Reforma da Avenida Glicério em Campinas negligencia arborização
1. Reformulou-se a Avenida
Francisco Glicério, fato alar-
deado como a maior repro-
gramação urbana de Campi-
nas dos últimos 50 anos. Essa
ação causou inúmeros trans-
tornos aos munícipes, pelo
atraso nas obras e condução
dos trabalhos. Enterraram-se
as fiações expostas, amplia-
ram-se as calçadas, melhorou-
se a iluminação da via e pa-
dronizou-se a linguagem ar-
quitetônica do maior eixo fi-
nanceiro de nossa cidade.
Desde a sua concepção, essa
mudança não contemplou a
presença de árvores. Ao con-
trário do que todo o mundo
civilizado faz, criando locais
aprazíveis ao transformar ave-
nidas, Campinas gerou um
deserto viário, cheio de calor,
poluição e desconforto, desfa-
vorecendo à coletividade. A
obra foi entregue com uma
série de falhas e precarieda-
des, quando poderia ser refe-
rência para réplica. Estragou,
antes de inaugurar.
O projeto inicial divulgado
contemplava o uso de trepa-
deiras primavera, tutoradas
por hastes de ferro, para som-
brear as calçadas da avenida,
plantadas em floreiras, em
conjunto com flores, para sua
ornamentação. Campinas
tem o déficit de 365.000 árvo-
res de calçadas e presença de
Ilhas de Calor, sofrimento pa-
ra a população. Trepadeiras e
flores, em floreiras (vasos)
são incapazes de amenizar
ou melhorar essas condições.
A paisagem urbana de
Campinas está dominada e
obstruída por uma rede de
energia obsoleta, fiações ema-
ranhadas, dependuradas, in-
seguras e caóticas. Quando é
realizada uma megaobra pa-
ra mudar as redes expostas,
enterrando-as, não se in-
cluem as árvores, inconcebí-
vel absurdo técnico. Locais ex-
celentes para a arborização fi-
caram vazios.
A transformação da Glicé-
rio poderia ter sido realizada,
programadamente, preparan-
do a cidade para a sustentabi-
lidade e funcionalidade, de
longo prazo. Porém, prejudi-
ca a população, a custos gi-
gantescos que poderiam ter
sido muito melhor emprega-
dos. Esse “novo” local abdi-
cou das contribuições das
grandes árvores copadas co-
mo sombreamento, umidifi-
cação do ar, filtragem de po-
luentes e redução das doen-
ças na população, conserva-
ção do asfalto, embelezamen-
to e estabilidade climática.
Faz-se primordial uma re-
condução e requalificação
nos caminhos tomados nessa
“revitalização” da Glicério,
bem como demais locais de
Campinas, incluindo uma
maior participação técnica e
popular. Em matéria deste re-
nomado jornal em 8 de se-
tembro, a autora do projeto e
o diretor da Secretaria do Ver-
de e do Desenvolvimento Sus-
tentável garantem o plantio
de 100 árvores na avenida,
em vasos gigantes. Espécies,
em sua maioria de porte redu-
zido, a serem confinadas nes-
ses espaços, sem condições
adequadas para seu bom de-
senvolvimento. Em secas e
na ausência de irrigação, se-
rão condenadas.
Sugerimos a melhoria da
presença de árvores pela Gli-
cério e por Campinas, com a
necessidade urgente de apoio
e participação da sociedade
civil, que não é convidada e
instruída nesse sentido. O re-
sultado do desastre ambien-
tal na Glicério ainda pode ser
modificado para contemplar
grandes árvores, integradas à
paisagem da via, em cantei-
ros confeccionados ao nível
do solo, amplos, plantando-
se em regime de mutirão e
educação ambiental, prática,
com a população. Essa ação
valorizaria o conhecimento
técnico, colaborando com o
trabalho da Prefeitura. Partici-
pando, a população passa a
entender e a respeitar a pre-
sença e necessidade das árvo-
res em canteiros grandes,
bem cuidados e forrados, pa-
ra melhorar sua própria quali-
dade de vida.
Em canteiros em solo natu-
ral, as árvores se mantêm
com a umidade do solo, com
custos de implantação e ma-
nutenção reduzidos, facilmen-
te viabilizáveis, ao contrário
dos vasos, ideia extravagante
e ambientalmente inócua.
