SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 17
Baixar para ler offline
MAYOMBE (PEPETELA)
LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Profa. Dra. Maria Geralda de
Miranda
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
O romance Mayombe, do escritor angolano Arthur Pestana (Pepetela)
foi escrito entre em 1970 e 1971, em Cabinda, Angola, e publicado
em 1980.
Diz o autor: “Tudo começou com um comunicado de guerra. Eu escrevi
o comunicado e...o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para
jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim
nasceu o livro." (Pepetela).
Se outras obras têm o ir buscar à história a explicação para problemas
diversos, Mayombe conta história. É um livro de construção da
história.
É também um documento social, pois, apesar de ficção, é escrito no
momento de vivência do autor, em que o escritor, o militante e o
cientista social se relacionam para, por meio da obra, captarem a
realidade histórica angolana.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
No conteúdo de Mayombe, Pepetela trabalha com um legado
cultural bem interessante. A dedicatória do livro revela isso: “A
ogum o prometeu africano”.
Ogum é uma divindade Yoruba e veio para o Brasil na rota dos
escravos, em Angola não é conhecido.
Mayombe é uma espécie de epopeia, a épica dos guerrilheiros do
Movimento de Libertação de Angola (MPLA).
Alguns críticos dizem que tal romance relembra alguns escritores
franceses que escreveram sobre a guerrilha da Indochina,
especialmente " A condição Humana" de André Malraux.
Mayombe é a primeira obra angolana que dessacraliza os heróis.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
"É uma obra também contra o dogmatismo, o personagem Sem-
Medo é um Anarquista (...) A obra tem já uma série de
advertências sobre o partido único, mas a grande contribuição do
Sem-Medo foi a da religião à política." (Pepetela)
Este romance de Pepetela explicita as contradições relacionadas
sobretudo à diversidade cultural e étnica dos “soldados” que
compunham o Exército de Liberação Nacional do MPLA.
É narrado por uma multiplicidade de vozes, representando as
pessoas que participaram da guerrilha na floresta do Mayombe,
(Floresta tropical em Cabinda, Angola, constituindo a 2ª Região
político-militar do MPLA).
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
Pergunta feita a Pepetela: – Por que então escolheste a
ficção quando poderias ter elaborado uma outra forma de
melhor objetivar os problemas?
Resposta: – É porque realmente eu sou um ficcionista, não tinha nenhum
objetivo.
Eu escrevi não para publicar. Escrevi porque tinha necessidade de
escrever. Estava em cima de uma realidade que quase exigia que eu
escrevesse. Escrevendo eu compreendia melhor essa realidade;
escrevendo eu atuaria também melhor sobre a própria realidade. Não
quanto à obra escrita, mas pela minha atuação militante para melhor
compreensão dos fenômenos que se passaram.
Mas escrevia também para compreender melhor esses fenômenos. Claro
que podia fazê-lo com um ensaio acadêmico,não era essa a minha
intenção. Eu vejo a coisa como ficcionista.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
FRAGMENTOS DO ROMANCE
Capítulo I - A Missão
O rio Lombe brilhava na vegetação densa. Vinte vezes o tinham
atravessado. Teoria, o professor, tinha escorregado numa pedra e esfolara
profundamente o joelho. O Comandante dissera a Teoria para voltar à
Base, acompanhado de um guerrilheiro. O professor,
fazendo uma careta, respondera:
-- Somos dezasseis. Ficaremos catorze.
Matemática simples que resolvera a questão: era difícil conseguir-se
um efectivo suficiente. De mau grado, o Comandante deu ordem de
avançar. Vinha por vezes juntar-se a Teoria, que caminhava em penúltima
posição, para saber como se sentia. O professor escondia o sofrimento. E
sorria sem ânimo.
à hora de acampar, alguns combatentes foram procurar lenha seca,
enquanto o Comando se reunia. Pangu Akitina, o enfermeiro, aplicou um
penso no ferimento do professor. O joelho estava muito inchado e só com
grande esforço ele podia avançar.
7
