Este documento discute a importância dos rios para o desenvolvimento urbano e como as cidades interferiram nas paisagens ribeirinhas ao longo do tempo. Ele analisa casos de revitalização de rios em várias cidades e foca no projeto de revitalização do rio Piracicaba na cidade de Piracicaba. O documento argumenta que a requalificação de áreas ribeirinhas melhora a paisagem urbana e a qualidade de vida.
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie
REQUALIFICAÇÃO DE RIOS URBANOS E SUAS PAISAGENS
Daniel Grisotto (IC) e Ricardo Hernan Medrano (Orientador)
Apoio: PIVIC Mackenzie
Resumo
Este trabalho tem o propósito de estudar o desenvolvimento urbano a partir dos rios e demonstrar
como o processo de desenvolvimento e crescimento das cidades interferiu na alteração das
paisagens ribeirinhas. A partir de estudos de casos de revitalização a beira rio em várias cidades do
mundo, este trabalho visa analisar os métodos aplicados nos projetos de requalificação e sua relação
com a melhoria da paisagem urbana. Tendo como o caso especial o projeto de revitalização do rio
Piracicaba na cidade homônima, o trabalho irá mostrar como essa área foi resgatada e reintegrada à
cidade.
Palavras-chave: rios, paisagens, recuperação
Abstract
This work aims to study the urban development from the rivers and demonstrate how the development
process interfered with the growth of cities change in riverine´s landscapes. From case studies of the
riverfront revitalization in cities around the world, this work aims to analyze the methods used in
rehabilitation projects and their relation to the improvement of the urban landscape. Taking the special
case as the revitalization project in the city of Piracicaba river of the same name, the work will show
how this area was rescued and reintegrated into the city.
Key-words: rivers, landscape, recovery
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INTRODUÇÃO
Os rios são de extrema importância para o desenvolvimento as cidades – sabe-se que
desde a antiguidade elas eram fundadas às suas margens. Isso acontecia porque as terras
próximas às suas margens eram mais férteis para o cultivo de alimentos e tinham caça em
maior abundância. Estar próximo a um rio significava acesso fácil aos recursos mais
importantes para a sobrevivência humana: água e alimento. Os rios sempre foram, além
disso, vias naturais de circulação, o que permitia às populações driblar outro desafio – o
isolamento. Os rios desempenharam ao longo da história papel de fundamental relevância
para diferentes grupos de pessoas, que estabeleceram com suas águas relação de
dependência, respeito e até veneração.
Com o passar do tempo, a relação do homem com os rios foi se transformando, sobretudo
após o início da Revolução Industrial, no final século XVIII, com o uso de novas técnicas
produtivas. Os rios e suas margens foram sofrendo as conseqüências de um
desenvolvimento econômico: poluição, crescimento desordenado, ocupação em áreas de
várzea, desaparecimento da mata ciliar, entre outros problemas físicos de degradação
ambiental.
No Brasil, em conseqüência do desenvolvimento industrial, principalmente após a década de
1930, com o avanço da técnica de produção e o êxodo rural, as cidades – sobretudo na
região sudeste - cresceram muito rapidamente impactando de forma negativa o meio físico.
A degradação dos rios e das áreas ribeirinhas se deu de forma acentuada nas últimas
décadas já que qualquer ação ou idéia de preservação dos recursos hídricos tinha como
preocupação exclusivamente o abastecimento – era preciso cuidar para que a água
continuasse chegando à população e para que não faltasse insumo à produção. Havia
preocupação com o abastecimento de água, não com os rios. Os aspectos ecológicos do
ambiente, como dinâmica hidrológica, preservação de matas ciliares, etc. foram sempre
degradados devido aos efeitos das intervenções urbanas nos cursos d’água. Como
conseqüência desse mau trato aos rios, as problemáticas ecológica e epidemiológica, como
enchentes, transmissão de doenças e escassez para o abastecimento se tornaram cada vez
mais presentes no contexto urbano. Isso levou a um novo arranjo das encostas, que
passaram a ser um ambiente urbano degradado e inseguro, sendo um problema para a
gestão pública e para os cidadãos.
Um exemplo, e objeto de estudo deste trabalho, é o caso de Piracicaba, às margens do rio
homônimo. Em 2001, após anos de depredação e esquecimento do poder público, parte da
área ribeirinha do rio Piracicaba, na Região da Rua do Porto foi alvo de um projeto de
revitalização. O projeto, chamado de Plano de Ação Estruturador (PAE), foi elaborado por
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renomados profissionais de diversas áreas, entre historiadores, sociólogos, arquitetos e
urbanistas, paisagistas e engenheiros agrônomos, entre outros. O principal objetivo do PAE
era resgatar a qualidade natural da área e implantar espaços públicos de uso cultural, tendo
como fundamento, equacionar desenvolvimento urbano com respeito à natureza. Passados
dez anos do projeto original, que foi implantado apenas em parte, este estudo propõe uma
nova ação na área, com um projeto de requalificação mais abrangente do que o implantado
em 2001 – contemplando pontos que não foram abordados no projeto inicial.
