Formação da Instrução Básica - Congregação Mariana
Atualizando os ensinos de Kardec
1. CUMPRIMENTANDO KARDEC
(No prelo)
O Evangelho é a base do sentimento. “O
Livro dos Espíritos" é o alicerce da razão. So
bre ambos se constrói o edifício da verdade.
As bases têm que ser inamovíveis, jamais
superadas. Cabe à evolução acrescentar coisas
novas, esclarecimentos que acordem as verda
des a dormitar ao pé da letra.
“CUMPRIMENTANDO KARDEC", é o primei
ro livro da série de 15, da coleção que se inti
tula “ ENTREVISTANDO KARDEC".
Cada livro apresenta 50 perguntas, com as
respectivas respostas, as quais servem como
tema principal a ser desenrolado em 3 páginas,
plenas de esclarecimentos científico - filosófi
cos .
Vê-se, em “CUMPRIMENTANDO KARDEC",
a atualização dos ensinos legados pelo codifica
dor, através do “ O Livro dos Espíritos", abrindo
um prisma novo, todo luz, a iluminar a fé pela
razão.
Hyarbas
3. ALGUNS ÂNGULOS DOS ENSI.
NOS DO MESTRE
É do conhecimento comum
que as Sagradas Escrituras se
prestam às mais diversas inter
pretações. Jesus, o Mestre, e
em torno do qual se tecem to
das as considerações evangé
licas. sempre foi consciente de
que os Seus ensinos se vesti
ríam com a policromia de to
das as épocas, com as formas
de todas as tradições e pre
conceitos.
Era necessário. Consideran.
do-se a doutrina das vidas múl
tiplas, ou da reencarnação. há
de se convir que somente a
evolução permite entendimen.
tos elevados. Com efeito, os
povos evoluem e, no seu evo
luir incessante, garimpam nos
campos da existência, colecio
nando as gemas preciosas guar
dadas no Evangelho.
Há, contudo, muitos tesouros
a serem descobertos, que ha.
verão de enriquecer os cora
ções. Todos eles se encontram
resguardados pela letra. E "os
espíritos do Senhor, que são
as virtudes celestes", sob a
égide do Cristo vêm nos auxi
liar. guiando-nos os passos ru
mo à vivência do Evangelho
Nosso irmão maior. Miramez,
é um dos grandes missionários
de Jesus, a trazer-nos revela,
ções interessantíssimas, vesti,
das de nova luz. a iluminar e
aquecer os corações.
"ALGUNS ÂNGULOS DOS
ENSINOS DO MESTRE" nos fa
la com amor e simplicidade,
acerca das verdades eternas,
únicas a nos propiciarem a li
bertação.
Hyarbas
4. o nn o t i/o To s -'V
0 / 7 ?9 / ^ / 9 < > T T ^ ~
/ C / C ■ « = -/ ° t w ç s
^T/£ T^^-cy'C <Vo CÜ-Í/9-
v^ /^hJ »
5. JOÃO NUNES MAIA
“ A L G U N S Â N G U L O S D O S
E N S I N O S DO M E S T R E ”
DITADO PELO
ESPÍRITO MIRAMEZ
Direitos reservados à
"EDITORA O CONSOLADOR"
Departamento da Sociedade Espírita Maria Nunes
Rua Esmaltina, 149 e Rua Superática, 150
Pedidos pelo reembolso postal, desta ou
de outras obras, para
Caixa Postal, 61 - Belo Horizonte - Minas Gerais
1.’ EDIÇÃO: 5.000 exemplares
Toda a primeira edição se destina ao financiamento da 5.'
"CAMPANHA NACIONAL DO LIVRO ESPÍRITA GRATUITO"
6. UM LIVRO
Eis um livro mediúnico,
Livro nobre, edificante
Para os que buscarn a verdade
Da vida santificante.
Este nos traz “ a mensagem'
Do mundo superior,
De nosso irmão Miramez,
Servo humilde do Senhor.
É centelha do Infinito,
que conforta e que renova.
São flores do céu caídas
Nas sendas da Boa Nova.
Oh ! bendito o que semeia
O livro de Fé e Luz,
Libertando almas cativas
Para o redil de Jesus.
J. Alencar Barreto.
7. Í N D I C E
Prefácio ...............................
A força do perdão..............
Jesus é filho de Deus
A bondade de Deus ...........
Tolerância ...........................
Os frutos da fé ..................
Visão espiritual ................
O espírito imortal ..............
Dádiva fe liz .........................
O valor da oração
Igualdade ...........................
Conduta cristã ....................
Dar a vida .........................
Ouro do m undo.............
Curar os enfermos
O primeiro mártir
A coragem .......................
O espinho .........................
Compreensão ....................
Como anunciar Jesus
Vigilância ...........................
Para curar os enfermos ..
Bênção maior ....................
Jesus ensina ......................
O poder da fé ....................
Atacar ...............................
Conduta no templo .........
9
13
15
18
21
24
27
30
33
35
37
40
43
46
49
52
55
58
61
64
66
69
72
75
78
81
83
8. Na escola da vida
Retorno à casa paterna
Gratidão ....................
Intelectualidade .........
Como decidir .............
Obediência ................
Dívida ......................
Como proceder .........
Como perdoar .............
Para que sofrer ? .......
Como d a r.....................
Fugir do mal ..............
Abnegação ..................
O que convém fazer ..
Cautela ......................
A fruta quando madura
Paulo fala com Jesus .
Evolução progressiva ...
Estímulos ....................
O alimento da alma ..
A vida em família .......
Conduta na velhice ...
Reencarnação ...........
Prudência ..................
Como deveis orar .......
. 86
. 89
. 92
95
98
101
104
107
110
113
116
119
122
125
123
131
134
138
141
144
147
150
153
156
158
9. EXPLICANDO
"Alguns ângulos dos Ensinos do Mestre” é um livro
ditado pelo espírito Miramez, o qual nos concita à me
ditação profunda.
O convite para enxergarmos novas modalidades de
interpretação evangélica não se faz esperar.
É imperioso que lancemos mãos do trabalho renova
dor e aproveitemos esta valiosa oportunidade de apren
dermos com o Cristo.
Este livro é o primeiro de uma série. E todos eles
fundamentados nos mais lindos preceitos de Jesus.
Deve ser lido, principalmente, no culto do Evange
lho, no lar. Porque o lar representa uma escola-oficina,
como preceitua o Mentor espiritual, onde a alma come
ça a sentir que é necessário amar, para se conhecer a
Deus.
Miramez amolda as lições do Divino Mestre, com ta
manha simplicidade, que qualquer de nós pode assimi
lá-las, com prazer, e sem perca de tempo.
Faz-nos ainda, vibrar com a beleza do alimento psico-
literário, o qual transmite ricos ensinamentos, tanto à
nossa mente quanto ao nosso coração. Eis porque con
sideramos "Alguns ângulos dos ensinos do Mestre" de
real valor.
Leitor amigo : se ainda não fazes o culto do Evan
gelho em teu lar, procura fazê-lo, o quanto antes. Assim
terás maior assistência no reduto doméstico.
Procura não esquecer o dia e a hora prefixados, por
quanto a disciplina é norma que muito agrada aos espí
ritos superiores.
— !
10. Já nos foi dado saber que existem muitas falanges
de benfeitores espirituais, encarregados, por determina
ção do Cristo, da assistência e cooperação junto aos la
res onde se pratica o culto evangélico.
É imprescindível que a prece comunitária se torne
um hábito nos lares da terra; este será um meio precur
sor para a implantação definitiva do reino de Deus, em
toda a casa planetária.
É lícito tocar a campainha de alerta. E Miramez o
(az, para todos os corações, na esperança de que eles
ouçam os chamados do Senhor e construam um cami
nho de paz que haverá de conduzir-nos ao grande aprisco
de luz.
Confrade amigo : a maior parte da tua evolução de
pende de ti mesmo. No entanto, a cooperação dos outros
é indispensável para que te realizes, pois, um homem
ilhado é u’a mão que não se abre; é um deserto sem
oásis; é um “eu” que morre, sem conhecer a grandiosi
dade do “nós".
Este livro é mais do que uma ajuda. É uma mensa
gem que te abrirá novos rumos, que te levará a uma vi
da maior !
Se todos os dias os teus familiares se reúnem em
torno de u'a mesa para a alimentação do corpo, é justo
que, no tocante à alimentação do espírito, se reunam
pelo menos uma vez por semana.
Faze-te presente, entre os convertidos, escolhidos e
chamados para a renovação em Cristo Jesus, porque Ele
já está ao teu lado, e vê em ti um amigo.
1LZA LÚCIA MAIA.
— 8
11. PREFÁCIO
“Alguns ângulos dos Ensinos do Mestre" é um li
vro portador de um valor incontesté. Suas páginas são
convites permanentes para uma reforma moral nas ba
ses do evangelho do nosso Divino Amigo, e quem pe*-
lustrar por esses ângulos se sentirá bafejado pela luz
espiritual.
A leitura deve ser meditada. A meditação deve ser
assimilada pelo irmão que tiver a felicidade de lê-lo. É
mais um pingo de luz do céu para a terra. O nosso que
rido Miramez, dentro da sua simplicidade, entrega, para
os estudantes da verdade, uma força nova para a transfor
mação íntima, como enviado de Jesus, com a tarefa de
reunir os animais das selvas dos nossos corações. Não
para expulsá-los, mas para educá-los; não para maltra
tá-los, mas para amá-los; não para trancafiá-los em es
conderijos tenebrorsos, mas para libertá-los, transforma
dos em ovelhas, destinadas ao grande aprisco de virtu
des evangélicas. Este livro não é endereçado aos que
não conhecem o evangelho, ou duvidam das belezas da
hoa nova; ele é dirigido aos irmãos acostumados com
a voz do Pastor inconfundível.
Não procureis nele elevadas considerações filosófi
cas nem intrincados assuntos científicos, pois não sereis
satisfeitos. O autor espiritual fez da inteligência o ins
trumento para escrevê-lo e do coração a tinta do amor.
As duas forças, juntas, dando harmonia e cadência es
piritual às vinte e poucas letras do alfabeto humano,
que se multiplicam em um poema que leva à felicidade.
Um punhado de riscos, obedientes a determinadas for
mas, aqui se reuniram, compondo nomes e frases, tex
tos e páginas e, finalmente, o próprio livro, oriundo de
uma mente que vive e pensa, trabalha e age a serviço
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
— 9
12. No trabalho de difusão da Doutrina Cristã rediviva
há milhares de espíritos empenhados. Eles buscam ti
rar o ouro do espírito da ganga da letra, para que todos
tenham a oportunidade de sentir Deus e Cristo na pleni
tude da glória. E que a humanidade, ao fim deste segun
do milênio, não reclame por não conhecer o evangelho.
Para tanto, a profecia nos incumbiu de pregar o evan
gelho por toda a parte, para todas as criaturas. Quando
assim acontecer, eis os fins dos tempos : o terceiro
milênio nos acena. Vamos para lá, mas cuidemos de não
penetrar no portal desse terceiro dia da criação com as
mãos vazias e os corações ressequidos de amor. Amor
a Deus, sobre todas as coisas; e ao próximo, como a
nós mesmos.
Os médiuns escreventes são escritores em outra di
mensão, atendendo às necessidades dos corações em
busca da verdade que liberta. Mas não são os únicos.
Todos aqueles que se candidatarem, por compromisso ou
de boa vontade, para a difusão das verdades espirituais,
vêm integrar a grande falange da verdade, pois são tam
bém gotas do imenso oceano do saber, que é o Cristo
de Deus.
A preocupação maior dos céus, por enquanto, é a
disseminação do lado moral dos preceitos de luz. “Al
guns Ângulos dos Ensinos do Mestre", certamente, vai
agradar aos que procuram novos aspectos dos ensina
mentos evangélicos. Miramez viaja, aqui e ali, reunindo
e comentando tópicos assaz interessantes, que vêm ao
encontro das nossas necessidades espirituais.
Pode parecer que já existem muitas obras no sentido
evangélico. É certo que existem, mas não podemos nos
esquecer de que cada escritor espiritualista, encarnado
ou não, sabe libertar da letra o perfume do Cristo, cada
um em dimensão diferente. Lembremo-nos também que
um livro a mais sempre constitui um passo à frente no
aperfeiçoamento da nossa cultura evangélica.