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
Eu, O Narrador, Sou Teoria.
Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de
café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai,
comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu
motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento
o talvez. Talvez é na, para quem quer ouvir sim e significa sim para
quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a
pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em
sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar a talvez? Face
a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em
dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros
são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
Eu, o Narrador, Sou Milagre.
Nasci em Quibaxe, região kimbundo, como o Comissário e o Chefe de
OperaçÕes, que são dali próximo.
Bazukeiro, gosto de ver os camiÕes carregados de tropa serem
travados pelo meu tiro certeiro. Penso que na vida não pode haver
maior prazer.
A minha terra é rica em café, mas o meu pai sempre foi um pobre
camponês. E eu só fiz a Primeira Classe, o resto aprendi aqui, na
Revolução. Era miado na altura de 1961. Mas lembro-me ainda das
cenas de crianças atiradas contra as árvores, de homens enterrados
até ao pescoço, cabeça de fora, e o tractor passando, cortando as
cabeças com a lâmina feita para abrir terra, para dar riqueza aos
homens. Com que prazer destruí há bocado o buldozer! Era parecido
com aquele que arrancou a cabeça do meu pai. O buldozer não tem
culpa, depende de quem o guia, é como a arma que se empunha.
Mas eu não posso deixar de odiar os tractores, desculpem-me.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
E eu fugi de Angola com a mãe. Era um miado. Fui para Kinshasa.
Depois vim para o MPLA, chamado pelo meu tio, que era dirigente.
Na altura! Hoje não é, foi expulso.
O MPLA expulsa os melhores, só porque eles se não deixam dominar
pelos kikongos que o invadiram. Pobre MPLA! Só na Primeira Região
ele ainda é o mesmo, o movimento de vanguarda. E nós, os da
Primeira Região, forçados a fazer a guerra aqui, numa região alheia,
onde não falam a nossa língua, onde o povo é contra-revolucionário,
e nós que fazemos aqui? Pobre MPLA, longe da nossa Região, não
pode dar nada!
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
A Base
O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele
abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que
esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos
guerrilheiros.
As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores,
alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as
encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi
transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi
lateralmente escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus
mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as
cabanas tornaram-se fortalezas.
E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as
folhas e castanhos como os troncos colossais. A folhagem da
abóbada não deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em
baixo, no terreiro limpo que ligava as casas. Ligava, não: separava
com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde.
Assim foi parida pelo Mayombe a base guerrilheira.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ Pepetela
A comida faltava e a mata criou as «comunas«, frutos secos, grandes
amêndoas, cujo caroço era partido à faca e se comia natural ou
assado. As «comunas« eram alimentícias, tinham óleo e proteínas,
davam energia, por isso se chamavam «comunas«.
E o sítio onde os frutos eram armazenados e assados recebeu o
nome de «Casa do Partido«. O «comunismo« fez engordar os
homens, fê-los restabelecer dos sete dias de marchas forçadas e de
emoções. O Mayombe tinha criado o fruto, mas não se dignou
mostrá-lo aos homens: encarregou os gorilas de o fazer, que
deixaram os caroços partidos perto da Base, misturados com as suas
pegadas.
E os guerrilheiros perceberam então que o deus-Mayombe lhes
indicava assim que ali estava o seu tributo à coragem dos que o
