a nós mesmos se esperamos
que nossos alunos ingressem em fóruns de discussão para interagir com cientistas
eminentes, líderes empresariais e acadêmicos e acessar extensas bases de dados de
informação sem andaimes para sua aprendizagem. Eu não estou tão preocupada com a
habilidade dos estudantes para acessar a informação quanto estou preocupada, de fato, com
o quanto eles entendem, seja por meio de um livro, vídeo ou website. Com todo o hype
envolvendo a internet, nós colocamos muita ênfase nos estudantes encontrarem fontes de
informação e conhecimento em detrimento da análise interna e avaliação dessa informação.
Se nós focalizamos no como os estudantes aprendem, a internet fornece um meio que é
mais conceitual, não linear e autêntico34
. Na última semana eu pedi a meus alunos de
sétima série para observarem os modos que Shakespeare utiliza o conceito de tristeza em
seus sonetos. Eles facilmente pesquisaram todas as obras online35
. E um dia que a rede
tinha caído, eles usaram as Obras Completas de Shakespeare em CD-ROM.
Entrevistadora: Você mencionou dois níveis de oportunidades e desafios. Qual é o
segundo nível?
Grace: Como professores, estamos definitivamente ficando para trás, pois muitos de
nossos alunos sabem e fazem mais com estas tecnologias do que nós. Meus alunos da
sétima série literalmente vivem na internet e em seus telefones celulares. Suas vidas fora
da escola são altamente mediadas pelo celular, pelas telas, TV, música e internet, apenas
para mencionar alguns meios. Eles estão no MySpace, encontram pessoas para ouvir
música, assistir a vídeos e fazem upload de seus próprios vídeos e, continuamente, passam
mensagens de texto uns aos outros36
. Embora minha zona escolar, atualmente, tenha
banido o uso de telefones celulares nas salas de aula das escolas secundárias e médias, não
permitindo o acesso dos estudantes às suas páginas do MySpace ou Facebook dos
computadores da escola. Depois que uma professora de minha distrito ter sido demitida no
último ano após uma foto e mensagem controvertida na sua página do MySpace, os
34
Michele Jacobsen, Pat Clifford e Sharon Friesen, “Preparing Teachers for Technology Integration:
Creating a Culture of Inquiry in the Context of Use” Contemporary Issues in Technology and Teacher Edu-
cation 2 (2002): 363-388.
35
Jeremy Hylton, The Complete Works of William Shakespeare, Complete Moby Shakespeare,
http://shakespeare.mit.edu/ (acesso em 15 de abril, 2009).
36
Amanda Lenhart, Oliver Lewis e Lee Rainie, “Teenage Life Online,” Pew Internet & American Life
Project, 21 de junho, 2001, http://www.pewinternet.org/Reports/2001/Teenage-Life-Online.aspx (acesso em
15 de abril, 2009).
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professores da região foram proibidos de manterem qualquer site de rede social. Assim,
existe essa nuvem de protecionismo e censura que está sempre sob nossas cabeças.
Entrevistadora: A preocupação principal não é que os estudantes acessem “conteúdo
impróprio” quando eles se conectam à internet na escola?
Grace: Sim. Este foi o ímpeto para a criação do V-chip, do CyberPatrol e da NetNanny há
pouco mais de uma década. É interessante que a tecnologia prolonga a si mesma. Agora há
também bloqueadores de pop-up e outras características de segurança nos recursos de
busca, porém aprendi da maneira mais dura que esses filtros não são acurados e não
podemos confiar somente neles. Devemos nos mover além do medo e da incerteza do
acesso à informação na escola, por que, para falar a verdade, muitos de meus estudantes
estão acessando o “conteúdo impróprio” dentro e fora das escolas37
. Como iremos ensiná-
los a fazer boas escolhas e ser cidadãos responsáveis se isso não é parte do currículo
escolar? Este não foi um objetivo fundamental da escolarização a poucos séculos atrás
quando minha bisavó estava ensinando compaixão, pluralismo e patriotismo usando o
McGuffey’s Readers? Não é mais suficiente apenas ensinar a habilidades de visão crítica
como minha avó e minha mãe fizeram. Os alunos também precisam aprender a ser
usuários críticos dessas tecnologias. Se os professores e nossos estudantes não podem usar
a mídia nas escolas, então como podemos acompanhar isso? Existe uma desconexão real
entre o que meus alunos estão fazendo com a tecnologia em seu cotidiano e o que eles
encontram na sala de aula. Para mim, é um grande paradoxo que a lei atual permita que a
Bíblia seja ensinada na escola secundária na aula de literatura e, ao mesmo tempo, os
professores em meu distrito não têm a permissão para pedir que os estudantes leiam A
Girl’s Life Online, em função da abordagem gráfica do livro sobre a internet segura38
.
Talvez não estejamos vendo a floresta ao nos concentrarmos em árvores específicas.
Entrevistadora: Qual você acha que é o maior obstáculo para ensinar os estudantes a
serem usuários e consumidores críticos de informação?
Grace: Creio que é este crônico impulso burocrático e capitalista. A indústria tecnológica
tem sido e continua a ser, igualmente, uma benção e uma maldição na sociedade capitalista
dos Estados Unidos. Historicamente falando, educar as massas tem sido um forte desafio
burocrático. Combine essas duas questões e você terá uma grande dificuldade para os
docentes. Penso que, para a maioria das professoras de minha família ter sido capaz de
conduzir-se de maneira bem sucedida, foi necessário que elas percebessem o ideal
democrático da educação, juntamente com o impulso da indústria tecnológica e da
administração escolar burocrática. Esta foi e continua a ser uma batalha épica. Devido ao
aumento do financiamento estatal para minha região, em particular, nós temos toda
tecnologia imaginável. Sou testemunha de um ciclo cego que se repete nos últimos quinze
anos. Meu distrito está em um modo sem fim de atualizações. Recentemente li que o
37
Gigi Stone, “’Sexting’ Teens Can Go Too Far,” ABC News, http://abcnews.go.com/print?id=6456834
(acesso em 15 de abril, 2009).
38
Robert P. Doyle, Books Challenged and Banned in 2008-2009 (Chicago, IL: American Library As-
sociation, 2009), http://www.ala.org/ala/issuesadvo-
cacy/banned/bannedbooksweek/resourceguide/links/2009banned.pdf (acesso em 24 de junho, 2009).
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governo dos EUA gastou mais de 40 bilhões de dólares ao longo dos últimos para colocar
computadores nas escolas e conectar as salas de aula à internet. Porém, os professores
raramente são consultados sobre equipar a escola com tecnologias ou proporcionar
aperfeiçoamento profissional39
. Parece muito similar a como o cinema e a TV foram
burocraticamente introduzidos nas escolas no início do século vinte. Deste modo, não vejo
como alguém possa esperar que o uso das tecnologias em sala de aula se dê de algum
modo diferente do extracurricular, uma vez que raramente isso se relaciona com a vida
profissional de um professor. Meu desafio específico em 2009 foi o encargo federal do
Nenhuma Criança Deixada para Trás (No Child Left Behind). O NCLB é uma confluência
de políticas de educação federais anteriores dos últimos quinze anos, assim, não é nada
inteiramente novo. Nós avaliamos os estudantes em linguagem, matemática e ciência. No
último ano, o “letramento tecnológico” foi incluído como área temática de avaliação. O
estado decidiu que cada distrito escolar deveria criar e gerenciar um exame. Eu estava no
comitê de nosso distrito escolar e nós olhamos os parâmetros nacionais para verificar o que
nós podíamos realisticamente avaliar num formato padronizado, o que era basicamente
reduzido à digitação simples e a como localizar informação na internet – nada muito
criativo ou voltado à criticidade. O que me recorda do modelo fabril voltado à eficiência
escolar que minha avó questionou no início do século vinte. Não me entenda mal – existem
várias atividades interessantes de letramento informacional que nossos bibliotecários
especialistas em mídia desenvolvem para nossos estudantes utilizarem recursos não
superficiais da internet, de modo a avaliar a credibilidade e autenticidade da informação,
porém eu gostaria de ver outros professores integrando esse tipo de pensamento crítico
numa variedade de áreas temáticas. Apesar da alta exposição dos estudantes às novas
tecnologias fora da escola, eles precisam desesperadamente de adultos para tirar sentido da
informação e entender suas implicações políticas, econômicas e sociais, por si mesmos.
