Este documento analisa e compara o discurso da Bancada Ruralista e da Articulação Nacional de Agroecologia sobre questões rurais. A Bancada Ruralista defende interesses de grandes proprietários rurais, enquanto a ANA apoia pequenos agricultores e a agroecologia. O documento conclui que a Bancada Ruralista prioriza lucros sobre direitos trabalhistas e sociais, ao passo que a ANA promove uma produção sustentável e equitativa.
1. Universidade Federal Rural Do Rio de Janeiro
Engenharia Agronômica
Bruno Antonio Augusto Faria Conforto
Análise do Discurso de intituições ligadas ao meio rural
Rio de Janeiro
2019
2. Introdução
Com esse texto busca-se explicitar os conceitos e julgar a veracidade do que afirmam
a Bancada Ruralista, tomando como principal referência a Frente parlamentar
agropecuária(FPA), e a Articulação Nacional de Agroecologia(ANA), e paralelamente tentar
fazer definições e relações com conceitos vistos em aulas.
O texto foi divido em três partes, Primeiramente analisou-se o discurso da Bancada
ruralista de modo bem pontual e buscando demonstrar os diversos meios legais que são
utilizados para benefício de produtores e não mútuo entre trabalhador e produtor.
Seguidamente, na análise referente a ANA buscou-se mais a exposição de seus trabalhos e
como eles são fortemente ligados aos conceitos vistos em sala e por último uma conclusão
buscando sintetizar a ideia contida na produção textual.
Bancada ruralista
Utilizando das informações oferecidas pela FPA, usada como representante da
bancada ruralista, ações de seus membros e instrumentos legislativos propostos por eles,
desenvolveu-se uma série de contraposições entre o discurso demonstrado pela bancada e
suas reais ações.
De acordo com a Frente Parlamentar Agropecuária(FPA), principal representante da
bancada ruralista, “Durante a Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988, um
grupo de parlamentares ligados à agropecuária deu os primeiros passos na defesa dos
interesses do setor. A Frente Ampla Ruralista trabalhou mobilizando-se na busca de uma
legislação que assegurasse, principalmente, os direitos de propriedade”
Primeiramente, ao analisar essa narrativa encontra-se uma peculiaridade ao ser dito que
durante a Assembleia Nacional Constituinte foram dados os primeiros passos em defesa do
setor agropecuário, não havia quem apoiasse esse setor antes?
Tendo seus principais ciclos comerciais voltados a produção agrícola, o Brasil buscou
defender seus interesses econômicos criando métodos de auxiliar seus produtores, como com
o café por exemplo que possuiu grande apoio governamental durante a Era Vargas(1930-
1945) que chegou a criar o Conselho Nacional do Café e cedeu diversos subsídios aos
produtores. Outra medida tomada mais tarde pelo governo militar foi o Crédito rural:
lei 4.829/65
Art. 2º. Considera-se Crédito Rural o suprimento de recursos financeiros por
entidades públicas e estabelecimentos de crédito particulares a produtores rurais ou
suas cooperativas para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem nos
objetivos indicados na legislação em vigor.
E não pode-se negar a existência de verdadeiras oligarquias políticas de latifundiários
que entram no meio político em busca de defender seus próprios interesses de produtores e
donos de grandes riquezas.
Continuando analisando a narrativa da FPA;
3. “O objetivo da FPA é estimular a ampliação de políticas públicas para o
desenvolvimento do agronegócio nacional. Dentre as prioridades atuais estão a modernização
da legislação trabalhista, fundiária e tributária, além da regulamentação da questão de terras
indígenas e áreas quilombolas, a fim de garantir a segurança jurídica necessária à
competitividade do setor.”
Esse trechos aborda diversos temas importantes rapidamente, primeiramente a
legislação trabalhista, seguidamente a legislação fundiária, e questões importantes de grupos
étnicos como a questão de terras indígenas e quilombolas, Tudo com a finalidade de garantir a
segurança jurídica para a competitividade. Analisando-os separadamente:
Modernização da legislação trabalhista
Tendo em vista que o meio rural possui recorrente casos de trabalho escravo e análogo
à escravidão, seria sensato crer que a bancada ruralista ao realizar uma modernização da
legislação trabalhista pensaria em meios legais de evitar o trabalho escravo, melhorar a vida do
trabalhador rural e tornar mais claro o discernimento entre o que é criminoso e o que é legal.
