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O cachorro dos mortos           Ele disse: Tu não sabes
                                Que meu pai possui dinheiro
Leandro Gomes de Barros         Em terras e criações
                                É o maior fazendeiro?
Os nossos antepassados          Ela disse: O meu pai é pobre
Eram muito prevenidos           Planta, cria e é ferreiro
Diziam: matos têm olhos
E paredes tem ouvidos           Minha mãe tece de ganho
Os crimes são descobertos       Nós vivemos de costura
Por mais que sejam escondidos   Meu pai vive de sua arte
                                E de sua agricultura
Em oitocentos e seis            Meu irmão é empregado
Na província da Bahia           Para que maior ventura?
Distante da capital
três léguas ou menos seria      O sedutor conheceu
Sebastião de Oliveira           Seus planos serem debalde
ali num canto vivia             E só podia vencê-la
                                Por meio de falsidade
Ele, a mulher e duas filhas     Que é a arma mais própria
E um filho já homem feito       Aonde existe a maldade
O rapaz era empregado
E estudava direito              Saiu dali Valdivino
O velho não era rico            Fedendo a chifre queimado
Mas vivia satisfeito            E Angelita ficou
                                Com o coração descansado
As duas filhas eram moças       Nem disse aos outros de casa
Bonitas e encantadoras          O que tinha passado
Logravam na capital
O nome de sedutoras             Ele pensou em forçá-la
Chamavam atenção de todos       Mas pensou no resultado
As grandes tranças tão louras   Devido o pai de Angelita
                                Ser muito considerado
Esse velho era ferreiro         O filho pelo governo
E ferreiro habilitado           Era tão conceituado
Vivia ali do ofício
Plantando e criando gado        Exclamou ele consigo:
Por três vezes enjeitou         oO! Angelita és tão bela
O cargo de delegado             Eu não sossegarei mais
                                E nem me esquecerei dela
Havia um vizinho dele           Farei tudo para vencê-la
Eliaziário Amorim               Porém não caso com ela
Esse tinha um filho único
Da espécie de Caim              Mas Valdivino temia
Enquanto o espanhol velho       O pai dela e o irmão
Até não era ruim                Que o governo da província
                                Tinha-lhe muito atenção
O filho deste espanhol          O rapaz era empregado
Era uma fera carniceira         E tinha consideração
Veio provocar namoro
Com as filhas de Oliveira       Valdivino inda pensou
Uma delas disse a ele:          Que matando Floriano
De nós não há quem o queira     Podia calçar com ouro
                                Todo governo bahiano
                                Ainda que entrasse em júri
                                Não passava nem um ano
Ou poderia matá-lo             Passava ali Floriano
Oculto numa emboscada          A fera então enfrentou-o
Porque ninguém vendo o crime   Disparou o bacamarte
Ele não sofria nada            Sem vida em terra lançou-o
Defunto não conta história     Calar partiu ao sicário
Estava a questão acabada       O assassino amarrou-o

Havia ali um engano            As moças lá da fazenda
Entre Vitória e Bahia          Ouviram o grande estampido
A divisão das províncias       Angelita se assustou
Ali ninguém conhecia           Dizendo: O que terá sido?
Sebastião de Oliveira          O tiro foi para o lado
Era o único que sabia          Que seu irmão tinha ido

O governo da província         Angelita convidou
Tendo aquela precisão          A sua irmã Esmeralda
Disse um dia a Floriano        Dizendo: Vamos aqui
Você vá em comissão            A passeio pela estrada
Chamar seu pai para vir        Aquele tiro que deram
Mostrar a demarcação           Deixou-me sobressaltada

Valdivino de Amorim            No sertão naquele tempo
Viu Floriano passar            Podia uma moça andar
Escolheu o lugar próprio       Passava dois ou três meses
Onde pudesse emboscar          Sem nem um homem passar
Dizendo dentro de si:          Por isso foram elas duas
Ele não pode escapar           Não tinha o que recear

A fera foi emboscá-lo          Iam ali conversando
Onde havia uma capoeira        Sobre a aragem matutina
Carregou um bacamarte          Disse Esmeralda à irmã:
Fez duma árvore trincheira     Olha para o céu, menina
Distante um quarto de légua    Estás vendo aquelas estrelas
Da fazenda de Oliveira         Como têm a luz tão fina?

O rapaz chegou em casa         Chegaram aonde o irmão
O velho tinha saído            Estava morto na estrada
Foi ver se achava um jumento   O criminoso no mato
Que havia se sumido            Atirou em Esmeralda
Um amigo lhe escreveu          E enfrentou Angelita
Que lá tinha aparecido         Dizendo: Não diga nada

O Floriano chegou              Angelita muito pálida
Depois que o velho saiu        Sem estar esmorecida
Nessa tarde não voltou         Vendo os dois irmãos já mortos
Com a família dormiu           Por uma mão homicida
Deu o recado à mãe dele        Lhe disse: Monstro tirano
De madrugada seguiu            Eu morro e não sou vencida

Calar um cachorro velho        Ele disse: Angelita
Que Sebastião criou            Com tudo isso sou teu
Quando Floriano saiu           Foi dar-lhe um beijo nos lábios
Calar o acompanhou             E Angelita mordeu
Floriano quis voltar           Ele cravou-lhe o punhal
Porém Calar não voltou         Ela ali esmoreceu
Pondo a mão na punhalada      Contudo monstro, perdôo-te
Disse: Monstro desgraçado     Porque fui e sou cristã
Aquele velho cachorro         A morte do meu irmão
Que está ali amarrado         A minha e de minha irmã
Descobrirá este crime         Tu hoje matas a mim
E tu serás enforcado          Outro te mata amanhã

Olhou para o gameleiro        E pondo a mão sobre uma
Que tinha junto a estrada     Das punhaladas que tinha
Dizendo: Tu gameleiro         Disse a Calar: Se fugires
Viste esta cena passada?      Consola a minha mãezinha
És uma das testemunhas        E diga-lhe que abençoe
Quando a hora for chegada     Os pobres filhos que tinha

Na última agonia              Embora que tu não fales
Exclamou: Monstro assassino   Pois não te foi concedido
Tirastes agora três vidas     Mas um olhar bem lançado
E não sacias o destino?       Dá idéia dum sentido
Isso hei de te lembrar        Um uivo e um olhar
Perante o juiz divino!        Pode ser compreendido

Não julgue que fique impune   E ali cerrando os olhos
Este sangue no deserto        Quase sorrindo expirou
Tu não vês três testemunhas   O assassino olhando
Que estão aqui muito perto    Chorando se retirou
Estás perante ao público      Depois pensou: Isto é nada!...
Irão depor muito certo        Com toda calma voltou

Disse Valdivino: És louca     Já estava frio o cadáver
Quem viu o que foi passado?   Porém nas faces mimosas
Disse Angelita: Este cão      Via-se perfeitamente
Que está ali amarrado         Desenho de duas rosas
A gameleira e as flores       Como se fossem pintadas
Dirão no dia chegado          Por mãos das mais curiosas

Olhou para o cão e disse:     Em Esmeralda se via
Olha, meu velho Calar         O sangue ainda saindo
Tu dirá tudo ao juiz          Vestígio de zombaria
Se ele te perguntar           Como quem morre sorrindo
Essa velha gameleira          Como criança que brinca
Fica para te ajudar           Finge que está dormindo

Essa flor que por ela         O rapaz banhado em sangue
Há festa aqui todo ano        Bem no meio da estrada
Há de tirar a justiça         À esquerda de Angelita
De uma suspeita ou engano     À direita de Esmeralda
Dirá ao juiz: Venha ver       Com uma mão na ferida
Quem matou o Floriano!        E a outra mão estirada