Acredito que é um desserviço para nossos estudantes se os planejadores de politicas
assumem a abordagem do “bloquear ou banir”. Creio que existem ilhas de inovação
acontecendo, porém nós precisamos dirigir nossos esforços para a educação midiática –
ensinando os estudantes a acessar, analisar, avaliar, produzir e comunicar-se a partir de
diferentes tipos de mídia40
. Quando comecei a ensinar em 1991, a educação midiática não
era parte do currículo formal, embora já estivesse ocorrendo em certas regiões ao longo do
país. Ela estava basicamente inserida dentro dos currículos de língua inglesa e artes. Levou
uma década de investimento em infraestrutura tecnológica com pouco retorno para os
planejadores de políticas perceberem que a alfabetização tecnológica não é suficiente e que
o letramento midiático é essencial41
.
39
National Center for Education Statistics, Internet Access in U.S. Public Schools and Classrooms: 1994-
2001 (Washington, D.C.: U.S. Department of Education, 2002).
40
Patricia Aufderheide, “Media Education in the ‘90s,” Afterimage 25(1998): 17.
41
Michael J. Copps, “Remarks of Commissioner Michael J. Copps,” Beyond Censorship: Technologies and
Policies to Give Parents Control Over Children’s Media Content. (Washington, D.C.: Kaiser Family
Foundation/New America Foundation, 2006) http://hraunfoss.fcc.gov/edocs_public/attachmatch/DOC-
265842A1.pdf (acesso em 1 de novembro, 2007).
Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52
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Entrevistadora: Mas e quanto aos riscos e responsabilidades relacionados com a
exposição dos estudantes a conteúdos inadequados na escola?
Grace: Sem dúvida, isso é uma realidade. Tem sido uma realidade desde que minha bisavó
assistiu à batalha sobre o conteúdo religioso “impróprio” no McGuffey’s Eclectic Readers.
Creio que os educadores precisam trabalhar sobre isso. Por exemplo, no próximo ano
escolar meu diretor decidiu explorar um caminho diferente que é mais socialmente
responsável e integra letramentos em mídia e tecnologia. Iremos requerer que, no início de
cada ano escolar, todo estudante assine um Termo de Responsabilidade em Computação
que diz que ele não irá fazer download nem upload de conteúdo inadequado. Nosso
especialista em mídia conversa a respeito do que significa isso em termos do acesso à web,
bem como da inserção de conteúdo para todo o mundo ver. O professor de computação, o
coordenador de tecnologia e o especialista em mídia estão, atualmente, se encontrando
regularmente com o diretor para, com nossos alunos do décimo-segundo ano, criar uma
página no MySpace que seja socialmente responsável, adequada e até mesmo atrativa para
os membros de comitês de admissão de faculdades. Existe ainda uma série de
preocupações sobre a segurança estudantil que nós precisamos trabalhar e que requerem
um diálogo com os pais, as lideranças comunitárias, os administradores, os coordenadores
de tecnologia e os professores. O fato de que estejamos enfrentando essa questão de frente
é promissor.
Entrevistadora: O que você vê, atualmente, como o aspecto mais promissor da tecnologia
nas escolas?
Grace: Definitivamente a Web 2.0, que remete à segunda geração da web caracterizada
por programas e dados alocados na rede e disponíveis sob demanda. Isso significa que o
que todos precisam, na verdade, atualmente é um computador com acesso à internet. Isso
não é um benefício somente para os que estão nos níveis econômicos mais baixos, mas
também para todos os usuários gerarem conteúdo e então colocarem-nos em circulação
para todo o mundo. Desse modo, meus alunos postam seus ensaios de inglês – e muitos
outros conteúdos multimídia – em seus blogs e obtêm feedback e comentários de todos ao
redor do mundo. Eles também criam e assinam podcasts ou webcasts de eventos de
períodos específicos de seus currículos de História. Eles podem ainda colaborar na
resolução de um problema de matemática com o Google Docs. A Web 2.0 também
propicia apoio para o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem por professores.
Colaborar com outros docentes num documento online curricular usando o Google Docs,
aprender aspectos básicos do uso de uma Lousa Digital ao assistir um vídeo do
TeacherTube e dar forma aos padrões curriculares do distrito ao contribuir num wiki são
todos exemplos de como a Web 2.0 transforma e democratiza o aperfeiçoamento dos
professores. Essencialmente, a Web 2.0 proporciona meios para atingir todo o ciclo da
educação midiática – acessar, analisar, avaliar, produzir e comunicar usando uma
variedade de formas de mídia. Uma vez que criemos comunidades online de aprendizagem,
nossos estudantes podem explorar amplamente o contexto e a comunidade42
. De maneira
interessante, não creio que isso é muito distante da crença de minha bisavó na escola como
42
Sanjay Asthana, Innovative Practices of Youth Participation in Media (Paris: UNESCO, 2006).
Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52
<http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle>
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um espaço comunitário para avalizar a crença em Deus, na vizinhança e no país. Como
Neil Postman defende, nossos deuses podem ter mudado, mas a necessidade básica da
escola ser um lugar para a reflexão numa sociedade cada vez mais diversificada como os
Estados Unidos permanece constante. Como professora de uma escola urbana, cerca de
dois terços dos meus alunos não são falantes nativos de inglês. Isso cria uma camada
adicional de desafios complementares à diversidade socioeconômica da população
estudantil. Se muitos de meus alunos encontram a diversidade apenas nas tecnologias
midiáticas, então sabemos que tais experiências são estereotipadas, carecem de
profundidade e apresentam uma verdade parcial que é mais difícil de desconstruir sem
ajuda. Como educadores, nós precisamos cultivar mais a consciência social e o civismo
entre nossos alunos43
. Também me preocupo que meus estudantes não sintam que suas
vozes são importantes ou significativas dentro da escola e de sua comunidade ou mesmo
no mundo em geral44
. Constantemente escuto-os dizer que mudar o mundo não é sua
responsabilidade, mas sim dos adultos. Aqui é onde as tecnologias da Web 2.0 agem para
facilitar uma mudança dos jovens como consumidores de informação para jovens como
cidadãos responsáveis e participativos.
Entrevistadora: O que você aprendeu, se aprendeu algo, ao pesquisar a história do ensino
em sua família?
Grace: Aprendi que, apesar dos desenvolvimentos dramáticos em mídia e tecnologia, a
educação manteve-se basicamente a mesma em termos do direcionamento burocrático
voltado à eficiência, por meio de currículos padronizados, avaliação e políticas
protecionistas combinadas com a necessidade de aculturar os jovens em uma democracia
social e política. Também vim a entender que o acesso a redes de computador de alta
velocidade é apenas a ponta do iceberg deste novo milênio. Como professora, realizar meu
propósito é auxiliar a construção e manutenção de redes sociais de conhecimento45
.
Alcançar a alfabetização tecnológica é apenas um conjunto de habilidades. A educação
midiática dá condições a um uso mais crítico e criativo da tecnologia para se relacionar
com a informação e com os outros de modos que são socialmente responsáveis. E, neste
sentido, penso que minha bisavó Beulah Mae acolheria a ideia de seus alunos fazerem
podcasts com suas reflexões sobre o McGuffey’s, atravessando a fronteira ocidental.
***
Tradução: Richard Romancini
43
Vanessa Domine, “From Savvy Consumer to Responsible Citizen: Teen Perspectives of Advertising in the
Classroom,” The Journal of Media Literacy 51(2004): 45-52.
44
David Tyak, Seeking Common Ground: Public Schools in a Diverse Society (Cambridge, MA: Harvard
University Press, 2003).
45
Hannah Green e Celia Hannon, Their Space: Education for a Digital Generation (London: Demos, 2007),
http://www.demos.co.uk/files/Their%20space%20-%20web.pdf (acesso em 24 de junho, 2009).