Contudo, infelizmente não é isso o que ocorre, Nilson Leitão, presidente da FPA, com
o projeto de lei 6442/2016 busca alterar a legislação referente ao trabalho rural com diversos
pontos que buscam o aumento do lucro em detrimento da qualidade de vida do trabalhador
como a possibilidade da extensão do trabalho por 12h, não seguimento da CLT, pagamentos
de qualquer espécie(comida,moradia...)e acordos ou convenções coletivas acima da
legislação.Ademais, houveram também a Proposta de Emenda à Constituição 438, visando
tornar a jornada de trabalho para 10 horas, e diversas falas de membros da bancada defendendo
o aumento da carga horária e punições mais brandas à escravidão.
Além de possibilitarem que produtores que utilizam de trabalho escravo usufruam
dessa lei para saírem impunes por brechas legais é uma clara desvalorização das lutas e
direitos conquistados pelos sindicatos e ligas campesinas durantes anos de longos processos
junto ao ministério público do trabalho e da justiça do trabalho para melhor qualidade das
relações trabalhistas rurais.
Legislação fundiária
É de conhecimento de grande parte da população o quão concentrada é a posse de
terras no Brasil, como poucos tem uma área enorme e muitos tem uma área pequena. Essa
estrutura fundiária concentrada se reflete em diversos problemas sociais vividos atualmente
como o aumento do desemprego, trabalho informal, favelização, entre outros. Uma solução
para tal problema seria uma distribuição mais igualitária da terra que permitisse que a
população rural mantivesse seus costumes relativos ao campo, sendo capaz de produzir para
comércio ou subsistência, a reforma agrária. A final, são os pequenos produtores quem mais
produzem no final,
Novamente o caminho tomado pela bancada ruralista é diferente daquele que é tido
como melhor para a população, ao invés de apoiar medidas favoráveis à reforma agrária que
4. permitem que a pequena agricultura sobreviva e se desenvolva aumentando a produção de
alimentos, a bancada busca meios de defender os latifúndios improdutivos e não a função
social da terra, que é a preservação ambiental, seguir a legislação, o bem estar e a produção
econômica.
Exemplos que confirmam o dito acima, Projeto de Lei do Senado 107/2011, autoria
de Kátia abreu, pecuarista, que busca mudar a forma como é analisada a produtividade,
disfarçando terras improdutivas; PEC 80/2019, Senador Flávio Bolsonaro e outros 26
senadores, retirar a necessidade de comprimento simultaneo das propriedades urbanas e
rurais, impossibilitando que uma propriedade que não cumpra completamente com sua
função social seja redistribuída.
Terras indígenas e quilombolas
Os indígenas e quilombolas são povos que fazem e fizeram parte de importantes
momentos da história brasileira, são povos tradicionais, se organizam de forma distinta à
nossa e usam o ambiente e seus recursos para manter sua cultura com práticas e tecnologias
passadas por gerações. Apesar de merecerem ser tratados com toda honra e respeito de povos
ancestrais, são vandalizados, massacrados e expulsos de suas terras por interesses
econômicos, e é inegável o papel que o agronegócio possui nessa brutalidade
Outra vez, infelizmente, as condutas da bancada ruralista se mostram imorais e vão
contra aquilo que pensamos ser certo. Não só com frases racista e discriminatórias ditas pelos
ruralistas, mas também diversas acusações contra membros da bancada ruralista de ataques à
indígenas utilizando da força para, como no processo de colonização, expulsar eles de suas
terras . A terra é um meio de integração importantíssimo para essas populações, há áreas
únicas de relações culturais que ao serem privadas alteram toda a relação ancestral que havia.
