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Aconteceu no outono                               Lisa Kleypas
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      Resumo:

       Quatro jovens damas se introduzem na sociedade londrina com um objetivo
prioritário: utilizar todos os ardis e artimanhas femininos a seu alcance para encontrar
marido. assim, formam uma equipe: as Wallflowers. Esta é a história de uma delas.....

       Aconteceu em um baile.... Inteligente, desrespeitosa e impulsiva, Lillian
Bowman compreendeu rapidamente que seus costumes americanas não eram recebidas
com simpatia pela sociedade londrino. E o que mais as desaprovava era Marcus, Lorde
Westcliff, um insofrível e arrogante aristocrata que, por desgraça, tambien era o
solteiro mais cobiçado da cidade.

      Aconteceu em um jardim.... Ali Marcus a estreitou entre seus braços e Lillian se
sentiu consumida pela paixão para um homem que nem sequer lhe caía bem. O tempo
se deteve; era como seu bi existissem mas que eles dois... E quase os apanham nessa
atitude tão escandalosa.

      Aconteceu em outono....Marcus era um homem que controlava suas emoções,
um paradigma de aprumo. Com Lillian , entretanto, cada carícia supunha uma
deliciosa tortura, cada beijo um convite a procurar mais- Mas como poderia considerar
sequer tomar como sua prometida a uma mulher tão obviamente inapropriada?.

      Tradução:Rafaela
      Revisão:Anninha Lima



      Capítulo 1

      Stony Cross Park, Hampshire

       —chegaram os Bowman —anunciou lady OLívia Shaw da entrada do estudo,
onde seu irmão maior estava sentado atrás de seu escritório em meio de um montão de
livros de contabilidade.
       O sol do entardecer penetrava através das enormes janelas retangulares de cristal
tinto, que eram a única ornamentação de uma estadia cujas paredes estavam cobertas
com painéis de palisandro.
       Marcus, lorde Westcliff, levantou a vista de seu trabalho com um sinistro cenho
franzido que uniu suas sobrancelhas por cima dos olhos cor café.
       — Que comece o caos... —murmurou.
       Lívia se pôs-se a rir.
       —Suponho que refere às filhas. Em realidade não são tão más, verdade?
       —São piores —afirmou Marcus de forma sucinta; seu cenho se acentuou ainda
mais quando viu que a pluma que tinha esquecido entre seus dedos acabava de deixar
uma enorme mancha de tinta na, até esse momento, imaculada coluna de números—.
Não conheci duas jovens tão mal educadas em toda minha vida. Sobre tudo, a maior.
       —Bom, são americanas —assinalou Lívia—. Seria justo que gozassem de certa

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flexibilidade, não te parece? Não se pode esperar que conheçam cada um dos
complexos detalhes de nossa interminável esperta de regras sociais...
       —Posso lhes permitir certa flexibilidade com os detalhes —interrompeu Marcus
de forma cortante—. Como bem sabe, não sou o tipo de homem que se queixaria pelo
ângulo impróprio do dedo mindinho da senhorita Bowman ao agarrar a taça de chá. O
que não posso passar por cima são certos comportamentos que se encontrariam
inaceitáveis em qualquer canto do mundo civilizado.
       «Comportamentos?» Nossa aquilo se estava pondo interessante. Lívia entrou no
estudo, uma habitação que estava acostumada a lhe resultar do mais desagradável
devido ao muito que recordava a seu defunto pai.
       Nenhuma lembrança do oitavo conde de Westcliff era agradável. Seu pai tinha
sido um homem frio e cruel que parecia absorver todo o oxigênio de uma habitação
quando entrava. Não havia nada nem ninguém que não tivesse decepcionado ao conde
em vida. De suas vergônteas, tão somente Marcus se aproximou de suas elevadas
expectativas, já que, sem importar quão impossíveis fossem seus requerimentos ou
quão injustos resultassem seus julgamentos, Marcus jamais se queixou. Lívia e Aline
admiravam a seu irmão maior, cujo esforço constante por alcançar a excelência o tinha
conduzido a obter as mais altas qualificações na escola, a romper todas as marcas em
seus esportes preferidos e a julgar-se com mais dureza do que o teria feito ninguém.
Marcus era um homem que sabia montar a cavalo, dançar uma contradança, dar uma
conferência sobre uma teoria matemática, enfaixar uma ferida e reparar a roda de uma
carruagem. Não obstante, nenhuma de sua vasta coleção de habilidades tinha merecido
nunca uma felicitação por parte de seu pai.
       Ao voltar a vista atrás, Lívia se deu conta de que a intenção do anterior conde
devia ter sido eliminar qualquer vestígio de amabilidade ou compaixão que possuísse
seu filho. E, ao parecer, durante uma época o tinha conseguido. Entretanto, depois da
morte de seu progenitor, cinco anos atrás, Marcus tinha demonstrado ser um homem
muito diferente ao que se supunha que devia ser. Lívia e Aline tinham descoberto que
seu irmão maior nunca estava muito ocupado para escutadas; sem importar o
insignificante que lhe parecessem seus problemas, sempre estava disposto a ajudar.
Para falar a verdade, era pormenorizado, bebe so e incrivelmente atento; o qual não
deixava de ser um milagre se se tinha em conta que a maior parte de sua vida tinha
transcorrido sem que ninguém lhe demonstrasse essas qualidades.
       Além de todo o dito, também terei que admitir que Marcus era um pouco
dominante. Bom... Muito dominante. Quando se tratava daqueles a quem amava, o
atual conde de Westcliff não mostrava reparo algum em manipulá-los para que
fizessem o que ele considerava que era melhor. Essa não era uma de suas virtudes
mais encantadoras. E se Lívia se visse obrigada a afundar em seus defeitos, também
teria que admitir que Marcus possuía um molesto convencimento a respeito de sua
própria infalibilidade.
       Com um sorriso bebe só dirigido a seu carismático irmão, Lívia se perguntou
como podia adorar o dessa maneira quando se parecia tanto a seu pai no aspecto físico.
Marcus possuía os mesmos rasgos severos, a frente larga e a boca de lábios finos.
Tinha o mesmo cabelo abundante e negro como a asa de um corvo; o mesmo nariz
amplo e proeminente; e o mesmo queixo, pronunciada e tenaz. A combinação
resultava mais lhe impactem que formosa... mas era um rosto que atraía com facilidade
as olhadas femininas. Ao contrário que acontecia com os de seu pai, nos atentos e

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escuros olhos do Marcus estava acostumado a brilhar uma faísca de humor e possuía
um particular sorriso que permitia que seus branquíssimos dente iluminassem seu
bronzeado rosto.
      Ao ver que Lívia se aproximava, Marcus se reclinou na poltrona e entrelaçou os
dedos de ambas as mãos sobre o ventre. Em deferência ao calor tão pouco usual para
uma tarde de princípios de setembro, o conde se tirou a jaqueta e se elevou as mangas,
deixando ao descoberto seus morenos antebraços, que estavam ligeiramente salpicados
de pêlo negro. Era de altura média e se encontrava em um estado de forma
extraordinário, com o físico de um ávido esportista.
      Desejosa de escutar mais sobre o comportamento da mal educada senhorita
Bowman, Lívia se apoiou sobre o bordo do escritório, de cara ao Marcus.
      —Pergunto-me o que terá feito a senhorita Bowman para te ofender tanto... —
discorreu em voz alta—. Conte-me o Marcus. Se não, minha imaginação conjurará de
seguro algo muito mais escandaloso do que a pobre senhorita Bowman seria capaz de
realizar nunca.
      — A pobre senhorita Bowman? —soprou Marcus—. Não pergunte, Lívia. Não
estou em liberdade de falar sobre o tema.
      Ao igual à maioria dos homens, Marcus parecia não compreender que nada
avivava tanto as chamas da curiosidade feminina como um tema sobre o qual um não
estava em liberdade de discutir.
      —Solta-o já, Marcus —lhe ordenou—. Ou te farei padecer de formas
inexprimíveis.
      Uma de suas sobrancelhas se arqueou de forma irônica.
      —Posto que os Bowman já chegaram, essa ameaça resulta algo redundante.
      —Tratarei de adivinhá-lo, então. Pegou à senhorita Bowman com alguém?
Acaso estava permitindo que a beijasse algum cavalheiro... ou algo pior?
      Marcus respondeu com um sarcástico sorriso do meio lado.
      —Mas bem não. Basta lhe dar uma olhada para que qualquer homem que esteja
em seus cabais saia fugindo e sem deixar de gritar na direção oposta.
      A Lívia deu a impressão de que seu irmão estava sendo muito duro com Lillian
Bowman e franziu o cenho.
      —É uma garota muito bonita, Marcus.
      —Uma fachada bonita não basta para esconder os defeitos de seu caráter.
      — E quais são esses defeitos?
      Marcus soltou um breve bufo, como se os defeitos da senhorita Bowman fossem
muito evidentes para requerer que os enumerasse.
      —É uma manipuladora.
      —Também o é você, querido —murmurou Lívia.
      Seu irmão passou por cima o comentário.
      —É dominante.
      —Como você.
      —E arrogante.
      —Também como você —disse Lívia com jovialidade.
      Marcus a olhou jogando faíscas pelos olhos.
      —Acreditei que estávamos discutindo os defeitos da senhorita Bowman, não os
meus.
      —Mas é que, ao parecer, têm muito em comum —protestou Lívia com fingida

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inocência. Observou como ele deixava a pluma e a alinhava com o resto de artigos que
havia em cima de seu escritório—. Respeito a seu comportamento inapropriado... Está-
me dizendo que não a apanhou em uma situação comprometedora?
      —Não, não hei dito isso. Quão único hei dito é que não estava com um
cavalheiro.
      —Marcus, não tenho tempo para isto —disse Lívia com impaciência—. Devo ir
lhes dar a bem-vinda aos Bowman, e você também teria que fazê-la, por certo;
entretanto, antes de sair do estudo, exijo que me diga o que é essa coisa escandalosa
que estava fazendo Lillian Bowman.
      —Resulta muito ridículo dizê-lo sequer.
      — Cavalgava como homem? Estava fumando um charuto? Nadando nua no
lago?
      —Nada disso. —A contra gosto, Marcus agarrou um esteróscopio que havia
sobre a esquina do escritório, um presente que lhe tinha enviado sua irmã Aline, que
agora vivia com seu marido em Nova Iorque.
      O esteróscopio era um invento recente, fabricado com madeira de arce e cristal.
Quando um cartão estereoscópico —uma fotografia dobro— se introduzia na extensão
que havia depois da lente, a imagem aparecia em três dimensões. A profundidade e a
qualidade das fotografias estereoscópicas resultava surpreendente: os ramos das
árvores pareciam a ponto de arranhar o nariz do espectador e o cume de uma montanha
parecia abrir-se com tal realismo que a um dava a impressão de que poderia cair e
morrer em qualquer momento. Marcus se levou o aparelho aos olhos e examinou a
imagem do Coliseu de Roma com árdua concentração.
      Justo quando Lívia estava a ponto de explorar de impaciência, Marcus
murmurou:
      —Vi a senhorita Bowman jogando a rounders em culote.
      Lívia o olhou com olhos como pratos.
      — Ao rounders? Refere a esse jogo no que se utiliza uma bola de couro e um
taco de baseball plano?
      Marcus franziu os lábios com impaciência.
      —Ocorreu durante sua anterior visita. A senhorita Bowman e sua irmã estavam
fazendo cambalhotas com suas amigas em um prado que se encontra no quadrante
noroeste da propriedade quando Simon Hunt e eu passamos cavalgando por ali de
casualidade. As quatro mulheres estavam em culote... e todas alegaram que resultava
muito difícil dar a esse deporte com essas pesadas saias. Suponho que se teriam
obstinado a qualquer desculpa para correr por aí médio nuas. As irmãs .Bowman são
umas hedonistas. Lívia se tinha levado uma mão à boca para reprimir, sem muito
êxito, um ataque de risada.
      — Não posso acreditar que não o tenha mencionado até agora!
      —Desejaria havê-lo esquecido —replicou Marcus com uma careta ao tempo que
apartava o esteróscopio—. Só Deus sabe como vou me enfrentar ao Thomas Bowman
com a lembrança de sua filha nua ainda afresco em minha mente.
      A diversão da Lívia se aplacou um tanto enquanto contemplava os fortes rasgos
do perfil de seu irmão. Não lhe tinha passado por cima que Marcus havia dito «filha»,
o que deixava claro que logo tinha emprestado atenção a mais jovem. Tinha sido
Lillian a que monopolizasse sua atenção.
      Posto que conhecia muito bem ao Marcus, Lívia teria esperado que seu irmão se

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ria daquele assunto. E paço que possuía um estrito sentido da moralidade, não era
nenhum dissimulado e tinha um saudável senso de humor. Embora nunca tinha tido
uma amante, Lívia tinha ouvido rumores a respeito de umas quantas relações
discretas... e inclusive uma intriga ou dois a respeito de que o supostamente estrito
conde se mostrava muito intrépido no dormitório. Entretanto, por alguma razão, ao seu
irmão perturbava essa audaz moça americana de caráter forte, maneiras atrozes e que,
além disso, era descendente de novos ricos. Não sem certa perspicácia, Lívia se
perguntou se a atração da família Marsden pelos americanos — depois de tudo, Aline
se tinha casado com um e ela mesma acabava de contrair matrimônio com Gideon
Shaw, um dos Shaw de Nova Iorque— podia aplicar-se também a Marcus.
      — Tão arrebatadora estava em culote? —perguntou Lívia com astúcia.
      —Sim —respondeu Marcus sem pensar e, ato seguido, franziu o cenho—. Quero
dizer, não. Bom, não a olhei o tempo suficiente para fazer uma avaliação de seus
encantos. Se é que tem algum.
      Lívia se mordeu a parte interior do lábio para reprimir uma gargalhada.
      —Venha, Marcus... É um homem saudável de trinta e cinco anos... Nem sequer
jogou uma olhadinha à senhorita Bowman em calções?
      —Eu não jogo olhadinhas, Lívia. Ou Miro as coisas de cima abaixo ou não as
Miro. As olhadinhas são para os meninos ou para os pervertidos.
      Lhe dedicou um olhar lastimoso.
      —Bem, sinto muitíssimo que tenha tido que acontecer uma experiência tão
espantosa. Só fica desejar que a senhorita Bowman permaneça completamente vestida
em sua presença durante esta visita com o fim de não escandalizar sua refinada
sensibilidade uma vez mais.
      Marcus franziu o sobrecenho em resposta a suas brincadeiras.
      —Duvido que o faça.
      — Quer dizer que dúvidas que permaneça vestida ou que dúvidas que te
escandalize?
      —Já é suficiente, Lívia —grunhiu, e ela pôs-se a rir.
      —Vamos, temos que saudar os Bowman.
      —Não tenho tempo para isso —replicou seu irmão com brutalidade—. te
Encarregue de lhes dar a bem-vinda e inventa algo para desculpar minha ausência.
      Lívia o olhou com incredulidade.
      —Não irá a... Por Deus, Marcus, tem que fazê-la! Jamais te tinha visto lhe
comporte com tanta grosseria.
      —Encarregarei-me de saudá-los mais tarde. Por todos os Santos, vão estar aqui
quase um mês! Já terei tempo de aplacá-los. Está claro que falar da senhorita Bowman
me pôs que um humor de cães e, agora, a possibilidade de me encontrar na mesma
habitação que ela me põe os cabelos de ponta,
      Lívia negou com a cabeça antes de olhá-lo com uma expressão especulativa que
não lhe fez nenhuma graça.
      —Mmm... Vi-te conversar com gente que você não gosta e sempre conseguiste
te comportar de forma civilizada, especialmente quando quer conseguir algo. Não
obstante, por alguma razão, esta senhorita Bowman te irrita de sobremaneira. E tenho
uma teoria sobre o porquê.
      — Sim? —Em seus olhos brilhava um sutil desafio.
      —Ainda a estou desenvolvendo. Farei-lhe saber isso quando chegar a uma

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conclusão definitiva.
       —Que Deus me ajude. Agora vai, Lívia, e dá a bem-vinda a nossos convidados.
       —Enquanto você te encerra neste estudo como uma raposa que corre a esconder-
se em sua toca, não?
       Marcus ficou em pé e lhe fez um gesto para que o precedesse ao atravessar a
porta.
       —Vá sair pela parte traseira da casa e a dar uma boa cavalgada.
       — Quanto tempo estará fora?
       —Estarei de volta a tempo de me trocar para o jantar.
       Lívia deixou escapar um suspiro de exasperação. O jantar dessa noite seria um
acontecimento muito concorrido, o prelúdio do primeiro dia da festa campestre que
começaria à manhã seguinte. A maioria dos convidados já se instalou, embora ainda
ficavam uns quantos atrasados cuja chegada se esperava breve.
       —Será melhor que não chegue tarde —lhe advertiu—. Não me disse que teria
que me ocupar de todos os detalhes quando acessei a exercer como sua anfitriã.
       —Nunca chego tarde —respondeu Marcus com voz tranqüila antes de afastar-se
com o mesmo entusiasmo de um homem que acabasse de livrar-se da forca.


     Capítulo 2

       Marcus se afastou cavalgando da mansão e conduziu a seu cavalo com o passar
do transitado atalho do bosque que se estendia além dos jardins. Logo que teve
cruzado um terreno baixo e ascendido à ladeira oposta, deixou que o animal corresse a
suas largas, de modo que seus cascos começaram a ressonar sobre os prados de
ulmaria e de erva amarelada pelo sol. Stony Cross Park possuía os melhores terrenos
de toda Hampshire, com bosques frondosos, pradarias cobertas de flores, charcos e
extensos campos dourados. Os convites à propriedade, que uma vez fora reserva de
caça da família real, eram nesses momentos as mais cobiçadas de toda a Inglaterra.
       O fluxo mais ou menos constante de convidados que acudiam ao Stony Cross
Park resultava muito benéfico para os propósitos do Marcus, posto que não só lhe
proporcionava companhia para praticar a caça e os esportes que tanto gostava, mas sim
também lhe permitia levar a cabo certas manobras tanto financeiras como políticas.
Realizavam-se todo tipo de negócios no transcurso dessas festas campestres, nas que
Marcus estava acostumado a persuadir a algum que outro político ou homem de
negócios para que apoiasse sua postura em assuntos de importância.
       A festa que estava a ponto de começar não tinha por que ser distinta a qualquer
outra; entretanto, durante os últimos dias, Marcus se tinha visto assaltado por um
progressivo estado de intranqüilidade. Como o homem racional que era, não acreditava
nem em premonições nem nessa estupidez espíritas que se puseram tão de moda...
embora lhe dava a sensação de que o ambiente de Stony Cross Park tinha trocado de
algum jeito. O ar estava carregado com a incerteza da espera, como a tensa calma que
precede à tempestade. Marcus se sentia inquieto e impaciente, e não havia exercício
físico algum que conseguisse acalmar esse crescente desassossego.
       Ao pensar na noite que tinha por diante, e sabendo de que teria que relacionar-se
com os Bowman, sentiu que a inquietação se transformava em algo que raiava na
ansiedade. Arrependia-se de havê-los convidado. De fato, renunciaria de boa vontade a

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qualquer possível negócio futuro com o Thomas Bowman se, desse modo, pudesse
livrar-se deles. Não obstante, o fato era que já se encontravam ali, que permaneceriam
em sua casa durante um mês completo e que quão único podia fazer era lhe tirar o
máximo partido para a situação.
       Marcus tinha toda a intenção de lançar-se a uma exaustiva negociação com o
Thomas Bowman para conseguir que este expandisse sua indústria saboneteira e
estabelecesse uma fábrica no Liverpool ou, possivelmente, no Bristol. Com toda
probabilidade, o imposto com o que o governo britânico loteava o sabão se derrogaria
nos anos vindouros, se Marcus podia confiar nos amigos reformistas com os que
contava no Parlamento. Quando isso acontecesse, o sabão se converteria em um artigo
muito mais acessível para a população em geral, feito que não só repercutiria de forma
favorável na saúde pública, mas também também na conta corrente do Marcus.
Sempre e quando Thomas Bowman tivesse a bem contar com ele como sócio.
       O único problema era que a presença do Thomas Bowman significava ter que
suportar também a de suas filhas e nisso não havia volta de folha. Lillian e Daisy eram
a personificação dessa moda tão censurável que se impôs entre os norte-americanos de
mandar a suas herdeiras a Inglaterra à caça de um marido. Desse modo, a aristocracia
se via assediada por uma horda de senhoritas ambiciosas que não paravam de tagarelar
sobre si mesmos com esse acento tão atroz, desejosas de atrair a atração dos periódicos
e ganhar publicidade... Jovenzinhas carentes de elegância, barulhentas e presunçosas
que não tinham mais ambição que a de comprar um título com o dinheiro de seus
pais... coisa que estavam acostumados a conseguir na maioria dos casos. Marcus tinha
chegado a conhecer muito bem às irmãs Bowman durante a última estadia das moças
em Stony Cross Park , e pouco podia dizer a favor de nenhuma delas. A maior, Lillian,
converteu-se no foco de sua aversão ao descobrir que, junto com suas amigas —«as
floreiros», tal e como preferiam chamar-se a si mesmos... Como se fosse algo do que
estar orgulhosas!—, tinha ideado uma estratagema para que um cavalheiro da nobreza
se visse obrigado a pedir a uma delas em matrimônio. Marcus, jamais esqueceria o
momento no que o plano foi descoberto. «Santo Deus, é que não respeita
absolutamente nada?», tinha-lhe perguntado a Lillian . Ao que ela tinha respondido de
modo impertinente: «Se algo que mereça meu respeito, ainda não o tenho descoberto.»
       Sua extraordinária insolência a diferenciava de qualquer outra mulher com a que
Marcus tivesse relação. Isso, além disso da partida de rounders que tinham jogado em
culote, tinha-o convencido de que Lillian Bowman era uma bagunceira. E, uma vez
que Marcus julgava o caráter de uma pessoa, trocava de opinião em muito estranhas
ocasiões.
       Com o cenho franzido, sopesou qual seria o melhor modo de tratar a Lillian .
Adotaria uma atitude distante e tranqüila, e passaria por cima qualquer provocação da
moça. Não lhe cabia dúvida de que a Lillian enfureceria ver o pouco que lhe afetava
seu comportamento. A pressão que sentia no peito diminuiu assim que imaginou a
irritação da moça ao ver que a ignorava. Sim... faria todo o possível por evitá-la e,
quando as circunstâncias os obrigassem a permanecer na mesma habitação, trataria-a
com uma distante cortesia. Uma vez aplacado seu mal-estar, Marcus guiou a seu
cavalo por uma zona de saltos singelos: um sebe, uma cerca e um estreito muro de
pedra que homem e animal superaram em perfeita coordenação.