As três vidas que roubaste    Valdivino tinha à noite
Pagarás com sua vida          Escrito numa carteira:
Tu hás de te arrepender       "Eu hoje hei de matar
Depois da causa perdida       Floriano de Oliveira
Uma lágrima vertida           Se não matá-lo me mato
Será por teu pai vertida      Será a minha derradeira"
Datou-a e assinou o nome    Como não foi seu espanto
Pegou a arma e saiu         Quando chegou no lugar
Se encostou num gameleiro   Onde achou os filhos mortos
A carteira escapuliu        Sem nada ali atinar
Havia um oco da árvore      Calar sabia de tudo
Nele a carteira caiu        Mas não podia falar

A fera não se lembrou       Voltou Maria da Glória
Da testemunha ocular        Num triste e penoso estado
Perdendo aquela carteira    Já Sebastião em casa
Alguém a podia achar        A esperava sentado
Ela na mão da justiça       Não sabia da desgraça
Quem poderia o soltar?      Que a pouco tinha se dado

Porém uma força oculta      Perguntou pela família
Permitiu que ele perdesse   Ela não pôde contar
E a mesma força impôs       Disse apenas: Morreu tudo
Que dela se esquecesse      E apontou o lugar
Para dizer a seu tempo:     Estendeu-se para um lado
O assassino foi esse!       Sem mais nada atinar

Calar, o velho cachorro     Sebastião de Oliveira
Que aquele espetáculo via   Foi por onde a mulher veio
Soltando uivos enormes      Achou a poça de sangue
Que muito longe se ouvia    Os filhos mortos no meio
Rosnava, fitava os olhos    Olhou para o céu e disse:
Debalde a corda mordia      Oh! Meu Deus que quadro feio

Valdivino ali puxando       Foi perguntar à mulher
Um facão muito afiado       Como aquilo foi se dado
Descarregou no cachorro     Ela apenas lhe contou
Um golpe encolerizado       O que tinha passado
Errou e cortou a corda      Deixando o ancião
Com que estava amarrado     Aflito e impressionado

Valdivino ficou triste      Montou num burro e saiu
Vendo o cachorro correr     Dali para a capital
Lembrou-se o que Angelita   Quando chegou na cidade
Disse antes de morrer       Foi ao quartel general
Porém disse: Ele não fala   Lá falou mais duma hora
Como poderá dizer?          E nada disse afinal

Calar chegou na fazenda     Depois de muita insistência
Uivando desesperado         O presidente entendeu
Dona Maria da Glória        Perguntou por Floriano
Já tinha levantado          Ele lhe disse: Morreu..
Quando viu o cão uivando    Ele e a família toda!...
Aí cresceu-lhe o cuidado    E contou o que se deu

E foi procurar os filhos    A justiça foi atrás
Onde ouviu os estampidos    Ver o que tinha se dado
Calar foi adiante uivando   Encontrou os três cadáveres
Com enormes alaridos        No chão em sangue banhado
Dona Maria da Glória        Calar inda estava uivando
Ia aguçando os ouvidos      Junto dos mortos deitado
Foram à casa de Oliveira       Eliziário era um desses
Ver se Maria da Glória         Abortos que tem havido
Dava um roteiro que ao menos   Desses que o pão que come
Se calculasse uma história     Considera estruído
Ela contou essa mesma          Fazer-lhe o mal é pecado
Que eles guardam na memória    Fazer-lhe o bem é perdido

Dona Maria da Glória           Esse era fazendeiro
Dois dias depois morreu        Porém dali não saía
Sebastião de Oliveira          Nem era bem conhecido
Com três dias enlouqueceu      No comércio da Bahia
Dentro de duas semanas         Só onde vendia lã
Tudo desapareceu               Alguém lá o conhecia

A justiça da Bahia             E o dono do açougue
Não cessou de procurar         Onde ele vendia gado
Espalhou por toda parte        O banco onde ele tinha
Secretos a indagar             Dinheiro depositado
Não havia uma pessoa           Tanto que deu-se esse crime
Que dissesse: Eu vi matar      E dele não foi lembrado

Dava dez contos de réis        Sentiu e chorou bastante
Na moeda que quisesse          A morte do camarada
À pessoa que chegasse          E não foi à missa dele
E seriamente dissesse          Por não ser de madrugada
Teria mais um terreno          Pois só tinha uma camisa
A pessoa que soubesse          E essa estava rasgada

Porém o crime se deu           Também procurou saber
Quando ali ninguém passava     Qual seria o assassino
Calar sabia tudo               Não sei se pelo dinheiro
Porque no crime ele estava     Ou pelo próprio destino
Se falasse descobria           Mas nunca lhe veio na mente
Desejo não lhe faltava         Ser seu filho Valdivino

Impressionava a todos          Onde deu-se o crime havia
Habitantes da cidade           Duas estradas em cruz
Como deu-se aquele crime       Diziam que ali se achavam
Naquela localidade             Umas flores muito azuis
Floriano de Oliveira           Formando uma lapa igual
Todo lhe tinha amizade         À do menino Jesus

Atribuiu-se a um roubo         Os baianos costumavam
Por algum aventureiro          Desde da antigüidade
Mas o rapaz costumava          Fazerem uma grande festa
A não andar com dinheiro       Naquela localidade
Questão de moça não era        Véspera e dia de ano
Ele era justiceiro             Ali era novidade

Os moradores de perto          Na capital da Bahia
Eram todos conhecidos          Não havia outro festim
Compadres dele e do pai        Havia missa campal
E por eles protegidos          Orquestra e botequim
Tanto que se dando o crime     Bailes naquelas latadas
Todos ficaram sentidos         Bem cobertas de capim
Em oitocentos e nove         Então disse o general:
Estava a festa a terminar    Isso ainda é descoberto
Um velho que ali passava     O crime foi muito oculto
Passou naquele lugar         Feito aqui neste deserto
Atrás desse caçador          Mas quando chegar o dia
Vinha o cachorro Calar       Há de saber-se por certo

Abrigou-se numa sombra       Se eu vivo for nesse tempo
Vinha muito esbaforido       Serei o algoz mais forte
Foi cheirar o pé da cruz     Serei um dos que conduz
Que o senhor tinha morrido   Para o teatro da morte
Cheirou a das duas moças     Com a minha própria mão
E depois soltou um gemido    Amolo o ferro que o corte

Estava ali um general        O cachorro ouvindo aquilo
O bispo e o presidente       Ergueu-se muito contente
Com o chefe da polícia       Foi aos pés do general
Homem muito experiente       Festejou o presidente
Todos ficaram daquilo        Como quem dizia: O crime
Impressionadamente           É punido corretamente

O general perguntou          Disse o bispo: Esse cachorro
De quem era aquele cão       É testemunha ocular
Respondeu o velho Pedro:     Ele viu quem fez as mortes
Este cachorro patrão         Só faltava é ele apontar
É do defunto Oliveira        Se ele visse o criminoso
Que Deus dê-lhe a salvação   Podia lhe denunciar

Este cachorro é o rei        Disse o velho: Esse cachorro
Dos cachorros caçadores      Fez uma coisa esquisita
Ainda adora o lugar          Tinha uma cobra enroscada
Que mataram seus senhores    Onde mataram Angelita
Se fosse de madrugada        Ele despedaçou-a a dentes
Seus uivos faziam horrores   Quase que se precipita