desafiavam: Zeus vergado a Prometeu, Zeus preocupado com a
salvaguarda de Prometeu, arrependido de o ter agrilhoado, enviando
agora a águia, não para lhe furar o fígado, mas para o socorrer.
(Terá sido Zeus que agrilhoou Prometeu, ou o contrário?)
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
A mata criou cordas nos pés dos homens, criou cobras à frente dos
homens, a mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros,
rios caudalosos, lama, escuridão, Medo.
A mata abriu valas camufladas de folhas sob os pés dos homens,
barulhos imensos no silêncio da noite, derrubou árvores sobre os
homens. E os homens avançaram. E os homens tornaram-se verdes,
e dos seus braços folhas brotaram, e flores, e a mata curvou-se em
abóbada, e a mata estendeu-lhes a sombra protectora, e os frutos.
Zeus ajoelhado diante de Prometeu.
E Prometeu dava impunemente o fogo aos homens, e a inteligência.
E os homens compreendiam que Zeus, afinal, não era invencível, que
Zeus se vergava à coragem, graças a Prometeu que lhes dá a
inteligência e a força de se afirmarem homens em oposição aos
deuses. Tal é o atributo do herói, o de levar os homens a desafiarem
os deuses.
Assim é Ogun, o Prometeu africano. (p. 41)
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
Eu, o Narrador, Sou Mundo Novo
Recuso-me a acreditar no que diz Sem Medo. Lá está
ele, ali, no meio dos jovens, rasgando-se nas raízes da mata,
rastejando, triturando os ombros contra o solo duro, putrefacto e
húmido do Mayombe, enrouquecendo com os gritos e
imprecaçÕes que blasfema, emasculando-se no sémen da
floresta, no sémen gerador de gigantes, suando a lama que sai da
casca das arvores, beliscando-se nos frutos escondidos por baixo
das folhas caldas, lá está ele, ali, no meio dos jovens, ensinando o
que sabe, totalmente, entregando-se aos alunos, abrindo-se como
as coxas duras dama virgem, e ele, que está ali, diz que o faz
interesseiramente.
Sem Medo é um desinteressado, a terceira camisa que tinha
ofereceu-a ao guia, que acabou por fugir com ela, entregando-se
aos tugas.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
Epílogo
O Narrador Sou Eu, O Comissário Político.
A morte de Sem Medo constituiu para mim a mudança de pele dos
vinte e cinco anos, a metamorfose. Dolorosa, como toda
metamorfose.
Só me apercebi do que perdera (talvez o meu reflexo dez anos
projectado à frente), quando o inevitável se deu.
Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter
ele próprio, teria de ficar ali, no Mayombe. Terá nascido
demasiado cedo ou demasiado tarde? Em todo o caso, fora do seu
tempo, como qualquer herói de tragédia.
Eu evoluo e construo uma nova pele. Há os que precisam de
escrever para despir a pele que lhes não cabe já. Outros mudam
de país. Outros de amante. Outros de nome ou de penteado. Eu
perdi o amigo.
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
Mayombe/ pepetela
Do coração do Bié, a mil quilómetros do Mayombe, depois de uma
marcha de um mês, rodeado de amigos novos, onde vim ocupar o
lugar que ele não ocupou, contemplo o passado e o futuro. E vejo
quão irrisória é a existência do indivíduo. É, no entanto, ela que
marca o avanço no tempo.
Penso, como ele, que a fronteira entre a verdade e a mentira é um
caminho no deserto. Os homens dividem-se dos dois lados da
fronteira. Quantos há que sabem onde se encontra esse caminho de
areia no meio da areia? Existem, no entanto, e eu sou um deles.
Sem Medo também o sabia. Mas insistia em que era um caminho no
deserto. Por isso se ria dos que diziam que
era um trilho cortando, nítido, o verde do Mayombe. Hoje sei que
não há trilhos amarelos no meio do verde.
Tal é o destino de Ogun, o Prometeu africano.
Referências
PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Ática, 1981
CHAVES, Rita. Pepetela: romance e utopia na
história de Angola. São Paulo: Via Atlântica.
Disponível em
http://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/vi
ewFile/48795/52871. Acesso 10 fev 2016.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Til José de Alencar
Til José de AlencarTil José de Alencar
Til José de Alencar
 