     —E agora, meninas —disse Mercedes Bowman enquanto lançava a suas filhas

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um olhar severo da porta de entrada da habitação que estas compartilhavam—, insisto
em que durmam uma sesta do menos duas horas para que estejam descansadas esta
noite. Os jantares de lorde Westcliff revistam começar bastante tarde e acabam bem
entrada a meia-noite. Não quero que nenhuma das duas boceje na mesa.
       —Sim, mãe —responderam as duas ao uníssono com atitude obediente, ao
tempo que a olhavam com caminhos expressões de inocência que não enganaram à
senhora Bowman nem por indício.
       Mercedes Bowman era uma mulher em extremo ambiciosa que adoecia de um
excesso de energia. Seu corpo, magro como um fuso, podia conseguir que um galgo
resultasse roliço em comparação. Seu estridente e insuportável bate-papo estava
acostumado a estar dirigido para a consecução do objetivo primitivo de sua vida: ver
suas duas filhas esplendidamente casadas.
       —Não sairão desta habitação sob nenhuma circunstância -continuou com o
mesmo tom inflexível—. Nada de vagar às escondidas pela propriedade de lorde
Westcliff; nada de aventuras, arranhões, nem incidentes de nenhuma outra classe. É
mais, tenho a firme intenção de fechar a porta com chave para me assegurar de que
ficam aqui sem ocasionar dano algum e que descansam.
       — Mãe! -protestou Lillian—. Se houver algum lugar na face da Terra mais
aborrecido que Stony Cross Park, comerei- meus sapatos. Em que confusão
poderíamos nos colocar?
       —Vocês tiram problemas do ar —respondeu Mercedes com os olhos
entrecerrados—. E por isso mesmo não penso lhes tirar os olhos de cima. Depois do
comportamento que demonstraram durante nossa última estadia aqui, surpreende-me
muito que hajam tornado a nos convidar.
       —A mim não —replicou Lillian com secura—. Todos sabem que estamos aqui
porque Westcliff lhe jogou o olho ao negócio de pai.
       —É «lorde» Westcliff —a corrigiu Mercedes como um raio—. Lillian, deve se
referir a ele com o devido respeito! É o aristocrata mais rico de toda a Inglaterra e sua
linhagem...
       …é mais antigo que o da muito mesmo rainha -interrompeu Daisy com voz
melódica, posto que tinha escutado esse mesmo discursito em multidão de ocasiões—.
E seu título é o mais antigo de Grã-Bretanha, o que o converte...
       —... no solteiro mais cobiçado de toda a Europa—concluiu Lillian com voz
monótona ao tempo que elevava uma sobrancelha em um gesto zombador—. Ou,
talvez, de todo o mundo. Mãe, se de verdade albergar a esperança de que Westcliff se
case com uma de nós, é que está desmiolada.
       - Não está desmiolada —a corrigiu Daisy—. É uma nova-iorquina.
       Havia muitas pessoas em Nova Iorque nas mesmas circunstâncias que os
Bowman que se esforçavam por subir no escalão social, mas não lhes resultava fácil
mesclar-se com as classes mais conservadoras nem com a sociedade mais elegante.
Essas famílias adinheiradas tinham amassado consideráveis fortunas graças a negócios
tais como a mineração ou as fábricas, mas não terminavam de ser aceitos nos círculos
aos que desejavam pertencer com tanto desespero. O ostracismo e o abafado que
suportava o fato de ser rechaçados pela sociedade nova-iorquina tinham acalorado a
ambição da Mercedes como nenhuma outra coisa poderia havê-lo feito jamais.
       — vamos esforçar nos para, que lorde Westcliff esqueça o desastroso
comportamento que demonstraram durante nossa última visita — assinalou Mercedes

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com gravidade—. de agora em diante, conduzirão-lhes com modéstia, serenidade e
decoro a todas as horas, e não quero ouvir nenhuma só palavra, relacionada com as
floreiros. Quero que lhes mantenham afastadas dessa escandalosa Annabelle Peyton e
da outra, outra, essa...
       — Evie Jenner —lhe recordou Daisy—. E agora é Annabelle Hunt, mãe.
       — Annabelle se casou com o melhor amigo de Westcliff —assinalou Lillian ao
descuido-— Eu diria que é um motivo de peso para que continuemos nossa relação
com ela, mãe.
       — Pensarei-o. —Mercedes as observou com receio—. Enquanto isso tenho a
intenção de que durmam uma sesta larga e sem sobressaltos. Não quero ouvir o menor
ruído procedente desta habitação, entendeste-me?
       — Sim, mãe —responderam ambas a coro.
       A porta fechou depois a Mercedes, que jogou a chave por fora.
       As irmãs se olharam a um à outros com idênticos sorrisos.
       — Menos mal que não chegou a inteirar da partida de rounders—disse Lillian.
       —A estas alturas, estaríamos mortas —conveio Daisy muito seriamente.
       Lillian tirou uma forquilha para o cabelo da caixinha esmaltada que havia sobre
a penteadeira e se aproximou da porta.
       —É uma lástima que se zangue por coisas tão tolas, não te parece?
       —Como quando colocamos aquele porquinho cheio de graxa no salão da
senhora Astor.
       Lillian, a que a lembrança lhe tinha arrancado um sorriso, ajoelhou-se frente à
porta e colocou a forquilha no olho da fechadura.
       —Confesso-te que nunca entendi por que mãe não se deu conta de que o fizemos
para desagravada. Havia que fazer algo para nos vingar da senhora Astor por não ter
convidado a mãe a sua festa.
       —Se mal não recordar, o que disse mãe foi que colocar animais em casas alheias
não nos granjearia muitos convites a futuras festas. .
       —Bom, não acredito que fosse tão mau como essa ocasião em que acendemos
um rojão de luzes naquela loja da Quinta Avenida.
       —Não ficou outro remédio depois de que o vendedor nos tratasse com
semelhante grosseria.
       Lillian tirou a forquilha da fechadura e dobrou com perícia um dos extremos
antes de voltar a introduzi-la. Com os olhos entrecerrados a causa do esforço, seguiu
movendo a forquilha até que se ouviu um estalo, depois do qual olhou a sua irmã com
um sorriso triunfal.
       —Acredito que este foi meu melhor tempo.
       Não obstante, sua irmã pequena não lhe devolveu o sorriso. —Lillian... se
encontrar um marido este ano, tudo trocará. Você trocará. Já não haverá mais aventura
nem diversão, e eu ficarei sozinha.
       —Não seja boba —a arreganhou Lillian, sem deixar de franzir o cenho—. Eu
não vou trocar e você não vai ficar sozinha.
       —Terá que responder ante seu marido. — recordou-lhe Daisy .— E não te
permitirá me acompanhar em minhas travessuras.
       — Não, não e não... Lillian ficou em pé e desprezou a idéia com um gesto da
mão-. Não penso ter essa aula de marido. vou casar me com um homem ao que não lhe
importe ou não se dê conta do que faço quando não estou com ele. Um homem como

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nosso pai.
      —Um homem como, nosso pai não parece ter feito muito feliz a mãe —replicou
Daisy—. Me pergunto se alguma vez estiveram apaixonados.
      Lillian apoiou as costas contra a porta e enrugou o sobrecenho enquanto refletia
sobre esse assunto. Jamais lhe tinha ocorrido expor-se se o matrimônio de seus pais
tinha sido ou não uma união por amor. Por algum motivo, não acreditava que esse fora
o caso.
      Ambos pareciam muito indebincos. Sua relação podia considerar-se como muito
um vínculo insignificante. Até onde Lillian sabia, seus pais nunca discutiam, nunca se
abraçavam e apenas se falavam. Entretanto, entre eles não parecia existir
ressentimento algum. Para falar a verdade, manifestavam uma indiferença mútua e não
havia evidência alguma de que ansiassem a felicidade, nem de que soubessem sequer
como consegui-la.
      - O amor é para as novelas, querida —replicou Lillian esforçando-se todo o
possível por parecer cínica. Abriu a porta, jogou uma olhada a ambos os lados do
corredor e olhou ao Daisy por cima do ombro—. Caminho espaçoso. Saímos pela
entrada de serviço?
      —Sim, vamos à asa oeste da mansão e diretas ao bosque.
      — por que ao bosque?
      — Não lembra do favor que me pediu Annabelle?
      Lillian a olhou um instante sem compreender e, pouco depois, pôs os olhos em
branco.
      —Pelo amor de Deus, Daisy, é que não te ocorre nada melhor que fazer um
recado tão ridículo como esse?
      Sua irmã pequena a contemplou com um olhar perspicaz.
      — O que passa é que não quer ir porque é em benefício de lorde Westcliff.
      Não vai beneficiar a ninguém —replicou Lillian, exasperada—. É uma estupidez
      Daisy respondeu com um olhar decidido.
      — vou procurar o poço dos desejos de Stony Cross Park — anunciou com
grande dignidade— e a fazer o que me pediu Annabelle. Pode me acompanhar se o
desejar ou, pelo contrário, fazer qualquer outra coisa que goste. Entretanto... —seus
olhos amendoados se entrecerraron de forma ameaçadora—, depois de todo o tempo
que me tiveste esperando enquanto você se dedicava a olhar poeirentas perfumarias e
antiquadas farmácias, acredito que me deve ao menos um pouco de paciência...
      —De acordo —grunhiu Lillian—. Irei contigo. Se não o fizer, não o encontrará
nunca e acabará perdida em metade do bosque.
      Voltou a dar uma olhada ao corredor e, depois de comprovar que seguia deserto,
abriu a marcha para a entrada da servidão, situada no outro extremo. Ambas
caminharam nas pontas dos pés, com um sigilo adquirido graças à prática, e sem que
seus pés fizessem ruído algum sobre a grosa atapeta.
      Por muito que Lillian aborrecesse ao dono de Stony Cross Park , tinha que
admitir que a propriedade era magnífica. A mansão estava desenhada segundo o estilo
europeu: uma elegante fortaleza construída com pedra de cor mel, em cujas esquinas
se elevavam quatro pitorescas torres que apontavam ao céu. Convocada em uma colina
que dominava o rio Itchen, a mansão estava rodeada por jardins dispostos em terraços
e por pomares que se estendiam ao longo e largo dos mais de oitenta hectares de
cultivos e bosques. Quinze gerações da família de Westcliff os Marsden, tinham

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ocupado a mansão, tal e como qualquer servente estava mais que disposto a assinalar.
E em realidade, a propriedade não era nem muito menos a única posse de lorde
Westcliff. Dizia-se que controlava uns oito mil hectares em Escócia e Inglaterra, e que
entre suas propriedades se contavam dois castelos, três palacetes, várias moradias
encostadas, cinco casas e uma vila à borda do Támesis. Não obstante, Stony Cross
Park era, sem lugar a dúvidas, a jóia da coroa dos Marsden.
      Enquanto rodeavam um dos laterais da mansão, Lillian e Daisy puseram muito
cuidado em manter-se sempre perto de uma comprida sebe de telhas que as manteria
ocultas à vista de qualquer que se encontrasse na casa principal. Quando entraram no
bosque, formado por vetustos cedros e carvalhos, os raios do sol se filtravam através
do dossel de ramos entrelaçados que se estendia sobre suas cabeças
      Daisy elevou os braços com entusiasmo e exclamou:
      — Adoro este lugar!
      —Não está mal—concedeu Lillian a contra gosto, embora no fundo tinha que
admitir que, em plena floração outonal, não poderia haver outro lugar em toda a
Inglaterra mais formoso que aquele.
      Daisy se encarapitou sobre um tronco cansado que alguém tinha afastado a um
lado do caminho e começou a caminhar com cuidado sobre ele.
      —Quase merece a pena casar-se com lorde Westcliff para poder ser a
proprietária de Stony Cross Park , não é?
      Lillian arqueou as sobrancelhas.
      — Para ter que agüentar todas suas pomposas afirmações e estar disposta a
obedecer todas e cada uma de suas ordens? —Fez uma careta e enrugou o nariz com
aversão.
      —Annabelle diz que lorde Westcliff é muito mais agradável do que ela acreditou
em um princípio.
      —Não fica mais remedido que dizer isso depois do que aconteceu faz umas
semanas.
      Ambas as irmãs guardaram silêncio enquanto recordavam os dramáticos
acontecimentos que tinham tido lugar pouco tempo atrás. Enquanto Annabelle e seu
marido, Simon Hunt, visitavam sua fábrica de locomotivas, da que também era sócio
lorde Westcliff, uma terrível explosão esteve a ponto de acabar com suas vidas. Lorde
Westcliff se equilibrou ao interior do edifício em uma tentativa suicida por salvar ao
casal e tinha conseguido tirados sãs e salvos. Após, como não podia ser de outro
modo, Annabelle considerava o Westcliff desde outra perspectiva: a de herói.
Inclusive tinha chegado a afirmar recentemente que a arrogância do homem resultava
do mais encantadora. Lillian tinha respondido ao comentário com a azedada sugestão
de que talvez Annabelle seguisse sofrendo os efeitos perniciosos que provocava a
inalação de fumaças.
      —Acredito que deveríamos estar agradecidas a lorde Westcliff —comentou
Daisy, que desceu do tronco de um salto—. depois de tudo, salvou a vida do
Annabelle, e não pode dizer-se que tenhamos precisamente um grupo exorbitante de
amigas.
      —O fato de que salvasse ao Annabelle foi pura coincidência—-replicou Lillian,
mal-humorada— O único motivo pelo que Westcliff arriscou sua vida foi para não
perder a um sócio muito rentável.
      — Lillian! —Daisy, que se encontrava uns passos por diante, girou-se para olhar

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a sua irmã com a surpresa desenhada no rosto—. Pelo general não é tão
desconsiderada. Pelo amor de Deus! O conde entrou em um edifício em chamas para
resgatar a nossa amiga e a seu marido... Que mais tem que fazer esse homem para te
impressionar?
      —Estou segura de que a Westcliff importa um cominho que eu fique
impressionada ou não —respondeu Lillian. O deixe ressentido de sua voz a
surpreendeu inclusive o motivo de minha antipatia para ele, Daisy, não é mais que a
conseqüência da antipatia que ele me demonstra. creia-se superior a mim em todos os
aspectos: moral, social e intelectual. Como eu gostaria de encontrar o modo de deixá-
lo com um palmo de narizes!
      Caminharam em silencio durante um minuto, depois do qual Daisy se deteve
para recolher umas quantas violetas que cresciam em profusos ramalhetes a ambos os
lados do caminho.
      — pensaste alguma vez em ser amável com lorde Westcliff? —murmurou.
Elevou os braços para colocá-las violetas nas forquilhas que lhe sujeitavam o cabelo e
acrescentou-: Pode que te surpreenda e te corresponda com o mesmo gesto.
      Lillian negou com a cabeça de forma terminante.
      —Não, o mais provável é que me dissesse algo cortante e se comportasse com
sua típica arrogância e presunção.
      —Acredito que está sendo muito... —começou a repreendê-la Daisy, mas se
deteve com uma expressão absorta no rosto—. ouvi um chapinho. O poço dos desejos
deve estar perto!
      — Demos graças a Deus! —exclamou Lillian e sorriu muito a pesar seu
enquanto seguia a sua irmã pequena, que já atravessava a plena carreira um terreno
baixo bordeada por um prado encharcado.
      O prado estava talher por margaridas azuis, juncais rematados por seus penachos
de flores e sussurrantes varas de ouro. Perto do caminho crescia um frondoso arbusto
de erva de San Juan com seus ramalhetes de casulos amarelos, que se assemelhavam a
uma mancha de luz de sol. Lillian diminuiu o passo para recrear-se no balsâmico
ambiente e respirou fundo. À medida que se aproximava do agitado poço dos desejos,
que não era mais que um charco alimentado por um caminho subterrâneo, o ar se
tornou mais úmido e agradável.
      A começos do verão, todos os floreiros tinham visitado o poço e tinham
arrojado um alfinete à água, somando-se à tradição local. Nnaquele tempo, naquele
tempo, Daisy tinha pedido um misterioso desejo em nome do Annabelle que,
finalmente, cumpriu-se.
      —Aqui está —disse Daisy ao tempo que se tirava do bolso um magro fragmento
metálico em forma de agulha.
      Era a mesma parte de metal que Annabelle tinha extraído do ombro de Westcliff
quando a explosão dos escombros tinha feito voar fragmentos de ferro como se de
metralha se tratasse. Inclusive Lillian, que não estava acostumado a sentir-se muito
inclinada a mostrar compaixão alguma pelo conde, fez uma careta ao ver a
desagradável lasca.
      Annabelle me disse que arrojasse isto ao poço e que pedisse para lorde Westcliff
o mesmo desejo que pedi para ela.
      — e qual foi esse desejo? — Exigiu saber Lillian-. Nunca me há isso dito.
      Daisy a observou com um sorriso zombador.

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      — É que não é óbvio, querida? Desejei que Annabelle se casasse com alguém
que a amasse de verdade.
      — Nossa!
      Depois de refletir a respeito dos detalhes que conhecia sobre o matrimônio do
Annabelle e à luz da evidente devoção que o casal se professava, Lillian chegou à
conclusão de que o desejo devia haver-se completo. Lançou a sua irmã um olhar de
tenra exasperação e retrocedeu um pouco para observar o procedimento.
      — Lillian —protestou Daisy— tem que te pôr a meu lado. O espírito do poço
estará mais disposto a conceder o desejo se as duas nos concentrarmos de uma vez.
      Da garganta do Lillian surgiu uma pequena gargalhada.
      —Em realidade, não creia que exista um espírito do poço, verdade? Deus santo!,
como pudeste chegar a ser tão supersticiosa?
      — E isso o diz alguém que não faz muito comprou um frasco de perfume
mágico….
      — Jamais acreditei que fosse mágico. Só eu gostava do aroma!
      —Lillian — a repreendeu Daisy em brincadeira—, o que tem que mau em
acreditar que seja certo? Nego-me a pensar que vamos passar pela vida sem que
aconteça algo mágico. E, agora, vamos pedir um desejo para lorde Westcliff. É o
menos que podemos fazer depois de que salvasse a nossa querida Annabelle do fogo.
      —Está bem! Porei a seu lado; mas só para te sujeitar em caso de que escorregue.
      Posto que ambas eram da mesma altura, Lillian aconteceu um braço ao Daisy
pelos magros ombros e contemplou essas águas lamacentas e susurrantes.
      Daisy fechou os olhos com força e apertou a lasca de metal entre os dedos.
      —Estou desejando-o muitíssimo —sussurrou—. E você, Lillian?
      —Sim —murmurou ela, embora não estava precisamente rogando que lorde
Westcliff encontrasse seu amor verdadeiro.
      Seu desejo se aproximava mais a: «Espero que lorde Westcliff encontre uma
mulher que consiga pôr o de joelhos.» A idéia lhe arrancou um sorriso que curvou seus
lábios e se atrasou em seu rosto enquanto Daisy arrojava o afiado fragmento de metal à
água, onde se afundou para as insondáveis profundidades.
      Depois de sacudi-las mãos, Daisy lhe deu as costas ao poço com a satisfação do
dever completo.
      —Preparado —disse com um sorriso radiante-. Estou desejando ver com quem
acaba Westcliff.
      —Compadeço a essa pobre garota —replicou Lillian—, quem quer que seja.
      Daisy fez um gesto com a cabeça em direção à mansão.
      — Retornamos à casa?
      A conversação não demorou para derivar para o planejamento de diversas
estratégias enquanto discutiam a respeito de uma idéia que Annabelle tinha sugerido a
última vez que falassem. As Bowman necessitavam com desespero que alguém as
respaldasse e as introduzira nos círculos mais elevados da sociedade britânica... e não
podia ser qualquer. Devia ser alguém capitaesperta, influente e amplamente
reconhecido. Alguém cuja aprovação fosse referendada pelo resto da aristocracia.
Segundo Annabelle, ninguém cumpriria melhor esse papel que a conde de Westcliff, a
mãe do conde.
      A condessa, que parecia ter certa afeição a viajar pelo continente apenas se
deixava ver. Até durante as temporadas nas que residia em Stony Cross Park , preferia

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Aconteceu no outono                             Lisa Kleypas
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manter-se à margem dos convidados para condenar, desse modo, o costume que tinha
seus filhos de relacionar-se com homens de negócios e outros personagens que
pertenciam à aristocracia. Para falar a verdade, nenhuma das Bowman tinha conhecido
à condessa, mas tinham ouvido muitos rumores sobre ela. De ser certos, a mãe do
conde não era a não ser um velho dragão flexível que desprezava a todos os
estrangeiros.
       Especialmente aos norte-americanos.
       — Os motivos pelos que Annabelle pensa que a condessa pode acessar a ser
nossa madrinha escapam a minha compreensão—comentou Daisy, que se entretinha
dando pataditas a uma piedrecilla com o passar do caminho-. Está claro que não o fará
por vontade própria..
       — O fará se Westcliff o ordena —replicou Lillian antes de agarrar um pau
comprido e começar a agitar o de forma distraída-. Conforme parece Westcliff pode
conseguir que a condessa faça algo se o exige. Annabelle me contou que a condessa
não aprovava o matrimônio de lady Olívia com o senhor Shaw e que por isso não tinha
intenção alguma de assistir à bodas. Entretanto, Westcliff sabia que isso feriria
profundamente os sentimentos de sua irmã e obrigou a sua mãe a ir à cerimônia e, o
que é mais, a manter uma atitude civilizada enquanto durou.
       — Seriamente? —Daisy a olhou com um sorrisinho muito particular — Me
pergunto como o obteria.
       —Pois sendo o senhor da casa. Nos Estados Unidos é a mulher a que governa o
lar, mas aqui, na Inglaterra, todo excursão ao redor do homem.
       —Mmm... Isso não me faz nenhuma graça.
       —Sim, sei. —Lillian fez uma pausa antes de adicionar com tom sombrio —:
Segundo Annabelle, um marido inglês tem que aprovar os menus, a disposição dos
móveis, a cor das cortinas...
       Tudo!
       Daisy parecia horrorizada e surpreendida.
       — O senhor Hunt se ocupa de todas essas coisas?
       — Bom, não... mas ele não é um aristocrata. É um homem de negócios. E os
homens de negócios não revistam ter tempo para essas frivolidades. Não obstante, o
aristocrata corrente tem todo o tempo de mundo para examinar até o mais mínimo
detalhe que tenha relação com sua casa.
       Daisy, que tinha deixado de dar patadas à pedra, olhou a Lillian com o cenho
franzido.
       —Estive-me perguntando uma coisa... por que estamos tão dispostas a nos casar
com um nobre, a viver em uma enorme e velha mansão que cai a pedaços, a comer
esta repulsiva comida inglesa e a tentar dar instruções a um punhado de criados que
não vão mostrar nos respeito algum?
       —Porque é o que mãe quer —respondeu Lillian com secura—. E porque
ninguém se casaria conosco em Nova Iorque.
       Era um fato lamentável que na estritamente delimitada sociedade nova-iorquina
os possuidores de novas fortunas pudessem casar-se com tamanha facilidade, mas que,
pelo contrário, as herdeiras de linhagens plebéias não fossem apreciadas nem pelas
famílias de sangue azul nem pelos novos ricos que queriam subir no escalão social.
portanto, a única solução consistia em partir a Europa à caça de um marido, posto que
os homens das classes sociais privilegiadas necessitavam algemas enriquecidas.

