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Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6
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00
Curso de Graduação em Ciências Agrárias
Licenciatura a Distância
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - UFPB
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E AGRÁRIAS
PESQUISA
APLICADA À
EXTENSÃO RURAL
Professor MSc. Breno Henrique de Sousa
Departamento de Ciências Sociais Aplicadas
CCHSA - UFPB
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Apresentação
Caro aluno,
	 O Brasil, diante da sua vocação agrícola, ao longo das últimas décadas, tem ampliando
os seus conhecimentos agropecuários e diante disto, surgiu a necessidade de prestar apoio aos
agricultores, para garantir que os conhecimentos e técnicas agrárias se tornassem efetivos por
meio de programas de extensão rural.
	 Porém, o meio rural brasileiro é dividido em duas realidades: a do camponês pobre, agri-
cultor familiar, que quase sempre produz para subsistência, com baixo nível tecnológico e baixos
índices de produtividade, esquecido pelo poder público, injustiçado pela ausência de leis e políti-
cas que não protegem seu modo de vida e sua cultura, sem infra-estrutura básica como estradas,
saúde, educação, água potável e ainda nos dias de hoje, sem energia elétrica e saneamento
básico; por outro lado encontra-se o latifundiário e o empresário rural, seu modo de produção
é quase sempre a monocultura ou produção pecuária especializada para o mercado interno ou
externo, possui seus próprios representantes políticos eleitos com seu apoio finaceiro, que criam
políticas públicas que protegem os interesses de sua classe, praticam uma agricultura tecnicista,
desprovida de valores tradicionais ou de uma relação de afeto ou espiritualidade com a terra, re-
produzem a lógica da produção industrial, onde é preciso produzir sempre mais; gastando sempre
menos e tendo como objetivo central a acumulação de capital, mesmo que para isso submeta seus
trabalhadores à condições indignas ou também esgotem e poluam os recursos naturais. Aonde
chega o modelo de produção agrícola industrial, desaparece rapidamente o agricultor tradicional
e seu modo de vida integrado com a natureza. O campo se torna um grande deserto demográfico,
entrecortado por máquinas e emplementos agrícolas, os pequenos agricultores se evadem para
superlotar ainda mais as grandes cidades, aumentando ali as problemáticas existentes, e outros
que conseguem viver na zona rural, tornam-se alguns dos poucos empregados do agronegócio ou
vivem complementando sua renda com atividades paralelas à agricultura.
	 A extensão rural no Brasil surgiu a princípio para atender aos interesses deste segundo
grupo, apenas mais recentemente, devido a força e organização dos movimentos sociais no cam-
po, é que a extensão rural tem tomado um novo perfil, em defesa do pequeno agricultor e de seus
modos de produção tradicionais. Com esta nova extensão rural inspirada nas metodologias de
pesquisa participante, nas reflexões e propostas de Paulo Freire que questiona o próprio conceito
de extensão rural, surge um novo espaço de pesquisa que envolve desde as metodologias das
ciências sociais e agrícolas, integradas de maneira holística no espaço pedagógico do campo.
	 O meio rural permite ao licenciando em Ciências Agrárias uma ampla e rica experiência,
uma verdadeira praxis pedagógica onde ingram-se as ciências humanas e agrárias de maneira
dialética, dirimindo a dicotomia teoria-prática e permitindo uma formação holística, que abrange a
técnica, mas que não deixa de ser intuitiva e perceptiva. É no contato com o homem do campo que
o licenciando perceberá a riqueza de sua cultura, as causas de sua resistência cultural e aversão
à assistência técnica, a sabedoria oculta através de gerações, as lendas e o imaginário popular de
um modo de vida ameaçado de extinção. Ali também o licenciando aprenderá os caminhos para
esta troca de conhecimentos, respeitando os saberes populares e integrando o homem do campo,
de maneira participativa, nas decisões a serem tomadas.
	 Vamos partir do histórico destes movimentos sociais no campo, da extensão rural no
Brasil, para compreender como desenvolveu-se esta realidade, para a partir de então construir re-
flexões e propostas para uma nova extensão (ou comunicação) rural, tendo a agroecologia como
paradigma central neste processo.
	 Espero que através desta viagem que se inicia virtualmente, vocês possam lançar novos
olhares e entendimento sobre o campo, sendo agentes transformadores desta realidade, cientes
dos interesses políticos dominantes e tendo escolhido seu posicionamento, seja ele qual for, mas
que seja produto de uma reflexão mais profunda e não simplesmente das informações superficiais
veiculadas pelos meios midiáticos e que quase sempre distorcem a realidade para atender os
interesses das classes dominantes.
Boa viagem!
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00
Unidade
1
D
esde a sua colonização, o Brasil tem na agricultura umas das suas principais
atividades econômicas. Acompanhada da extração de riquezas minerais e
vegetais, a colônia, explorada através do trabalho escravo, forneceria esses
benefícios ao império português.
	 Segundo Andrighetti (1998), o Nordeste já foi a região mais importante
e mais rica do país, sendo a primeira a dar lucro à metrópole portuguesa,
constituindo-se no mais importante pólo da exploração mercantilista no Brasil. O modo
como o capitalismo penetrou no Brasil, ou seja, o modo como Portugal deu início à nos-
sa colonização, provocou, desde o princípio, a concentração de terras. A divisão social
do trabalho exigida pela produção açucareira não poderia sustentar-se numa economia
camponesa, baseada na pequena propriedade familiar. Tal produção demandava inves-
timentos em larga escala, grande quantidade de mão de obra e busca por uma elevada
produtividade, o que a pequena propriedade não poderia assegurar.
	 A primeira atividade agrícola com fins comerciais praticada no Brasil foi o cultivo
da cana de açúcar, especificamente na zona da mata. O clima tropical quente e úmido,
com uma estação seca e outra chuvosa, e o tipo de solo – o chamado massapé, rico em
argila – mostraram-se ideais para o desenvolvimento deste cultivo, lançando as bases da
chamada “economia açucareira do Nordeste”. Outra importante cultura, explorada a par-
tir do século XX foi o café, principalmente na região sudeste, que junto com a produção
leiteira formaram o sustentáculo da economia nacional. Porém a crise da bolsa de Nova
York em 1929 provocou a quebra da economia cafeeira no Brasil. Para se ter uma idéia,
na década de 30 foram queimadas cerca de 80 milhões de sacas de café.
	 Segundo Graziano Neto (1985), somente após uma fase posterior a industrial-
ização é que a agricultura se transforma no sentido capitalista que ocorre no início da
década de 60. Esta “modernização” da agricultura trouxe ao seu lado problemas de in-
justiça social, problemas ecológicos que até então, ou não tinham grande importância, ou
não tinham sido percebidos em toda sua extensão.
	 Essa foi a chamada Revolução Verde, que define-se como: um programa com
objetivo aparente de contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola
no mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal,
para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições de diferentes solos
e climas e resistentes às doenças e pragas, bem como da descoberta e aplicação de téc-
nicas agrícolas ou tratos culturais modernos e eficientes (Brum, 1990 apud Zamberlam
& Froncheti, 2001). Este modelo, na realidade, implementou o uso de uma mecanização
UNIDADE I
INTRODUÇÃO À REALIDADE DO CAMPO NO BRASIL
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pesada; o uso maciço de produtos químicos sintéticos, tanto para repor os nutrientes
absorvidos pelas plantas (fertilizantes sintéticos), como para combater os “inimigos” de-
stas (agrotóxicos) e a adoção do regime de monocultura, com concentração de capital e
recursos físicos.
	 A “modernização” da agricultura brasileira, entendida como seu processo de
transformação capitalista, passou a ser criticada, então, por dois lados: de um, pelos
estudiosos da questão agrária, devido aos problemas sociais, econômicos e políticos; de
outro, pelos preocupados com a ecologia, devido a problemas como a contaminação dos
alimentos, degradação dos solos, intoxicações de trabalhadores, descontrole das pragas
e doenças, alterações climáticas etc.
	 Andrighetti (op. cit.) diz que sob o problema da pobreza e das tensões sociais
surgiram movimentos como o das Ligas Camponesas, na década de 1950 e no início
da década seguinte. As manifestações cresciam no litoral do Nordeste, principalmente
entre os trabalhadores dos canaviais pernambucanos. Uma das ligas camponesas mais
importantes foi fundada em 1955, no Engenho da Galiléia, situado no município de Santo
Antão. Nasceu como as demais, com simples objetivo assistencialista, mas sua atividade
e união provocaram medo no proprietário que tentou expulsá-los da fazenda, mas em
luta judicial eles conseguiram pelo governo do estado a desapropriação da fazenda. O
governo pagou a indenização ao proprietário e o Engenho Galiléia passou a pertencer
aos agricultores. O exemplo se espalhou por todo o Nordeste e em 1963, havia no país
centenas de ligas contando com mais de 100 mil associados. O governo passou a em-
preender uma débil modificação na estrutura fundiária brasileira e estimulado pelas fortes
pressões populares acabou aprovando em 1963 um projeto de lei que resultou no Estatu-
to do Trabalhador Rural. Depois da repressão do regime militar que perseguiu sindicatos
e agricultores, na década de 80 foi retomado o processo de reforma agrária.
	 O desenvolvimento da reforma agrária no Brasil é importante para a implementa-
ção de um modelo de agricultura familiar que se desenvolve nas áreas de assentamento;
esse modelo está mais acessível ao uso de tecnologias menos impactantes do que o
atual modelo “moderno” de produção agrícola.
	 O “I Censo da Reforma Agrária do Brasil” (1997) informa que até 31 de outubro de
1996 o Brasil possuía 1.460 projetos de assentamento rural, beneficiando 159.778 pes-
soas. O INCRA (2002) estima que no Brasil existem aproximadamente 4 milhões de es-
tabelecimentos familiares rurais. Destes, cerca de 10% (414 mil famílias) correspondem
àqueles que participam de projetos de reforma agrária, os quais se distribuem por mais
de 5 mil assentamentos em aproximadamente 2.000 municípios brasileiros. Atualmente,
o INCRA (2010) informa que o Brasil possui 8.763 projetos de assentamento incorpo-
radas pela reforma agrária, que ocupam 85,8 milhões de hectares com 924.263 famí-
lias. Bamat (1998) informa que a Paraíba foi o segundo estado brasileiro em número de
imóveis rurais desapropriados durante 1996, e o ritmo não diminuiu em 1997. Num con-
texto nacional e histórico, no qual a democratização do acesso a terras tem ocorrido de
forma tensa e extremamente lenta, apesar da urgência e da viabilidade de uma reforma
agrária ampla e profunda, o que ocorreu na Paraíba nos últimos anos é, historicamente,
muito importante. Entretanto, as atuais condições de vida, em muitos dos assentamen-
tos, tanto nos mais antigos, quanto nos mais recentes, indicam a existência de problemas
que precisam ser superados, principalmente a questão do desenvolvimento sustentável
destas áreas. Atualmente, na Paraíba existem mais de 270 assentamentos, numa área
aproximada de 252,5 mil hectares, onde vivem cerca de 5 mil famílias.
	 A questão ambiental começa a ser tratada de forma mais incisiva pelo INCRA,
desde 1998, com o lançamento da agenda ambiental “Terra que te Quero Verde”, esta-
belecida pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, a qual esta-
belece diretrizes relativas à gestão ambiental nas ações de reforma agrária. No mesmo
ano em que foi lançada a referida agenda, também foram concebidos os Projetos Agro-
extrativistas – PAE, focados no desenvolvimento das populações tradicionais, e iniciadas
Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
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00
as discussões a respeito do licenciamento ambiental dos projetos de Reforma Agrária
(INCRA, 2002).
	 Atividades agrícolas, sobretudo as que têm a finalidade de produção comercial,
geram um forte impacto no meio ambiente, desestruturando os ecossistemas. Este efeito
é resultante sobretudo dos atuais moldes de produção agrícola herdados da Revolução
Verde, que afetam não apenas o meio ambiente, mas, refletem-se na qualidade final
dos produtos oferecidos pela agricultura, afetando diretamente os consumidores destes
produtos.
	 O grande desafio da atualidade, no campo das atividades produtivas, é a con-
ciliação da produção com procedimentos ecologicamente corretos e que minimizem o
impacto destas atividades no meio ambiente. Para Graziano Neto (1985) o núcleo da
questão agro ambiental se encontra no desenvolvimento do capitalismo, na tentativa con-
stante de maximização dos lucros que é inerente a este sistema econômico. Não há como
se lutar por uma agricultura ecologicamente mais equilibrada sem criticar, politicamente
o capitalismo brasileiro, sem uma perspectiva de modificação do modelo econômico in-
stalado no Brasil.
	 Abramovay (1999) demonstra como o desenvolvimento do capitalismo afeta
a agricultura familiar causando êxodo rural e decréscimo destas atividades, desta forma,
o desenvolvimento da agricultura em países capitalistas entra em contradição com os as-
pectos da idealizada “modernização da agricultura”, implementada pela industrialização
do país.
	 Sob este panorama a Extensão Rural surge como ferramenta de doutrinação tec-
nológica onde técnicos e acadêmicos foram treinados nas academias e universidades
para implantação dos pacotes tecnológicos. As políticas de crédito do governo são feitas
para garantir a compra de insumos e maquinas das indústrias rurais e não para garantir a
sustentabilidade do agricultor.
	 O acervo fundiário brasileiro, que contém plantas e informações sobre imóveis
rurais em todo o País, está acessível a qualquer cidadão, pela internet. A possibilidade foi
aberta nesta segunda-feira (16) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), responsável por gerenciar o banco de dados. No acervo digital são encontradas
informações produzidas pelo Incra sobre projetos de reforma agrária, imóveis rurais, gle-
bas, territórios quilombolas e faixas de fronteira.
	 Parcerias com outras instituições também permitiram a visualização de áreas de
proteção ambiental, sistema viário, hidrografia, limites políticos (estadual e municipal),
terras indígenas, títulos minerários, mapeamento sistemático e imagens de satélite. Pelo
portal do Incra na internet também é possível acessar o programa e baixar o tutorial de
navegação.
	 O diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra, Richard Torsiano,
destaca que além de conferir mais visibilidade e ampliar o conhecimento sobre o trab-
alho realizado pela autarquia, o novo instrumento traz benefícios em múltiplas instâncias.
“Toda a sociedade ganha, desde o cidadão comum a órgãos de governo, instituições
de ensino, entre outros, não somente pela possibilidade de conhecer melhor a malha
fundiária brasileira, como utilizar os dados para planejar ações ou desenvolver pesqui-
sas”, aponta.
As ferramentas presentes no sistema permitem ao usuário produzir, por exemplo, mapas
personalizados, a partir do cruzamento dos conteúdos disponibilizados. O banco de da-
dos também é dinâmico, ou seja, permanentemente atualizado, tanto pelo Incra como
pelas instituições que “emprestam” parte dos seus acervos ao ambiente digital.
	 “A idéia é que a troca de informações seja cada vez maior para que não haja des-
perdício de investimentos de ambos os lados”, afirma a coordenadora geral de Geopro-
Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
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cessamento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Sandra Pedrosa.
Ela cita, por exemplo, a possibilidade de checar se um assentamento tem interferência
em área que o DNPM esteja liberando para determinada pesquisa.
Desenvolvimento
	 O sistema foi desenvolvido pela Diretoria de Ordenamento da Estrutura Fundiária
do Incra, por meio da Coordenação Geral de Cartografia. Também fez parte do processo
de implementação o serviço de Cartografia da Superintendência Regional do Incra no
Maranhão. Para isso, a equipe utilizou o software livre i3Geo, voltado à criação de mapas
interativos e disponibilizado pelo Ministério do Meio Ambiente.
	 Em um primeiro momento, em meados de 2009, o acesso foi disponibilizado a
servidores do Incra e a órgãos governamentais, para que o sistema fosse aprimorado. A
etapa permitiu, também, a incorporação de acervos de outras instituições.
	 A Coordenação Geral de Cartografia do Incra disponibiliza, no ambiente digital,
um manual de utilização do aplicativo para que o usuário possa usufruir de todas as fun-
cionalidades do sistema.
Saiba mais:
Acervo Fundiário Digital
http://acervofundiario.incra.gov.br/i3geo
Portal do Incra
Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
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00
www.incra.gov.br
ara falar sobre agroecologia, vamos antes um pouco mais a fundo nos concei-
tos de ecologia profunda e sustentabilidade ambiental. Estes conceitos são
o fundamento para o entidimento de uma unidade holística entre o homem e
o meio que o cerca.
	 Segundo Pauly (2001), Goethe (Johan Wolfang Goethe, 1749-1832) for-
mulou há 200 anos atrás uma proposta ou modelo científico que incluísse o observa-
dor como um agente ativo e participativo. Nesta proposta Goethe valoriza as relações
ecológicas e experiências pessoais do pesquisador. O modelo fragmentador é uma visão
materialista da natureza, a qual dá mais ênfase à quantidade, formas de medição ou aval-
iação de experimentos isolados para explicar a vida.
	 A vida e os processos relacionados com ela não são lineares, mas eles têm di-
reção. Esta direcionalidade segue padrões que obedecem as leis da natureza. Na busca
da unidade das leis da natureza, e especialmente devido as suas observações das plan-
tas, que Goethe descobriu e desenvolveu sua teoria da metamorfose.
	 O princípio básico do método científico de Goethe é que nós mesmos nos de-
vemos incorporar na experiência do fenômeno, fazendo-nos parte dele durante toda a
pesquisa, em vez de especular em torno dele ou substituí-lo por um conceito abstrato
ou modelo matemático. Submergindo-nos no fenômeno, nós podemos “ver” a unidade
e a presença de leis no mundo natural. Em seus estudos científicos, Goethe procurava
entender a natureza e as suas leis internas e não procurar explicações ou forças proveni-
entes do exterior.
	 Este princípio pode orientar a prática do extensionista, que, em condições ideais,
deveria mergulhar na realidade estudada, compreendendo-a em todas as dimensões pos-
síveis. É fato que isto se torna inviável quando são escassos os recursos para os serviços
de assistência técnica gerando situações em que um técnico deve dar assistência a cen-
tenas de famílias no curto período de um ano. Um trabalho mais detido e aprofundado em
poucas comunidades permitiria esta imersão na realidade do homem do campo, olhando
a realidade através dos seus olhos e dando-se conta que, não raras vezes, a destruição
da natureza, ou a omissão em protegê-la, se dá pela percepção míope que o homem tem
do meio que o cerca. O olhar sobre a própria realidade, a consciência do valor do próprio
patrimônio sócio-ambiental estão na raiz da crise que leva o homem a permitir a degrada-
ção do meio ambiente ou o descaso diante dela.
	 Para Leff (1992), a crise ambiental é a crise do conhecimento, pois as concepções
Unidade
2
UNIDADE II
ECOLOGIA PROFUNDA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
P
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metafísicas da população são determinantes para a maneira como o homem se relaciona
com o meio ambiente. Um dos pontos da partida para a crise ambiental é a esquecida
complexidade do ser humano por causa do surgimento da cisão entre o ser e o ente
(Platão), do sujeito e do objeto (Descartes), para apreender o mundo “coisificando-o”,
objetivando-o, homogeneizando-o.
	 A crise ambiental é também um resultado do desconhecimento de princípios da
termodinâmica (entropia), que tem desencadeado no imaginário economicista uma “ma-
nia de crescimento”, de uma produção sem limites. Esta crise anuncia o limite de tal
projeto. Mas, justamente por isso, sua solução não poderia basear-se no refinamento do
projeto científico e epistemológico que tem fundado o desastre ecológico, a alienação
do homem e o desconhecimento do mundo. Daí emerge um projeto de desconstrução
da lógica unitária, da busca da verdade absoluta, do pensamento unidimensional, da
ciência objetiva, do crescimento do conhecimento, do controle crescimento do mundo,
do domínio da natureza e da gestão racional do ambiente. A complexidade ambiental
abre uma nova compreensão do mundo, incorporando o limite do conhecimento e da in-
completude do ser. Implica saber que a incerteza, o caos e o risco são, ao mesmo tempo,
efeito da aplicação do conhecimento que pretendia anulá-los e condição intrínseca do ser
e do saber.