Questões fechadas sobre contos de aprendiz
Questões fechadas sobre contos de aprendizQuestões fechadas sobre contos de aprendiz
Questões fechadas sobre contos de aprendiz
 
Leituras 5ano
Leituras 5anoLeituras 5ano
Leituras 5ano
 
Revista literatas edição 9
Revista literatas   edição 9Revista literatas   edição 9
Revista literatas edição 9
 
Artigo literatura e regionalidade
Artigo literatura e regionalidadeArtigo literatura e regionalidade
Artigo literatura e regionalidade
 
Contacto março 2014
Contacto  março 2014Contacto  março 2014
Contacto março 2014
 
Trabalho de literatura
Trabalho de literaturaTrabalho de literatura
Trabalho de literatura
 
Sagarana, Guimarães Rosa
Sagarana, Guimarães RosaSagarana, Guimarães Rosa
Sagarana, Guimarães Rosa
 
ASPECTOS DO TEXTO FICCIONAL
ASPECTOS DO TEXTO FICCIONALASPECTOS DO TEXTO FICCIONAL
ASPECTOS DO TEXTO FICCIONAL
 
Miguel torga
Miguel torgaMiguel torga
Miguel torga
 
Boletim da Bibliotea 2
Boletim da Bibliotea 2Boletim da Bibliotea 2
Boletim da Bibliotea 2
 
Biblioteca boletim nº 8
Biblioteca   boletim nº 8Biblioteca   boletim nº 8
Biblioteca boletim nº 8
 
Sagarana - Guimarães Rosa
Sagarana - Guimarães RosaSagarana - Guimarães Rosa
Sagarana - Guimarães Rosa
 
A doida
A doidaA doida
A doida
 
Atividade 02
Atividade 02Atividade 02
Atividade 02
 
Sagarana
SagaranaSagarana
Sagarana
 
Sagarana - Guimarães Rosa
Sagarana - Guimarães RosaSagarana - Guimarães Rosa
Sagarana - Guimarães Rosa
 
Manoel de Barros
Manoel de BarrosManoel de Barros
Manoel de Barros
 
03 narracao ficcional ii
03   narracao ficcional ii03   narracao ficcional ii
03 narracao ficcional ii
 
Resumo macunaíma
Resumo   macunaímaResumo   macunaíma
Resumo macunaíma
 

Semelhante a A epopeia da guerrilha no Mayombe

Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"
Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"
Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"Val Valença
 
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.Viegas Fernandes da Costa
 
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)Eduardo Carneiro
 
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel QuinnIsmael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel QuinnDiego Silva
 
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdftexto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdfDenise De Ramos
 
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdftexto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdfDenise De Ramos
 
2a fase modernista - Capitães da Areia
2a fase modernista  - Capitães da Areia2a fase modernista  - Capitães da Areia
2a fase modernista - Capitães da AreiaOctávio Da Matta
 
Urupês - 3ª A - 2011
Urupês - 3ª A - 2011Urupês - 3ª A - 2011
Urupês - 3ª A - 2011Daniel Leitão
 
Mayombe - Slides.pptx
Mayombe - Slides.pptxMayombe - Slides.pptx
Mayombe - Slides.pptxVitriaHellen9
 
Poemas de álvaro de campos
Poemas de álvaro de camposPoemas de álvaro de campos
Poemas de álvaro de camposEdir Alonso
 
Literatura de cordel
Literatura de cordelLiteratura de cordel
Literatura de cordelEdson Alves
 
Redigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - ApresentaçãoRedigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - Apresentaçãoyasminabdalla
 
Td (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)
Td  (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)Td  (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)
Td (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)Gilvandenys Junior
 

Semelhante a A epopeia da guerrilha no Mayombe (20)

Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"
Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"
Nísia Floresta - "A lágrima de um caeté"
 
Literatura de Cordel
Literatura de CordelLiteratura de Cordel
Literatura de Cordel
 
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
 
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)
ANTUNES, A. Amazônia dos brabos (LIVRO)
 
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel QuinnIsmael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
 
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdftexto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
 
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdftexto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
texto 1-Alves, Rubens -Conversas_com_quem_gosta_ensinar.pdf
 
2a fase modernista - Capitães da Areia
2a fase modernista  - Capitães da Areia2a fase modernista  - Capitães da Areia
2a fase modernista - Capitães da Areia
 
Um verso um texto
Um verso um texto Um verso um texto
Um verso um texto
 
Urupês - 3ª A - 2011
Urupês - 3ª A - 2011Urupês - 3ª A - 2011
Urupês - 3ª A - 2011
 