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Uma história social da mídia, tecnologia e escolarização

  • 1. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 1 Uma história social da mídia, tecnologia e escolarização Vanessa Domine Resumo O artigo explora a literatura que relaciona os campos da mídia, tecnologia e escolarização, nos Estados Unidos ao longo dos últimos dois séculos. A indagação está organizada em uma perspectiva sócio-histórica, a partir de uma entrevista ficcional com uma arquetípica professora da terceira geração de profissionais da escola pública urbana. Esta topografia ilustra os problemas e possibilidades que emergem da contínua inserção de tecnologia nas escolas. Dignos de nota são as referências feitas ao privilégio da oralidade e do letramento na leitura realizada na escola primária, a mecanização da atividade escolar a partir das máquinas de ensinar e da televisão, e o potencial transformador, ainda ser explorado, dos computadores e da internet. Palavras-chave: Educação midiática, história da mídia, história da educação, tecnologia, letramento midiático. Para entender e avaliar melhor as complexidades e desafios da educação midiática (media literacy) na era digital, este ensaio faz uma reflexão a partir de uma relação histórica entre mídia, tecnologia e vida escolar nos Estados Unidos. Embora essa história seja bem estabelecida, ela está cheia de tensões e contradições1 , este ensaio segue a linha de outras histórias sociais do ensino por combinar a pesquisa que ilustra uma história complexa que é problemática, ao mesmo tempo em que repleta de possibilidades2 . O que se segue é uma entrevista ficcional entre eu mesma e Grace Dubois, uma professora de inglês da sétima série do nordeste dos Estados Unidos. Por meio desta conversa, o ensaio esboça em grandes traços uma paisagem de duzentos anos de perspectivas, políticas e práticas relacionados com a tecnologia e seus usos na educação. Mencionando revistas conhecidas, artefatos e histórias orais, Grace explora sua própria identidade como uma professora experiente e vislumbra o que significa ser uma professora no milênio de uma era pós- digital. *** 1 Larry Cuban, Teachers and Machines: The Classroom Use of Technology Since 1920 (New York: Teachers College Press, 1986). D. LaMont Johnson e Cleborne D. Maddux, Technology in Education: A Twenty-Year Retrospective (Philadelphia: Haworth Press, 2003). 2 Rosetta M. Cohen e Samuel Scheer, The Work of Teachers in America: A Social History Through Stories (Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 1997). Pamela B. Joseph, “One hundred years of schoolteaching: An invented interview,” In Images of Schoolteachers in America, ed. Pamela B. Joseph e Gail E. Burnaford (Mahwah, NJ: Erlbaum, 2000), 3-27.
  • 2. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 2 Entrevistadora: Vamos começar com sua história, o que fez você escolher ser professora? Grace: Você poderia dizer, ao contrário, que foi o ensino que me escolheu. Minha bisavó, Beulah Mae Greene, foi uma reformista do oeste que ensinou numa pequena escola doméstica em Indiana durante os anos de 1860. Sua filha, Bessie Virginia Greene, ensinou nas escolas públicas de Nova Iorque no final dos anos 1890. Sua filha é minha mãe, Eloise Dubois, que deu aulas na terceira série por 48 anos. Um ano após minha mãe aposentar-se, eu recebi uma licença docente em Inglês. Atualmente, eu ensino na zona urbana de Nova Jérsei. Entrevistadora: Por que você acha que há tantas professoras na sua família? Grace: Bem, nós trabalhamos realmente duro e até as últimas décadas o ensino era a única profissão aceitável para uma mulher solteira ambiciosa3 . Minha bisavó Beulah Mae era uma mulher educada e também uma protestante dedicada. Ela cursou a Escola Normal de Rhode Island e depois foi para o oeste em 1856, com 19 anos. Seu primeiro emprego como professora foi numa escola rural com uma única classe em Indiana. Ela escreveu em seu diário sobre sua forte crença na ideia de Horace Mann de escola primária para servir a todas as classes e religiões4 . Creio que minha bisavó acreditava firmemente que sua missão na vida era o ensino escolar. Entrevistadora: Como era para sua bisavó ensinar nos Estados Unidos durante os anos de 1850? Grace: Bem, houve um intenso fluxo de imigrantes do leste europeu que eram muito pobres e falavam diferentes línguas5 . Beulah ensinou estudantes de todas as idades em sua escola de turma única. Ela escreveu em seus diários sobre ter certeza de que cada um de seus estudantes aprendeu “retidão moral”. Sua missão era salvar essas “pobres crianças imigrantes” ao ensinar-lhes o inglês e a Bíblia. Acredito, a partir de seus diários, que sua meta como professora era principalmente religiosa. Todo dia ela iniciava a jornada escolar rezando com os estudantes. Depois, ela ia para uma lição de leitura. Desse modo, a alfabetização era essencialmente um veículo para a religião6 . E ser um bom cidadão americano era um produto de tornar-se letrado. Entrevistadora: Havia tecnologias de qualquer tipo na escola naquela época? Grace: Eu não sei se você consideraria a oração uma tecnologia, mas a palavra falada certamente reinou absoluta em meados do século dezenove. As crianças aprendiam a ler por métodos fônicos e fonéticos – pronunciando letras, misturando-as. Ao lê-las em voz alta, eles iriam ter um entendimento das palavras de Deus. A palavra falada – e 3 Madelyn Holmes e B. J. Weiss, Lives of Women Public Schoolteachers: Scenes From American Edu- cational History (New York: Garland, 1995). 4 Herbert Kliebard, The Struggle for the American Curriculum, 1893-1958 (New York: Routledge, 2004). 5 Paula Fass, Outside In: Minorities and the Transformation of American Education (New York: Oxford University Press, 1991). 6 Matthew Hale Smith, William Bentley Fowle e Horace Mann, The Bible, the Rod and Religion in Common Schools (Boston: Redding, 1847).
  • 3. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 3 especialmente a prece – era, ao menos para Beulah Mae, sagrada e um poderoso método de ensino7 . Entrevistadora: Assim, os livros eram os meios principais para o ensino? Grace: Pelo que posso recolher dos diários de Beulah Mae, os instrumentos eram bastante simples em 1857. Ela usava cadernos em branco, lápis de carbono, ardósias e esponjas principalmente para os estudantes aprenderem como desenhar letras e imitar a escrita à mão8 . Eu tenho um antigo daguerreotipo dela em frente a uma lousa de ardósia. Ela escreveu o quanto ficou excitada por ensinar mais estudantes por ficar na frente da sala ao invés de perambular entre cada aluno e ensiná-los individualmente em suas próprias ardósias9 . Beulah Mae era muito grata por aquela lousa gigante de ardósia, mesmo com frequência engasgando na poeira ao limpá-la. Esta era uma das tarefas de que menos gostava, e ela muitas vezes pedia ajuda aos alunos no que eu imagino que era uma tarefa bastante complexa. Entrevistadora: Quais livros sua bisavô utilizava na escola? Grace: Beulah Mae mantinha três livros na sua mesa sempre: a Bíblia, o McGuffey’s Fourth Eclectic Reader e o Dicionário Webster10 . Ela escreveu em seu diário sobre o quanto ficou animada ao adquirir seu primeiro Eclectic Reader. Ele custou 75 centavos, que era o pagamento por um dia e meio de trabalho. Ela escreveu: “Meus alunos adoram as histórias da Bíblia, literatura e contos folclóricos. Eles dão às crianças uma sólida formação quanto ao que acreditar e como se comportar”. Então, basicamente o currículo era a lealdade a Deus, aos vizinhos e ao país – e nesta ordem particular11 . Entrevistadora: Beulah Mae escreveu em seu diário sobre os seus métodos de ensino? Grace: Creio que Beulah Mae queria que seus alunos lessem em voz alta, ao invés de apenas imitar sua professora durante a recitação, o que era o costume na época. Ao ler essas histórias juntos em vez alta, os estudantes davam vida a elas. Eu estava folheando um desses Eclectic Readers e as ilustrações eram, de fato, bastante elaboradas e inovadoras para aquele período. Num trecho de 1884, minha bisavó escreveu: “Tive imensa satisfação por meus alunos conhecerem esta nova forma de arte, antes mesmo que as crianças das ricas escolas da Nova Inglaterra”. Ela também tinha bastante orgulho de sua coleção de mapas que levava com ela. Creio que podemos dizer que suas tecnologias eram voltadas principalmente para a palavra falada – com alguns recursos visuais. 7 Gretchen A. Duling, Oral Life Histories of One-Room Schoolhouse Teachers: Voices from the Recitation Bench (Lewiston, NY: Edwin Mellen Press, 1997). 8 Sarah Mondale, ed., School: The Story of American Public Education (Boston: Beacon Press, 2002). 9 R. G. George, “Technology and Teaching Methodology,” Contemporary Education 63 (1991): 62-64. 10 David L. Elliott e Arthur Woodward, eds., Textbooks and Schooling in the United States (89th Yearbook of the National Society for the Study of Education, Part I) (Chicago: University of Chicago Press, 1990). 11 Dolores P. Sullivan, William Holmes McGuffey: Schoolmaster to the Nation (London: Associated Uni- versity Presses, 1994).