Disse o chefe de policia:    Disse o velho: Esse cachorro
Inda não se descobriu        Aos pés da cruz se lança
A morte de um patrício       Solta um uivo muito triste
Que tanto à pátria serviu    Como quem pede vingança
Foi logo nesse deserto       Como quem pede debalde
Em horas que ninguém viu     Sem ter daquilo esperança

Disse ali o presidente:      Nisso chegou um cavalheiro
Se ainda se descobrir        Valdivino de Amorim
O autor dessas três mortes   Andava fora inda vinha
Eu juro por Deus o punir     Ver se alcançava o festim
Serei o carrasco dele        Vinha num burro possante
Quando ele à forca subir     Alvo da cor de jasmim

Sebastião de Oliveira        Assim que o cachorro viu
Era um pobre acreditado      Valdivino se apear
A família deu exemplo        Rosnou e partiu a ele
O filho um rapaz honrado     Querendo lhe estraçalhar
Era um rapaz distinto        Só não rasgou-lhe a garganta
Por todo mundo estimado      Devido o velho pegar
Tremia o queixo e babava      Ali trouxeram a carteira
Fitando ali Valdivino         Entregaram ao general
Uivava como quem já           O bispo disse: Senhor
Tivesse perdido o tino        O que lhe disse afinal
Só faltava era dizer          Eu não lhe disse que os olhos
— Eis aí o assassino!         Só diz o que é legal?

E foi para o pé da cruz       Valdivino descobriu tudo
E ali pegou a uivar           Em sua interrogação
Fitando os olhos no céu       Calar ali demonstrava
Como quem quer suplicar       Ter grande satisfação
Como quem dizia: Oh! Deus     Pulava um metro de altura
Vens que não posso falar!     E rolava pelo chão

O bispo disse: Valdivino      Corria escaramuçando
Você está descoberto          Como quem estava em folia
O senhor foi autor            Festejou o general
Das mortes neste deserto      Com demarcada alegria
Aquele cachorro deu           Como quem dizia: Nesses
Um depoimento certo           Encontrei o que queria

O monstro viu o perigo        O povo todo da festa
Fez tudo para negar           Quis a Valdivino linchar
O bispo disse: Meu filho      O bispo e o presidente
Não há mentira em olhar       Tratou de acomodar
Os olhos são verdadeiros      Garantindo que a justiça
Não podem nada ocultar        Havia de o castigar

Os olhos também se queixam    Saiu preso Valdivino
Um olhar diz o que sente      Calar o acompanhou
Ameaça ou traição             O velho Pedro chamava
Punição severamente           Mas ele não escutou
Declara mágoa ou dor          Voltou quando Valdivino
Porém o olhar não mente       Preso nos ferros deixou

O olhar daquele cão           O general ao sair
Está demonstrando a dor       Ordenou ao cozinheiro
O sentimento profundo         Que desse ao velho Calar
Da morte do seu senhor        Um bom lombo de carneiro
Ele só falta falar            Porque merecia muito
E apontar o matador           Aquele bom companheiro

Naquilo duas crianças         O criado deu o lombo
Que estavam em brincadeira    Calar nem para ele olhou
Uma delas se trepou           Saiu o povo da festa
Num galho de gameleira        E o lombo lá ficou
Tirando um ninho de rato      O cachorro veio comer
Achou nele uma carteira       À noite quando voltou

O leitor deve lembrar-se      A mulher de Eliziário
De um verso que aqui já leu   Sabendo o que aconteceu
Veja na véspera do crime      Deu-lhe um ataque tão forte
O que Valdivino escreveu      Que ela no chão se estendeu
E que no oco da gameleira     Passou a noite sem fala
A carteira se perdeu          No outro dia morreu
Juvenal um espanhol             Não havia mais recurso
Parente de Eliziário            Estava tudo consumado
Chegando lá disse ao velho:     O réu dali a três dias
— você é milionário             Ia ser executado
Compre três ou quatro médicos   Não tinha mais o que apelar
Que provem ele está vario       Já tinha sido julgado

Porque ele estando vário        O velho quase sem jeito
Não poderá ser julgado          Sem nada mais conseguir
O processo fica inválido        Tentou o último meio
Não pode ser condenado          A fim do filho fugir
Aí o senhor procura             Mas só dos degraus da forca
O melhor advogado               Podia se escapulir

Eliziário pensou                Então soube que o carrasco
Aquilo ser acertado             Era um tal de Zeferino
Do contrário Valdivino          Um calibre mais ou menos
Ia ser executado                Igual o de Valdivino
E tinha toda certeza            Tinha os três dons da desgraça
Ele morrer enforcado            Covarde, vil, assassino

Dirigiu-se à capital            Era um mulato laranjo
Procurou advogado               De aspecto aborrecido
Este arrumou cinco médicos      O couro da testa dele
Sendo o réu examinado           Sempre se via franzido
Provaram que há quatro anos     Os cabelos bem vermelhos
Ele era tresloucado             Rosto largo e não comprido

O bispo e o presidente          Foi o velho Eliziário
Consultaram ao general          A esse tal Zeferino
Mandaram vir quatro médicos     Ver se ele podia dar
No reino de Portugal            Evasão a Valdivino
E fizeram na Bahia              Dizendo: Ele pula da forca
Uma junta especial              E depois toma destino

Vieram de Portugal              Pegue dez contos de réis
Quatro médicos escolhidos       Que lhe dou adiantado
Que por dinheiro sem conta      E se tiver a fortuna
Não seria iludidos              Dele não ser enforcado
Esses homens de caráter         Dar-lhe-ei mais vinte contos
Jamais seriam vendidos          O dinheiro está guardado

E examinaram o réu              Então disse Zeferino
Cada médico de per si           — Isso é difícil arranjar
Todos disseram que nunca        Porém quando ele subir
Houve tal loucura ali           Eu finjo me desculpar
Nem sequer nervoso havia        Ele que vai prevenido
Todos juraram aí                Trata logo de saltar

Fizeram novo processo           Disse Zeferino ao velho:
Depois dele examinado           O senhor deve aprontar
E estando pronto o processo     Um cavalo bem ligeiro
Valdivino foi julgado           Para quando ele saltar
A sentença que pegou            Montar-se logo e correr
Foi para ser enforcado          Antes do povo chegar
Eu hoje direi a ele            Foi preso Eliziário
Tudo que está planejado        Como autor da evasão
Que cor será o cavalo          O povo não o matou
Que há de está selado?         Porém foi para a prisão
— Diga que é o poldro branco   E o bispo que saiu
Em que ele andava montando     Pedindo à população

Valdivino quando soube         Era meia-noite em ponto
Esta consulta que havia        Valdivino ainda corria
Ficou como uma criança         O cavalo já cansado
Chorava ali de alegria         Que nada mais resistia
Jurando no mesmo instante      E o cachorro Calar
Que Calar lhe pagaria          De vez enquanto latia

Então quando chegou o dia      Valdivino conhecendo
Estava o povo aglomerado       Que nada a ele valia
Valdivino de Amorim            E o cachorro Calar
Ia ser executado               Seu rastro não deixaria
Tudo ali estava esperando      Pensou em suicidar-se
Vê-lo morrer enforcado         Só assim descansaria

Presente ao estado maior       Dentro do mato apoiou-se
Que vinha presenciar           E amarrou o cavalo
Subiu Valdivino à forca        Encostou-se numa pedra
Zeferino foi laçar             Sentiu alguém acordá-lo
Porém ele se encolhendo        Nisto o cavalo espantou-se
Conseguiu dali saltar          Ele não soube pegá-lo

E saiu como uma flecha         Seguiu por uma vereda
Entre o povo se meteu          Descalço e todo rompido
Se montando no cavalo          Ouvindo de vez enquanto
Dali desapareceu               Calar soltar um ganido
Internando-se no mato          Foi sair bem no lugar
Num instante se escondeu       Que o crime tinha havido

O povo indignou-se             Ele viu a gameleira
Com a fuga de Valdivino        Que sombreava a estrada
Um deles que ali estava        Floriano de Oliveira
Estrangulou Zeferino           Angelita e Esmeralda
Porque este tinha dado         Sebastião de Oliveira
Evasão ao assassino            E dona Maria prostrada

Porém chegou o cachorro        Viu vir uma carruagem
Quase na ocasião               Nela vinha um magistrado
Soltou dois ou três latidos    Que saudou os três vultos
Saiu de venta no chão          Depois de ter se apeado
Sessenta e três praças foram   Exclamou: Sangue inocente
Também em perseguição          Breve hás de ser vingado!

