2. treinamento de questões abertas 07
(UNICAMP)
Leia
o
seguinte
trecho
do
capítulo
“Contas”,
de
Vidas
Secas.
3. treinamento de questões abertas 07
Tinha
a
obrigação
de
trabalhar
para
os
outros,
naturalmente,
conhecia
do
seu
lugar.
Bem.
Nascera
com
esse
desFno,
ninguém
Fnha
culpa
de
ele
haver
nascido
com
um
desFno
ruim.
Que
fazer?
Podia
mudar
a
sorte?
Se
lhe
dissessem
que
era
possível
melhorar
de
situação,
espantar-‐
se-‐ia.
(...)
Era
a
sina.
O
pai
vivera
assim,
o
avô
também.
E
para
trás
não
exisFa
família.
Cortar
mandacaru,
ensebar
látegos
–
aquilo
estava
no
sangue.
Conformava-‐se,
não
pretendia
mais
nada.
Se
lhe
dessem
o
que
era
dele,
estava
certo.
Não
davam.
Era
um
desgraçado,
era
como
um
cachorro,
só
recebia
ossos.
Por
que
seria
que
os
homens
ricos
ainda
lhe
tomavam
uma
parte
dos
ossos?
Fazia
até
nojo
pessoas
importantes
se
ocuparem
com
semelhantes
porcarias.
Graciliano
Ramos,
Vidas
Secas.
103ª.
ed.,
Rio
de
Janeiro:
Editora
Record,
2007,
p.97.
4. treinamento de questões abertas 07
a)
Que
visão
Fabiano
tem
de
sua
própria
condição?
JusFfique.
b)
Explique
a
referência
que
ele
faz
aos
“homens
ricos”
com
base
no
enredo
do
livro.
5. treinamento de questões abertas 07
respondendo ao item “a”
visão
alienada
e
conformista,
jusFficada
por
uma
lógica
determinista
aceita
a
exploração
e
a
condição
social
miserável
em
que
vive
como
se
fossem
naturais
produto
de
uma
sina
ou
mesmo
de
uma
herança
genéFca
respondendo ao item “b”
homens
ricos
posses,
senhores
de
terra,
exploradores
[proprietário
das
terras
em
que
se
instala
com
a
família]
Como
não
Fnha
roça
e
apenas
se
limitava
a
semear
na
vazante
uns
punhados
de
feijão
e
milho,
Fabiano
precisava
recorrer
à
feira
para
a
compra
de
manFmentos,
a
fim
de
alimentar
a
família.
Para
isso,
negociava
os
poucos
bezerros
e
cabritos
que
possuía
com
o
proprietário
das
terras,
que
os
comprava
a
preços
baixíssimos.
O
valor
que
conseguia
com
os
animais
não
era
suficiente
para
se
manter
e
precisava
recorrer
ao
patrão,
que
lhe
cobrava
juros
alissimos
pelos
emprésFmos.
As
contas
do
patrão
nunca
baFam
com
as
de
Sinhá
Vitória,
em
virtude
dos
juros
exorbitantes
cobrados
por
tais
emprésFmos.
Quando
Fabiano
reclamava,
o
patrão,
irritado,
mandava-‐o
procurar
outra
fazenda.
Fabiano,
então,
sem
alternaFva,
calava-‐se
e
se
submeFa
aos
desmandos
e
à
exploração
do
patrão.
7. treinamento de questões abertas 07
Entre
lojas
de
flores
e
de
sapatos,
bares,
mercados,
buFques,
viajo
num
ônibus
Estrada
de
Ferro
-‐
Leblon.
Viajo
do
trabalho,
a
noite
em
meio,
O
ônibus
sacoleja.
Adeus,
Rimbaud,
faFgado
de
menFras.
relógios
de
lilases,
concreFsmo,
neoconcreFsmo,
ficções
da
juventude,
adeus,
que
a
vida
eu
a
compro
à
vista
aos
donos
do
mundo.
Ao
peso
dos
impostos,
o
verso
sufoca,
a
poesia
agora
responde
a
inquérito
Digo
adeus
à
ilusão
policial-‐militar.
Mas
não
ao
mundo.
Mas
não
à
vida,
meu
reduto
e
meu
reino.
Do
salário
injusto,
da
punição
injusta,
da
humilhação,
da
tortura,
do
terror,
reFramos
algo
e
com
ele
construímos
um
artefato
GULLAR,
Ferreira.
Agosto
1964.
Disponível
em:
hpp://evolucionese.blogspot.com/2007/08/agosto-‐1964-‐ferreira-‐gullar.html
8. treinamento de questões abertas 07
Teus
poemas,
não
os
dates
nunca...
Um
poema
Não
pertence
ao
Tempo...
Em
seu
país
estranho,
Se
existe
hora,
é
sempre
a
hora
estrema
Quando
o
anjo
Azrael
nos
estende
ao
sedento
Lábio
o
cálice
inexFnguível...