  • 4. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 4 Entrevistadora: Você mencionou anteriormente que sua avó também foi professora? Grace: Sim. Minha bisavó Beulah Mae parou de dar aulas em 1861, na época que ela se casou com Clovis Dubois, que era um banqueiro. Eles tiveram três filhos – um dos quais é minha avó, Bessie Virginia. Quando Bessie tinha 17 anos, ela foi para a cidade de Nova Iorque. Era o auge da Revolução Industrial, quando houve um grande influxo de imigrantes do leste europeu que praticamente triplicaram a população do país. Muitas famílias moviam-se da zona rural para a urbana para trabalhar em fábricas e prosperar economicamente. Mas minha avó Bessie escreveu que o sistema escolar era “rígido demais” e debatia-se com a ideia de ver a escola como uma fábrica12 . Em 10 de março de 1904, ela escreveu em seu diário: Hoje o inspetor disse-me que as escolas precisam possuir a “eficiência de uma linha de montagem”, e que meu trabalho é “produzir bons trabalhadores para esta nação”. Porém, eu me recuso a tratar meus queridos alunos deste modo. O que posso imaginar que faço com os alunos que o inspetor considere “defeituoso”? Eu deveria simplesmente tirá-los da “linha de montagem” e jogá-los de lado como lixo? Embora não me atreva a desobedecer ao inspetor, continuo a pensar se meu trabalho é ensinar as crianças ou produzir lâmpadas? O moderno sistema escolar nada mais é que uma blasfêmia em sua ignorância da criatividade humana. Creio que ela temia a possibilidade de ser surpreendida em algum momento por seu inspetor. Vovó Bessie desejava parecer uma firme disciplinadora, porém dizia que isso era difícil em uma sala de aula de terceira série em que os alunos variavam em idade de 5 a 18 anos e a maioria deles não tinha o inglês como língua mãe. Ela escreveu que um aluno ficou “extremamente afeiçoado” a ela um dia e, após ela “ter uma conversa séria com ele”, ele nunca mais voltou à escola. Entrevistadora: Você acredita que as experiências de ensino de Bessie foram parecidas com as de sua mãe? Grace: Acredito que suas experiências foram bastante diferentes. Os diários e cartas da avó Bessie pintam um retrato muito diferente da escolarização do que aquele da bisavó Beulah Mae. Por um lado, Bessie estava na urbana cidade de Nova Iorque e não na rural Indiana. As tradições orais e morais que minha bisavó Beulah Mae apreciava quando utiliza o McGuffey’s na escola primária durante os anos de 1860 tinham desaparecido na época que Bessie Virginia estava no auge de sua carreira docente em Nova Iorque no início dos anos 190013 . O conteúdo religioso foi expurgado dos livros didáticos, o que ia contra a filosofia da educação de sua mãe. Bessie estava interessada em teorias científicas e métodos de ensino. Eu encontrei sua cópia anotada do How to Make a Curriculum de Franklin Bobbitt. O que penso que minhas bisavó e avó compartilhavam era uma crença no valor pedagógico da palavra falada. Bessie ficou desapontada ao ver a tradição oral desaparecer nos anos 1930 quando a série de livros didáticos Dick and Jane surgiu e promoveu a leitura silenciosa mais do que a recitação oral. Ela ficou bastante chateada que 12 Raymond E. Callahan, Education and the Cult of Efficiency (Chicago: University of Chicago Press, 1962). 13 Jonathan Zimmerman, Whose America? Culture Wars in the Public Schools (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2005).
  • 5. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 5 seu diretor tenha eliminado o método de recitação oral totalmente em 1930. Para ela, a leitura em voz alta era uma atividade comunitária essencial na sala de aula. Entrevistadora: Você mencionou que sua avó, Bessie, ensinou durante a Revolução Industrial do início do século vinte. Isto coincidiu com o aparecimento de algumas das principais tecnologias de comunicação, incluindo a máquina de escrever, o telefone, a caneta esferográfica, o fonógrafo, a fotografia, o cinema e o rádio. Ela fez uso de algumas delas em sua prática docente? Grace: Em 1923, Bessie escreveu que a direção escolar tinha “recomendado fortemente” a ela o uso do rádio e do filme em sua prática. Porém, pelo que posso dizer a partir de seus diários e fotografias, ela usava principalmente livros, mapas e figuras. Ela conta que seu diretor comprou um projetor de filmes e anunciou a todos os professores que o aparelho iria por si só combater a instrução “entediante e sem vida” da sala de aula, revolucionando o ensino dos professores. Vovó escreveu que exigiram que ela participasse de um dia de treinamento em que um técnico mostrou a todos os professores como apresentar o filme a seus alunos, realizando discussões paralelas, e inserindo atividades de classe entre trechos do filme14 . Ela escreveu: “Algo que me consola é o fato de que os filmes são considerados, ainda, complementares e não um substituto do professor”. Entrevistadora: Ela usava filmes em sua sala de aula? Grace: Na sua diretoria eles mostravam viagens de campo, demonstrações, dramatizações e, no colegial, eles mostravam aulas gravadas – o que é interessante, uma vez que, de acordo com o diretor, as aulas reais eram “entediantes e sem vida”. Vovó dizia que apenas uns poucos professores, de fato, usavam filmes, e mesmo assim apenas para saciar a fome de eficiência dos inspetores. Acredito que os estudantes provavelmente estavam ávidos pela nova tecnologia, porém assistir a filmes não necessariamente ajudava-os a aprender o assunto principal melhor ou mais rápido do que com o uso de métodos tradicionais15 . Encontrei uma carta que Bessie recebeu de uma colega em Chicago que estava preocupada em ser substituída por um projetor de filmes, como se o projetor e o professor fossem intercambiáveis. A meta daquele tempo era aumentar a produtividade e a eficiência por meio do uso do filme, porém vovó Bessie contou-me que quando ela se aposentou do ensino em 1931 ela não tinha visto ainda nenhuma inovação real na educação como resultado do uso de filmes na escola primária16 . Em vez disso, ela descobriu que quanto mais os estudantes gostavam de um filme, menos de fato eles aprendiam dele. Creio que Bessie utilizava os filmes como um meio instrucional; entretanto, tenho a impressão que ela ficava frustrada com a abordagem burocrática, verticalizada, de implementação dos filmes como uma tecnologia educativa nas escolas. Os técnicos e os políticos – não os professores – estavam no comando da utilização de filmes em escolas. Ela estava mais 14 L. Paul Saettler, The Evolution of American Educational Technology (Englewood, CO: Libraries Unlim- ited, Inc., 1990). 15 Ibid. 16 National Education Association, “Audio-Visual Education in City School Systems,” Research Bulletin 24 (1946): 131-170.
  • 6. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 6 interessada em estudar os filmes e programas de rádio como textos a serem analisados criticamente mais do que em celebrar a própria máquina. Eu encontrei uma antiga cópia surrada de Public Opinion de Walter Lippman com suas anotações nas margens. Com o surgimento das pesquisas com leitores, os levantamentos de audiência, pesquisas de opinião e estudos de propaganda, durante os anos 1920 e 1930, acredito que um monte de educadores percebeu a importância de ensinar os estudantes a pensar criticamente sobre as mensagens sendo transmitidas a diferentes públicos pelo cinema, pelo rádio e, afinal, pela televisão17 . Mas havia, de fato, usos supérfluos das tecnologias naquela época. Entrevistadora: Você pode dar um exemplo do que você considera “supérfluo”? Grace: Meu exemplo favorito é a história que Bessie escreveu sobre a máquina de ensinar. Após a Segunda Guerra, as Forças Armadas americanas tinham um grande excedente de máquinas que foram usadas para treinar especialistas da Força Aérea. Eles mudaram a temática de treinamento e colocaram-nas nas escolas18 . A administração escolar anunciou que eles iriam colocar algumas dessas máquinas na sala de aula da terceira série de minha mãe. Ela ficou furiosa no início. Até ela perceber que era bastante fácil apenas ignorá-las. A máquina era mais uma espécie de mobília. Era basicamente um tabuleiro perfurado contendo itens de múltipla escolha e a máquina iria avaliar as respostas do estudante e repetir as questões até o estudante selecionar as que fossem corretas. Era uma espécie de talão de resposta a testes, mas com a máquina dando a devolutiva na hora, de modo que os estudantes poderiam testar e praticar. As máquinas liberavam o professor para fazer outras coisas enquanto o estudante recebia instrução individualizada da máquina. Se o estudante precisava de reforço ou praticar para um teste, então ele ou ela poderia usar a máquina de costas para a sala de aula. Minha mãe admitiu que um ponto em que a máquina era útil era para o ensino de soletração ou no ensino de língua estrangeira. Porém, ela frequentemente brincava que sua sala de era um “depósito para guardar a sucata do governo”. Entrevistadora: Sua bisavó, Beulah, era apaixonada pela Bíblia e pelo McGuffey’s Eclectic Readers. Havia alguma tecnologia ao qual sua mãe, Eloise, estivesse particularmente ligada? Grace: Sem dúvida, a televisão. Bem mais por seu conteúdo de programação do que pela tecnologia em si. Ela era uma adolescente quando seu avô levou-a em 1939 para a Feira Mundial de Londres onde a televisão estreou. Ela lembra o quanto ficou impressionada inicialmente com o que descreveu como “simplesmente um grande rádio com uma janela na frente”19 . Entretanto, sendo uma adolescente na década de 1940, ela ficava vidrada assistindo a Ozzie and Harriet e ao Ed Sullivan Show. Ela contava-nos sobre os jantares familiares em que comiam com bandejas assistindo à TV na sala. Você pode ver em fotografias antigas como a mobília da sala esta organizada ao redor da TV como um 17 E. C. Broome, Report of the Committee on Propaganda in the Schools (Atlanta, GA: National Education Association, 1929). 18 B. F. Skinner, “Teaching Machines,” Science 128 (1958): 969-977. 19 George Gilder, Life After Television (New York: W.W. Norton & Company, 1994).