Que vejamos lindos alecrins
de campinas, sibipirunas, al-
dragos, guarantãs, cabreúvas
vermelhas, sucupiras pretas,
mirindibas rosa, ipês roxo,
branco e amarelo (dos de por-
te maiores), implantados na
Glicério em parceria com a
população e, modifiquemos,
iniciando pela principal ave-
nida da cidade, a maneira
que tratamos esses seres tão
nobres, expandindo essa no-
va conduta por toda Campi-
nas.
A Educação Física no Brasil
entra em um período em que
apenas reflexões e teses não
serão suficientes para salvá-
la de uma derrocada sem vol-
ta. Ficou claro que em toda
esta discussão em torno da
reforma do Ensino Médio bra-
sileiro, a Educação Física é
uma disciplina que precisa re-
ver seus conceitos se quiser
seguir figurando nas grades
curriculares dos próximos
anos.
Logicamente, que a deci-
são radical de tirar a Educa-
ção Física do Ensino Médio
representa um erro que afeta-
rá uma geração de jovens e,
por consequência, a saúde
do País.
É certo também que a ex-
clusão é uma forma de reco-
nhecer a incompetência da
Educação Física escolar. O
modelo atual dessa discipli-
na é absolutamente acessó-
rio, já que não elege conteú-
dos relevantes, é baseado em
moldes competitivos exclu-
dentes derivados do esporte,
que destaca os poucos habili-
dosos em detrimento dos de-
mais alunos.
Porém, precisamos apro-
veitar este momento de mu-
dança para apresentar novas
fórmulas, de modo que se ele-
ve verdadeiramente a discipli-
na. A Educação Física deve
ser pensada como tal, com
uma profunda transforma-
ção na cultura de educação e
formação do cidadão com
saúde, disciplina e bem-es-
tar. E não apenas como acon-
tece hoje em grande parte
das escolas brasileiras, onde
a atividade acontece apenas
com uma bola e um apito.
Essa transição deve come-
çar de imediato, já que é de
médio e longo prazo, que se
cria a conscientização de que
os professores da área preci-
sam investir em sua capacita-
ção. Tal capacitação engloba
estudo e dedicação, ultrapas-
sando as barreiras culturais
atuais.
A Educação Física deve
ter, daqui por diante, a mis-
são de passar aos estudantes
o entendimento e a importân-
cia das diferentes formas de
se movimentar, compreen-
dendo como o corpo e o orga-
nismo funcionam e como o
corpo pode ficar mais debili-
tado, suscetível a doenças e
com formas que podem não
agradar a eles mesmos na fal-
ta da prática de uma ativida-
de física.
Levar ao aluno essa nova
forma de entender a Educa-
ção Física não exigiria gran-
des investimentos. Ao contrá-
rio, basta ao professor plane-
jar e utilizar o universo gigan-
tesco de conceitos e ideias da
área para explicar, dar base e
conhecimento para o aluno
praticar, entendendo o corpo
e o exercício, de modo que se
sinta permanentemente esti-
mulado a levar uma vida lon-
ge do sedentarismo, ativa e
saudável.
A Educação Física está em
xeque no País. Os benefícios
dessa transformação são gi-
gantescos. Se bem planejada
e executada, a disciplina pro-
porciona respeito e entendi-
mento do corpo, bem-estar,
saúde, fazendo jovens melho-
res cidadãos. É triste ver a dis-
ciplina que justamente leva
educação em seu nome, nes-
te momento, não estar fazen-
do jus a chancela. Mas ainda
está em tempo. É preciso mu-
dar para que a reforma educa-
cional não sinalize o começo
do fim dessa importante ma-
téria escolar.
Opinião
A trajetória da cidade talvez
mais famosa do mundo, No-
va York, serve para mostrar
que decisões e sinalizações
governamentais equivocadas
podem, sim, desencadear um
estado permanente de crise
institucional e uma combina-
ção bombástica de recessão,
fuga de investimentos, queda
nos cuidados com a cidade e
aumento da criminalidade.
Ainda na década de 1980,
a cidade era bem diferente
do que é hoje, em que Ma-
nhattan é quase toda uma vi-
zinhança de classe média e al-
ta, incluindo boas partes do
Harlem. O Bronx ainda é
uma área em transformação
urbana, e que lembra, um
pouco, o que era a cidade
nos anos 1970 e 80. Regiões
como o Harlem e Bowery e
mesmo parte do Brooklin
atingiam um grau de degrada-
ção de que não tínhamos no-
ção no Brasil naquela época.