Não devemos acrescentar nos nossos escritos nada
de ranço humano e sim difundir as belezas evangélicas,
ilustrando-as e amoldando-as ao entendimento de cada
ser. Leitor amigo, fica sabendo que ao leres estas pá
— 10 —
13. ginas não encontrarás a pretensão de converter-te, de re-
formar-te, de um dia para outro. Mas, sinceramente, en
contrarás um convite para caminhares com Jesus, e, se
passares por esses prismas, certamente encontrarás o
Mestre.
Se alguém, que não conhece Espiritismo, mediunida-
de, evangelho e reencarnação quiser 1er este livro, seja
benvindo em nome de Deus; o autor e todos os compa
nheiros do nosso plano, sentir-se-ão jubilosos, ao verem
mais um interessado, por Cristo e para Cristo.
Saudemos esse prestimoso benfeitor espiritual que,
espontâneamente, deixa derramar, do seu magnânimo co
ração, essa água luminosa dos céus, para todos nós, se
quiosos de luz. Compete-nos fazer a caridade conosco
mesmos, estudando, meditando, e iniciando a viver o que
nos é exposto.
Viva Deus e Salve Jesus Cristo ! ! !
BEZERRA
Belo Horizonte, 30 de junho de 1971.
11 —
14. A FORÇA DO PERDÃO
“ Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se
reconciliaram, pois antes viviam inimizades
um com o outro” .
— Lucas : Cap. 23, v. 12.
A presença do Mestre em qualquer lugar era moti
vo de paz. Vejamos um exemplo :
Sendo Jesus galileu, não podia ser julgado
cm Jerusalém. A habilidade política de Pilatos fez com
que o Nazareno chegasse às mãos de Herodes que, por
ventura, achava-se a passeio pela cidade, onde a grande
águia romana simbolizava o domínio. Este já ouvira fa
lar sobre o filho do carpinteiro. Mas nunca tivera opor
tunidade de conhecê-lo. Despertava em seu coração o
ciúme, por ouvir falar da personalidade e da força, que o
Mestre possuía, de atrair o povo.
Em seus ouvidos, ressoavam as advertências dos
seus servos : "ele cura os enfermos, levanta os mortos,
dá vista aos cegos; a sabedoria que sai de seus lábios,
nunca foi vista e ouvida nestas regiões; cuidado Hero
des, cuidado Pilatos, cuidado governadores e altos re
presentantes de Roma : os senhores poderão perder seus
lugares” . ..
Para se convencer de que o anunciado a respeito da
quele homem era verdadeiro, Herodes queria assistir a
um sinal, que Jesus pudesse fazer no céu. Não era pro
feta ? Não se dizia filho de Deus ? "Quero assistir algo
prodigioso, conversar com ele. Quem sabe se ele não é
mesmo possuidor de poderes que possam, de algum mo
do, garantir-me na minha posição, eternamente ? Caso
isso aconteça, terei provas de que é mesmo enviado de
Deus I” . ..
Herodes, como relata o texto evangélico, estava ini
mizado com Pilatos. A manha da velha raposa e a astú
cia e força da água eram incompatível. Cada um queria
o cetro do comando total da massa sofredora, da qual,
Jesus, pelas bocas dos profetas, havia de ser o coman
— 13 —
15. dante supremo, em todos os quadrantes do globo; não
somente rei dos judeus, mas de toda a humanidade.
Herodes abriu alas por entre os guardas, ansioso
por falar com o Mestre; de muitos modos o interrogou,
mas Jesus nada lhe respondeu. Os sacerdotes e escri-
bas ali presentes, acusavam Jesus. O Mestre enfrenta
va tranquilo os punhos cerrados e as feições ferozes,
que transmitiam, em meio a uma e outra cuspada, o ve
neno do ódio maledicente.
Protegido do povo em fúria por sua numerosa guar
da, Herodes tratou a Cristo com desprezo; este, lendo
seus pensamentos, conhecendo seu coração, nada res
ponde. Deixa suas perguntas no ar, por serem elas en-
vernizadas pelo egoísmo, nascidas da vaidade, sem ne
nhum sentido altruístico.
Na sua mudez, todavia, Jesus fez a Herodes um bem
muito maior ao seu coração torturado, imprimindo, na
mente psicofísica do velho psicopata, a força do perdão,
que apagou para sempre seu ódio contra Pilatos.
Eis porque falamos da necessidade do perdão. Não
somente quando sofremos as tramas dos Pilatos e dos
Herodes. mas em todas as partes a que a vida nos cha
mar, o perdão é portador da semente dos céus. Onde
passa, garante a amizade, refrigera o coração. Perdoar
deve ser o gesto por excelência do homem de bem; per
doar, deve ser o clima do cristão, verdadeiro sinal dos
céus de que o coração se encontra preparado para a
academia do amor.
Experimenta, meu filho, perdoar por onde transitares
e verás; oferta o perdão aos que te ofendem, e sentirás
o céu, com Deus e Cristo no coração.
Herodes, andando de um lado para outro, inquieto
por não ter atingido seu intento, mandou vestirem o
Cristo de um manto aparatoso, e devolveu-o a Pilatos.
Sem sabê-lo, apresentou u’a mensagem de reconciliação
com o embaixador de Roma nas terras do Oriente, e.
desde então, Pilatos não mais odiou a Herodes.
A força do perdão, desprendida do Cristo, ao receber
o escárnio e o desprezo, fez com que Pilatos e Herodes
se tornassem amigos, conforme relata a evangelho :
“ Naquele mesmo dia Herodes e Pilatos se
reconciliaram, pois antes, viviam inimizados
um com o outro”.
— 14 —
16. JESUS É FILHO DE DEUS
“ E sei que o Seu mandamento é a vida eter
na. As cousas, pois, que eu falo, como o
Pai mo tem dito, assim falo” .
— João — Cap. 12, v. 44.
O Mestre jamais afirmou que era Deus. Não obs
tante, há grande confusão entre certos espiritualistas,
que tomam a Jesus como um Deus. Longe estamos da
época faraônica, quando os deuses eram venerados e
faziam guerras entre si; vão distantes os tempos do an
tigo legislador hebreu, que sobe ao monte e dá conse
lhos ao seu Deus, visando aplacar-lhe a fúria. Mas, ain
da hoje persiste a idéia, acalentada por muitos, da divin
dade do Messias. A esse respeito, preferimos afirmar,
como Moisés : há um só Deus verdadeiro, senhor supre
mo, que se manifesta através dos efeitos, cuja causa pri
mária foge, inteiramente, à nossa compreensão. Senti
mos em nós Sua penetração, que se acentua a cada
passo da escada que subimos.
Aceitamos, sim, um Deus que não fala diretamente
pela boca de seus profetas, mas que tem condições de
se fazer presente aos dotados de razão, pelos canais sen
síveis da lei, Seu agente mais poderoso em toda a cria
ção.
Jesus Cristo é nosso irmão maior. Sua alta condi
ção evolutiva, que a fraca concepção de tempo e espa
ço, próprios da humanidade, não permitem compreender,
interpreta com fidelidade a vontade de Deus, emanada
como hálito Divino, em ondas etéreas, como se fôra um
anúncio permanente da própria voz do Todo-Poderoso.
Jesus clamava no meio de seus seguidores, que
pensavam ser ele o Deus único propagado pelos profe
tas : "quem crê em mim, crê, não em mim, mas nAque-
le que me enviou". E continuava : “eu sou o espelho,
pelo qual podereis ver Aquele que é meu e vosso Pai” .
— 15 —
17. Afirmava, diariamente, que fora enviado : por con
seguinte, não era Deus. Operava em nome do Pai Celes
tial; era Seu filho amado, por ser o mais obediente e o
mais evoluído que, até então, pisara o solo terreno. Sun
missão diferia da de todos os outros mensageiros : o
próprio Mestre anunciou que veio como a luz, para que
ninguém ficasse nas trevas. Se os outros eram refle
tores, Jesus era o agente da claridade; se os outros
eram portadores da paz, Jesus era a própria paz; se os
outros eram caminhos para a verdade, Ele era a própria
verdade, pois de sua boca, canal cósmico de Deus, saiu
esta assertiva : ninguém vai ao Pai senão por mim”.
O Messias, na terra, é a fonte da água da vida, on
de saciamos nossa sede. com o líquido espiritual que
procede de Deus. Ele representa o regulador de volta
gens da natureza Divina. Absorve trilhões de volts, no
nascedouro, e os distribui, equitativamente, de acordo
com a capacidade de cada um. Essa distribuição é que
permite ao homem os meios para viver, evoluindo, c
sentir a grandeza dos céus, de acordo com a visão que
possui. Isso, o grande Mestre faz, desde os primórdios
do nosso planeta.
Por isso, repetimos, com os que disseram primeiro ;
Cristo é o governador da terra, desde a aparição dessa
nas franjas douradas do Sol.
A alguns, que o ouviam, e logo se esqueciam dos
seus ensinamentos, o Nazareno, com todo amor, despren
dendo forças sutis que ganhavam os corações, dizia :
se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar,
eu não o julgo; pois eu não vim para julgar o mundo, mas
para salvá-lo".
Sabia Jesus que nem todos possuíam o mesmo
desenvolvimento na escala espiritual. Aqueles que ti
nham ouvidos para entender, corações preparados para
sentir suas palavras, é que iriam aceitá-lo, em espírito
e em verdade; quem rejeitasse, iria se arrepender com
o passar dos tempos : esses, quem vai julgar são as mi
nhas próprias palavras”. No último dia, na última reen-
carnação do espírito nas hostes do mal, começa a jul
gamento : as verdades que ouviu ressoarão na acústica
— 16 —
19. A BONDADE DE JESUS
“ Pergunto, pois : terá Deus, porventura, re
jeitado o seu povo ? De modo nenhum; por
que eu também sou israelita da descendên
cia de Abraão, da tribo de Benjamin” .
— Paulo aos Romanos — Cap. 11, v. 1.
Os judeus, em todos os tempos, principalmente de
Moisés para cá, tinham-se na conta de uma raça eleita
por Deus. para que por ela se fizesse a luz na terra.
Lembram-se eles do drama divino do Monte Sinai. Das
tábuas da lei, entregues ao legislador, como sendo ins
trumento que a Divindade lhe emprestara a fim de que
ele libertasse o povo de Deus, escravizado pelas mãos
dos poderosos da terra, no velho Egito.
Não se esqueciam, os judeus, das promessas, que
se iam cumprindo, ouvidas por Moisés e relatadas aos
libertos da casa de servidão. Lembravam-se das curas
contadas nos velhos escritos desenhados pelo seu dis
cípulo predileto, Essen, fundador da Ordem dos Essê-
nios.
Moisés, homem de desenvoltura física rara, quase
não dormia. Ora andava, de barraca em barraca, acal
mando o povo; ora subia às alturas dos penhascos, ano
tando o que lhe diziam as vozes dos céus, para transmi
tir à sua gente.
Não raro, Moisés enfrentava agitações da massa,
causadas pela impaciência e pela desesperança. Sua
torça, no entanto, serenava os ânimos. E o passar do
tempo amadurecia os corações dos libertados, para o im
pacto de acontecimentos futuros. Na ausência do gran
de chefe, elementos subversivos procuravam plantar a
semente da revolta, pondo os ex-escravos contra o seu
salvador. A muitos, faltaram a coragem e a persistên
cia, preferindo voltar à casa de serviço no Egito. Pou
— 18 —
20. cos foram os judeus em cujos pensamentos não passou
a idéia de que Deus os havia abandonado, tendo em vis
ta o sofrimento, a fome, a sede e as doenças que os
afligiam.
Moisés, pulso forte, vontade férrea, não sem grandes
dificuldades, restabelecia a paz, sempre confiante na
voz dos céus, e, assim, cumpriu galhardamente sua mis
são de timoneiro dos hebreus, no êxodo histórico.
Só aos altamente evangelizados é que é dado tra
duzir os anúncios do mundo espiritual, pois a dúvida não
encontra lugar nos seus corações. Os demais, crêem e
descrêenv, afirmam e negam: abençoam e apedrejam:
humilham-se e revoltam-se: gostam da luz, mas adoram
as trevas: dão alguns passos à frente, outros para trás:
faltam-lhes qualidades espirituais desenvolvidas. Por is
so, precisam de guias, pois não sabem andar sozinhos.
Assim são os povos, assim as nações, assim as comuni
dades.