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       O cenho franzido do Daisy desapareceu para deixar passo a um sorriso irônico.
       — E se aqui tampouco nos querem?
       —Nesse caso, converteremo-nos em um par de velhas solteironas malvadas que
se dedicarão a pular ao longo e largo da Europa.
       Daisy soltou uma gargalhada ante a idéia e jogou para trás sua larga trança. Era
impróprio que as jovenzinhas de sua idade se passeassem sem chapéu, e mais ainda
que fossem com o cabelo solto. Não obstante, as irmãs Bowman possuíam um cabelo
tão abundante que era toda uma proeza conseguir sujeito com as forquilhas em um
desses complicados recolhidos que estavam tão na moda. Semelhante consigo
requeria, ao menos, de três caixas de forquilhas para cada uma delas, por não dizer que
o sensível couro cabeludo do Lillian acabava literalmente dolorido depois de todos os
puxões e retorcimentos que se necessitavam para ter o aspecto apresentável que se
requeria em qualquer acontecimento de ornamento. Em mais de uma ocasião tinha
sentido inveja do Annabelle Hunt, cujo cabelo, leve e sedoso, sempre parecia
permanecer tal e como ela desejava levá-lo. Nesse momento, Lillian levava o cabelo
sujeito na nuca e solto          pelas costas, em um estilo que jamais teria podido luzir
em companhia de outras pessoas.
       — E como vamos persuadir a Westcliff de que convença a sua mãe para que nos
ajude? —perguntou Daisy—. Não parece muito provável que o conde acesse a fazer
tal coisa.
       Lillian estirou o braço para trás antes de arrojar o pau para o bosque, depois do
qual se sacudiu os pedacinhos de casca que tinha nas mãos.
       —Não tenho a menor idéia —confessou—. Annabelle tentou que o senhor Hunt
interceda em nosso favor, mas este se nega a fazê-lo porque acredita que isso seria
abusar de sua amizade.
       —Se conseguíssemos obrigar a Westcliff de algum modo... –murmurou Daisy-.
Enganá-lo, lhe fazer chantagem ou algo pelo estilo.
       —Só pode chantagear a um homem quando tem feito algo vergonhoso que quer
manter oculto. E duvido muito que esse aborrecido, velho e insípido Westcliff faça
algo em sua vida com o que possamos chantageado.
       Daisy riu pelo baixo ante semelhante descrição.
       —Não é aborrecido, nem insípido... e muito menos velho.
       —Mãe diz que tem pelo menos trinta e cinco anos. Eu diria que isso é ser
bastante velho, não creia?
       —Aposto-me o que queira a que a maioria dos homens de veintitantos não está
em tão boa forma como Westcliff.
       Como era habitual cada vez que uma conversação derivava para o tema do
conde, Lillian se sentiu irritada até extremos insuspeitados; um pouco parecidos com o
que sentia de menina quando seus irmãos lhe tiravam sua boneca favorita para arrojar-
lhe os uns aos outros por cima de sua cabeça enquanto ela exigia a gritos que a
devolvessem.
       A questão de que qualquer menção do conde a afetasse de semelhante modo era
uma questão para a que não tinha resposta. assim deixou acontecer o comentário do
Daisy encolhendo-se de ombros com um gesto irritado.
       Conforme se aproximavam da casa, ouviram ao longe uma série de chiados
alegres, seguidos de uns quantos gritos de ânimo semelhantes aos que fariam um
grupo de meninos em metade de um jogo.

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Aconteceu no outono                              Lisa Kleypas
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      — O que é isso? —perguntou Lillian, que olhava em direção aos estábulos.
      —Não sei, mas parece que alguém o está passando em grande. vamos dar uma
olhada.
      —Não temos muito tempo —lhe advertiu Lillian—. Se mãe descobrir que nos
escapamos...
      —Daremo-nos pressa. Venha, Lillian, por favor!
      Enquanto duvidavam, uns quantos chiados mais, acompanhados de algumas
gargalhadas, chegaram flutuando até elas da parte traseira dos estábulos e o contraste
com a serena paisagem que as rodeava resultou tão evidente que a curiosidade do
Lillian não pôde suportá-lo. Olhou a sua irmã com um sorriso temerário.
      —Jogo uma carreira até ali. —e rompeu a correr como alma que levasse o diabo.
      Daisy se elevou as saias e se apressou a segui-la. Embora suas pernas eram mais
curtas que as do Lillian, também era tão ligeira e ágil como um elfo, assim estava a um
passo de alcançar a sua irmã quando chegaram aos estábulos. Algo ofegante depois do
esforço que tinha suposto subir à carreira o largo pendente, Lillian rodeou a parte
exterior de um curral delimitado por uma primorosa cerca. Havia um grupo de cinco
meninos de idades compreendidas entre os doze e os dezesseis anos jogando no
pequeno prado que se estendia ao outro lado. A julgar por seus trajes, eram garotos de
quadra. tiraram-se as botas, que jaziam junto à cerca, e estavam correndo descalços.
      — Está vendo o que eu? —perguntou Daisy, exultante
      Depois de percorrer o grupo com o olhar, Lillian viu que um dos meninos
blandía um comprido taco de baseball de madeira de salgueiro e pôs-se a rir,
encantada.
      —Estão jogando rounders!
      Embora o jogo —que só necessitava de um taco de baseball, uma bola e quatro
bases dispostas em forma de rombo— era muito popular tanto nos Estados Unidos
como na Inglaterra, era em Nova Iorque onde tinha alcançado cotas de interesse que
raiavam na obsessão. Jogavam meninos e garotas pertencentes a todas as classes
sociais, e Lillian recordou com saudade muitas lancha ao ar livre seguidas de toda
tarde jogando rounders. Uma cálida nostalgia se apoderou dela enquanto observava a
uma das moços de quadra que corria ao redor das bases. Estava claro que estavam
acostumados a utilizar o prado para semelhante propósito, posto que os postes que
marcavam bases estavam profundamente cravados no chão e as zonas intermédias
tinham sido pisoteadas até converter-se em uma extensão de terra carente de erva.
Lillian reconheceu a um dos jogadores: era o menino que lhe tinha emprestado o taco
de baseball que as floreiros tinham utilizado no desafortunado partido de rounders que
jogassem dois meses atrás.
      —Creia que nos deixarão dar? -perguntou Daisy esperançada– Embora só seja
por uns minutos?
      —Não vejo por que não. Esse menino ruivo foi o que nos emprestou o taco de
baseball a outra vez. Acredito que se chama Arthur...
      Nesse momento, lançaram uma bola rápida e baixa ao rebatedor, que brandiu o
taco de baseball com um movimento perito e rápido. A parte plaina do taco de baseball
impactou com força na bola de couro e esta se dirigiu dando tombos no ar para elas,
em um movimento que em Nova Iorque chamavam «gafanhoto». Lillian correu para
diante, apanhou a bola com as mãos nuas e a lançou de novo ao campo em direção ao
menino que estava na primeira base. O moço a apanhou de modo instintivo sem deixar

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de olhar de marco em marco. Quando outros se precaveram da presença do par de
jovenzinhas que os observava de um lado do prado, detiveram-se, sem saber muito
bem o que fazer.
      Lillian se adiantou e procurou com o olhar ao menino ruivo.
      — Arthur? Lembra-te de mim? Estive aqui em junho; emprestou-nos o taco de
baseball
      A expressão perplexa do menino se desvaneceu.
      — Sim, claro! A senhorita... a senhorita...
      — Bowman—lhe recordou Lillian ao tempo que assinalava de modo informal
para o Daisy— E esta é minha irmã. Estávamo-nos perguntando,.. Deixam-nos dar? Só
um ratito?
      Pergunta-a os surpreendeu tanto que o silêncio caiu sobre o prado Lillian supôs
que, embora tinha sido apropriado lhe emprestar o taco de baseball, lhes permitir dar
uma partida com um grupo de moços de quadra era algo totalmente diferente.
      —Não somos tão más, a sério —assegurou ela—. Estávamos acostumada dar
muito em Nova Iorque. Se temerem que entorpeçamos o jogo...
      — Não, não! Não é isso, senhorita Bowman —protestou Arthur com o rosto tão
vermelho como seu cabelo. Jogou uma olhada a seus companheiros antes de olhar de
novo a Lillian —. É só que... as senhoritas como vocês... não podem... Somos da
servidão, senhorita.
      —Mas agora têm um momento livre, não é certo? —rebateu-lhe Lillian.
      O menino assentiu com cautela.
      —Bom, pois nós também estamos desfrutando de um descanso —replicou
Lillian—. E não é mais que um partido de rounders. Venha, nos deixem dar! Não o
diremos a ninguém.
      —lhes diga que lhes ensinará a lançar seu «ensalivada» —sugeriu Daisy em um
murmúrio—. Ou o «avispón».
      Ao ver as expressões apáticas dos garotos, Lillian obedeceu a sua irmã.
      —Sei lançar —acrescentou enquanto elevava as sobrancelhas em um gesto
eloqüente—. Bolas rápidas, ensalivadas, avispones... Não gosta de ver como lançam
os americanos?
      Lillian pôde comprovar que isso sim tinha despertado a curiosidade dos
meninos. Não obstante, Arthur replicou com acanhamento:
      —Senhorita Bowman, se alguém as vê jogando rounders no pátio do estábulo,
culparão-nos e então...
      —Não, não o farão —lhe assegurou Lillian-. Prometo-lhe isso. Se alguém nos
pilhar, assumiremos toda a responsabilidade. Direi-lhes que não lhes deixamos outra
opção.
      Embora o grupo ao completo as olhava com um eloqüente cepticismo, Lillian e
Daisy continuaram chateando-os e suplicando até que, ao final, deixaram-nas dar.
Lillian, que tinha pego uma bola de couro desgastada, flexionou os braços, fez ranger
seus nódulos e se colocou em posição, encarando ao rebatedor que estava situado na
base conhecida como «Castelo de Rocha». Apoiou todo o peso de seu corpo sobre o pé
esquerdo, tomou impulso e realizo um lançamento rápido e bastante bom. A bola caiu
na mão do receptor com uma sonora porrada, posto que o rebatedor tinha reagido tarde
e nem sequer tinha chegado a roçá-la. Uns assobios de admiração premiaram o esforço
do Lillian

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      — Tem um braço muito bom para ser uma garota! —Foi o comentário do
Arthur, que arrancou um sorriso a Lillian —. Agora, senhorita se não lhe importa... O
que é esse avispón que mencionou antes?
      Arrojaram-lhe de novo a bola e, depois de agarrá-la, Lillian se colocou outra vez
frente ao rebatedor. Nessa ocasião, sujeitou a bola tão somente com o polegar, o índice
e o dedo do meio. Virou-se para trás, tomou impulso com o braço e lançou a bola ao
mesmo tempo que girava a boneca, o que fez que a bola rodasse no ar e virasse para
dentro de forma brusca assim que alcançou o Castelo de Rocha. O rebatedor voltou a
falhar, embora também gritou em reconhecimento ao esbarrão. O seguinte lançamento
não o falhou e, por fim, conseguiu lhe dar à bola e enviá-la ao lado ocidental do
campo, que Daisy cruzou alegremente a toda carreira. Apanhou a bola e a lançou ao
jogador que esperava na terceira base, quem teve que saltar para agarrá-la
      Em só uns minutos, o vertiginoso ritmo do jogo e a conseqüente diversão
fizeram que os jogadores deixassem o acanhamento a um lado e seus lançamentos,
lhes bata e carreiras perderam qualquer rastro de inibição. Entre gargalhadas e alardes
que resultavam tão ruidosos como os de qualquer dos meninos, Lillian rememorou a
descuidada liberdade da infância. Supunha um alívio indescritível poder esquecer as
inumeráveis regra e a rígida compostura que as tinham asfixiado desde que pusessem
um pé na Inglaterra, embora só fora por um instante. Além disso, fazia um dia
maravilhoso, com esse sol resplandecente que resultava muito menos sufocante que
em Nova Iorque, e o ar suave e fresco que lhe enchia os pulmões.
      —Senhorita, toca-lhe rebater —disse Arthur ao tempo que elevava uma mão
para que Lillian lhe arrojasse a bola—. Vejamos se rebate tão bem como lança!
      Nem de longe -informou Daisy sem perda de tempo, conseguindo que Lillian lhe
fizesse um gesto com a mão que arrancou um coro de estrondosas gargalhadas de
deleite dos garotos.
      Por desgraça, era certo. Por muito acostumada que fosse lançando, Lillian jamais
tinha conseguido dominar o taco de baseball... feito que ao Daisy, quem superava a
sua irmã nesse aspecto, gostava de arejar aos quatro ventos. Depois de agarrar bata,
Lillian agarrou o punho com a mão esquerda como se fosse um martelo e deixou o
dedo indicador da mão direita ligeiramente separado. Ato seguido, apoiou-se o taco de
baseball sobre um dos ombros para esperar a que o lançador realizasse o lançamento,
calculou o que demoraria a bola em chegar com os olhos entrecerrados e brandiu o
taco de baseball com todas suas forças. Para sua completa frustração, a bola roçou o
extremo do taco de baseball e passou acariciando a cabeça do receptor.
      antes de que o moço pudesse lançar-se em sua busca, uma força invisível
devolveu a bola às mãos do lançador. Lillian ficou desconcertada ao observar que o
rosto do Arthur perdia todo rastro de cor e adquiria uma palidez que contrastava
enormemente com a intensa cor vermelha de seu cabelo. Perguntando-se o que seria a
causa de semelhante expressão, Lillian se deu a volta para olhar a suas costas. O
receptor parecia ter deixado de respirar ao igual a Arthur e, como este, também
observava ao recém-chegado como se estivesse petrificado.
      Porque ali, apoiado com despreocupação sobre a cerca do pátio, encontrava-se
nada mais e nada menos que Marcus, lorde Westcliff.


     Capítulo 3

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       Lillian amaldiçoou em voz baixa e dirigiu a Westcliff um olhar mal-humorado.
Ele respondeu arqueando com ironia uma de suas sobrancelhas.
       Apesar de que levava uma jaqueta de montar de tweed , tinha o pescoço da
camisa aberto, o que deixava ao descoberto a forte e bronzeada linha de sua garganta.
Durante seus encontros anteriores, Westcliff sempre tinha estado vestido de forma
impecável e polido à perfeição. Nesse momento, entretanto, seu abundante cabelo
negro estava alvoroçado e, para falar a verdade, ele fazia falta um barbeado. Coisa
estranha, vê-lo assim lhe provocou um agradável estremecimento nas vísceras e uma
curiosa debilidade nos joelhos.
       Face ao desagradável que lhe resultava o conde, a jovem tinha que reconhecer
que Westcliff era um homem extremamente atrativo.
       Suas facções eram muito grandes em alguns lugares e muito severas em outros,
mas havia certa harmonia arruda na estrutura de seu rosto que fazia que a beleza
clássica resultasse de tudo irrelevante. Havia poucos homens que possuíssem uma
virilidade tão arraigada essa força de caráter que resultava muito capitaesperta para
passá-la por alto. Não só se sentia cômodo com sua posição de autoridade, mas
também era evidente que lhe resultava impossível aceitar outro papel que não fosse o
de líder. Posto que ela era uma jovem que sempre se havia sentido inclinada a lhe
lançar ovos à cara à autoridade, Lillian encontrava no Westcliff uma tentação
irresistível. Poucos instantes lhe tinham resultado tão satisfatórios como aqueles nos
que tinha conseguido tirar o de suas casinhas.
       O olhar especulativo de Westcliff se deslizou desde seu cabelo enredado até as
linhas não engravatadas de sua figura, sem esquecer a arredondes de seus peitos.
Lillian se perguntou se ia dar lhe um pé- de-rodo em público por atrever-se a dar
rounders com um grupo de garotos de quadra e lhe devolveu o olhar com uma de sua
própria colheita. Tratou de parecer desdenhosa, mas não lhe resultou fácil, já que uma
simples olhada ao corpo esbelto e atlético de Westcliff lhe produziu outro enervante
estremecimento na boca do estômago. Daisy tinha razão: seria difícil, por não dizer
impossível, encontrar a um homem mais jovem que pudesse rivalizar com a força viril
de Westcliff . .
       Sem apartar os olhos da maior das Bowman, o conde se separou muito devagar
da perto do curral e se aproximou dela.
       Com o corpo rígido, Lillian se manteve em seu lugar. Era alta para ser uma
mulher, feito que os colocava virtualmente à mesma altura; entretanto, mesmo assim,
Westcliff lhe levava quase dez centímetros e a ultrapassava ao menos em trinta
quilogramas de peso. Enquanto o olhava aos olhos, que eram de um tom castanho tão
intenso que pareciam negros, a inquietação fez que lhe pusessem os nervos de ponta.
       A voz de Westcliff era profunda, de uma textura parecida com o cascalho
envolto em veludo.
       —Deveria aproximar mais os cotovelos ao corpo.
       Posto que esperava uma crítica, semelhante comentário pilhou a Lillian
despreparada.
       — Como?
       As abundantes pestanas do conde descenderam ligeiramente quando contemplou
o taco de baseball que Lillian ainda sustentava na mão direita.
       —Que deveria aproximar mais os cotovelos ao corpo. Terá mais controle sobre o

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taco de baseball se reduzir o arco do movimento.
       Lillian franziu o cenho.
       — Há algum tema no que não seja um perito?
       Um brilho de diversão se refletiu nos escuros olhos do conde enquanto parecia
considerar a questão com atenção.
       —Não sei assobiar —disse ao final—. E minha pontaria com a baesperta é
bastante deficiente. Além disso... —Levantou as mãos em um gesto de indefesa, como
se fora incapaz de recordar alguma outra atividade em que não fora mais que destro.
       — O que é uma baesperta? —perguntou Lillian— E o que quer dizer com isso
de que não sabe assobiar? Todo mundo sabe assobiar.
       Westcliff franziu os lábios para formar um círculo e soltou um inaudível sopro
de ar.
       Estavam tão perto que Lillian sentiu contra sua frente a suave rajada de fôlego, a
qual alvoroçou as sedosas mechas de seu cabelo que se aderiram à pele suarenta.
Piscou pela surpresa e imediatamente, seu olhar descendeu até a boca do homem e _
depois, até o pescoço aberto de sua camisa, onde sua pele bronzeada tinha um aspecto
suave e quente.
       — Vê-o? Nada. Tentei-o durante anos.
       Aturdida, Lillian pensou em lhe aconselhar que soprasse com mais força e que
pressionasse a ponta da língua contra os dentes inferiores... Entretanto, a idéia de lhe
dirigir a Westcliff uma frase que tivesse a palavra «língua» fazia que, de algum modo,
a tarefa lhe resultasse impossível. Em seu lugar, cravou o olhar no homem e deu um
pulo quando ele dirigiu uma mão para seus ombros e a girou com delicadeza, de
maneira que ficasse de frente a Arthur. O menino se encontrava a vários metros de
distância com a esquecida bola de rounders na mão e contemplava ao conde com uma
expressão a meio caminho entre o medo e o assombro.
       Perguntando-se se Westcliff ia dar lhes uma reprimenda aos meninos por ter
permitido que Daisy e ela se unissem ao jogo, Lillian disse com inquietação:
       —Arthur e outros... Eles não tiveram a culpa... Fui eu quem os obrigou a deixar
que participássemos do jogo...
       —Não me cabe a menor duvida —disse o conde a suas costas—. O mais
provável é que não lhes desse a oportunidade de negar-se.
       — N ou pensa castigá-los?
       — Por dar rounders em seu tempo livre? Certamente que não—Westcliff se tirou
a jaqueta e a jogou no chão. girou-se para o receptor que se encontrava bastante perto,
e disse—: Jim, sei um bom menino e lança umas quantas bolas.
       — É obvio, milord! -O moço saiu correndo para o espaço vazio que havia na
parte ocidental do campo, além dos postes que serviam de base.
       — O que está fazendo? -perguntou-lhe Lillian quando Westcliff se colocou atrás
dela.
       —vou corrigir seu balanço -foi sua singela resposta-. Levante o taco de baseball,
senhorita Bowman.
       Ela se girou para observá-lo com um gesto incrédulo e lhe dedicou um sorriso; o
desafio iluminava seus olhos.
       —Isto vai resultar interessante —murmurou a jovem. Elevou o taco de baseball
e olhou ao Daisy, que se encontrava ao outro lado do campo e cujos olhos brilhavam à
força de reprimir as gargalhadas—. Meu balanço é perfeito —resmungou Lillian,

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muito consciente do desconforto que lhe produzia a presença do corpo do conde a suas
costas.
      Ao sentir que as mãos do homem se deslizavam para seus cotovelos e os
empurravam para conseguir que os colocasse em uma posição mais próxima ao corpo,
lhe abriram os olhos de par em par. Quando lhe sussurrou ao ouvido com essa voz
rouca, seus sensíveis nervos pareceram estalar em chamas e sentiu que o rubor se
estendia por seu rosto, seu pescoço e ... bom... por outras partes de seu corpo que, até
onde ela sabia, não tinham nome.
      —Separe mais os pés —disse Westcliff-e distribua seu peso de forma eqüitativa.
Muito bem. Agora aproxime mais as mãos a seu corpo. Posto que o taco de baseball é
um pouco comprido para você, terá que agarrá-lo algo mais acima...
      —Eu gosto de agarrá-lo pela base.
      —É muito comprido para você —insistiu o conde—, e essa é a razão de que
execute o balanço justo antes de golpear a bola...
      —Eu gosto dos tacos de baseball largos -replicou Lillian enquanto lhe colocava
as mãos sobre a manga de salgueiro—. De fato, quanto mais largos, melhor.
      O risinho de um dos moços de quadra chamou sua atenção e Lillian o olhou
com suspicacia justo antes de girar-se para observar ao Westcliff. O rosto do homem
não refletia expressão alguma, mas havia um brilho de diversão em seus olhos.
      — O que é o que resulta tão gracioso? —perguntou a jovem
      —Não tenho nem a menor ideia —respondeu Westcliff com indiferença, depois
do qual, voltou a girá-la de novo para o lançador-. Não se esqueça dos cotovelos.
Assim. Muito bem, não deve girar as bonecas; as mantenha retas e rebate com um
movimento nivelado... Não, não, assim não—. Estirou os braços a seu redor e a
surpreendeu ao colocar suas mãos diretamente sobre as dela para guiá-la no lento arco
do balanço. Tinha a boca junto ao ouvido do Lillian— Se dá conta da diferença?
Tente-o de novo... Não lhe resulta mais natural?
      O coração do Lillian tinha começado a pulsar a um ritmo rápido que enviava
sangue com uma velocidade vertiginosa através de suas veias. Jamais se havia sentido
tão torpe como nesse momento, com sólida calides de Westcliff a suas costas e essas
fortes coxas entre as ligeiras dobras de seu vestido de passeio. As grandes mãos do
conde quase ocultavam as suas por completo e a jovem percebeu, não sem certa
surpresa, que tinha calos nos dedos.
      Uma vez mais —-apressou-a Westcliff ao tempo que incrementava a pressão que
exerciam suas mãos sobre as da moça.
      Assim que os braços de ambos ficaram alinhados, Lillian pôde perceber a dureza
acerada dos músculos de seus bíceps. de repente se sentiu afligida por sua presença,
ameaçada de uma forma que ia mais à frente do sentido físico. O ar que havia em seus
pulmões pareceu expandir-se de forma dolorosa. Deixou escapar uma exalação rápida
e superficial e depois outra... E, imediatamente, viu-se liberada com uma rapidez
desconcertante.
      Westcliff, que tinha dado um passo atrás, olhava-a fixamente e seu cenho
franzido danificava o suave plano da frente. Não era fácil distinguir as íris cor
azeviche do negro de suas pupilas, mas Lillian tinha a impressão de que seus olhos
estavam dilatados, como se tivesse ingerido alguma droga poderosa. Acreditou que o
homem estava a ponto lhe perguntar algo, mas, em troca, dedicou-lhe uma direta
reverência e a insistiu a que retornasse a postura de bateo. Tomando o lugar do

