Uma pesquisa desenvolveu uma mistura protéica de carne em pó para ajudar pacientes que têm dificuldade de mastigar. A mistura é rica em proteínas, tem baixo teor de gordura e é mais barata do que suplementos atuais. Testes mostraram que o sabor agradou pacientes e a mistura pode ser usada em sopas ou vitaminas, melhorando a nutrição dessas pessoas.
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Ciência
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30 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 8 de agosto de 2009
Carne
em pó
Mistura protéica é desenvolvida em São Paulo e melhora a qualidade de
vida de pacientes que não conseguem mastigar. O alimento pode
acompanhar receitas doces e salgadas, como vitaminas e sopas
Fotos: Camila Alvarez/SerCom Centrinho-USP
ma pesquisa realizada por nutricio-
U nistas da Universidade de São Paulo
(USP), de Bauru, e da Universidade
Estadual de São Paulo (Unesp), de
Botucatu, desenvolveu um tipo de carne
em pó. Chamada de mistura protéica, o
produto vai ajudar pessoas que têm difi-
culdade de mastigar, ou não podem ingerir
alimentos sólidos. O benefício atinge pa-
cientes que se submeteram a cirurgia de
redução de estômago, lábio leporino, aci-
dente vascular cerebral (AVC), mal de
Alzheimer, problemas na boca e tratamen-
to quimioterápico.
Na mistura protéica, pedaços de carne
magra são cozidos, depois passam por um
processo especial de secagem e são moí-
dos. O resultado é um pó bastante fino e fa-
cilmente solúvel em água, que pode ser
adicionado a sopas e caldos. Além de pre-
servar praticamente todas as suas vitami-
nas e proteínas, a mistura protéica é mais
saudável do que a normal, pois é feito com
cortes somente de carne magra e não pos-
sui adição de conservantes ou temperos.
Em 100g da mistura, 80g são de proteí- Suely Prieto Barros (á esquerda), nutricionista do Hospital de Reabilitação de
nas de alto valor biológico. A quantidade de Anomalias Craniofaciais da USP, demonstra como usar a carne em pó
gordura na mesma amostra é de 1,6g, muito
menor do que de carne normal. A cada 100g
de contrafilé, 2,02g são gordura, já no lom-
bo grelhado essa quantidade sobe para
3,30g. Outra vantagem da carne em pó é o
preço. Ela custa, em média 60%, menos que
os suplementos de proteína já existentes no
mercado, feitos à base de soja e milho.
Suely Prieto Barros, nutricionista do Hos-
pital de Reabilitação de Anomalias Cranio-
faciais da USP, que trabalha há 25 anos com
pacientes que fizeram operações na boca,
ajudou a desenvolver a carne em pó. Ela ex-
plica que para seus pacientes existia uma
grande dificuldade de se conseguir nutrien-
tes provenientes da carne, já que todos os
alimentos devem ser líquidos. “Quando co-
locávamos carne nas sopas e coávamos, ela
ficava quase toda na peneira. Tínhamos
uma perda financeira e um aproveitamento
mínimo dos nutrientes, com prejuízo à cica-
trização cirúrgica”, conta.
Depois de desenvolvido, o pó passou
por um teste de palatabilidade, ou sabor.
Ele foi oferecido a 32 pacientes que passa-
ram pela cirurgia bariátrica, em um hospi-
tal em Jaú, no interior de São Paulo. O teste
foi coordenado por Silvia Papini-Berto,
professora da Faculdade de Medicina da Mistura protéica tem a cor e sabor natural da carne: os pacientes
Unesp. Segundo ela, o sabor da carne foi consideraram o alimento bastante leve e saboroso
aprovado. “Os pacientes consideraram a
carne em pó bastante leve e saborosa”,
conta. “Esses pacientes passarão pelo me-
nos dois meses se alimentando somente de
líquidos, por isso a importância do gosto
ser agradável”, justifica.
A fase seguinte da pesquisa foi adaptar o
produto para fabricação em escala indus-
trial. Uma indústria de alimentos adaptou a
fórmula. De acordo com Lúcio Caleffi, geren-
te de Pesquisa e Desenvolvimento da Bertin
Alimentos, foram feitos vários testes de for-
mulação para chegar a uma mistura ideal.
“Testamos várias formas de aplicação, tais
como sopas, vitaminados, sucos e caldos.
Também fizemos as análises de perfil de ami-
noácidos e tabela nutricional.” Desses testes,
resultou a mistura atualmente desenvolvida.
No futuro, o alimento poderá ser usado
para complementação da merenda escolar,
e por pessoas que não estão doentes. “O
produto não tem contraindicação, pois é
baseado nas proteínas da carne. Seu con-
sumo pode contribuir para uma dieta ba-
lanceada”, completa Lúcio. A carne em pó
está atualmente em fase de registro na à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) e deve chegar aos consumidores A carne em pó é colocada no liquidificador e misturada à sopa, ou à vitaminas:
até o fim do ano. nutrição balanceada para pacientes que têm problemas para engolir
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