Paulo, emissário do saber Divino junto às coletivi
dades cristãs, inclusive Roma, dedicava-se integralmen
te ao seu apostolado. Quando ausente, enviava epístolas
cheias de fé e sabedoria, como forças de amparo aos
novos adeptos de Cristo. Dirigindo-se aos romanos
evangélicos, procurava esclarecer que o sofrimento não
traduzia esquecimento por parte de Deus, mas sim. lem
brança viva dos céus, pois a dor abre a visão ao sofre
dor cristianizado, propiciando-lhe venturas espirituais que
o mundo desconhece. Apesar dos esforços de Paulo,
muitos abandonavam as lides do Cristo pelas gordas me
sas dos césares.
Até hoje, é comum acreditarem que Deus abando
nou seus filhos, porque esses sofrem do berço ao tú
mulo. E a lei do renascimento, propagada desde o prin
cípio das coisas, em todo o mundo ? A própria ciência
sabe que tudo se desfaz, para se fazer novamente: a
lei é a mesma para o ser humano. O que se sente e o
que se pensa, muda dia a dia, tomando novas dimen
sões, e novas atitudes renascem no campo mental. O
espírito muda de corpo, como este muda de roupa.
— 19 —
21. Deus não esquece ninguém, pois somos todos
iguais, sem exceção: as diferenças, são relativas às Ida
des de cada um, no pentagrama divino da evolução.
Deus não rejeitou seu povo, afirma o apóstolo dos
gentios; e, tampouco, esquece povo algum; dá, porém,
a cada um, de acordo com seu merecimento. “Aqueles
que têm, mais lhes será dado", afirmava Jesus. A épo
ca de Sua vinda à Terra, o povo judeu recebeu a luz da
presença do Cristo, porque tinha mais maturidade. Es
peranças e promessas não significam que ficaremos P-
vres do sofrimento; consttiuem sim, um aviso de que es
tamos preparados para atravessar as provas, num ambi
ente de paz e alegria; sem nos preocuparmos com as
trevas; sem nos assustarmos, como crianças na escu
ridão.
Meus filhos, se Moisés veio libertar os judeus da es
cravidão fisica, Cristo surgiu, como um sol espiritual,
para fazer livres todos os espíritos que queiram conhe
cê-lo.
Não deis expansão aos vossos problemas; resolvei-
os em silêncio, sem multiplicá-los. Não deis liberdade
às idéias de enfermidade na área mental, para que elas
não multipliquem o vosso sofrer. Não deis razão à dis
cussão infrutífera, para que não floresça, em vosso co
lação, a melancolia. Sentir-vos-eis na plenitude do amor.
Não desconfieis de Deus, e nunca faleis : Ele se es
queceu de mim. Meditemos, novamente, sobre as pala
vras de Paulo :
"Pergunto, pois: terá Deus, porventura, re
jeitado o seu povo ? De modo nenhum, por
que eu também sou israelita, da descendên
cia de Abraão, da tribo de Benjamin” .
— 20 —
22. TOLERÂNCIA
“ Ele, porém, respondeu : senhor, deixa-a
ainda este ano, até que eu escave ao re
dor dela, e lhe ponha adubo” .
— Lucas — Cap. 13, v. 8.
Onde não existe a tolerância, desaparece por com
pleto a esperança, e a caridade fica impedida de con
fortar os corações.
Cada um de nós representa uma figueira na imen
sa vinha de Deus, onde temos direitos e deveres. Fo
mos plantados no meio cósmico, para crescer e frutifi
car, pelos nossos próprios esforços, embora as bênçãos
exteriores do agricultor divino nunca faltem.
O dono da vinha criou as leis com base nas fun
ções da própria vida, e seus filhos maiores inspeccionam
o plantio da verdade, em todos os campos de germina
ção. Trazendo em seus corações a pureza do amor, em
forma de variadas virtudes, os mensageiros divinos es
truturaram, por ordem da Grande Luz, um reino que ser
visse de sustentáculo aos homens nas suas fraquezas,
nas suas dores, nos seus conflitos. Esse recanto divi
no, mesmo no chão do mundo, tem o nome de Evanqe-
Iho.
As leis representam juizes severos, mas justiceiros.
Os filhos maiores, cheios de tolerância, e amor, imbuí
dos de misericórdia e plenos de discernimento, fazem
o papel de reguladores de forças. Dão a cada um a
quantidade que ele possa assimilar, sem se perturbar;
absorver, sem se abater: apreender, sem se transtor
nar. A própria psicologia nos ensina, que é sofrendo que
a alma se torna mansa; é a dor que a faz amar com
desapego; é o padecimento que a faz meditar com mais
profundidade, na vida que leva e na morte que vem.
23. Eis porque, não deixamos de lembrar aos irmãos
estudiosos que, quando a lei do retorno atinge um ser, a
misericórdia não o esquece; a tolerância dos céus apro-
xima-se do seu coração. Não existe magia mais podero
sa que a dor, para alargar a visão do espírito, possibiii-
tando-lhe sentir Deus, amar a Deus, e buscar a Deus.
Cristo, regulador da lei do Senhor na Terra, Mestre
por excelência e jardineiro da Divindade, narra a parir
bola da figueira estéril, plantada em u'a vinha, cujo
dono, não encontrando o fruto desejado, intentou cortar.
Mas o dedicado responsável pela vinha, com os pode
res do amor, revestido da soberania imperturbável da
tolerância, faz cumprir sua augusta missão de controla
dor da vida, servindo-se da própria vontade do Criador
de todas as coisas.
A lei age sobre todos nós com uma justiça impla
cável, mas tolerante. Suponhamos por exemplo que um
título por nós assinado, com data certa de vencimento,
não possa ser pago à época aprazada. A intervenção de
alguém que nos ama, e que possui condições para in
terceder por nós, coneguindo u'a moratória em boas
condições, representa a tolerância da vida para conosco,
os filhos de Deus.
Como já dissemos, somos as figueiras na grande
vinha de Deus, o Senhor Justiceiro, que criou a lei dos
reinos todos. E Cristo, o filho maior é o jardineiro com
passivo que, ao cuidar das plantas com toda a dedica
ção, nota que alguns estão sendo atacados pela própria
natureza; interfere, com seus recursos, solicitando mais
tempo e novas oportunidades para as figueiras humanas,
na esperança de que elas possam vir a dar frutos, nes
sa mesma existência. Quando não consegue este resul
tado. plasma, em sua mais íntima estrutura, o amor, que
servirá de alicerce para novas etapas.
Em todos os bastidores da vida, Deus estatuiu a lei
justiceira. Mas, ao lado dela, com todos os poderes, co
locou os filhos de seu coração, testificando amor e to
lerância junto aos homens, a fim de que eles possam,
assim, sentir a bondade do Pai celestial.
— 22 —
24. Se alguém te ofender, espera um pouco, e faz algo
em beneficio dele que, de algum modo, também pode
rá ser útil a outros.
Se alguém só produz frutos corrompidos, ou está
como a figueira estéril, tolera-o, como benfeitor, e adu
ba suas qualidades boas, na esperança de que, algum,
dia, possa ele se incluir no grande pomar de Deus.
Se alguém torce a verdade, para que tu sofras, to
lera em silêncio. Espera mais um pouco, e verás que
amanhã estará tudo mudado.
Abençoemos nossos irmãos ignorantes e cuidemos
oeles com carinho, imbuídos de tolerância cristã. Se
nos faltar algum ânimo, leiamos novamente esse versí
culo, que nos alegra, de forma especial :
“ Ele, porém, respondeu : Senhor, deixa-a
ainda este ano, até que eu escave ao redor
dela, e lhe ponha adubo” .
25. OS FRUTOS DA FÉ
“ Assim, as Igrejas eram fortalecidas na fé.
e aumentavam em número, dia a dia".
— Atos — Cap. 16, v. 5.
O grande convertido de Damasco, conhecido como
o tufão da nova idéia renovadora do Cristo, passava por
inúmeras cidades, desfazendo todo o pedestal dos anti
gos conceitos embrionários sobre Deus e a vida. Argu
mentava nas praças públicas, nas sinagogas, nas escolas,
nas hospedarias, com a alta filosofia, que rutila, e com
a ciência firme, que espera.
Paulo era doutor da lei. E, como tal, se constituía,
certamente, numa ventania muito forte para aquêles que
ainda ofereciam, em seus mundos mentais, ninho para
os pássaros das idéias, que, comparadas com a menta
lidade cristã, eram assentadas na areia, com fraturas
em todas as suas conjunções.
O gigante do Evangelho, em alta função doutrinária,
passa nas cidades de Listra e Derbe, aldeias onde o
discípulo Timóteo já havia introduzido a palavra de reno
vação do Mestre. Esse companheiro era filho de uma
judia com um varão grego. Enriquecia sua alma, de fi
lho de duas raças, com as qualidades indispensáveis aos
grandes labores. Timóteo, paciente e valoroso, tinha
na oração um sustentáculo para as decisões maiores e,
no ambiente agressivo dos contraditores. lançava mãos
da arma prodigiosa da fé, que soubera herdar do grande
Mestre, vencendo todos os adversários da idéia de Cris
to.
Paulo estava em uma excursão, onde deveria, em
nome de Jesus, percorrer várias cidades e ilhas. Eram
todas distantes da sua terra natal, onde voltara, com
humildade, depois de convertido, a pregar a verdade,
com as qualidades que o coração oferece ao cristão
26. nascente. As distâncias que o antigo perseguidor do
Evangelho se dispunha a perlustrar eram Imensas, mas
a fé que Paulo havia grangeado do clarão dos céus, no
deserto, e a sua realidade interna, faziam com que o
mundo coubesse nas suas mãos. Com essa mesma fé,
em Cristo e por Cristo, êle poderia ver todas as cidades
o aldeias, com suas respectivas necessidades. Nunca
temeu afronta nenhuma ao ser apedrejado e massacrado
pelos fariseus de todos os lugares e de todas as épo
cas. Era o cálice escolhido, no dizer do Mestre, para
a glória de Deus.
Timóteo também dava ótimos testemunhos em Icô-
nio. Em vista disso, Paulo queria que ele o acompanhas
se e, como todos sabiam da descendência de Timóteo,
prlncipalmente os judeus que ali habitavam, sugeriu Pau
lo que Timóteo fosse circuncidado, obedecendo a lei ju-
dáica. Com a circuncisão estariam dando “a César o que
ó de César”, sem nenhuma necessidade de mudar suas
convicções acerca dos autênticos ensinos de Jesus Cris
to, a quem Paulo havia dado tantos testemunhos.
E um dia, o apóstolo dos gentios, encontrando Ti
móteo meio triste, lendo seus pensamentos, responde,
sem ser Interrogado, nesses termos : Timóteo, não afli
jas o coração por teres sido circuncidado, meu filho.
Tem este fato como um símbolo : cortado algo em tua
carne, estejas livre também das forças inferiores que te
prendem ao mundo, e verás quantos prismas novos se
te abrirão, de valores incalculáveis, nascidos de uma pe
quena contrariedade". E Timóteo, antes tristonho, levan
ta a cabeça e sorri para Paulo, como se fosse uma cri
ança a encontrar um paraíso de fadas.
Sua mente foi tocada pela luz, e, de fato, encontrou
um novo céu, onde sua fé se firmou, fulgurante e sem
par. Batendo, de leve, no ombro do campeão do Evange
lho, articulou baixinho em seu ouvido : irei com o Se
nhor, para onde for e para onde desejar. Pisando na
terra, mas vivendo no céu, porque agora compreendí que
os nossos irmãos em Cristo não existem somente em
Listra, Derbe e Icônio, mas em todo o mundo”. Deixan
do escorrer nos grandes olhos lágrimas incontidas de
grandes emoções espirituais, remata sua conversa : “de
27. 0 valoroso discípulo cambaleou de emoção, alvo de
tremendo impacto. Considerar alguns animais imundos
vinha de Moisés, mas ele achava bom aquele preceito.
Por outro lado, se todas as coisas foram feitas por Deus,
pertenciam também a Jesus; como fazer agora ? Já havia
o Mestre falado antes a todos os discípulos que nada há
imperfeito na criação de Deus, que as imundícies e as
imperfeições estavam em cada um de nós, na maneira
pela qual sentíamos e observávamos as coisas. Por que
leria o legislador separado alguns dos animais, qualifi
cando-os como imundos em relação aos que figuravam
passivamente nas mesas dos que temiam a Deus ?
O espírito do mal queria confundir a Pedro, mos
trando contradições nas leis espirituais de Moisés e Je
sus. É o mesmo que alguns menos avisados querem fa
zer hoje com Jesus e Kardec, mostrando confusão on
de nunca existiu, esquecendo-se de comparar as neces
sidades de duas épocas, separadas por vários séculos.