  • 7. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 7 santuário. Agora que penso sobre isso, aposto que a maioria das salas está configurada deste modo hoje. Entrevistadora: Eloise fez algum uso da televisão como professora? Grace: Não tanto quanto você poderia imaginar. Em 1951, um comerciante local doou aparelhos de TV para sua escola como parte de um projeto de pesquisa. E minha mãe foi um dos professores que depois foi entrevistado para descobrir como eles estavam usando a TV na sala de aula20 . Ela reconheceu que, naquela época, ela não se preocupava, de fato, com o projeto de pesquisa ou mesmo com o uso da TV numa forma sistemática de ensino. Ela simplesmente desejou ter um aparelho de televisão em sua sala de aula, como uma “janela para o mundo lá fora”21 . Entretanto, a programação educacional para as salas de aula era bastante limitada naquele momento. Os programas consistiam de recitais musicais, entrevistas curtas, declamações e esquetes. Minha mãe escreveu sobre dois programas em particular de 1959. Em um, o instrutor demostrava o método correto para escovar os dentes. O outro ilustrava os movimentos de lábio e língua corretos para pronunciar palavras francesas. Imagino que isso estivesse bem distante de Ozzie and Harriet durante a hora do jantar, mas isso é compreensível, dado que os programas educativos durante as décadas de 1950 e 1960 foram criados por técnicos para desenvolver ainda mais a tecnologia da televisão, em vez de servir à educação22 . Numa linha similar, minha mãe percebeu um aumento da pressão para o uso da TV após o lançamento pelos soviéticos do Sputnik, em 1957. Nesta reforçada ênfase na tecnologia em si mesma, havia uma falta de destaque sobre como ensinar com a televisão. Assumia-se simplesmente que todos os estudantes assistiam e tomavam notas e assim a aprendizagem ocorria. De modo que a maioria dos professores de escolas básicas não apenas gostava de utilizar a televisão, mas passou a ser dependente dela23 . Estranhamente minha mãe não conseguiu localizar uma única pesquisa durante os anos 1960 que mostrasse quaisquer vantagens de aprendizado com o uso da televisão, em comparação com a aula ao vivo24 . Ela observou, contudo, um aumento generalizado pelo interesse dos alunos em leitura, porém ele não atribuía isso à assistência da TV por eles25 . Nesse momento seu supervisor defendeu que a conferência pela televisão daria um “toque mais pessoal”. Isto enfureceu minha mãe. Ela enviou um memorando para seu diretor, datado de outubro de 1961, perguntando: “Como podemos comparar algo tão espontâneo com uma coisa tão estruturada?” Creio que ela sentiu que seu diretor estava tentando direcionar as coisas ao mesmo modelo orientado à eficiência que minha avó rejeitara na década de 1920. Tanto Beulah Mae quanto Bessie rejeitaram a 20 Midwest Program on Airborne Television Instruction, Using Television in the Classroom (New York: McGraw-Hill, 1961). 21 Thomas Hutchinson, Here is Television: Your Window to the World (Winter Park, FL: Hastings House, 1950). 22 Hideya Kumata, An Inventory of Instructional Television Research (Ann Arbor, MI: Educational Televi- sion and Radio Center, 1956). 23 Wilbur Schramm, “Learning from Instructional Television,” Review of Educational Research 32 (1962): 156-167. 24 David H. Jonassen, ed., Handbook of Research on Educational Communications and Technology (Mah- wah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003). 25 Robert M. Diamond, ed., A Guide to Instructional Television (New York: McGraw-Hill, 1964).
  • 8. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 8 noção simplista que o conhecimento pode ser transmitido do rádio, do cinema ou da TV diretamente para a cabeça dos estudantes como um quadro negro vazio26 . Entrevistadora: Para ser justo, a programação de TV evoluiu bastante desde a década de 1950, não? Grace: Claro. E tendo crescido com a televisão, eu mesma sou um produto desta evolução. Minha família foi a primeira no quarteirão a assinar a TV a cabo e posso relembrar o exato dia de verão de 1981, quando meus irmãos e irmãs vimos a estreia do primeiro vídeo musical da MTV, Video Killed the Radio Star, dos The Buggles. Ainda lembro a letra e a música desta canção. Quando jogava em nosso console Atari, amava assistir ao You Can’t Do That on Television, no Nickelodeon. Porém, foi alguns anos depois disso – quando meu pai comprou nosso primeiro videocassete caseiro em 1979 – que minha mãe começou a gravar programas e filmes para usar em sua sala de aula. Nesta época, ela estava ensinando na sexta série e lembro dela fazer coisas como gravar os primeiros 15 minutos de um noticiário de TV e os estudantes explorarem o que tinha sido considerado interessante naquele dia. Ela também pedia aos estudantes para analisar e ver criticamente as técnicas de persuasão dos comerciais do McDonald’s. Minha mãe costumava dizer que o controle remoto era a “melhor invenção já criada”, por que ela podia eliminar os comerciais e pausar um trecho para uma discussão de classe. Acho que a mais forte memória de uso da TV por ela ocorreu mais tarde. Em 1990, os estudantes assistiram a um episódio da série de documentários da PBS American Experience sobre a 54ª Infantaria Racialmente Mista de Massachusetts. Depois disso, seus estudantes viram o filme de Hollywood Glory, e então ela pediu que eles analisassem essas diferentes representações da Guerra Civil. Eu estava finalizando minha licenciatura naquela época e lembro dela perguntar aos alunos: “Quais histórias são contadas? Quais histórias são deixadas de lado?” Ela deu para mim um exemplo doméstico de que a TV e os filmes – tanto como tecnologias quanto como mídia – são poderosos agentes da história, da política e da sociedade em geral27 . Na verdade, durante a década de 1980 houve um monte de crítica sobre a televisão ser um agente cultural poderoso demais28 . De qualquer modo, embora minha mãe utilizasse habilidosamente a TV em sala de aula, ela rejeitava a noção de que a TV fosse mais pedagogicamente excitante ou mais efetiva do que um professor real. Da mesma forma que sua mãe, minha mãe acreditava que o sucesso ou fracasso da tecnologia na sala de aula depende inteiramente do professor29 . Neste sentido, minha mãe foi uma pioneira do movimento de educação midiática (media literacy) antes mesmo de surgirem manuais 26 John Locke, An Essay Concerning Human Understanding, Dover Publications Google Books, http://books.google.com/books?id=FdCQ_T_0dpwC&lpg=PP1&ots=k_BiVXN9I6&dq=An%20Essay%20C oncerning%20Human%20Understanding&pg=PA9 (acesso em 27 de junho, 2009). 27 Marshall McLuhan, Understanding Media: The Extensions of Man (New York: McGraw Hill, 1964). 28 Neil Postman, Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business (New York: Alfred Knopf, 1985). 29 David H. Jonassen, ed., Handbook of Research on Educational Communications and Technology (Mah- wah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2003).