	 A complexidade emerge como resposta a este constrangimento do mundo e da
natureza pela unificação ideológica, tecnológica e econômica. A natureza explode para
destravar-se e se libertar do logocentrismo, abrindo os caminhos da história com base
nos potenciais da natureza complexa, na atualização do ser ao longo da história e na sua
projeção para o futuro, pelas possibilidades abertas pela construção de utopias a partir da
fecundidade da outridade.
	 A complexidade ambiental não é a ecologização do mundo. O pensamento com-
plexo desborda a visão cibernética de uma realidade que se estrutura e evolui por meio
de um conjunto de inter-relações e retroalimentações, como um processo de desenvolvi-
mento que vai da auto-organização da matéria à ecologização do pensamento.
	 A crise ambiental não é então a crise ecológica, mas é antes a crise da razão.
Os problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí po-
dem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve
passar por uma política do conhecimento – e também para a educação. Apreender a
complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de
compreensão do conhecimento sobre o meio.
	 O conceito de Ecologia Profunda usado por Capra (1996 e 1986) está associado
com uma escola filosófica específica e, além disso, com um movimento popular global
conhecido como “ecologia profunda”, que está rapidamente, adquirindo proeminência. A
escola filosófica foi fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de
70, com sua distinção entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. Esta distinção é hoje
amplamente aceita como um termo muito útil para se referir a uma das principais divisões
dentro do pensamento ambientalista contemporâneo.
	 Para Capra (op cit) quanto mais estudamos os principais problemas da nossa
época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente.
São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependen-
tes. Por exemplo, somente será possível estabilizar a população quando a pobreza for
reduzida em âmbito mundial. A extinção de espécies de animais e vegetais numa escala
massiva continuará enquanto o hemisfério meridional estiver sob o fardo de enormes
dívidas. A escassez dos recursos e a degradação do meio ambiente combinam-se com
populações em rápida expansão, o que leva ao colapso das comunidades locais e à vio-
lência étnica e tribal que se tornou a característica mais importante da era pós-guerra fria.
	 Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como dife-
rentes facetas de uma crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela
Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
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deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições so-
ciais, concordam com os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção
da realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente
interligado.
	 O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento ecológi-
co e é realmente fundamental. Lester Brown, do Worldwatch Institute, deu uma definição
simples clara e bela: “Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessi-
dades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras”. Este conceito de desenvolvi-
mento sustentável teve uma ampla divulgação a partir do Relatório Brundtland – Nosso
Futuro Comum ali se define como: aquele que responde pelas necessidades do presente
de forma igualitária mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e pros-
peridade das gerações futuras (WCED, 1987 apud Foladori, 1999). Este, em resumo, é
o grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis – isto é, ambientes
sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades e aspirações sem
diminuir as chances das gerações futuras.
	 A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e con-
cebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida. Em última análise,
a percepção da ecologia profunda é também uma percepção espiritual ou religiosa.
Quando a concepção de espírito humano é entendida como o modo de consciência no
qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como
um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais
profunda. Não é, pois, de surpreender o fato de que a nova visão emergente da reali-
dade baseada na percepção da ecologia profunda é consistente com a chamada filosofia
perene das tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade dos místicos
cristãos, da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacentes às tradições nativas
norte-americanas.
	 Estes novos paradigmas têm influído na reforma e reflexão dos conceitos até
então trabalhados para o termo sustentabilidade. Segundo Foladori (1999) o conceito
de desenvolvimento sustentável, além de suas vagas e diversas definições, nos remete
a uma preocupação com o estado do meio ambiente. Nos últimos 20 anos se desen-
volveram uma série de metodologias para medir a sustentabilidade, o que a converteu
em algo mais operativo, porém as medições mais importantes de sustentabilidade têm
desprezado as contradições da sociedade humana, estas medições têm considerado a
sociedade como um todo homogêneo e em alguns casos, faz uma abordagem exclusiva-
mente técnica. Desta forma oculta-se contradições da sociedade humana que são, muitas
vezes, as verdadeiras causas dos problemas ambientais.
	 Segundo Cavalcanti (2003) a sustentabilidade sobre um meio ambiente não é
apenas a realidade visível de um impacto sobre a natureza, mas o conceito da complexi-
dade emergente, onde são revistos o pensamento, a sociedade, a natureza, a tecnologia
e a linguagem. Trata-se de um ponto de inflexão da história que induz a uma reflexão so-
bre o mundo moderno, atravessado por estratégias de poder em torno da reapropriação
filosófica, epistemológica, econômica, tecnológica e cultural da natureza.
	 Os modelos até então propostos em termos de sustentabilidade ambiental, apesar
de grande racionalidade, não são implementados na prática, talvez em função de um pos-
sível antagonismo entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, ou entre dis-
tribuição de renda (equidade) e qualidade de vida, vista sob a ótica do discurso ecológico.
	 O modelo de sustentabilidade ambiental, amparado nos paradigmas ecológi-
cos está direcionado na dimensão humana, adicionado ao comportamento do
desenvolvimento econômico e social, interessado em criar condições sustentáveis refe-
ridas a dinâmica social, a qualidade de vida e a dinâmica natural. Esse novo paradigma
se baseia no reconhecimento da existência de uma diversidade ecológica, biológica e
Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
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cultural entre os povos, que foram destruídas pelo mercado capitalista mundial.
	 Segundo Almeida et al (2000) a iniciativa empresarial já despertou para o fato de
que o meio ambiente é um bom negócio, porém ainda não se amadureceu a questão
da sustentabilidade. As empresas já exigem posturas diferenciadas dos países de
grande potencial de recursos naturais como o Brasil. Essa cobrança não vem apenas
de pressões ecopolíticas, mas da exigência do mercado, diante de uma nova realidade
sócio ambiental, onde a competitividade é a lei maior. Reduzir custos com a eliminação
de desperdícios, desenvolver tecnologias limpas e baratas, reciclar insumos são mais
que princípios de gestão ambiental, representam condição de sobrevivência.
	 Neste caminho temos observado o crescente número de certificações ambien-
tais e selos ecológicos que atestam que o produto foi produzido de forma socialmente
responsável e ecologicamente limpa. A agricultura orgânica certificada já é um grande
negócio tendo o estado de São Paulo como referência no aspecto, mas, é importante res-
saltar que enquanto a agroecologia tem um compromisso amplo com a forma de vida do
agricultor familiar, com suas raízes culturais, com seus sistemas de cultivo tradicional; a
agricultura orgânica garante apenas que o produto está livre de agrotóxicos, sendo este
um setor explorado pelo agronegócio de maneira bastante lucrativa.
A Carta do Cacique Seattle, em 1855
Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/se-
attle1.htm
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo
Suquamish, do Estado de Washington, en-
viou esta carta ao presidente dos Estados
Unidos (Francis Pierce), depois de o Gov-
erno haver dado a entender que pretendia
comprar o território ocupado por aqueles
índios. Faz mais de um século e meio. Mas
o desabafo do cacique tem uma incrível atu-
alidade. A carta:
"O grande chefe de Washington mandou
dizer que quer comprar a nossa terra. O
grande chefe assegurou-nos também da
sua amizade e benevolência. Isto é gentil
de sua parte, pois sabemos que ele não
necessita da nossa amizade. Nós vamos
pensar na sua oferta, pois sabemos que se
não o fizermos, o homem branco virá com
armas e tomará a nossa terra. O grande
chefe de Washington pode acreditar no
que o chefe Seattle diz com a mesma
certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do
ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
	 Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha.
Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então com-
prá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é
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sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de
neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas
tradições e na crença do meu povo.
	 Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele
um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba
da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-
la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de
seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganân-
cia empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento
para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um
selvagem que nada compreende.
	 Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se
possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos.
Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os
meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do
corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sus-
surro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva
do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque
todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o
homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao
mau cheiro.
	 Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os
animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa
ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo
homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não com-
preendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que
nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é
o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de
solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os ho-
mens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
	 Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros su-
cumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e en-
venenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande im-
portância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas
horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram
nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para
chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como
o nosso.
	 De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o
nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira
como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da
mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar
dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desapa-
recer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama
e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último
bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à
gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então
os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à an-
dorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
	 Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos
quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões
do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas
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nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem
ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para
garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos
dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lem-
brança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do
meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um
recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-
a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era
a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu co-
ração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa
sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o
homem branco pode evitar o nosso destino comum."
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colonização do Brasil pelos portugueses teve início na região Nordeste e se
efetivou com base no sistema de capitanias hereditárias, na exploração do
pau-brasil e na produção de cana-de-açúcar na capitania de Pernambuco. 	
Em 1549, com o fracasso do sistema de capitanias e a ameaça constante
de invasões, Portugal assumiu a capitania da Bahia, implantando em Salvador o governo
geral e instalando vilas e engenhos na orla marítima. A intenção naquele momento era
ocupar a costa e os rios navegáveis, tendo a produção da cana-de-açúcar como uma
atividade de sustentação econômica.
	 Em 1584 as forças luso-espanholas consolidaram seu domínio sobre a Paraíba e,
em 1598, sobre o Rio Grande do Norte. Em seguida, foram criadas vilas litorâneas impor-
tantes na capitania de Pernambuco, ao sul de Olinda, como Sirinhaém (1614) e Alagoas
(1624). Na época, a capitania do Ceará sofreu diversos ataques holandeses e indígenas,
dificultando a ocupação do território.
	 Seguiu-se a invasão holandesa da capitania de Pernambuco, início de longo perío-
do de domínio de um território que se estenderia até o Maranhão. Em 1649 os holandeses
se estabeleceram no local onde é hoje a cidade de Fortaleza e que só seria conquistado
de fato pelos portugueses a partir de 1654. Os sertões do Nordeste Setentrional já se
encontravam então ocupados por pecuaristas portugueses ou brasileiros de origem por-
tuguesa que ali se instalaram para escapar das requisições de gado e das apropriações
sumárias promovidas pelos holandeses.
	 Com o fim do domínio holandês, o povoamento do interior como forma de consoli-
dar a presença portuguesa se intensificou, a partir de Salvador e Olinda. No século 18,
esse movimento alcançou Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, tendo
a pecuária como atividade econômica de sustentação, aliada a cultivos de subsistência.
O cultivo do algodão surgiu nessa época, como atividade complementar; os restos das
plantações eram utilizados para a alimentação dos rebanhos e a produção principal, de
tecidos rústicos, ainda que a maior parte fosse exportada para a Europa.
	 De acordo com Moreira & Targino (1997) a conquista do atual território paraibano
só ocorreu quase um século após o descobrimento do Brasil. O fato considerado como
marco inicial desse processo seria a fundação da cidade de Nossa Senhora das Neves,
atual João Pessoa, a 18 quilômetros da foz do rio Paraíba. Daí teve início a apropriação
do espaço pelo colonizador, o qual se deparou em vários momentos com a resistência da
população nativa. Essa população agrupava-se em três grandes nações: Tupi, Cariris e
Unidade
3
UNIDADE III
HISTÓRICO DA COLONIZAÇÃO AGRÁRIA DA REGIÃO NORDESTE E DA
PARAÍBA
A
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Taraitiús.
	 Como as demais nações indígenas, as que habitavam o rio Paraíba apresenta-
vam organização comunitária, inclusive como forma de enfrentar as adversidades exter-
nas. A sua sobrevivência dependia fundamentalmente de sua relação com os recursos
naturais, em particular com a terra.
	 A princípio, estas populações mantiveram relações amistosas e, mais do que
isso, cooperativas com os europeus. Enquanto a posse da terra e sua liberdade não es-
tiveram ameaçadas, como ocorria na exploração do pau-brasil, os índios não ofereciam
resistência ao colonizador. A reação dos indígenas à subordinação da sua terra e do seu
povo ao processo colonizador constituiu a primeira forma de luta pela terra que teve lugar
na Paraíba.
	 A submissão do espaço paraibano à dominação colonial foi acompanhada pelo
massacre da população nativa, seja através de sua pura e simples eliminação, seja pelos
ultrajes a que foi submetida, ou ainda em virtude das doenças que contraiu no contato
com o colonizador e da sua participação como “aliado” nas guerras.
	 A principal motivação da conquista do território paraibano foi a ocupação e a im-
plantação aqui, a exemplo do que já se fazia em Pernambuco, de um sistema de explo-
ração colonial voltado para atender aos interesses da metrópole colonizadora.
	 Essa ocupação deu-se, principalmente, no sentido leste-oeste, do litoral em di-
reção ao sertão. No litoral, ela baseou-se na produção da cana-de-açúcar. A evolução da
atividade canavieira teve influência também na ocupação e no povoamento do sertão e
do agreste. Isso porque a necessidade de especialização das terras na produção de cana
determinou a separação das atividades canavieira e pecuária. Daí resultou uma divisão
regional do trabalho: a Zona da Mata voltou-se para a produção do açúcar e o interior
(Agreste e Sertão), para a produção do gado e de gêneros alimentícios.
	 Na Paraíba, como em outros estados do Nordeste, o trabalho escravo (embora
menos numeroso do que em outras províncias), constituiu o suporte da atividade açuca-
reira por três séculos e representou uma parcela significativa da população. Mesmo no fi-
nal do período escravocrata, os negros representaram 13% da população dos municípios
paraibanos, é o que diz Pinto (1977, apud Moreira & Targino, 1997).
	 Embora o trabalho escravo tenha sido a relação dominante durante esse período,
ela não foi exclusiva. Outras formas de trabalho foram introduzidas, sobretudo em perío-
dos de crise do sistema. Assim a regressão do sistema açucareiro, na segunda metade
do século XVII, provocada pela crise de acumulação que nele se processou, em decor-
rência de mudanças no sistema de mercado internacional de açúcar, foi responsável
por algumas modificações nas relações de trabalho vigentes na atividade açucareira,
visando garantir sua sobrevivência. Como os senhores de Engenho não podiam adquirir
a mão-de-obra escrava suficiente para atender suas necessidades de braços, devido
ao aumento de preço desta força de trabalho, passaram a facilitar o estabelecimento de
camponeses no interior de suas terras. Surgiu daí os lavradores e em seguida o sistema
de moradores que posteriormente iria substituir o trabalho escravo.
	 A produção canavieira requeria tecnicamente a instalação de canaviais
em grandes propriedades, dado o seu caráter monocultor e a necessidade de
aprovisionamento de matéria prima para o funcionamento da unidade fabril. As condições
técnico materiais da produção reforçaram os padrões políticos-culturais dominantes de
apropriação da terra. Daí entender-se porque a produção açucareira, subordinada aos
interesses do capital mercantil internacional, teve como suporte a concessão de grandes
sesmarias. A distribuição das terras em sesmarias foi responsável tanto pelo caráter
privado que adquiriu a propriedade da terra, quanto pela criação de alicerces da grande
propriedade que caracterizava o sistema açucareiro.
	 Na Paraíba, as principais sesmarias foram concedidas nas várzeas dos rios
Paraíba, Jaguaribe, Una, Tibiri e Gramame. A concessão de sesmarias foi suspensa em
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17 de julho de 1822 e em 18 de setembro de 1850 foi aprovada a lei 601, conhecida como
a Lei de Terras de 1850. Esta lei tinha por pressuposto básico a mercantilização da terra;
seus objetivos principais consistiam: na proibição de acesso à terra por outro meio que
não fosse a compra; na extinção do processo de ocupação de terras devolutas, que teve
lugar com o fim das sesmarias, na valorização da terra e na sua conseqüente transfor-
mação em mercadoria, na utilização de recursos oriundos da venda de terras devolutas
para investir na importação de colonos europeus. Desta forma, somente poderia ser con-
siderado proprietário da terra quem legalizasse sua propriedade nos cartórios, pagando
certa quantidade de dinheiro para a Coroa. Esta lei discriminou os pobres e impediu que
os escravos libertos se tornassem proprietários, pois nem uns nem outros possuíam re-
cursos para adquirir parcelas de terra da Coroa ou para legalizar as que possuiam. Com
isso, os agricultores prefiriram migrar para as cidades formando núcleos de pobreza e
mendicancia. A outra consequência social dessa lei foi a consolidação do grande latifun-
dio como estrutura básica da distribuição de terras no Brasil. Aqueles que tinham recebido
as sesmarias regularizaram sua posse e transformaram-nas em propriedade privada, as	
segurando assim, o domínio da principal riqueza do país: suas terras.
	 É muito importante atentarmos para o critério fundamental da origem da posse e
propriedade da terra no Brasil, que é totalmente distinto do critério da maioria dos países
europeus e mesmo dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, para se ter acesso à terra, era
condição essencial ser amigo do rei, pertencer à nobreza. Na europa, ao contrário, as
terras, que antes eram domínio dos senhores feudais ou exploradas pelo conjunto de
camponeses de um certo lugar, foram sendo divididas em propriedades privadas de ta-
manho variado, mas sempre menores que as sesmarias brasileiras. No caso dos Estados
Unidos, o acesso à terra foi também mais democrático, principalmente nas colônias do
norte, onde predominam propriedades de pequeno e médio porte. Após a proclamação da
independência, a Constituição norte-americana consolidou o critério de que todos pode-
riam ser proprietários de terras colonizadas no Oeste, desde que tivessem sua posse, ou
seja, habitassem e trabalhassem nelas. Além disso, ela estabeleceu um limite máximo de
100 acres de terra que cada família, a partir da posse poderia assumir como sua proprie-
dade.
	 Segundo Maia (1978), surgiu também no Nordeste do Brasil uma pequena
produção de alimentos subordinados à produção canavieira. Essa produção era feita
inicialmente pelos escravos e destinava-se ao seu auto-abastecimento. Posteriormente,
com o advento do morador, a produção de alimentos passou também a ser realizada por
suas famílias, nos sítios que lhe eram cedidos pelos senhores de engenho. Ela era ainda
praticada nas terras dos lavradores situadas fora dos limites dos engenhos.
	 No que se refere à formação da pequena propriedade camponesa, embora os
historiadores admitam que a propriedade latifundiária escravista, nos moldes em que foi
desenvolvida no Nordeste, não possibilitava a expansão em grande escala da posse de
terra, fazem menção à ocupação de terras devolutas por intrusos e posseiros à retaguar-
da dos engenhos, considerando essas ocupações como precursoras da pequena proprie-
dade camponesa no litoral. O sistema de lavrador estaria também na base da formação
da pequena propriedade na região.
	 A pequena produção e a pequena propriedade camponesa teriam nascido, assim,
nos interstícios da grande propriedade monocultora, ou seja, nas “brechas” do sistema
canavieiro e a ele subordinada.
	 Leia sobre a lei que Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA.
	 Visite o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/
D7352.htm
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o início do século XX, a criação do serviço cooperativo de extensão rural dos
Estados Unidos, estruturado com a participação de universidades america-
nas, conhecidas como land-grant colleges, consolidou naquele país, pela
primeira vez na história, uma forma institucionalizada de extensão rural
(JONES e GARFORTH, 1997).
	Baseado no modelo das Land Grant Colleges o serviço de extensão ru-
ral no Brasil iniciou por intermédio de um acordo entre o governo de Minas Gerais e
a American International Association AIA coordenada pelo senhor Nelson Rockfeller, o
mensageiro do extensionismo no Brasil. Surge então, em 1948, a extensão rural no Brasil,
em um contexto histórico do pós-guerra, visando modernizar a agricultura e a política de
substituições das importações (PORTILHO, 1999).