Quem viaja com Cristo e Kardec no bôjo da lei,
sentirá, no Espiritismo, o mesmo calor, o mesmo ambi
ente do Cristianismo primitivo, a renascer no mundo
com maiores esplendores. Mas nunca deixam de apare
cer os espíritos do mal, nos caminhos dos discípulos,
para confundir as coisas de somenos importância. Os
céus o permitem, no sentido de testar quem se propôs
a seguir o Mestre.
Pedro, a sós, passeia os olhos molhados pelo céu —
dlr-se-ia mais uma estátua do que um homem — e abre
os lábios, compassivamente : "Senhor, queria saber a
verdade sobre o que acabo de ver e ouvir; não posso
ir ter com os meus antes disso. Se necessário, ficarei
aqui, qual Moisés, horas a fio, ou dias incontáveis, mas
quero conhecer a verdade sem rasuras, estar contigo
em Deus; faze de mim o que te aprouver".
Diante de uma grande pedra, Pedro debruça como
menino faminto, a esperar um pedaço de pão. Aguarda a
resposta do Mestre, porquanto, raciocinando, descon
fiara de tudo o que acontecera. Uma luz profusa parte
do alto, divide-se em três, bafeja o velho apóstolo, bri
lha com variações nunca vistas em matéria de luzes,
torna a se fundir, serenamente, perdendo-se no infinito.
— 28 —
28. Pedro fica em lugar destacado no meio das coisas,
e uma voz, muito sua conhecida, fala : “Pedro, acalma
teu coração, desperta teu interesse pela obra de Deus e
segue-me; não confundas amor, com seperação; ser-teá
dado tudo para viveres; o teu e o nosso Deus, de amor
e bondade, nunca deixa nada sem valor. Os que queres
afirmar como imundos são os que te dão, na verdade, a
vida. Foram qualificados como imundos, vindos de ou
tras bandas, mas se não fosesm eles, a vida seria im
possível; abençoemos, pois, esses animais. A velha
proibição visava a que eles não diminuíssem em quan
tidade, para uma operação limpeza completa, entendeste?'
E a voz, meiga, terminou : “se não queres, não comas,
mas não odeies aqueles que, nos rudimentos da vida,
fazem os melhores dos bens’ .
Pedro, chorando, agora de alegria, entendeu qus
deveria orar, mas acima de tudo, vigiar. Com a ajuda da
razão, selecionar os alimentos espirituais e não os ma
teriais, porque destes está encarregado o organismo.
"No dia seguinte, indo êles de caminho e
estando já perto da cidade, subiu Pedro ao
eirado, por volta da hora sexta, a fim do
orar” .
— 29 —
29. O ESPÍRITO IMORTAL
"Estando elas possuídas de temor, baixan
do os olhos para o chão, eles lhes falaram :
Por que buscais entre os mortos ao que
vive ?”
— Lucas — Cap. 24, v. 5.
Enquanto muitos choram nos túmulos dos seus mor
tos, no de Jesus ocorreu diferente. Talvez as mulheres
fossem ali com essa intenção, mas o ambiente do Cris
to não favoreceu a tristeza.
Joana, mãe de Tiago, e Maria Madalena, acompanha
das de outras companheiras de ideal, conduziam essên
cias para o campo santo. Queriam que o sepulcro do
seu Mestre recendesse aromas agradáveis, como grati
dão dos que ficaram. Lá chegando, cercariam o lugar
onde se achava o corpo do Divino amigo, para chorar,
em lamentações sagradas, a perda irreparável da luz do
mundo. Não tinham mais em mente nenhuma das profe
cias; somente palpitava, em seus ardentes corações, a
eterna gratidão para com aquele que distribuira tanta
esperança para os desesperados, tanto alívio para os en
fermos, tanta sabedoria para os ignorantes.
Todas juntas, com mãos firmes, puxam a tampa tío
túmulo, já meio removida por alguém, e se espantam ;
“ Para onde teria ido o Mestre?" A essa interrogação,
aparecem dois espíritos resplandescentes, mensageiros
do Cristo, dizendo : “Ele não está aqui, mas ressuscitou
Lembrais-vos de como vos preveniu, estando ainda na
Galiléia?” Elas se lembraram e, em vez de se lamentarem,
sorriram. Agora, as lágrimas que molhavam seus cândi
dos rostos eram temperadas em outro calor emotivo, de
alegria pura e da certeza de que o espírito é imortal.
Os anunciantes acrescentaram: “Por que buscais entre
os mortos, ao que vive ?”
— 30 —
30. O espírito fulgurante de Jesus deixa a maior mensa
gem da imortalidade da alma para Madalena e suas con-
freiras : renasce o Mestre para outras dimensões cós
micas, deixando um rastro de esperanças para todos os
seus companheiros de jornada, ensejando a que esses
pudessem anunciar, ao mundo, a inigualável herança dos
céus para a terra. A morte não existe ! Somente a vida !
Somente a vida !... canta, em todas as latitudes, a cria
ção de Deus.
O mundo ainda não tem idéia de quanto significou,
para os discípulos, a notícia, transmitida pelas mulheres,
de que o Cristo tinha subido aos céus e que, na fria
laje de seu túmulo, só as vestes havia. Completando a
mensagem, o grande amor, que Jesus dedica à huma
nidade, fez aparecerem dois varões resplandenscentes,
permtitindo-nos deduzir : aquele que aqui falta, não foi
tetirado por ninguém desse sepulcro; não foi removido
por mãos humanas. Desapereceu para dar cumprimento
à profecia que anunciava sua ressurreição, ao terceiro
dia.
O colégio apostolar de Jesus criou vida nova com
o anunciado. Pedro, correndo ao sepulcro para certitfi-
car-se da verdade, fica maravilhado. Volta à companhia
dos seus amigos, e comprova o fato. Os apóstolos, an
tes acabrunhados e completamente abatidos com a perda
do Senhor, sentem-se renovados, corre-lhes nas veias
novo sangue, novas esperanças tomam-lhes os corações,
para outras vidas. Vejam, meus irmãos, quanto vale uma
gota de esperança na taça do coração torturado.
Depois desse dia, Cristo não se fez esperar ; come
çou a aparecer todos os dias, para todos os seus servi
dores, discípulos ou não, nas cercanias de Jerusalém
ou em outras terras, não importando distâncias e na
ções. Importava, sim, que fossem servos que pudessem
compreender a mensagem do perdão, as belezas da ca
ridade e a salvação pelo amor.
Invade o Mestre, de momento a momento, o conví
vio dos apóstolos, com uma essência que perfuma eter
namente. Vai aqui e ali, abrindo lareiras nos coraçõas,
que se dispuseram a servir, para o plantio do amor que
nunca morre.
— 31 —
31. E, como padrão universal da doutrina de luz, ao in
vés de recolher, como a galinha, somente os seus pinti-
nhos, abre as asas para toda a humanidade: chama Este
vão para as lides: convida Abigail à renúncia: mostra a
Paulo, no deserto escaldante, que existe outro reino: es
timula os discípulos, trancafiados por temer perseguição,
dando-lhes sinal de combate, como o maior dos generais:
continua as curas, através do próprio colégio apostolar.
Cumprindo a promessa de ressuscitar ao terceiro
dia, deixou claro que cumprirá as outras, pois disse :
"Eu sou a verdade". E uma delas, entre muitas, é esta :
"Voltarei e ficarei convosco eternamente".
O Mestre está voltando em um corpo ciclópico dou
trinário, para permanecer eternamente com toda a hu
manidade: e essa, ainda possuída de temor, levantará os
olhos para o céu e sentir-lhe-á o bafejo divino, pois
ninguém morre, e a vida continua sempre.
“ Estando elas possuídas de temor, baixando
os olhos para o chão, eles lhes falaram :
Por que buscais entre os mortos ao que
vive ?"
— 32 —
32. DÁDIVA FELIZ
“ E disse : verdadeiramente vos digo que es
ta viúva pobre deu mais do que todos” .
A caridade, em todas as épocas, constitui motivo
de atração para as almas que têm maior sensibilidade
para as coisas de Deus. As formas de praticá-la va
riam, de acordo com o meio em que as pessoas se en
contram, desde o pedinte das ruas, até os círculos
coruscantes de pedrarias daqueles que se congregam
no calor social. Entre esses dois polos, pede-se, para
alguém, ou para alguma coisa. O ato de dar, com cer
teza, alivia, de maneira sutil, e conforta o coração que
oferta.
Como todas as coisas, aperfeiçoa-se a caridade. Nos
que distribuem por vaidade, chama-se alívio temporário
de consciência; nos religiosos que dão, esperando ga
nhar alguma coisa no céu, empréstimo a longo prazo;
os que oferecem com amor aos necessitados, sem espe
rar nenhuma recompensa, estes estão fazendo a verda
deira caridade.
O ser humano não evolui de um dia para outro, co
mo ninguém sobe uma grande escada, saltando do pri
meiro ao último degrau, mas sim, lance a lance; eis
porque a natureza, também, usa esse método no campo
da evolução espiritual.
O “não julgueis para não serdes julgados”, cons
titui uma disciplina para todos nós. Não fora isso, o
cristão descambaria para o terreno da maledicência, a
julgar desenfreadamente, porque o semelhante ajuda
esperando recompensa, dá na certeza de receber e
abençoa para ser garantido pelo céu. Essas almas, na
verdade, iniciam seus passos nas hostes do Cristo, â
procura de Deus. E qual de nós tem autoridade para
julgar, se o Mestre não procedeu dessa forma com a
mulher adúltera ?
— 33 —
33. Deus, antes que os olhos humanos, vê tudo, e ainda
tavorece meios de vida saudáveis para os comerciantes
desonestos, para os trapaceiros, para os ignorantes, para
os que roubam, para os que negam suas próprias proce
dências. Então, nós outros é que vamos persegui-los,
julgá-los ? Se assim procedermos, estaremos nos desfa
zendo do honroso título de companheiros de Cristo,
porque quem ataca o comércio das coisas de Deus, ni
vela-se aos errados; quem persegue os trapaceiros,
comunga com eles; quem massacra o ignorante, é seu
igual; quem não esclarece aos que roubam, quer ter
ladrão para sempre; quem amaldiçoa os que negam a
Deus, está construindo o verdadeiro materialismo, roupa
velha já deixada pelos filhos pródigos.
A caridade não tem dono nem obedece aos homens;
é filha do amor, e portanto, universal. Não há quem a
tenha definido melhor que Paulo de Tarso, quando disse :
‘‘Ela tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
Passando Jesus por perto de um templo, vê filas de
pessoas a depositar dinheiro no gasofilácio, que tilin
tava mais, ou menos, de acordo com a quantidade de
dádiva ofertada. Os que tinham posses, despejavam
grande quantidade de denários, e os sons anunciavam
as ofertas dos ricos. Mas acontece passar uma viúva
pobre, colocando sua última moeda no cofre do templo.
O Nazareno percebeu, com interesse, e sentiu o amor
daquela mulher que ofertara tudo o que possuía, sem
pensar em recompensas.
Jesus não ofende os ricos, não julga os poderosos.
Mas, no meio dos seus, estimula a verdadeira caridade.
"E disse : verdadeiramente vos digo que
esta viúva pobre deu mais do que todos."
34. O VALOR DA ORAÇÃO
“ Portanto, vós orareis assim : Pai nosso
que estais nos céus, santificado seja o
vosso nome".
— Mateus — Cap. 6, v. 9.
Pelo que disse Jesus, a oração não pode ser moti
vada pela vaidade. Representando uma linguagem do ho
mem ao Criador, a oração deve ser revestida de toda
humildade e boa vontade, visando aprender, para servir.
No ato de orar, um dos mais sagrados da vida, o Pai
espera dos filhos os cuidados correspondentes aos seus
valores. “ Entra para o teu aposento, fecha a porta, e
ora a teu Pai, que vê, em segredo". Não em longas e
barulhentas orações em praças públicas, para chamar a
atenção dos que passam, por vaidade. Essa prece não
passa dos lábios e, no fundo, trata-se de simples pedidos
interesseiros, a exemplo das dádivas estridentes coloca
das no gasofilácio, sem nenhuma participação do senti
mento. Assim ocorre com as orações por vaidade.