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receptor, Westcliff ficou de cócoras e fez um gesto ao Arthur.
      — Lança algumas fáceis para começar —lhe disse, e Arthur, que ao parecer
superou seu medo, assentiu.
      — Sim, milord!
      Arthur tomou carreirinha e lançou uma bola singela e direta. Com os olhos
entrecerrados pela determinação, Lillian sujeitou o taco de baseball com força, deu um
passo para diante para rebater e girou os quadris para lhe dar mais ímpeto ao
movimento. Para seu chateio, não conseguiu lhe acertar à bola. deu-se a volta e
dedicou a Westcliff um olhar eloqüente.
      —Bom, seus conselhos serviram certamente de muita ajuda —murmurou com
sarcasmo.
      —Os cotovelos —foi sua sucinta resposta e, continuando, voltou a lançar a bola
ao Arthur-. —Outra vez.
      Com um suspiro, Lillian elevou o taco de baseball e voltou a colocar-se de cara
ao lançador.
      Arthur jogou o braço para trás e se inclinou para diante para lançar outra bola
rápida.
      Lillian girou o taco de baseball e o esforço lhe arrancou um grunhido; descobriu
que lhe resultava assombrosamente fácil executar o balanço no ângulo apropriado e
sentiu uma descarga de alegria quando notou o sólido impacto entre o taco de baseball
e a bola de couro. Com um forte rangido, a bola foi catapultada para os ares, por cima
da cabeça do Arthur e mais à frente do alcance daqueles que se encontravam ao fundo
do campo. Com um grito de júbilo, Lillian deixou cair o taco de baseball e correu para
o poste da primeira base, rodeou-o e se dirigiu por volta do segundo. Pela extremidade
do olho, viu que Daisy corria através do campo para apanhar a bola e, quase ao mesmo
tempo, a lançava ao moço que havia mais perto. Lillian acelerou o passo; seus pés
voavam sob as saias quando rodeou o terceiro poste, justo no instante no que Arthur
recebia a bola.
      Com um olhar incrédulo, comprovou que Westcliff se achava de pé junto ao
último poste, o Castelo de Rocha, com as mãos elevadas para apanhar a bola. Como se
atrevia? depois de lhe ensinar a rebater, agora pretendia deixada fora?
      —Com exceção de se de meu caminho! —Gritou Lillian sem deixar de correr
como uma possessa, decidida a alcançá-lo antes de que agarrasse a bola—. Não penso
me deter!
      —Bom, asseguro-lhe que se deterá —afirmou Westcliff com um sorriso
enquanto se colocava justo diante do poste. Chamou o lançador—: me Atira isso
Arthur!
      Atravessaria-o se era necessário, disse-se Lillian, Soltou um pouco parecido a
um grito de guerra e se equilibrou contra ele, conseguindo que o homem se
cambaleasse para trás justo quando seus dedos se fechavam em torno da bola. em que
pese a que poderia ter lutado por manter o equilíbrio, o conde escolheu não fazê-lo e
caiu para trás sobre a amaciada erva com Lillian em cima, que o cobriu com uma
confusão de saias e impetuosas extremidades. Ao princípio, a jovem acreditou que o
tinha deixado sem fôlego, mas imediatamente se deu conta de que, ao parecer, estava-
se afogando de risada.
      — Trapaceou! —disse com tom acusatório; mas, na aparência, aquilo só
conseguiu que se ria com mais ganha. Lillian tratou de recuperar o fôlego tomando

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umas profundas baforadas de ar— Se supunha que não... devia ficar... diante do
poste... pedaço de trapaceiro!
       Sem deixar de ofegar e soprar, Westcliff lhe ofereceu a bola com o reverente
respeito de alguém que entrega um tesouro de valor incalculável ao conservador de um
museu. Lillian agarrou a bola e a jogou em um lado.
       — Não me eliminou! —disse-lhe ao tempo que lhe cravava o dedo indicador no
peito para lhe dar mais ênfase a sua afirmação. Era como lhe dar golpezinhos a uma
pedra-. Estava salva, há-me... ouvido?
       Lillian escutou a voz risonha do Arthur quando o moço se aproximou deles.
       Em realidade, senhorita...
       — Jamais discuta com uma dama, Arthur —o interrompeu o conde que tinha
conseguido recuperar o fôlego para falar.
       O menino sorriu.
       — O que você diga, milord.
       — E há alguma dama por aqui? -perguntou Daisy com jovialidade enquanto
atravessava o campo-. Eu não vejo nenhuma.
       Sem deixar de sorrir, Westcliff levantou o olhar para observar a Lillian . O
conde tinha o cabelo enredado e seus dentes pareciam muito brancos em comparação
com o rosto, talher de suor e de pó. Posto que sua fachada despótica tinha
desaparecido e seus olhos resplandeciam pela diversão, seu sorriso resultou tão
inesperadamente encantada que Lillian sentiu que se desfazia por dentro. Situada em
cima dele, notou que seus próprios lábios esboçavam um relutante sorriso. Uma
mecha solta de cabelo se desprendeu da cinta que o sujeitava e se deslizou como se
fora seda sobre a mandíbula do homem.
       — O que é uma baesperta?
       —Uma catapulta. Tenho um amigo que alberga um profundo interesse pelo
armamento medieval. Ele... -Westcliff duvidou quando uma espécie de tensão
começou a estender-se por seu duro corpo enquanto jazia baixo ela-. Acaba de
construir uma baesperta utilizando um antigo desenho... e me pediu que lhe ajudasse a
dispará-la...
       Ao Lillian resultava muito agradável a idéia de que o sempre reservado Westcliff
fosse capaz de fazer palhaçadas tão infantis. Ao dar-se conta de que estava sentada
escarranchado sobre ele, ruborizou-se e começou a retorcer-se para afastar-se.
       — Não tem boa pontaria? -perguntou-lhe, tratando de aparentar indiferença.
       —Isso pareceu acreditar o dono do muro de pedra que demolimos. —de repente,
o conde respirou fundo quando o corpo da jovem se deslizou sobre o seu ao apartar-se,
e permaneceu sentado no chão incluso depois de que ela já se pôs em pé.
       Perguntando-se por que a olhava de um modo tão estranho, Lillian começou a
sacudi-las poeirentas saias com as mãos, mas resultou em vão. Sua roupa parecia uma
porcaria.
       —Deus... -sussurrou ao Daisy, que também parecia desgrenhada e suja, mas não
tanto como ela-. Como vamos explicar o estado de nossos trajes?
       —Pedirei a uma das donzelas que os leve às escondidas até a lavanderia antes de
que mãe se dê conta. Isso me recorda... que é quase a hora de que desperte de nossa
sesta!
       —Teremos que nos dar pressa —disse Lillian ao tempo que jogava uma olhada a
lorde Westcliff, quem havia se tornado a pôr a jaqueta e nesses momentos se

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encontrava de pé atrás dela—. Milord, se alguém lhe perguntar se nos viu... poderia
dizer que não? —Nunca minto -afirmou ele.
       Lillian soltou um bufo de exasperação.
       — Poderia ao menos abster-se de dar informação de forma voluntária? —pediu-
lhe.
       —Suponho que poderia.
       — Que serviçal é você... —disse Lillian com um tom que indicava justamente o
contrário—. Muito obrigado, milord. Agora se nos desculpa temos que sair correndo.
Literalmente.
       —me sigam, mostrarei-lhes um atalho —se ofereceu Westcliff—. Conheço um
caminho através do jardim que conduz até a entrada de quão serventes há junto à
cozinha.
       Depois de intercambiar um olhar, as irmãs assentiram ao uníssono e se
apressaram a ir atrás dele enquanto agitavam a mão para despedir-se de forma
distraída do Arthur e seus amigos.
       Conforme guiava às irmãs Bowman através do jardim estival, Marcus não pôde
evitar sentir-se molesto pela forma em que Lillian não retrocedia em seu empenho por
adiantá-lo. Ao parecer, era fisicamente incapaz de ir depois . O conde a observou às
escondidas, tomando nota do modo em que suas pernas se moviam sob a fina
musselina do vestido de passeio. Suas pernadas eram largas e ágeis, muito distintas ao
perito balanço feminino que a maioria das mulheres praticava.
       Em silêncio, Marcus refletiu a respeito da inexplicável reação que lhe tinha
provocado a moça enquanto jogavam rounders. Ao olhá-la, o evidente entusiasmo que
refletia sua expressão lhe tinha resultado absolutamente irresistível, Apresentava um
excesso de energia e um entusiasmo pelo exercício físico que pareciam rivalizar com
os seus próprios. Não estava bem visto que as mulheres jovens de sua posição
demonstrassem nenhuma saúde tão robusta nem semelhante brio. supunha-se que
deviam ser tímidas, modestas e comedidas. Entretanto, Lillian lhe tinha resultado
muito encantada para ignorá-la e, antes de que se desse conta do que estava
acontecendo, uniu-se ao jogo.
       Ao vê-la assim, tão ruborizada e excitada, despertaram-se em seu interior certas
sensações que preferiria não ter experiente. Era mais bonita do que recordava e tão
divertida com seu Espinosa teimosia que tinha sido incapaz de resistir ao desafio que
representava. E no momento em que se colocou atrás dela para ajustar seu balanço e
sentiu esse corpo pressionado contra o seu, foi plenamente consciente de um instinto
animal que o insistia a arrastá-la até um lugar íntimo, lhe levantar as saias e ...
       obrigou-se a deixar a um lado esses pensamentos com um fico gemido de
desconforto e observou a Lillian caminhar por diante dele uma vez mais. Parecia um
desastre, com o cabelo enredado... Entretanto, por alguma razão não podia deixar de
pensar no que tinha sentido ao jazer sobre o chão com ela escarranchado em cima dele.
Era ligeira como uma pluma. em que pese a sua altura, era uma garota esbelta, sem
muitas curvas femininas. Não era seu tipo absolutamente. Não obstante, tinha desejado
com desespero encerrar essa cintura entre suas mãos, empurrar seus quadris para baixo
e ...
       —por aqui —disse com secura quando passou junto a Lillian para encaminhar-
se para os sebes e muros que os ocultavam da casa.
       Conduziu às irmãs ao longo de uns atalhos flanqueados por espirais de salvia,

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antigos muros talheres com rosas vermelhas e brilhantes casulos de hortênsia, e
enormes vasos de pedra que transbordavam de violetas brancas.
      — Está seguro de que isto é um atalho? —quis saber Lillian—Acredito que pelo
outro caminho teríamos chegado muito mais rápido.
      Marcus, que não estava acostumado a que se questionassem suas decisões,
dirigiu-lhe um gélido olhar quando se colocou junto a ele.
      —Conheço bem o caminho para atravessar os jardins de minha propriedade,
senhorita Bowman
      —Não lhe faça caso a minha irmã, lorde Westcliff —disse Daisy a suas costas
—. O que passa é que lhe preocupa o que ocorrerá se nos pilham. supõe-se que
deveríamos estar dormindo a sesta, sabe?
      Mãe nos encerrou em nossa habitação, e depois...
      —Daisy —a interrompeu Lillian com secura-, ao conde não lhe interessa escutar
nada disso.
      —Ao contrário —disse Marcus-. Em realidade, estou muito interessado em
saber como conseguiram escapar. Pela janela?
      —Não. Forcei a fechadura —replicou Lillian.
      Marcus armazenou a informação ao fundo de sua mente e perguntou com tom de
mofa:
      — Ensinaram-lhe a fazê-lo na escola superior?
      —Não fomos à escola superior —assinalou Lillian-. Aprendi sozinha a abrir
fechaduras. estive ante muitas portas fechadas desde minha mais tenra infância.
      —Surpreendente.
      --Suponho que você nunca fez nada que merecesse um castigo —disse Lillian.
      —De fato, castigavam-me freqüentemente. Mas jamais me encerraram. Meu pai
considerava muito mais conveniente (e satisfatório) me dar uma surra por meus
crimes.
      — Faz que pareça um bruto -afirmou Lillian,
      Daisy ofegou atrás deles.
      Lillian, não deveria falar assim dos defuntos. E duvido muito que ao conde lhe
agrade ouvir que insulta a seu pai.
      —Não; em realidade, era um bruto -comentou Marcus com uma franqueza que
igualava a do Lillian.

      Chegaram a uma abertura nos sebes de onde partia um caminho de lajes que
bordeavam um das laterais da mansão, Marcus fez um gesto às jovens para que
guardassem silêncio e jogou uma olhada ao solitário caminho para depois as empurrar
até um pequeno esconderijo formado por um alto e magro zimbro; ato seguido,
assinalou com um gesto o lado esquerdo do caminho.
      — A entrada da cozinha está por aí —murmurou—. Cruzaremos por aqui e
tomaremos a escada que há à direita até o segundo andar, onde lhes indicarei o
corredor que conduz até sua habitação,
      As moças o olharam com caminhos sorrisos radiantes; ambos os rostos eram
muito similares e, de uma vez, muito diferentes, Daisy tinha as bochechas
arredondadas e uma antiquada beleza que lhe conferiam a aparência de uma boneca de
porcelana; uns rasgos semelhantes proporcionavam um marco de algum modo
incongruente a seus exóticos olhos castanhos. O rosto do Lillian era mais largo e de

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Aconteceu no outono                              Lisa Kleypas
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corte ligeiramente felino, com olhos rasgados e uma boca enche e carnal que
conseguia que o coração do conde desse um incômodo tombo.
      Marcus não deixou de contemplar sua boca enquanto ela falava.
      — Obrigado, milord —disse Lillian—. Confio em que possamos contar com seu
silêncio a respeito de nosso jogo.
      Se Marcus tivesse sido outro tipo de homem ou tivesse albergado o mais mínimo
interesse romântico por qualquer das duas garotas, poderia ter utilizado essa situação
para flertar um pouco através de uma pequena chantagem. Em troca, assentiu com a
cabeça e respondeu com firmeza:
      — Podem contar com isso.
      Com outro olhar cauteloso, assegurou-se de que havia via livre e os três saíram
do esconderijo que lhes proporcionava o zimbro. Por desgraça, quando estavam a
metade de caminho entre o perto de cogumelos e a entrada da cozinha, um coro de
inesperadas vozes ressonou com o passar do atalho de lajes de piçarra e ricocheteou
com suavidade nos muros da mansão. aproximava-se alguém.
      Daisy saiu à carreira qual cerva assustada e chegou à entrada da cozinha em
uma fração de segundo. Lillian, entretanto, tomou o rumo oposto e se equilibrou de
novo para o zimbro. Sem tempo para considerar suas ações, Marcus a seguiu no
mesmo momento em que um grupo de três ou quatro figuras apareciam ao princípio do
atalho. Apinhado junto a ela no estreito oco que havia entre o zimbro e os cogumelos,
Marcus se sentiu do todo ridículo por esconder-se dos convidados em sua própria casa.
Não obstante, dada sua condição desarrumada e suja, não gostava de muito mostrar-se
ante ninguém... e, de repente, seus pensamentos se dispersaram quando sentiu os
braços do Lillian aferrando-se com força aos ombros de sua jaqueta para atrai-lo mais
para as sombras. Aproximando-o mais a ela. A moça estava tremendo... de medo,
acreditou Westcliff em um princípio. Assombrado por sua própria reação protetora,
colocou um braço ao redor da mulher. Entretanto, descobriu imediatamente que ela se
estava rendo pelo baixo; a situação lhe resultava tão inexplicavelmente graciosa que se
viu obrigada a sufocar uma série de risinhos agudas contra seu ombro.
      Com um sorriso, Marcus a olhou de forma interrogante e jogou para trás uma
daquelas mechas da cor do chocolate que tinha cansado sobre seu olho esquerdo.
Tratou de ver algo entre a estreita abertura que havia entre as fragrantes, espessos e
bicudos ramos do zimbro. Reconheceu aos homens que caminhavam com parcimônia
pelo caminho enquanto discutiam a respeito de assuntos de negócios e agachou a
cabeça para sussurrar ao ouvido do Lillian:
      —Silêncio, é seu pai.
      Ela abriu os olhos de par em par e sua risada se desvaneceu ao tempo que
enterrava os dedos na jaqueta do conde.
      —Deus, não. Não deixe que me descubra! O dirá a minha mãe.
      Westcliff inclinou o queixo para lhe assegurar que não o faria e manteve o braço
ao redor da moça, com a boca e o nariz apoiados sobre sua têmpora.
      —Não nos descobrirão. logo que passem de comprimento, guiarei-a pelo
corredor.
      Lillian ficou muito quieta, espiando pelos diminutos espaços que havia entre as
folhas do zimbro; ao parecer, não se tinha dado conta de que se apertava contra o
corpo do conde de Westcliff de uma maneira que a maioria da gente consideraria
como um abraço. Ainda respirando contra sua têmpora, Marcus a abraçou e tomou

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Aconteceu no outono                               Lisa Kleypas
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consciência de uma elusiva fragrância, um tênue aroma a flores que tinha percebido
vagamente no campo de rounders. Com a intenção de descobrir sua procedência,
encontrou uma maior concentração da fragrância na garganta da jovem, lugar onde o
aroma se voltava lhe intoxique e embriagador. Lhe fez a boca água. de repente,
desejou roçar com a língua aquela tersa pele branca, arrancar a parte dianteira do
vestido e deslizar a boca desde seu pescoço até a ponta dos pés.
       Esticou o braço ao redor da esbelta figura do Lillian e sua mão livre procurou de
forma compulsiva os quadris da moça para exercer uma pressão suave mas contínua
com a intenção de aproximá-la mais a ele. Sim... Deus, sim. Tinha a altura perfeita, era
tão alta que não se precisava mais que um mínimo ajuste para encaixar seus corpos da
maneira apropriada. Embargou-o uma excitação que despertou uma labareda sensual
em seus palpitantes venha. Seria tão fácil tomá-la assim... tão somente teria que lhe
levantar o vestido e lhe separar as pernas. Desejava-a de mil formas distintas: em cima
dele, debaixo dele.., Qualquer parte de seu corpo dentro de qualquer parte do corpo
dela. Podia notar a forma natural de sua silhueta sob o fino vestido, posto que não
levava espartilho que estragasse a curva perfeita de suas costas. Ela se esticou um
pouco quando sentiu que sua boca lhe roçava a garganta e pareceu ficar sem fôlego
pelo assombro.
       — O que... o que está fazendo? —sussurrou.
       Ao outro lado dos cogumelos, os quatro homens passaram conversando
animadamente a respeito da manipulação das ações empresariais enquanto a mente do
Marcus fervia com pensamentos relacionados com outro tipo de manipulação
completamente distinta, Umedeceu-se os lábios secos com a língua e apartou a cabeça
para observar a expressão confundida da moça.
       —Desculpe—murmurou, lutando por recuperar o bom julgamento—-.É esse
aroma... o que é?
       — Aroma? —Ela parecia absolutamente perplexa– Se refere ao meu perfume?
       Marcus estava absorto em seus lábios... esses lábios cheios, sedosos e rosados
que prometiam uma inexprimível doçura. A essência dessa mulher invadia seu olfato
uma e outra vez com luxuriosas quebras de onda que despertaram outra série de
fabulosos impulsos no interior de seu corpo. Sua ereção se fez evidente; a entreperna
lhe palpitava com rapidez e lhe pulsava o coração a um ritmo desbocado. Não podia
pensar com claridade. Tremiam-lhe as mãos pelo esforço que lhe supunha não
acariciá-la. Fechou os olhos e apartou o rosto do do Lillian, só para tirar o chapéu
acariciando sua garganta com o nariz. Ela o empurrou um pouco para lhe sussurrar
com força ao ouvido.
       — Mas que demônios lhe passa?
       Marcus sacudiu a cabeça com impotência.
       —Deculpa —disse com voz rouca, apesar de que sabia o que estava a ponto de
fazer—. meu Deus, desculpa... —Estampou a boca contra a da moça e começou a
beijá-la como se fosse a vida nisso.




     Capítulo 4
     Era a primeira vez na vida que a Lillian a beijava um homem sem lhe pedir

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permissão.. Não deixou de lutar até que Westcliff a capturou com mais 8 firmeza
contra seu corpo. O conde cheirava a terra, a cavalo e a luz de sol. E a algo mais... a
uma essência doce e seca que a Lillian recordava ao feno recém segado. A pressão
que exercia sua boca se incrementou em um ardoroso tentativa de que a jovem separa
os lábios.
       Lillian nunca tinha imaginado um beijo semelhante, uma carícia profunda, tenra
e impaciente que pareceu deixá-la sem forças até o ponto de que se viu obrigada a
fechar os olhos e procurar o firme apoio do torso do homem. Westcliff aproveitou
imediatamente sua debilidade, apertou-a contra seu corpo até que não ficou um
milímetro de separação entre eles e lhe introduziu uma de suas fortes coxas entre as
pernas para as separar.
       A ponta da língua de Westcliff começou a brincar no interior de sua boca com
cálidas carícias que percorriam o bordo de seus dentes e a sedosa umidade que se
estendia atrás deles. Sobressaltada por semelhante intimidade, Lillian retrocedeu, mas
ele compassou seu movimento e lhe colocou as mãos a ambos os lados da cabeça. A
jovem não sabia o que fazer com a língua, de modo que jogou para trás com estupidez
enquanto ele seguia brincando com ela; não deixou de apressá-la, incitá-la e lhe dar
agradar até que da garganta da moça escapou um gemido tremente e começou a
empurrar a Westcliff de modo frenético.
       A boca do conde se separou dela. Consciente da presença de seu pai e dos
companheiros deste, que ainda seguiam ao outro lado do zimbro, Lillian se esforçou
por recuperar o fôlego enquanto observava as sombras escuras dos homens através do
frondoso amparo das agulhas da árvore. O grupo prosseguiu seu caminho, alheio ao
casal que se abraçava, oculta, à entrada do jardim. ALíviada ao ver que partiam,
Lillian deixou escapar um trêmulo suspiro. O coração começou a desbocar-se em seu
peito quando sentiu que a boca de Westcliff se deslizava pela suave curva de sua
garganta e deixava depois de si um caminho de fogo. Ela voltou a se remover para
livrar do abraço, mas ainda tinha a perna do conde entre as coxas e uma fulgurante
quebra de onda de calor começou a estender-se por todo seu corpo.
       —Milord —disse em um sussurro—, ficou louco?
       —Sim. Sim. —Seus lábios retornaram de novo à boca do Lillian...para lhe
roubar outro beijo tão profundo como os anteriores—. me dê seus lábios... a língua...
sim. Sim. É tão doce... tão doce.
       Os lábios do conde eram quentes e implacáveis, e se moviam sobre a boca do
Lillian com uma sensual coerção enquanto seu fôlego lhe roçava a bochecha. A jovem
sentia um comichão nos lábios e no queixo, provocado pelo roce áspero da pele sem
barbear de Westcliff
       —Milord —voltou a sussurrar depois separar-se de sua boca com um gesto
brusco—. Pelo amor de Deus! me solte!
       —Sim... Sinto muito... Só um mais... e procurou uma vez mais seus lábios ao
tempo que ela o empurrava com todas suas forças. Não obstante, o torso do homem
resultou ser I tão duro como o granito.
       — me solte, bruto!
       Depois de retorcer-se de modo frenético, Lillian conseguiu livrar-se de Westcliff
. A deliciosa fricção de seus corpos provocou um formigamento que a percorreu da
cabeça aos pés, mesmo que já estavam separados.
       Enquanto se olhavam o um ao outro, Lillian percebeu como a luxúria havia

