1. Diagnóstico econômico
Raphael Vaz
Imagine um roteiro de aulas de uma disciplina do curso de Jornalismo. É assim que pode se classificar o livro
Jornalismo Econômico, de Suely Caldas. A obra aborda temas relativos ao jornalismo econômico, mas é muito
mais enfático em conceitos gerais do jornalismo que, de certa forma, não deixam de estar inseridos no jornal-
ismo econômico. Obviamente o livro não é tão simplório quanto um roteiro. É extenso em suas explicações e a
maioria dos tópicos abordados vêm seguidos de um exemplo ou de uma breve análise de caso.
O primeiro capítulo trata da história do jornalismo econômico no Brasil. Mesmo que seja complicado delimitar
uma data de início para o surgimento das matérias de economia nas páginas tupiniquins, a autora retrata o
princípio destas pautas e como elas eram simples se comparadas às atuais. Aborda o amadurecimento pelo
qual estas matérias passaram durante o período getulista e a ditadura brasileira. Como todas as editorias jor-
nalísticas, a de economia também teve que se adequar à falta de liberdade imposta pelos militares e depois se
readaptar a independência editorial com o retorno da democracia.
Condições trabalhistas
A partir do segundo capítulo, o livro começa a se desenhar com traços conceituais do jornalismo geral, mas ai-
nda pincela características da área econômica. Ao invés da limitação ao jornalismo econômico, a autora aborda
as dificuldades e os parâmetros gerais do mercado. Questões salariais, carência das academias que formam
estudantes que “pagam, pegam o diploma e vão aprender fora da universidade”, conquistas femininas nas
redações e a explosão do mercado online nos veículos de comunicação. Além disso, aborda a delicada relação
entre empresas que atraem jornalistas com bônus salariais para a função de assessoria, esvaziando as reda-
ções.
Suely também traça um perfil dos principais veículos que atuam com economia no Brasil. Gazeta Mercantil,
Valor Econômico e Exame estão entre os veículos analisados. Também cita os principais prêmios jornalísticos e
a importância que esses prêmios têm tanto para os jornalistas vencedores quanto para o veículo que represen-
tam.
Cotidiano
No terceiro capítulo, a autora dá os conceitos básicos do jornalismo referentes a pautas, fontes, entrevistas,
tecnologia e edição. Nesta abordagem, Suely ressalta o uso consciente e precavido do off e critica jornalistas
que acomodam-se na execução de pautas gerais, deixando de lado as exclusivas, aquelas que criam a identi-
dade do jornal e o diferencia de seus concorrentes.
Voltando-se no fim do capítulo para a economia, trata da compreensão geral que o jornalista deve ter sobre a
macroeconomia. Entenda-se por macroeconomia os indicadores que representam o desempenho da economia.
Também justifica a existência de mais matérias de economia pública do que privada em função de o governo
interferir excessivamente na economia “seja por vício ou necessidade”.
Nova realidade
O quarto capítulo limita-se a analisar o jornalismo econômico online e como esta modalidade do jornalismo
invadiu também a economia. Essa seria uma modalidade destinada ao sucesso e à expansão por si só, já que a
informação online faz parte direta no mundo do mercado financeiro. Suely lamenta que as universidades ainda
não tenham despertado “para esse novo mercado”. Para exemplificar um caso de on-line envolvendo econo-
mia, relata o caso da Agência Estado e da compra do Broadcast pela AE.
Já o quinto capítulo narra experiências pessoais em matérias e veículos de economia no Brasil. Ela foca prin-
cipalmente fatos que envolveram sua cobertura na tentativa de extorsão no pagamento de comissões no
desconto de duplicatas emitidas por uma subsidiária da Petrobras (caso BR) e no caso do ex-presidente Fer-
nando Collor.
2. Particularidades
Além de todas essas abordagens, pode-se encontrar no texto trechos interessantes de opinião que tratam de
temas polêmicos e delicados do dia-a-dia jornalístico. A existência da ética ou a falta dela no relacionamento
entre assessor de imprensa e jornalista e a questão de matérias pagas são alguns deles. Outra colocação é
que “não faz sentido falar de um gênero chamado ‘jornalismo investigativo’”. A autora afirma que essa tem de
ser uma característica natural de qualquer faceta jornalística e que os conceitos de apuração e investigação
tratam, na verdade, de uma única coisa.
O publicitário Roberto Mena Barreto, em seus livros, sempre trata as introduções com fórmulas criativas, que
consigam atrair a atenção do leitor. No caso do livro de Suely, é realmente um pecado ignorar essa sessão do
livro. As melhores páginas são justamente as de introdução, onde a autora resume com perspicácia e extrema
competência o preconceito que se formou contra o jornalismo econômico, os possíveis motivos que o fizeram
alcançar esse estado e o que é preciso fazer para mudar a imagem desse texto econômico, fazendo dele uma
arma eficaz a serviço de quem precisa.