Para o desenvolvimento deste trabalho, realizou-se uma pesquisa que passou pela análise
da importância dos rios para as cidades, desde sua importância como paisagem urbana
ampliando os espaços físicos de recreação e lazer para a população até melhoria de todo o
sistema ecológico do centro urbano. Como será explicada no trabalho a requalificação
desses espaços verdes melhoram a qualidade de vida da população em quesitos como
melhoria da qualidade do ar e controle da temperatura, além de alguns casos resgate da
cultura local, já que muitas vezes o rio está diretamente relacionado à cultura local.
REFERENCIAL TEÓRICO
No decorrer da história, as civilizações escolheram margens de rios, mares e lagos para
assentamento e instalação de seus núcleos urbanos. Essa proximidade se dava ao fato de
as águas servirem para abastecer as habitações, para a ativação de maquinários de
engenharia, como o monjolo ou a roda d’água, para o lazer, e atividades extrativistas como
a pesca, a mineração areia, argila e pedras. Após o período da Primeira Revolução
Industrial e o fim do sistema feudal, grandes cidades surgiram em decorrência deste
processo. Pode-se observar tal fato nesta passagem de O Manifesto do Partido Comunista
de Marx e Engels:
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros
urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em
relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da
população do embrutecimento da vida rural
As cidades passaram então, a alojar toda a esfera produtiva baseada no sistema de
manufaturas com produção em escala. Logo, todos os detritos gerados tanto pelas novas
industrias como pela sua população tinham como destino final as águas dos rios, que agora
estavam inseridos nesses novos centros urbanos. A partir desse processo iniciasse o longo
período de descaso e poluição dos rios , que começaram com o passar do tempo e do
crescimento ainda maior dessas cidades, a serem vistos como obstáculos a serem
rompidos.
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No Brasil essa relação do rio com seus habitantes, ocorre desde as sociedades indígenas
que aqui viviam. Para eles o respeito com as águas dos rios fazia parte de uma questão
cultural e de sobrevivência, pois era de onde retiravam seus alimentos através da pesca, do
uso da água para o cultivo agrícola, além, é obvio, de servirem de fonte de água pura. No
período colonial os rios ofereciam para as cidades brasileiras, além de água, controle de
território, alimentos, possibilidade de circulação de pessoas e bens sendo a principal
maneira de chegarem a outros territórios abrangendo assim, seu deslocamento a outras
regiões ribeirinhas e ampliando as terras conquistadas. (COSTA, 2000)
Além disso, eles delimitam a configuração urbana os rios contribuem para melhoria da
paisagem urbana, e em alguns casos possuem fortes relações culturais com o local e seus
habitantes. Como no caso das cidades nordestinas de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) no rio
São Francisco ou nas cidades ribeirinhas da região Amazônica, que para compensar o
isolamento a população está fortemente vinculada aos rios que servem para uso de
logística, retirada de alimentos e também para fins festivos e comemorativos. (FRANCO,
2002)
O rio atua, ainda como coadjuvante de outros elementos para a
formação da paisagem natural e cultural, como a topografia, solo,
modelagem do relevo, vegetação. (GORSKI, 2010)
Sob o aspecto físico da forma urbana, os rios são fortes elementos da paisagem e,
geralmente, estruturam o tecido urbano que lhes é adjacente, tornando-se muitas vezes
eixos de desenvolvimento do desenho da cidade, sendo em alguns casos considerados as
“espinhas dorsais” do tecido urbano. A definição de paisagem no entanto é um tema muito
abrangente, pois as definições de paisagem, citadas por diversos autores, entre eles
geógrafos, biólogos, urbanistas e sociólogos são diversas de acordo com o foco estudado.
No entanto nesse trabalho será estudada a idéia de paisagem relacionada ao meio urbano.
Como o processo de desenvolvimento econômico e espacial alterou as paisagens naturais
dos rios.
Paisagem é o local onde reside, e do qual faz parte o homem. É composto pelos bens
naturais, como a água, o solo, a fauna e a flora. Sendo assim, seu planejamento, sua
proteção, seu desenho e os moldes de intervenção devem objetivar a composição do
ambiente humano. (LUZOTA, 2001)
A natureza (descrita como a situação que não foi alterada pelo
homem) se converte em paisagem, no que se refere aos
componentes naturais, suas peculiaridades fisiográficas e
ambientais. Pode também se transformar, de acordo com as
influências históricas, culturais e tecnológicas do homem, refletindo
conseqüentemente nos sistemas climáticos, naturais e sociais.