Os taxistas olhavam de esgue-
lha, meio apavorados, quan-
do se falava em ir a essas re-
giões.
O início da história dessa
Nova York “barra pesada”,
que começou a fazer parte do
passado definitivamente a
partir da década de 1990, é ca-
tapultada a partir da recessão
causada pela Crise do Petró-
leo durante os anos Nixon e
Gerald Ford nos EUA. Entre
1970 e 1975, Nova York per-
deu quase 500 mil empregos
formais, com uma fuga de in-
vestimentos e negócios sem
precedentes. Nos anos de
1973 e 1974, o município de
Nova York praticamente de-
cretou falência, vendo-se obri-
gado a reduzir os gastos públi-
cos em infraestrutura, limpe-
za e segurança drasticamen-
te. Mais de 20% do contingen-
te de trabalhadores em áreas
de serviços públicos e polícia
foram dispensados, pois a ci-
dade simplesmente não ti-
nha como honrar com seus
compromissos.
O resultado desse muito
alardeado corte foi pior do
que o esperado: simplesmen-
te se espalhou rapidamente
um sentimento de semipâni-
co de que a cidade estava “en-
tregue às traças”, fazendo
com que os assaltos e homicí-
dios tenham triplicado entre
1970 e 1975, e grandes áreas
da cidade passassem a viver
em limites mais elásticos de
limpeza e cuidado. Nova
York até era relativamente in-
segura, mas acima de tudo
era aterradora, e muito suja.
O auge dessa situação foi um
blackout geral que durou 72
horas em 1977, atribuído a di-
versas causas, em meio a
uma greve da polícia.
A quem chegava no aero-
porto da cidade em 1975, vo-
luntários distribuíam um
“guia de sobrevivência”, que
recomendava não sair à noi-
te, não andar no metrô, entre
outras medidas que transita-
vam entre a precaução e o ter-
rorismo.
Mas o que mais chamou a
atenção no caso de Nova
York foi o rápido estopim da
situação de crise, que afugen-
tou negócios, pessoas e inves-
timentos, fruto principalmen-
te de governos que não sou-
beram lidar com as dificulda-
des e semearam um senti-
mento de desleixo e insegu-
rança, que durou anos ao se
declarar “impotentes diante
da situação” e escancarar
que os serviços públicos, in-
clusive de segurança, esta-
vam muito comprometidos
pela situação financeira e pe-
la crise econômica, e seriam
reduzidos. Ao não saber lidar
com esse impacto na socieda-
de, agravaram uma situação
que demorou décadas para
ser revertida e controlada.
Essa é uma lição que ficou
para a história. A distância en-
tre saber lidar com crises, no
sentido de debelá-las e con-
trolá-las, ou simplesmente
“perder a mão” e poten-
cializá-las é tênue. A combi-
nação de recessão prolonga-
da, crise financeira das insti-
tuições, desleixo e inseguran-
ça pode ser fatal para uma ci-
dade. E a sua estratégia de re-
versão exige envolvimento, li-
derança, e muito mais do
que mais do mesmo.
Educação Física em xeque
Violência e
investimentos
MUDANÇA
Editor: Rui Motta rui@rac.com.br - Editora-assistente: Milene Moreto milene@rac.com.br - Correio do Leitor leitor@rac.com.br
gustavo grisa
Avenida Glicério, sem árvores
JOSÉ HAMILTON DE
AGUIRRE JUNIOR
■ ■ José Hamilton de Aguirre Junior é
engenheiro florestal, mestre em Arborização
Urbana, especialista em Ecologia e
Sustentabilidade, professor universitário de
Paisagismo
CRISTIANO
PARENTE
■ ■ Gustavo Grisa é economista e
especialista do Instituto Millenium
ARBORIZAÇÃO
■ ■ Cristiano Parente é professor e coach de
educação física
“Vamos fazer mudanças para melhorar o que já
fizemos”
Jonas Donizette (PSB), reeleito prefeito de Campinas com 65,43% dos votos, anunciando trocas no secretariado.
charge
opiniao@rac.com.br
A2 CORREIO POPULARA2
Campinas, terça-feira, 4 de outubro de 2016