	 Segundo o site Ambiente Brasil (2006) A expansão dos Serviços de Extensão Ru-
ral, no Brasil, processou-se da seguinte forma:
	 • 1948 – Criação da ACAR: Em dezembro de 1948, o Governo de Minas Gerais
assinava convênio com a A.I.A., criando a Associação de Crédito e Assistência Rural –
ACAR, que iniciou suas atividades a partir de janeiro de 1949. Introduzia-se, assim, no
Brasil, a idéia extensionista, com o objetivo de trabalhar pela promoção do homem rural;
	 • 1954 – Surge a ANCAR no Nordeste: Devido à criação do Banco do Nordeste do
Brasil, com sede em Recife, em 1954, um grupo de líderes e autoridades resolveu criar
uma entidade nos moldes da ACAR, porém de âmbito regional, abrangendo os oitos Es-
tados do Polígono das Secas: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia;
	 • 1955/56 – Novos Serviços de Extensão surgem no Sul: No Rio Grande do Sul,
em junho de 1955, surge o terceiro Serviço de Extensão, com o nome de Associação Su-
lina de Crédito e Assistência Rural, – ASCAR, pela iniciativa de várias instituições públicas
e privadas, a qual iniciou suas atividades a partir de 1965. Por essa época, existia o “Pro-
grama de Cooperação Técnica Brasil – Estados Unidos”, do qual fazia parte o Escritório
Técnico de Agricultura, ETA”, que funcionava em conjunto com Ministério da Agricultura.
O ETA contribuiu de forma decisiva para expansão dos serviços de extensão, especial-
mente na região Sul do país. Com a participação técnica e financeira do ETA, foram cria-
dos e iniciaram suas atividades, em 1956, mais dois serviços de extensão: a Associação
de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina – ACARESC, e a Associação
de Crédito e Assistência Rural do Paraná – ACARPA;
N
Unidade
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UNIDADE IV
HISTÓRICO DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL
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	 • 1956 – Fundação da ABCAR: O ano de 1956 foi decisivo para a consolidação
da Extensão Rural no Brasil. Após a criação dos Serviços de Extensão nos estados suli-
nos, houve um aceleramento no ritmo de expansão dos serviços, e vários outros estados
começaram tomar iniciativa, para criar seus próprios Serviços de Extensão;
	 • 1974 – Criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
- EMBRATER, como sucessora da ABCAR;
	 • 1990 – Extinção da EMBRATER pelo governo do presidente Fernando Collor de
Mello.
	 Atualmente, as principais empresas responsáveis pela Extensão Rural nos esta-
dos brasileiros são:
	 • EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural);
	 • EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Divisão Tecnológica) - em Santa
Catarina;
	 • CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricul-
tura e Abastecimento de São Paulo) - São Paulo;
	 • EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário S.A.) - na Bahia;
	 • IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas) –
Amazonas;
	 • EMPAER (Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Exten-
são Rural S.A.)- Mato Grosso e Mato Grosso do Sul;
	 • INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) – órgão vinculado
MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Desde 2003 o MDA tornou-se responsável
pelas açoes de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural).
	 Além destas empresas, ressalta-se o trabalho de organizações não governamen-
tais brasileiras que se propõem a assessorar e apoiar o desenvolvimento rural.
	 Podemos observar que a extensão rural no Brasil surgiu sob influência das políti-
cas norte-americanas e com o intuito de difundir as tecnologias (máquinas e insumos)
produzidas por suas indústrias, sobretudo os agrotóxicos, decorrentes da adaptação de
armas químicas usadas durante a guerra do Vietnã. Este movimento, como já foi expli-
cado, é chamado de Revolução Verde e está no núcleo das questões agrárias no mundo.
Porém, as caracterísitcas marcantes que definem a extensão rural no Brasil sofreram
modificações ao longo dos anos, de maneira que pode-se definir diferentes fases da ex-
tensão rural no Brasil. Alguns autores (LISITA, 2010; MASSELLI, 1998) a extensão rural
no Brasil apresenta três fases principais:
	 • Humanismo Assistencialista (1948 até meados da década de 1960): período
de propósitos mais sociais. Foi um período de afirmação do trabalho de extensão onde se
buscava conquista a confiança do homem do campo e construir a imagem dos serviços
de assistência técnica junto aos demais órgãos do governo. Enfatizava a melhoria de
vida das populações rurais e as caracterísiticas educacionais da ação extensionista. Em
geral, as equipes locais eram formadas por um extensionista da área agrícola e um da
área de Economia Doméstica. Apesar de levar em conta os aspectos humanos, os mé-
todos dos extensionistas nessa época também eram marcados por ações paternalistas.
Isto é, não “problematizavam” com os agricultores, apenas procuravam induzir mudanças
de comportamento por meio de metodologias preestabelecidas, as quais não favoreciam
o florescimento da consciência crítica nos indivíduos, atendendo apenas as suas neces-
sidades imediatas.
	 • Difusionismo Produtivista (meados da década de 1960 a 1980): é a extensão
rural que serve de instrumento de doutrinação da Revolução Verde, que implantou o
modelo de produção industrial no campo. baseando-se na aquisição por parte dos produ-
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tores, de um pacote tecnológico modernizante, com uso intensivo de capital (máquinas e
insumos industrializados). A extensão rural servia como instrumento para a introdução do
homem do campo na dinâmica da economia de mercado. A Assistência Técnica e Exten-
são Rural (ATER) visava o aumento da produtividade e à mudança da mentalidade dos
produtores, do “tradicional” para o “moderno”. A extensão era um empreendimento que
visava persuadir os produtores, para que esses adotassem as novas tecnologias. Seus
conhecimentos empíricos não interessavam, bem como suas reais necessidades não
eram levadas em conta. A extensão assumiu um caráter tutorial e paternalista. Foi durante
esse período que surgiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMBRATER) e houve grande expansão do serviço de extensão rural no país. Para se ter
uma idéia, em 1960 apenas 10% dos municípios no Brasil contavam com esse serviço e
em 1980 a extensão rural chegou a 77,7%. Entretanto, como o papel dos extensionistas
era condicionado pela existência do crédito agrícola, os pequenos agricultores familiares
que não tiveram acesso ao crédito também ficaram à margem do serviço de extensão
rural.
	 • Humanismo Crítico (1980 até os dias atuais): devido principalmente ao término
do crédito agrícola subsidiado, iniciou-se no país uma nova proposta de extensão rural,
que preconizava a construção de uma “consciência crítica” nos extensionistas. O “plane-
jamento participativo” era um instrumento de ligação entre os assessores e os produ-
tores, com bases na pedagogia da libertação desenvolvida por Paulo Freire. Essa fase
foi chamada de “humanismo crítico”. Seus defensores afirmam que as metodologias de
intervenção rural devem pautar-se por princípios participativos, que levem em conta os
aspectos culturais do público alvo. A grande diferença de orientação entre as metodolo-
gias de extensão na era do “difusionismo produtivista” e da era do “humanismo crítico” é
a questão da participação ativa dos agricultores. Porém, apesar de haver uma orientação
para seguir princípios participativos, a maioria das empresas de ATER continua com a
mesma orientação básica: “incluir” o pequeno agricultor familiar na lógica do mercado,
torná-lo cada vez mais dependente dos insumos industrializados, subordinando-o ao
capital industrial. A partir disso, em consonância com o processo de democratização da
sociedade, a fração mais “humanista” das EMATER’s passou a se confrontar com o dire-
cionamento “produtivista”, até então dominante na empresa. Organizaram-se seminários
e debates que, em linhas gerais, buscavam resgatar o papel social que a extensão rural
poderia vir a desempenhar.
Extensão Rural XIII por Glauco Olinger
Ainda que os serviços de extensão rural desfrutassem de grande prestígio da parte dos
produtores rurais e dos governos federal, estaduais e municipais, nas primeiras déca-
das de sua instalação no Brasil, havia grande preocupação dos dirigentes estaduais e
da própria ABCAR a respeito da obtenção dos recursos financeiros necessários a ma-
nutenção do SIBRAER – Sistema Brasileiro de Extensão Rural. (Note-se que não estava
incluída a expressão “assistência técnica” porque se o serviço é de extensão rural é re-
dundância repeti-la).
Com a criação da EMBRAPA ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por Cirne
Lima, o Ministério da Agricultura, pensou em criar uma empresa semelhante, idéia que
viria solucionar a institucionalização dos recursos financeiros para a extensão rural. A idé-
ia foi debatida na ABCAR e ficou proposto que a futura EMBRATER – Empresa Brasileira
de Assistência Técnica e Extensão Rural, contrataria a execução dos serviços de exten-
são com a ABCAR e suas filiadas estaduais. Essa passagem é muito importante e vem
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sendo ignorada pelos “historiadores” quando falam ou escrevem sobre a extensão rural
no Brasil.
	 A proposta tinha uma lógica de interesse financeiro. Era que a ABCAR e suas fili-
adas estaduais que constituíam o Sistema Brasileiro de Extensão Rural, eram considera-
das organizações filantrópicas, e nesta qualidade estavam isentas do pagamento de im-
postos, taxas, contribuição social, fato que representava uma economia de 10 a 15% dos
custos de manutenção do Sistema.
Ocorreu que o Ministro Cirne Lima en-
trou em choque com o então poderoso
Ministro Delfim Netto, pediu demissão
do cargo ao então presidente Emilio
Garrastazu Médici que, embora seu
amigo, substituiu-o pelo pernambu-
cano José Leal de Moura Cavalcante,
desafeto de Aloísio Campelo Mon-
teiro, na época, secretário executivo
da ABCAR.
	 Aloísio não pretendia demitir-
se da secretaria executiva da ABCAR
e era muito estimado e respeitado por
todos os membros componentes da
Junta Governativa. Napoleão de An-
drade, presidente da Junta, estava
enfermo e o vice presidente José Saramago, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro,
assumira a presidência da ABCAR. Foi o momento em que Saramago e Glauco Olinger
foram credenciados pela Junta a fim de propor ao citado ministro da agricultura a con-
cordância de Aloísio permanece na secretaria executiva da ABCAR. Note-se que o Minis-
tério da Agricultura era, por fato e até de direito, o mais destacado membro da Junta. So-
bretudo porque vinha daquele ministério a grande parte dos recursos financeiros federais
que mantinham o SIBRAER – Sistema Brasileiro de Extensão Rural.
	 Ao nosso argumento em favor do Aloísio o ministro retrucou que era melhor ficar-
mos fora do assunto porque se tratava de “uma briga entre famílias políticas Cavalcanti e
Campelo, de Pernambuco”. Era a primeira vez, antes de muitas outras que viriam ocorrer
no futuro, que acontecia a influência político partidária, de modo negativo, nos destinos
da extensão rural pública, no Brasil. É a opinião de quem esteve presente e ativo nos
fatos relatados, e não de quem pretende fazer “história” baseada em leituras e opiniões,
pouco ou nada verdadeiras, que se somam as de si próprias.
	 Com a saída de Aloísio, e o esvaziamento da Junta, a ABCAR não conseguiu
alcançar nosso objetivo que era apoiar a criação da EMBRATER mantendo o SIBRAER
como executor dos serviços de extensão rural pública no Brasil. Assume o engenheiro
agrônomo Alysson Paulinelli, o Ministério da Agricultura, a ABCAR é extinta e é criada
a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural. Como já foi explicado,
anteriormente, a expressão “assistência técnica” decorria da delegação de poderes dada
a EMBRATER, para credenciar e fiscalizar os serviços de assistência técnica, prestados
aos produtores rurais, pelos Escritórios de Planejamento e afins.
	 Glauco Olinger - engenheiro agrônomo – Consultor do Programa Santa Catarina
Rural
Secretaria Executiva Estadual do Microbacias 2 - (48) 3239 4170
Endereço eletrônico: imprensamb2@microbacias.sc.gov.br
Fonte: http://www.microbacias.sc.gov.br/visualizarNoticia.do?entity.noticiaPK.cdNoticia=4660. Consulta realizada em maio
de 2011.
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a década de 60, com os problemas gerados com o modelo de produção
adotado após a segunda guerra mundial, tais como crescente poluição,
desigualdade social e violência urbana – começa a haver um forte ques-
tionamento desse modelo político-econômico, das formas de uso dos re-
cursos e das consequências das atividades do homem sobre a natureza e,
em decorrência, sobre sua própria qualidade de vida. Essas preocupações
levaram, em 1968, à primeira reunião pluri-temática de âmbito internacional, com a fi-
nalidade de discutir o uso dos recursos face às questões sociais, políticas, ecológicas e
econômicas vigentes e futuras, considerando-se a capacidade limitada de auto-sustenta-
ção da Terra. A reunião, que aconteceu em Roma, ficou conhecida como "Clube de Roma"
e teve a participação de 30 "notáveis" da época, especialistas em diferentes áreas do
conhecimento e oriundos de diversos países (PIVELLO, 2010).
	 Em 1972, o relatório Os Limites do Crescimento lançou um debate global sobre
do futuro da humanidade e do planeta. A ele se seguiram A Humanidade no Ponto de In-
flexão, em 1974; e Sem Limites ao Aprendizado, em 1978. Entre as principais conclusões
do grupo, à época, constavam como maiores problemas da humanidade a industrialização
acelerada, o rápido crescimento demográfico, a escassez de alimentos, o esgotamento
de recursos não-renováveis e a deterioração do meio ambiente. Qualquer semelhança
com o que vivenciamos hoje não é mera coincidência (MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2010).
	 Também estava clara neste relatório a afirmação baseada na teoria malthusiana
advinda de Thomas Malthus(1776-1834), economista britânico que preconizava que as
populações cresciam em progressão geométrica enquanto a produção de alimentos
cresce em progressão aritmética. Desta forma, fatalmente faltaria alimentos no mundo
e a fome seria crescente. Esta afirmação serviu de justificativa para um amplo programa
mundial de produção de alimentos chamado Revolução Verde. Na verdade, ocultavam-se
os interesses industriais e econômicos sob as alegações de uma revolução no campo,
acompanhada de uma “modernização” que viria acabar com o atrazado modo de vida do
agricultor.
	 O tempo demonstrou que a teoria de Malthus exagerava uma perspectiva pes-
simista. Outros fatores influenciam a disponibilidade de alimentos, como questões políti-
cas e econômicas. De tal maneira que após 30 anos do lançamento de seu principal
documento – Os Limites ao Crescimento –, o grupo divulgou em 2002: Sem Limites ao
Unidade
5
UNIDADE V
REVOLUÇÃO VERDE E EXTENSÃO RURAL
N
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Conhecimento, mas com Limites à Pobreza: Rumo a uma Sociedade do Conhecimento
Sustentável, reconsiderando o que foi dito na década de 1970.
	 No relatório, o então presidente do clube, o príncipe da Jordânia Hassan Bin Ta-
lal, disse que “os desafios do desenvolvimento sustentável estão ainda mais prementes
e ainda mais complexos. Os tremendos progressos tecnológicos das décadas recen-
tes têm permitido o crescimento industrial continuado; mas a lacuna entre os ricos e os
pobres tem alargado, e a pressão sobre os sistemas complexos e delicados de nosso
planeta é maior que nunca.
	 A Revolução Verde no Brasil que dominou o campo a partir da década de 1960
trouxe um desenvolvimento desigual, que beneficiou o eixo sul, sudeste e mais tarde o
centro-oeste; concentrou-se nas mãos dos detentores do capital e da terra, excluindo o
pequeno agricultor e causando por isso grande impacto econômico e social nas popula-
ções rurais menos favorecidas. Não melhor foram os impactos ambientais decorrentes
de um modelo de produção baseado na monocultura, no uso intensivo de máquinas e
implentos pesados que compactavam o solo e no uso indiscriminado de adubos químicos
e agrotóxicos.
	 Gorgen ofm (2004) diz que podemos dividir a Revolução Verde em três fases
principais:
A Primeira Fase da Revolução Verde (1960 a 1990): caracterizava-se pelas grandes
lavouras de grãos – monocultura, a industrialização da agricultura, política de crédito feita
para financiar a indústria de máquinas, implementos e insumos e não o agricultor, as-
sistência técnica paga pelo governo, feita para vender o pacote tecnológico da Revolução
Verde.
A Segunda Fase da Revolução Verde (1990 a 1999): a crise gerada pela primeira fase
da Revolução Verde levou ao surgimento de uma nova fase que caracterizava-se pelo
plantio direto com uso intensivo de herbicidas; necessidade de rotação de culturas; re-
cuperação de solo e manejo de microbacias hidrográficas, controle da erosão e conser-
vação dos solos; busca do aumento da produtividade; manejo de culturas próprias para
a cobertura do solo; passa da monocultura para a bicultura (combinação de dois tipos
de cultivo); uso maciço de inseticidas, fungicidas e herbicidas no controle de pragas.
Observa-se aqui alguns cuidados conservacionistas para a sustentabilidade da produção
agropecuária, porém surge a crise desta fase pelo uso abusivo de herbicidas e insetici-
das de maneira indiscriminada.
A Terceira Fase da Revolução Verde (2000 até hoje): a terceira fase da Revolução
Verde vem justamente para tentar resolver os problemas por ela criados na segunda
fase. Usa novos recursos das ciências biológicas, da mecânica, do geoprocessamento
e da informática, mas não rompe com o modelo antigo, antes aprofunda suas principais
tendências. As plantas transgências, por exemplo, vêm resolver a ineficácia verificada
nos herbicidas e inseticidas apresentados como solução definitiva no início da década
de 1990. Um curto prazo de 10 anos de uso intensivo obrigou a buscar novas soluções
dentro do mesmo modelo químico, monocultor, controlado pelas grandes transnacionais.
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"O uso seguro de agrotóxicos é um mito”, afirma especialista
1 de outubro de 2010
Disponível em: http://www.mst.org.br/node/10696
Por Leila Leal
Da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz
	 Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), participou como palestrante do
Seminário Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos, realizado de 14 a 16 de setembro na
Escola Nacional Florestan Fernandes – Guararema, São Paulo.
	 Coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, pesquisa
a relação entre agrotóxicos, ambiente e saúde no contexto da modernização agrícola no
estado do Ceará. Nesta entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como
um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura.
	
Qual a importância da discussão sobre agrotóxicos na atual conjuntura?
	 Os agrotóxicos não podem ser vistos apenas como um conjunto de substâncias
químicas que pode causar riscos químicos à saúde. Eles precisam ser entendidos no
contexto em que são utilizados, que envolve o processo de modernização agrícola con-
servadora em curso no Brasil, que tem a ver com a reestruturação produtiva no campo e
a divisão internacional da produção e do trabalho, na qual cabe ao Brasil a produção de
commodities de origem agrícola.
	 Esse contexto mais geral precisa ser considerado, assim como o entendimento
do agronegócio não apenas em sua dimensão de latifúndios e monoculturas, mas tam-
bém como um subsistema técnico e político que envolve o capital financeiro, a indús-
tria química, a indústria de biotecnologia, sementes, fertilizantes, tratores, enfim, toda
a indústria metal-mecânica. Esse contexto determina a vulnerabilidade das populações
aos agrotóxicos. E que populações são essas? Temos em primeiro lugar os trabalha-
dores das empresas, mas também outros segmentos de trabalhadores que são influ-
enciados por esse processo, como os
pequenos produtores. No Ceará, os
pequenos produtores foram colocados
na condição de parceiros do agronegó-
cio, o que na verdade é uma forma de
terceirização.
	 O cultivo de fumo no Rio
Grande do Sul também é um exemplo
disso, são pequenos produtores que
estão completamente subordinados às
exigências da indústria fumageira. Além
desses trabalhadores, são atingidos os
moradores dessas regiões. No Mato
Grosso, há municípios completamente
cercados pelo agronegócio, que atinge
até mesmo a reserva do povo Xingu: há
rios que nascem fora de sua área e cuja
água já entra no território indígena con-
taminada por agrotóxicos.