  • 9. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 9 didáticos de língua inglesa e artes30 . Infelizmente, sei de muitos professores que usam os programas de TV como um preenchimento de tempo ou mostram um filme como uma recompensa por bom comportamento, mais do que os usam como um texto para a análise crítica31 . Entrevistadora: Sua mãe sentiu um empurrão para usar a TV na aula, como sua avó teve com o cinema e o rádio? Grace: No caso da programação do Canal Um, ela não teve escolha. O programa estreou em 1989 como um programa noticioso de doze minutos para escolas secundárias e de ensino médio em todo o país. Dois desses doze minutos eram anúncios comerciais de doces, refrigerante, videogames, e tudo mais que pudesse ser endereçado a adolescentes. Ele foi propagado como uma solução para as altas taxas de evasão, os baixos resultados em testes e a falta de recursos. A escola secundária em minha região foi uma das primeiras a assinar contrato com a Whittle Communications em 1990. Em troca de uma antena parabólica, fiação e uma TV e videocassete em todas as salas de aula, nosso diretor tinha que garantir que todos os estudantes assistiriam aos programas (inclusive os comerciais), ao menos 90% das vezes. Minha mãe estava no conselho escolar que então votou a assinatura de um contrato de três anos com a Whittle, mas essa foi uma decisão bastante controversa. A principal questão era se fazer com que os estudantes assistissem aos comerciais violava ou não os seus direitos civis, uma vez que a audiência escolar era obrigatória. Pais, professores, administradores e membros da comunidade estiveram igualmente pró e contra. Isso gerou uma enorme discussão. Entrevistadora: O Canal Um ajudou os estudantes a aprender? Grace: Essa é uma pergunta interessante. A pesquisa que o diretor divulgou entre os professores informava uma diferença média de sete pontos percentuais nos resultados dos testes entre os estudantes que viam o Canal Um e aqueles que não assistiam aos programas32 . Mesmo assim, para uma série de professores e pais, esta não parecia uma diferença suficientemente significativa, para dar a licença para os estudantes verem comerciais durante a jornada escolar. Entrevistadora: O que sua mãe achou do Canal Um? Grace: No início ficou impressionada. Gostou do fato dos âncoras serem adolescentes bem falantes. E ele era chamativo, como a MTV, com música acelerada e gráficos coloridos. Porém, além da estética, ela era cética. Ela aposentou-se no ano que ele foi implementado na região. Ele era transmitido de nossa biblioteca escolar por um circuito interno. Quando comecei a lecionar na escola secundária, fiquei frustrada pelo contrato com a Whittle não permitir parar ou retroceder para discussões sobre alguma das notícias ou comerciais com 30 Robert Kubey e Frank Baker, “Has Media Literacy Found a Curricular Foothold?” Education Week (1999): 19, 56. 31 Renee Hobbs, “Non-Optimal Uses of Video in the Classroom.” Learning, Media and Technology 31 (2006): 35-50. 32 Ann De Vaney, ed., Watching Channel One: The Convergence of Students, Technology, and Private Business (Albany: SUNY Press, 1994).
  • 10. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 10 os alunos. Essencialmente, nós não tínhamos controle sobre a programação e não podíamos usá-la realmente como parte do currículo escolar. Dessa forma, simplesmente íamos em frente. Sendo uma professora nova, eu não dizia nada. Apenas permitia que os estudantes fizessem sua lição de casa e dava atendimento durante a transmissão. Acredito que os professores efetivos toleravam o Canal Um, pois eles pensavam que os equipamentos de vídeo poderiam ser usados pelos estudantes para outras coisas como gravar seus próprios comunicados matutinos e transmiti-los para todas as classes pelo sistema da escola, mas isso nunca ocorreu. A transmissão pelo satélite e a rede de TV na escola era tão ajustadas ao Canal Um que os professores não acharam fácil adaptá-las a outras formas de ensino. E, honestamente, eu simplesmente não tinha tempo ou energia para descobrir como fazer isso. De qualquer modo, o Comitê de Educação não renovou o contrato depois dos três primeiros anos. A justificativa oficial era que eles estavam cansados da luta interna que foi criada, porém acredito que o supervisor percebeu que o contrato não oferecia muito para nós, exceto o equipamento “grátis”. Nessa época, as TVs e videocassetes não eram mais considerados tecnologias inovadoras. O comentário geral no meu distrito é que o supervisor queria, ao invés delas, investir nos microcomputadores. Entrevistadora: Sua mãe utilizou computadores como professora? Grace: Sim, na verdade. Mas eu preciso começar dizendo que minha família estava fora da curva quando começou a tecnologia do computador. Meu pai trabalhou para a IBM na década de 1970 e início da de 1980, e nosso lar foi exposto à tecnologia do computador muito antes de outras famílias. Acredito que nosso primeiro computador pessoal em casa foi em 1978. Era o TRS-80 e rodava a partir de fitas cassete, se você pode acreditar nisso. Depois, em 1981, pedimos que meu pai comprasse um computador Apple Iie e minha mãe usava-o para registrar notas e criar folhas de tarefas e testes para seus alunos. Ela estava na vanguarda da curva de aprendizado quanto aos usos pessoais e profissionais do computador. Em 1989, ela solicitou uma dotação que resultou em cinco computadores Apple para sua classe. Esta foi uma transação excepcional, pois dificilmente qualquer um estava usando computadores com os alunos na sala de aula. Ela teve um par de anos antes de se aposentar para explorar o uso do computador como parte do currículo. Embora ela estivesse familiarizada com a utilização do computador num nível pessoal e profissional, ficou perplexa quando começou a usá-lo com um grupo de estudantes. Não havia recursos para o aperfeiçoamento profissional33 . Na época, eu estava fazendo meu treinamento na mesma escola, assim, ela de vez em quando me pedia ajuda para fazer algo no computador. Eu ajudava-a a organizar grupos de estudantes ao redor do computador para escrever ensaios no processador de texto. Ela achava que o método de cortar e colar era muito poderoso, pois permitia aos estudantes pensar conceitualmente, em vez de se limitarem ao tradicional formato linear de narrativa, como na máquina de escrever. Muito possivelmente o processador de texto ultrapassou o controle remoto como a tecnologia mais usada em sala de aula por minha mãe. 33 Judith Haymore Sandholtz, Cathy Ringstaff e David C. Dwyer, Teaching with Technology: Creating Student-Centered Classrooms (New York: Teachers College Press, 1997).
  • 11. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 11 Entrevistadora: Como suas próprias experiências com a tecnologia influenciaram sua docência? Grace: Finalizei meu curso de licenciatura um ano antes de minha mãe aposentar-se do ensino em 1991. Eu ensinei na terceira série e basicamente utilizava as mesmas coisas que meu professor orientador usava: livros didáticos, figuras, calculadoras e reprodutores cassete de áudio. Também tinha um velho piano compacto na minha sala de aula, que tocava com frequência. Os estudantes amavam essa interação. Acho que eu era a única pessoa na escola que eles conheciam além da professora de música que sabia tocar. A biblioteca tinha também computadores e TV/videocassetes em carrinhos que eu podia levar para minha sala quando necessário. Eu praticamente fazia o mesmo que meu orientador: você sabe, a abordagem padrão de leitura e apostila. Eu poderia dar algum tipo de leitura – no livro ou mostrar a eles um vídeo ou apresentação na lousa – e depois eles iriam responder questões numa planilha. Quando chegava a hora deles concluírem seus ensaios, eu os conduzia à biblioteca para digitar e imprimir seus trabalhos. Entrevistadora: Seu diretor incentivou-a usar os computadores na sala de aula? Grace: Honestamente, não acho que o diretor estava muito preocupado se usávamos tecnologia em nossa prática. Esse não foi, de fato, um problema. Tornou-se mais uma questão quando eu me mudei para uma escola secundária para ensinar na sétima série, em 1994. Como eu disse, nós tínhamos o Canal Um durante as manhãs na sala de aula, e em 1995 o superintendente da região instalou laboratórios de computadores em todas as escolas e bibliotecas. Isso foi ótimo porque eram computadores Apple com multimídia e nossa bibliotecária – agora chamada de “especialista em mídia da biblioteca” – encomendou um monte de programas em CD-ROM como as enciclopédias Encarta e Grolier. O Oregon Trail foi um dos