13. tqa ufmg 2012, 10
13. tqa ufmg 2012, 1013. tqa ufmg 2012, 10
13. tqa ufmg 2012, 10
 
Mayombe - Slides.pptx
Mayombe - Slides.pptxMayombe - Slides.pptx
Mayombe - Slides.pptx
 
A Literatura de Cordel em Sala (Projeto Pibid 2013)
A Literatura de Cordel em Sala (Projeto Pibid 2013)A Literatura de Cordel em Sala (Projeto Pibid 2013)
A Literatura de Cordel em Sala (Projeto Pibid 2013)
 
Literatura de Cordel
Literatura de Cordel Literatura de Cordel
Literatura de Cordel
 
Atividade sobre fabulas ok
Atividade sobre fabulas okAtividade sobre fabulas ok
Atividade sobre fabulas ok
 
Poemas de álvaro de campos
Poemas de álvaro de camposPoemas de álvaro de campos
Poemas de álvaro de campos
 
Literatura de cordel
Literatura de cordelLiteratura de cordel
Literatura de cordel
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Redigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - ApresentaçãoRedigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - Apresentação
 
Td (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)
Td  (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)Td  (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)
Td (04 áreas) (enem omline 02 de agosto)
 

Último

2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 

Último (20)

2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 

A epopeia da guerrilha no Mayombe

  • 1. MAYOMBE (PEPETELA) LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Profa. Dra. Maria Geralda de Miranda
  • 2.
  • 3. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela O romance Mayombe, do escritor angolano Arthur Pestana (Pepetela) foi escrito entre em 1970 e 1971, em Cabinda, Angola, e publicado em 1980. Diz o autor: “Tudo começou com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e...o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro." (Pepetela). Se outras obras têm o ir buscar à história a explicação para problemas diversos, Mayombe conta história. É um livro de construção da história. É também um documento social, pois, apesar de ficção, é escrito no momento de vivência do autor, em que o escritor, o militante e o cientista social se relacionam para, por meio da obra, captarem a realidade histórica angolana.
  • 4. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela No conteúdo de Mayombe, Pepetela trabalha com um legado cultural bem interessante. A dedicatória do livro revela isso: “A ogum o prometeu africano”. Ogum é uma divindade Yoruba e veio para o Brasil na rota dos escravos, em Angola não é conhecido. Mayombe é uma espécie de epopeia, a épica dos guerrilheiros do Movimento de Libertação de Angola (MPLA). Alguns críticos dizem que tal romance relembra alguns escritores franceses que escreveram sobre a guerrilha da Indochina, especialmente " A condição Humana" de André Malraux. Mayombe é a primeira obra angolana que dessacraliza os heróis.
  • 5. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela "É uma obra também contra o dogmatismo, o personagem Sem- Medo é um Anarquista (...) A obra tem já uma série de advertências sobre o partido único, mas a grande contribuição do Sem-Medo foi a da religião à política." (Pepetela) Este romance de Pepetela explicita as contradições relacionadas sobretudo à diversidade cultural e étnica dos “soldados” que compunham o Exército de Liberação Nacional do MPLA. É narrado por uma multiplicidade de vozes, representando as pessoas que participaram da guerrilha na floresta do Mayombe, (Floresta tropical em Cabinda, Angola, constituindo a 2ª Região político-militar do MPLA).
  • 6. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela Pergunta feita a Pepetela: – Por que então escolheste a ficção quando poderias ter elaborado uma outra forma de melhor objetivar os problemas? Resposta: – É porque realmente eu sou um ficcionista, não tinha nenhum objetivo. Eu escrevi não para publicar. Escrevi porque tinha necessidade de escrever. Estava em cima de uma realidade que quase exigia que eu escrevesse. Escrevendo eu compreendia melhor essa realidade; escrevendo eu atuaria também melhor sobre a própria realidade. Não quanto à obra escrita, mas pela minha atuação militante para melhor compreensão dos fenômenos que se passaram. Mas escrevia também para compreender melhor esses fenômenos. Claro que podia fazê-lo com um ensaio acadêmico,não era essa a minha intenção. Eu vejo a coisa como ficcionista.