(LUZOTA, 2001, 53)
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5. Universidade Presbiteriana Mackenzie
A paisagem pode ser ordenada tanto por forma fixas, como colinas e morros, ou por fluxos,
como correntes climáticas, correntes hídricas de superfície. Essas formas presentes na
natureza e criadas por ação antrópicas não são apenas volumes, mas também movimentos,
cores, odores e sons, como são os rios, que há tempos inspiram respeito e muitas vezes
aguçam a percepção e a contemplação. Recriar essas formas (que foram degradadas)
como elementos de continuidade é fundamental para a melhoria do espaço urbano.
(FRANCO, 2002)
Em relação à melhoria da paisagem, um dos elementos básicos que configuram o desenho
urbano é o espaço livre, como áreas verdes, praças, largos, pátios, parques, jardins,
margens de rios, lagos e córregos e outros, onde são desenvolvidas as atividades de lazer e
convívio público. Devido a isso a preservação do verde existente nas margens dos rios
serve como atrativo para passeios públicos e lazer, aumentando assim a vitalidade de áreas
ribeirinhas. Por isso é muito importante e fundamental a preservação do curso d’água e seu
entorno, pois, como dito este é um meio de aproximação das pessoas.
MÉTODO
As cidades sofreram nas últimas décadas com os problemas sociais, econômicos e
ambientais decorrentes da errônea ocupação e uso do solo o que gerou degradações
contínuas no meio físico, principalmente no que se refere à preservação de ambientes
verdes dentro dos centros urbanos. O que ao longo do tempo gerou alterações visíveis em
seu espaço físico.
A degradação da qualidade ambiental ocorrida nos recursos hídricos
afeta, direta ou indiretamente, a saúde, a segurança e o bem estar
da população, assim como, as atividades sociais e econômicas, a
fauna e a flora, tornando-se evidente através das paisagens [...]
Nesse sentido, deve-se considerar que a gestão desses recursos
deve valorizar não só o processo sócio-econômico relacionado ao
meio ambiente, mas também associá-lo a outros fatores
fundamentais à vida do homem, que são os valores sócio–culturais.
(MELLO, 2009)
Esses malefícios restringiram os rios, a sintomas perturbadores para a vida humana como
mau cheiro, obstáculo à circulação, degradação e desvalorização das áreas periféricas a
eles. Um dos casos de degradação é do rio Capibaribe, na cidade de Recife (PE), que com
o decorrer do processo de urbanização teve suas margens alteradas devido a contínuos
processos degradativos como despejo de esgotos domésticos e do lixo, retificação e
canalização do rio. Hoje, no entanto, algumas áreas já receberam revitalização e são áreas
de convívio público, porém ainda existem locais onde o rio é margeado por casas de
palafitas sem nenhuma infra-estrutura como água e esgoto.
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Figura 1 - Casas de palafita sobre o rio Capibaribe, Recife/PE. Fonte: Ricardo Hernan Medrano
A melhoria do uso e requalificação de regiões ribeirinhas visa a melhora da paisagem e da
qualidade de vida populacional em todas as dimensões da vida urbana. Um exemplo da
forte atuação dos rios nas paisagens urbanas, e de como esse resgate é importante para
toda a população, tanto como aumento da qualidade de vida, como por questões culturais
foi a requalificação do rio Chenggyechon, que atravessa de leste a oeste a cidade de Seul,
capital da Coréia do Sul.
O rio antes canalizado, poluído e segregado sob uma via expressa elevada foi reintegrado à
paisagem com projetos e planos de ação de despoluição e renovação urbana, deixando a
população de Seul em pleno contato com suas águas.
Figura 2 - Rio Cheonggeychen antes da requalificação urbana. Fonte: http://mundopossivel.com.br/?p=1782
O projeto incluía não só a melhoria das águas do Chenggeychon, mas também a criação de
ciclovias, parques, áreas de lazer e passeio. A recuperação resultou em melhoria do ar, hoje
mais limpo, diminuição da temperatura local, que chega a ficar até 3,6 graus abaixo do
restante da cidade, o surgimento de novos habitats de vida selvagem, reestruturando assim
a cadeia alimentar local e ampliação da área verde. Sobre os aspectos ecológicos a
revitalização do rio Cheonggeycheon e suas margens adjacentes cumprem a função de
defesa contra inundações. A mobilidade da população melhorou muito, gerando vida aos
distritos vizinhos antes degradados e marginalizados que receberam pesados investimentos
privados na melhoria das edificações periféricas aos rios e hoje abrigam centros comerciais
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7. Universidade Presbiteriana Mackenzie
e empresarias, criando-se assim, uma diversidade de transeuntes, tanto para consumir,
fazer negócios e principalmente visitar o novo cartão postal da cidade de Seul.