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Aconteceu no outono                               Lisa Kleypas
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nublado ao conde abandonava seu rosto um instante antes de que esses olhos escuros
se abrissem de par em par ao compreender o que acabava de ocorrer.
       — Pelos pregos de Cristo! —exclamou ele em voz baixa.
       Ao Lillian não gostou absolutamente do modo em que Westcliff a observava,
como um homem que contemplasse a cabeça letal de Medusa. Com o cenho franzido,
disse-lhe com secura:
       —Encontrarei o caminho de volta a minha habitação. E não lhe ocorra me
seguir… Já tive suficiente ajuda sua por hoje. — E com essas palavras, deu-se a volta
e se apressou a cruzar o caminho enquanto ele a observava com a boca aberta.
       Por algum milagre divino, Lillian conseguiu chegar a sua habitação antes de que
aparecesse sua mãe com a intenção de despertar a suas filhas da sesta. deslizou-se pela
porta que estava entreaberta, fechou-a e procedeu a desabotoar-se com presteza a parte
dianteira do vestido. Daisy, que já se despiu e estava em roupa interior, foi até a porta
e introduziu uma forquilha dobrada sob o pomo para forçar o fecho de modo que se
fechasse de novo.
       — por que demoraste tanto? -—perguntou a sua irmã enquanto pinçava na
fechadura. —Espero que não te incomodasse que me partisse sem te esperar... Pensei
que era melhor retornar e me lavar tão rápido como pudesse.
       — Não —respondeu Lillian de forma distraída ao tempo que se tirava o sujo
vestido. Deixou-o no fundo do armário e fechou a porta para oculto.
       Um repentino estalo assinalou o êxito do Daisy, que tinha conseguido dar de
novo o fecho da porta. Lillian não perdeu o tempo: aproximou-se do lavamanos, jogou
a água suja à jarra que servia para tal mister e verteu água limpa na bacia. Depois de
lavar a cara e as mãos à carreira, secou-se com uma toalha limpa. De repente, uma
chave girou na fechadura e ambas as irmãs se olharam com súbito alarme. Percorreram
de um salto a distância que as separava de suas respectivas camas e caíram sobre os
colchões no mesmo instante em que sua mãe entrava na habitação. Por sorte, as
cortinas estavam corridas, de modo que não havia luz suficiente para que Mercedes
pudesse detectar evidência alguma das atividades de suas filhas.
       — Meninas— .perguntou com suspicacia—. Já é hora de despertar.
       Daisy se espriguiçou e bocejou de forma audível.
       — Mmm... Que sesta mais agradável. Sinto-me tão descansada.. .
       —Igual a eu —replicou Lillian com voz pastosa; tinha a cabeça enterrada no
travesseiro e seu coração pulsava com força contra o colchão.
       —É hora de que lhes dêem um banho e lhes ponham os vestidos de noite.
Avisarei às donzelas para que tragam uma banheira. Daisy, porá-te o vestido de seda
amarela. Lillian, você o verde com os broches de ouro nos ombros.
       —Sim, mãe -disseram ambas ao uníssono.
       Enquanto Mercedes retornava à habitação contigüa, Daisy se sentou na cama e
observou a sua irmã com curiosidade.
       — por que demoraste tanto em voltar?
       Lillian rodou sobre a cama e cravou os olhos no teto ao tempo que refletia sobre
os acontecimentos que tinham tido lugar no jardim. Ainda não podia acreditar que
Westcliff, que sempre tinha manifestado uma clara desaprovação para sua pessoa,
comportou-se de semelhante modo. Não tinha sentido. O conde jamais tinha mostrado
indício algum de sentir-se atraído por ela. De fato, essa tarde tinha sido a primeira
ocasião em que ambos se comportaram com certo civismo o um com o outro.               I

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Lisa kleypas [wallflowers] - 02 - aconteceu no outono