  • 7. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela FRAGMENTOS DO ROMANCE Capítulo I - A Missão O rio Lombe brilhava na vegetação densa. Vinte vezes o tinham atravessado. Teoria, o professor, tinha escorregado numa pedra e esfolara profundamente o joelho. O Comandante dissera a Teoria para voltar à Base, acompanhado de um guerrilheiro. O professor, fazendo uma careta, respondera: -- Somos dezasseis. Ficaremos catorze. Matemática simples que resolvera a questão: era difícil conseguir-se um efectivo suficiente. De mau grado, o Comandante deu ordem de avançar. Vinha por vezes juntar-se a Teoria, que caminhava em penúltima posição, para saber como se sentia. O professor escondia o sofrimento. E sorria sem ânimo. à hora de acampar, alguns combatentes foram procurar lenha seca, enquanto o Comando se reunia. Pangu Akitina, o enfermeiro, aplicou um penso no ferimento do professor. O joelho estava muito inchado e só com grande esforço ele podia avançar. 7
  • 8. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela Eu, O Narrador, Sou Teoria. Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe, misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é na, para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar a talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta.
  • 9. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela Eu, o Narrador, Sou Milagre. Nasci em Quibaxe, região kimbundo, como o Comissário e o Chefe de OperaçÕes, que são dali próximo. Bazukeiro, gosto de ver os camiÕes carregados de tropa serem travados pelo meu tiro certeiro. Penso que na vida não pode haver maior prazer. A minha terra é rica em café, mas o meu pai sempre foi um pobre camponês. E eu só fiz a Primeira Classe, o resto aprendi aqui, na Revolução. Era miado na altura de 1961. Mas lembro-me ainda das cenas de crianças atiradas contra as árvores, de homens enterrados até ao pescoço, cabeça de fora, e o tractor passando, cortando as cabeças com a lâmina feita para abrir terra, para dar riqueza aos homens. Com que prazer destruí há bocado o buldozer! Era parecido com aquele que arrancou a cabeça do meu pai. O buldozer não tem culpa, depende de quem o guia, é como a arma que se empunha. Mas eu não posso deixar de odiar os tractores, desculpem-me.
  • 10. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela E eu fugi de Angola com a mãe. Era um miado. Fui para Kinshasa. Depois vim para o MPLA, chamado pelo meu tio, que era dirigente. Na altura! Hoje não é, foi expulso. O MPLA expulsa os melhores, só porque eles se não deixam dominar pelos kikongos que o invadiram. Pobre MPLA! Só na Primeira Região ele ainda é o mesmo, o movimento de vanguarda. E nós, os da Primeira Região, forçados a fazer a guerra aqui, numa região alheia, onde não falam a nossa língua, onde o povo é contra-revolucionário, e nós que fazemos aqui? Pobre MPLA, longe da nossa Região, não pode dar nada!
  • 11. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela A Base O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do tecto foi transportado de longe, de perto do Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais. A folhagem da abóbada não deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em baixo, no terreiro limpo que ligava as casas. Ligava, não: separava com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde. Assim foi parida pelo Mayombe a base guerrilheira.
  • 12. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ Pepetela A comida faltava e a mata criou as «comunas«, frutos secos, grandes amêndoas, cujo caroço era partido à faca e se comia natural ou assado. As «comunas« eram alimentícias, tinham óleo e proteínas, davam energia, por isso se chamavam «comunas«. E o sítio onde os frutos eram armazenados e assados recebeu o nome de «Casa do Partido«. O «comunismo« fez engordar os homens, fê-los restabelecer dos sete dias de marchas forçadas e de emoções. O Mayombe tinha criado o fruto, mas não se dignou mostrá-lo aos homens: encarregou os gorilas de o fazer, que deixaram os caroços partidos perto da Base, misturados com as suas pegadas. E os guerrilheiros perceberam então que o deus-Mayombe lhes indicava assim que ali estava o seu tributo à coragem dos que o desafiavam: Zeus vergado a Prometeu, Zeus preocupado com a salvaguarda de Prometeu, arrependido de o ter agrilhoado, enviando agora a águia, não para lhe furar o fígado, mas para o socorrer. (Terá sido Zeus que agrilhoou Prometeu, ou o contrário?)