Porém Valdivino ia             Tornou a tomar o carro
Em bom cavalo montando         Se montando foi embora
Tinha grande desvantagem       Nesse momento Calar
De não ter saído armado        Vem com a língua de fora
E Calar no rastro dele         Festejou todos os vultos
Gania muito vexado             E voltou na mesma hora
Um dos vultos chamou ele      Veio ali o presidente
O cachorro estacou            Que trouxe um pão e lhe deu
Valdivino não ouviu           Calar olhou para ele
O que o fantasma falou        Cheirou-lhe os pés e gemeu
Só ouviu foi dizer: Volte     Botando o pão entre as mãos
E o cachorro voltou           Deitou-se e ali comeu

O criminoso pensou            Chegou a força do mato
Que ali não escaparia         Não trazendo o criminoso
Lembrou-se duma pessoa        O general com aquilo
Que morava na Bahia           Ficou muito desgostoso
Pois tinha onde ocultá-lo     Até o governador
Que nem o cachorro via        Ficou doente e nervoso

Era um compadre e amigo       O povo ao redor da forca
A quem ele protegeu           Só fazia lamentar
Que com dinheiro do pai       Que o pai do assassino
Esse tal enriqueceu           Deverá se executar
E ia sempre visitá-lo         Tudo pedia ao governo
Quando a justiça o prendeu    Que o mandasse enforcar

Valdivino calculou:           O cachorro levantou-se
Eu o que devo fazer           Como quem está chamando
É ir para o quintal           Foi à casa de Roberto
Por ali me esconder           Na porta ficou uivando
Ou ele ou a mulher dele       Olhava para Roberto
Um há de me aparecer          Partia a ele rosnando

E saiu o assassino            O general com aquilo
Chegando lá se escondeu       Ficou bastante nervoso
Não houve ali quem o visse    E disse ao governador:
Quando o dia amanheceu        Estou muito receoso
O compadre veio fora          Que ali naquela casa
E ele lhe apareceu            Está oculto o criminoso

Valdivino lhe pediu           Então a força cercou
Que não o deixasse morrer     Toda casa de Roberto
Disse o velho Roberto:        O cachorro só faltava
Eu tenho onde te esconder     Era dizer: Está perto
Porém ninguém mais daqui      O general disse a ele:
Disso não pode saber          O senhor está descoberto

Quatros dias decorriam        Roberto ali descobriu
E o assassino escondido       Onde o assassino estava
Debaixo dumas madeiras        Debaixo das madeiras
Estava ele metido             O monstro se conservava
O pai dele na cadeia          Foi levado ao pé da forca
Já ia ser concluído           Onde o povo lhe esperava

Num dia de quarta-feira       Contou tudo que se deu
O velho Calar chegou          Antes de ser enforcado
A força ainda estava armada   Os vultos que viu nas cruzes
Calar ali a olhou             A quem tinha assassinado
Cravando a vista no céu       O segredo do cachorro
Um uivo triste soltou         E o carro do magistrado
Às cinco horas da tarde          Saíram cinco ou seis praças
A justiça o enforcou             Em procura de Calar
O pai dele estava preso          O general tinha dito
Assim que o sino dobrou          Não voltem sem o achar
Ali soltando um suspiro          Tragam ele direitinho
Na mesma hora expirou            Não o façam maltratar

Estando morto o assassino        Os praças foram ao lugar
O deitaram sobre o chão          Onde o crime tinha havido
O cachorro olhou-o bem           Onde a família Oliveira
Chamando tudo atenção            Tinha toda sucumbido
Soltou dois ou três latidos      Bem no pé duma das cruzes
Que espantou a multidão          Tinha o velho cão morrido

Quando a justiça ordenou         Tinha posto termo a vida
Pra ser o corpo inhumado         O maior dos lutadores
Sobre os pés do general          O que em sua existência
Calar caiu mui cansado           Viu o horror dos horrores
Talvez querendo dizer            Que sem falar descobriu
General, muito obrigado          Quem matou os seus senhores

O general foi ver água           O general quando soube
Ao cachorro ofereceu             Da forma que o tinham achado
Ali o velho Calar                Mandou fazer uma cova
Dois litros d'água bebeu         E nela foi enterrado
Trouxeram-lhe uma fritada        Um dos amigos mais firmes
Porém ele não comeu              Que no mundo foi criado

Festejando o general             E nas mortes dos senhores
As pernas dele abraçou           Ele afirmou ter ação
Dirigiu-se ao presidente         Provou que tinha amizade
A mesma ação obrou               Ao velho Sebastião
Depois desapareceu               A morte só foi vingada
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Foi direitinho ao lugar          Só não fez foi dizer nada
Que o horrendo crime se deu      Mas provou por sua vez
No pé da cruz de Angelita        Apontou só com a vista
Ele cavou e gemeu                O monstro que os crimes fez
O velho Pedro chamou-o           Seus olhos diziam ao público
Mas ele não atendeu              Esse matou todos três

Deitou-se entre as três cruzes   Deitou-se encostado às cruzes
Sua vida liquidou                Que tinham edificado
Nas condições dum guerreiro      Tinha morrido há três dias
Que da batalha voltou            E nem sequer estava inchado
Trazendo os louros de guerra     Como quem dizia: Agora
À sepultura baixou               Posso morrer estou vingado

O general quando soube           Mais de duzentas pessoas
Que Calar era sumido             Assistiram enterrar ele
E que fazia três dias            Devido à grande firmeza
Que não era aparecido            Que tinha se visto nele
Mandou gente procurá-lo          Muitas flores naturais
Ficando muito sentido            Deitaram na cova dele
Agora vejam leitores           E só ia para o mato
Quem era o velho Calar         Quando o senhor lhe chamava
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Um dia pôde o achar            Depois de terem morrido
Ele tinha cinco dias           Os senhores de Calar
O dono ia o matar              O pobre cão toda noite
                               Ia para aquele lugar
Então o velho Oliveira         Olhava para as três cruzes
Achou ser ingratidão           Levava a noite a uivar
Matar aquele inocente
Embora fosse ele um cão        Latia e fitava o céu
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Não se faz só a cristão        Via sangue no capim
                               Ele cobria com pó
E levou-o para casa            Não queria ir para casa
Disse à mulher que criasse     Passava a noite ali só
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Algum dia inda caçasse         O velho Pedro dos Anjos
Quando nada da fazenda         Vizinho de Sebastião
Talvez os bichos espantasse    Achou que aquele animal
                               Merecia compaixão
De fato, Calar criou-se        Chamou-o para não vê-lo
E era um cão caçador           Morrer sem ter remissão
Maracajá e raposa
Tinha dele tal pavor           O velho Pedro caçava
Que passava muito longe        Toda noite com Calar
Da fazenda do senhor           Mas ele só ia à caça
                               Depois que ia ao lugar
Era o vigia da noite           Aos pés daquelas três cruzes
Um minuto não dormia           Não deixava de uivar
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O velho cão não bulia          Assim morreu o Calar
Só quando os donos lhe davam   Ficou também descansado
Era que ele se servia          Era um cão porém deixou
                               O nome imortalizado
A família do Oliveira          Morreu depois de livrar
Às vezes a conversar           Quem já o tinha livrado
A velha dizia aos filhos:
Esse cachorro Calar            Leitor não levantei falso
Tem expressões de pessoa       Escrevi o que se deu
Que conhece seu lugar          Acreditem que este fato
                               Na Bahia aconteceu
Em casa do dono ele            Depois de lutar então
De noite nada chegava          Rolou Calar sobre o chão
Um bacurau que voasse          Onde seu senhor morreu
Ele se erguia e ladrava
Do poleiro das galinhas        Juazeiro, 19 de janeiro de 1960
Até coruja espantava