	 Há também a questão dos con-
sumidores de alimentos, que têm uma ingestão diária aceitável de veneno. É o ‘veneno
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nosso de cada dia’ na alimentação. E, ainda, temos os trabalhadores que fabricam esses
venenos. Há conflitos ambientais já identificados com esses trabalhadores de fábricas e
as comunidades do entorno das fábricas, que são contaminadas. No nordeste, há uma
fábrica de agrotóxicos que tem problemas sérios com 11 bairros na sua vizinhança por
causa da sua contaminação atmosférica.
	 Além disso, a questão dos agrotóxicos é abrangente porque vai nos ajudar a res-
gatar a interrelação campo e cidade. Na medida em que o país se urbaniza, tendemos a
pensar o Brasil como um país urbano – e há uma conotação simbólica de que isso nos
aproxima mais do perfil dos países desenvolvidos e deixa para trás o ‘atraso do campo’
–, perdendo de vista que há uma dinâmica rural-urbana fundamental. Isso se expressa na
produção de alimentos, na manutenção de riquezas naturais como a água, os microcli-
mas, as chuvas (importantes para a cidade e ‘produzidas’ no campo) e também do ponto
de vista da organização do campo. A concentração de terra, que expulsa pessoas das
áreas rurais, faz com que as cidades fiquem cada vez mais ingovernáveis, por causa da
migração e de todos os processos de degradação da qualidade de vida, como a violên-
cia, as drogas e outros. Enfim, faz com que toda a problemática ambiental urbana cresça.
	 Os agrotóxicos dão oportunidade para discutirmos tudo isso, e também para de-
batermos a ciência e seus limites hoje. Há substâncias químicas que nos mostram a
insuficiência dos conhecimentos produzidos para que possamos ter alguma segurança
ao lidar com elas. Um exemplo é o problema da exposição múltipla a vários ingredientes
ativos, que ainda carece de respostas. São várias situações que nos colocam os limites
da ciência e que também desafiam o Estado, porque não há como tratar os problemas
dos agrotóxicos apenas como problema agrícola ou agrário, apenas como problema de
saúde ou de meio ambiente. Esse é um problema que perpassa diversos setores das
políticas públicas e exige uma atuação integrada, o que também é um exercício interes-
sante de fazermos.
	
Na sua palestra no Seminário Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos, foi destacada a
importância de esclarecermos se estamos discutindo agrotóxicos e saúde ou agrotóxicos
e doença. Qual a diferença entre as abordagens e o que isso significa para o debate?
	 Na cultura positivista que temos, existe uma certa tendência, tantos dos em-
presários como algumas vezes até da própria mídia, de procurar por agravos à saúde
que pudessem ser atribuídos aos agrotóxicos, identificando e quantificando casos. É
como se, para validar a questão dos agrotóxicos como um problema digno de aten-
ção, relevante e urgente, dependêssemos disso, como se precisássemos ter geração e
comprovação da doença para começarmos a pensar no assunto e nos problemas dos
agrotóxicos.
	 O que estamos propondo é que o conhecimento sobre a nocividade dos agrotóxi-
cos está dado a priori, porque ao defini-los como agrotóxicos estamos dizendo que são
biocidas, que fulminam a vida, e ao atribuir a eles uma classificação toxicológica que vai
de pouco tóxico a extremamente tóxico também estamos deixando isso claro.
	 Não há nenhuma classificação que seja ‘não-tóxico’. O mesmo acontece em ter-
mos da classificação ambiental, que se relaciona à resistência do solo, e aos estudos da
biomagnificação, teratogênese, mutagênese e carcinogênese [referentes ao acúmulo de
produtos tóxicos ao longo da cadeia alimentar e à possibilidade de anomalias e malfor-
mações fetais, mutações genéticas e desenvolvimento de câncer].
	 Então, os agrotóxicos já estão classificados nesse sentido. Não há que se per-
guntar se são veneno ou remédio, está claro que são um tipo de veneno. Esse potencial
de dano está dado, e defendemos que não precisaríamos provar a existência do dano
para postergar políticas públicas e iniciativas dos agentes econômicos para combater
esse problema. Poderíamos, desde já, estar trabalhando na perspectiva de que existe
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um risco e um contexto de risco, partindo para o controle desses riscos.
Por que é difícil estabelecer relações entre exposição humana aos agrotóxicos e os danos
à saúde?
	 Os efeitos crônicos causados pela exposição a agrotóxicos são muito diversifica-
dos. Cada composto e princípio ativo tem um perfil toxicológico e uma nocividade própria,
e isso se relaciona a uma série de patologias que vão desde dermatoses até infertilidade,
abortamento, malformações congênitas, cânceres, distúrbios imunológicos, endócrinos,
problemas hepáticos e renais...
	 Mas todas essas patologias têm etiologias variadas, o que significa que podem ser
causadas por outros elementos que não os agrotóxicos. E, como somos acostumados a
fazer raciocínio muito linear entre doença e agente causal, isso fica muito complicado. É
possível, por exemplo, quando uma empresa quer se negar a assumir suas responsabi-
lidades, que ela diga que o trabalhador teve uma leucemia porque a família tem carga
genética para isso.
	 Do ponto de vista epidemiológico, os estudos têm evidenciado essas correlações,
demonstrando que populações mais expostas, comparando com não expostas, têm carga
maior de doenças. Mas gerar essa informação é difícil. No caso do Ceará, o instituto que
recebe a maioria dos cânceres hematológicos não tem na sua ficha de investigação o
dado sobre a ocupação do trabalhador. Isso é um exemplo da dificuldade que temos para
fazer um perfil que relacione a ocupação e, por consequência, o contato com agrotóxicos,
a uma determinada doença.
Existe um discurso muito difundido de que os agrotóxicos seriam uma necessidade para
garantir a produção de alimentos, e de que sem eles ‘o mundo morreria de fome’. A partir
daí, a proposta é desenvolver formas seguras de lidar com os agrotóxicos. Qual a sua
opinião sobre isso? O ‘uso seguro’ é possível?
	 A ‘Revolução Verde’, que é o momento que marca na história da humanidade a
questão dos agrotóxicos, aconteceu há cerca de 50 anos. A humanidade tem cerca de 8
mil anos de história conhecida na agricultura, e nós vivemos e nos alimentamos por todos
esses milênios sem os agrotóxicos e transgênicos (o que é um outro argumento muito
comum agora, de que, de repente, não podemos mais viver sem os transgênicos).
	 É claro, há relatos de que desde os povos mais antigos havia uso de algumas
substâncias para controle de pragas e de processos de cultivo, a humanidade tem um
acúmulo nesse sentido. Estou me referindo a esse uso massivo de agrotóxicos, estim-
ulado pela indústria química, que pode fazer propaganda na televisão, ter isenção de
impostos como o ICMS, IPI, Cofins, PIS/Pasep.
	 Então, a primeira coisa importante de tomarmos consciência é que já vivemos
muitos anos como humanidade sem os venenos, e que depois do uso de venenos a
produtividade da agricultura certamente elevou-se, mas a segurança e a soberania ali-
mentar da humanidade não. Continuamos tendo quase um bilhão de pessoas desnutridas
ou subnutridas no mundo, então está clara que essa não é uma crise que seja explicada
pela subprodução, mas sim pela má distribuição. Isso se deve ao fato de que aquilo que o
agronegócio e a modernização agrícola produzem não são alimentos, mas sim commodi-
ties, o que é muito diferente. Há todo um aparato jurídico, institucional, legal, para regular
o uso de agrotóxicos e o que vemos é que esse aparato não tem sido eficaz. O que se vê
é que, desde o processo de normatização, houve interferência.
	 Temos documentos dos produtores de agrotóxicos em que afirmam a sua estra-
tégia de interferir no processo regulatório, fazer lobby, interferir na capacitação dos ser-
vidores públicos e dos operadores de direito que lidam com essa área. Então, desde o
início da regulação, há problemas. Quantos desses estatutos que estão previstos na leg-
islação funcionam efetivamente? O receituário agronômico não funciona e há pouquís-
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simos laboratórios, no país inteiro, que são capazes de fazer análise da água e da
contaminação humana por agrotóxicos.
	 Estamos agora no processo de revisão da Portaria 518, que diz respeito à pota-
bilidade da água para consumo humano, e um dos grandes dramas é esse: podemos
colocar lá todos os 450 ingredientes ativos de veneno registrados que temos no Brasil,
mas onde vão ser analisados para cada uma das prefeituras de cada um dos quase 6 mil
municípios do nosso país? Não temos essa capacidade instalada.
	 Fazemos o licenciamento ambiental desse empreendimento, mas não temos
condições de monitorar se as condicionantes e requisitos colocados no licenciamento
são cumpridos, porque não há fiscal, não tem diária, não tem aparelho e laboratório. Há
também uma série de argumentos que foram trazidos pelo Censo Agropecuário, através
do qual podemos constatar que há mais de 5 milhões de estabelecimentos com mais
de 16 milhões de trabalhadores rurais dos quais um número significativo é de crianças,
com escolaridade considerada baixa. Como podemos pensar em uso seguro numa vas-
tidão dessa? A assistência técnica é precária. O Censo mostra que as propriedades que
mais receberam assistência são aquelas acima de 200 hectares, ou seja, há milhões de
propriedades de pequenos produtores que estão à revelia de assistência técnica. Como
podemos imaginar que o uso seguro acontecerá assim? Qualquer pessoa pode chegar
a uma loja e comprar o veneno que o balconista estiver interessado em vender e usar do
jeito que o balconista ensinar. É muito difícil pensar em uso seguro assim.
	
Você falou em sua palestra que há um despreparo dos profissionais de saúde e do próprio
SUS para lidar com essa questão. Como isso acontece?
	 Do ponto de vista da Política Nacional de Saúde do Trabalhador, temos previstas
ações que vão desde a atenção básica – que seria principalmente através da Estratégica
de Saúde da Família – até os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerests),
com ações hierarquizadas.
	 A proposta é muito interessante. Mas o que vemos, especialmente no Ceará, é
que a forma como o SUS chega aos territórios que sofreram profundas transformações
pelos processos de mordenização agrícola é insuficiente. Os profissionais da atenção
primária estão completamente absorvidos pela assistência médica, têm pouco tempo de
fazer as outras ações pensadas para sua atuação e conhecem muito pouco a dinâmica
viva dos territórios em que as unidades de saúde estão inseridas.
	 Então, têm poucas notícias sobre a instalação de empresas de agronegócio,
não sabem se há trabalhadores migrantes que vêm para atender demanda de força
de trabalho sazonal, para, por exemplo, a colheita do melão (que é um caso muito co-
mum), que estão sem suas famílias e que isso causa a expansão de uma rede de prosti-
tuição — o que gera outros problemas, como gravidez indesejada na adolescência, uso
de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, inclusive Aids. Então, para o sistema
de saúde que está ali absorvido em diagnosticar e tratar doenças – embora estejamos
tentando superar esse paradigma, isso nem sempre é possível –, é difícil enxergar essas
dinâmicas.
	 A resposta às novas necessidades de saúde tem sido insuficiente, é isso que
mostrou o estudo realizado pela Vanira Mattos na UFC. Nos Cerests, há experiências
ricas pelo Brasil afora, mas estou falando de um olhar local do Ceará. Ainda não con-
seguimos, ao longo dos três anos da nossa pesquisa, envolvê-los no atendimento a
esses trabalhadores, nem desenvolver conjuntamente as ações de vigilância sanitária,
epidemiológica, ambiental e em saúde do trabalhador, que ainda não estão acontecendo
adequadamente.
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m uma concepção mais tradicional, extensão rural: É o processo de es-
tender, ao povo rural, conhecimentos e habilidades, sobre práticas agro-
pecuárias, florestais e domésticas, reconhecidas como importantes e ne-
cessárias à melhoria de sua qualidade de vida. (AMBIENTE BRASIL, 2006)
	 Esta abordagem tradicional desdobra-se em diversas finalidades, tais
como:
	 • Melhorar as condições econômicas e sociais da população rural;
	 • Aplicar os conhecimentos da ciência e a pesquisa aos problemas do agricultor e
sua família;
	 • Estender ao povo rural conhecimentos e habilidades, para a melhoria do seu
nível de vida;
	 • Estimular os processos de mudanças da população rural, nos campos técnico,
econômico e social;
	 • Preparar um dispositivo de disparo, que coloque em ação as aspirações e as
capacidades das pessoas para o progresso;
	 • Criar uma reação em cadeia que resulte em melhores condições de vida e de
trabalho para a população rural;
	 • Incorporar as massas rurais, através da educação, aos programas de desen-
volvimento de um país;
	 • Acelerar o desenvolvimento econômico e social das áreas rurais;
	 • Aumentar a renda do agricultor;
	 • Servir de ponte entre a pesquisa agropecuária e o produtor rural;
	 De fato, assim no papel, parece uma excelente abordagem, contudo, uma reflexão
mais apurada permitirá observar algumas contradições nesta proposta. A primeira delas,
e já vimos discutindo ao longo do texto, é que este modelo oculta interesses políticos e
econômicos das indústrias transnacionais, que influenciaram bancos, governos e uni-
versidades para serem agentes propagadores de seus interesses. A própria Revolução
Verde foi e é uma jogada publicitária.
	 Isto não significa que a extensão rural até então, não trouxe nenhum benefício,
de fato ouve aumento na produção de alimentos e nas exportações de grãos e outros
Unidade
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UNIDADE VI
EXTENSÃO RURAL TRADICIONAL E SUAS CRÍTICAS
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gêneros alimentícios. Porém, sabemos que este desenvolvimento se deu de maneira
desigual, beneficiando em primeiro lugar o capital estrangeiro, em segundo lugar os em-
presários nacionais do agronegócio e por fim uma pequena parcela qualificada de trabal-
hadores que sabem manusear estas novas tecnologias. A parte disso, temos uma massa
de trabalhadores rurais que até hoje vive com baixos salários e em más condições de
trabalho (até os dias atuais encontra-se trabalho escravo no campo), ou pequenos agri-
cultores que tentam sobreviver e competir com o agronegócio. Tudo isto resulta no êxodo
rural dos que não conseguiram sobreviver no campo.
	 Sempre que se critica o agronegócio, este setor defende-se dizendo que gera
riqueza e alimentos para a população, que oferece empregos e que está enriquecendo
o nosso país. De fato, não deixa de ser verdade que o Agronegócio responde por maior
parte da riqueza produzida no Brasil encampando investimentos dos setores primário,
secundário e terciário, porém, é talvez o setor que mais concentra renda, ampliando as
desigualdades sociais já existentes. A ocupação do mercado por grandes produtores do
agronegócio, por suas práticas de mercado e concorrência, não deixa alternativa para
o pequeno agricultor que não seja servir de mão de obra barata para este setor dentro
dos poucos postos de trabalho que oferece, com exigências crescentes de qualificação
técnica, ou, por fim, migrar para os centros urbanos abandonando a atividade agrícola.
É problemático também o impacto ambiental causado pelas atividades agrícolas dentro
de um modelo de produção tecnificada, com uso massivo de máquinas, implementos,
adubos sintéticos e pesticidas, tão pouco devemos esquecer que mais 70% da produção
de hortifrutigranjeiros que chega a mesa do consumidor brasileiro tem sua origem na
agricultura familiar e que a expressiva produção do agronegócio brasileiro é, quase sem-
pre, destinada à produção de grãos para a exportação.
	 Paulo Freire em sua obra “Extensão ou Comunicação?” faz uma análise mais pro-
funda e epistemológica e diz que o primeiro equívoco já está na própria palavra “Exten-
são”, que no conceito destacado no começo deste capítulo, diz que trata-se de “estender
ao povo conhecimentos e habilidades”. Diz então Freire (1983):
O primeiro equívoco gnosiológico da extensão está em que, se há algo dinâmico na
prática sugerida por tal conceito, este algo se reduz à pura ação de estender (o estender
em si mesmo) em que, porém, o conteúdo se torna estático.
	 Extensão que tradicionalmente reflete: transmissão; sujeito ativo (o que estende);
conteúdo (que é escolhido por quem estende); recipiente (do conteúdo); Entrega (ativi-
dades extra-muros); messianismo(por parte de quem estende); superioridade (do con-
teúdo de quem entrega); Inferioridade (dos que recebem); mecanicismo (na ação de
quem estende); invasão cultural.
	 Freire reflete sobre como a extensão rural praticada reflete o modelo de educa-
ção bancária, autoritária, hierárquica, centralizadora. Trata-se mesmo de uma forma de
invasão cultural, pois esta perspectiva não trabalha a construção e modificação ou adap-
tação dos saberes de maneira conjunta e participativa, ao contrário, trata-se da simples
substituição não apenas de um modo de produção, mas também de um modo de vida.
	 A pretensa neutralidade política da extensão rural tradicional faz do extensionista
um profissional tecnicista, de visão rasa das problemáticas complexas da realidade rural.
Para este extensionista tradicional, o seu papel resume-se a extender os conhecimentos
ao agricultor que faz uso, se quiser, destes conhecimentos. Esta visão tem como núcleo
a eficacia produtiva e não a qualidade de vida do homem do campo, este último se torna
apenas uma peça a mais na engrenagem da indústria rural. A alienação no que se refere
às questões políticas que envolvem o campo, faz com que o extensionista tradicional
contribua para a manutenção das políticas estabelecidas e das classes dominantes.
	 Não temos a tradição democrática para o uso das metodologias participativas,
porém, é através da via dos movimentos sociais no campo que esta tradição tem sido
construída, mas, mesmo este setor não é isento de contradições. Mesmo os educadores
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populares que não estejam atentos, poderão cair nas contradições do modelo tradicional
de extensão rural. Muitas vezes, são as próprias comunidades que estão acostumadas
com um modelo centralizador e paternalista de assistência técnica. Este comportamento
é mais comum entre colonos, que são aqueles agricultores que herdaram a terra de seus
antepassados sem passar pelas lutas sociais de conquista pela terra. Já os assentados
dos projetos de reforma agrária são geralmente um público mais crítico que os colonos,
pois são oriundos dos movimentos sociais no campo, que trabalham a politização e criti-
cidade do trabalhador rural. Este público geralmente exige muito mais do técnico exten-
sionista do que normalmente exigem os colonos.
Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprova prazo de dois
anos para registro de novos agrotóxicos
	 Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprova prazo de dois anos para registro
de novos agrotóxicos. Matéria de autoria da senadora Kátia Abreu será analisada pela
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária.
	 A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal aprovou na quarta-fei-
ra (24-5) o Projeto de Lei do Senado (PLS) 88/11, que estabelece prazo de dois anos para
o início da produção e comercialização de novos agrotóxicos no Brasil após o registro dos
produtos. O objetivo da proposta, de autoria da presidente da Confederação da Agricul-
tura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, é alterar a legislação vigente, que
não define prazos para a fabricação e a venda destes insumos. A matéria também prevê a
suspensão do registro caso a fabricação e a venda não comece no período definido pelo
projeto.
	 Ao defender a proposta, a senadora Kátia Abreu alega haver alta concentração
no segmento, prejudicando a ampliação da concorrência. Ela defende a oferta de mais
defensivos no mercado para baratear os custos de produção da atividade rural. “Muitas
empresas que registram seus produtos se preocupam apenas em aumentar o seu valor
comercial. Não estão interessadas em colocar o produto no mercado. O registro serve
mais para compor o ativo patrimonial do que para incrementar a concorrência”, justifica a
presidente da CNA. A relatora do PLS na CAS foi a senadora Ana Amélia (PP-RS), que
encaminhou parecer favorável à matéria.
	 Na avaliação da presidente da CNA, a baixa disponibilidade de produtos comer-
cializados é um dos vários problemas enfrentados pelos produtores rurais em relação aos
insumos, que estão entre os itens que mais pesam nos custos de produção da agricultura.
