1. A JUVENTUDE NEGRA
TEM DIREITO
AO FUTURO
Os protestos de Baltimore, que
deixaram a imprensa chocada com
protestos radicalizados, mostra muito
mais que uma população pedindo justiça
pela morte de um jovem negro. A morte
de Freddie Gray foi a faísca de uma
bomba que estava pra explodir.
Alguns jornais chamaram de ‘rebelião’,
mas o fato é que no último mês o mundo
acompanhou os protestos em Baltimore.
Os protestos iniciaram-se após a morte
de Freddie Gray, de 25 anos, que
morreu depois de sofrer lesões na coluna
vertebral, enquanto estava sob custódia
policial.
A mídia trata casos como o de Freddie
Gray, como uma “morte em
circunstâncias não determinadas” ou
até mesmo como um incidente, quando,
claramente, Gray foi alvo de racismo e
violência policial. Essa é a mídia
controlada por um projeto ideológico,
que tem como função colocar os ricos
como modelos a seguir e jogar
pobre contra pobre, fazendo o
oprimido abraçar as ideias do opressor. E
essa imprensa, que tem lá e aqui,
noticiou os protestos de Baltimore como
se fossem simplesmente uma revolta
popular após a morte de um negro pela
polícia, mas não é tão simples assim.
Trata-se de uma longa história, que
muito se assemelha com histórias que
vemos em muitos morros e quebradas
por aqui no Brasil.
Assim como no Brasil, todos os
problemas das periferias são ignorados
pelas autoridades e pela imprensa. A
revolta em Baltimore é por direitos,
começando pela vida e pelo futuro da
juventude negra. Baltimore
apresenta-se como mais um exemplo.
Exemplo de luta e reação, exemplo de
que unidos somos mais fortes, exemplo
de que quando um dos nossos é morto,
a cidade irá pegar fogo.
No Brasil, o risco de um jovem negro
ser morto é 2,5 vezes maior que o de
um jovem branco. Atualmente, nos
deparamos com mais uma tentativa do
avanço da criminalização da pobreza
e do encarceramento em massa. A
Comissão de Constituição e Justiça da
Câmara dos Deputados considerou
constitucional o PL que visa a redução
da maioridade penal de 18 para 16
anos e nós sabemos que a maioria da
população encarcerada é jovem, negra
e pobre. Então, ao invés de
proporcionar educação e trabalho de
qualidade para os jovens, o Estado
prefere prendê-los em penitenciárias.
Assim como nos EUA, a juventude
negra brasileira luta contra o genocídio
proferido nas periferias, e os
estudantes devem se mobilizar para
barrar esse projeto de lei e lutar por
cotas raciais nas universidades e pelo
fim do genocídio da população negra
em nosso pais e no mundo.
A realidade dos negros de Baltimore é bem parecida com a dos
negros brasileiros na quebrada afora e morro adentro. Talvez por
isso se tenha falado tão pouco sobre o assunto na grande mídia,
explicitar o racismo institucional praticado pelo Estado diariamente
não parece ser interessante em termos midiáticos.
A polícia de Baltimore trabalha com o mesmo modelo de “suspeito
padrão” que vigora aqui: se for preto, pobre e favelado é suspeito
e o tiro é dado pra matar. Moradores sofrem com falta de moradia,
remoções forçadas para dar lugar a construções de condomínios e
rodovias, quase toda semana um negro desarmado é morto pela
polícia e cada vez mais o racismo e a pobreza assolam Baltimore.