Como era muito bom
O dono sempre caçava           Retirado do site:
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O cachorro dos mortos

  • 1. O cachorro dos mortos Ele disse: Tu não sabes Que meu pai possui dinheiro Leandro Gomes de Barros Em terras e criações É o maior fazendeiro? Os nossos antepassados Ela disse: O meu pai é pobre Eram muito prevenidos Planta, cria e é ferreiro Diziam: matos têm olhos E paredes tem ouvidos Minha mãe tece de ganho Os crimes são descobertos Nós vivemos de costura Por mais que sejam escondidos Meu pai vive de sua arte E de sua agricultura Em oitocentos e seis Meu irmão é empregado Na província da Bahia Para que maior ventura? Distante da capital três léguas ou menos seria O sedutor conheceu Sebastião de Oliveira Seus planos serem debalde ali num canto vivia E só podia vencê-la Por meio de falsidade Ele, a mulher e duas filhas Que é a arma mais própria E um filho já homem feito Aonde existe a maldade O rapaz era empregado E estudava direito Saiu dali Valdivino O velho não era rico Fedendo a chifre queimado Mas vivia satisfeito E Angelita ficou Com o coração descansado As duas filhas eram moças Nem disse aos outros de casa Bonitas e encantadoras O que tinha passado Logravam na capital O nome de sedutoras Ele pensou em forçá-la Chamavam atenção de todos Mas pensou no resultado As grandes tranças tão louras Devido o pai de Angelita Ser muito considerado Esse velho era ferreiro O filho pelo governo E ferreiro habilitado Era tão conceituado Vivia ali do ofício Plantando e criando gado Exclamou ele consigo: Por três vezes enjeitou oO! Angelita és tão bela O cargo de delegado Eu não sossegarei mais E nem me esquecerei dela Havia um vizinho dele Farei tudo para vencê-la Eliaziário Amorim Porém não caso com ela Esse tinha um filho único Da espécie de Caim Mas Valdivino temia Enquanto o espanhol velho O pai dela e o irmão Até não era ruim Que o governo da província Tinha-lhe muito atenção O filho deste espanhol O rapaz era empregado Era uma fera carniceira E tinha consideração Veio provocar namoro Com as filhas de Oliveira Valdivino inda pensou Uma delas disse a ele: Que matando Floriano De nós não há quem o queira Podia calçar com ouro Todo governo bahiano Ainda que entrasse em júri Não passava nem um ano
  • 2. Ou poderia matá-lo Passava ali Floriano Oculto numa emboscada A fera então enfrentou-o Porque ninguém vendo o crime Disparou o bacamarte Ele não sofria nada Sem vida em terra lançou-o Defunto não conta história Calar partiu ao sicário Estava a questão acabada O assassino amarrou-o Havia ali um engano As moças lá da fazenda Entre Vitória e Bahia Ouviram o grande estampido A divisão das províncias Angelita se assustou Ali ninguém conhecia Dizendo: O que terá sido? Sebastião de Oliveira O tiro foi para o lado Era o único que sabia Que seu irmão tinha ido O governo da província Angelita convidou Tendo aquela precisão A sua irmã Esmeralda Disse um dia a Floriano Dizendo: Vamos aqui Você vá em comissão A passeio pela estrada Chamar seu pai para vir Aquele tiro que deram Mostrar a demarcação Deixou-me sobressaltada Valdivino de Amorim No sertão naquele tempo Viu Floriano passar Podia uma moça andar Escolheu o lugar próprio Passava dois ou três meses Onde pudesse emboscar Sem nem um homem passar Dizendo dentro de si: Por isso foram elas duas Ele não pode escapar Não tinha o que recear A fera foi emboscá-lo Iam ali conversando Onde havia uma capoeira Sobre a aragem matutina Carregou um bacamarte Disse Esmeralda à irmã: Fez duma árvore trincheira Olha para o céu, menina Distante um quarto de légua Estás vendo aquelas estrelas Da fazenda de Oliveira Como têm a luz tão fina? O rapaz chegou em casa Chegaram aonde o irmão O velho tinha saído Estava morto na estrada Foi ver se achava um jumento O criminoso no mato Que havia se sumido Atirou em Esmeralda Um amigo lhe escreveu E enfrentou Angelita Que lá tinha aparecido Dizendo: Não diga nada O Floriano chegou Angelita muito pálida Depois que o velho saiu Sem estar esmorecida Nessa tarde não voltou Vendo os dois irmãos já mortos Com a família dormiu Por uma mão homicida Deu o recado à mãe dele Lhe disse: Monstro tirano De madrugada seguiu Eu morro e não sou vencida Calar um cachorro velho Ele disse: Angelita Que Sebastião criou Com tudo isso sou teu Quando Floriano saiu Foi dar-lhe um beijo nos lábios Calar o acompanhou E Angelita mordeu Floriano quis voltar Ele cravou-lhe o punhal Porém Calar não voltou Ela ali esmoreceu
  • 3. Pondo a mão na punhalada Contudo monstro, perdôo-te Disse: Monstro desgraçado Porque fui e sou cristã Aquele velho cachorro A morte do meu irmão Que está ali amarrado A minha e de minha irmã Descobrirá este crime Tu hoje matas a mim E tu serás enforcado Outro te mata amanhã Olhou para o gameleiro E pondo a mão sobre uma Que tinha junto a estrada Das punhaladas que tinha Dizendo: Tu gameleiro Disse a Calar: Se fugires Viste esta cena passada? Consola a minha mãezinha És uma das testemunhas E diga-lhe que abençoe Quando a hora for chegada Os pobres filhos que tinha Na última agonia Embora que tu não fales Exclamou: Monstro assassino Pois não te foi concedido Tirastes agora três vidas Mas um olhar bem lançado E não sacias o destino? Dá idéia dum sentido Isso hei de te lembrar Um uivo e um olhar Perante o juiz divino! Pode ser compreendido Não julgue que fique impune E ali cerrando os olhos Este sangue no deserto Quase sorrindo expirou Tu não vês três testemunhas O assassino olhando Que estão aqui muito perto Chorando se retirou Estás perante ao público Depois pensou: Isto é nada!... Irão depor muito certo Com toda calma voltou Disse Valdivino: És louca Já estava frio o cadáver Quem viu o que foi passado? Porém nas faces mimosas Disse Angelita: Este cão Via-se perfeitamente Que está ali amarrado Desenho de duas rosas A gameleira e as flores Como se fossem pintadas Dirão no dia chegado Por mãos das mais curiosas Olhou para o cão e disse: Em Esmeralda se via Olha, meu velho Calar O sangue ainda saindo Tu dirá tudo ao juiz Vestígio de zombaria Se ele te perguntar Como quem morre sorrindo Essa velha gameleira Como criança que brinca Fica para te ajudar Finge que está dormindo Essa flor que por ela O rapaz banhado em sangue Há festa aqui todo ano Bem no meio da estrada Há de tirar a justiça À esquerda de Angelita De uma suspeita ou engano À direita de Esmeralda Dirá ao juiz: Venha ver Com uma mão na ferida Quem matou o Floriano! E a outra mão estirada As três vidas que roubaste Valdivino tinha à noite Pagarás com sua vida Escrito numa carteira: Tu hás de te arrepender "Eu hoje hei de matar Depois da causa perdida Floriano de Oliveira Uma lágrima vertida Se não matá-lo me mato Será por teu pai vertida Será a minha derradeira"