  • 1. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa Resumo: Quatro jovens damas se introduzem na sociedade londrina com um objetivo prioritário: utilizar todos os ardis e artimanhas femininos a seu alcance para encontrar marido. assim, formam uma equipe: as Wallflowers. Esta é a história de uma delas..... Aconteceu em um baile.... Inteligente, desrespeitosa e impulsiva, Lillian Bowman compreendeu rapidamente que seus costumes americanas não eram recebidas com simpatia pela sociedade londrino. E o que mais as desaprovava era Marcus, Lorde Westcliff, um insofrível e arrogante aristocrata que, por desgraça, tambien era o solteiro mais cobiçado da cidade. Aconteceu em um jardim.... Ali Marcus a estreitou entre seus braços e Lillian se sentiu consumida pela paixão para um homem que nem sequer lhe caía bem. O tempo se deteve; era como seu bi existissem mas que eles dois... E quase os apanham nessa atitude tão escandalosa. Aconteceu em outono....Marcus era um homem que controlava suas emoções, um paradigma de aprumo. Com Lillian , entretanto, cada carícia supunha uma deliciosa tortura, cada beijo um convite a procurar mais- Mas como poderia considerar sequer tomar como sua prometida a uma mulher tão obviamente inapropriada?. Tradução:Rafaela Revisão:Anninha Lima Capítulo 1 Stony Cross Park, Hampshire —chegaram os Bowman —anunciou lady OLívia Shaw da entrada do estudo, onde seu irmão maior estava sentado atrás de seu escritório em meio de um montão de livros de contabilidade. O sol do entardecer penetrava através das enormes janelas retangulares de cristal tinto, que eram a única ornamentação de uma estadia cujas paredes estavam cobertas com painéis de palisandro. Marcus, lorde Westcliff, levantou a vista de seu trabalho com um sinistro cenho franzido que uniu suas sobrancelhas por cima dos olhos cor café. — Que comece o caos... —murmurou. Lívia se pôs-se a rir. —Suponho que refere às filhas. Em realidade não são tão más, verdade? —São piores —afirmou Marcus de forma sucinta; seu cenho se acentuou ainda mais quando viu que a pluma que tinha esquecido entre seus dedos acabava de deixar uma enorme mancha de tinta na, até esse momento, imaculada coluna de números—. Não conheci duas jovens tão mal educadas em toda minha vida. Sobre tudo, a maior. —Bom, são americanas —assinalou Lívia—. Seria justo que gozassem de certa 1
  • 2. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa flexibilidade, não te parece? Não se pode esperar que conheçam cada um dos complexos detalhes de nossa interminável esperta de regras sociais... —Posso lhes permitir certa flexibilidade com os detalhes —interrompeu Marcus de forma cortante—. Como bem sabe, não sou o tipo de homem que se queixaria pelo ângulo impróprio do dedo mindinho da senhorita Bowman ao agarrar a taça de chá. O que não posso passar por cima são certos comportamentos que se encontrariam inaceitáveis em qualquer canto do mundo civilizado. «Comportamentos?» Nossa aquilo se estava pondo interessante. Lívia entrou no estudo, uma habitação que estava acostumada a lhe resultar do mais desagradável devido ao muito que recordava a seu defunto pai. Nenhuma lembrança do oitavo conde de Westcliff era agradável. Seu pai tinha sido um homem frio e cruel que parecia absorver todo o oxigênio de uma habitação quando entrava. Não havia nada nem ninguém que não tivesse decepcionado ao conde em vida. De suas vergônteas, tão somente Marcus se aproximou de suas elevadas expectativas, já que, sem importar quão impossíveis fossem seus requerimentos ou quão injustos resultassem seus julgamentos, Marcus jamais se queixou. Lívia e Aline admiravam a seu irmão maior, cujo esforço constante por alcançar a excelência o tinha conduzido a obter as mais altas qualificações na escola, a romper todas as marcas em seus esportes preferidos e a julgar-se com mais dureza do que o teria feito ninguém. Marcus era um homem que sabia montar a cavalo, dançar uma contradança, dar uma conferência sobre uma teoria matemática, enfaixar uma ferida e reparar a roda de uma carruagem. Não obstante, nenhuma de sua vasta coleção de habilidades tinha merecido nunca uma felicitação por parte de seu pai. Ao voltar a vista atrás, Lívia se deu conta de que a intenção do anterior conde devia ter sido eliminar qualquer vestígio de amabilidade ou compaixão que possuísse seu filho. E, ao parecer, durante uma época o tinha conseguido. Entretanto, depois da morte de seu progenitor, cinco anos atrás, Marcus tinha demonstrado ser um homem muito diferente ao que se supunha que devia ser. Lívia e Aline tinham descoberto que seu irmão maior nunca estava muito ocupado para escutadas; sem importar o insignificante que lhe parecessem seus problemas, sempre estava disposto a ajudar. Para falar a verdade, era pormenorizado, bebe so e incrivelmente atento; o qual não deixava de ser um milagre se se tinha em conta que a maior parte de sua vida tinha transcorrido sem que ninguém lhe demonstrasse essas qualidades. Além de todo o dito, também terei que admitir que Marcus era um pouco dominante. Bom... Muito dominante. Quando se tratava daqueles a quem amava, o atual conde de Westcliff não mostrava reparo algum em manipulá-los para que fizessem o que ele considerava que era melhor. Essa não era uma de suas virtudes mais encantadoras. E se Lívia se visse obrigada a afundar em seus defeitos, também teria que admitir que Marcus possuía um molesto convencimento a respeito de sua própria infalibilidade. Com um sorriso bebe só dirigido a seu carismático irmão, Lívia se perguntou como podia adorar o dessa maneira quando se parecia tanto a seu pai no aspecto físico. Marcus possuía os mesmos rasgos severos, a frente larga e a boca de lábios finos. Tinha o mesmo cabelo abundante e negro como a asa de um corvo; o mesmo nariz amplo e proeminente; e o mesmo queixo, pronunciada e tenaz. A combinação resultava mais lhe impactem que formosa... mas era um rosto que atraía com facilidade as olhadas femininas. Ao contrário que acontecia com os de seu pai, nos atentos e 2
  • 3. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa escuros olhos do Marcus estava acostumado a brilhar uma faísca de humor e possuía um particular sorriso que permitia que seus branquíssimos dente iluminassem seu bronzeado rosto. Ao ver que Lívia se aproximava, Marcus se reclinou na poltrona e entrelaçou os dedos de ambas as mãos sobre o ventre. Em deferência ao calor tão pouco usual para uma tarde de princípios de setembro, o conde se tirou a jaqueta e se elevou as mangas, deixando ao descoberto seus morenos antebraços, que estavam ligeiramente salpicados de pêlo negro. Era de altura média e se encontrava em um estado de forma extraordinário, com o físico de um ávido esportista. Desejosa de escutar mais sobre o comportamento da mal educada senhorita Bowman, Lívia se apoiou sobre o bordo do escritório, de cara ao Marcus. —Pergunto-me o que terá feito a senhorita Bowman para te ofender tanto... — discorreu em voz alta—. Conte-me o Marcus. Se não, minha imaginação conjurará de seguro algo muito mais escandaloso do que a pobre senhorita Bowman seria capaz de realizar nunca. — A pobre senhorita Bowman? —soprou Marcus—. Não pergunte, Lívia. Não estou em liberdade de falar sobre o tema. Ao igual à maioria dos homens, Marcus parecia não compreender que nada avivava tanto as chamas da curiosidade feminina como um tema sobre o qual um não estava em liberdade de discutir. —Solta-o já, Marcus —lhe ordenou—. Ou te farei padecer de formas inexprimíveis. Uma de suas sobrancelhas se arqueou de forma irônica. —Posto que os Bowman já chegaram, essa ameaça resulta algo redundante. —Tratarei de adivinhá-lo, então. Pegou à senhorita Bowman com alguém? Acaso estava permitindo que a beijasse algum cavalheiro... ou algo pior? Marcus respondeu com um sarcástico sorriso do meio lado. —Mas bem não. Basta lhe dar uma olhada para que qualquer homem que esteja em seus cabais saia fugindo e sem deixar de gritar na direção oposta. A Lívia deu a impressão de que seu irmão estava sendo muito duro com Lillian Bowman e franziu o cenho. —É uma garota muito bonita, Marcus. —Uma fachada bonita não basta para esconder os defeitos de seu caráter. — E quais são esses defeitos? Marcus soltou um breve bufo, como se os defeitos da senhorita Bowman fossem muito evidentes para requerer que os enumerasse. —É uma manipuladora. —Também o é você, querido —murmurou Lívia. Seu irmão passou por cima o comentário. —É dominante. —Como você. —E arrogante. —Também como você —disse Lívia com jovialidade. Marcus a olhou jogando faíscas pelos olhos. —Acreditei que estávamos discutindo os defeitos da senhorita Bowman, não os meus. —Mas é que, ao parecer, têm muito em comum —protestou Lívia com fingida 3
  • 4. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa inocência. Observou como ele deixava a pluma e a alinhava com o resto de artigos que havia em cima de seu escritório—. Respeito a seu comportamento inapropriado... Está- me dizendo que não a apanhou em uma situação comprometedora? —Não, não hei dito isso. Quão único hei dito é que não estava com um cavalheiro. —Marcus, não tenho tempo para isto —disse Lívia com impaciência—. Devo ir lhes dar a bem-vinda aos Bowman, e você também teria que fazê-la, por certo; entretanto, antes de sair do estudo, exijo que me diga o que é essa coisa escandalosa que estava fazendo Lillian Bowman. —Resulta muito ridículo dizê-lo sequer. — Cavalgava como homem? Estava fumando um charuto? Nadando nua no lago? —Nada disso. —A contra gosto, Marcus agarrou um esteróscopio que havia sobre a esquina do escritório, um presente que lhe tinha enviado sua irmã Aline, que agora vivia com seu marido em Nova Iorque. O esteróscopio era um invento recente, fabricado com madeira de arce e cristal. Quando um cartão estereoscópico —uma fotografia dobro— se introduzia na extensão que havia depois da lente, a imagem aparecia em três dimensões. A profundidade e a qualidade das fotografias estereoscópicas resultava surpreendente: os ramos das árvores pareciam a ponto de arranhar o nariz do espectador e o cume de uma montanha parecia abrir-se com tal realismo que a um dava a impressão de que poderia cair e morrer em qualquer momento. Marcus se levou o aparelho aos olhos e examinou a imagem do Coliseu de Roma com árdua concentração. Justo quando Lívia estava a ponto de explorar de impaciência, Marcus murmurou: —Vi a senhorita Bowman jogando a rounders em culote. Lívia o olhou com olhos como pratos. — Ao rounders? Refere a esse jogo no que se utiliza uma bola de couro e um taco de baseball plano? Marcus franziu os lábios com impaciência. —Ocorreu durante sua anterior visita. A senhorita Bowman e sua irmã estavam fazendo cambalhotas com suas amigas em um prado que se encontra no quadrante noroeste da propriedade quando Simon Hunt e eu passamos cavalgando por ali de casualidade. As quatro mulheres estavam em culote... e todas alegaram que resultava muito difícil dar a esse deporte com essas pesadas saias. Suponho que se teriam obstinado a qualquer desculpa para correr por aí médio nuas. As irmãs .Bowman são umas hedonistas. Lívia se tinha levado uma mão à boca para reprimir, sem muito êxito, um ataque de risada. — Não posso acreditar que não o tenha mencionado até agora! —Desejaria havê-lo esquecido —replicou Marcus com uma careta ao tempo que apartava o esteróscopio—. Só Deus sabe como vou me enfrentar ao Thomas Bowman com a lembrança de sua filha nua ainda afresco em minha mente. A diversão da Lívia se aplacou um tanto enquanto contemplava os fortes rasgos do perfil de seu irmão. Não lhe tinha passado por cima que Marcus havia dito «filha», o que deixava claro que logo tinha emprestado atenção a mais jovem. Tinha sido Lillian a que monopolizasse sua atenção. Posto que conhecia muito bem ao Marcus, Lívia teria esperado que seu irmão se 4
  • 5. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa ria daquele assunto. E paço que possuía um estrito sentido da moralidade, não era nenhum dissimulado e tinha um saudável senso de humor. Embora nunca tinha tido uma amante, Lívia tinha ouvido rumores a respeito de umas quantas relações discretas... e inclusive uma intriga ou dois a respeito de que o supostamente estrito conde se mostrava muito intrépido no dormitório. Entretanto, por alguma razão, ao seu irmão perturbava essa audaz moça americana de caráter forte, maneiras atrozes e que, além disso, era descendente de novos ricos. Não sem certa perspicácia, Lívia se perguntou se a atração da família Marsden pelos americanos — depois de tudo, Aline se tinha casado com um e ela mesma acabava de contrair matrimônio com Gideon Shaw, um dos Shaw de Nova Iorque— podia aplicar-se também a Marcus. — Tão arrebatadora estava em culote? —perguntou Lívia com astúcia. —Sim —respondeu Marcus sem pensar e, ato seguido, franziu o cenho—. Quero dizer, não. Bom, não a olhei o tempo suficiente para fazer uma avaliação de seus encantos. Se é que tem algum. Lívia se mordeu a parte interior do lábio para reprimir uma gargalhada. —Venha, Marcus... É um homem saudável de trinta e cinco anos... Nem sequer jogou uma olhadinha à senhorita Bowman em calções? —Eu não jogo olhadinhas, Lívia. Ou Miro as coisas de cima abaixo ou não as Miro. As olhadinhas são para os meninos ou para os pervertidos. Lhe dedicou um olhar lastimoso. —Bem, sinto muitíssimo que tenha tido que acontecer uma experiência tão espantosa. Só fica desejar que a senhorita Bowman permaneça completamente vestida em sua presença durante esta visita com o fim de não escandalizar sua refinada sensibilidade uma vez mais. Marcus franziu o sobrecenho em resposta a suas brincadeiras. —Duvido que o faça. — Quer dizer que dúvidas que permaneça vestida ou que dúvidas que te escandalize? —Já é suficiente, Lívia —grunhiu, e ela pôs-se a rir. —Vamos, temos que saudar os Bowman. —Não tenho tempo para isso —replicou seu irmão com brutalidade—. te Encarregue de lhes dar a bem-vinda e inventa algo para desculpar minha ausência. Lívia o olhou com incredulidade. —Não irá a... Por Deus, Marcus, tem que fazê-la! Jamais te tinha visto lhe comporte com tanta grosseria. —Encarregarei-me de saudá-los mais tarde. Por todos os Santos, vão estar aqui quase um mês! Já terei tempo de aplacá-los. Está claro que falar da senhorita Bowman me pôs que um humor de cães e, agora, a possibilidade de me encontrar na mesma habitação que ela me põe os cabelos de ponta, Lívia negou com a cabeça antes de olhá-lo com uma expressão especulativa que não lhe fez nenhuma graça. —Mmm... Vi-te conversar com gente que você não gosta e sempre conseguiste te comportar de forma civilizada, especialmente quando quer conseguir algo. Não obstante, por alguma razão, esta senhorita Bowman te irrita de sobremaneira. E tenho uma teoria sobre o porquê. — Sim? —Em seus olhos brilhava um sutil desafio. —Ainda a estou desenvolvendo. Farei-lhe saber isso quando chegar a uma 5
  • 6. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa conclusão definitiva. —Que Deus me ajude. Agora vai, Lívia, e dá a bem-vinda a nossos convidados. —Enquanto você te encerra neste estudo como uma raposa que corre a esconder- se em sua toca, não? Marcus ficou em pé e lhe fez um gesto para que o precedesse ao atravessar a porta. —Vá sair pela parte traseira da casa e a dar uma boa cavalgada. — Quanto tempo estará fora? —Estarei de volta a tempo de me trocar para o jantar. Lívia deixou escapar um suspiro de exasperação. O jantar dessa noite seria um acontecimento muito concorrido, o prelúdio do primeiro dia da festa campestre que começaria à manhã seguinte. A maioria dos convidados já se instalou, embora ainda ficavam uns quantos atrasados cuja chegada se esperava breve. —Será melhor que não chegue tarde —lhe advertiu—. Não me disse que teria que me ocupar de todos os detalhes quando acessei a exercer como sua anfitriã. —Nunca chego tarde —respondeu Marcus com voz tranqüila antes de afastar-se com o mesmo entusiasmo de um homem que acabasse de livrar-se da forca. Capítulo 2 Marcus se afastou cavalgando da mansão e conduziu a seu cavalo com o passar do transitado atalho do bosque que se estendia além dos jardins. Logo que teve cruzado um terreno baixo e ascendido à ladeira oposta, deixou que o animal corresse a suas largas, de modo que seus cascos começaram a ressonar sobre os prados de ulmaria e de erva amarelada pelo sol. Stony Cross Park possuía os melhores terrenos de toda Hampshire, com bosques frondosos, pradarias cobertas de flores, charcos e extensos campos dourados. Os convites à propriedade, que uma vez fora reserva de caça da família real, eram nesses momentos as mais cobiçadas de toda a Inglaterra. O fluxo mais ou menos constante de convidados que acudiam ao Stony Cross Park resultava muito benéfico para os propósitos do Marcus, posto que não só lhe proporcionava companhia para praticar a caça e os esportes que tanto gostava, mas sim também lhe permitia levar a cabo certas manobras tanto financeiras como políticas. Realizavam-se todo tipo de negócios no transcurso dessas festas campestres, nas que Marcus estava acostumado a persuadir a algum que outro político ou homem de negócios para que apoiasse sua postura em assuntos de importância. A festa que estava a ponto de começar não tinha por que ser distinta a qualquer outra; entretanto, durante os últimos dias, Marcus se tinha visto assaltado por um progressivo estado de intranqüilidade. Como o homem racional que era, não acreditava nem em premonições nem nessa estupidez espíritas que se puseram tão de moda... embora lhe dava a sensação de que o ambiente de Stony Cross Park tinha trocado de algum jeito. O ar estava carregado com a incerteza da espera, como a tensa calma que precede à tempestade. Marcus se sentia inquieto e impaciente, e não havia exercício físico algum que conseguisse acalmar esse crescente desassossego. Ao pensar na noite que tinha por diante, e sabendo de que teria que relacionar-se com os Bowman, sentiu que a inquietação se transformava em algo que raiava na ansiedade. Arrependia-se de havê-los convidado. De fato, renunciaria de boa vontade a 6
  • 7. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa qualquer possível negócio futuro com o Thomas Bowman se, desse modo, pudesse livrar-se deles. Não obstante, o fato era que já se encontravam ali, que permaneceriam em sua casa durante um mês completo e que quão único podia fazer era lhe tirar o máximo partido para a situação. Marcus tinha toda a intenção de lançar-se a uma exaustiva negociação com o Thomas Bowman para conseguir que este expandisse sua indústria saboneteira e estabelecesse uma fábrica no Liverpool ou, possivelmente, no Bristol. Com toda probabilidade, o imposto com o que o governo britânico loteava o sabão se derrogaria nos anos vindouros, se Marcus podia confiar nos amigos reformistas com os que contava no Parlamento. Quando isso acontecesse, o sabão se converteria em um artigo muito mais acessível para a população em geral, feito que não só repercutiria de forma favorável na saúde pública, mas também também na conta corrente do Marcus. Sempre e quando Thomas Bowman tivesse a bem contar com ele como sócio. O único problema era que a presença do Thomas Bowman significava ter que suportar também a de suas filhas e nisso não havia volta de folha. Lillian e Daisy eram a personificação dessa moda tão censurável que se impôs entre os norte-americanos de mandar a suas herdeiras a Inglaterra à caça de um marido. Desse modo, a aristocracia se via assediada por uma horda de senhoritas ambiciosas que não paravam de tagarelar sobre si mesmos com esse acento tão atroz, desejosas de atrair a atração dos periódicos e ganhar publicidade... Jovenzinhas carentes de elegância, barulhentas e presunçosas que não tinham mais ambição que a de comprar um título com o dinheiro de seus pais... coisa que estavam acostumados a conseguir na maioria dos casos. Marcus tinha chegado a conhecer muito bem às irmãs Bowman durante a última estadia das moças em Stony Cross Park , e pouco podia dizer a favor de nenhuma delas. A maior, Lillian, converteu-se no foco de sua aversão ao descobrir que, junto com suas amigas —«as floreiros», tal e como preferiam chamar-se a si mesmos... Como se fosse algo do que estar orgulhosas!—, tinha ideado uma estratagema para que um cavalheiro da nobreza se visse obrigado a pedir a uma delas em matrimônio. Marcus, jamais esqueceria o momento no que o plano foi descoberto. «Santo Deus, é que não respeita absolutamente nada?», tinha-lhe perguntado a Lillian . Ao que ela tinha respondido de modo impertinente: «Se algo que mereça meu respeito, ainda não o tenho descoberto.» Sua extraordinária insolência a diferenciava de qualquer outra mulher com a que Marcus tivesse relação. Isso, além disso da partida de rounders que tinham jogado em culote, tinha-o convencido de que Lillian Bowman era uma bagunceira. E, uma vez que Marcus julgava o caráter de uma pessoa, trocava de opinião em muito estranhas ocasiões. Com o cenho franzido, sopesou qual seria o melhor modo de tratar a Lillian . Adotaria uma atitude distante e tranqüila, e passaria por cima qualquer provocação da moça. Não lhe cabia dúvida de que a Lillian enfureceria ver o pouco que lhe afetava seu comportamento. A pressão que sentia no peito diminuiu assim que imaginou a irritação da moça ao ver que a ignorava. Sim... faria todo o possível por evitá-la e, quando as circunstâncias os obrigassem a permanecer na mesma habitação, trataria-a com uma distante cortesia. Uma vez aplacado seu mal-estar, Marcus guiou a seu cavalo por uma zona de saltos singelos: um sebe, uma cerca e um estreito muro de pedra que homem e animal superaram em perfeita coordenação. —E agora, meninas —disse Mercedes Bowman enquanto lançava a suas filhas 7
  • 8. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa um olhar severo da porta de entrada da habitação que estas compartilhavam—, insisto em que durmam uma sesta do menos duas horas para que estejam descansadas esta noite. Os jantares de lorde Westcliff revistam começar bastante tarde e acabam bem entrada a meia-noite. Não quero que nenhuma das duas boceje na mesa. —Sim, mãe —responderam as duas ao uníssono com atitude obediente, ao tempo que a olhavam com caminhos expressões de inocência que não enganaram à senhora Bowman nem por indício. Mercedes Bowman era uma mulher em extremo ambiciosa que adoecia de um excesso de energia. Seu corpo, magro como um fuso, podia conseguir que um galgo resultasse roliço em comparação. Seu estridente e insuportável bate-papo estava acostumado a estar dirigido para a consecução do objetivo primitivo de sua vida: ver suas duas filhas esplendidamente casadas. —Não sairão desta habitação sob nenhuma circunstância -continuou com o mesmo tom inflexível—. Nada de vagar às escondidas pela propriedade de lorde Westcliff; nada de aventuras, arranhões, nem incidentes de nenhuma outra classe. É mais, tenho a firme intenção de fechar a porta com chave para me assegurar de que ficam aqui sem ocasionar dano algum e que descansam. — Mãe! -protestou Lillian—. Se houver algum lugar na face da Terra mais aborrecido que Stony Cross Park, comerei- meus sapatos. Em que confusão poderíamos nos colocar? —Vocês tiram problemas do ar —respondeu Mercedes com os olhos entrecerrados—. E por isso mesmo não penso lhes tirar os olhos de cima. Depois do comportamento que demonstraram durante nossa última estadia aqui, surpreende-me muito que hajam tornado a nos convidar. —A mim não —replicou Lillian com secura—. Todos sabem que estamos aqui porque Westcliff lhe jogou o olho ao negócio de pai. —É «lorde» Westcliff —a corrigiu Mercedes como um raio—. Lillian, deve se referir a ele com o devido respeito! É o aristocrata mais rico de toda a Inglaterra e sua linhagem... …é mais antigo que o da muito mesmo rainha -interrompeu Daisy com voz melódica, posto que tinha escutado esse mesmo discursito em multidão de ocasiões—. E seu título é o mais antigo de Grã-Bretanha, o que o converte... —... no solteiro mais cobiçado de toda a Europa—concluiu Lillian com voz monótona ao tempo que elevava uma sobrancelha em um gesto zombador—. Ou, talvez, de todo o mundo. Mãe, se de verdade albergar a esperança de que Westcliff se case com uma de nós, é que está desmiolada. - Não está desmiolada —a corrigiu Daisy—. É uma nova-iorquina. Havia muitas pessoas em Nova Iorque nas mesmas circunstâncias que os Bowman que se esforçavam por subir no escalão social, mas não lhes resultava fácil mesclar-se com as classes mais conservadoras nem com a sociedade mais elegante. Essas famílias adinheiradas tinham amassado consideráveis fortunas graças a negócios tais como a mineração ou as fábricas, mas não terminavam de ser aceitos nos círculos aos que desejavam pertencer com tanto desespero. O ostracismo e o abafado que suportava o fato de ser rechaçados pela sociedade nova-iorquina tinham acalorado a ambição da Mercedes como nenhuma outra coisa poderia havê-lo feito jamais. — vamos esforçar nos para, que lorde Westcliff esqueça o desastroso comportamento que demonstraram durante nossa última visita — assinalou Mercedes 8
  • 9. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa com gravidade—. de agora em diante, conduzirão-lhes com modéstia, serenidade e decoro a todas as horas, e não quero ouvir nenhuma só palavra, relacionada com as floreiros. Quero que lhes mantenham afastadas dessa escandalosa Annabelle Peyton e da outra, outra, essa... — Evie Jenner —lhe recordou Daisy—. E agora é Annabelle Hunt, mãe. — Annabelle se casou com o melhor amigo de Westcliff —assinalou Lillian ao descuido-— Eu diria que é um motivo de peso para que continuemos nossa relação com ela, mãe. — Pensarei-o. —Mercedes as observou com receio—. Enquanto isso tenho a intenção de que durmam uma sesta larga e sem sobressaltos. Não quero ouvir o menor ruído procedente desta habitação, entendeste-me? — Sim, mãe —responderam ambas a coro. A porta fechou depois a Mercedes, que jogou a chave por fora. As irmãs se olharam a um à outros com idênticos sorrisos. — Menos mal que não chegou a inteirar da partida de rounders—disse Lillian. —A estas alturas, estaríamos mortas —conveio Daisy muito seriamente. Lillian tirou uma forquilha para o cabelo da caixinha esmaltada que havia sobre a penteadeira e se aproximou da porta. —É uma lástima que se zangue por coisas tão tolas, não te parece? —Como quando colocamos aquele porquinho cheio de graxa no salão da senhora Astor. Lillian, a que a lembrança lhe tinha arrancado um sorriso, ajoelhou-se frente à porta e colocou a forquilha no olho da fechadura. —Confesso-te que nunca entendi por que mãe não se deu conta de que o fizemos para desagravada. Havia que fazer algo para nos vingar da senhora Astor por não ter convidado a mãe a sua festa. —Se mal não recordar, o que disse mãe foi que colocar animais em casas alheias não nos granjearia muitos convites a futuras festas. . —Bom, não acredito que fosse tão mau como essa ocasião em que acendemos um rojão de luzes naquela loja da Quinta Avenida. —Não ficou outro remédio depois de que o vendedor nos tratasse com semelhante grosseria. Lillian tirou a forquilha da fechadura e dobrou com perícia um dos extremos antes de voltar a introduzi-la. Com os olhos entrecerrados a causa do esforço, seguiu movendo a forquilha até que se ouviu um estalo, depois do qual olhou a sua irmã com um sorriso triunfal. —Acredito que este foi meu melhor tempo. Não obstante, sua irmã pequena não lhe devolveu o sorriso. —Lillian... se encontrar um marido este ano, tudo trocará. Você trocará. Já não haverá mais aventura nem diversão, e eu ficarei sozinha. —Não seja boba —a arreganhou Lillian, sem deixar de franzir o cenho—. Eu não vou trocar e você não vai ficar sozinha. —Terá que responder ante seu marido. — recordou-lhe Daisy .— E não te permitirá me acompanhar em minhas travessuras. — Não, não e não... Lillian ficou em pé e desprezou a idéia com um gesto da mão-. Não penso ter essa aula de marido. vou casar me com um homem ao que não lhe importe ou não se dê conta do que faço quando não estou com ele. Um homem como 9
  • 10. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa nosso pai. —Um homem como, nosso pai não parece ter feito muito feliz a mãe —replicou Daisy—. Me pergunto se alguma vez estiveram apaixonados. Lillian apoiou as costas contra a porta e enrugou o sobrecenho enquanto refletia sobre esse assunto. Jamais lhe tinha ocorrido expor-se se o matrimônio de seus pais tinha sido ou não uma união por amor. Por algum motivo, não acreditava que esse fora o caso. Ambos pareciam muito indebincos. Sua relação podia considerar-se como muito um vínculo insignificante. Até onde Lillian sabia, seus pais nunca discutiam, nunca se abraçavam e apenas se falavam. Entretanto, entre eles não parecia existir ressentimento algum. Para falar a verdade, manifestavam uma indiferença mútua e não havia evidência alguma de que ansiassem a felicidade, nem de que soubessem sequer como consegui-la. - O amor é para as novelas, querida —replicou Lillian esforçando-se todo o possível por parecer cínica. Abriu a porta, jogou uma olhada a ambos os lados do corredor e olhou ao Daisy por cima do ombro—. Caminho espaçoso. Saímos pela entrada de serviço? —Sim, vamos à asa oeste da mansão e diretas ao bosque. — por que ao bosque? — Não lembra do favor que me pediu Annabelle? Lillian a olhou um instante sem compreender e, pouco depois, pôs os olhos em branco. —Pelo amor de Deus, Daisy, é que não te ocorre nada melhor que fazer um recado tão ridículo como esse? Sua irmã pequena a contemplou com um olhar perspicaz. — O que passa é que não quer ir porque é em benefício de lorde Westcliff. Não vai beneficiar a ninguém —replicou Lillian, exasperada—. É uma estupidez Daisy respondeu com um olhar decidido. — vou procurar o poço dos desejos de Stony Cross Park — anunciou com grande dignidade— e a fazer o que me pediu Annabelle. Pode me acompanhar se o desejar ou, pelo contrário, fazer qualquer outra coisa que goste. Entretanto... —seus olhos amendoados se entrecerraron de forma ameaçadora—, depois de todo o tempo que me tiveste esperando enquanto você se dedicava a olhar poeirentas perfumarias e antiquadas farmácias, acredito que me deve ao menos um pouco de paciência... —De acordo —grunhiu Lillian—. Irei contigo. Se não o fizer, não o encontrará nunca e acabará perdida em metade do bosque. Voltou a dar uma olhada ao corredor e, depois de comprovar que seguia deserto, abriu a marcha para a entrada da servidão, situada no outro extremo. Ambas caminharam nas pontas dos pés, com um sigilo adquirido graças à prática, e sem que seus pés fizessem ruído algum sobre a grosa atapeta. Por muito que Lillian aborrecesse ao dono de Stony Cross Park , tinha que admitir que a propriedade era magnífica. A mansão estava desenhada segundo o estilo europeu: uma elegante fortaleza construída com pedra de cor mel, em cujas esquinas se elevavam quatro pitorescas torres que apontavam ao céu. Convocada em uma colina que dominava o rio Itchen, a mansão estava rodeada por jardins dispostos em terraços e por pomares que se estendiam ao longo e largo dos mais de oitenta hectares de cultivos e bosques. Quinze gerações da família de Westcliff os Marsden, tinham 10