O ato de orar constitui uma permuta de valores, da
vida com vidas, de irmão com irmãos, do filho com
Deus; mas eis que isso se processa por conta da lei,
da justiça e da misericórdia. Todavia, o homem é mais
ou menos consciente da bondade do Criador, mormente
quando se encontra em estado de graça, em pleno fer
vor da oração.
Ao nos sentarmos, em torno de uma mesa, na hora
do repasto, alimentamos o corpo; ao entrarmos em nos
so aposento, fechando a porta e orando ao pai, em segre
do, estamos alimentando a alma. Nem corpo nem alma
alcança a felicidade, sem esses indispensáveis atos de
alegria e humildade, de reconhecimento a Deus. A ora
ção tem longa e porfiada viagem, começando no trabalho
rude de cada dia, e terminando no êxtase de refusão da
alma com o Senhor.
35 —
35. Alguns dirão que Deus é pai e onisciente, conhece
todas as nossas necessidades e, por isso, nada preci
samos pedir-lhe. Estão, em parte, certos, mas a vontade
Divina espera, por lei, o esforço de cada um, no sentido
de suprir suas necessidades. Coloca a água nas fontes,
mas os homens, para saciar a sede, terão que buscá-
la, para beber. Espraia os raios solare3, com uma tem
peratura que um ser encarnado não suportaria, parado o
dia todo, em um só lugar; mas esse, movendo-se, su
porta e se beneficia.
Guardou Deus, no seio da terra, todos os elementos
indispensáveis ao bem estar da huminidade, esperando
que esta se movimente e descubra condições para o con
forto próprio, obedecendo a lei de esforçar-se para viver
melhor. São os rudimentos da verdadeira prece; é o
“batei e abrir-se-vos-á"; é o “pedi e dar-se-vos-á”; é o
cai e achareis". A lei soberana de Deus rege todos os
quadrantes da vida, dando a cada um segundo o seu
merecimento. Não há perda das aquisições, nem des
vios da justiça. As leis nunca foram burladas; mas sim,
dirigidas por um amor que, jamais, foi insensível aos
corações que sofrem.
A sinfonia da vida universal é uma eterna oração : a
a perda se esvai, sem ter condições de exigir algo em
troca do seu sacrifício. Mas a lei não a abandona, e lhe
dará, no futuro, uma evolução superior. A árvore se
desfaz, até o pó; o animal é arrastado ao sacrifício,
pelo sustento dos homens. Mas o amanhã lhe reserva o
amparo da justiça.
E o homem, que tem superioridade sobre todas as
coisas do mundo, não deve buscar a humildade, a re
signação e a esperança ? Deve, sim. E, avantajando-se
aos outros reinos, passo a passo, há de chegar à pleni
tude da caridade, que sempre se confunde com a ciên
cia da oração.
“ Pai nosso que estais nos céus, santificado
seja o vosso nome” .
— 36 —
36. IGUALDADE
"Tudo quanto, pois, quereis que os homens
vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a lei, e os profetas”.
— Mateus : Cap. 7, Vers. 12.
Fazer aos outros o que queremos que nos façam é
o respeito aos direitos alheios. É sentir no semelhante
um ser igual a nós mesmos, com os mesmos deveres e
direitos, perante a lei. Essa atitude estando em prática,
não haverá discórdia, não haverá maldade, não haverá
maledicência, porquanto a igualdade de deveres e direi
tos nivela as criaturas. Cada um de nós pode agir de
várias maneiras, como sejam : aceitar ou não opiniões,
apresentar idéias ou adiá-las para outra oportunidade;
usar de energia ou continuar paciente, falar ou silen
ciar e assim sucessivamente. Tudo depende daquele a
quem estamos nos dirigindo e de sua sensibilidade. A
lei nos traçou metas determinadas para que deixemos
de ser motivo de escândalo. Fazendo aos outros somen
te aquilo que gostaríamos nos fosse feito e, mesmo
assim, feríssemos alguém, embora não fosse essa a
nossa intenção, a lei tem recursos para socorrer o ofen
dido.
Prestemos bem atenção : quando premeditamos uma
coisa, principalmente em se tratando de ofender
alguém, nossas palavras se tornam veículo de um fluído
intoxicante. Ativamos em nosso coração, como no da
vítima, uma série de maldades atávicas, acordando nas
almas um passado muito distante, onde as duas pessoas
se envenenam, criando um clima maldizente e eliminando
todo o bem que porventura existisse entre as duas al
mas. Tudo isso, por faltar determinado conhecimento das
verdades evangélicas. Tudo isso, por não conhecermos ou
deixarmos de praticar os rudimentos do amor. Tudo isso,
por termos nos esquecido da lei que a todos dá direito
— 37 —
37. de viver com iguais deveres e com idêntico respeito de
uns para com os outros. Ser-nos-á fácil respeitar os df
reitos dos semelhantes se conhecermos a Cristo, ini
ciando o aprendizado com Ele.
E ser-nos-á difícil viver o que o Mestre expõe para
a humanidade, se ainda nos sentimos ligados ao primi-
tivismo, dando sequência aos impulsos dos nossos an
cestrais, impulsos de vingança, de ódio, de força bruta,
onde há mais sede de sangue do que propriamente de
água. O evangelho não é para esta ordem de pessoas.
Ele é um testamento deixado para os herdeiros do reino
de Deus.
Quem não se interessar por esse reino, não pode
rá herdar os valores imortais da boa nova. O Cristo não
é o mensageiro para os indiferentes, mas representa
uma luz benfazeja para os homens de boa vontade. Não
veio dar pérolas aos porcos, nem coisas santas aos
cães. Surgiu, por misericórdia de Deus, no panorama
do mundo, como Mestre incomparável. Quem ainda não
chegou à idade de entiar na escola do Senhor, que se
entregue ao tempo, preparador de almas, mas não sir
va de pedra de tropeço aos outros, nem motivo de es
cândalo, para muitos, porquanto é, ainda, o Cristo, que
nos fala acerca dessa classe de espíritos : — “Antes
não tivesesm nascido!” .
Se é necessário o escândalo, ai daquele por inter
médio do qual o escândalo vier !
Deus fundou a academia do amor, colocando Jesus
como Mestre dos mestres, reduzindo milhares de livros
em um só : O Evangelho. Nessas poucas páginas estão
o céu e os anjos; a luz e a verdade; a caridade e o
amor; a paciência e a humildade; o sorriso e a tranqui
lidade; a alegria e a mansidão; a confiança e o perdão,
em bênçãos de luz.
Fazer aos outros somente o que queremos para nós
é regra áurea do Cristo. É o começo da caridade e, ao
pensarmos nesse caminho, outros preceitos surgirão a
nos preparar para o amor.
Cada qual possui direitos limitados, dentro de deve
res sem limites. Os sábios não se preocupam em au-
38. mentar os limites dos direitnc o
precisão, até onde vão esses limité"1' Pr°CUram’ con'
Peito seja hábito de cada dia. ^ qUe ° rCS’
Todavia, não vos perturbeis com liantes dos deveres.
Procurai ser úteis, a toda hora e toda a vida.
O Evangelho nos chama a tnnW j
ferindo igualdade a todos os esnfritaí ' 6 ,rma°S’ C° "‘
procedência única. t08, cm considerando a
“ » < — * infinita.
«m essência. s o m T L a / " " * " > •
para atingirmos a luz. ’ Cendo uns dos outros
* oJ,az°,tz:zrzrw cres“ ■ «
teus. P Crist0 e anotada por Ma-
voTsUd0facaUm t0' P°''S' t'Uereis « « os homens
éles l M fa2ei° vós ‘« m a• P°rque es‘a é a lei, e os profetas".
— 39 _
39. CONDUTA CRISTÃ
“ Em tudo dai graças, porque esta é a von
tade de Deus em Cristo Jesus para convos-
co".
— Tessalonicenses - Cap. 5 v. 18.
Uma das coisas mais difíceis, nas relações com os
nossos semelhantes, é dar conselhos. Quando o conse
lheiro não segue os preceitos que indica para os outros,
gera uma grande desconfiança no irmão que está ouvin
do, que passa a espreitar a vida que é levada pelo seu
guia espiritual. Essa vida tem que ser reta, obedecer
à conduta indicada, iluminada pela sinceridade. Se as
sim não for, o trabalho ficará perdido.
A palavra é o veículo daquilo que somos; os sons
que articulamos, mesmo interpretados de maneira dife
rente da que sentimos, conduzem fluidos que nunca po
dem ser mudados. Eles levam a mensagem do sentimento
íntimo de quem emite as palavras para o coração dos
ouvintes, fazendo-os sentir a realidade do que pensa
e vive o conselheiro.
O importante é viver, antes de falar, para que a pa
lavra encontre a segurança do coração. O cristão dos
nossos dias não têm desculpas a dar, porque já se pas
saram dois mil anos de fermentação dos preceitos evan
gélicos, no laboratório do raciocínio e no céu do cora
ção. A meditação foi prolongada, para tomarmos boas
diretrizes.
O Cristo nunca pediu sacrifício total, de um dia pa
ra outro. Todavia, não é por causa da misericórdia des
sa tolerância que vamos esquecer de aplicar aquilo que
é do nosso dever : o esforço próprio, todos os dias. Es
perar que o tempo se encarregue disso, e que a natu
reza inconsciente selecione nossos caminhos, não deve
ser pensamento do cristão. Está a cargo da sensibilida-
— 40 —
40. de interna fazer muita coisa, contudo, ela só agirá com
o comando mental, com a decisão tomada pelo espírito,
pois a vontade é tudo nesse campo.
Querendo, andareis; querendo, falareis coisas úteis;
querendo, reconstruireis a vós mesmos. O céu, na ter
ra, depende desse reino em cada alma, e o esforço ó
imprescindível nessa conquista.
Quando encontrardes um irmão que aconselha, vi
vendo, acatai esse amigo, e agradecei a Deus, Já que es
se irmão representa uma dádiva dos céus para a terra,
uma presença mais direta do Senhor, para com os ho
mens.
Falar muito, além do conveniente, tanto esgota o fí
sico de quem fala, quanto desorienta a quem ouve. O
policiamento das conversações pode, e deve, ser feito
constantemente, para que elas construam, edifiquem e
iluminem. O verbo é sagrado, e a nossa vontade ó di
vina; saber usar um e outro, é compreender o chama
mento do Cristo, para a verdadeira vida. Eis as boas
normas : falar pouco, mas sentindo; falar pouco, mas
limpando, como se a palavra fosse água e sabão.
O apóstolo Paulo recomenda a todos a retribuir o
mal com o bem, porque este último tem o poder do
isolar o primeiro. O perdão constitui a segurança para
os ofendidos. "Regozijai-vos sempre, e orai sem ces
sar", preceitua a Boa Nova. O regozijo, em tudo, faz ge
rar em nós a humildade, ao ponto de reconhecermos
que ninguém recebe o que não merece. Orar sempre é
procurar, através da prece, o ambiente espiritual, no
sentido de resistirmos às tentações, afastando-as, com
eficiência, do nosso caminho.
Não julgueis aos outros, porque não conheceis bem
os vossos semelhantes; julgai a vós mesmos, por co
nhecerdes melhor os vossos atos.
Não desprezeis as profecias; elas, como árvores,
ofertam frutos; necessário se fazer bom discernimento
na escolha que fizerdes.
Abster-vos de todo mal é prova de já conhecerdes,
por experiência, sua ação degradante e subversiva.
— 41 —
41. Vivei com o amor, em todos os casos, em todas as
horas, na certeza de que ele vos defende de todo o mal,
preparando-vos para o ingresso no reino dos céus.
Se, por acaso, surgir em vosso caminho variadas
tempestades para vos desviar do Cristo, não vos deis
por vencidos. Mesmo enfermos, mesmo mutilados, mes
mo caindo aos pedaços, mesmo morrendo, procedei co
mo escreve o apóstolo. Escutêmo-lo :
"Em tudo dai graças, porque esta é a von
tade de Deus em Cristo Jesus para con-
vosco” .
— 42 —
42. DAR A VIDA
"Porque muitos dos judeus, por causa dele,
voltavam crendo em Jesus”.
— João - Cap. 12, v. 11.
Narra o Evangelho que, em Betânia, havia um ho
mem, de nome Lázaro, que estava em chagas. Era ir
mão de Maria e Marta, mulheres que criam em Jesus
como enviado de Deus, para salvação dos homens, e
buscavam entender os ensinos evangélicos, em espírito
e verdade.