Figuras 3 e 4 - Rio Cheonggeycheon após a requalificação urbana. Fonte: http://mundopossivel.com.br/?p=1782
O projeto do rio Cheonggeycheon serviu de exemplo para o país que hoje promove mais
uma requalificação de rios urbanos, com o projeto de despoluição e reestruturação das
margens do rio Han, maior, e principal rio da capital sul coreana.
Outros exemplos dessa possível transformação de áreas ribeirinhas com benefícios para o
meio ambiente, para a cidade e para a sua população são os casos dos rios estrangeiros
que serão citados agora:
Rio Emscher, na Alemanha
O rio Emscher é um rio afluente do rio Reno e localiza-se a Oeste da Alemanha. Por mais
de um século, o rio e seus afluentes receberam as mais pesadas cargas de poluentes que
se tem notícia. Com o passar dos anos e com a crise do aço em 1970, muitas empresas e
indústrias da região do Emscher fecharam as portas, gerando um alto índice de
desemprego. Antigas instalações da indústria pesada ficaram abandonadas durante anos.
Preocupados com a péssima qualidade dos rios de toda a região, a ausência de parques e
praças de uso publico e coletivo, e as precárias condições das habitações existentes,
fizeram com que o governo tomasse medidas de revitalização da área.
As novas intervenções tiveram como objetivo solucionar um problema hídrico da região,
melhorando o seu desempenho, como também valorizar os cursos d`água como elementos
de uma paisagem em transformação. Para isso foi criado o IBA (Internationale
Bauausstellung) - Exposição Internacional de Construção. Esse projeto teve como medidas
principais a criação de um novo zoneamento na região visando a recuperação da paisagem
e de seus elementos, tendo os cursos d’água como o eixo da paisagem. (ALVEZ, 2002)
O projeto tinha como principais objetivos:
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• Renovação da estrutura econômica,
• Recuperação da paisagem e de seus elementos, tendo os cursos
d’água como o eixo da paisagem.
• Implantação de distritos industriais, agora para indústrias com
tecnologias limpas, em antigas áreas de mineração.
• Urbanização e construção de moradias com atuação também no
campo social.
Figura 5 – À esquerda, o rio antes da intervenção. No centro da foto, um córrego canalizado para o
carregamento dos esgotos e resíduos químicos; a foto mostra a insalubridade do local. Foto da região do
Emscher. Fonte: IBA – Internationale Bauausstellung Emscher-Park. Figura 6 - À direita, vista atual de parte da
bacia do Emscher, Alemanha. Fonte: ALVEZ, Maristela Pimentel. A recuperação de rios degradados e sua
inserção na paisagem urbana – A experiência do rio Emscher na Alemanha. São Paulo, Fauusp, 2002.
(dissertação de mestrado)
Rio Los Angeles, Estados Unidos da America
Com 94,45 Km, dos quais, 82 Km atravessam áreas urbanas (sendo 52 Km na cidade de
Los Angeles), o rio Los Angeles localizado no estado da Califórnia (EUA), nasce no vale São
Fernando seguindo até o oceano Pacífico, onde deságua na baia de Long Beach.
Abastecido pelas águas que escoam das montanhas de Santa Monica, Verdugo, Santa
Suzana e São Gabriel, ele corre no sentido noroeste-sudeste, mantendo em alguns trechos
sua morfologia original. Suas margens começaram a ser habitadas durante o século XIX
(1850) devido ao ciclo da mineração. O rio serviu de apoio como provedor de água e
transporte, sendo considerado um importante corredor fluvial de fluxo de pessoas e
mercadorias, gerando desenvolvimento econômico e crescimento urbano. Durante o
processo de desenvolvimento econômico da região, foram construídas estradas marginais,
linhas férreas de transporte, armazéns e barracões industriais nas áreas lindeiras ao rio.
Esse processo renegou e isolou o rio da maioria dos bairros adjacentes.
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No entanto, após essas intervenções humanas desordenadas e da retificação e
impermeabilização das áreas de várzeas (ver figura 7), somadas ao despejo de resíduos
químicos e de esgoto tratado ocasionaram problemas com inundações e poluição a jusante
(rio abaixo) ao longo das praias vizinhas. A união desses fatores (inundações e poluição das
águas), gerou problemas de salubridade, o que levou em 1990 a movimentos de
reivindicação pró-revitalização do rio. Segundo Alva (1997), esse processo da degradação
ambiental, visível na maior parte das grandes cidades do mundo, é o reflexo de uma crise
social, econômica e política que se reflete na desintegração progressiva dos espaços do
tecido urbano. (GORSKI, 2010)
Figura 7 - Imagem do rio Los Angeles, na cidade de Los Angeles, pré-intervenção.
Fonte:http://ladpw.org/wmd/watershed/la/.