jogos mais populares entre os estudantes. Havia também um programa de Human Body virtual que os estudantes gostavam. Lembro que os estudantes tentavam remover as folhas de parreira digital das partes íntimas dos corpos. Acho que minha bisavó ficaria encantada com a alusão bíblica das folhas de parreira em um retrato clínico e científico do corpo humano. Penso que os programas eram realmente inovadores em termos de integração de multimídia. A interatividade de texto, imagens e áudio eram incrivelmente sofisticadas naquela época e apelaram a diferentes modalidades de aprendizado que realmente ajudaram meus estudantes com dificuldades. No geral, o software era pouco mais do que “edutretenimento”. Também sinto que nós estávamos gastando dinheiro de maneira imprudente com equipamentos de computador e softwares em prejuízo de algumas de nossas necessidades mais básicas. Nossa escola não tinha dinheiro para um contrato de ônibus para transportar os alunos atletas para os jogos, as telhas do telhado estavam caindo em algumas das salas de aula, e não havia supostamente dinheiro disponível para um programa pós-escola. Penso que não é uma mensagem apropriada a dar a nossos estudantes – que se eles completarem a “chata” tarefa escolar, depois eles poderão jogar videogames “divertidos”. Acho que é uma falsa dicotomia. O que eu aprendi é que a mídia interativa não garante aprendizagem interativa ou mesmo ensino inovador. E, nos últimos tempos, os softwares simplesmente ficam esquecidos num disco rígido em algum lugar. Como o uso da TV, o software foi usado principalmente para
  • 12. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 12 entretenimento ou recompensa. Creio que programas não são itens da lista de compras da escola este ano, já que a maioria dos aplicativos que nós usamos agora está na web. Entrevistadora: Falando da web, qual é a sua avaliação do impacto da internet na escola? Grace: Quando isso veio para a escola, creio que existia um monte de oportunidades e desafios em dois níveis. Primeiro, num nível informativo, a internet permite que nós acessemos uma quantidade ilimitada de informação. Acredito que como educadores nós precisamos determinar o objetivo da escolarização e perguntar a nós mesmos porque nos reunimos no mesmo prédio diariamente se atualmente existem mais informações fora das escolas do que dentro delas. Eu também acho que enganamos a nós mesmos se esperamos que nossos alunos ingressem em fóruns de discussão para interagir com cientistas eminentes, líderes empresariais e acadêmicos e acessar extensas bases de dados de informação sem andaimes para sua aprendizagem. Eu não estou tão preocupada com a habilidade dos estudantes para acessar a informação quanto estou preocupada, de fato, com o quanto eles entendem, seja por meio de um livro, vídeo ou website. Com todo o hype envolvendo a internet, nós colocamos muita ênfase nos estudantes encontrarem fontes de informação e conhecimento em detrimento da análise interna e avaliação dessa informação. Se nós focalizamos no como os estudantes aprendem, a internet fornece um meio que é mais conceitual, não linear e autêntico34 . Na última semana eu pedi a meus alunos de sétima série para observarem os modos que Shakespeare utiliza o conceito de tristeza em seus sonetos. Eles facilmente pesquisaram todas as obras online35 . E um dia que a rede tinha caído, eles usaram as Obras Completas de Shakespeare em CD-ROM. Entrevistadora: Você mencionou dois níveis de oportunidades e desafios. Qual é o segundo nível? Grace: Como professores, estamos definitivamente ficando para trás, pois muitos de nossos alunos sabem e fazem mais com estas tecnologias do que nós. Meus alunos da sétima série literalmente vivem na internet e em seus telefones celulares. Suas vidas fora da escola são altamente mediadas pelo celular, pelas telas, TV, música e internet, apenas para mencionar alguns meios. Eles estão no MySpace, encontram pessoas para ouvir música, assistir a vídeos e fazem upload de seus próprios vídeos e, continuamente, passam mensagens de texto uns aos outros36 . Embora minha zona escolar, atualmente, tenha banido o uso de telefones celulares nas salas de aula das escolas secundárias e médias, não permitindo o acesso dos estudantes às suas páginas do MySpace ou Facebook dos computadores da escola. Depois que uma professora de minha distrito ter sido demitida no último ano após uma foto e mensagem controvertida na sua página do MySpace, os 34 Michele Jacobsen, Pat Clifford e Sharon Friesen, “Preparing Teachers for Technology Integration: Creating a Culture of Inquiry in the Context of Use” Contemporary Issues in Technology and Teacher Edu- cation 2 (2002): 363-388. 35 Jeremy Hylton, The Complete Works of William Shakespeare, Complete Moby Shakespeare, http://shakespeare.mit.edu/ (acesso em 15 de abril, 2009). 36 Amanda Lenhart, Oliver Lewis e Lee Rainie, “Teenage Life Online,” Pew Internet & American Life Project, 21 de junho, 2001, http://www.pewinternet.org/Reports/2001/Teenage-Life-Online.aspx (acesso em 15 de abril, 2009).
  • 13. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 13 professores da região foram proibidos de manterem qualquer site de rede social. Assim, existe essa nuvem de protecionismo e censura que está sempre sob nossas cabeças. Entrevistadora: A preocupação principal não é que os estudantes acessem “conteúdo impróprio” quando eles se conectam à internet na escola? Grace: Sim. Este foi o ímpeto para a criação do V-chip, do CyberPatrol e da NetNanny há pouco mais de uma década. É interessante que a tecnologia prolonga a si mesma. Agora há também bloqueadores de pop-up e outras características de segurança nos recursos de busca, porém aprendi da maneira mais dura que esses filtros não são acurados e não podemos confiar somente neles. Devemos nos mover além do medo e da incerteza do acesso à informação na escola, por que, para falar a verdade, muitos de meus estudantes estão acessando o “conteúdo impróprio” dentro e fora das escolas37 . Como iremos ensiná- los a fazer boas escolhas e ser cidadãos responsáveis se isso não é parte do currículo escolar? Este não foi um objetivo fundamental da escolarização a poucos séculos atrás quando minha bisavó estava ensinando compaixão, pluralismo e patriotismo usando o McGuffey’s Readers? Não é mais suficiente apenas ensinar a habilidades de visão crítica como minha avó e minha mãe fizeram. Os alunos também precisam aprender a ser usuários críticos dessas tecnologias. Se os professores e nossos estudantes não podem usar a mídia nas escolas, então como podemos acompanhar isso? Existe uma desconexão real entre o que meus alunos estão fazendo com a tecnologia em seu cotidiano e o que eles encontram na sala de aula. Para mim, é um grande paradoxo que a lei atual permita que a Bíblia seja ensinada na escola secundária na aula de literatura e, ao mesmo tempo, os professores em meu distrito não têm a permissão para pedir que os estudantes leiam A Girl’s Life Online, em função da abordagem gráfica do livro sobre a internet segura38 . Talvez não estejamos vendo a floresta ao nos concentrarmos em árvores específicas. Entrevistadora: Qual você acha que é o maior obstáculo para ensinar os estudantes a serem usuários e consumidores críticos de informação? Grace: Creio que é este crônico impulso burocrático e capitalista. A indústria tecnológica tem sido e continua a ser, igualmente, uma benção e uma maldição na sociedade capitalista dos Estados Unidos. Historicamente falando, educar as massas tem sido um forte desafio burocrático. Combine essas duas questões e você terá uma grande dificuldade para os docentes. Penso que, para a maioria das professoras de minha família ter sido capaz de conduzir-se de maneira bem sucedida, foi necessário que elas percebessem o ideal democrático da educação, juntamente com o impulso da indústria tecnológica e da administração escolar burocrática. Esta foi e continua a ser uma batalha épica. Devido ao aumento do financiamento estatal para minha região, em particular, nós temos toda tecnologia imaginável. Sou testemunha de um ciclo cego que se repete nos últimos quinze anos. Meu distrito está em um modo sem fim de atualizações. Recentemente li que o 37 Gigi Stone, “’Sexting’ Teens Can Go Too Far,” ABC News, http://abcnews.go.com/print?id=6456834 (acesso em 15 de abril, 2009). 38 Robert P. Doyle, Books Challenged and Banned in 2008-2009 (Chicago, IL: American Library As- sociation, 2009), http://www.ala.org/ala/issuesadvo- cacy/banned/bannedbooksweek/resourceguide/links/2009banned.pdf (acesso em 24 de junho, 2009).