Um
poema
é
de
sempre,
Poeta:
O
que
tu
fazes
hoje
é
o
mesmo
poema
Que
fizeste
em
menino,
É
o
mesmo
que,
Depois
que
tu
te
fores,
Alguém
lerá
baixinho
e
comovidamente,
A
vivê-‐lo
de
novo...
A
esse
alguém,
Que
talvez
ainda
nem
tenha
nascido,
Dedica,
pois,
os
teus
poemas.
Não
os
dates,
porém:
As
almas
não
entendem
disso...
QUINTANA,
Mario.
Data
e
dedicatória.
Disponível
em:
hpp://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p01/
p010419.htm
9. treinamento de questões abertas 07
Comparando
os
poemas
I
e
II,
constatamos,
de
imediato,
concepções
opostas
sobre
a
natureza
da
poesia.
a)
Qual
é
a
oposição
fundamental
entre
esses
dois
poemas?
Cite
um
trecho
de
cada
poema
em
que
essa
contraposição
se
verifique
de
maneira
explícita.
b)
Há,
no
poema
de
Ferreira
Gullar,
claras
alusões
a
um
momento
parFcular
da
história
brasileira.
Que
fato
histórico
se
deu
naquele
momento?
Cite
ao
menos
dois
trechos
que
caracterizem
esse
momento.
c)
A
razão
fundamental
para
não
datar
os
poemas,
segundo
Mário
Quintana,
é
que
“As
almas
não
entendem
disso”.
No
contexto
do
poema,
interprete
esse
verso.
10. treinamento de questões abertas 07
respondendo ao item “a”
os
dois
poemas
tratam
da
matéria
poéFca
Gullar:
vê
o
tempo
presente,
a
vida
coFdiana,
os
fatos
a
políFca
[sob
a
ditadura]
Quintana:
intemporalidade,
eternidade
como
a
essência
da
poesia
respondendo ao item “b”
o
evento
referido
é
o
Golpe
de
1964
respondendo ao item “c”
“As
almas
não
entendem
isso”
por
serem
intemporais,
as
almas
não
entendem
de
datas
é
isso
que
fundamenta
a
concepção
de
poesia
de
Mário
Quintana
11. treinamento de questões abertas 07
(UNICAMP)
Os
dois
poemas
que
se
seguem,
do
poeta
mineiro
Murilo
Mendes
(1901-‐1975),
datam
de
sua
fase
modernista
inicial.
12. treinamento de questões abertas 07
Deste
lado
tem
meu
corpo
tem
o
sonho
tem
a
minha
namorada
na
janela
tem
as
ruas
gritando
de
luzes
e
movimentos
tem
meu
amor
tão
lento
tem
o
mundo
batendo
na
minha
memória
tem
o
caminho
para
o
trabalho
Do
outro
lado
tem
outras
vidas
vivendo
da
minha
vida
tem
pensamentos
sérios
me
esperando
na
sala
de
visita
tem
minha
noiva
definiFva
me
esperando
com
flores
na
mão
tem
a
morte,
as
colunas
da
ordem
e
da
desordem
MENDES,
Murilo.
Os
dois
lados.
Disponível
em:
hpp://spleenbored-‐minhaspoesiasfavoritas.blogspot.com
13. treinamento de questões abertas 07
Tenho
duas
rosas
na
face,
Nenhuma
no
coração.
No
lado
esquerdo
da
face
Costuma
também
dar
alface,
No
lado
direito
não.
MENDES,
Murilo.
Amostra
da
poesia
local:
hpp://danibunn.blogspot.com/2007/11/amostra-‐da-‐poesia-‐local.html
14. treinamento de questões abertas 07
a)
Embora,
em
“Os
dois
lados”,
o
autor
relacione
divisões
conflituosas
do
eu
lírico
a
uma
separação
entre
o
“lado
de
cá”
e
o
“outro
lado”,
essa
separação
não
é
absoluta.
Nos
três
primeiros
versos
de
cada
estrofe,
localize
elementos
que
reforcem
a
dualidade
espacial
e
outros
que
a
atenuem.
b)
O
que
“Amostra
da
poesia
local”
tem
em
comum
com
“Os
dois
lados”?
Em
que
aspectos
os
dois
poemas
divergem?
c)
Quais
os
recursos
formais
(esFlo,
métrica)
que
aparecem
exclusivamente
no
segundo
poema?
15. treinamento de questões abertas 07
respondendo ao item “a”
elementos
que
reforçam
a
dualidade
sonho/pensam.
sérios;
namorada
na
janela/noiva
definit.;
meu
corpo/vidas
vivendo
da
minha
vida
elementos
que
atenuam
a
dualidade
sonho/vidas
vivendo
da
minha
vida;
namorada/noiva;
minha
memória/minha
vida
respondendo ao item “b”
Os
dois
poemas
trabalham
com
uma
oposição
espacial
[para
sugerir
uma
divisão].
já
o
segundo
estrutura-‐se
por
intermédio
da
ironia
e
do
humor
respondendo ao item “c”
“Amostra
da
poesia
local”
estranheza
de
imagens,
associações
insólitas,
maior
regularidade
métrica,
simplificação
da
forma,
vocabulário
simples,
reduzido
e
recorrente