O documento descreve a história de Angola entre 1970-1980 através da perspectiva de diferentes personagens. A narrativa explora temas como a luta pela independência contra Portugal, a guerra civil entre MPLA, FNLA e UNITA, e as complexidades do nacionalismo e tribalismo. O personagem Sem Medo representa um herói não radical que morre em batalha defendendo os recursos de Angola para o seu povo.
8. Eu sou um herético, eu sou contra
a religiosidade da política. Sou
marxista? Penso que sim, conheço
suficientemente o marxismo para
ver que as minhas ideias são
conformes a ele. Mas não acredito
numa série de coisas que se dizem
ou se impõem, em nome do
marxismo. Sou pois um herético,
um anarquista, um sem-Partido,
um renegado, um intelectual
pequeno-burguês... Uma coisa,
por exemplo, que me põe doente
é a facilidade com que vocês
aplicam um rótulo a uma pessoa,
só porque não tem exatamente a
mesma opinião sobre um ou outro
problema.
9. As pessoas devem estudar, pois é a única maneira de
poderem pensar sobre tudo com a sua cabeça e não com a
cabeça dos outros. O homem tem de saber muito, sempre
mais e mais, para poder conquistar a sua liberdade, para
saber julgar. Se não percebes as palavras que eu pronuncio,
como podes saber se estou a falar bem ou não? Terás de
perguntar a outro. Dependes sempre de outro, não és livre.
Ondina
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11. Tribalismo Kikongo, Umbundo, Kimbundo, Cabinda
Eu, o narrador, sou Teoria.
Nasci na Gabela, na terra do café.
Da terra recebi a cor escura do
café, vinda da mãe misturada ao
branco defunto do meu pai,
comerciante português. Trago em
mim o inconciliável e este é o meu
motor. Num Universo de sim ou
não, branco ou negro, eu
represento o talvez.
Questões
existenciais
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13. Tribalismo Kikongo, Umbundo, Kimbundo, Cabinda
Eu, o narrador, sou Teoria.
Nasci na Gabela, na terra do café.
Da terra recebi a cor escura do
café, vinda da mãe misturada ao
branco defunto do meu pai,
comerciante português. Trago em
mim o inconciliável e este é o meu
motor. Num Universo de sim ou
não, branco ou negro, eu
represento o talvez.
Questões
existenciais
− mescla do foco narrativo e de narradores
(polifonia)
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15. Soldados portugueses
SACANAS COLONIALISTAS, VÃO À MERDA, VÃO PARA A VOSSA TERRA.
ENQUANTO ESTÃO AQUI, NA TERRA DOS OUTROS, O PATRÃO ESTÁ A COMER A
VOSSA MULHER OU IRMÃ (...)!
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16. Em ataque ao Pau Caído
morre Sem Medo.
As flores de mafumeira caíam sobre a
campa, docemente, misturadas às
folhas verdes das árvores. Dentro de
dias, o lugar seria irreconhecível. O
Mayombe recuperaria o que os homens
ousaram tirar-lhe.
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17. A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a
paciência. O mar une, o mar estreita, o mar liga. Nós também
temos o nosso mar interior, que não é o Kuanza, nem o Loje,
nem o Kunene. O nosso mar, feito de gotas-diamante, suores
e lágrimas esmagados, o nosso mar é o brilho da arma bem
oleada que faísca no meio da verdura do Mayombe, lançando
fulgurações de diamante ao sol da Lunda.
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18. Não somos bandidos. Somos soldados que estamos a lutar para
que as árvores que vocês abatem sirvam o povo e não o
estrangeiro. Estamos a lutar para que o petróleo de Cabinda
sirva para enriquecer o povo e não os americanos.
Aí aprendi que se devem enfrentar os inimigos, é a única
maneira de se encontrar a paz interior.
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