Em 2002 iniciou-se o processo de recuperação do Los Angeles River, com a aprovação do
Comitê de Revitalização, implantando em 2005 o Plano Diretor de Recuperação do Rio Los
Angeles (The Los Angeles Master Plan). O projeto de reestruturação urbana do rio Los
Angeles, oficialmente desenvolvido e aplicado em 2005 e finalizado em 2007, aborda
questões relacionadas à preservação de inundações, recuperação e proteção ambiental
destinadas ao desenvolvimento sócio-econômico.
Essas propostas têm como objetivos principais, requalificar as margens do rio
transformando-as em um longo “corredor” verde que atravessa a cidade, privilegiando a
vitalidade dos espaços livres (ver figura 8) existentes aumentando a identidade dos locais
por onde esse cinturão verde passa. Esse processo gerou uma melhor qualidade de vida da
população local com a criação espaços agradáveis para trabalhar, viver e descansar,
ampliando locais com espaço de lazer e áreas institucionais.
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Figura 8 - Proposta de requalificação dos espaços das margens do rio Los Angeles: Fonte: GORSKI, Maria
Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.
O objetivo principal do Plano é resgatar, além da função ecológica do rio, sua identidade em
relação à cidade, pontuando melhorias no acesso da população ao rio, a segurança e saúde
pública. A partir dos objetivos gerais, foram definidas as diretrizes principais para o Plano,
que foram divididas em quatro metas, melhoria do rio, diretrizes para bairros verdes,
diretrizes relativas à captação de oportunidades para a comunidade e diretrizes relativas à
valorização socioeconômica e ambiental.
Diretrizes relacionadas à revitalização do rio:
• Valorizar as várzeas, com recuperação da vegetação ripária;
• Restaurar a funcionalidade ecossistêmica, restabelecendo as funções
ecológicas e hidrológicas;
• Melhorar o tratamento e a qualidade da água
• Possibilitar o acesso público e seguro.
Esses processos estão diretamente ligados à idéia de melhoria da paisagem urbana, e
melhoria da qualidade de vida da população. A melhoria da qualidade da água dos rios
associado à tentativa de renaturalização da estrutura física destes ambientes têm
acarretado um aumento da biodiversidade local, na restauração da função ecológica, além
da utilização destes ambientes como áreas de lazer e valorização de espaços urbanos para
áreas urbanas degradadas. (BINDER, 1998)
Diretrizes relativas aos bairros verdes
1 Criar um caminho verde contínuo;
2 Conectar a vizinhança ao rio;
3 Ampliar os espaços públicos e de recreação;
4 Vincular a presença do rio à identidade dos bairros;
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5 Incorporar elementos da arte pública ao longo do rio.
Diretrizes relativas à captação de oportunidades para comunidade:
1. Tornar o rio um foco de atividades com lugares acessíveis, seguros e
saudáveis;
2. Promover o sentido de cidadania;
3. Celebrar o rio como patrimônio cultural
4. Engajar a população local no processo de construção e planejamento do
bairro;
5. Adaptar as áreas industriais ao conceito de “eco-industrial”, de modo a
oferecer espaços abertos, segurança, limpeza e emprego para os moradores.
Diretrizes relativas à valorização socioeconômica e ambiental:
1. Promover a qualidade de vida;
2. Aumentar a oferta de emprego, moradia e comércio;
3. Criar um desenho urbano ambientalmente adequado e diretrizes para uso e
ocupação do solo;
4. Criar novas oportunidades de emprego, moradia e comércio
5. Concentrar esforços na requalificação das áreas subutilizadas e das
comunidades carentes, em desvantagem social assegurando a equidade de
acesso às áreas de lazer, ao trabalho, e a transporte.1
Figura 9 - Imagem das propostas de melhoria da paisagem do rio. Fonte: http://www.mlagreen.com
1
Todos os dados acima mencionados relacionados às intervenções e diretrizes foram retirados do “Los Angeles
Master Plan”, e do livro GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo,
Senac, 2010.
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As propostas visam atuar em diversas escalas, de acordo com os objetivos acima
mencionados. Essas diversas escalas de abordagem dão uma visão ampla dos
condicionantes e determinantes que agem sobre a cidade e, ao mesmo tempo, permitem
uma percepção local mais coerente com as dinâmicas regionais que atuam na produção e
reprodução do espaço urbano. Assim, as cidades podem se adaptar às condições
geoambientais dos rios, equalizando os problemas ligados ao uso e ocupação dos leitos
fluviais e aproveitando suas potencialidades.Esses propósitos estão especificados no Plano.