A senadora Kátia Abreu afirma que as seis maiores empresas de agrotóxicos no País,
controlam 85% do mercado. O Brasil hoje responde por 16% do mercado mundial, movi-
mentando cerca de US$ 7,2 bilhões.
	 O PLS está agora na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Sena-
do, onde será relatada pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO). A matéria será analisada em
decisão terminativa, ou seja, se aprovada na CRA, não precisará ser votada em Plenário
e será encaminhada diretamente à Câmara dos Deputados.
Contra_agrotoxicos mailing list
Contra_agrotoxicos@grupos.ufrgs.br
https://grupos.ufrgs.br/mailman/listinfo/contra_agrotoxicos
Unidade 6 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância
Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6
Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011
Unidade 6 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância
Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6
Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011
00
iante da ineficácia da extensão rural tradicional, de sua pretensa neutrali-
dade, desenvolveu-se no Brasil uma nova experiência de extensão rural,
baseada no paradigma agroecológico.
	 A extensão rural agroecológica poderia ser definida como um processo
de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodo-
logias de investigação-ação participante, que permitam o desenvolvimento
de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e
sistematização de conhecimentos que os levem a incidir conscientemente sobre a reali-
dade, com o objeto de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e
ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia como crité-
rio para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com
as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas
implicadas em seu manejo (CAPORAL & COSTABEBER, 1994).
	 Porém, para que ela se torne efetiva, alguns obstáculos devem ser superados:
	 • A necessidade de imersão do agente: é difícil o extensionista mergulhar mais
profundamente na realidade da comunidade onde trabalha quando ele precisa atender
um grande número de famílias e comunidades. Esta é a realidade predominante na ex-
tensão rural no Brasil, poucos técnicos para atender uma vasta área;
	 • O resgate do conhecimento local: este resgate depende também da imersão fala-
da no item anterior e de uma boa interatividade com a comunidade. Muitos conhecimen-
tos se perdem no tempo ou com a invasão cultural dos modos “modernos” de produção;
	 • Sistematização das experiências: temos poucos registros feitos a cerca das ex-
periências agroecológicas e muitos relatos são incompletos ou empíricos;
	 • Participação como direito: temos visto como é difícil estabelecer uma experiên-
cia legitimamente democrática e participativa, por estarmos mais familiarizados com as
experiências autoritárias e centralizadoras;
	 • O processo educativo: a educação é a principal ferramenta de transformação da
realidade, porém, encontramos uma infra-estrutura precária ou inexistente para educação
formal ou informal.
Unidade
7
UNIDADE VII
EXTENSÃO RURAL AGROECOLÓGICA
D
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Histórico da agricultura brasileira e surgimento dos movimentos sociais no campo

  • 1. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias Licenciatura a Distância UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E AGRÁRIAS PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL Professor MSc. Breno Henrique de Sousa Departamento de Ciências Sociais Aplicadas CCHSA - UFPB
  • 2. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 Apresentação Caro aluno, O Brasil, diante da sua vocação agrícola, ao longo das últimas décadas, tem ampliando os seus conhecimentos agropecuários e diante disto, surgiu a necessidade de prestar apoio aos agricultores, para garantir que os conhecimentos e técnicas agrárias se tornassem efetivos por meio de programas de extensão rural. Porém, o meio rural brasileiro é dividido em duas realidades: a do camponês pobre, agri- cultor familiar, que quase sempre produz para subsistência, com baixo nível tecnológico e baixos índices de produtividade, esquecido pelo poder público, injustiçado pela ausência de leis e políti- cas que não protegem seu modo de vida e sua cultura, sem infra-estrutura básica como estradas, saúde, educação, água potável e ainda nos dias de hoje, sem energia elétrica e saneamento básico; por outro lado encontra-se o latifundiário e o empresário rural, seu modo de produção é quase sempre a monocultura ou produção pecuária especializada para o mercado interno ou externo, possui seus próprios representantes políticos eleitos com seu apoio finaceiro, que criam políticas públicas que protegem os interesses de sua classe, praticam uma agricultura tecnicista, desprovida de valores tradicionais ou de uma relação de afeto ou espiritualidade com a terra, re- produzem a lógica da produção industrial, onde é preciso produzir sempre mais; gastando sempre menos e tendo como objetivo central a acumulação de capital, mesmo que para isso submeta seus trabalhadores à condições indignas ou também esgotem e poluam os recursos naturais. Aonde chega o modelo de produção agrícola industrial, desaparece rapidamente o agricultor tradicional e seu modo de vida integrado com a natureza. O campo se torna um grande deserto demográfico, entrecortado por máquinas e emplementos agrícolas, os pequenos agricultores se evadem para superlotar ainda mais as grandes cidades, aumentando ali as problemáticas existentes, e outros que conseguem viver na zona rural, tornam-se alguns dos poucos empregados do agronegócio ou vivem complementando sua renda com atividades paralelas à agricultura. A extensão rural no Brasil surgiu a princípio para atender aos interesses deste segundo grupo, apenas mais recentemente, devido a força e organização dos movimentos sociais no cam- po, é que a extensão rural tem tomado um novo perfil, em defesa do pequeno agricultor e de seus modos de produção tradicionais. Com esta nova extensão rural inspirada nas metodologias de pesquisa participante, nas reflexões e propostas de Paulo Freire que questiona o próprio conceito de extensão rural, surge um novo espaço de pesquisa que envolve desde as metodologias das ciências sociais e agrícolas, integradas de maneira holística no espaço pedagógico do campo. O meio rural permite ao licenciando em Ciências Agrárias uma ampla e rica experiência, uma verdadeira praxis pedagógica onde ingram-se as ciências humanas e agrárias de maneira dialética, dirimindo a dicotomia teoria-prática e permitindo uma formação holística, que abrange a técnica, mas que não deixa de ser intuitiva e perceptiva. É no contato com o homem do campo que o licenciando perceberá a riqueza de sua cultura, as causas de sua resistência cultural e aversão à assistência técnica, a sabedoria oculta através de gerações, as lendas e o imaginário popular de um modo de vida ameaçado de extinção. Ali também o licenciando aprenderá os caminhos para esta troca de conhecimentos, respeitando os saberes populares e integrando o homem do campo, de maneira participativa, nas decisões a serem tomadas. Vamos partir do histórico destes movimentos sociais no campo, da extensão rural no Brasil, para compreender como desenvolveu-se esta realidade, para a partir de então construir re- flexões e propostas para uma nova extensão (ou comunicação) rural, tendo a agroecologia como paradigma central neste processo. Espero que através desta viagem que se inicia virtualmente, vocês possam lançar novos olhares e entendimento sobre o campo, sendo agentes transformadores desta realidade, cientes dos interesses políticos dominantes e tendo escolhido seu posicionamento, seja ele qual for, mas que seja produto de uma reflexão mais profunda e não simplesmente das informações superficiais veiculadas pelos meios midiáticos e que quase sempre distorcem a realidade para atender os interesses das classes dominantes. Boa viagem!
  • 3. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 Unidade 1 D esde a sua colonização, o Brasil tem na agricultura umas das suas principais atividades econômicas. Acompanhada da extração de riquezas minerais e vegetais, a colônia, explorada através do trabalho escravo, forneceria esses benefícios ao império português. Segundo Andrighetti (1998), o Nordeste já foi a região mais importante e mais rica do país, sendo a primeira a dar lucro à metrópole portuguesa, constituindo-se no mais importante pólo da exploração mercantilista no Brasil. O modo como o capitalismo penetrou no Brasil, ou seja, o modo como Portugal deu início à nos- sa colonização, provocou, desde o princípio, a concentração de terras. A divisão social do trabalho exigida pela produção açucareira não poderia sustentar-se numa economia camponesa, baseada na pequena propriedade familiar. Tal produção demandava inves- timentos em larga escala, grande quantidade de mão de obra e busca por uma elevada produtividade, o que a pequena propriedade não poderia assegurar. A primeira atividade agrícola com fins comerciais praticada no Brasil foi o cultivo da cana de açúcar, especificamente na zona da mata. O clima tropical quente e úmido, com uma estação seca e outra chuvosa, e o tipo de solo – o chamado massapé, rico em argila – mostraram-se ideais para o desenvolvimento deste cultivo, lançando as bases da chamada “economia açucareira do Nordeste”. Outra importante cultura, explorada a par- tir do século XX foi o café, principalmente na região sudeste, que junto com a produção leiteira formaram o sustentáculo da economia nacional. Porém a crise da bolsa de Nova York em 1929 provocou a quebra da economia cafeeira no Brasil. Para se ter uma idéia, na década de 30 foram queimadas cerca de 80 milhões de sacas de café. Segundo Graziano Neto (1985), somente após uma fase posterior a industrial- ização é que a agricultura se transforma no sentido capitalista que ocorre no início da década de 60. Esta “modernização” da agricultura trouxe ao seu lado problemas de in- justiça social, problemas ecológicos que até então, ou não tinham grande importância, ou não tinham sido percebidos em toda sua extensão. Essa foi a chamada Revolução Verde, que define-se como: um programa com objetivo aparente de contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal, para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições de diferentes solos e climas e resistentes às doenças e pragas, bem como da descoberta e aplicação de téc- nicas agrícolas ou tratos culturais modernos e eficientes (Brum, 1990 apud Zamberlam & Froncheti, 2001). Este modelo, na realidade, implementou o uso de uma mecanização UNIDADE I INTRODUÇÃO À REALIDADE DO CAMPO NO BRASIL
  • 4. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 pesada; o uso maciço de produtos químicos sintéticos, tanto para repor os nutrientes absorvidos pelas plantas (fertilizantes sintéticos), como para combater os “inimigos” de- stas (agrotóxicos) e a adoção do regime de monocultura, com concentração de capital e recursos físicos. A “modernização” da agricultura brasileira, entendida como seu processo de transformação capitalista, passou a ser criticada, então, por dois lados: de um, pelos estudiosos da questão agrária, devido aos problemas sociais, econômicos e políticos; de outro, pelos preocupados com a ecologia, devido a problemas como a contaminação dos alimentos, degradação dos solos, intoxicações de trabalhadores, descontrole das pragas e doenças, alterações climáticas etc. Andrighetti (op. cit.) diz que sob o problema da pobreza e das tensões sociais surgiram movimentos como o das Ligas Camponesas, na década de 1950 e no início da década seguinte. As manifestações cresciam no litoral do Nordeste, principalmente entre os trabalhadores dos canaviais pernambucanos. Uma das ligas camponesas mais importantes foi fundada em 1955, no Engenho da Galiléia, situado no município de Santo Antão. Nasceu como as demais, com simples objetivo assistencialista, mas sua atividade e união provocaram medo no proprietário que tentou expulsá-los da fazenda, mas em luta judicial eles conseguiram pelo governo do estado a desapropriação da fazenda. O governo pagou a indenização ao proprietário e o Engenho Galiléia passou a pertencer aos agricultores. O exemplo se espalhou por todo o Nordeste e em 1963, havia no país centenas de ligas contando com mais de 100 mil associados. O governo passou a em- preender uma débil modificação na estrutura fundiária brasileira e estimulado pelas fortes pressões populares acabou aprovando em 1963 um projeto de lei que resultou no Estatu- to do Trabalhador Rural. Depois da repressão do regime militar que perseguiu sindicatos e agricultores, na década de 80 foi retomado o processo de reforma agrária. O desenvolvimento da reforma agrária no Brasil é importante para a implementa- ção de um modelo de agricultura familiar que se desenvolve nas áreas de assentamento; esse modelo está mais acessível ao uso de tecnologias menos impactantes do que o atual modelo “moderno” de produção agrícola. O “I Censo da Reforma Agrária do Brasil” (1997) informa que até 31 de outubro de 1996 o Brasil possuía 1.460 projetos de assentamento rural, beneficiando 159.778 pes- soas. O INCRA (2002) estima que no Brasil existem aproximadamente 4 milhões de es- tabelecimentos familiares rurais. Destes, cerca de 10% (414 mil famílias) correspondem àqueles que participam de projetos de reforma agrária, os quais se distribuem por mais de 5 mil assentamentos em aproximadamente 2.000 municípios brasileiros. Atualmente, o INCRA (2010) informa que o Brasil possui 8.763 projetos de assentamento incorpo- radas pela reforma agrária, que ocupam 85,8 milhões de hectares com 924.263 famí- lias. Bamat (1998) informa que a Paraíba foi o segundo estado brasileiro em número de imóveis rurais desapropriados durante 1996, e o ritmo não diminuiu em 1997. Num con- texto nacional e histórico, no qual a democratização do acesso a terras tem ocorrido de forma tensa e extremamente lenta, apesar da urgência e da viabilidade de uma reforma agrária ampla e profunda, o que ocorreu na Paraíba nos últimos anos é, historicamente, muito importante. Entretanto, as atuais condições de vida, em muitos dos assentamen- tos, tanto nos mais antigos, quanto nos mais recentes, indicam a existência de problemas que precisam ser superados, principalmente a questão do desenvolvimento sustentável destas áreas. Atualmente, na Paraíba existem mais de 270 assentamentos, numa área aproximada de 252,5 mil hectares, onde vivem cerca de 5 mil famílias. A questão ambiental começa a ser tratada de forma mais incisiva pelo INCRA, desde 1998, com o lançamento da agenda ambiental “Terra que te Quero Verde”, esta- belecida pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, a qual esta- belece diretrizes relativas à gestão ambiental nas ações de reforma agrária. No mesmo ano em que foi lançada a referida agenda, também foram concebidos os Projetos Agro- extrativistas – PAE, focados no desenvolvimento das populações tradicionais, e iniciadas Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 5. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 as discussões a respeito do licenciamento ambiental dos projetos de Reforma Agrária (INCRA, 2002). Atividades agrícolas, sobretudo as que têm a finalidade de produção comercial, geram um forte impacto no meio ambiente, desestruturando os ecossistemas. Este efeito é resultante sobretudo dos atuais moldes de produção agrícola herdados da Revolução Verde, que afetam não apenas o meio ambiente, mas, refletem-se na qualidade final dos produtos oferecidos pela agricultura, afetando diretamente os consumidores destes produtos. O grande desafio da atualidade, no campo das atividades produtivas, é a con- ciliação da produção com procedimentos ecologicamente corretos e que minimizem o impacto destas atividades no meio ambiente. Para Graziano Neto (1985) o núcleo da questão agro ambiental se encontra no desenvolvimento do capitalismo, na tentativa con- stante de maximização dos lucros que é inerente a este sistema econômico. Não há como se lutar por uma agricultura ecologicamente mais equilibrada sem criticar, politicamente o capitalismo brasileiro, sem uma perspectiva de modificação do modelo econômico in- stalado no Brasil. Abramovay (1999) demonstra como o desenvolvimento do capitalismo afeta a agricultura familiar causando êxodo rural e decréscimo destas atividades, desta forma, o desenvolvimento da agricultura em países capitalistas entra em contradição com os as- pectos da idealizada “modernização da agricultura”, implementada pela industrialização do país. Sob este panorama a Extensão Rural surge como ferramenta de doutrinação tec- nológica onde técnicos e acadêmicos foram treinados nas academias e universidades para implantação dos pacotes tecnológicos. As políticas de crédito do governo são feitas para garantir a compra de insumos e maquinas das indústrias rurais e não para garantir a sustentabilidade do agricultor. O acervo fundiário brasileiro, que contém plantas e informações sobre imóveis rurais em todo o País, está acessível a qualquer cidadão, pela internet. A possibilidade foi aberta nesta segunda-feira (16) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsável por gerenciar o banco de dados. No acervo digital são encontradas informações produzidas pelo Incra sobre projetos de reforma agrária, imóveis rurais, gle- bas, territórios quilombolas e faixas de fronteira. Parcerias com outras instituições também permitiram a visualização de áreas de proteção ambiental, sistema viário, hidrografia, limites políticos (estadual e municipal), terras indígenas, títulos minerários, mapeamento sistemático e imagens de satélite. Pelo portal do Incra na internet também é possível acessar o programa e baixar o tutorial de navegação. O diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra, Richard Torsiano, destaca que além de conferir mais visibilidade e ampliar o conhecimento sobre o trab- alho realizado pela autarquia, o novo instrumento traz benefícios em múltiplas instâncias. “Toda a sociedade ganha, desde o cidadão comum a órgãos de governo, instituições de ensino, entre outros, não somente pela possibilidade de conhecer melhor a malha fundiária brasileira, como utilizar os dados para planejar ações ou desenvolver pesqui- sas”, aponta. As ferramentas presentes no sistema permitem ao usuário produzir, por exemplo, mapas personalizados, a partir do cruzamento dos conteúdos disponibilizados. O banco de da- dos também é dinâmico, ou seja, permanentemente atualizado, tanto pelo Incra como pelas instituições que “emprestam” parte dos seus acervos ao ambiente digital. “A idéia é que a troca de informações seja cada vez maior para que não haja des- perdício de investimentos de ambos os lados”, afirma a coordenadora geral de Geopro- Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 6. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 cessamento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Sandra Pedrosa. Ela cita, por exemplo, a possibilidade de checar se um assentamento tem interferência em área que o DNPM esteja liberando para determinada pesquisa. Desenvolvimento O sistema foi desenvolvido pela Diretoria de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra, por meio da Coordenação Geral de Cartografia. Também fez parte do processo de implementação o serviço de Cartografia da Superintendência Regional do Incra no Maranhão. Para isso, a equipe utilizou o software livre i3Geo, voltado à criação de mapas interativos e disponibilizado pelo Ministério do Meio Ambiente. Em um primeiro momento, em meados de 2009, o acesso foi disponibilizado a servidores do Incra e a órgãos governamentais, para que o sistema fosse aprimorado. A etapa permitiu, também, a incorporação de acervos de outras instituições. A Coordenação Geral de Cartografia do Incra disponibiliza, no ambiente digital, um manual de utilização do aplicativo para que o usuário possa usufruir de todas as fun- cionalidades do sistema. Saiba mais: Acervo Fundiário Digital http://acervofundiario.incra.gov.br/i3geo Portal do Incra Unidade 1 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 7. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 www.incra.gov.br ara falar sobre agroecologia, vamos antes um pouco mais a fundo nos concei- tos de ecologia profunda e sustentabilidade ambiental. Estes conceitos são o fundamento para o entidimento de uma unidade holística entre o homem e o meio que o cerca. Segundo Pauly (2001), Goethe (Johan Wolfang Goethe, 1749-1832) for- mulou há 200 anos atrás uma proposta ou modelo científico que incluísse o observa- dor como um agente ativo e participativo. Nesta proposta Goethe valoriza as relações ecológicas e experiências pessoais do pesquisador. O modelo fragmentador é uma visão materialista da natureza, a qual dá mais ênfase à quantidade, formas de medição ou aval- iação de experimentos isolados para explicar a vida. A vida e os processos relacionados com ela não são lineares, mas eles têm di- reção. Esta direcionalidade segue padrões que obedecem as leis da natureza. Na busca da unidade das leis da natureza, e especialmente devido as suas observações das plan- tas, que Goethe descobriu e desenvolveu sua teoria da metamorfose. O princípio básico do método científico de Goethe é que nós mesmos nos de- vemos incorporar na experiência do fenômeno, fazendo-nos parte dele durante toda a pesquisa, em vez de especular em torno dele ou substituí-lo por um conceito abstrato ou modelo matemático. Submergindo-nos no fenômeno, nós podemos “ver” a unidade e a presença de leis no mundo natural. Em seus estudos científicos, Goethe procurava entender a natureza e as suas leis internas e não procurar explicações ou forças proveni- entes do exterior. Este princípio pode orientar a prática do extensionista, que, em condições ideais, deveria mergulhar na realidade estudada, compreendendo-a em todas as dimensões pos- síveis. É fato que isto se torna inviável quando são escassos os recursos para os serviços de assistência técnica gerando situações em que um técnico deve dar assistência a cen- tenas de famílias no curto período de um ano. Um trabalho mais detido e aprofundado em poucas comunidades permitiria esta imersão na realidade do homem do campo, olhando a realidade através dos seus olhos e dando-se conta que, não raras vezes, a destruição da natureza, ou a omissão em protegê-la, se dá pela percepção míope que o homem tem do meio que o cerca. O olhar sobre a própria realidade, a consciência do valor do próprio patrimônio sócio-ambiental estão na raiz da crise que leva o homem a permitir a degrada- ção do meio ambiente ou o descaso diante dela. Para Leff (1992), a crise ambiental é a crise do conhecimento, pois as concepções Unidade 2 UNIDADE II ECOLOGIA PROFUNDA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL P