Desse modo, é notável que as atitudes da Bancada Ruralista visam a piora das condições
trabalhistas, maior impunidade do trabalho escravo e o avanço massivo sobre terras
protegidas, tudo isso a fim de garantir a competitividade do setor, de modo desumano,
tentando usar de leis imorais para justificar seus atos.
Articulação nacional de agroecologia(ANA)
A ANA é o ponto de encontro dos diversos movimentos à favor da agroecologia,
produção familiar e desenvolvimento sustentável, sendo o local para discussão entre as
iniciativas de suas diversas sedes, promover propostas de aprimoramento ou criação de
políticas e a promoção da agroecologia no meio social.Entre seus principais focos estão a
conservação e uso sustentável, focado principalmente na conservação de sementes regionais,
o protagonismo feminino, a soberania e segurança alimentar e a reforma agrária.
A articulação utiliza os conceitos de segurança e agricultura orgânica de modo muito
detalhado e a partir de análise das atividades de diversas propriedades produtoras. A
definição dada por eles para segurança e soberania alimentar é: é preciso alimento suficiente,
de qualidade e regular para alimentação das famílias, respeito a cultura alimentar, acesso à
água potável, produção suficiente para gerar excedente para venda, gerar renda para
suprimento de necessidades essenciais, produção das próprias sementes e “cuidado e a
valorização permanente dos recursos naturais e a manutenção da agrobiodiversidade”.
5. Para além disso, afirmam que é “antes de tudo uma briga por terra, pelo direito
fundamental da terra e de trabalho, da terra do sustento da família”(GT
SSA/ANA,2010,p.75), pondo a reforma agrária, luta contra o problema da concentração
fundiária, como um ponto essencial para que a agricultura familiar possa se manter e a
promoção da autonomia dos agricultores à recursos externos.
É interessante buscar como ANA define agroecologia, afinal é a articulação nacional
desse meio, a definição mais próxima encontrada sobre agroecologia foi: “ forma de
produção de alimentos em sintonia com os processos naturais e as características de cada
região promove a otimização dos recursos disponíveis, gerando uma maior autonomia dos
agricultores em relação à compra de insumos externos para a produção e a dinamização dos
sistemas agroalimentares. “ (GT SSA/ANA,2010,p.75)
Um discurso coerente e que é posto em prática, confirmada pela análise dos diversos
projetos e movimentos promovidos pela articulação, e apenas peca ao não citar os lados
sociais e culturais da agroecologia como o feminismo e herança cultural, mas é citado em
outros locais entre as informações da ANA.
A mulher na ANA
A ANA promove diversos eventos e projetos voltados para mulher no campo, como a
Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, Encontro Nacional Mulheres em Luta
por Soberania Alimentar e Energética e reportagens voltadas ao reconhecimento do trabalho
feminino no campo. Com o lema “Sem feminismo não há agroecologia” são evidenciados os
diversos obstáculos enfrentados pela mulher não só no campo, mas também no meio urbano,
com eventos, palestras e marchar.
Conservação de sementes regionais
Uma luta importantíssima contra a destruição da autonomia e heranças culturais dos
produtores agroecológicos é a de conservação de sementes regionais, sementes crioulas, a
preservação das variedades de diversas espécies. A perda da manutenção das sementes
geraria, além da dependência à elementos externos à propriedade e grandiosíssima perda de
um importante elemento cultural e material genético trabalhado por diversas gerações, a
incapacidade de lutar contra monopólios de sementes que cada vez mais buscam impor
sementes transgênicas, com estudos duvidosos e pouco consentâneo com seus efeitos, aos
produtores que antes utilizavam sementes naturais.
Conclusão
Após a análise do discurso da bancada ruralista e da ANA, percebe-se no discurso da
Bancada ruralista que qualquer interesse social de minorias é desvalorizado para que sejam
mantidas as estruturas de poder vigentes há séculos, mesmo que certas mudanças, como a
reforma agrária, gerem mais produção e diversidade produtiva. Por outro lado há instituições
como ANA que põem o lado social e sustentável acima de interesses de poder, visando uma
produção mais equilibrada e menos tóxica ao ambiente, proteger métodos produtivos dos
pequenos produtores familiares e práticas culturais ancestrais.