Rio Piracicaba, Piracicaba (São Paulo, Brasil)
Figura 10 - Vista aérea da cidade de piracicaba. Fonte: Google Earth (04/12/2010 às 18h33min)
Desde a fundação da cidade nas margens do rio de Piracicaba, em 1767, a Vila Nova
Constituição , posteriormente chamada de Piracicaba, possui forte relaçao economica e
cultural com as águas do rio. O próprio nome da cidade tem relação com suas águas, o
nome Piracicaba em Tupi Guarani significa “lugar onde o peixe para”. Segundo relatos
históricos a cidade possui uma importante posição geografica servindo de apoio no século
XVIII às embarcações que descian o rio Tietê dando retaguarda ao abastecimento do Forte
Iguatemi na fronteira Brasil-Paraguai, antigo ponto de conquista territorial entre espanhois e
portugueses. No decorrer do século XIX a cidade passou a crescer e se desenvolver
economicamente, por meio do desenvolvimento agrícola representado pelo cultivo de cana-
de-açucar. Esse crescimento nas margens do rio acarretou obras aquitetonicas de
importante valor cultural e patrimonial como o Engenho Central, Complexo Industrial Boyes,
o Belvedere do Parque do Mirante, a casa do Povoador e a Capela do Divino muitos deles
tombados e destacados como Patrimônio Histórico e Cultural. Com isso a Rua do Porto se
tornou um importante local cultural e histórico, já que se trata de um dos mais antigos
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tecidos urbanos da cidade representando o principal espaço de recreação para a
população.
Figura 2 - Casa do povoador, primeira construção da cidade. Fonte relatório do Plano de Ação Estruturador para
a região de Piracicaba (2001). Fonte: http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae-parte2de3.pdf
No entanto, a partir da década de 1950 a cidade sofreu com o processo de crescimento
desordenado, que seguia o modelo urbanístico dos grandes centros urbanos brasileiros, que
priorizava o desenvolvimento econônico e desqualificava ou pouco se preocupava com
questões ambientais. Nesse período, com a implantação de indústrias, principalmente do
setor sucro-alcooleiro e metalúrgico, a cidade voltou as costas para os rios e passou a
canalizar e retificar a maior parte de seus cursos em prol do desenvolvimento de malhas
viárias. O despejo de esgoto não tratado poluiram e depreciaram as margens dos rios,
tornando-as insalubres, degradando a paisagem.
Além disso o desenvolvimento de novos bairros dava indícios da divisão social que se
estabeleceria na cidade, gerando desvalorização dos terrenos do antigo núcleo colonial,
provocando um exôdo das classes mais abastadas para esses novos loteamentos.
As áreas próximas ao rio, principalmente as da região da Rua do Porto passaram a ser
locais violentos e degradados, deixando a cidade mais distante do rio que tão importante foi
para sua criação. Esse processo de degradação da região fez surgir a necessidade de
criação de um plano diretor de requalificação da área histórica da cidade, visando a melhora
da qualidade de vida da população e principalmente a utilização de forma racional dos
recursos naturais inerentes ao rio, visando a sustentabilidade ambiental, economica e
cultural – como fica evidente no trecho do Plano de Ação Estruturador (PAE):
O projeto não se baseia unicamente em embelezar as margens
urbanas do rio ou solucionar problemas pontuais da região da rua do
Porto, mas sim confrontar e solucionar problemas de questões
diversas como ambiental (poluição, assoreamento e destruição das
matas ciliares), socioeconômicas (violência, prostituição e tráfico de
drogas), institucionais (fiscalização, restauração e conservação das
edificações e do patrimônio histórico). (IPPLAP - Instituto de
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14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Plano de Ação Estruturador.
Piracicaba, 2000, 35)
O projeto Beira-Rio - Apresentação do Plano de Ação Estruturado (PAE)
Considerado um projeto pioneiro em recuperação de rio urbano no Brasil, o programa de
requalificação ambiental e urbanistica denominado Projeto Beira Rio, implantado em 2001,
visou a requalifcação ambiental e urbana da cidade de Piracicaba, como um primeiro
produto que visava eaquacionar os conflitos e potencialidades da relação rio-cidade. Após
estudos sociais, ecológicos, urbanisticos geológicos entre outros o programa chegou a um
resultado chamado de A cara de Piracicaba2, que pretendia ir além do ideal de implantação
de impactos paisagisticos mas também solucionar problemas do território físico, culturais e
socioeconômicos.
No entanto, com o diagnóstico estabelecido, o programa que anteriormente apenas visava
integrar o Plano diretor da cidade à orla do rio, evoluiu para uma proposta mais abrangente,
ampliando as diretrizes ambientais pontuais das margens para toda a cidade e
posteriormente visando a melhoria de toda a bacia hidrografica do Piracicaba, tornando-se
um modelo de referência nacional. Para isso foi criado um projeto denominado de Plano de
Ação Estruturador (PAE) que, auxiliando o Plano Diretor da cidade, define diretrizes gerais e
ações concretas a serem implementadas seguindo os padrões ambientalmente adequados.