Certamente, aceitamos que o espírito de Lázaro, an
tes de reencarnar-se, compromissou-se com o mundo es
piritual, de compartilhar com o Cristo, na sua rutilante
missão de difundir a verdade. Serviria ele, Lázaro, como
instrumento para a glória de Deus, nas mãos do Naza-
zeno. Ser-lhe-ia dada essa oportunidade para, ao lado
do Mestre, ser útil ao sustento da fé, perante os que
duvidassem da procedência do Messias prometido pe
los céus.
Assim, a alma de Lázaro, já carregando consigo de
ficiências nos órgãos espirituais, tomou um corpo físi
co, de maneira que, à época marcada, e no devido mo
mento, a carne refletisse a enfermidade planejada no
mundo dos espíritos, para que todos os moradores de
Betânia e adjacências pudessem constatar a doença in
curável pelos terapeutas da época, ficando Lázaro rele
gado ao esquecimento, pelos seus semelhantes. Desa
pareceram os amigos e muitos dos parentes. Somente
Marta e Maria não o abandonaram.
Jesus, conhecendo esse leproso, dedicou-lhe grande
amizade, não só pelos dotes de seu coração, mas também
por estar consciente da função de Lázaro no esquema
das curas a serem efetuadas pelo seu estuante poder
magnético, a esplender o puro amor, como fonte ines
gotável, por todos os lados.
— 43 —
43. Lázaro não sofria por resgate; aceitou aquela tarefa,
por missão. Existem vários tipos de dor, nos diversos
caminhos da terra. A do irmão de Maria e Marta, não
era dívida. Cooperava ele, por aquele meio, com o pla
no esquematizado pelos engenheiros siderais, de ligação
do céu com a terra, por intermédio de Jesus Cristo. O
Mestre não derrogou a lei, curando a Lázaro, dando
saúde a quem não merecia. Jamais faria tai injustiça.
Curava sempre os enfermos que sabia estarem esgo
tando seus carmas, ou então, como no caso de Lázaro,
de sofrimento por missão. Aos que padeciam provas in
dispensáveis aos seus progressos, somente aliviava, di
zendo : “vai, e não peques mais, para que não te acon
teçam coisas piores".
O amor, regulando a lei, oferta ao sofredor a mise
ricórdia do alívio, porquanto a dor, em muitos casos,
representa o verdadeiro remédio para os sofredores, e
somente ela, com seu aguilhão, desperta nos corações
os sentimentos de amor e caridade.
Jesus não deu a vida a Lázaro. Apenas fê-io voltar
à vida terrena, pois quem dá a vida é só Deus. Cristo,
chamando o espírito de Lázaro para retomar o corpo, es
tava, com isso, ressuscitando a fé nos corações e con
vertendo os judeus à sua doutrina de amor e de perdão.
O Mestre tinha milhares de espíritos superiores às suas
órdens, para concretizarem suas vontades, em instantes.
Nada existiu fora da lei, tudo foi planejado antes da
sua vinda à terra, para glória da vida imortal.
Querer julgar o Cristo, com o curto raciocínio que o
homem possui, como diz Guerra Junqueiro, ’ é o mesmo
que querer apagar o Sol, com o apagador de lata de
uma igreja” . E como os principais sacerdotes da época
não podiam operar com a divindade do Mestre, decidi
ram matar Lázaro. Notamos o ciúme do mundo farisál-
co : quando não entendem uma missão divina, como foi
a de Jesus, querem destruí-la.
Assim acontece com a revivência do Evangelho, no
clarão bendito da Doutrina dos Espíritos. Como não foi
entendida, arvoraram-se, com a mesma linguagem fari-
sáica, para destruí-la, e, não o conseguindo, buscam, no
silêncio, deturpá-la.
— 44 —
44. Mas o Deus verdadeiro não precisa receber adver
tências dos homens, nem ter cuidado com os fariseus
modernos. Ele sabe o que faz, tudo vê, tudo prevê, dis
tribuindo pela lei, seu maior agente em toda a criação,
os recursos indispensáveis para a defesa da verdade,
que haverá de fulgurar, cumprindo-se a profecia de que
só ela ficará de pé.
E, permita Deus que apareçam, nas hostes espíritas,
muitos Lázaros, por intermédio dos quais a fé se esten
da, sem limites.
“ Porque muitos dos judeus, por causa dele,
voltavam crendo em Jesus".
45. OURO DO MUNDO
“ Então disse Jesus a seus discípulos : em
verdade vos digo que um rico dificilmente
entrará no reino dos céus” .
— Mateus — Cap. 19, v. 23.
O Messias não disse que era impossível um rico
entrar no reino dos céus. Não iria o Mestre dizer uma
inverdade. As dificuldades são inúmeras, para os ricos
de todas as ordens. Nesse texto, escrito por Mateus,
não encontramos o Evangelho afirmando que o pobre te
ria entrada franca no reino de Deus. Se, dificilmente,
um rico entraria nos céus, as mesmas dificuldades en
contraria um pobre, por ser, tanto quanto o rico, espírito
devedor, sujeito às mesmas leis do Senhor.
Se a riqueza é uma provação, igualmente o é a po
breza, talvez pior. Tudo depende do modo pelo qual re
cebemos, quando no mundo, tanto a pobreza, quanto a
liqueza. São duas forças poderosas, que margeiam o espí
rito na terra e que poderão, ou não, ser bem usadas. Só
o espírito evoluído sabe aproveitar uma e outra, é difí
cil entrar no reino divino um rico avarento, que não sa
be fazer uso de sua fortuna.
Os valores materiais, principalmente nos nossos
tempos, nunca são inúteis pois, de qualquer forma, es
tão em função do bem. Milhares de famílias vivem dos
salários que os bancos pagam aos seus funcionários,
outro tanto das fábricas, e até mesmo o luxo propicia
serviço digno a muita gente.
O ouro é uma energia poderosa, correndo nas veias
da evolução e, sem ele, voltaríamos às cavernas. Sem
dúvida, poderá um operário ter melhor lugar no mundo
espiritual, mas acontece também o contrário; quem
conhece a lei da reencarnação, sabe de sobra, que um
pobre poderá ser mais usurário que um abastado, e tal
- 46 —
46. vez seja isso que o tenha colocado no lugar onde se
encontra. O espírito tem que percorrer todos os caminhos,
que constituem escolas, onde a alma vai aprendendo,
de degrau em degrau, até escalonar o ápice da perfei
ção.
Na falta de grandes empresas, surgidas pela força
do ouro, como disseminaríamos o Evangelho ? Hoje,
com as luzes do progresso, seria ridículo, se não Im
possível, copiar os livros a pena de pato. A inteligên
cia abriu clareiras novas, enriquecendo os meios de,
com a rapidez vertiginosa das máquinas, produzir-se mi
lhares e milhares de livros por minuto. Isso não se faz
sem o ouro, canalizado para as bênçãos do trabalho. O
mundo não teria condições de equilíbrio, se nele vives
sem ricos, e regrediría a humanidade às suas mais
atrasadas origens, se todos fossem pobres.
Ler o Evangelho superficialmente, é o mesmo que
comer um bom pedaço de bolo sem fome. perdendo o
seu verdadeiro sabor. Importa que o conheçamos em
espírito e em verdade, para o nosso próprio bem. A le
tra foi para ontem; hoje. é o espírito que vivifica. Po
bres e ricos devem ser irmãos na grande jornada, sem
um querer ser mais que o outro, já que todos são fi
lhos de Deus.
Às vezes, um rico em que o pobre destila o veneno
da maledicência, foi ontem seu pai, ou mãe, ou filho, ou
irmão; muitas vezes, o pobre que hoje o rico persegue
e despreza foi, em etapas passadas, alguém que muito o
amou.
Todos fazemos parte de uma grande corrente univer
sal, e cada elo precisa do outro. A fraternidade não é
um mito, constitui uma realidade, em todos os ângulos
da criação. Compreendemos, pois, as necessidades da
ajuda de uns para com os outros, pobres e ricos. Avan
cemos, de mãos dadas, em busca da verdadeira felici
dade, que, se não está no dinheiro, também não mora
na pobreza : é um estado de alma, que se chama evo
lução.
Na verdade, muitos espíritos descambaram para os
precipícios inferiores, por mau uso das possibilidades
47. que o ouro lhes conferia; por outro lado, quantos po
bres não foram parar em zonas inferiores, depois do
desencarne, por se revoltar com a miséria temporária
em que se encontravam na terra ? As bem-aventuranças
foram ofertadas para os que sofrem, para os que cho
ram, para os humildes, porque esses já se encontram
às portas do arrependimento. Os ricos que entram nos
céus sem dificuldades são os ricos de virtudes; os po
bres que entram no reino de Deus, são os pobres de
ignorância.
Se Deus confiou aos pobres os serviços mais ru
des, enviou os ricos, em missão de ajudar, nas horas
difíceis. Se o Cristo entregou aos poderosos o campo
direcional dos bens terrenos, espera dos pobres a ajuda
compreensiva, sem a aqual nada será feito. Se não é
fácil, a um rico, entrar no reino de Deus, um pobre,
também, lutará com grandes dificuldades, mas a nenhum
será impossível.
"Então disse Jesus a seus discípulos : Em
verdade vos digo que um rico dificilmente
entrará no reino dos céus” .
48. CURAR OS ENFERMOS
“À vista deste acontecimento, os demais
enfermos da iiha vieram e foram curados".
— Atos - Cap. 28, v. 9.
Nada existe que maior atração exerça sobre a mas
sa humana, que o poder de curar. Esse dom desperta,
em todos, profundo interesse : os que sofrem, querem
ficar livres de seus padecimentos; os sãos, vêem-se mo
tivados pela crença nas coisas misteriosas. Mesmo
aqueles que negam a verdade, já o fazem no Intuito de
combater algo da afirmação que existe dentro de si, nu
ma espécie de revolta, diante da existência de fatos
inexplicáveis.
Nenhum filho espiritual pode negar por muito tempo
a existência do Criador Divino, porque todos fomos fei
tos com o mesmo amor. A semente, se fosse dotada
da razão, revoltar-se-ia, quando lançada no escuro seio
do solo, para sofrer a opressão da natureza da terra, a
fermentar suas entranhas, como se fosse uma intrusa.
No entanto, passados os dias de hospitalização no leito
escabroso do solo, começa uma vida nova para a se.
mente. Pela força das necessidades, ela rompe os pe
sados torrões e vislumbra a claridade, contempla os
céus, respira na terra, e deseja algo mais. Sua ânsia
é de crescer, e a certeza latente da existência de Deus
é tanta, que os galhos, em forma de mãos, esticam-se
para o alto, como em preces ao Criador. E as raízes,
semelhando unhas, agarram-se às profundezas da argila,
sugando desta o alimento vivificante, vencendo a morte
a toda hora, a sonhar com a vida eterna.
O espírito representa uma semente, que os agricul
tores divinos, por ordem da lei, plantam na carne. Por
já ter conquistado a razão, ele intenta estendê-la além
dos limites, tentando ultrapassá-los. Acha que é dotado
de liberdade infinita, e não procura os conhecimentos da
— 49 —
49. lei de Deus; nega sua procedência, procura os caminhos
que lhe apraz, traça os roteiros que acha melhor, pensa
que é de superioridade incomum; revolta-se, quando so
fre, por não entender a dor, mas nunca consegue fazer
o que deseja.
Os obstáculos, as dores, os reveses, as decepções,
amadurecem o espírito. As forças das necessidades
explodem em seu íntimo, fazendo crescer o pendão da
esperança e, aí, retoma a verdadeira vida. Mesmo liga
do à terra, começa a contemplar os céus, a sentir o Se
nhor, a viver feliz. A dor sempre faz parte da evolução
dos reinos, e fará eternamente, mesmo que mude de
feição, de vez em quando. E todos, de quaisquer reli
giões, lutam à procura dos fenômenos de cura, porque
ela eterniza a alma nos princípios do amor. O dever do
enfermo é procurar se curar, trilhando o caminho da
esperança.
Notemos que o Cristo deu início à sua Boa Nova,
curando os doentes. Ainda criancinha de colo, certa
feita, nos braços de um ladrão enfermo, tomba a cabe-
cinha divina, rente à chaga que José procurara tratar e,
como por encanto, faz desaparecer a enfermidade; o do
ente, tomado de alegria, suspende o menino, como se es
tivesse em êxtase, e profetiza : “este é o verdadeiro
Cristo, que o povo de Israel espera, há tanto tempo...
este é o anunciado pelos profetas". E, nunca mais, rou
bou, daquele dia em diante. O menino Jesus curara,
pela primeira vez na terra, duas enfermidades, ao mesmo
tempo: a do corpo e a da alma.
