1. A ESTRUTURA PASSIVA: PROPOSTA
DE LABORATÓRIO GRAMATICAL
Antónia Estrela
5 de setembro de 2016
I Jornadas Nacionais de Professores de Línguas
1
2. PLANO
1. A estrutura passiva
2. A utilização da passiva
Alguns desvios
3. O laboratório gramatical: o que é?
4. Proposta de laboratório gramatical
2
3. 1. A ESTRUTURA PASSIVA
Tipologia tripartida de passivas Duarte (2013)
1. O exemplo foi corrigido por um falante nativo.
2. O exemplo ficou corrigido (depois de ter sido revisto).
3. O exemplo está correcto.
Passiva
eventiva
Passiva resultativa
Passiva estativa
3
4. PASSIVA EVENTIVA/ SINTÁTICA/ VERBAL
Promoção do argumento interno direto em
posição de sujeito;
Sujeito realiza-se como agente da passiva.
1) O João leu o livro.
2) O livro foi lido pelo João.
4
5. RESTRIÇÕES SOBRE A PASSIVA
A passiva ocorre com verbos transitivos
diretos.
verbos inergativos (trabalhar, espirrar, dormir,
sorrir)
1) *O João foi trabalhado.
verbos inacusativos (desmaiar, florir, morrer,
adormecer)
2) *O João foi desmaiado.
verbos que selecionam argumentos internos
preposicionais
3) *O jogo foi interferido. 5
6. 2. A UTILIZAÇÃO DA PASSIVA
Estudo sobre aquisição de estrutura passiva
Sim-Sim (1999)
Estrela (2013)
Alguns estudos sobre desvios na utilização de
estruturas passivas
Correia (2003: 537)
“o modo de estruturação do enunciado formado a partir de
estruturas passivas perifrásticas impõe custos elevados para o
processamento sintático e semântico eficaz (…)
Estrela (2011)
6
7. DESVIOS EM PRODUÇÕES ESCRITAS DE
ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR
Argumentos preposicionados como sujeitos de passivas
1) Este tema é reflectido por um grupo de intelectuais.
2) ...quem queira ter um papel activo e preponderante na educação dos seus
filhos é esbarrado com horários extenuantes logo no 1º ciclo.
3) O acesso à internet não é prescindido tão facilmente.
4) Tendo em conta a estrutura [que foi] optada pelo grupo, podemos concluir que
a organização foi bem conseguida ...
(Estrela, 2011)
7
refletir sobre
esbarrar com
prescindir de
optar por
8. Argumentos preposicionados como sujeitos de
passivas
1) Este tema é reflectido por um grupo de intelectuais.
Este tema é discutido por um grupo de intelectuais.
Este tema é alvo de reflexão por parte de um grupo de intelectuais.
2) (...) quem queira ter um papel activo e preponderante na educação dos
seus filhos é esbarrado com horários extenuantes logo no 1º ciclo.
(...) é condicionado por horários extenuantes (...)
(...) esbarra com/contra horários extenuantes (...)
3) O acesso à internet não é prescindido tão facilmente.
Do acesso à internet não se prescinde tão facilmente.
Não se prescinde do acesso à internet tão facilmente.
4) Tendo em conta a estrutura [que foi] optada pelo grupo, podemos concluir
que a organização foi bem conseguida (...).
Tendo em conta a estrutura por que o grupo optou (...)
Tendo em conta a estrutura [que foi] escolhida pelo grupo (...)
8
9. Problemas com regência verbal ocorrem igualmente na
voz ativa:
• ausência de preposição
• troca de preposição
• presença de preposição
1) Isto origina a que se explore os recursos da terra (…)
Sousa & Estrela (2009)
Uma vez que o mesmo tipo de problema ocorre quer na ativa quer na
passiva, não dependendo da estrutura mas do verbo, uma hipótese
a levantar é a de que alguns verbos possam estar a ser reanalisados
como transitivos diretos/ indiretos.
9
10. Estarão alguns verbos a ser reanalisados como
passivizáveis?
Abusar de
1. (…) existe uma responsabilidade de Portugal
perante o interesse colectivo das mulheres
que foram abusadas .
2. E os molestadores de hoje tornam-se os
pedófilos de amanhã, (40 por cento dos
molestadores foram abusados em criança)
num ciclo vicioso que é difícil quebrar .
(corpus CETEM Público)
10
11. Verbo ASSISTIR
1. O primeiro comício da Unita no Lubango (Sá da Bandeira) foi
assistido sobretudo por portugueses. [ASSISTIR A]
2. Descoberta a presença do escritor, o seu embarque para
Marselha, a caminho de Paris e Londres, foi assistido por
vários jornalistas. [ASSISTIR A]
3. O jogador queixou-se da perna direita, foi assistido e não
voltou a treinar. [ASSISTIR]
(corpus CETEM Público)
11
12. DADOS DO CORPUS ÁFRICA (CLUL)
Ausência de preposição em complementos verbais:
1. não paga o seu povo G (O)
2. perguntas uma pessoa G (O)
3. para dar os filhos de comer G (O)
4. pedir uma tia nossa para tomar conta de nós M (O)
5. assegurar os trabalhadores a questão da doença ST
6. querem bater as pessoas A (O)
7. para o pai bater meu filho G (O)
8. quando ele pega essa cinta ST (O)
9. o doutor Mondlane assistiu o nosso jogo M (O)
12
13. Português europeu difere de Português de
Moçambique
PM:
1) Os pais escondem [os filhos] [a verdade].