  • 8. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 metafísicas da população são determinantes para a maneira como o homem se relaciona com o meio ambiente. Um dos pontos da partida para a crise ambiental é a esquecida complexidade do ser humano por causa do surgimento da cisão entre o ser e o ente (Platão), do sujeito e do objeto (Descartes), para apreender o mundo “coisificando-o”, objetivando-o, homogeneizando-o. A crise ambiental é também um resultado do desconhecimento de princípios da termodinâmica (entropia), que tem desencadeado no imaginário economicista uma “ma- nia de crescimento”, de uma produção sem limites. Esta crise anuncia o limite de tal projeto. Mas, justamente por isso, sua solução não poderia basear-se no refinamento do projeto científico e epistemológico que tem fundado o desastre ecológico, a alienação do homem e o desconhecimento do mundo. Daí emerge um projeto de desconstrução da lógica unitária, da busca da verdade absoluta, do pensamento unidimensional, da ciência objetiva, do crescimento do conhecimento, do controle crescimento do mundo, do domínio da natureza e da gestão racional do ambiente. A complexidade ambiental abre uma nova compreensão do mundo, incorporando o limite do conhecimento e da in- completude do ser. Implica saber que a incerteza, o caos e o risco são, ao mesmo tempo, efeito da aplicação do conhecimento que pretendia anulá-los e condição intrínseca do ser e do saber. A complexidade emerge como resposta a este constrangimento do mundo e da natureza pela unificação ideológica, tecnológica e econômica. A natureza explode para destravar-se e se libertar do logocentrismo, abrindo os caminhos da história com base nos potenciais da natureza complexa, na atualização do ser ao longo da história e na sua projeção para o futuro, pelas possibilidades abertas pela construção de utopias a partir da fecundidade da outridade. A complexidade ambiental não é a ecologização do mundo. O pensamento com- plexo desborda a visão cibernética de uma realidade que se estrutura e evolui por meio de um conjunto de inter-relações e retroalimentações, como um processo de desenvolvi- mento que vai da auto-organização da matéria à ecologização do pensamento. A crise ambiental não é então a crise ecológica, mas é antes a crise da razão. Os problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí po- dem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve passar por uma política do conhecimento – e também para a educação. Apreender a complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de compreensão do conhecimento sobre o meio. O conceito de Ecologia Profunda usado por Capra (1996 e 1986) está associado com uma escola filosófica específica e, além disso, com um movimento popular global conhecido como “ecologia profunda”, que está rapidamente, adquirindo proeminência. A escola filosófica foi fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de 70, com sua distinção entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. Esta distinção é hoje amplamente aceita como um termo muito útil para se referir a uma das principais divisões dentro do pensamento ambientalista contemporâneo. Para Capra (op cit) quanto mais estudamos os principais problemas da nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependen- tes. Por exemplo, somente será possível estabilizar a população quando a pobreza for reduzida em âmbito mundial. A extinção de espécies de animais e vegetais numa escala massiva continuará enquanto o hemisfério meridional estiver sob o fardo de enormes dívidas. A escassez dos recursos e a degradação do meio ambiente combinam-se com populações em rápida expansão, o que leva ao colapso das comunidades locais e à vio- lência étnica e tribal que se tornou a característica mais importante da era pós-guerra fria. Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como dife- rentes facetas de uma crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 9. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições so- ciais, concordam com os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente interligado. O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento ecológi- co e é realmente fundamental. Lester Brown, do Worldwatch Institute, deu uma definição simples clara e bela: “Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessi- dades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras”. Este conceito de desenvolvi- mento sustentável teve uma ampla divulgação a partir do Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum ali se define como: aquele que responde pelas necessidades do presente de forma igualitária mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e pros- peridade das gerações futuras (WCED, 1987 apud Foladori, 1999). Este, em resumo, é o grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis – isto é, ambientes sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e con- cebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida. Em última análise, a percepção da ecologia profunda é também uma percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda. Não é, pois, de surpreender o fato de que a nova visão emergente da reali- dade baseada na percepção da ecologia profunda é consistente com a chamada filosofia perene das tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade dos místicos cristãos, da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacentes às tradições nativas norte-americanas. Estes novos paradigmas têm influído na reforma e reflexão dos conceitos até então trabalhados para o termo sustentabilidade. Segundo Foladori (1999) o conceito de desenvolvimento sustentável, além de suas vagas e diversas definições, nos remete a uma preocupação com o estado do meio ambiente. Nos últimos 20 anos se desen- volveram uma série de metodologias para medir a sustentabilidade, o que a converteu em algo mais operativo, porém as medições mais importantes de sustentabilidade têm desprezado as contradições da sociedade humana, estas medições têm considerado a sociedade como um todo homogêneo e em alguns casos, faz uma abordagem exclusiva- mente técnica. Desta forma oculta-se contradições da sociedade humana que são, muitas vezes, as verdadeiras causas dos problemas ambientais. Segundo Cavalcanti (2003) a sustentabilidade sobre um meio ambiente não é apenas a realidade visível de um impacto sobre a natureza, mas o conceito da complexi- dade emergente, onde são revistos o pensamento, a sociedade, a natureza, a tecnologia e a linguagem. Trata-se de um ponto de inflexão da história que induz a uma reflexão so- bre o mundo moderno, atravessado por estratégias de poder em torno da reapropriação filosófica, epistemológica, econômica, tecnológica e cultural da natureza. Os modelos até então propostos em termos de sustentabilidade ambiental, apesar de grande racionalidade, não são implementados na prática, talvez em função de um pos- sível antagonismo entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, ou entre dis- tribuição de renda (equidade) e qualidade de vida, vista sob a ótica do discurso ecológico. O modelo de sustentabilidade ambiental, amparado nos paradigmas ecológi- cos está direcionado na dimensão humana, adicionado ao comportamento do desenvolvimento econômico e social, interessado em criar condições sustentáveis refe- ridas a dinâmica social, a qualidade de vida e a dinâmica natural. Esse novo paradigma se baseia no reconhecimento da existência de uma diversidade ecológica, biológica e Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 10. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 cultural entre os povos, que foram destruídas pelo mercado capitalista mundial. Segundo Almeida et al (2000) a iniciativa empresarial já despertou para o fato de que o meio ambiente é um bom negócio, porém ainda não se amadureceu a questão da sustentabilidade. As empresas já exigem posturas diferenciadas dos países de grande potencial de recursos naturais como o Brasil. Essa cobrança não vem apenas de pressões ecopolíticas, mas da exigência do mercado, diante de uma nova realidade sócio ambiental, onde a competitividade é a lei maior. Reduzir custos com a eliminação de desperdícios, desenvolver tecnologias limpas e baratas, reciclar insumos são mais que princípios de gestão ambiental, representam condição de sobrevivência. Neste caminho temos observado o crescente número de certificações ambien- tais e selos ecológicos que atestam que o produto foi produzido de forma socialmente responsável e ecologicamente limpa. A agricultura orgânica certificada já é um grande negócio tendo o estado de São Paulo como referência no aspecto, mas, é importante res- saltar que enquanto a agroecologia tem um compromisso amplo com a forma de vida do agricultor familiar, com suas raízes culturais, com seus sistemas de cultivo tradicional; a agricultura orgânica garante apenas que o produto está livre de agrotóxicos, sendo este um setor explorado pelo agronegócio de maneira bastante lucrativa. A Carta do Cacique Seattle, em 1855 Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/se- attle1.htm Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, en- viou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Gov- erno haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atu- alidade. A carta: "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem. Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então com- prá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 11. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo. Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri- la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganân- cia empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sus- surro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro. Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não com- preendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os ho- mens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra. Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros su- cumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e en- venenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande im- portância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso. De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desapa- recer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à an- dorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência. Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 12. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lem- brança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama- a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu co- ração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum." Unidade 2 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 13. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 colonização do Brasil pelos portugueses teve início na região Nordeste e se efetivou com base no sistema de capitanias hereditárias, na exploração do pau-brasil e na produção de cana-de-açúcar na capitania de Pernambuco. Em 1549, com o fracasso do sistema de capitanias e a ameaça constante de invasões, Portugal assumiu a capitania da Bahia, implantando em Salvador o governo geral e instalando vilas e engenhos na orla marítima. A intenção naquele momento era ocupar a costa e os rios navegáveis, tendo a produção da cana-de-açúcar como uma atividade de sustentação econômica. Em 1584 as forças luso-espanholas consolidaram seu domínio sobre a Paraíba e, em 1598, sobre o Rio Grande do Norte. Em seguida, foram criadas vilas litorâneas impor- tantes na capitania de Pernambuco, ao sul de Olinda, como Sirinhaém (1614) e Alagoas (1624). Na época, a capitania do Ceará sofreu diversos ataques holandeses e indígenas, dificultando a ocupação do território. Seguiu-se a invasão holandesa da capitania de Pernambuco, início de longo perío- do de domínio de um território que se estenderia até o Maranhão. Em 1649 os holandeses se estabeleceram no local onde é hoje a cidade de Fortaleza e que só seria conquistado de fato pelos portugueses a partir de 1654. Os sertões do Nordeste Setentrional já se encontravam então ocupados por pecuaristas portugueses ou brasileiros de origem por- tuguesa que ali se instalaram para escapar das requisições de gado e das apropriações sumárias promovidas pelos holandeses. Com o fim do domínio holandês, o povoamento do interior como forma de consoli- dar a presença portuguesa se intensificou, a partir de Salvador e Olinda. No século 18, esse movimento alcançou Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, tendo a pecuária como atividade econômica de sustentação, aliada a cultivos de subsistência. O cultivo do algodão surgiu nessa época, como atividade complementar; os restos das plantações eram utilizados para a alimentação dos rebanhos e a produção principal, de tecidos rústicos, ainda que a maior parte fosse exportada para a Europa. De acordo com Moreira & Targino (1997) a conquista do atual território paraibano só ocorreu quase um século após o descobrimento do Brasil. O fato considerado como marco inicial desse processo seria a fundação da cidade de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, a 18 quilômetros da foz do rio Paraíba. Daí teve início a apropriação do espaço pelo colonizador, o qual se deparou em vários momentos com a resistência da população nativa. Essa população agrupava-se em três grandes nações: Tupi, Cariris e Unidade 3 UNIDADE III HISTÓRICO DA COLONIZAÇÃO AGRÁRIA DA REGIÃO NORDESTE E DA PARAÍBA A
  • 14. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 Taraitiús. Como as demais nações indígenas, as que habitavam o rio Paraíba apresenta- vam organização comunitária, inclusive como forma de enfrentar as adversidades exter- nas. A sua sobrevivência dependia fundamentalmente de sua relação com os recursos naturais, em particular com a terra. A princípio, estas populações mantiveram relações amistosas e, mais do que isso, cooperativas com os europeus. Enquanto a posse da terra e sua liberdade não es- tiveram ameaçadas, como ocorria na exploração do pau-brasil, os índios não ofereciam resistência ao colonizador. A reação dos indígenas à subordinação da sua terra e do seu povo ao processo colonizador constituiu a primeira forma de luta pela terra que teve lugar na Paraíba. A submissão do espaço paraibano à dominação colonial foi acompanhada pelo massacre da população nativa, seja através de sua pura e simples eliminação, seja pelos ultrajes a que foi submetida, ou ainda em virtude das doenças que contraiu no contato com o colonizador e da sua participação como “aliado” nas guerras. A principal motivação da conquista do território paraibano foi a ocupação e a im- plantação aqui, a exemplo do que já se fazia em Pernambuco, de um sistema de explo- ração colonial voltado para atender aos interesses da metrópole colonizadora. Essa ocupação deu-se, principalmente, no sentido leste-oeste, do litoral em di- reção ao sertão. No litoral, ela baseou-se na produção da cana-de-açúcar. A evolução da atividade canavieira teve influência também na ocupação e no povoamento do sertão e do agreste. Isso porque a necessidade de especialização das terras na produção de cana determinou a separação das atividades canavieira e pecuária. Daí resultou uma divisão regional do trabalho: a Zona da Mata voltou-se para a produção do açúcar e o interior (Agreste e Sertão), para a produção do gado e de gêneros alimentícios. Na Paraíba, como em outros estados do Nordeste, o trabalho escravo (embora menos numeroso do que em outras províncias), constituiu o suporte da atividade açuca- reira por três séculos e representou uma parcela significativa da população. Mesmo no fi- nal do período escravocrata, os negros representaram 13% da população dos municípios paraibanos, é o que diz Pinto (1977, apud Moreira & Targino, 1997). Embora o trabalho escravo tenha sido a relação dominante durante esse período, ela não foi exclusiva. Outras formas de trabalho foram introduzidas, sobretudo em perío- dos de crise do sistema. Assim a regressão do sistema açucareiro, na segunda metade do século XVII, provocada pela crise de acumulação que nele se processou, em decor- rência de mudanças no sistema de mercado internacional de açúcar, foi responsável por algumas modificações nas relações de trabalho vigentes na atividade açucareira, visando garantir sua sobrevivência. Como os senhores de Engenho não podiam adquirir a mão-de-obra escrava suficiente para atender suas necessidades de braços, devido ao aumento de preço desta força de trabalho, passaram a facilitar o estabelecimento de camponeses no interior de suas terras. Surgiu daí os lavradores e em seguida o sistema de moradores que posteriormente iria substituir o trabalho escravo. A produção canavieira requeria tecnicamente a instalação de canaviais em grandes propriedades, dado o seu caráter monocultor e a necessidade de aprovisionamento de matéria prima para o funcionamento da unidade fabril. As condições técnico materiais da produção reforçaram os padrões políticos-culturais dominantes de apropriação da terra. Daí entender-se porque a produção açucareira, subordinada aos interesses do capital mercantil internacional, teve como suporte a concessão de grandes sesmarias. A distribuição das terras em sesmarias foi responsável tanto pelo caráter privado que adquiriu a propriedade da terra, quanto pela criação de alicerces da grande propriedade que caracterizava o sistema açucareiro. Na Paraíba, as principais sesmarias foram concedidas nas várzeas dos rios Paraíba, Jaguaribe, Una, Tibiri e Gramame. A concessão de sesmarias foi suspensa em Unidade 3 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 15. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 17 de julho de 1822 e em 18 de setembro de 1850 foi aprovada a lei 601, conhecida como a Lei de Terras de 1850. Esta lei tinha por pressuposto básico a mercantilização da terra; seus objetivos principais consistiam: na proibição de acesso à terra por outro meio que não fosse a compra; na extinção do processo de ocupação de terras devolutas, que teve lugar com o fim das sesmarias, na valorização da terra e na sua conseqüente transfor- mação em mercadoria, na utilização de recursos oriundos da venda de terras devolutas para investir na importação de colonos europeus. Desta forma, somente poderia ser con- siderado proprietário da terra quem legalizasse sua propriedade nos cartórios, pagando certa quantidade de dinheiro para a Coroa. Esta lei discriminou os pobres e impediu que os escravos libertos se tornassem proprietários, pois nem uns nem outros possuíam re- cursos para adquirir parcelas de terra da Coroa ou para legalizar as que possuiam. Com isso, os agricultores prefiriram migrar para as cidades formando núcleos de pobreza e mendicancia. A outra consequência social dessa lei foi a consolidação do grande latifun- dio como estrutura básica da distribuição de terras no Brasil. Aqueles que tinham recebido as sesmarias regularizaram sua posse e transformaram-nas em propriedade privada, as segurando assim, o domínio da principal riqueza do país: suas terras. É muito importante atentarmos para o critério fundamental da origem da posse e propriedade da terra no Brasil, que é totalmente distinto do critério da maioria dos países europeus e mesmo dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, para se ter acesso à terra, era condição essencial ser amigo do rei, pertencer à nobreza. Na europa, ao contrário, as terras, que antes eram domínio dos senhores feudais ou exploradas pelo conjunto de camponeses de um certo lugar, foram sendo divididas em propriedades privadas de ta- manho variado, mas sempre menores que as sesmarias brasileiras. No caso dos Estados Unidos, o acesso à terra foi também mais democrático, principalmente nas colônias do norte, onde predominam propriedades de pequeno e médio porte. Após a proclamação da independência, a Constituição norte-americana consolidou o critério de que todos pode- riam ser proprietários de terras colonizadas no Oeste, desde que tivessem sua posse, ou seja, habitassem e trabalhassem nelas. Além disso, ela estabeleceu um limite máximo de 100 acres de terra que cada família, a partir da posse poderia assumir como sua proprie- dade. Segundo Maia (1978), surgiu também no Nordeste do Brasil uma pequena produção de alimentos subordinados à produção canavieira. Essa produção era feita inicialmente pelos escravos e destinava-se ao seu auto-abastecimento. Posteriormente, com o advento do morador, a produção de alimentos passou também a ser realizada por suas famílias, nos sítios que lhe eram cedidos pelos senhores de engenho. Ela era ainda praticada nas terras dos lavradores situadas fora dos limites dos engenhos. No que se refere à formação da pequena propriedade camponesa, embora os historiadores admitam que a propriedade latifundiária escravista, nos moldes em que foi desenvolvida no Nordeste, não possibilitava a expansão em grande escala da posse de terra, fazem menção à ocupação de terras devolutas por intrusos e posseiros à retaguar- da dos engenhos, considerando essas ocupações como precursoras da pequena proprie- dade camponesa no litoral. O sistema de lavrador estaria também na base da formação da pequena propriedade na região. A pequena produção e a pequena propriedade camponesa teriam nascido, assim, nos interstícios da grande propriedade monocultora, ou seja, nas “brechas” do sistema canavieiro e a ele subordinada. Leia sobre a lei que Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. Visite o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/ D7352.htm Unidade 3 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 16. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 Unidade 3 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 17. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 o início do século XX, a criação do serviço cooperativo de extensão rural dos Estados Unidos, estruturado com a participação de universidades america- nas, conhecidas como land-grant colleges, consolidou naquele país, pela primeira vez na história, uma forma institucionalizada de extensão rural (JONES e GARFORTH, 1997). Baseado no modelo das Land Grant Colleges o serviço de extensão ru- ral no Brasil iniciou por intermédio de um acordo entre o governo de Minas Gerais e a American International Association AIA coordenada pelo senhor Nelson Rockfeller, o mensageiro do extensionismo no Brasil. Surge então, em 1948, a extensão rural no Brasil, em um contexto histórico do pós-guerra, visando modernizar a agricultura e a política de substituições das importações (PORTILHO, 1999). Segundo o site Ambiente Brasil (2006) A expansão dos Serviços de Extensão Ru- ral, no Brasil, processou-se da seguinte forma: • 1948 – Criação da ACAR: Em dezembro de 1948, o Governo de Minas Gerais assinava convênio com a A.I.A., criando a Associação de Crédito e Assistência Rural – ACAR, que iniciou suas atividades a partir de janeiro de 1949. Introduzia-se, assim, no Brasil, a idéia extensionista, com o objetivo de trabalhar pela promoção do homem rural; • 1954 – Surge a ANCAR no Nordeste: Devido à criação do Banco do Nordeste do Brasil, com sede em Recife, em 1954, um grupo de líderes e autoridades resolveu criar uma entidade nos moldes da ACAR, porém de âmbito regional, abrangendo os oitos Es- tados do Polígono das Secas: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia; • 1955/56 – Novos Serviços de Extensão surgem no Sul: No Rio Grande do Sul, em junho de 1955, surge o terceiro Serviço de Extensão, com o nome de Associação Su- lina de Crédito e Assistência Rural, – ASCAR, pela iniciativa de várias instituições públicas e privadas, a qual iniciou suas atividades a partir de 1965. Por essa época, existia o “Pro- grama de Cooperação Técnica Brasil – Estados Unidos”, do qual fazia parte o Escritório Técnico de Agricultura, ETA”, que funcionava em conjunto com Ministério da Agricultura. O ETA contribuiu de forma decisiva para expansão dos serviços de extensão, especial- mente na região Sul do país. Com a participação técnica e financeira do ETA, foram cria- dos e iniciaram suas atividades, em 1956, mais dois serviços de extensão: a Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina – ACARESC, e a Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná – ACARPA; N Unidade 4 UNIDADE IV HISTÓRICO DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL
  • 18. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 • 1956 – Fundação da ABCAR: O ano de 1956 foi decisivo para a consolidação da Extensão Rural no Brasil. Após a criação dos Serviços de Extensão nos estados suli- nos, houve um aceleramento no ritmo de expansão dos serviços, e vários outros estados começaram tomar iniciativa, para criar seus próprios Serviços de Extensão; • 1974 – Criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMBRATER, como sucessora da ABCAR; • 1990 – Extinção da EMBRATER pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. Atualmente, as principais empresas responsáveis pela Extensão Rural nos esta- dos brasileiros são: • EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural); • EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Divisão Tecnológica) - em Santa Catarina; • CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricul- tura e Abastecimento de São Paulo) - São Paulo; • EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário S.A.) - na Bahia; • IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas) – Amazonas; • EMPAER (Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Exten- são Rural S.A.)- Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; • INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) – órgão vinculado MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Desde 2003 o MDA tornou-se responsável pelas açoes de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural). Além destas empresas, ressalta-se o trabalho de organizações não governamen- tais brasileiras que se propõem a assessorar e apoiar o desenvolvimento rural. Podemos observar que a extensão rural no Brasil surgiu sob influência das políti- cas norte-americanas e com o intuito de difundir as tecnologias (máquinas e insumos) produzidas por suas indústrias, sobretudo os agrotóxicos, decorrentes da adaptação de armas químicas usadas durante a guerra do Vietnã. Este movimento, como já foi expli- cado, é chamado de Revolução Verde e está no núcleo das questões agrárias no mundo. Porém, as caracterísitcas marcantes que definem a extensão rural no Brasil sofreram modificações ao longo dos anos, de maneira que pode-se definir diferentes fases da ex- tensão rural no Brasil. Alguns autores (LISITA, 2010; MASSELLI, 1998) a extensão rural no Brasil apresenta três fases principais: • Humanismo Assistencialista (1948 até meados da década de 1960): período de propósitos mais sociais. Foi um período de afirmação do trabalho de extensão onde se buscava conquista a confiança do homem do campo e construir a imagem dos serviços de assistência técnica junto aos demais órgãos do governo. Enfatizava a melhoria de vida das populações rurais e as caracterísiticas educacionais da ação extensionista. Em geral, as equipes locais eram formadas por um extensionista da área agrícola e um da área de Economia Doméstica. Apesar de levar em conta os aspectos humanos, os mé- todos dos extensionistas nessa época também eram marcados por ações paternalistas. Isto é, não “problematizavam” com os agricultores, apenas procuravam induzir mudanças de comportamento por meio de metodologias preestabelecidas, as quais não favoreciam o florescimento da consciência crítica nos indivíduos, atendendo apenas as suas neces- sidades imediatas. • Difusionismo Produtivista (meados da década de 1960 a 1980): é a extensão rural que serve de instrumento de doutrinação da Revolução Verde, que implantou o modelo de produção industrial no campo. baseando-se na aquisição por parte dos produ- Unidade 4 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 19. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 tores, de um pacote tecnológico modernizante, com uso intensivo de capital (máquinas e insumos industrializados). A extensão rural servia como instrumento para a introdução do homem do campo na dinâmica da economia de mercado. A Assistência Técnica e Exten- são Rural (ATER) visava o aumento da produtividade e à mudança da mentalidade dos produtores, do “tradicional” para o “moderno”. A extensão era um empreendimento que visava persuadir os produtores, para que esses adotassem as novas tecnologias. Seus conhecimentos empíricos não interessavam, bem como suas reais necessidades não eram levadas em conta. A extensão assumiu um caráter tutorial e paternalista. Foi durante esse período que surgiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e houve grande expansão do serviço de extensão rural no país. Para se ter uma idéia, em 1960 apenas 10% dos municípios no Brasil contavam com esse serviço e em 1980 a extensão rural chegou a 77,7%. Entretanto, como o papel dos extensionistas era condicionado pela existência do crédito agrícola, os pequenos agricultores familiares que não tiveram acesso ao crédito também ficaram à margem do serviço de extensão rural. • Humanismo Crítico (1980 até os dias atuais): devido principalmente ao término do crédito agrícola subsidiado, iniciou-se no país uma nova proposta de extensão rural, que preconizava a construção de uma “consciência crítica” nos extensionistas. O “plane- jamento participativo” era um instrumento de ligação entre os assessores e os produ- tores, com bases na pedagogia da libertação desenvolvida por Paulo Freire. Essa fase foi chamada de “humanismo crítico”. Seus defensores afirmam que as metodologias de intervenção rural devem pautar-se por princípios participativos, que levem em conta os aspectos culturais do público alvo. A grande diferença de orientação entre as metodolo- gias de extensão na era do “difusionismo produtivista” e da era do “humanismo crítico” é a questão da participação ativa dos agricultores. Porém, apesar de haver uma orientação para seguir princípios participativos, a maioria das empresas de ATER continua com a mesma orientação básica: “incluir” o pequeno agricultor familiar na lógica do mercado, torná-lo cada vez mais dependente dos insumos industrializados, subordinando-o ao capital industrial. A partir disso, em consonância com o processo de democratização da sociedade, a fração mais “humanista” das EMATER’s passou a se confrontar com o dire- cionamento “produtivista”, até então dominante na empresa. Organizaram-se seminários e debates que, em linhas gerais, buscavam resgatar o papel social que a extensão rural poderia vir a desempenhar. Extensão Rural XIII por Glauco Olinger Ainda que os serviços de extensão rural desfrutassem de grande prestígio da parte dos produtores rurais e dos governos federal, estaduais e municipais, nas primeiras déca- das de sua instalação no Brasil, havia grande preocupação dos dirigentes estaduais e da própria ABCAR a respeito da obtenção dos recursos financeiros necessários a ma- nutenção do SIBRAER – Sistema Brasileiro de Extensão Rural. (Note-se que não estava incluída a expressão “assistência técnica” porque se o serviço é de extensão rural é re- dundância repeti-la). Com a criação da EMBRAPA ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por Cirne Lima, o Ministério da Agricultura, pensou em criar uma empresa semelhante, idéia que viria solucionar a institucionalização dos recursos financeiros para a extensão rural. A idé- ia foi debatida na ABCAR e ficou proposto que a futura EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, contrataria a execução dos serviços de exten- são com a ABCAR e suas filiadas estaduais. Essa passagem é muito importante e vem Unidade 4 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 20. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 sendo ignorada pelos “historiadores” quando falam ou escrevem sobre a extensão rural no Brasil. A proposta tinha uma lógica de interesse financeiro. Era que a ABCAR e suas fili- adas estaduais que constituíam o Sistema Brasileiro de Extensão Rural, eram considera- das organizações filantrópicas, e nesta qualidade estavam isentas do pagamento de im- postos, taxas, contribuição social, fato que representava uma economia de 10 a 15% dos custos de manutenção do Sistema. Ocorreu que o Ministro Cirne Lima en- trou em choque com o então poderoso Ministro Delfim Netto, pediu demissão do cargo ao então presidente Emilio Garrastazu Médici que, embora seu amigo, substituiu-o pelo pernambu- cano José Leal de Moura Cavalcante, desafeto de Aloísio Campelo Mon- teiro, na época, secretário executivo da ABCAR. Aloísio não pretendia demitir- se da secretaria executiva da ABCAR e era muito estimado e respeitado por todos os membros componentes da Junta Governativa. Napoleão de An- drade, presidente da Junta, estava enfermo e o vice presidente José Saramago, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, assumira a presidência da ABCAR. Foi o momento em que Saramago e Glauco Olinger foram credenciados pela Junta a fim de propor ao citado ministro da agricultura a con- cordância de Aloísio permanece na secretaria executiva da ABCAR. Note-se que o Minis- tério da Agricultura era, por fato e até de direito, o mais destacado membro da Junta. So- bretudo porque vinha daquele ministério a grande parte dos recursos financeiros federais que mantinham o SIBRAER – Sistema Brasileiro de Extensão Rural. Ao nosso argumento em favor do Aloísio o ministro retrucou que era melhor ficar- mos fora do assunto porque se tratava de “uma briga entre famílias políticas Cavalcanti e Campelo, de Pernambuco”. Era a primeira vez, antes de muitas outras que viriam ocorrer no futuro, que acontecia a influência político partidária, de modo negativo, nos destinos da extensão rural pública, no Brasil. É a opinião de quem esteve presente e ativo nos fatos relatados, e não de quem pretende fazer “história” baseada em leituras e opiniões, pouco ou nada verdadeiras, que se somam as de si próprias. Com a saída de Aloísio, e o esvaziamento da Junta, a ABCAR não conseguiu alcançar nosso objetivo que era apoiar a criação da EMBRATER mantendo o SIBRAER como executor dos serviços de extensão rural pública no Brasil. Assume o engenheiro agrônomo Alysson Paulinelli, o Ministério da Agricultura, a ABCAR é extinta e é criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural. Como já foi explicado, anteriormente, a expressão “assistência técnica” decorria da delegação de poderes dada a EMBRATER, para credenciar e fiscalizar os serviços de assistência técnica, prestados aos produtores rurais, pelos Escritórios de Planejamento e afins. Glauco Olinger - engenheiro agrônomo – Consultor do Programa Santa Catarina Rural Secretaria Executiva Estadual do Microbacias 2 - (48) 3239 4170 Endereço eletrônico: imprensamb2@microbacias.sc.gov.br Fonte: http://www.microbacias.sc.gov.br/visualizarNoticia.do?entity.noticiaPK.cdNoticia=4660. Consulta realizada em maio de 2011. Unidade 4 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 21. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 a década de 60, com os problemas gerados com o modelo de produção adotado após a segunda guerra mundial, tais como crescente poluição, desigualdade social e violência urbana – começa a haver um forte ques- tionamento desse modelo político-econômico, das formas de uso dos re- cursos e das consequências das atividades do homem sobre a natureza e, em decorrência, sobre sua própria qualidade de vida. Essas preocupações levaram, em 1968, à primeira reunião pluri-temática de âmbito internacional, com a fi- nalidade de discutir o uso dos recursos face às questões sociais, políticas, ecológicas e econômicas vigentes e futuras, considerando-se a capacidade limitada de auto-sustenta- ção da Terra. A reunião, que aconteceu em Roma, ficou conhecida como "Clube de Roma" e teve a participação de 30 "notáveis" da época, especialistas em diferentes áreas do conhecimento e oriundos de diversos países (PIVELLO, 2010). Em 1972, o relatório Os Limites do Crescimento lançou um debate global sobre do futuro da humanidade e do planeta. A ele se seguiram A Humanidade no Ponto de In- flexão, em 1974; e Sem Limites ao Aprendizado, em 1978. Entre as principais conclusões do grupo, à época, constavam como maiores problemas da humanidade a industrialização acelerada, o rápido crescimento demográfico, a escassez de alimentos, o esgotamento de recursos não-renováveis e a deterioração do meio ambiente. Qualquer semelhança com o que vivenciamos hoje não é mera coincidência (MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2010). Também estava clara neste relatório a afirmação baseada na teoria malthusiana advinda de Thomas Malthus(1776-1834), economista britânico que preconizava que as populações cresciam em progressão geométrica enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. Desta forma, fatalmente faltaria alimentos no mundo e a fome seria crescente. Esta afirmação serviu de justificativa para um amplo programa mundial de produção de alimentos chamado Revolução Verde. Na verdade, ocultavam-se os interesses industriais e econômicos sob as alegações de uma revolução no campo, acompanhada de uma “modernização” que viria acabar com o atrazado modo de vida do agricultor. O tempo demonstrou que a teoria de Malthus exagerava uma perspectiva pes- simista. Outros fatores influenciam a disponibilidade de alimentos, como questões políti- cas e econômicas. De tal maneira que após 30 anos do lançamento de seu principal documento – Os Limites ao Crescimento –, o grupo divulgou em 2002: Sem Limites ao Unidade 5 UNIDADE V REVOLUÇÃO VERDE E EXTENSÃO RURAL N
  • 22. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 Conhecimento, mas com Limites à Pobreza: Rumo a uma Sociedade do Conhecimento Sustentável, reconsiderando o que foi dito na década de 1970. No relatório, o então presidente do clube, o príncipe da Jordânia Hassan Bin Ta- lal, disse que “os desafios do desenvolvimento sustentável estão ainda mais prementes e ainda mais complexos. Os tremendos progressos tecnológicos das décadas recen- tes têm permitido o crescimento industrial continuado; mas a lacuna entre os ricos e os pobres tem alargado, e a pressão sobre os sistemas complexos e delicados de nosso planeta é maior que nunca. A Revolução Verde no Brasil que dominou o campo a partir da década de 1960 trouxe um desenvolvimento desigual, que beneficiou o eixo sul, sudeste e mais tarde o centro-oeste; concentrou-se nas mãos dos detentores do capital e da terra, excluindo o pequeno agricultor e causando por isso grande impacto econômico e social nas popula- ções rurais menos favorecidas. Não melhor foram os impactos ambientais decorrentes de um modelo de produção baseado na monocultura, no uso intensivo de máquinas e implentos pesados que compactavam o solo e no uso indiscriminado de adubos químicos e agrotóxicos. Gorgen ofm (2004) diz que podemos dividir a Revolução Verde em três fases principais: A Primeira Fase da Revolução Verde (1960 a 1990): caracterizava-se pelas grandes lavouras de grãos – monocultura, a industrialização da agricultura, política de crédito feita para financiar a indústria de máquinas, implementos e insumos e não o agricultor, as- sistência técnica paga pelo governo, feita para vender o pacote tecnológico da Revolução Verde. A Segunda Fase da Revolução Verde (1990 a 1999): a crise gerada pela primeira fase da Revolução Verde levou ao surgimento de uma nova fase que caracterizava-se pelo plantio direto com uso intensivo de herbicidas; necessidade de rotação de culturas; re- cuperação de solo e manejo de microbacias hidrográficas, controle da erosão e conser- vação dos solos; busca do aumento da produtividade; manejo de culturas próprias para a cobertura do solo; passa da monocultura para a bicultura (combinação de dois tipos de cultivo); uso maciço de inseticidas, fungicidas e herbicidas no controle de pragas. Observa-se aqui alguns cuidados conservacionistas para a sustentabilidade da produção agropecuária, porém surge a crise desta fase pelo uso abusivo de herbicidas e insetici- das de maneira indiscriminada. A Terceira Fase da Revolução Verde (2000 até hoje): a terceira fase da Revolução Verde vem justamente para tentar resolver os problemas por ela criados na segunda fase. Usa novos recursos das ciências biológicas, da mecânica, do geoprocessamento e da informática, mas não rompe com o modelo antigo, antes aprofunda suas principais tendências. As plantas transgências, por exemplo, vêm resolver a ineficácia verificada nos herbicidas e inseticidas apresentados como solução definitiva no início da década de 1990. Um curto prazo de 10 anos de uso intensivo obrigou a buscar novas soluções dentro do mesmo modelo químico, monocultor, controlado pelas grandes transnacionais. Unidade 5 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 23. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 "O uso seguro de agrotóxicos é um mito”, afirma especialista 1 de outubro de 2010 Disponível em: http://www.mst.org.br/node/10696 Por Leila Leal Da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), participou como palestrante do Seminário Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos, realizado de 14 a 16 de setembro na Escola Nacional Florestan Fernandes – Guararema, São Paulo. Coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, pesquisa a relação entre agrotóxicos, ambiente e saúde no contexto da modernização agrícola no estado do Ceará. Nesta entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura. Qual a importância da discussão sobre agrotóxicos na atual conjuntura? Os agrotóxicos não podem ser vistos apenas como um conjunto de substâncias químicas que pode causar riscos químicos à saúde. Eles precisam ser entendidos no contexto em que são utilizados, que envolve o processo de modernização agrícola con- servadora em curso no Brasil, que tem a ver com a reestruturação produtiva no campo e a divisão internacional da produção e do trabalho, na qual cabe ao Brasil a produção de commodities de origem agrícola. Esse contexto mais geral precisa ser considerado, assim como o entendimento do agronegócio não apenas em sua dimensão de latifúndios e monoculturas, mas tam- bém como um subsistema técnico e político que envolve o capital financeiro, a indús- tria química, a indústria de biotecnologia, sementes, fertilizantes, tratores, enfim, toda a indústria metal-mecânica. Esse contexto determina a vulnerabilidade das populações aos agrotóxicos. E que populações são essas? Temos em primeiro lugar os trabalha- dores das empresas, mas também outros segmentos de trabalhadores que são influ- enciados por esse processo, como os pequenos produtores. No Ceará, os pequenos produtores foram colocados na condição de parceiros do agronegó- cio, o que na verdade é uma forma de terceirização. O cultivo de fumo no Rio Grande do Sul também é um exemplo disso, são pequenos produtores que estão completamente subordinados às exigências da indústria fumageira. Além desses trabalhadores, são atingidos os moradores dessas regiões. No Mato Grosso, há municípios completamente cercados pelo agronegócio, que atinge até mesmo a reserva do povo Xingu: há rios que nascem fora de sua área e cuja água já entra no território indígena con- taminada por agrotóxicos. Há também a questão dos con- sumidores de alimentos, que têm uma ingestão diária aceitável de veneno. É o ‘veneno Unidade 5 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 24. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 nosso de cada dia’ na alimentação. E, ainda, temos os trabalhadores que fabricam esses venenos. Há conflitos ambientais já identificados com esses trabalhadores de fábricas e as comunidades do entorno das fábricas, que são contaminadas. No nordeste, há uma fábrica de agrotóxicos que tem problemas sérios com 11 bairros na sua vizinhança por causa da sua contaminação atmosférica. Além disso, a questão dos agrotóxicos é abrangente porque vai nos ajudar a res- gatar a interrelação campo e cidade. Na medida em que o país se urbaniza, tendemos a pensar o Brasil como um país urbano – e há uma conotação simbólica de que isso nos aproxima mais do perfil dos países desenvolvidos e deixa para trás o ‘atraso do campo’ –, perdendo de vista que há uma dinâmica rural-urbana fundamental. Isso se expressa na produção de alimentos, na manutenção de riquezas naturais como a água, os microcli- mas, as chuvas (importantes para a cidade e ‘produzidas’ no campo) e também do ponto de vista da organização do campo. A concentração de terra, que expulsa pessoas das áreas rurais, faz com que as cidades fiquem cada vez mais ingovernáveis, por causa da migração e de todos os processos de degradação da qualidade de vida, como a violên- cia, as drogas e outros. Enfim, faz com que toda a problemática ambiental urbana cresça. Os agrotóxicos dão oportunidade para discutirmos tudo isso, e também para de- batermos a ciência e seus limites hoje. Há substâncias químicas que nos mostram a insuficiência dos conhecimentos produzidos para que possamos ter alguma segurança ao lidar com elas. Um exemplo é o problema da exposição múltipla a vários ingredientes ativos, que ainda carece de respostas. São várias situações que nos colocam os limites da ciência e que também desafiam o Estado, porque não há como tratar os problemas dos agrotóxicos apenas como problema agrícola ou agrário, apenas como problema de saúde ou de meio ambiente. Esse é um problema que perpassa diversos setores das políticas públicas e exige uma atuação integrada, o que também é um exercício interes- sante de fazermos. Na sua palestra no Seminário Nacional Contra o Uso de Agrotóxicos, foi destacada a importância de esclarecermos se estamos discutindo agrotóxicos e saúde ou agrotóxicos e doença. Qual a diferença entre as abordagens e o que isso significa para o debate? Na cultura positivista que temos, existe uma certa tendência, tantos dos em- presários como algumas vezes até da própria mídia, de procurar por agravos à saúde que pudessem ser atribuídos aos agrotóxicos, identificando e quantificando casos. É como se, para validar a questão dos agrotóxicos como um problema digno de aten- ção, relevante e urgente, dependêssemos disso, como se precisássemos ter geração e comprovação da doença para começarmos a pensar no assunto e nos problemas dos agrotóxicos. O que estamos propondo é que o conhecimento sobre a nocividade dos agrotóxi- cos está dado a priori, porque ao defini-los como agrotóxicos estamos dizendo que são biocidas, que fulminam a vida, e ao atribuir a eles uma classificação toxicológica que vai de pouco tóxico a extremamente tóxico também estamos deixando isso claro. Não há nenhuma classificação que seja ‘não-tóxico’. O mesmo acontece em ter- mos da classificação ambiental, que se relaciona à resistência do solo, e aos estudos da biomagnificação, teratogênese, mutagênese e carcinogênese [referentes ao acúmulo de produtos tóxicos ao longo da cadeia alimentar e à possibilidade de anomalias e malfor- mações fetais, mutações genéticas e desenvolvimento de câncer]. Então, os agrotóxicos já estão classificados nesse sentido. Não há que se per- guntar se são veneno ou remédio, está claro que são um tipo de veneno. Esse potencial de dano está dado, e defendemos que não precisaríamos provar a existência do dano para postergar políticas públicas e iniciativas dos agentes econômicos para combater esse problema. Poderíamos, desde já, estar trabalhando na perspectiva de que existe Unidade 5 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 25. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 um risco e um contexto de risco, partindo para o controle desses riscos. Por que é difícil estabelecer relações entre exposição humana aos agrotóxicos e os danos à saúde? Os efeitos crônicos causados pela exposição a agrotóxicos são muito diversifica- dos. Cada composto e princípio ativo tem um perfil toxicológico e uma nocividade própria, e isso se relaciona a uma série de patologias que vão desde dermatoses até infertilidade, abortamento, malformações congênitas, cânceres, distúrbios imunológicos, endócrinos, problemas hepáticos e renais... Mas todas essas patologias têm etiologias variadas, o que significa que podem ser causadas por outros elementos que não os agrotóxicos. E, como somos acostumados a fazer raciocínio muito linear entre doença e agente causal, isso fica muito complicado. É possível, por exemplo, quando uma empresa quer se negar a assumir suas responsabi- lidades, que ela diga que o trabalhador teve uma leucemia porque a família tem carga genética para isso. Do ponto de vista epidemiológico, os estudos têm evidenciado essas correlações, demonstrando que populações mais expostas, comparando com não expostas, têm carga maior de doenças. Mas gerar essa informação é difícil. No caso do Ceará, o instituto que recebe a maioria dos cânceres hematológicos não tem na sua ficha de investigação o dado sobre a ocupação do trabalhador. Isso é um exemplo da dificuldade que temos para fazer um perfil que relacione a ocupação e, por consequência, o contato com agrotóxicos, a uma determinada doença. Existe um discurso muito difundido de que os agrotóxicos seriam uma necessidade para garantir a produção de alimentos, e de que sem eles ‘o mundo morreria de fome’. A partir daí, a proposta é desenvolver formas seguras de lidar com os agrotóxicos. Qual a sua opinião sobre isso? O ‘uso seguro’ é possível? A ‘Revolução Verde’, que é o momento que marca na história da humanidade a questão dos agrotóxicos, aconteceu há cerca de 50 anos. A humanidade tem cerca de 8 mil anos de história conhecida na agricultura, e nós vivemos e nos alimentamos por todos esses milênios sem os agrotóxicos e transgênicos (o que é um outro argumento muito comum agora, de que, de repente, não podemos mais viver sem os transgênicos). É claro, há relatos de que desde os povos mais antigos havia uso de algumas substâncias para controle de pragas e de processos de cultivo, a humanidade tem um acúmulo nesse sentido. Estou me referindo a esse uso massivo de agrotóxicos, estim- ulado pela indústria química, que pode fazer propaganda na televisão, ter isenção de impostos como o ICMS, IPI, Cofins, PIS/Pasep. Então, a primeira coisa importante de tomarmos consciência é que já vivemos muitos anos como humanidade sem os venenos, e que depois do uso de venenos a produtividade da agricultura certamente elevou-se, mas a segurança e a soberania ali- mentar da humanidade não. Continuamos tendo quase um bilhão de pessoas desnutridas ou subnutridas no mundo, então está clara que essa não é uma crise que seja explicada pela subprodução, mas sim pela má distribuição. Isso se deve ao fato de que aquilo que o agronegócio e a modernização agrícola produzem não são alimentos, mas sim commodi- ties, o que é muito diferente. Há todo um aparato jurídico, institucional, legal, para regular o uso de agrotóxicos e o que vemos é que esse aparato não tem sido eficaz. O que se vê é que, desde o processo de normatização, houve interferência. Temos documentos dos produtores de agrotóxicos em que afirmam a sua estra- tégia de interferir no processo regulatório, fazer lobby, interferir na capacitação dos ser- vidores públicos e dos operadores de direito que lidam com essa área. Então, desde o início da regulação, há problemas. Quantos desses estatutos que estão previstos na leg- islação funcionam efetivamente? O receituário agronômico não funciona e há pouquís- Unidade 5 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 26. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 simos laboratórios, no país inteiro, que são capazes de fazer análise da água e da contaminação humana por agrotóxicos. Estamos agora no processo de revisão da Portaria 518, que diz respeito à pota- bilidade da água para consumo humano, e um dos grandes dramas é esse: podemos colocar lá todos os 450 ingredientes ativos de veneno registrados que temos no Brasil, mas onde vão ser analisados para cada uma das prefeituras de cada um dos quase 6 mil municípios do nosso país? Não temos essa capacidade instalada. Fazemos o licenciamento ambiental desse empreendimento, mas não temos condições de monitorar se as condicionantes e requisitos colocados no licenciamento são cumpridos, porque não há fiscal, não tem diária, não tem aparelho e laboratório. Há também uma série de argumentos que foram trazidos pelo Censo Agropecuário, através do qual podemos constatar que há mais de 5 milhões de estabelecimentos com mais de 16 milhões de trabalhadores rurais dos quais um número significativo é de crianças, com escolaridade considerada baixa. Como podemos pensar em uso seguro numa vas- tidão dessa? A assistência técnica é precária. O Censo mostra que as propriedades que mais receberam assistência são aquelas acima de 200 hectares, ou seja, há milhões de propriedades de pequenos produtores que estão à revelia de assistência técnica. Como podemos imaginar que o uso seguro acontecerá assim? Qualquer pessoa pode chegar a uma loja e comprar o veneno que o balconista estiver interessado em vender e usar do jeito que o balconista ensinar. É muito difícil pensar em uso seguro assim. Você falou em sua palestra que há um despreparo dos profissionais de saúde e do próprio SUS para lidar com essa questão. Como isso acontece? Do ponto de vista da Política Nacional de Saúde do Trabalhador, temos previstas ações que vão desde a atenção básica – que seria principalmente através da Estratégica de Saúde da Família – até os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerests), com ações hierarquizadas. A proposta é muito interessante. Mas o que vemos, especialmente no Ceará, é que a forma como o SUS chega aos territórios que sofreram profundas transformações pelos processos de mordenização agrícola é insuficiente. Os profissionais da atenção primária estão completamente absorvidos pela assistência médica, têm pouco tempo de fazer as outras ações pensadas para sua atuação e conhecem muito pouco a dinâmica viva dos territórios em que as unidades de saúde estão inseridas. Então, têm poucas notícias sobre a instalação de empresas de agronegócio, não sabem se há trabalhadores migrantes que vêm para atender demanda de força de trabalho sazonal, para, por exemplo, a colheita do melão (que é um caso muito co- mum), que estão sem suas famílias e que isso causa a expansão de uma rede de prosti- tuição — o que gera outros problemas, como gravidez indesejada na adolescência, uso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, inclusive Aids. Então, para o sistema de saúde que está ali absorvido em diagnosticar e tratar doenças – embora estejamos tentando superar esse paradigma, isso nem sempre é possível –, é difícil enxergar essas dinâmicas. A resposta às novas necessidades de saúde tem sido insuficiente, é isso que mostrou o estudo realizado pela Vanira Mattos na UFC. Nos Cerests, há experiências ricas pelo Brasil afora, mas estou falando de um olhar local do Ceará. Ainda não con- seguimos, ao longo dos três anos da nossa pesquisa, envolvê-los no atendimento a esses trabalhadores, nem desenvolver conjuntamente as ações de vigilância sanitária, epidemiológica, ambiental e em saúde do trabalhador, que ainda não estão acontecendo adequadamente. Unidade 5 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 27. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 m uma concepção mais tradicional, extensão rural: É o processo de es- tender, ao povo rural, conhecimentos e habilidades, sobre práticas agro- pecuárias, florestais e domésticas, reconhecidas como importantes e ne- cessárias à melhoria de sua qualidade de vida. (AMBIENTE BRASIL, 2006) Esta abordagem tradicional desdobra-se em diversas finalidades, tais como: • Melhorar as condições econômicas e sociais da população rural; • Aplicar os conhecimentos da ciência e a pesquisa aos problemas do agricultor e sua família; • Estender ao povo rural conhecimentos e habilidades, para a melhoria do seu nível de vida; • Estimular os processos de mudanças da população rural, nos campos técnico, econômico e social; • Preparar um dispositivo de disparo, que coloque em ação as aspirações e as capacidades das pessoas para o progresso; • Criar uma reação em cadeia que resulte em melhores condições de vida e de trabalho para a população rural; • Incorporar as massas rurais, através da educação, aos programas de desen- volvimento de um país; • Acelerar o desenvolvimento econômico e social das áreas rurais; • Aumentar a renda do agricultor; • Servir de ponte entre a pesquisa agropecuária e o produtor rural; De fato, assim no papel, parece uma excelente abordagem, contudo, uma reflexão mais apurada permitirá observar algumas contradições nesta proposta. A primeira delas, e já vimos discutindo ao longo do texto, é que este modelo oculta interesses políticos e econômicos das indústrias transnacionais, que influenciaram bancos, governos e uni- versidades para serem agentes propagadores de seus interesses. A própria Revolução Verde foi e é uma jogada publicitária. Isto não significa que a extensão rural até então, não trouxe nenhum benefício, de fato ouve aumento na produção de alimentos e nas exportações de grãos e outros Unidade 6 UNIDADE VI EXTENSÃO RURAL TRADICIONAL E SUAS CRÍTICAS E
  • 28. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 gêneros alimentícios. Porém, sabemos que este desenvolvimento se deu de maneira desigual, beneficiando em primeiro lugar o capital estrangeiro, em segundo lugar os em- presários nacionais do agronegócio e por fim uma pequena parcela qualificada de trabal- hadores que sabem manusear estas novas tecnologias. A parte disso, temos uma massa de trabalhadores rurais que até hoje vive com baixos salários e em más condições de trabalho (até os dias atuais encontra-se trabalho escravo no campo), ou pequenos agri- cultores que tentam sobreviver e competir com o agronegócio. Tudo isto resulta no êxodo rural dos que não conseguiram sobreviver no campo. Sempre que se critica o agronegócio, este setor defende-se dizendo que gera riqueza e alimentos para a população, que oferece empregos e que está enriquecendo o nosso país. De fato, não deixa de ser verdade que o Agronegócio responde por maior parte da riqueza produzida no Brasil encampando investimentos dos setores primário, secundário e terciário, porém, é talvez o setor que mais concentra renda, ampliando as desigualdades sociais já existentes. A ocupação do mercado por grandes produtores do agronegócio, por suas práticas de mercado e concorrência, não deixa alternativa para o pequeno agricultor que não seja servir de mão de obra barata para este setor dentro dos poucos postos de trabalho que oferece, com exigências crescentes de qualificação técnica, ou, por fim, migrar para os centros urbanos abandonando a atividade agrícola. É problemático também o impacto ambiental causado pelas atividades agrícolas dentro de um modelo de produção tecnificada, com uso massivo de máquinas, implementos, adubos sintéticos e pesticidas, tão pouco devemos esquecer que mais 70% da produção de hortifrutigranjeiros que chega a mesa do consumidor brasileiro tem sua origem na agricultura familiar e que a expressiva produção do agronegócio brasileiro é, quase sem- pre, destinada à produção de grãos para a exportação. Paulo Freire em sua obra “Extensão ou Comunicação?” faz uma análise mais pro- funda e epistemológica e diz que o primeiro equívoco já está na própria palavra “Exten- são”, que no conceito destacado no começo deste capítulo, diz que trata-se de “estender ao povo conhecimentos e habilidades”. Diz então Freire (1983): O primeiro equívoco gnosiológico da extensão está em que, se há algo dinâmico na prática sugerida por tal conceito, este algo se reduz à pura ação de estender (o estender em si mesmo) em que, porém, o conteúdo se torna estático. Extensão que tradicionalmente reflete: transmissão; sujeito ativo (o que estende); conteúdo (que é escolhido por quem estende); recipiente (do conteúdo); Entrega (ativi- dades extra-muros); messianismo(por parte de quem estende); superioridade (do con- teúdo de quem entrega); Inferioridade (dos que recebem); mecanicismo (na ação de quem estende); invasão cultural. Freire reflete sobre como a extensão rural praticada reflete o modelo de educa- ção bancária, autoritária, hierárquica, centralizadora. Trata-se mesmo de uma forma de invasão cultural, pois esta perspectiva não trabalha a construção e modificação ou adap- tação dos saberes de maneira conjunta e participativa, ao contrário, trata-se da simples substituição não apenas de um modo de produção, mas também de um modo de vida. A pretensa neutralidade política da extensão rural tradicional faz do extensionista um profissional tecnicista, de visão rasa das problemáticas complexas da realidade rural. Para este extensionista tradicional, o seu papel resume-se a extender os conhecimentos ao agricultor que faz uso, se quiser, destes conhecimentos. Esta visão tem como núcleo a eficacia produtiva e não a qualidade de vida do homem do campo, este último se torna apenas uma peça a mais na engrenagem da indústria rural. A alienação no que se refere às questões políticas que envolvem o campo, faz com que o extensionista tradicional contribua para a manutenção das políticas estabelecidas e das classes dominantes. Não temos a tradição democrática para o uso das metodologias participativas, porém, é através da via dos movimentos sociais no campo que esta tradição tem sido construída, mas, mesmo este setor não é isento de contradições. Mesmo os educadores Unidade 6 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 29. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 populares que não estejam atentos, poderão cair nas contradições do modelo tradicional de extensão rural. Muitas vezes, são as próprias comunidades que estão acostumadas com um modelo centralizador e paternalista de assistência técnica. Este comportamento é mais comum entre colonos, que são aqueles agricultores que herdaram a terra de seus antepassados sem passar pelas lutas sociais de conquista pela terra. Já os assentados dos projetos de reforma agrária são geralmente um público mais crítico que os colonos, pois são oriundos dos movimentos sociais no campo, que trabalham a politização e criti- cidade do trabalhador rural. Este público geralmente exige muito mais do técnico exten- sionista do que normalmente exigem os colonos. Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprova prazo de dois anos para registro de novos agrotóxicos Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprova prazo de dois anos para registro de novos agrotóxicos. Matéria de autoria da senadora Kátia Abreu será analisada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária. A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal aprovou na quarta-fei- ra (24-5) o Projeto de Lei do Senado (PLS) 88/11, que estabelece prazo de dois anos para o início da produção e comercialização de novos agrotóxicos no Brasil após o registro dos produtos. O objetivo da proposta, de autoria da presidente da Confederação da Agricul- tura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, é alterar a legislação vigente, que não define prazos para a fabricação e a venda destes insumos. A matéria também prevê a suspensão do registro caso a fabricação e a venda não comece no período definido pelo projeto. Ao defender a proposta, a senadora Kátia Abreu alega haver alta concentração no segmento, prejudicando a ampliação da concorrência. Ela defende a oferta de mais defensivos no mercado para baratear os custos de produção da atividade rural. “Muitas empresas que registram seus produtos se preocupam apenas em aumentar o seu valor comercial. Não estão interessadas em colocar o produto no mercado. O registro serve mais para compor o ativo patrimonial do que para incrementar a concorrência”, justifica a presidente da CNA. A relatora do PLS na CAS foi a senadora Ana Amélia (PP-RS), que encaminhou parecer favorável à matéria. Na avaliação da presidente da CNA, a baixa disponibilidade de produtos comer- cializados é um dos vários problemas enfrentados pelos produtores rurais em relação aos insumos, que estão entre os itens que mais pesam nos custos de produção da agricultura. A senadora Kátia Abreu afirma que as seis maiores empresas de agrotóxicos no País, controlam 85% do mercado. O Brasil hoje responde por 16% do mercado mundial, movi- mentando cerca de US$ 7,2 bilhões. O PLS está agora na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Sena- do, onde será relatada pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO). A matéria será analisada em decisão terminativa, ou seja, se aprovada na CRA, não precisará ser votada em Plenário e será encaminhada diretamente à Câmara dos Deputados. Contra_agrotoxicos mailing list Contra_agrotoxicos@grupos.ufrgs.br https://grupos.ufrgs.br/mailman/listinfo/contra_agrotoxicos Unidade 6 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 30. 00 Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 Unidade 6 PESQUISA APLICADA À EXTENSÃO RURAL
  • 31. Curso de Graduação em Ciências Agrárias - Licenciatura a Distância Cadernos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Vol. 6 Editora Universitária da UFPB - Bananeiras - PB, 2011 00 iante da ineficácia da extensão rural tradicional, de sua pretensa neutrali- dade, desenvolveu-se no Brasil uma nova experiência de extensão rural, baseada no paradigma agroecológico. A extensão rural agroecológica poderia ser definida como um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodo- logias de investigação-ação participante, que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os levem a incidir conscientemente sobre a reali- dade, com o objeto de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia como crité- rio para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas implicadas em seu manejo (CAPORAL & COSTABEBER, 1994). Porém, para que ela se torne efetiva, alguns obstáculos devem ser superados: • A necessidade de imersão do agente: é difícil o extensionista mergulhar mais profundamente na realidade da comunidade onde trabalha quando ele precisa atender um grande número de famílias e comunidades. Esta é a realidade predominante na ex- tensão rural no Brasil, poucos técnicos para atender uma vasta área; • O resgate do conhecimento local: este resgate depende também da imersão fala- da no item anterior e de uma boa interatividade com a comunidade. Muitos conhecimen- tos se perdem no tempo ou com a invasão cultural dos modos “modernos” de produção; • Sistematização das experiências: temos poucos registros feitos a cerca das ex- periências agroecológicas e muitos relatos são incompletos ou empíricos; • Participação como direito: temos visto como é difícil estabelecer uma experiên- cia legitimamente democrática e participativa, por estarmos mais familiarizados com as experiências autoritárias e centralizadoras; • O processo educativo: a educação é a principal ferramenta de transformação da realidade, porém, encontramos uma infra-estrutura precária ou inexistente para educação formal ou informal. Unidade 7 UNIDADE VII EXTENSÃO RURAL AGROECOLÓGICA D