Para alcançar os objetivos do projeto na escala urbana, o PAE setorizou o programa em oito
trechos poutuais (ver figura 12) de intervenção, que são:
- Projeto Trecho-1: Beira Rio-Central (que contém o Projeto Start), localizado entre a ponte
do Mirante e a ponte do Morato.
- Projeto Trecho-2: Lar dos Velhinhos, localizado entre a ponte do Mirante e a ponte Lar dos
Velhinhos.
- Projeto Trecho-3: Bongue, localizado entre a ponte do Morato e a Ponte do Caixão.
- Projeto Trecho-4: Corredor Eco-Social, localizado junto à av. Francisco de Souza.
- Projeto Trecho-5: Corumbataí, localizado entre a ponte do Caixão e o limite oeste do
perímetro urbano.
- Projeto Trecho-6: Esalq-USP, localizado entre a ponte do Lar dos Velhinhos e a ponte do
Rodoanel.
- Projeto Trecho-7: Monte Alegre, localizado entre a ponte do Rodoanel e o limite leste do
perímetro urbano.
2
No chamado “Plano de Ação Estruturador” (PAE), documento representativo da segunda fase do Projeto Beira-
Rio, que continua o pensamento sobre a sustentabilidade por meio de diretrizes urbanísticas para a relação rio-
cidade, expressa num termo denominado pelo antropólogo urbano Arlindo Stefani como “A cara de Piracicaba”.
In: http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae_parte1de3.pdf.
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- Projeto Trecho-8: pedreira do Morato – localizada no Bairro do Morato e calha do ribeirão
do Enxofre. (IPPLAP - Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Plano de
Ação Estruturador. Piracicaba, 2000)
Figura 12 - Imagem aérea do trecho urbano do rio Piracicaba. Proposta idealizada pelo PAE demonstra os oito
pontos primordiais da intervenção do projeto na escala urbana. Imagem retirada do site
http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae_parte1de3.pdf
Na essência o PAE propõe a implantação de projetos geológicos, hidrológicos, econômicos,
sociais , culturais e paisagisticos cuja meta é o equilibrio do binômio rio-cidade. Dentro do
perimetro urbano do rio o Plano de Ação Estruturador tinha como fundamentação melhorar
os aspectos degradados aplicando seis principais objetivos, que posteriormente seriam
implantados junto ao Plano Diretor. Os princípios são:
1. Recuperação da qualidade da água;
2. Preservação do cinturão meândrico;
3. Reestruturação do tecido urbano;
4. Intensificar o rio como caminho;
5. Conservar a paisagem;
6. Conectar o cidadão ao rio.
Para alcançar essas medidas a proposta estabelece algumas diretrizes aplicadas
relacionadas aos objetivos anteriormente mencionados que são:
1. Priorizar o saneamento, concluindo o sistema de interceptores paralelos ao rio e a
construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e implantação da coleta seletiva e a
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reciclagem de lixo e a industrialização dos residuos sólidos , gerando uma diminuição do
escoamento do lixo e de resíduos para o leito do rio;
2. Para preservação do cinturão meândrico, foi proposta a criação do corredor biológico
chamado de “Eco-Social”, recuperando-o onde necessário e promovendo a conservação
ambiental na faixa territorial envolvente ao cordão mendrico dos rios, como pode ser visto na
figura 12;
3. Para reestruturação do tecido urbano, foi adotado o rio Piracicaba como curso
principal para a implantação de projetos e, posteriormente, os seus afluentes, e elaborado
um zoneamento ecológico-econômico do municipio, visando um novo paradigma de
ocupação. Criação de comportas ao lado do rio, para controle de enchentes; dinamização
dos usos da Rua do Porto (RDP) ; conexão da RDP com o Parque Beira Rio, como o Paço
Municipal e com o tecido urbano central; valorização do percurso dos percursos dos
pedestres; desenvolvimento de novos transportes urbanos, principalmente os movidos a
energia limpa- como trólerbus; implemetação de um circuito turístico de bonde; incentivar a
restauração das fachadas;
4. Para incentivar o rio como caminho: explorar a visão da cidade a partir do rio, com a
implementação da navegação fluvial, e criar novos sistemas de transporte urbano;
5. Para conservar a paisagem: proteger o patrimônio cultural e ambiental da cidade,
por meio de instrumentos de uso e ocupação do solo, diretriz de gabarito e densidade ao
longo da faixa de proteção do rio, prevenção e geração de emprego e renda, para evitar a
gentrificação3, manter e recuperar as paisagens memoráveis da cidade e implantar novas
obras de arte urbana;
6. Para conectar o cidadão ao rio: criar corredores verdes-chamados no projeto de
Corredores Eco-Sociais, incluindo trilhas urbana incetivando o percurso a pé, integração das
margens através de criação de passarelas de pedestres e trasposição por balsa, criação de
decks, mirantes entre a calçada e as margens do rio. As imagens abaixo de antes e depois
demostram a melhoria na paisagem urbana da região.