  • 4. Datou-a e assinou o nome Como não foi seu espanto Pegou a arma e saiu Quando chegou no lugar Se encostou num gameleiro Onde achou os filhos mortos A carteira escapuliu Sem nada ali atinar Havia um oco da árvore Calar sabia de tudo Nele a carteira caiu Mas não podia falar A fera não se lembrou Voltou Maria da Glória Da testemunha ocular Num triste e penoso estado Perdendo aquela carteira Já Sebastião em casa Alguém a podia achar A esperava sentado Ela na mão da justiça Não sabia da desgraça Quem poderia o soltar? Que a pouco tinha se dado Porém uma força oculta Perguntou pela família Permitiu que ele perdesse Ela não pôde contar E a mesma força impôs Disse apenas: Morreu tudo Que dela se esquecesse E apontou o lugar Para dizer a seu tempo: Estendeu-se para um lado O assassino foi esse! Sem mais nada atinar Calar, o velho cachorro Sebastião de Oliveira Que aquele espetáculo via Foi por onde a mulher veio Soltando uivos enormes Achou a poça de sangue Que muito longe se ouvia Os filhos mortos no meio Rosnava, fitava os olhos Olhou para o céu e disse: Debalde a corda mordia Oh! Meu Deus que quadro feio Valdivino ali puxando Foi perguntar à mulher Um facão muito afiado Como aquilo foi se dado Descarregou no cachorro Ela apenas lhe contou Um golpe encolerizado O que tinha passado Errou e cortou a corda Deixando o ancião Com que estava amarrado Aflito e impressionado Valdivino ficou triste Montou num burro e saiu Vendo o cachorro correr Dali para a capital Lembrou-se o que Angelita Quando chegou na cidade Disse antes de morrer Foi ao quartel general Porém disse: Ele não fala Lá falou mais duma hora Como poderá dizer? E nada disse afinal Calar chegou na fazenda Depois de muita insistência Uivando desesperado O presidente entendeu Dona Maria da Glória Perguntou por Floriano Já tinha levantado Ele lhe disse: Morreu.. Quando viu o cão uivando Ele e a família toda!... Aí cresceu-lhe o cuidado E contou o que se deu E foi procurar os filhos A justiça foi atrás Onde ouviu os estampidos Ver o que tinha se dado Calar foi adiante uivando Encontrou os três cadáveres Com enormes alaridos No chão em sangue banhado Dona Maria da Glória Calar inda estava uivando Ia aguçando os ouvidos Junto dos mortos deitado
  • 5. Foram à casa de Oliveira Eliziário era um desses Ver se Maria da Glória Abortos que tem havido Dava um roteiro que ao menos Desses que o pão que come Se calculasse uma história Considera estruído Ela contou essa mesma Fazer-lhe o mal é pecado Que eles guardam na memória Fazer-lhe o bem é perdido Dona Maria da Glória Esse era fazendeiro Dois dias depois morreu Porém dali não saía Sebastião de Oliveira Nem era bem conhecido Com três dias enlouqueceu No comércio da Bahia Dentro de duas semanas Só onde vendia lã Tudo desapareceu Alguém lá o conhecia A justiça da Bahia E o dono do açougue Não cessou de procurar Onde ele vendia gado Espalhou por toda parte O banco onde ele tinha Secretos a indagar Dinheiro depositado Não havia uma pessoa Tanto que deu-se esse crime Que dissesse: Eu vi matar E dele não foi lembrado Dava dez contos de réis Sentiu e chorou bastante Na moeda que quisesse A morte do camarada À pessoa que chegasse E não foi à missa dele E seriamente dissesse Por não ser de madrugada Teria mais um terreno Pois só tinha uma camisa A pessoa que soubesse E essa estava rasgada Porém o crime se deu Também procurou saber Quando ali ninguém passava Qual seria o assassino Calar sabia tudo Não sei se pelo dinheiro Porque no crime ele estava Ou pelo próprio destino Se falasse descobria Mas nunca lhe veio na mente Desejo não lhe faltava Ser seu filho Valdivino Impressionava a todos Onde deu-se o crime havia Habitantes da cidade Duas estradas em cruz Como deu-se aquele crime Diziam que ali se achavam Naquela localidade Umas flores muito azuis Floriano de Oliveira Formando uma lapa igual Todo lhe tinha amizade À do menino Jesus Atribuiu-se a um roubo Os baianos costumavam Por algum aventureiro Desde da antigüidade Mas o rapaz costumava Fazerem uma grande festa A não andar com dinheiro Naquela localidade Questão de moça não era Véspera e dia de ano Ele era justiceiro Ali era novidade Os moradores de perto Na capital da Bahia Eram todos conhecidos Não havia outro festim Compadres dele e do pai Havia missa campal E por eles protegidos Orquestra e botequim Tanto que se dando o crime Bailes naquelas latadas Todos ficaram sentidos Bem cobertas de capim
  • 6. Em oitocentos e nove Então disse o general: Estava a festa a terminar Isso ainda é descoberto Um velho que ali passava O crime foi muito oculto Passou naquele lugar Feito aqui neste deserto Atrás desse caçador Mas quando chegar o dia Vinha o cachorro Calar Há de saber-se por certo Abrigou-se numa sombra Se eu vivo for nesse tempo Vinha muito esbaforido Serei o algoz mais forte Foi cheirar o pé da cruz Serei um dos que conduz Que o senhor tinha morrido Para o teatro da morte Cheirou a das duas moças Com a minha própria mão E depois soltou um gemido Amolo o ferro que o corte Estava ali um general O cachorro ouvindo aquilo O bispo e o presidente Ergueu-se muito contente Com o chefe da polícia Foi aos pés do general Homem muito experiente Festejou o presidente Todos ficaram daquilo Como quem dizia: O crime Impressionadamente É punido corretamente O general perguntou Disse o bispo: Esse cachorro De quem era aquele cão É testemunha ocular Respondeu o velho Pedro: Ele viu quem fez as mortes Este cachorro patrão Só faltava é ele apontar É do defunto Oliveira Se ele visse o criminoso Que Deus dê-lhe a salvação Podia lhe denunciar Este cachorro é o rei Disse o velho: Esse cachorro Dos cachorros caçadores Fez uma coisa esquisita Ainda adora o lugar Tinha uma cobra enroscada Que mataram seus senhores Onde mataram Angelita Se fosse de madrugada Ele despedaçou-a a dentes Seus uivos faziam horrores Quase que se precipita Disse o chefe de policia: Disse o velho: Esse cachorro Inda não se descobriu Aos pés da cruz se lança A morte de um patrício Solta um uivo muito triste Que tanto à pátria serviu Como quem pede vingança Foi logo nesse deserto Como quem pede debalde Em horas que ninguém viu Sem ter daquilo esperança Disse ali o presidente: Nisso chegou um cavalheiro Se ainda se descobrir Valdivino de Amorim O autor dessas três mortes Andava fora inda vinha Eu juro por Deus o punir Ver se alcançava o festim Serei o carrasco dele Vinha num burro possante Quando ele à forca subir Alvo da cor de jasmim Sebastião de Oliveira Assim que o cachorro viu Era um pobre acreditado Valdivino se apear A família deu exemplo Rosnou e partiu a ele O filho um rapaz honrado Querendo lhe estraçalhar Era um rapaz distinto Só não rasgou-lhe a garganta Por todo mundo estimado Devido o velho pegar