  • 14. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 14 governo dos EUA gastou mais de 40 bilhões de dólares ao longo dos últimos para colocar computadores nas escolas e conectar as salas de aula à internet. Porém, os professores raramente são consultados sobre equipar a escola com tecnologias ou proporcionar aperfeiçoamento profissional39 . Parece muito similar a como o cinema e a TV foram burocraticamente introduzidos nas escolas no início do século vinte. Deste modo, não vejo como alguém possa esperar que o uso das tecnologias em sala de aula se dê de algum modo diferente do extracurricular, uma vez que raramente isso se relaciona com a vida profissional de um professor. Meu desafio específico em 2009 foi o encargo federal do Nenhuma Criança Deixada para Trás (No Child Left Behind). O NCLB é uma confluência de políticas de educação federais anteriores dos últimos quinze anos, assim, não é nada inteiramente novo. Nós avaliamos os estudantes em linguagem, matemática e ciência. No último ano, o “letramento tecnológico” foi incluído como área temática de avaliação. O estado decidiu que cada distrito escolar deveria criar e gerenciar um exame. Eu estava no comitê de nosso distrito escolar e nós olhamos os parâmetros nacionais para verificar o que nós podíamos realisticamente avaliar num formato padronizado, o que era basicamente reduzido à digitação simples e a como localizar informação na internet – nada muito criativo ou voltado à criticidade. O que me recorda do modelo fabril voltado à eficiência escolar que minha avó questionou no início do século vinte. Não me entenda mal – existem várias atividades interessantes de letramento informacional que nossos bibliotecários especialistas em mídia desenvolvem para nossos estudantes utilizarem recursos não superficiais da internet, de modo a avaliar a credibilidade e autenticidade da informação, porém eu gostaria de ver outros professores integrando esse tipo de pensamento crítico numa variedade de áreas temáticas. Apesar da alta exposição dos estudantes às novas tecnologias fora da escola, eles precisam desesperadamente de adultos para tirar sentido da informação e entender suas implicações políticas, econômicas e sociais, por si mesmos. Acredito que é um desserviço para nossos estudantes se os planejadores de politicas assumem a abordagem do “bloquear ou banir”. Creio que existem ilhas de inovação acontecendo, porém nós precisamos dirigir nossos esforços para a educação midiática – ensinando os estudantes a acessar, analisar, avaliar, produzir e comunicar-se a partir de diferentes tipos de mídia40 . Quando comecei a ensinar em 1991, a educação midiática não era parte do currículo formal, embora já estivesse ocorrendo em certas regiões ao longo do país. Ela estava basicamente inserida dentro dos currículos de língua inglesa e artes. Levou uma década de investimento em infraestrutura tecnológica com pouco retorno para os planejadores de políticas perceberem que a alfabetização tecnológica não é suficiente e que o letramento midiático é essencial41 . 39 National Center for Education Statistics, Internet Access in U.S. Public Schools and Classrooms: 1994- 2001 (Washington, D.C.: U.S. Department of Education, 2002). 40 Patricia Aufderheide, “Media Education in the ‘90s,” Afterimage 25(1998): 17. 41 Michael J. Copps, “Remarks of Commissioner Michael J. Copps,” Beyond Censorship: Technologies and Policies to Give Parents Control Over Children’s Media Content. (Washington, D.C.: Kaiser Family Foundation/New America Foundation, 2006) http://hraunfoss.fcc.gov/edocs_public/attachmatch/DOC- 265842A1.pdf (acesso em 1 de novembro, 2007).
  • 15. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 15 Entrevistadora: Mas e quanto aos riscos e responsabilidades relacionados com a exposição dos estudantes a conteúdos inadequados na escola? Grace: Sem dúvida, isso é uma realidade. Tem sido uma realidade desde que minha bisavó assistiu à batalha sobre o conteúdo religioso “impróprio” no McGuffey’s Eclectic Readers. Creio que os educadores precisam trabalhar sobre isso. Por exemplo, no próximo ano escolar meu diretor decidiu explorar um caminho diferente que é mais socialmente responsável e integra letramentos em mídia e tecnologia. Iremos requerer que, no início de cada ano escolar, todo estudante assine um Termo de Responsabilidade em Computação que diz que ele não irá fazer download nem upload de conteúdo inadequado. Nosso especialista em mídia conversa a respeito do que significa isso em termos do acesso à web, bem como da inserção de conteúdo para todo o mundo ver. O professor de computação, o coordenador de tecnologia e o especialista em mídia estão, atualmente, se encontrando regularmente com o diretor para, com nossos alunos do décimo-segundo ano, criar uma página no MySpace que seja socialmente responsável, adequada e até mesmo atrativa para os membros de comitês de admissão de faculdades. Existe ainda uma série de preocupações sobre a segurança estudantil que nós precisamos trabalhar e que requerem um diálogo com os pais, as lideranças comunitárias, os administradores, os coordenadores de tecnologia e os professores. O fato de que estejamos enfrentando essa questão de frente é promissor. Entrevistadora: O que você vê, atualmente, como o aspecto mais promissor da tecnologia nas escolas? Grace: Definitivamente a Web 2.0, que remete à segunda geração da web caracterizada por programas e dados alocados na rede e disponíveis sob demanda. Isso significa que o que todos precisam, na verdade, atualmente é um computador com acesso à internet. Isso não é um benefício somente para os que estão nos níveis econômicos mais baixos, mas também para todos os usuários gerarem conteúdo e então colocarem-nos em circulação para todo o mundo. Desse modo, meus alunos postam seus ensaios de inglês – e muitos outros conteúdos multimídia – em seus blogs e obtêm feedback e comentários de todos ao redor do mundo. Eles também criam e assinam podcasts ou webcasts de eventos de períodos específicos de seus currículos de História. Eles podem ainda colaborar na resolução de um problema de matemática com o Google Docs. A Web 2.0 também propicia apoio para o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem por professores. Colaborar com outros docentes num documento online curricular usando o Google Docs, aprender aspectos básicos do uso de uma Lousa Digital ao assistir um vídeo do TeacherTube e dar forma aos padrões curriculares do distrito ao contribuir num wiki são todos exemplos de como a Web 2.0 transforma e democratiza o aperfeiçoamento dos professores. Essencialmente, a Web 2.0 proporciona meios para atingir todo o ciclo da educação midiática – acessar, analisar, avaliar, produzir e comunicar usando uma variedade de formas de mídia. Uma vez que criemos comunidades online de aprendizagem, nossos estudantes podem explorar amplamente o contexto e a comunidade42 . De maneira interessante, não creio que isso é muito distante da crença de minha bisavó na escola como 42 Sanjay Asthana, Innovative Practices of Youth Participation in Media (Paris: UNESCO, 2006).
  • 16. Journal of Media Literacy Education 1 (2009) 42-52 <http://digitalcommons.uri.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1003&context=jmle> 16 um espaço comunitário para avalizar a crença em Deus, na vizinhança e no país. Como Neil Postman defende, nossos deuses podem ter mudado, mas a necessidade básica da escola ser um lugar para a reflexão numa sociedade cada vez mais diversificada como os Estados Unidos permanece constante. Como professora de uma escola urbana, cerca de dois terços dos meus alunos não são falantes nativos de inglês. Isso cria uma camada adicional de desafios complementares à diversidade socioeconômica da população estudantil. Se muitos de meus alunos encontram a diversidade apenas nas tecnologias midiáticas, então sabemos que tais experiências são estereotipadas, carecem de profundidade e apresentam uma verdade parcial que é mais difícil de desconstruir sem ajuda. Como educadores, nós precisamos cultivar mais a consciência social e o civismo entre nossos alunos43 . Também me preocupo que meus estudantes não sintam que suas vozes são importantes ou significativas dentro da escola e de sua comunidade ou mesmo no mundo em geral44 . Constantemente escuto-os dizer que mudar o mundo não é sua responsabilidade, mas sim dos adultos. Aqui é onde as tecnologias da Web 2.0 agem para facilitar uma mudança dos jovens como consumidores de informação para jovens como cidadãos responsáveis e participativos. Entrevistadora: O que você aprendeu, se aprendeu algo, ao pesquisar a história do ensino em sua família? Grace: Aprendi que, apesar dos desenvolvimentos dramáticos em mídia e tecnologia, a educação manteve-se basicamente a mesma em termos do direcionamento burocrático voltado à eficiência, por meio de currículos padronizados, avaliação e políticas protecionistas combinadas com a necessidade de aculturar os jovens em uma democracia social e política. Também vim a entender que o acesso a redes de computador de alta velocidade é apenas a ponta do iceberg deste novo milênio. Como professora, realizar meu propósito é auxiliar a construção e manutenção de redes sociais de conhecimento45 . Alcançar a alfabetização tecnológica é apenas um conjunto de habilidades. A educação midiática dá condições a um uso mais crítico e criativo da tecnologia para se relacionar com a informação e com os outros de modos que são socialmente responsáveis. E, neste sentido, penso que minha bisavó Beulah Mae acolheria a ideia de seus alunos fazerem podcasts com suas reflexões sobre o McGuffey’s, atravessando a fronteira ocidental. *** Tradução: Richard Romancini 43 Vanessa Domine, “From Savvy Consumer to Responsible Citizen: Teen Perspectives of Advertising in the Classroom,” The Journal of Media Literacy 51(2004): 45-52. 44 David Tyak, Seeking Common Ground: Public Schools in a Diverse Society (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2003). 45 Hannah Green e Celia Hannon, Their Space: Education for a Digital Generation (London: Demos, 2007), http://www.demos.co.uk/files/Their%20space%20-%20web.pdf (acesso em 24 de junho, 2009).