2) [Os filhos] são escondidos [a verdade] pelos pais.
PE:
3) Os pais escondem [a verdade] [aos filhos].
(Gonçalves 2005) 13
14. PASSIVAS COM CARACTERÍSTICAS
DISTINTAS - PM
1. [o espectáculo] foi assistido por todos (OTV88)
2. [o miúdo] foi batido [com carro] (OS94)
3. [o irmão] foi concedido [uma bolsa de estudos] à união soviética
(OU86/87)
(Dicionário de Regências de Verbos do Português de
Moçambique
http://www.catedraportugues.uem.mz/?__target__=drvpm)
15. Explicação
Os falantes foram influenciados negativamente
pelo conhecimento da gramática das suas
línguas maternas.
Os falantes não tiveram contacto suficientemente
consistente com a gramática da norma-alvo, de
forma a que as regras ‘incorrectas’ da sua
gramática do Português pudessem ser revistas e
reestruturadas.
(Gonçalves 2013)
16. CORPUS CUTE
1. a assiduidade e a pontualidade devem ser
respeitadas pelos alunos e respectivas famílias.
Se os alunos e as famílias forem reivindicados por
actos disciplinares, as famílias serão assumidas
por censura social e até a perda de apoios
financeiros. F00015
2. O ambiente familiar também tem um papel
preponderante e daí dever ser chamado à
responsabilidade pelos comportamentos do seu
educando. F00049
16
17. O QUE É NECESSÁRIO?
Trabalho sobre os exemplos que evidenciam
regularidades e sobre os que evidenciam
irregularidades
Conhecimento implícito dos alunos
Elaboração de uma regra comum
Conceptualização
Reflexão a partir das produções escritas dos
alunos.
17
18. Necessidade de um trabalho minucioso sobre a
construção passiva desde cedo.
Programa e Metas Curriculares de Português do
Ensino Básico (2015) indica o 6º ano como período
para abordar a relação entre a frase ativa e a
passiva, bem como a função sintática de agente da
passiva.
18
19. CONSCIÊNCIA SINTÁTICA
É a capacidade que o ser humano tem para refletir
conscientemente sobre aspetos ligados à sintaxe
da sua língua.
O desenvolvimento da consciência sintática é
importante para um bom desempenho
relativamente à leitura e à escrita, pois os aspetos
estruturais de um texto servem de pistas para a
sua compreensão (Duarte, 2008).
19
20. Alguns estudos referentes à manifestação da
consciência sintática em crianças em idade escolar
têm evidenciado a existência de correlações entre
a capacidade de refletirem acerca da estrutura
sintática da sua língua e a aquisição de
competências ao nível da leitura e da escrita.
We found that the students' levels of syntactic awareness were
significantly related to their reading fluency (r= .625) and
reading comprehension performance (r= .816). These relationships
indicate that lower levels of syntactic awareness correspond to poor
reading fluency and poor comprehension among these readers.
Mokhtari & Thompson (2006)
20
21. 3. O LABORATÓRIO GRAMATICAL: O QUE É?
Duarte (1998)
reflexão linguística
consequente sistematização
solidificação
Laboratório gramatical
explorações ativas
observações de regularidades
atividades reflexivas
• constrói os seus conhecimentos através da
descoberta do funcionamento de um conteúdo
gramatical
Papel do aluno
• papel orientador que passa por uma hábil condução
de todo o processo
Papel do
professor
21
22. FASES DO LABORATÓRIO GRAMATICAL
Fases Descrição das fases
1.ª fase Apresentação dos dados
2.ª fase Problematização, análise e compreensão dos dados
3.ª fase Realização de exercícios de treino
4.ª fase Avaliação da aprendizagem realizada
(Duarte 1992, 2008)
22
23. Fases Tarefas Descrição das tarefas
1.ª fase
Apresentação
dos dados
1.ª tarefa Constituição do corpus pelo professor ou
alunos
2.ª tarefa Organização dos dados linguísticos do
corpus em dois blocos (o primeiro para
observação e descrição e o segundo
para validação de generalizações feitas
pelos alunos
23
24. Fases Tarefas Descrição das tarefas
2.ª fase
Problematização,
análise e
compreensão dos
dados
3. ª Formulação de uma questão ou
apresentação de um problema relativo
aos dados.
4-ª Observação dos dados pelos alunos.
5.ª Descrição dos dados, considerando as
suas semelhanças e diferenças.
6.ª Formulação de generalizações
descritivas com a ajuda do professor.
7.ª Testagem da generalização formulada
através da manipulação dos dados e/ou
da apresentação de novos dados do
mesmo tipo.
8.ª Reformulação ou manutenção da
generalização.
24
25. Fases Tarefas Descrição das tarefas
3.ª fase
Realização de
exercícios de treino
9.ª tarefa Realização de exercícios de
treino propostos pelo professor,
de diferentes tipos, de forma
consolidar os conhecimentos
adquiridos.
4.ª fase
Avaliação da
aprendizagem
realizadas
10.ª tarefa Avaliação da aprendizagem
realizada.
(Duarte 1992, 2008)
25