  • 11. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa ocupado a mansão, tal e como qualquer servente estava mais que disposto a assinalar. E em realidade, a propriedade não era nem muito menos a única posse de lorde Westcliff. Dizia-se que controlava uns oito mil hectares em Escócia e Inglaterra, e que entre suas propriedades se contavam dois castelos, três palacetes, várias moradias encostadas, cinco casas e uma vila à borda do Támesis. Não obstante, Stony Cross Park era, sem lugar a dúvidas, a jóia da coroa dos Marsden. Enquanto rodeavam um dos laterais da mansão, Lillian e Daisy puseram muito cuidado em manter-se sempre perto de uma comprida sebe de telhas que as manteria ocultas à vista de qualquer que se encontrasse na casa principal. Quando entraram no bosque, formado por vetustos cedros e carvalhos, os raios do sol se filtravam através do dossel de ramos entrelaçados que se estendia sobre suas cabeças Daisy elevou os braços com entusiasmo e exclamou: — Adoro este lugar! —Não está mal—concedeu Lillian a contra gosto, embora no fundo tinha que admitir que, em plena floração outonal, não poderia haver outro lugar em toda a Inglaterra mais formoso que aquele. Daisy se encarapitou sobre um tronco cansado que alguém tinha afastado a um lado do caminho e começou a caminhar com cuidado sobre ele. —Quase merece a pena casar-se com lorde Westcliff para poder ser a proprietária de Stony Cross Park , não é? Lillian arqueou as sobrancelhas. — Para ter que agüentar todas suas pomposas afirmações e estar disposta a obedecer todas e cada uma de suas ordens? —Fez uma careta e enrugou o nariz com aversão. —Annabelle diz que lorde Westcliff é muito mais agradável do que ela acreditou em um princípio. —Não fica mais remedido que dizer isso depois do que aconteceu faz umas semanas. Ambas as irmãs guardaram silêncio enquanto recordavam os dramáticos acontecimentos que tinham tido lugar pouco tempo atrás. Enquanto Annabelle e seu marido, Simon Hunt, visitavam sua fábrica de locomotivas, da que também era sócio lorde Westcliff, uma terrível explosão esteve a ponto de acabar com suas vidas. Lorde Westcliff se equilibrou ao interior do edifício em uma tentativa suicida por salvar ao casal e tinha conseguido tirados sãs e salvos. Após, como não podia ser de outro modo, Annabelle considerava o Westcliff desde outra perspectiva: a de herói. Inclusive tinha chegado a afirmar recentemente que a arrogância do homem resultava do mais encantadora. Lillian tinha respondido ao comentário com a azedada sugestão de que talvez Annabelle seguisse sofrendo os efeitos perniciosos que provocava a inalação de fumaças. —Acredito que deveríamos estar agradecidas a lorde Westcliff —comentou Daisy, que desceu do tronco de um salto—. depois de tudo, salvou a vida do Annabelle, e não pode dizer-se que tenhamos precisamente um grupo exorbitante de amigas. —O fato de que salvasse ao Annabelle foi pura coincidência—-replicou Lillian, mal-humorada— O único motivo pelo que Westcliff arriscou sua vida foi para não perder a um sócio muito rentável. — Lillian! —Daisy, que se encontrava uns passos por diante, girou-se para olhar 11
  • 12. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa a sua irmã com a surpresa desenhada no rosto—. Pelo general não é tão desconsiderada. Pelo amor de Deus! O conde entrou em um edifício em chamas para resgatar a nossa amiga e a seu marido... Que mais tem que fazer esse homem para te impressionar? —Estou segura de que a Westcliff importa um cominho que eu fique impressionada ou não —respondeu Lillian. O deixe ressentido de sua voz a surpreendeu inclusive o motivo de minha antipatia para ele, Daisy, não é mais que a conseqüência da antipatia que ele me demonstra. creia-se superior a mim em todos os aspectos: moral, social e intelectual. Como eu gostaria de encontrar o modo de deixá- lo com um palmo de narizes! Caminharam em silencio durante um minuto, depois do qual Daisy se deteve para recolher umas quantas violetas que cresciam em profusos ramalhetes a ambos os lados do caminho. — pensaste alguma vez em ser amável com lorde Westcliff? —murmurou. Elevou os braços para colocá-las violetas nas forquilhas que lhe sujeitavam o cabelo e acrescentou-: Pode que te surpreenda e te corresponda com o mesmo gesto. Lillian negou com a cabeça de forma terminante. —Não, o mais provável é que me dissesse algo cortante e se comportasse com sua típica arrogância e presunção. —Acredito que está sendo muito... —começou a repreendê-la Daisy, mas se deteve com uma expressão absorta no rosto—. ouvi um chapinho. O poço dos desejos deve estar perto! — Demos graças a Deus! —exclamou Lillian e sorriu muito a pesar seu enquanto seguia a sua irmã pequena, que já atravessava a plena carreira um terreno baixo bordeada por um prado encharcado. O prado estava talher por margaridas azuis, juncais rematados por seus penachos de flores e sussurrantes varas de ouro. Perto do caminho crescia um frondoso arbusto de erva de San Juan com seus ramalhetes de casulos amarelos, que se assemelhavam a uma mancha de luz de sol. Lillian diminuiu o passo para recrear-se no balsâmico ambiente e respirou fundo. À medida que se aproximava do agitado poço dos desejos, que não era mais que um charco alimentado por um caminho subterrâneo, o ar se tornou mais úmido e agradável. A começos do verão, todos os floreiros tinham visitado o poço e tinham arrojado um alfinete à água, somando-se à tradição local. Nnaquele tempo, naquele tempo, Daisy tinha pedido um misterioso desejo em nome do Annabelle que, finalmente, cumpriu-se. —Aqui está —disse Daisy ao tempo que se tirava do bolso um magro fragmento metálico em forma de agulha. Era a mesma parte de metal que Annabelle tinha extraído do ombro de Westcliff quando a explosão dos escombros tinha feito voar fragmentos de ferro como se de metralha se tratasse. Inclusive Lillian, que não estava acostumado a sentir-se muito inclinada a mostrar compaixão alguma pelo conde, fez uma careta ao ver a desagradável lasca. Annabelle me disse que arrojasse isto ao poço e que pedisse para lorde Westcliff o mesmo desejo que pedi para ela. — e qual foi esse desejo? — Exigiu saber Lillian-. Nunca me há isso dito. Daisy a observou com um sorriso zombador. 12
  • 13. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa — É que não é óbvio, querida? Desejei que Annabelle se casasse com alguém que a amasse de verdade. — Nossa! Depois de refletir a respeito dos detalhes que conhecia sobre o matrimônio do Annabelle e à luz da evidente devoção que o casal se professava, Lillian chegou à conclusão de que o desejo devia haver-se completo. Lançou a sua irmã um olhar de tenra exasperação e retrocedeu um pouco para observar o procedimento. — Lillian —protestou Daisy— tem que te pôr a meu lado. O espírito do poço estará mais disposto a conceder o desejo se as duas nos concentrarmos de uma vez. Da garganta do Lillian surgiu uma pequena gargalhada. —Em realidade, não creia que exista um espírito do poço, verdade? Deus santo!, como pudeste chegar a ser tão supersticiosa? — E isso o diz alguém que não faz muito comprou um frasco de perfume mágico…. — Jamais acreditei que fosse mágico. Só eu gostava do aroma! —Lillian — a repreendeu Daisy em brincadeira—, o que tem que mau em acreditar que seja certo? Nego-me a pensar que vamos passar pela vida sem que aconteça algo mágico. E, agora, vamos pedir um desejo para lorde Westcliff. É o menos que podemos fazer depois de que salvasse a nossa querida Annabelle do fogo. —Está bem! Porei a seu lado; mas só para te sujeitar em caso de que escorregue. Posto que ambas eram da mesma altura, Lillian aconteceu um braço ao Daisy pelos magros ombros e contemplou essas águas lamacentas e susurrantes. Daisy fechou os olhos com força e apertou a lasca de metal entre os dedos. —Estou desejando-o muitíssimo —sussurrou—. E você, Lillian? —Sim —murmurou ela, embora não estava precisamente rogando que lorde Westcliff encontrasse seu amor verdadeiro. Seu desejo se aproximava mais a: «Espero que lorde Westcliff encontre uma mulher que consiga pôr o de joelhos.» A idéia lhe arrancou um sorriso que curvou seus lábios e se atrasou em seu rosto enquanto Daisy arrojava o afiado fragmento de metal à água, onde se afundou para as insondáveis profundidades. Depois de sacudi-las mãos, Daisy lhe deu as costas ao poço com a satisfação do dever completo. —Preparado —disse com um sorriso radiante-. Estou desejando ver com quem acaba Westcliff. —Compadeço a essa pobre garota —replicou Lillian—, quem quer que seja. Daisy fez um gesto com a cabeça em direção à mansão. — Retornamos à casa? A conversação não demorou para derivar para o planejamento de diversas estratégias enquanto discutiam a respeito de uma idéia que Annabelle tinha sugerido a última vez que falassem. As Bowman necessitavam com desespero que alguém as respaldasse e as introduzira nos círculos mais elevados da sociedade britânica... e não podia ser qualquer. Devia ser alguém capitaesperta, influente e amplamente reconhecido. Alguém cuja aprovação fosse referendada pelo resto da aristocracia. Segundo Annabelle, ninguém cumpriria melhor esse papel que a conde de Westcliff, a mãe do conde. A condessa, que parecia ter certa afeição a viajar pelo continente apenas se deixava ver. Até durante as temporadas nas que residia em Stony Cross Park , preferia 13
  • 14. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa manter-se à margem dos convidados para condenar, desse modo, o costume que tinha seus filhos de relacionar-se com homens de negócios e outros personagens que pertenciam à aristocracia. Para falar a verdade, nenhuma das Bowman tinha conhecido à condessa, mas tinham ouvido muitos rumores sobre ela. De ser certos, a mãe do conde não era a não ser um velho dragão flexível que desprezava a todos os estrangeiros. Especialmente aos norte-americanos. — Os motivos pelos que Annabelle pensa que a condessa pode acessar a ser nossa madrinha escapam a minha compreensão—comentou Daisy, que se entretinha dando pataditas a uma piedrecilla com o passar do caminho-. Está claro que não o fará por vontade própria.. — O fará se Westcliff o ordena —replicou Lillian antes de agarrar um pau comprido e começar a agitar o de forma distraída-. Conforme parece Westcliff pode conseguir que a condessa faça algo se o exige. Annabelle me contou que a condessa não aprovava o matrimônio de lady Olívia com o senhor Shaw e que por isso não tinha intenção alguma de assistir à bodas. Entretanto, Westcliff sabia que isso feriria profundamente os sentimentos de sua irmã e obrigou a sua mãe a ir à cerimônia e, o que é mais, a manter uma atitude civilizada enquanto durou. — Seriamente? —Daisy a olhou com um sorrisinho muito particular — Me pergunto como o obteria. —Pois sendo o senhor da casa. Nos Estados Unidos é a mulher a que governa o lar, mas aqui, na Inglaterra, todo excursão ao redor do homem. —Mmm... Isso não me faz nenhuma graça. —Sim, sei. —Lillian fez uma pausa antes de adicionar com tom sombrio —: Segundo Annabelle, um marido inglês tem que aprovar os menus, a disposição dos móveis, a cor das cortinas... Tudo! Daisy parecia horrorizada e surpreendida. — O senhor Hunt se ocupa de todas essas coisas? — Bom, não... mas ele não é um aristocrata. É um homem de negócios. E os homens de negócios não revistam ter tempo para essas frivolidades. Não obstante, o aristocrata corrente tem todo o tempo de mundo para examinar até o mais mínimo detalhe que tenha relação com sua casa. Daisy, que tinha deixado de dar patadas à pedra, olhou a Lillian com o cenho franzido. —Estive-me perguntando uma coisa... por que estamos tão dispostas a nos casar com um nobre, a viver em uma enorme e velha mansão que cai a pedaços, a comer esta repulsiva comida inglesa e a tentar dar instruções a um punhado de criados que não vão mostrar nos respeito algum? —Porque é o que mãe quer —respondeu Lillian com secura—. E porque ninguém se casaria conosco em Nova Iorque. Era um fato lamentável que na estritamente delimitada sociedade nova-iorquina os possuidores de novas fortunas pudessem casar-se com tamanha facilidade, mas que, pelo contrário, as herdeiras de linhagens plebéias não fossem apreciadas nem pelas famílias de sangue azul nem pelos novos ricos que queriam subir no escalão social. portanto, a única solução consistia em partir a Europa à caça de um marido, posto que os homens das classes sociais privilegiadas necessitavam algemas enriquecidas. 14
  • 15. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa O cenho franzido do Daisy desapareceu para deixar passo a um sorriso irônico. — E se aqui tampouco nos querem? —Nesse caso, converteremo-nos em um par de velhas solteironas malvadas que se dedicarão a pular ao longo e largo da Europa. Daisy soltou uma gargalhada ante a idéia e jogou para trás sua larga trança. Era impróprio que as jovenzinhas de sua idade se passeassem sem chapéu, e mais ainda que fossem com o cabelo solto. Não obstante, as irmãs Bowman possuíam um cabelo tão abundante que era toda uma proeza conseguir sujeito com as forquilhas em um desses complicados recolhidos que estavam tão na moda. Semelhante consigo requeria, ao menos, de três caixas de forquilhas para cada uma delas, por não dizer que o sensível couro cabeludo do Lillian acabava literalmente dolorido depois de todos os puxões e retorcimentos que se necessitavam para ter o aspecto apresentável que se requeria em qualquer acontecimento de ornamento. Em mais de uma ocasião tinha sentido inveja do Annabelle Hunt, cujo cabelo, leve e sedoso, sempre parecia permanecer tal e como ela desejava levá-lo. Nesse momento, Lillian levava o cabelo sujeito na nuca e solto pelas costas, em um estilo que jamais teria podido luzir em companhia de outras pessoas. — E como vamos persuadir a Westcliff de que convença a sua mãe para que nos ajude? —perguntou Daisy—. Não parece muito provável que o conde acesse a fazer tal coisa. Lillian estirou o braço para trás antes de arrojar o pau para o bosque, depois do qual se sacudiu os pedacinhos de casca que tinha nas mãos. —Não tenho a menor idéia —confessou—. Annabelle tentou que o senhor Hunt interceda em nosso favor, mas este se nega a fazê-lo porque acredita que isso seria abusar de sua amizade. —Se conseguíssemos obrigar a Westcliff de algum modo... –murmurou Daisy-. Enganá-lo, lhe fazer chantagem ou algo pelo estilo. —Só pode chantagear a um homem quando tem feito algo vergonhoso que quer manter oculto. E duvido muito que esse aborrecido, velho e insípido Westcliff faça algo em sua vida com o que possamos chantageado. Daisy riu pelo baixo ante semelhante descrição. —Não é aborrecido, nem insípido... e muito menos velho. —Mãe diz que tem pelo menos trinta e cinco anos. Eu diria que isso é ser bastante velho, não creia? —Aposto-me o que queira a que a maioria dos homens de veintitantos não está em tão boa forma como Westcliff. Como era habitual cada vez que uma conversação derivava para o tema do conde, Lillian se sentiu irritada até extremos insuspeitados; um pouco parecidos com o que sentia de menina quando seus irmãos lhe tiravam sua boneca favorita para arrojar- lhe os uns aos outros por cima de sua cabeça enquanto ela exigia a gritos que a devolvessem. A questão de que qualquer menção do conde a afetasse de semelhante modo era uma questão para a que não tinha resposta. assim deixou acontecer o comentário do Daisy encolhendo-se de ombros com um gesto irritado. Conforme se aproximavam da casa, ouviram ao longe uma série de chiados alegres, seguidos de uns quantos gritos de ânimo semelhantes aos que fariam um grupo de meninos em metade de um jogo. 15
  • 16. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa — O que é isso? —perguntou Lillian, que olhava em direção aos estábulos. —Não sei, mas parece que alguém o está passando em grande. vamos dar uma olhada. —Não temos muito tempo —lhe advertiu Lillian—. Se mãe descobrir que nos escapamos... —Daremo-nos pressa. Venha, Lillian, por favor! Enquanto duvidavam, uns quantos chiados mais, acompanhados de algumas gargalhadas, chegaram flutuando até elas da parte traseira dos estábulos e o contraste com a serena paisagem que as rodeava resultou tão evidente que a curiosidade do Lillian não pôde suportá-lo. Olhou a sua irmã com um sorriso temerário. —Jogo uma carreira até ali. —e rompeu a correr como alma que levasse o diabo. Daisy se elevou as saias e se apressou a segui-la. Embora suas pernas eram mais curtas que as do Lillian, também era tão ligeira e ágil como um elfo, assim estava a um passo de alcançar a sua irmã quando chegaram aos estábulos. Algo ofegante depois do esforço que tinha suposto subir à carreira o largo pendente, Lillian rodeou a parte exterior de um curral delimitado por uma primorosa cerca. Havia um grupo de cinco meninos de idades compreendidas entre os doze e os dezesseis anos jogando no pequeno prado que se estendia ao outro lado. A julgar por seus trajes, eram garotos de quadra. tiraram-se as botas, que jaziam junto à cerca, e estavam correndo descalços. — Está vendo o que eu? —perguntou Daisy, exultante Depois de percorrer o grupo com o olhar, Lillian viu que um dos meninos blandía um comprido taco de baseball de madeira de salgueiro e pôs-se a rir, encantada. —Estão jogando rounders! Embora o jogo —que só necessitava de um taco de baseball, uma bola e quatro bases dispostas em forma de rombo— era muito popular tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, era em Nova Iorque onde tinha alcançado cotas de interesse que raiavam na obsessão. Jogavam meninos e garotas pertencentes a todas as classes sociais, e Lillian recordou com saudade muitas lancha ao ar livre seguidas de toda tarde jogando rounders. Uma cálida nostalgia se apoderou dela enquanto observava a uma das moços de quadra que corria ao redor das bases. Estava claro que estavam acostumados a utilizar o prado para semelhante propósito, posto que os postes que marcavam bases estavam profundamente cravados no chão e as zonas intermédias tinham sido pisoteadas até converter-se em uma extensão de terra carente de erva. Lillian reconheceu a um dos jogadores: era o menino que lhe tinha emprestado o taco de baseball que as floreiros tinham utilizado no desafortunado partido de rounders que jogassem dois meses atrás. —Creia que nos deixarão dar? -perguntou Daisy esperançada– Embora só seja por uns minutos? —Não vejo por que não. Esse menino ruivo foi o que nos emprestou o taco de baseball a outra vez. Acredito que se chama Arthur... Nesse momento, lançaram uma bola rápida e baixa ao rebatedor, que brandiu o taco de baseball com um movimento perito e rápido. A parte plaina do taco de baseball impactou com força na bola de couro e esta se dirigiu dando tombos no ar para elas, em um movimento que em Nova Iorque chamavam «gafanhoto». Lillian correu para diante, apanhou a bola com as mãos nuas e a lançou de novo ao campo em direção ao menino que estava na primeira base. O moço a apanhou de modo instintivo sem deixar 16
  • 17. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa de olhar de marco em marco. Quando outros se precaveram da presença do par de jovenzinhas que os observava de um lado do prado, detiveram-se, sem saber muito bem o que fazer. Lillian se adiantou e procurou com o olhar ao menino ruivo. — Arthur? Lembra-te de mim? Estive aqui em junho; emprestou-nos o taco de baseball A expressão perplexa do menino se desvaneceu. — Sim, claro! A senhorita... a senhorita... — Bowman—lhe recordou Lillian ao tempo que assinalava de modo informal para o Daisy— E esta é minha irmã. Estávamo-nos perguntando,.. Deixam-nos dar? Só um ratito? Pergunta-a os surpreendeu tanto que o silêncio caiu sobre o prado Lillian supôs que, embora tinha sido apropriado lhe emprestar o taco de baseball, lhes permitir dar uma partida com um grupo de moços de quadra era algo totalmente diferente. —Não somos tão más, a sério —assegurou ela—. Estávamos acostumada dar muito em Nova Iorque. Se temerem que entorpeçamos o jogo... — Não, não! Não é isso, senhorita Bowman —protestou Arthur com o rosto tão vermelho como seu cabelo. Jogou uma olhada a seus companheiros antes de olhar de novo a Lillian —. É só que... as senhoritas como vocês... não podem... Somos da servidão, senhorita. —Mas agora têm um momento livre, não é certo? —rebateu-lhe Lillian. O menino assentiu com cautela. —Bom, pois nós também estamos desfrutando de um descanso —replicou Lillian—. E não é mais que um partido de rounders. Venha, nos deixem dar! Não o diremos a ninguém. —lhes diga que lhes ensinará a lançar seu «ensalivada» —sugeriu Daisy em um murmúrio—. Ou o «avispón». Ao ver as expressões apáticas dos garotos, Lillian obedeceu a sua irmã. —Sei lançar —acrescentou enquanto elevava as sobrancelhas em um gesto eloqüente—. Bolas rápidas, ensalivadas, avispones... Não gosta de ver como lançam os americanos? Lillian pôde comprovar que isso sim tinha despertado a curiosidade dos meninos. Não obstante, Arthur replicou com acanhamento: —Senhorita Bowman, se alguém as vê jogando rounders no pátio do estábulo, culparão-nos e então... —Não, não o farão —lhe assegurou Lillian-. Prometo-lhe isso. Se alguém nos pilhar, assumiremos toda a responsabilidade. Direi-lhes que não lhes deixamos outra opção. Embora o grupo ao completo as olhava com um eloqüente cepticismo, Lillian e Daisy continuaram chateando-os e suplicando até que, ao final, deixaram-nas dar. Lillian, que tinha pego uma bola de couro desgastada, flexionou os braços, fez ranger seus nódulos e se colocou em posição, encarando ao rebatedor que estava situado na base conhecida como «Castelo de Rocha». Apoiou todo o peso de seu corpo sobre o pé esquerdo, tomou impulso e realizo um lançamento rápido e bastante bom. A bola caiu na mão do receptor com uma sonora porrada, posto que o rebatedor tinha reagido tarde e nem sequer tinha chegado a roçá-la. Uns assobios de admiração premiaram o esforço do Lillian 17
  • 18. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa — Tem um braço muito bom para ser uma garota! —Foi o comentário do Arthur, que arrancou um sorriso a Lillian —. Agora, senhorita se não lhe importa... O que é esse avispón que mencionou antes? Arrojaram-lhe de novo a bola e, depois de agarrá-la, Lillian se colocou outra vez frente ao rebatedor. Nessa ocasião, sujeitou a bola tão somente com o polegar, o índice e o dedo do meio. Virou-se para trás, tomou impulso com o braço e lançou a bola ao mesmo tempo que girava a boneca, o que fez que a bola rodasse no ar e virasse para dentro de forma brusca assim que alcançou o Castelo de Rocha. O rebatedor voltou a falhar, embora também gritou em reconhecimento ao esbarrão. O seguinte lançamento não o falhou e, por fim, conseguiu lhe dar à bola e enviá-la ao lado ocidental do campo, que Daisy cruzou alegremente a toda carreira. Apanhou a bola e a lançou ao jogador que esperava na terceira base, quem teve que saltar para agarrá-la Em só uns minutos, o vertiginoso ritmo do jogo e a conseqüente diversão fizeram que os jogadores deixassem o acanhamento a um lado e seus lançamentos, lhes bata e carreiras perderam qualquer rastro de inibição. Entre gargalhadas e alardes que resultavam tão ruidosos como os de qualquer dos meninos, Lillian rememorou a descuidada liberdade da infância. Supunha um alívio indescritível poder esquecer as inumeráveis regra e a rígida compostura que as tinham asfixiado desde que pusessem um pé na Inglaterra, embora só fora por um instante. Além disso, fazia um dia maravilhoso, com esse sol resplandecente que resultava muito menos sufocante que em Nova Iorque, e o ar suave e fresco que lhe enchia os pulmões. —Senhorita, toca-lhe rebater —disse Arthur ao tempo que elevava uma mão para que Lillian lhe arrojasse a bola—. Vejamos se rebate tão bem como lança! Nem de longe -informou Daisy sem perda de tempo, conseguindo que Lillian lhe fizesse um gesto com a mão que arrancou um coro de estrondosas gargalhadas de deleite dos garotos. Por desgraça, era certo. Por muito acostumada que fosse lançando, Lillian jamais tinha conseguido dominar o taco de baseball... feito que ao Daisy, quem superava a sua irmã nesse aspecto, gostava de arejar aos quatro ventos. Depois de agarrar bata, Lillian agarrou o punho com a mão esquerda como se fosse um martelo e deixou o dedo indicador da mão direita ligeiramente separado. Ato seguido, apoiou-se o taco de baseball sobre um dos ombros para esperar a que o lançador realizasse o lançamento, calculou o que demoraria a bola em chegar com os olhos entrecerrados e brandiu o taco de baseball com todas suas forças. Para sua completa frustração, a bola roçou o extremo do taco de baseball e passou acariciando a cabeça do receptor. antes de que o moço pudesse lançar-se em sua busca, uma força invisível devolveu a bola às mãos do lançador. Lillian ficou desconcertada ao observar que o rosto do Arthur perdia todo rastro de cor e adquiria uma palidez que contrastava enormemente com a intensa cor vermelha de seu cabelo. Perguntando-se o que seria a causa de semelhante expressão, Lillian se deu a volta para olhar a suas costas. O receptor parecia ter deixado de respirar ao igual a Arthur e, como este, também observava ao recém-chegado como se estivesse petrificado. Porque ali, apoiado com despreocupação sobre a cerca do pátio, encontrava-se nada mais e nada menos que Marcus, lorde Westcliff. Capítulo 3 18
  • 19. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa Lillian amaldiçoou em voz baixa e dirigiu a Westcliff um olhar mal-humorado. Ele respondeu arqueando com ironia uma de suas sobrancelhas. Apesar de que levava uma jaqueta de montar de tweed , tinha o pescoço da camisa aberto, o que deixava ao descoberto a forte e bronzeada linha de sua garganta. Durante seus encontros anteriores, Westcliff sempre tinha estado vestido de forma impecável e polido à perfeição. Nesse momento, entretanto, seu abundante cabelo negro estava alvoroçado e, para falar a verdade, ele fazia falta um barbeado. Coisa estranha, vê-lo assim lhe provocou um agradável estremecimento nas vísceras e uma curiosa debilidade nos joelhos. Face ao desagradável que lhe resultava o conde, a jovem tinha que reconhecer que Westcliff era um homem extremamente atrativo. Suas facções eram muito grandes em alguns lugares e muito severas em outros, mas havia certa harmonia arruda na estrutura de seu rosto que fazia que a beleza clássica resultasse de tudo irrelevante. Havia poucos homens que possuíssem uma virilidade tão arraigada essa força de caráter que resultava muito capitaesperta para passá-la por alto. Não só se sentia cômodo com sua posição de autoridade, mas também era evidente que lhe resultava impossível aceitar outro papel que não fosse o de líder. Posto que ela era uma jovem que sempre se havia sentido inclinada a lhe lançar ovos à cara à autoridade, Lillian encontrava no Westcliff uma tentação irresistível. Poucos instantes lhe tinham resultado tão satisfatórios como aqueles nos que tinha conseguido tirar o de suas casinhas. O olhar especulativo de Westcliff se deslizou desde seu cabelo enredado até as linhas não engravatadas de sua figura, sem esquecer a arredondes de seus peitos. Lillian se perguntou se ia dar lhe um pé- de-rodo em público por atrever-se a dar rounders com um grupo de garotos de quadra e lhe devolveu o olhar com uma de sua própria colheita. Tratou de parecer desdenhosa, mas não lhe resultou fácil, já que uma simples olhada ao corpo esbelto e atlético de Westcliff lhe produziu outro enervante estremecimento na boca do estômago. Daisy tinha razão: seria difícil, por não dizer impossível, encontrar a um homem mais jovem que pudesse rivalizar com a força viril de Westcliff . . Sem apartar os olhos da maior das Bowman, o conde se separou muito devagar da perto do curral e se aproximou dela. Com o corpo rígido, Lillian se manteve em seu lugar. Era alta para ser uma mulher, feito que os colocava virtualmente à mesma altura; entretanto, mesmo assim, Westcliff lhe levava quase dez centímetros e a ultrapassava ao menos em trinta quilogramas de peso. Enquanto o olhava aos olhos, que eram de um tom castanho tão intenso que pareciam negros, a inquietação fez que lhe pusessem os nervos de ponta. A voz de Westcliff era profunda, de uma textura parecida com o cascalho envolto em veludo. —Deveria aproximar mais os cotovelos ao corpo. Posto que esperava uma crítica, semelhante comentário pilhou a Lillian despreparada. — Como? As abundantes pestanas do conde descenderam ligeiramente quando contemplou o taco de baseball que Lillian ainda sustentava na mão direita. —Que deveria aproximar mais os cotovelos ao corpo. Terá mais controle sobre o 19