  • 7. Tremia o queixo e babava Ali trouxeram a carteira Fitando ali Valdivino Entregaram ao general Uivava como quem já O bispo disse: Senhor Tivesse perdido o tino O que lhe disse afinal Só faltava era dizer Eu não lhe disse que os olhos — Eis aí o assassino! Só diz o que é legal? E foi para o pé da cruz Valdivino descobriu tudo E ali pegou a uivar Em sua interrogação Fitando os olhos no céu Calar ali demonstrava Como quem quer suplicar Ter grande satisfação Como quem dizia: Oh! Deus Pulava um metro de altura Vens que não posso falar! E rolava pelo chão O bispo disse: Valdivino Corria escaramuçando Você está descoberto Como quem estava em folia O senhor foi autor Festejou o general Das mortes neste deserto Com demarcada alegria Aquele cachorro deu Como quem dizia: Nesses Um depoimento certo Encontrei o que queria O monstro viu o perigo O povo todo da festa Fez tudo para negar Quis a Valdivino linchar O bispo disse: Meu filho O bispo e o presidente Não há mentira em olhar Tratou de acomodar Os olhos são verdadeiros Garantindo que a justiça Não podem nada ocultar Havia de o castigar Os olhos também se queixam Saiu preso Valdivino Um olhar diz o que sente Calar o acompanhou Ameaça ou traição O velho Pedro chamava Punição severamente Mas ele não escutou Declara mágoa ou dor Voltou quando Valdivino Porém o olhar não mente Preso nos ferros deixou O olhar daquele cão O general ao sair Está demonstrando a dor Ordenou ao cozinheiro O sentimento profundo Que desse ao velho Calar Da morte do seu senhor Um bom lombo de carneiro Ele só falta falar Porque merecia muito E apontar o matador Aquele bom companheiro Naquilo duas crianças O criado deu o lombo Que estavam em brincadeira Calar nem para ele olhou Uma delas se trepou Saiu o povo da festa Num galho de gameleira E o lombo lá ficou Tirando um ninho de rato O cachorro veio comer Achou nele uma carteira À noite quando voltou O leitor deve lembrar-se A mulher de Eliziário De um verso que aqui já leu Sabendo o que aconteceu Veja na véspera do crime Deu-lhe um ataque tão forte O que Valdivino escreveu Que ela no chão se estendeu E que no oco da gameleira Passou a noite sem fala A carteira se perdeu No outro dia morreu
  • 8. Juvenal um espanhol Não havia mais recurso Parente de Eliziário Estava tudo consumado Chegando lá disse ao velho: O réu dali a três dias — você é milionário Ia ser executado Compre três ou quatro médicos Não tinha mais o que apelar Que provem ele está vario Já tinha sido julgado Porque ele estando vário O velho quase sem jeito Não poderá ser julgado Sem nada mais conseguir O processo fica inválido Tentou o último meio Não pode ser condenado A fim do filho fugir Aí o senhor procura Mas só dos degraus da forca O melhor advogado Podia se escapulir Eliziário pensou Então soube que o carrasco Aquilo ser acertado Era um tal de Zeferino Do contrário Valdivino Um calibre mais ou menos Ia ser executado Igual o de Valdivino E tinha toda certeza Tinha os três dons da desgraça Ele morrer enforcado Covarde, vil, assassino Dirigiu-se à capital Era um mulato laranjo Procurou advogado De aspecto aborrecido Este arrumou cinco médicos O couro da testa dele Sendo o réu examinado Sempre se via franzido Provaram que há quatro anos Os cabelos bem vermelhos Ele era tresloucado Rosto largo e não comprido O bispo e o presidente Foi o velho Eliziário Consultaram ao general A esse tal Zeferino Mandaram vir quatro médicos Ver se ele podia dar No reino de Portugal Evasão a Valdivino E fizeram na Bahia Dizendo: Ele pula da forca Uma junta especial E depois toma destino Vieram de Portugal Pegue dez contos de réis Quatro médicos escolhidos Que lhe dou adiantado Que por dinheiro sem conta E se tiver a fortuna Não seria iludidos Dele não ser enforcado Esses homens de caráter Dar-lhe-ei mais vinte contos Jamais seriam vendidos O dinheiro está guardado E examinaram o réu Então disse Zeferino Cada médico de per si — Isso é difícil arranjar Todos disseram que nunca Porém quando ele subir Houve tal loucura ali Eu finjo me desculpar Nem sequer nervoso havia Ele que vai prevenido Todos juraram aí Trata logo de saltar Fizeram novo processo Disse Zeferino ao velho: Depois dele examinado O senhor deve aprontar E estando pronto o processo Um cavalo bem ligeiro Valdivino foi julgado Para quando ele saltar A sentença que pegou Montar-se logo e correr Foi para ser enforcado Antes do povo chegar
  • 9. Eu hoje direi a ele Foi preso Eliziário Tudo que está planejado Como autor da evasão Que cor será o cavalo O povo não o matou Que há de está selado? Porém foi para a prisão — Diga que é o poldro branco E o bispo que saiu Em que ele andava montando Pedindo à população Valdivino quando soube Era meia-noite em ponto Esta consulta que havia Valdivino ainda corria Ficou como uma criança O cavalo já cansado Chorava ali de alegria Que nada mais resistia Jurando no mesmo instante E o cachorro Calar Que Calar lhe pagaria De vez enquanto latia Então quando chegou o dia Valdivino conhecendo Estava o povo aglomerado Que nada a ele valia Valdivino de Amorim E o cachorro Calar Ia ser executado Seu rastro não deixaria Tudo ali estava esperando Pensou em suicidar-se Vê-lo morrer enforcado Só assim descansaria Presente ao estado maior Dentro do mato apoiou-se Que vinha presenciar E amarrou o cavalo Subiu Valdivino à forca Encostou-se numa pedra Zeferino foi laçar Sentiu alguém acordá-lo Porém ele se encolhendo Nisto o cavalo espantou-se Conseguiu dali saltar Ele não soube pegá-lo E saiu como uma flecha Seguiu por uma vereda Entre o povo se meteu Descalço e todo rompido Se montando no cavalo Ouvindo de vez enquanto Dali desapareceu Calar soltar um ganido Internando-se no mato Foi sair bem no lugar Num instante se escondeu Que o crime tinha havido O povo indignou-se Ele viu a gameleira Com a fuga de Valdivino Que sombreava a estrada Um deles que ali estava Floriano de Oliveira Estrangulou Zeferino Angelita e Esmeralda Porque este tinha dado Sebastião de Oliveira Evasão ao assassino E dona Maria prostrada Porém chegou o cachorro Viu vir uma carruagem Quase na ocasião Nela vinha um magistrado Soltou dois ou três latidos Que saudou os três vultos Saiu de venta no chão Depois de ter se apeado Sessenta e três praças foram Exclamou: Sangue inocente Também em perseguição Breve hás de ser vingado! Porém Valdivino ia Tornou a tomar o carro Em bom cavalo montando Se montando foi embora Tinha grande desvantagem Nesse momento Calar De não ter saído armado Vem com a língua de fora E Calar no rastro dele Festejou todos os vultos Gania muito vexado E voltou na mesma hora