Foi a partir daí que seu nome começou a se espa
lhar por toda a terra, como mensageiro do céu. Tocava
os corpos e esses ficavam curados; tocava, com o ver
bo, as almas, e essas, vivendo seus preceitos, curavam-
se a si mesmas. Seus discípulos seguiram os mesmos
caminhos, notadamente o colégio apostolar. Por onde
passavam, curavam os enfermos, davam vistas aos ce
gos, e faziam voltar almas aos corpos.
A cura é o alicerce da doutrina cristã. A fé se ro-
bustece quando testa um fenômeno de cura e a razão
amplia os conhecimentos sobre a ciência da vida. Não
— 50 —
50. existem materialistas, pois a sabedoria dos homens fez
com que essa convicção negativa desaparecesse, dando
lugar a uma essência de fé, com variadas dimensões.
Todos os homens são adoradores de mistérios que, pa
ra felicidade deles, nunca vão acabar.
Paulo, em caminho, descansa em um sítio, cujo dono
sofria, por ver seu pai enfermo; o apóstolo, ciente da si
tuação, procura o doente, apõe-lhe as mãos e restabele
ce-lhe a saúde. A notícia corre, e todos os que foram
tocados por ele, sairam curados. Não existe mensagem
mais viva que esta, no preparo da alma para ingressar na
escola evangélica.
A Doutrina Espírita, por reviver o Cristianismo, ó
portadora da mesma Boa Nova e tem, em mãos, poderes
para curar toda ordem de doenças. E, para isso, distri
bui os medicamentos para os enfermos do mundo, em
formas variadas, lembrando Jesus ; dá pão a quem tem
fome, veste os nus, visita os encarcerados e cura os en
fermos. Mais ainda : articula o verbo, em todos os tons,
para que os espíritos enfermos sejam despertados para
a cura de todos os seus males. Comparando-se a terra
a uma ilha no centro do cosmo, ouvimos a palavra de
Paulo :
“À vista deste acontecimento, os demais
enfermos da ilha vieram e foram curados”.
— 51 —
51. 0 PRIMEIRO MÁRTIR
"E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram.
As testemunhas deixaram suas vestes aos
pés de um jovem, chamado Saulo".
— Atos - Cap. 7, v. 58.
Estêvão era um jovem varão, filho de um camponês,
que vivia do árduo trabalho do amanho da terra. Tendo
perdido a mulher, restavam-lhe dois filhos, tesouros do
seu melancólico coração. Na casa de Estêvão, todas as
noites, era feito o serão religioso; liam e reliam todos
os textos dos antigos profetas, oravam e meditavam,
comungando com os enviados de Deus, no anúncio das
coisas divinas.
Estêvão, como era um enviado dos céus, compreen
dia com mais perspicácia a verdade contida no livro sa
grado. Não lhe faltava intuição, quando a letra escondia
a revelação divina. Também a irmã aceitava a verdade
de coração aberto. Mas o velho pai, ao contrário, reluta
va, sem assimilar coisa alguma das verdades expostas
no velho testamento. Porém não contradizia, deixando que
os moços enriquecessem as leituras com os seus fáceis
argumentos, nascidos da amplitude do entendimento de
que eram possuidores.
Estêvão demorava-se em meditações acerca da ver
dade e sabia, não só pela leitura dos escritos de Isaías,
mas também por intuição, faculdade que lhe era ineren
te, da vinda de um Messias ao mundo para dar início
à salvação de todo o rebanho. Tinha em mente que, quan
do o Cristo pisasse o áspero chão do planeta, iria res
suscitar os mortos, dar vistas aos cegos e fazer os pa
ralíticos andarem. Mais ainda : iria ser o sábio dos sá
bios; portanto, quando aparecesse alguém com esses po
deres, seria o Cristo, anunciado, há muito tempo, pelos
homens de Deus.
52. Freqüentando sempre a sinagoga, Estêvão teve o es
pírito despertado para defender com grande sabedoria,
um tal Nazareno, chamado por muitos de o Cristo, que
estava prometido. Estevão defende Jesus das acusa
ções farisáicas. E o faz com tal inteligência, com tão
profundas argumentações, que não deixava lugar para
contradições lógicas. O mancebo ganhava, em sabedoria,
dos principais sacerdotes, lia os velhos pergaminhos e
neles baseava suas ricas exposições, dizendo que Jesus
era o enviado de Deus, o prometido do Senhor.
A ignorância, quando não compreende, quando é
vencida com fatos, usa da violência. Isso aconteceu na
época de Estêvão e continua, sem limite de tempo. Os
sacerdotes e a malta venenosa dos contraditores, não
tendo outra saída, senão aceitar as interpretações de
Estêvão, agarraram-no e lançaram-no fora da cidade,
dando cabo do homem que defendia as verdades cristãs.
Sem ter, pessoalmente, se encontrado com o Cristo, foi
o primeiro a ser sacrificado, como semente da grande
árvore do cristianismo.
A fé de Estêvão fê-lo, às portas da morte, vislum
brar o reino de Jesus e o mundo dos anjos. O jovem,
na agonia das últimas horas, contempla a Paulo como
irmão, ensinando-lhe a perdoar. Arrancam-lhe as vestes
e jogam-no aos pés do carrasco, que se chamava Saulo
de Tarso. Desde essa hora, a consciência do doutor
da lei mosáica não teve mais sossego; os fantasmas do
ódio, as sombras da vingança, atormentavam-no, dia e
noite. Tornando-se um andarilho perseguidor, não pára.
indo daqui para ali, como fera faminta de carne humana
e sangue dos cristãos. Um dia, arregimenta uma cara
vana, no intuito de trucidar Ananias, velho servidor de
Cristo, cujo verbo, que sensibilizava os corações, havia
convertido sua amada. Em segundos, no caminho de
Damasco, o terrorista Saulo tornou-se num vaso escolhi
do para glória de Deus, com o nome de Paulo de Tarso,
um dos maiores expoentes das idéias aceitas e pregadas
pela sua vítima.
Meus filhos, todos temos alguma coisa em nós da
fúria de Saulo, da ignorância farisáica, e da ganância ro
mana. E, se hoje somos chamados em pleno deserto da
— 53 —
53. vida, para seguir o Cristo, já não é mais com o sacrifí
cio do corpo na afirmação da fé, mas sacrificando ins
tintos inferiores, e pregando a Boa Nova, com a vida que
deveremos levar.
Eduquemo-nos, de maneira que possamos ser partes
do sol do saber; instruamo-nos, de maneira que possa
mos ser uma fonte de educação.
Não devemos esquecer, pois, que a vida reta é mo
tivo de alegria; e que a alegria cristã é porta para a fe
licidade.
Para chegarmos até à perfeição, os caminhos são
longos e, pelos percursos das jornadas terrenas, vamos
passar muitas e muitas vezes.
"E, lançando-o fora da cidade, o apedreja
ram. As testemunhas deixaram suas vestes
aos pés de um jovem, chamado Saulo".
- 54 —
54. A CORAGEM
"Então Pedro se lembrou da palavra que
Jesus lhe dissera : antes que o galo cante
tu me negarás três vezes. E saindo dali,
chorou amargamente".
— Mateus - Cap. 26, v. 75.
Uma das fraquezas mais terríveis do ser humano,
é o medo. Ele impede que muita coisa seja realizada,
tanto para o bem, como para o mal.
O conjunto de leis funciona, na consciência, como
o próprio Criador. Tanto a coragem pode ser estimulada,
quanto apagada, dependendo do carma de cada espírito;
O medo, tanto pode ser limpo do coração, quanto incen
tivado, dependendo, igualmente, de quem se trata. So
mos em número incontável dentro da criação do Senhor,
obedecendo às mesmas leis e saídos do mesmo princí
pio. No entanto, para cada um, de acordo com o grau já
alcançado, a força disciplinadora age de um modo, razão
por que não podeis reclamar. É a justiça, em relação di
reta com o amor.
Se bem notardes, podereis encontrar uma explica
ção dos fatos, mesmo entre os animais, que apresen
tam diversificações da natureza, tal qual nos homens.
Existem animais medrosos, outros valentes; animais in
teligentes. outros estultos: animais retardados, outros
ativos e, assim, sucessivamente. No gênero humano, é
quase a mesma coisa; a diversidade ainda cresce mais,
dado o campo de evolução ser muito maior.
Tanto o medo, quanto a coragem, podem ser dividi
dos, na casa humana, em duas partes : material e espi
ritual. Há pesoas que dispõem de uma coragem impres
sionante, em relação às coisas do mundo; para brigar,
enfrentar negócios perigosos, viajar por todos os cantos
da terra. Tratando-se da linha de acontecimentos físicos,
— 55 —
55. são campeões. Mas, se olhadas sob o prisma da área
espiritual, são verdadeiras negações. Perdem por com
pleto o entusiasmo de prosseguir, não suportam uma dor
com coragem, não compreendem o ofensor, acovardam-
se diante da dor moral e, às vezes, tiram a própria vida
física, com a impressão de que estão fugindo dos proble
mas extra-materiais.
E vice-versa : há irmãos que chegam ao cúmulo de
ter medo de ir pagar um simples imposto, e esse mesmo
homem enfrenta problemas morais que derrubariam uma
cidade inteira. Animais há, que saltam no cangote de
um touro, abatendo-o, mas correm, espavoridos, ao som
das palmas das mãos de um homem. De vez em quando,
coragem e medo se misturam, e o embaraço da alma
é inexplicável, perdendo-se em labirintos sem igual.
Um dos maiores guerreiros da antiga Roma, cuja fa
ma, por si só, já matava, não dormia sozinho em um
quarto, com medo de fantasma e, quando escurecia, re
colhia-se sem raciocínio, tomado de pavor. Foi o seu
mal, pois quando alguém lhe descobriu essa fraqueza,
com poucos homens encapuçados, alta madrugada, fez
render-se a fera do dia.
Jesus conhecia, como por encanto, as qualidades e
defeitos do ser humano, principalmente dos seus discí
pulos. Para testificar isso, falara a Pedro: “antes que o
galo cante, me negarás três vezes”; O próprio apóstolo
não desconfiava da fraqueza de temer os perseguidores
do Mestre, e negar que era companheiro de Jesus. Pe
dro tinha medo da perseguição, dos processos terríveis
usados pelos fariseus e romanos, contra os que eram
acusados de subversivos. Paulo, pelo contrário, já não
temia Roma nem o mundo, quando se dispôs a servir
ao Cristo.
O problema de como adquirir coragem e aplicá-la da
forma mais útil, foi a grande luta dos espiritualistas de
lodo o mundo. Como colocar a coragem a serviço da
fé, como colocar a coragem a favor da liberdade, como
colocar a coragem para introduzir o amor.
Somente o Cristo trouxe a solução : derrubou Pau
lo no deserto de Damasco, mostrando-lhe a nova dire
ção para sua impetuosa coragem; lembrou a Pedro que
56. ele poderia negá-lo, antes que o galo anunciasse novo
dia, despertando-lhe a consciência para a verdadeira co
ragem; buscou a Ananias em oração, para oferecer amor
a Paulo, mas beber deste, coragem. Madalena tinha
medo de sair do antro de perdição. Cristo injeta-lhe a
coragem de se salvar, pelo amor. Cristo fala a Nicode-
mòs das verdades, sem temor. A qualquer hora da noi
te prepara seus discípulos, divide-os em grupos e man-
da-os pregar o Evangelho, já com preparo de consciên
cia, para usar da coragem na hora certa, e temer-se a
si mesmos, no sentido de conhecer-se bem.
Devemos nos esquivar de falar da vida alheia, mas
ter bastante coragem para combater erros; devemos
temer ofender nossos semelhantes, mas ser intransigen
tes conosco mesmos, no sentido de aprendermos a co
ragem cristã, porque só ela nos colocará no lugar de
vencedores da vida.
Fazei da vosas vida um completo testemunho da fé
que esposais, porque antes que alguém vos pergunte,
já viveis.
"Jesus lhe dissera : antes que o galo cante,
tu me negarás três vezes. E, saindo dali,
chorou amargamente".
— 57 —
57. 0 ESPINHO
“ E, para que não me ensoberbecesse com
a grandeza das revelações, foi-me posto um
espinho na carne, mensageiro de Satanás,
para me esbofetear, a fim de que não me
exaltasse".