  • 20. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa taco de baseball se reduzir o arco do movimento. Lillian franziu o cenho. — Há algum tema no que não seja um perito? Um brilho de diversão se refletiu nos escuros olhos do conde enquanto parecia considerar a questão com atenção. —Não sei assobiar —disse ao final—. E minha pontaria com a baesperta é bastante deficiente. Além disso... —Levantou as mãos em um gesto de indefesa, como se fora incapaz de recordar alguma outra atividade em que não fora mais que destro. — O que é uma baesperta? —perguntou Lillian— E o que quer dizer com isso de que não sabe assobiar? Todo mundo sabe assobiar. Westcliff franziu os lábios para formar um círculo e soltou um inaudível sopro de ar. Estavam tão perto que Lillian sentiu contra sua frente a suave rajada de fôlego, a qual alvoroçou as sedosas mechas de seu cabelo que se aderiram à pele suarenta. Piscou pela surpresa e imediatamente, seu olhar descendeu até a boca do homem e _ depois, até o pescoço aberto de sua camisa, onde sua pele bronzeada tinha um aspecto suave e quente. — Vê-o? Nada. Tentei-o durante anos. Aturdida, Lillian pensou em lhe aconselhar que soprasse com mais força e que pressionasse a ponta da língua contra os dentes inferiores... Entretanto, a idéia de lhe dirigir a Westcliff uma frase que tivesse a palavra «língua» fazia que, de algum modo, a tarefa lhe resultasse impossível. Em seu lugar, cravou o olhar no homem e deu um pulo quando ele dirigiu uma mão para seus ombros e a girou com delicadeza, de maneira que ficasse de frente a Arthur. O menino se encontrava a vários metros de distância com a esquecida bola de rounders na mão e contemplava ao conde com uma expressão a meio caminho entre o medo e o assombro. Perguntando-se se Westcliff ia dar lhes uma reprimenda aos meninos por ter permitido que Daisy e ela se unissem ao jogo, Lillian disse com inquietação: —Arthur e outros... Eles não tiveram a culpa... Fui eu quem os obrigou a deixar que participássemos do jogo... —Não me cabe a menor duvida —disse o conde a suas costas—. O mais provável é que não lhes desse a oportunidade de negar-se. — N ou pensa castigá-los? — Por dar rounders em seu tempo livre? Certamente que não—Westcliff se tirou a jaqueta e a jogou no chão. girou-se para o receptor que se encontrava bastante perto, e disse—: Jim, sei um bom menino e lança umas quantas bolas. — É obvio, milord! -O moço saiu correndo para o espaço vazio que havia na parte ocidental do campo, além dos postes que serviam de base. — O que está fazendo? -perguntou-lhe Lillian quando Westcliff se colocou atrás dela. —vou corrigir seu balanço -foi sua singela resposta-. Levante o taco de baseball, senhorita Bowman. Ela se girou para observá-lo com um gesto incrédulo e lhe dedicou um sorriso; o desafio iluminava seus olhos. —Isto vai resultar interessante —murmurou a jovem. Elevou o taco de baseball e olhou ao Daisy, que se encontrava ao outro lado do campo e cujos olhos brilhavam à força de reprimir as gargalhadas—. Meu balanço é perfeito —resmungou Lillian, 20
  • 21. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa muito consciente do desconforto que lhe produzia a presença do corpo do conde a suas costas. Ao sentir que as mãos do homem se deslizavam para seus cotovelos e os empurravam para conseguir que os colocasse em uma posição mais próxima ao corpo, lhe abriram os olhos de par em par. Quando lhe sussurrou ao ouvido com essa voz rouca, seus sensíveis nervos pareceram estalar em chamas e sentiu que o rubor se estendia por seu rosto, seu pescoço e ... bom... por outras partes de seu corpo que, até onde ela sabia, não tinham nome. —Separe mais os pés —disse Westcliff-e distribua seu peso de forma eqüitativa. Muito bem. Agora aproxime mais as mãos a seu corpo. Posto que o taco de baseball é um pouco comprido para você, terá que agarrá-lo algo mais acima... —Eu gosto de agarrá-lo pela base. —É muito comprido para você —insistiu o conde—, e essa é a razão de que execute o balanço justo antes de golpear a bola... —Eu gosto dos tacos de baseball largos -replicou Lillian enquanto lhe colocava as mãos sobre a manga de salgueiro—. De fato, quanto mais largos, melhor. O risinho de um dos moços de quadra chamou sua atenção e Lillian o olhou com suspicacia justo antes de girar-se para observar ao Westcliff. O rosto do homem não refletia expressão alguma, mas havia um brilho de diversão em seus olhos. — O que é o que resulta tão gracioso? —perguntou a jovem —Não tenho nem a menor ideia —respondeu Westcliff com indiferença, depois do qual, voltou a girá-la de novo para o lançador-. Não se esqueça dos cotovelos. Assim. Muito bem, não deve girar as bonecas; as mantenha retas e rebate com um movimento nivelado... Não, não, assim não—. Estirou os braços a seu redor e a surpreendeu ao colocar suas mãos diretamente sobre as dela para guiá-la no lento arco do balanço. Tinha a boca junto ao ouvido do Lillian— Se dá conta da diferença? Tente-o de novo... Não lhe resulta mais natural? O coração do Lillian tinha começado a pulsar a um ritmo rápido que enviava sangue com uma velocidade vertiginosa através de suas veias. Jamais se havia sentido tão torpe como nesse momento, com sólida calides de Westcliff a suas costas e essas fortes coxas entre as ligeiras dobras de seu vestido de passeio. As grandes mãos do conde quase ocultavam as suas por completo e a jovem percebeu, não sem certa surpresa, que tinha calos nos dedos. Uma vez mais —-apressou-a Westcliff ao tempo que incrementava a pressão que exerciam suas mãos sobre as da moça. Assim que os braços de ambos ficaram alinhados, Lillian pôde perceber a dureza acerada dos músculos de seus bíceps. de repente se sentiu afligida por sua presença, ameaçada de uma forma que ia mais à frente do sentido físico. O ar que havia em seus pulmões pareceu expandir-se de forma dolorosa. Deixou escapar uma exalação rápida e superficial e depois outra... E, imediatamente, viu-se liberada com uma rapidez desconcertante. Westcliff, que tinha dado um passo atrás, olhava-a fixamente e seu cenho franzido danificava o suave plano da frente. Não era fácil distinguir as íris cor azeviche do negro de suas pupilas, mas Lillian tinha a impressão de que seus olhos estavam dilatados, como se tivesse ingerido alguma droga poderosa. Acreditou que o homem estava a ponto lhe perguntar algo, mas, em troca, dedicou-lhe uma direta reverência e a insistiu a que retornasse a postura de bateo. Tomando o lugar do 21
  • 22. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa receptor, Westcliff ficou de cócoras e fez um gesto ao Arthur. — Lança algumas fáceis para começar —lhe disse, e Arthur, que ao parecer superou seu medo, assentiu. — Sim, milord! Arthur tomou carreirinha e lançou uma bola singela e direta. Com os olhos entrecerrados pela determinação, Lillian sujeitou o taco de baseball com força, deu um passo para diante para rebater e girou os quadris para lhe dar mais ímpeto ao movimento. Para seu chateio, não conseguiu lhe acertar à bola. deu-se a volta e dedicou a Westcliff um olhar eloqüente. —Bom, seus conselhos serviram certamente de muita ajuda —murmurou com sarcasmo. —Os cotovelos —foi sua sucinta resposta e, continuando, voltou a lançar a bola ao Arthur-. —Outra vez. Com um suspiro, Lillian elevou o taco de baseball e voltou a colocar-se de cara ao lançador. Arthur jogou o braço para trás e se inclinou para diante para lançar outra bola rápida. Lillian girou o taco de baseball e o esforço lhe arrancou um grunhido; descobriu que lhe resultava assombrosamente fácil executar o balanço no ângulo apropriado e sentiu uma descarga de alegria quando notou o sólido impacto entre o taco de baseball e a bola de couro. Com um forte rangido, a bola foi catapultada para os ares, por cima da cabeça do Arthur e mais à frente do alcance daqueles que se encontravam ao fundo do campo. Com um grito de júbilo, Lillian deixou cair o taco de baseball e correu para o poste da primeira base, rodeou-o e se dirigiu por volta do segundo. Pela extremidade do olho, viu que Daisy corria através do campo para apanhar a bola e, quase ao mesmo tempo, a lançava ao moço que havia mais perto. Lillian acelerou o passo; seus pés voavam sob as saias quando rodeou o terceiro poste, justo no instante no que Arthur recebia a bola. Com um olhar incrédulo, comprovou que Westcliff se achava de pé junto ao último poste, o Castelo de Rocha, com as mãos elevadas para apanhar a bola. Como se atrevia? depois de lhe ensinar a rebater, agora pretendia deixada fora? —Com exceção de se de meu caminho! —Gritou Lillian sem deixar de correr como uma possessa, decidida a alcançá-lo antes de que agarrasse a bola—. Não penso me deter! —Bom, asseguro-lhe que se deterá —afirmou Westcliff com um sorriso enquanto se colocava justo diante do poste. Chamou o lançador—: me Atira isso Arthur! Atravessaria-o se era necessário, disse-se Lillian, Soltou um pouco parecido a um grito de guerra e se equilibrou contra ele, conseguindo que o homem se cambaleasse para trás justo quando seus dedos se fechavam em torno da bola. em que pese a que poderia ter lutado por manter o equilíbrio, o conde escolheu não fazê-lo e caiu para trás sobre a amaciada erva com Lillian em cima, que o cobriu com uma confusão de saias e impetuosas extremidades. Ao princípio, a jovem acreditou que o tinha deixado sem fôlego, mas imediatamente se deu conta de que, ao parecer, estava- se afogando de risada. — Trapaceou! —disse com tom acusatório; mas, na aparência, aquilo só conseguiu que se ria com mais ganha. Lillian tratou de recuperar o fôlego tomando 22
  • 23. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa umas profundas baforadas de ar— Se supunha que não... devia ficar... diante do poste... pedaço de trapaceiro! Sem deixar de ofegar e soprar, Westcliff lhe ofereceu a bola com o reverente respeito de alguém que entrega um tesouro de valor incalculável ao conservador de um museu. Lillian agarrou a bola e a jogou em um lado. — Não me eliminou! —disse-lhe ao tempo que lhe cravava o dedo indicador no peito para lhe dar mais ênfase a sua afirmação. Era como lhe dar golpezinhos a uma pedra-. Estava salva, há-me... ouvido? Lillian escutou a voz risonha do Arthur quando o moço se aproximou deles. Em realidade, senhorita... — Jamais discuta com uma dama, Arthur —o interrompeu o conde que tinha conseguido recuperar o fôlego para falar. O menino sorriu. — O que você diga, milord. — E há alguma dama por aqui? -perguntou Daisy com jovialidade enquanto atravessava o campo-. Eu não vejo nenhuma. Sem deixar de sorrir, Westcliff levantou o olhar para observar a Lillian . O conde tinha o cabelo enredado e seus dentes pareciam muito brancos em comparação com o rosto, talher de suor e de pó. Posto que sua fachada despótica tinha desaparecido e seus olhos resplandeciam pela diversão, seu sorriso resultou tão inesperadamente encantada que Lillian sentiu que se desfazia por dentro. Situada em cima dele, notou que seus próprios lábios esboçavam um relutante sorriso. Uma mecha solta de cabelo se desprendeu da cinta que o sujeitava e se deslizou como se fora seda sobre a mandíbula do homem. — O que é uma baesperta? —Uma catapulta. Tenho um amigo que alberga um profundo interesse pelo armamento medieval. Ele... -Westcliff duvidou quando uma espécie de tensão começou a estender-se por seu duro corpo enquanto jazia baixo ela-. Acaba de construir uma baesperta utilizando um antigo desenho... e me pediu que lhe ajudasse a dispará-la... Ao Lillian resultava muito agradável a idéia de que o sempre reservado Westcliff fosse capaz de fazer palhaçadas tão infantis. Ao dar-se conta de que estava sentada escarranchado sobre ele, ruborizou-se e começou a retorcer-se para afastar-se. — Não tem boa pontaria? -perguntou-lhe, tratando de aparentar indiferença. —Isso pareceu acreditar o dono do muro de pedra que demolimos. —de repente, o conde respirou fundo quando o corpo da jovem se deslizou sobre o seu ao apartar-se, e permaneceu sentado no chão incluso depois de que ela já se pôs em pé. Perguntando-se por que a olhava de um modo tão estranho, Lillian começou a sacudi-las poeirentas saias com as mãos, mas resultou em vão. Sua roupa parecia uma porcaria. —Deus... -sussurrou ao Daisy, que também parecia desgrenhada e suja, mas não tanto como ela-. Como vamos explicar o estado de nossos trajes? —Pedirei a uma das donzelas que os leve às escondidas até a lavanderia antes de que mãe se dê conta. Isso me recorda... que é quase a hora de que desperte de nossa sesta! —Teremos que nos dar pressa —disse Lillian ao tempo que jogava uma olhada a lorde Westcliff, quem havia se tornado a pôr a jaqueta e nesses momentos se 23
  • 24. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa encontrava de pé atrás dela—. Milord, se alguém lhe perguntar se nos viu... poderia dizer que não? —Nunca minto -afirmou ele. Lillian soltou um bufo de exasperação. — Poderia ao menos abster-se de dar informação de forma voluntária? —pediu- lhe. —Suponho que poderia. — Que serviçal é você... —disse Lillian com um tom que indicava justamente o contrário—. Muito obrigado, milord. Agora se nos desculpa temos que sair correndo. Literalmente. —me sigam, mostrarei-lhes um atalho —se ofereceu Westcliff—. Conheço um caminho através do jardim que conduz até a entrada de quão serventes há junto à cozinha. Depois de intercambiar um olhar, as irmãs assentiram ao uníssono e se apressaram a ir atrás dele enquanto agitavam a mão para despedir-se de forma distraída do Arthur e seus amigos. Conforme guiava às irmãs Bowman através do jardim estival, Marcus não pôde evitar sentir-se molesto pela forma em que Lillian não retrocedia em seu empenho por adiantá-lo. Ao parecer, era fisicamente incapaz de ir depois . O conde a observou às escondidas, tomando nota do modo em que suas pernas se moviam sob a fina musselina do vestido de passeio. Suas pernadas eram largas e ágeis, muito distintas ao perito balanço feminino que a maioria das mulheres praticava. Em silêncio, Marcus refletiu a respeito da inexplicável reação que lhe tinha provocado a moça enquanto jogavam rounders. Ao olhá-la, o evidente entusiasmo que refletia sua expressão lhe tinha resultado absolutamente irresistível, Apresentava um excesso de energia e um entusiasmo pelo exercício físico que pareciam rivalizar com os seus próprios. Não estava bem visto que as mulheres jovens de sua posição demonstrassem nenhuma saúde tão robusta nem semelhante brio. supunha-se que deviam ser tímidas, modestas e comedidas. Entretanto, Lillian lhe tinha resultado muito encantada para ignorá-la e, antes de que se desse conta do que estava acontecendo, uniu-se ao jogo. Ao vê-la assim, tão ruborizada e excitada, despertaram-se em seu interior certas sensações que preferiria não ter experiente. Era mais bonita do que recordava e tão divertida com seu Espinosa teimosia que tinha sido incapaz de resistir ao desafio que representava. E no momento em que se colocou atrás dela para ajustar seu balanço e sentiu esse corpo pressionado contra o seu, foi plenamente consciente de um instinto animal que o insistia a arrastá-la até um lugar íntimo, lhe levantar as saias e ... obrigou-se a deixar a um lado esses pensamentos com um fico gemido de desconforto e observou a Lillian caminhar por diante dele uma vez mais. Parecia um desastre, com o cabelo enredado... Entretanto, por alguma razão não podia deixar de pensar no que tinha sentido ao jazer sobre o chão com ela escarranchado em cima dele. Era ligeira como uma pluma. em que pese a sua altura, era uma garota esbelta, sem muitas curvas femininas. Não era seu tipo absolutamente. Não obstante, tinha desejado com desespero encerrar essa cintura entre suas mãos, empurrar seus quadris para baixo e ... —por aqui —disse com secura quando passou junto a Lillian para encaminhar- se para os sebes e muros que os ocultavam da casa. Conduziu às irmãs ao longo de uns atalhos flanqueados por espirais de salvia, 24
  • 25. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa antigos muros talheres com rosas vermelhas e brilhantes casulos de hortênsia, e enormes vasos de pedra que transbordavam de violetas brancas. — Está seguro de que isto é um atalho? —quis saber Lillian—Acredito que pelo outro caminho teríamos chegado muito mais rápido. Marcus, que não estava acostumado a que se questionassem suas decisões, dirigiu-lhe um gélido olhar quando se colocou junto a ele. —Conheço bem o caminho para atravessar os jardins de minha propriedade, senhorita Bowman —Não lhe faça caso a minha irmã, lorde Westcliff —disse Daisy a suas costas —. O que passa é que lhe preocupa o que ocorrerá se nos pilham. supõe-se que deveríamos estar dormindo a sesta, sabe? Mãe nos encerrou em nossa habitação, e depois... —Daisy —a interrompeu Lillian com secura-, ao conde não lhe interessa escutar nada disso. —Ao contrário —disse Marcus-. Em realidade, estou muito interessado em saber como conseguiram escapar. Pela janela? —Não. Forcei a fechadura —replicou Lillian. Marcus armazenou a informação ao fundo de sua mente e perguntou com tom de mofa: — Ensinaram-lhe a fazê-lo na escola superior? —Não fomos à escola superior —assinalou Lillian-. Aprendi sozinha a abrir fechaduras. estive ante muitas portas fechadas desde minha mais tenra infância. —Surpreendente. --Suponho que você nunca fez nada que merecesse um castigo —disse Lillian. —De fato, castigavam-me freqüentemente. Mas jamais me encerraram. Meu pai considerava muito mais conveniente (e satisfatório) me dar uma surra por meus crimes. — Faz que pareça um bruto -afirmou Lillian, Daisy ofegou atrás deles. Lillian, não deveria falar assim dos defuntos. E duvido muito que ao conde lhe agrade ouvir que insulta a seu pai. —Não; em realidade, era um bruto -comentou Marcus com uma franqueza que igualava a do Lillian. Chegaram a uma abertura nos sebes de onde partia um caminho de lajes que bordeavam um das laterais da mansão, Marcus fez um gesto às jovens para que guardassem silêncio e jogou uma olhada ao solitário caminho para depois as empurrar até um pequeno esconderijo formado por um alto e magro zimbro; ato seguido, assinalou com um gesto o lado esquerdo do caminho. — A entrada da cozinha está por aí —murmurou—. Cruzaremos por aqui e tomaremos a escada que há à direita até o segundo andar, onde lhes indicarei o corredor que conduz até sua habitação, As moças o olharam com caminhos sorrisos radiantes; ambos os rostos eram muito similares e, de uma vez, muito diferentes, Daisy tinha as bochechas arredondadas e uma antiquada beleza que lhe conferiam a aparência de uma boneca de porcelana; uns rasgos semelhantes proporcionavam um marco de algum modo incongruente a seus exóticos olhos castanhos. O rosto do Lillian era mais largo e de 25
  • 26. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa corte ligeiramente felino, com olhos rasgados e uma boca enche e carnal que conseguia que o coração do conde desse um incômodo tombo. Marcus não deixou de contemplar sua boca enquanto ela falava. — Obrigado, milord —disse Lillian—. Confio em que possamos contar com seu silêncio a respeito de nosso jogo. Se Marcus tivesse sido outro tipo de homem ou tivesse albergado o mais mínimo interesse romântico por qualquer das duas garotas, poderia ter utilizado essa situação para flertar um pouco através de uma pequena chantagem. Em troca, assentiu com a cabeça e respondeu com firmeza: — Podem contar com isso. Com outro olhar cauteloso, assegurou-se de que havia via livre e os três saíram do esconderijo que lhes proporcionava o zimbro. Por desgraça, quando estavam a metade de caminho entre o perto de cogumelos e a entrada da cozinha, um coro de inesperadas vozes ressonou com o passar do atalho de lajes de piçarra e ricocheteou com suavidade nos muros da mansão. aproximava-se alguém. Daisy saiu à carreira qual cerva assustada e chegou à entrada da cozinha em uma fração de segundo. Lillian, entretanto, tomou o rumo oposto e se equilibrou de novo para o zimbro. Sem tempo para considerar suas ações, Marcus a seguiu no mesmo momento em que um grupo de três ou quatro figuras apareciam ao princípio do atalho. Apinhado junto a ela no estreito oco que havia entre o zimbro e os cogumelos, Marcus se sentiu do todo ridículo por esconder-se dos convidados em sua própria casa. Não obstante, dada sua condição desarrumada e suja, não gostava de muito mostrar-se ante ninguém... e, de repente, seus pensamentos se dispersaram quando sentiu os braços do Lillian aferrando-se com força aos ombros de sua jaqueta para atrai-lo mais para as sombras. Aproximando-o mais a ela. A moça estava tremendo... de medo, acreditou Westcliff em um princípio. Assombrado por sua própria reação protetora, colocou um braço ao redor da mulher. Entretanto, descobriu imediatamente que ela se estava rendo pelo baixo; a situação lhe resultava tão inexplicavelmente graciosa que se viu obrigada a sufocar uma série de risinhos agudas contra seu ombro. Com um sorriso, Marcus a olhou de forma interrogante e jogou para trás uma daquelas mechas da cor do chocolate que tinha cansado sobre seu olho esquerdo. Tratou de ver algo entre a estreita abertura que havia entre as fragrantes, espessos e bicudos ramos do zimbro. Reconheceu aos homens que caminhavam com parcimônia pelo caminho enquanto discutiam a respeito de assuntos de negócios e agachou a cabeça para sussurrar ao ouvido do Lillian: —Silêncio, é seu pai. Ela abriu os olhos de par em par e sua risada se desvaneceu ao tempo que enterrava os dedos na jaqueta do conde. —Deus, não. Não deixe que me descubra! O dirá a minha mãe. Westcliff inclinou o queixo para lhe assegurar que não o faria e manteve o braço ao redor da moça, com a boca e o nariz apoiados sobre sua têmpora. —Não nos descobrirão. logo que passem de comprimento, guiarei-a pelo corredor. Lillian ficou muito quieta, espiando pelos diminutos espaços que havia entre as folhas do zimbro; ao parecer, não se tinha dado conta de que se apertava contra o corpo do conde de Westcliff de uma maneira que a maioria da gente consideraria como um abraço. Ainda respirando contra sua têmpora, Marcus a abraçou e tomou 26
  • 27. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa consciência de uma elusiva fragrância, um tênue aroma a flores que tinha percebido vagamente no campo de rounders. Com a intenção de descobrir sua procedência, encontrou uma maior concentração da fragrância na garganta da jovem, lugar onde o aroma se voltava lhe intoxique e embriagador. Lhe fez a boca água. de repente, desejou roçar com a língua aquela tersa pele branca, arrancar a parte dianteira do vestido e deslizar a boca desde seu pescoço até a ponta dos pés. Esticou o braço ao redor da esbelta figura do Lillian e sua mão livre procurou de forma compulsiva os quadris da moça para exercer uma pressão suave mas contínua com a intenção de aproximá-la mais a ele. Sim... Deus, sim. Tinha a altura perfeita, era tão alta que não se precisava mais que um mínimo ajuste para encaixar seus corpos da maneira apropriada. Embargou-o uma excitação que despertou uma labareda sensual em seus palpitantes venha. Seria tão fácil tomá-la assim... tão somente teria que lhe levantar o vestido e lhe separar as pernas. Desejava-a de mil formas distintas: em cima dele, debaixo dele.., Qualquer parte de seu corpo dentro de qualquer parte do corpo dela. Podia notar a forma natural de sua silhueta sob o fino vestido, posto que não levava espartilho que estragasse a curva perfeita de suas costas. Ela se esticou um pouco quando sentiu que sua boca lhe roçava a garganta e pareceu ficar sem fôlego pelo assombro. — O que... o que está fazendo? —sussurrou. Ao outro lado dos cogumelos, os quatro homens passaram conversando animadamente a respeito da manipulação das ações empresariais enquanto a mente do Marcus fervia com pensamentos relacionados com outro tipo de manipulação completamente distinta, Umedeceu-se os lábios secos com a língua e apartou a cabeça para observar a expressão confundida da moça. —Desculpe—murmurou, lutando por recuperar o bom julgamento—-.É esse aroma... o que é? — Aroma? —Ela parecia absolutamente perplexa– Se refere ao meu perfume? Marcus estava absorto em seus lábios... esses lábios cheios, sedosos e rosados que prometiam uma inexprimível doçura. A essência dessa mulher invadia seu olfato uma e outra vez com luxuriosas quebras de onda que despertaram outra série de fabulosos impulsos no interior de seu corpo. Sua ereção se fez evidente; a entreperna lhe palpitava com rapidez e lhe pulsava o coração a um ritmo desbocado. Não podia pensar com claridade. Tremiam-lhe as mãos pelo esforço que lhe supunha não acariciá-la. Fechou os olhos e apartou o rosto do do Lillian, só para tirar o chapéu acariciando sua garganta com o nariz. Ela o empurrou um pouco para lhe sussurrar com força ao ouvido. — Mas que demônios lhe passa? Marcus sacudiu a cabeça com impotência. —Deculpa —disse com voz rouca, apesar de que sabia o que estava a ponto de fazer—. meu Deus, desculpa... —Estampou a boca contra a da moça e começou a beijá-la como se fosse a vida nisso. Capítulo 4 Era a primeira vez na vida que a Lillian a beijava um homem sem lhe pedir 27
  • 28. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa permissão.. Não deixou de lutar até que Westcliff a capturou com mais 8 firmeza contra seu corpo. O conde cheirava a terra, a cavalo e a luz de sol. E a algo mais... a uma essência doce e seca que a Lillian recordava ao feno recém segado. A pressão que exercia sua boca se incrementou em um ardoroso tentativa de que a jovem separa os lábios. Lillian nunca tinha imaginado um beijo semelhante, uma carícia profunda, tenra e impaciente que pareceu deixá-la sem forças até o ponto de que se viu obrigada a fechar os olhos e procurar o firme apoio do torso do homem. Westcliff aproveitou imediatamente sua debilidade, apertou-a contra seu corpo até que não ficou um milímetro de separação entre eles e lhe introduziu uma de suas fortes coxas entre as pernas para as separar. A ponta da língua de Westcliff começou a brincar no interior de sua boca com cálidas carícias que percorriam o bordo de seus dentes e a sedosa umidade que se estendia atrás deles. Sobressaltada por semelhante intimidade, Lillian retrocedeu, mas ele compassou seu movimento e lhe colocou as mãos a ambos os lados da cabeça. A jovem não sabia o que fazer com a língua, de modo que jogou para trás com estupidez enquanto ele seguia brincando com ela; não deixou de apressá-la, incitá-la e lhe dar agradar até que da garganta da moça escapou um gemido tremente e começou a empurrar a Westcliff de modo frenético. A boca do conde se separou dela. Consciente da presença de seu pai e dos companheiros deste, que ainda seguiam ao outro lado do zimbro, Lillian se esforçou por recuperar o fôlego enquanto observava as sombras escuras dos homens através do frondoso amparo das agulhas da árvore. O grupo prosseguiu seu caminho, alheio ao casal que se abraçava, oculta, à entrada do jardim. ALíviada ao ver que partiam, Lillian deixou escapar um trêmulo suspiro. O coração começou a desbocar-se em seu peito quando sentiu que a boca de Westcliff se deslizava pela suave curva de sua garganta e deixava depois de si um caminho de fogo. Ela voltou a se remover para livrar do abraço, mas ainda tinha a perna do conde entre as coxas e uma fulgurante quebra de onda de calor começou a estender-se por todo seu corpo. —Milord —disse em um sussurro—, ficou louco? —Sim. Sim. —Seus lábios retornaram de novo à boca do Lillian...para lhe roubar outro beijo tão profundo como os anteriores—. me dê seus lábios... a língua... sim. Sim. É tão doce... tão doce. Os lábios do conde eram quentes e implacáveis, e se moviam sobre a boca do Lillian com uma sensual coerção enquanto seu fôlego lhe roçava a bochecha. A jovem sentia um comichão nos lábios e no queixo, provocado pelo roce áspero da pele sem barbear de Westcliff —Milord —voltou a sussurrar depois separar-se de sua boca com um gesto brusco—. Pelo amor de Deus! me solte! —Sim... Sinto muito... Só um mais... e procurou uma vez mais seus lábios ao tempo que ela o empurrava com todas suas forças. Não obstante, o torso do homem resultou ser I tão duro como o granito. — me solte, bruto! Depois de retorcer-se de modo frenético, Lillian conseguiu livrar-se de Westcliff . A deliciosa fricção de seus corpos provocou um formigamento que a percorreu da cabeça aos pés, mesmo que já estavam separados. Enquanto se olhavam o um ao outro, Lillian percebeu como a luxúria havia 28
  • 29. Aconteceu no outono Lisa Kleypas Lisa nublado ao conde abandonava seu rosto um instante antes de que esses olhos escuros se abrissem de par em par ao compreender o que acabava de ocorrer. — Pelos pregos de Cristo! —exclamou ele em voz baixa. Ao Lillian não gostou absolutamente do modo em que Westcliff a observava, como um homem que contemplasse a cabeça letal de Medusa. Com o cenho franzido, disse-lhe com secura: —Encontrarei o caminho de volta a minha habitação. E não lhe ocorra me seguir… Já tive suficiente ajuda sua por hoje. — E com essas palavras, deu-se a volta e se apressou a cruzar o caminho enquanto ele a observava com a boca aberta. Por algum milagre divino, Lillian conseguiu chegar a sua habitação antes de que aparecesse sua mãe com a intenção de despertar a suas filhas da sesta. deslizou-se pela porta que estava entreaberta, fechou-a e procedeu a desabotoar-se com presteza a parte dianteira do vestido. Daisy, que já se despiu e estava em roupa interior, foi até a porta e introduziu uma forquilha dobrada sob o pomo para forçar o fecho de modo que se fechasse de novo. — por que demoraste tanto? -—perguntou a sua irmã enquanto pinçava na fechadura. —Espero que não te incomodasse que me partisse sem te esperar... Pensei que era melhor retornar e me lavar tão rápido como pudesse. — Não —respondeu Lillian de forma distraída ao tempo que se tirava o sujo vestido. Deixou-o no fundo do armário e fechou a porta para oculto. Um repentino estalo assinalou o êxito do Daisy, que tinha conseguido dar de novo o fecho da porta. Lillian não perdeu o tempo: aproximou-se do lavamanos, jogou a água suja à jarra que servia para tal mister e verteu água limpa na bacia. Depois de lavar a cara e as mãos à carreira, secou-se com uma toalha limpa. De repente, uma chave girou na fechadura e ambas as irmãs se olharam com súbito alarme. Percorreram de um salto a distância que as separava de suas respectivas camas e caíram sobre os colchões no mesmo instante em que sua mãe entrava na habitação. Por sorte, as cortinas estavam corridas, de modo que não havia luz suficiente para que Mercedes pudesse detectar evidência alguma das atividades de suas filhas. — Meninas— .perguntou com suspicacia—. Já é hora de despertar. Daisy se espriguiçou e bocejou de forma audível. — Mmm... Que sesta mais agradável. Sinto-me tão descansada.. . —Igual a eu —replicou Lillian com voz pastosa; tinha a cabeça enterrada no travesseiro e seu coração pulsava com força contra o colchão. —É hora de que lhes dêem um banho e lhes ponham os vestidos de noite. Avisarei às donzelas para que tragam uma banheira. Daisy, porá-te o vestido de seda amarela. Lillian, você o verde com os broches de ouro nos ombros. —Sim, mãe -disseram ambas ao uníssono. Enquanto Mercedes retornava à habitação contigüa, Daisy se sentou na cama e observou a sua irmã com curiosidade. — por que demoraste tanto em voltar? Lillian rodou sobre a cama e cravou os olhos no teto ao tempo que refletia sobre os acontecimentos que tinham tido lugar no jardim. Ainda não podia acreditar que Westcliff, que sempre tinha manifestado uma clara desaprovação para sua pessoa, comportou-se de semelhante modo. Não tinha sentido. O conde jamais tinha mostrado indício algum de sentir-se atraído por ela. De fato, essa tarde tinha sido a primeira ocasião em que ambos se comportaram com certo civismo o um com o outro. I 29