  • 10. Um dos vultos chamou ele Veio ali o presidente O cachorro estacou Que trouxe um pão e lhe deu Valdivino não ouviu Calar olhou para ele O que o fantasma falou Cheirou-lhe os pés e gemeu Só ouviu foi dizer: Volte Botando o pão entre as mãos E o cachorro voltou Deitou-se e ali comeu O criminoso pensou Chegou a força do mato Que ali não escaparia Não trazendo o criminoso Lembrou-se duma pessoa O general com aquilo Que morava na Bahia Ficou muito desgostoso Pois tinha onde ocultá-lo Até o governador Que nem o cachorro via Ficou doente e nervoso Era um compadre e amigo O povo ao redor da forca A quem ele protegeu Só fazia lamentar Que com dinheiro do pai Que o pai do assassino Esse tal enriqueceu Deverá se executar E ia sempre visitá-lo Tudo pedia ao governo Quando a justiça o prendeu Que o mandasse enforcar Valdivino calculou: O cachorro levantou-se Eu o que devo fazer Como quem está chamando É ir para o quintal Foi à casa de Roberto Por ali me esconder Na porta ficou uivando Ou ele ou a mulher dele Olhava para Roberto Um há de me aparecer Partia a ele rosnando E saiu o assassino O general com aquilo Chegando lá se escondeu Ficou bastante nervoso Não houve ali quem o visse E disse ao governador: Quando o dia amanheceu Estou muito receoso O compadre veio fora Que ali naquela casa E ele lhe apareceu Está oculto o criminoso Valdivino lhe pediu Então a força cercou Que não o deixasse morrer Toda casa de Roberto Disse o velho Roberto: O cachorro só faltava Eu tenho onde te esconder Era dizer: Está perto Porém ninguém mais daqui O general disse a ele: Disso não pode saber O senhor está descoberto Quatros dias decorriam Roberto ali descobriu E o assassino escondido Onde o assassino estava Debaixo dumas madeiras Debaixo das madeiras Estava ele metido O monstro se conservava O pai dele na cadeia Foi levado ao pé da forca Já ia ser concluído Onde o povo lhe esperava Num dia de quarta-feira Contou tudo que se deu O velho Calar chegou Antes de ser enforcado A força ainda estava armada Os vultos que viu nas cruzes Calar ali a olhou A quem tinha assassinado Cravando a vista no céu O segredo do cachorro Um uivo triste soltou E o carro do magistrado
  • 11. Às cinco horas da tarde Saíram cinco ou seis praças A justiça o enforcou Em procura de Calar O pai dele estava preso O general tinha dito Assim que o sino dobrou Não voltem sem o achar Ali soltando um suspiro Tragam ele direitinho Na mesma hora expirou Não o façam maltratar Estando morto o assassino Os praças foram ao lugar O deitaram sobre o chão Onde o crime tinha havido O cachorro olhou-o bem Onde a família Oliveira Chamando tudo atenção Tinha toda sucumbido Soltou dois ou três latidos Bem no pé duma das cruzes Que espantou a multidão Tinha o velho cão morrido Quando a justiça ordenou Tinha posto termo a vida Pra ser o corpo inhumado O maior dos lutadores Sobre os pés do general O que em sua existência Calar caiu mui cansado Viu o horror dos horrores Talvez querendo dizer Que sem falar descobriu General, muito obrigado Quem matou os seus senhores O general foi ver água O general quando soube Ao cachorro ofereceu Da forma que o tinham achado Ali o velho Calar Mandou fazer uma cova Dois litros d'água bebeu E nela foi enterrado Trouxeram-lhe uma fritada Um dos amigos mais firmes Porém ele não comeu Que no mundo foi criado Festejando o general E nas mortes dos senhores As pernas dele abraçou Ele afirmou ter ação Dirigiu-se ao presidente Provou que tinha amizade A mesma ação obrou Ao velho Sebastião Depois desapareceu A morte só foi vingada Novo destino tomou Por sua perseguição Foi direitinho ao lugar Só não fez foi dizer nada Que o horrendo crime se deu Mas provou por sua vez No pé da cruz de Angelita Apontou só com a vista Ele cavou e gemeu O monstro que os crimes fez O velho Pedro chamou-o Seus olhos diziam ao público Mas ele não atendeu Esse matou todos três Deitou-se entre as três cruzes Deitou-se encostado às cruzes Sua vida liquidou Que tinham edificado Nas condições dum guerreiro Tinha morrido há três dias Que da batalha voltou E nem sequer estava inchado Trazendo os louros de guerra Como quem dizia: Agora À sepultura baixou Posso morrer estou vingado O general quando soube Mais de duzentas pessoas Que Calar era sumido Assistiram enterrar ele E que fazia três dias Devido à grande firmeza Que não era aparecido Que tinha se visto nele Mandou gente procurá-lo Muitas flores naturais Ficando muito sentido Deitaram na cova dele
  • 12. Agora vejam leitores E só ia para o mato Quem era o velho Calar Quando o senhor lhe chamava E como Sebastião Um dia pôde o achar Depois de terem morrido Ele tinha cinco dias Os senhores de Calar O dono ia o matar O pobre cão toda noite Ia para aquele lugar Então o velho Oliveira Olhava para as três cruzes Achou ser ingratidão Levava a noite a uivar Matar aquele inocente Embora fosse ele um cão Latia e fitava o céu Porém disse: A caridade Que causava pena e dó Não se faz só a cristão Via sangue no capim Ele cobria com pó E levou-o para casa Não queria ir para casa Disse à mulher que criasse Passava a noite ali só Dizendo: Pode ser bom Algum dia inda caçasse O velho Pedro dos Anjos Quando nada da fazenda Vizinho de Sebastião Talvez os bichos espantasse Achou que aquele animal Merecia compaixão De fato, Calar criou-se Chamou-o para não vê-lo E era um cão caçador Morrer sem ter remissão Maracajá e raposa Tinha dele tal pavor O velho Pedro caçava Que passava muito longe Toda noite com Calar Da fazenda do senhor Mas ele só ia à caça Depois que ia ao lugar Era o vigia da noite Aos pés daquelas três cruzes Um minuto não dormia Não deixava de uivar Numa coisa que guardava O velho cão não bulia Assim morreu o Calar Só quando os donos lhe davam Ficou também descansado Era que ele se servia Era um cão porém deixou O nome imortalizado A família do Oliveira Morreu depois de livrar Às vezes a conversar Quem já o tinha livrado A velha dizia aos filhos: Esse cachorro Calar Leitor não levantei falso Tem expressões de pessoa Escrevi o que se deu Que conhece seu lugar Acreditem que este fato Na Bahia aconteceu Em casa do dono ele Depois de lutar então De noite nada chegava Rolou Calar sobre o chão Um bacurau que voasse Onde seu senhor morreu Ele se erguia e ladrava Do poleiro das galinhas Juazeiro, 19 de janeiro de 1960 Até coruja espantava Como era muito bom O dono sempre caçava Retirado do site: Porém a vizinho algum A noite acompanhava http://www.jangadabrasil.com.br