3
Neologismo usado no processo de caráter excludente e privatizador, para “enobrecimento” do espaço urbano,
que, com ou sem intervenção governamental, ocorre em várias cidades do mundo, significando a expulsão de
moradores tradicionais - geralmente pertencentes a classes sociais mais baixas- desse processo de valorização
espacial e imobiliária. Fonte: GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São
Paulo, Senac, 2010.
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Figura 13 – À esquerda, implantação de espaços como decks e passarelas para aproximar o cidadão ao rio.
Fonte:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551. Figura 14 - À direita, corte feito pelos
autores do projeto. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551
Figura 15 - Restauração das residências ribeirinhas, prevalecendo a conservação do patrimônio arquitetônico. À
direita antes, e à esquerda depois. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551
As principais medidas foram a preservação das edificações históricas da região, a
implantação de obras institucionais caracterizando a área como um pólo cultural,
fortalecendo a cultura local, incentivando o turismo e ampliação de espaço verde para uso
do público. Para isso foram aplicadas medidas que privilegiassem os pedestres, permitindo
o “caminhar” intencionalmente aproximando o cidadão do rio e incorporando o rio no
desenvolvimento da cidade, tendo a cultura como definidora de projeto. Sobre a questão
ambiental a preservação e “renaturalização” de áreas verdes degradas serviram para
equacionar problematicas socio-ambientais. O Projeto aplica a prevalência do pedestre, a
recuperação do patrimônio público natural e construído, e valoriza a cultura como elemento
definidor consolidando a reaproximação do cidadão com o rio pois ele parte do pressuposto
de que rio e cidade em Piracicaba conformam um único e amplo sistema “bio-cultural”.
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Figura 16 - Foto aérea do trecho urbano do rio Piracicaba (2000). Proposta idealizada pelo PAE. Fonte: GORSKI,
Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
É muito antiga a relação que se estabelece entre rios e cidades, pois a partir de rios
(grandes, médios ou pequenos) que foram fundadas as cidades no decorrer da história das
civilizações. Isso ocorria pois os rios tinham muito a oferecer, fornecimento de água,
alimentos, controle de territórios, capacidade de circulação de bens e pessoas, etc..
No entanto no decorrer do progresso econômico e no processo de urbanização,
principalmente a partir do século XX os rios sofreram constantes degradações do seu meio
físico. Políticas públicas de intervenções sobre os ecossistemas, que estabeleciam medidas
impróprias e de domínio sobre eles sem nenhuma compreensão de sua importância e
complexidade, somados à industrialização e ao crescimento urbano desordenado sem leis
regulamentadoras do uso correto dos recursos hídricos, o uso e ocupação inadequadas do
solo às suas margens, com técnicas de engenharia de retificação e canalização começaram
a transformar a estrutura ambiental dos rios, chegando em alguns casos ao
desaparecimento dos cursos d’água na paisagem urbana.
Devido ao colapso ambiental e social causados por essas ações de degradação contínua, a
partir de 1960 começaram os primeiros movimentos de questionamento e reflexão sobre a
relação entre sociedade e natureza. Nesse período foram criados órgãos e conselhos
governamentais e internacionais que estudavam e analisavam novas maneiras de
reestruturar e reintegrar áreas ambientais degradadas ao meio urbano. A importância
dessas intervenções de requalificação está não só na melhoria da qualidade ambiental mas
também em devolver aos rios sua importância como elementos históricos, culturais e
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paisagísticos para os centros urbanos e para a população. No entanto os desafios
ambientais demandam não apenas a implantação de projetos pontuais e específicos mas
também, uma mudança de mentalidade dos agentes governamentais, privados, das
organizações sociais e institucionais e da sociedade para que se estabeleça uma
consciência madura da importância da proteção ambiental para um desenvolvimento
socioeconômico que melhore a vida de toda a população. Logo, os rios não devem ser
tratados apenas como um obstáculo à ocupação humana, mas sim como uma paisagem
natural, que atravessa a cidade – e, portanto, é parte o tecido urbano. É preciso integrar os
rios à cidade e à população, com ações que visam resgatar não apenas a qualidade das
águas, mas também a paisagem.
CONCLUSÃO
Procuramos com este trabalho apresentar e estabelecer uma relação entre o conhecimento
sobre o problema dos rios e a ocupação urbana, trilhando por alguns exemplos de projetos
realizados em diversos lugares, e com ênfase nas propostas feitas para a cidade de
Piracicaba. Procuramos mostrar a importância do conhecimento adquirido para a realização
dos projetos bem como o valor e os benefícios que as intervenções em áreas de rios podem
trazer.
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