  • 13. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela A mata criou cordas nos pés dos homens, criou cobras à frente dos homens, a mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros, rios caudalosos, lama, escuridão, Medo. A mata abriu valas camufladas de folhas sob os pés dos homens, barulhos imensos no silêncio da noite, derrubou árvores sobre os homens. E os homens avançaram. E os homens tornaram-se verdes, e dos seus braços folhas brotaram, e flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata estendeu-lhes a sombra protectora, e os frutos. Zeus ajoelhado diante de Prometeu. E Prometeu dava impunemente o fogo aos homens, e a inteligência. E os homens compreendiam que Zeus, afinal, não era invencível, que Zeus se vergava à coragem, graças a Prometeu que lhes dá a inteligência e a força de se afirmarem homens em oposição aos deuses. Tal é o atributo do herói, o de levar os homens a desafiarem os deuses. Assim é Ogun, o Prometeu africano. (p. 41)
  • 14. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela Eu, o Narrador, Sou Mundo Novo Recuso-me a acreditar no que diz Sem Medo. Lá está ele, ali, no meio dos jovens, rasgando-se nas raízes da mata, rastejando, triturando os ombros contra o solo duro, putrefacto e húmido do Mayombe, enrouquecendo com os gritos e imprecaçÕes que blasfema, emasculando-se no sémen da floresta, no sémen gerador de gigantes, suando a lama que sai da casca das arvores, beliscando-se nos frutos escondidos por baixo das folhas caldas, lá está ele, ali, no meio dos jovens, ensinando o que sabe, totalmente, entregando-se aos alunos, abrindo-se como as coxas duras dama virgem, e ele, que está ali, diz que o faz interesseiramente. Sem Medo é um desinteressado, a terceira camisa que tinha ofereceu-a ao guia, que acabou por fugir com ela, entregando-se aos tugas.
  • 15. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela Epílogo O Narrador Sou Eu, O Comissário Político. A morte de Sem Medo constituiu para mim a mudança de pele dos vinte e cinco anos, a metamorfose. Dolorosa, como toda metamorfose. Só me apercebi do que perdera (talvez o meu reflexo dez anos projectado à frente), quando o inevitável se deu. Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter ele próprio, teria de ficar ali, no Mayombe. Terá nascido demasiado cedo ou demasiado tarde? Em todo o caso, fora do seu tempo, como qualquer herói de tragédia. Eu evoluo e construo uma nova pele. Há os que precisam de escrever para despir a pele que lhes não cabe já. Outros mudam de país. Outros de amante. Outros de nome ou de penteado. Eu perdi o amigo.
  • 16. Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Mayombe/ pepetela Do coração do Bié, a mil quilómetros do Mayombe, depois de uma marcha de um mês, rodeado de amigos novos, onde vim ocupar o lugar que ele não ocupou, contemplo o passado e o futuro. E vejo quão irrisória é a existência do indivíduo. É, no entanto, ela que marca o avanço no tempo. Penso, como ele, que a fronteira entre a verdade e a mentira é um caminho no deserto. Os homens dividem-se dos dois lados da fronteira. Quantos há que sabem onde se encontra esse caminho de areia no meio da areia? Existem, no entanto, e eu sou um deles. Sem Medo também o sabia. Mas insistia em que era um caminho no deserto. Por isso se ria dos que diziam que era um trilho cortando, nítido, o verde do Mayombe. Hoje sei que não há trilhos amarelos no meio do verde. Tal é o destino de Ogun, o Prometeu africano.
  • 17. Referências PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Ática, 1981 CHAVES, Rita. Pepetela: romance e utopia na história de Angola. São Paulo: Via Atlântica. Disponível em http://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/vi ewFile/48795/52871. Acesso 10 fev 2016.