— Il Corintios - Cap. 12, v. 7.
Somente da dor nascem as coisas belas, mormente
nos planos em que temporariamente habitamos"
Quando, no mundo, planejamos uma grande cons
trução, não pode faltar a dor, que se manifesta já nos
rudimentos do arcabouço planejado. Tritura-se a pedra,
transformando-a em cimento; tritura-se a pedra, para
que a brita apareça; trabalham as marretas, e a mesma
pedra vem a ser o alicerce que garante o imponente
edifício. A pedra se desfaz, para dar lugar à expressão
bela, que todos contemplarão com felicidade. O ferro,
que vai se confraternizar com o cimento, e a pedra em
pedaços, passou igualmente por temperaturas insuportá
veis, até chegar ao estado desejado, dando sua coope
ração à feitura da casa. A madeira passou por reveses
indescritíveis e, nessa fileira de coisas cooperadoras,
baseia-se o milagre do edifício. A dor foi a luz, a dor
foi o agente, a dor foi a inteligência, que plasmou a
obra e deu um misto de beleza e sabedoria à concret!
zação do trabalho planejado.
Jesus Cristo planejou o maior edifício doutrinário
da terra e, como a casa é de outra ordem, os elementos
usados são diferentes. Lançou mão das pedras huma
nas. Escolheu um punhado de homens que pudessem
servi-lo com dedicação, que pudessem viver as leis anun
ciadas por Ele, como agente direto de Deus. Alicerçou,
com esses homens, a casa de Deus na terra, sem me
do de desmoronamento. Confiava na vitória, porquanto
nunca errara, em planos como esse. Mas não se esque
— 58 —
58. ceu da energia vivificante, a dor, para todos os seus se
guidores. Iniciou com seu próprio testemunho, para
que não viessem a falar : ele não sofreu, e espera de
nós dores insuportáveis.
Foi marcante sua vida no seio da família humana,
dando provas de todos os valores, para que esses fos
sem imitados pelos seguidores do seu manso e humilde
coração. Não houve e não haverá companheiro do Mes
tre sem o espinho na carne, mensageiro das trevas,
aguilhão estuante que, na sua expressão de fantasma,
mata a vaidade e destrói o egoísmo.
Conhecia Jesus, como grande psicólogo, a necessi
dade da dor para o ser humano. Ela ajusta a alma, fa
zendo-a pensar com maturidade. Aprendemos tudo, em
teoria, pelo amor; depois esse amor transforma-se em
dor, gravando em fatos, no recesso do ser, o que já
existia como sonhos. A realidade é essa, e não podere
mos fugir das suas diretrizes.I Aqueles que nos revelam
os nossos defeitos, em muitas ocasiões nos são mais
úteis, pois os amigos são tolerantes, e a vaidade cresce
nesse clima; o orgulho toma proporções indizíveis, que
embrutecem o espírito na jornada.
Todo ser humano é portador de espinhos na carne,
sem os quais não se educaria. As perseguições dos fa
riseus aos cristãos nascentes é que propagaram as
idéias do Cristo; as perseguições à Doutrina dos Espí
ritos, codificada por Allan Kardec, é que a fez espraiar-
se por toda a superfície do globo, vertiginosamente. Se
guardarmos um frasco de essência rara, sem conhecer
mos o conteúdo, logo nos esquecemos e nos desinte
ressamos dele: mas, se quebramos esse frasco e somos
molhados pelo seu líquido, a desprender doces fragân-
cias, sentimos a realidade, e anunciamos suas qualida
des. O espírito representa um perfume no frasco da
carne: quando essa é torturada, desprende ele aromas
dos céus, deixando lembranças inesquecíveis.
Todos temos problemas a resolver e é na opres
são da dor, nas lutas pela vida, entre lágrimas e pro
vas, que a alma adquire forças e valores imortais, com
petindo assim na existência que passa, em busca da
felicidade que a espera.
— 59 —
59. Se tendes problemas, não desespereis, procurai so
lucioná-los com ponderação e discernimento.
Se tiverdes ódio de alguém, não continueis assim,
nem mais um segundo : procurai a solução, perdoando
sem condições.
Se tiverdes muitos espinhos na carne, em variadas
formas, consultai a consciência, que o Cristo falará por
ela o que deveis fazer.
Não queirais fugir da dor, antes de compreender sua
valorosa mensagem. Escutemos o que diz Paulo aos
Coríntios :
“ E, para que não me ensoberbecesse com
a grandeza das revelações, foi-me posto um
espinho na carne, mensageiro de Satanás,
para me esbofetear, a fim de que não me
exaltasse” .
— 60 —
60. COMPREENSÃO
“ Disse-lhe João : Mestre, vimos um homem
que em teu nome expelia demônios, o qual
não nos segue; e nós lhe proibimos, porque
não seguia conosco” .
— Marcos - Cap. 9, v. 38.
Nos bastidores de todas as religiões há uma falta
de compreensão enorme, cada uma quer ser herdeira di
reta das qualidades de Jesus. A ignorância humana faz,
do grande Mestre, um joguete, como se ele fosse orien
tado pelos embotados raciocínios de vários seres dese
quilibrados. Falam de Moisés, que subiu ao monte para
acalmar a fúria do seu Deus e, depois de mais de três
mil anos, querem fazer o mesmo com Jesus. Reúnem
um grupo de homens escorraçados de outras tribos re
ligiosas, traçam planos envernizados pela vaidade e pela
vingança, e afirmam, aos quatro ventos, que têm a chan
cela do Cristo.
Quantas dissidências, meu Deus, já surgiram, por
falta de humildade e compreensão dos novos seguidores
da doutrina cristã? Milhares e milhares... cada uma
apresentando teorias as mais obscuras, nascidas das
discórdias. Mas Jesus já previra isso, dizendo-nos para
termos cuidado com os fariseus, que haveriram de dis
seminar-se como o pó, por todos os quadrantes da es
fera terrestre.
Eis que aí estão eles, a proferir impropérios, a le
vantar seus castelos de certa beleza aparente, mas em
cima da areia. Se vêem outros curando, em nome de
Jesus, falam que é Satanás. Se vêem alguns dando pão
a quem tem fome, anunciam, com todos os poderes que
possuem que, da mesma forma, age o espírito do mal,
para enganar até aos escolhidos que, nesse caso, se
riam eles.
— 61 —
61. Quando surgem explicações dos Evangelhos, suplan
tando as de todas as outras correntes juntas, asseveram,
com eloqüência, que o espírito das trevas faz-se sábio,
veste-se de luz, para que a humanidade se perca. Fe
cham o coração e a inteligência, dizendo que ninguém
se salva pelas obras, nem pelo muito saber, somente
pelo arrependimento, e aceitando a Cristo. Para esses,
vale a palavra de Jesus : “cego que guia cego, ambos
caem no buraco". Esquecem-se. esses irmãos, do Deus
universal, do Cristo cósmico, que opera em toda parte
e por todos os meios.
Todas as religiões são raios do mesmo sol, Deus.
Cada uma com o destino de aquecer em um lugar. Mas
as divisões são trevas nascidas da pura ignorância hu
mana, e talvez sejam necessárias, pois o próprio Cristo
nos revela que é imprescindível o escândalo, mas
acrescenta: “ai daquele que escandalizar". Também di
remos : ai daquele que intentar enfraquecer uma dou
trina planejada nas luzes espirituais. Até hoje, todos
têm caído como frutos imprestáveis.
Quanto aos religiosos, cada um acha que está cer
to. no curto raciocínio que faz das leis de Deus, e, co
mo fizeram os discípulos, querem proibir a quem cura
em nome de Jesus. Ainda dispõem de tempo para ir
contra os que consolam os desesperados. Ainda procu
ram empanar a explicação, em espírito e em verdade,
dos escritos evangélicos. Graças a Deus, nunca conse
guiram, e jamais conseguirão, tal absurdo. Esquecem a
verdade dos espíritos supereriores de que todos, mas
todos aqueles que tiverem como princípio o bem comum,
se fgndirão em um só saber, em uma só religião, em
uma só ciência, porque adquiriram, por experiência com
Jesus, a grande virtude denominada COMPREENSÃO.
Se alguém está fazendo o bem, em nome de Je
sus, no catolicismo, não repilais, porquanto é também
seu discípulo. Se, porventura, alguns estimulam a cari
dade, em nome do Cristo, com a Bíblia nas mãos, não
repudieis, pois esses, igualmente, procuram ao Senhor.
Se procurardes servir, sem recompensa, a todos,
com compreensão, em torno do Mestre, eles, os outros
— 62 —
62. seguidores do Nazareno, não vos impedirão, porque não
houve, da parte de Jesus, nenhum impedimento, quando
alguém, que ele não conhecia, operava em seu nome.
Esforcemo-nos, para nunca fazer como procederam
os discípulos, neste versículo :
Disse-lhe João : “ Mestre, vimos um ho
mem que em teu nome expelia demônios, o
qual não nos segue; e nós Iho proibimos»
porque não seguia conosco".
— 63 —
63. COMO ANUNCIAR JESUS
"Teve Paulo durante a noite uma visão em
que o Senhor lhe disse : Não temas; pelo
contrário, fala e não te cales” .
— Atos - Cap. 18, v. 9.
Anunciar Jesus Cristo através da palavra, não cons
titui dificuldade. Talvez seja até uma fonte de bem es
tar, se não de vaidade, para aqueles que têm o dom de
falar bem, de atrair as massas com a força do verbo,
profundamente eivado do magnetismo de várias nature
zas.
Torna-se. no entanto, um método de grande alcance,
quando a palavra procede de um coração em estado de
vivência com as coisas de Deus. Ouem vive e anuncia
coisas de natureza elevada, não dá lugar para orgulho e
vaidade. Era dessa forma que Paulo falava; de outra
forma não conseguiría arrebatar as multidões, como fa
zia. O apóstolo de Tarso deu o mais importante teste
munho, não só da natureza do Cristo como mensageiro
de Deus, como espírito de alta envergadura espiritual,
como também da sua comunicação espiritual, depois da
morte.
Paulo era contra as idéias cristãs, ao extremo de
tirar as vidas dos seguidores das novas idéias. Doutor
da lei, com posição firmada nas sinagogas, como iria
abandonar tudo isso, renunciar à vida de fausto que le
vava, para recolher-se a um deserto, faminto, humilde,
engrossando as mãos no trabalho árduo de cada dia, por
amor a uma causa ? Sem ela existir ? Seria loucura pro
ceder dessa forma, mas os fatos comprovam que Paulo
estava em pleno exercício das suas faculdades, com
alto discernimento. A conversão de Paulo às idéias re
novadoras é a prova mais elevada do valor do Evangelho
e de que Jesus realmente era o Cristo que havia de vir,
anunciado pelos profetas do velho testamento.
—G4—
65. VIGILÂNCIA
“ Mas, vós, irmãos, não estais em trevas,
para que esse dia como ladrão vos apanhe
de surpresa".
— I Tessalonicenses - Cap. 5, v. 4.
Se o homem fosse espírito puro, não estaria reen-
carnado na terra, sofrendo as duras conseqüências deste
plano. A evolução é uma lei criada por Deus, e é con
templando os horizontes da terra que os espíritos se
tornam conscientes da necessidade das lutas que devem
empreender, para se libertar do pesado fardo da ignorân
cia em que se encontram.
Viver no mundo, é lutar e sofrer. Desde os primei
ros instantes em que ingressa pelas portas da reencar-
nação, o espírito carrega consigo a bagagem das expe
riências e das necessidades, e se vê ante as lutas in
dispensáveis que vai enfrentar, com o dragão dos seus
instintos inferiores. A consciência representa o general
implacável que não dá tréguas, dirigindo a guerra íntima,
única capaz de levar à vitória, abrindo novos prismas
para a alma erguer-se para Deus.
Para o combate, a primeira arma necessária é a vi
gilância. Quem não aprendeu a vigiar, continua caindo
nas armadilhas dos lobos. E como o Evangelho diz que
só lobos caem em armadilha de lobos, os que não con
seguem vigiar, continuam a ser lobos. Eis um jogo di
fícil de ser assimilado : nunca seremos eternamente lo
bos. Nos primeiros anos de escola, as crianças apren
dem apenas os rudimentos do saber. Com a idade, elas
vão crescendo também no tamanho dos conhecimentos.
O espírito não foge a essa regra; as primeiras en
carnações servem para ambientá-lo com as roupas físi
cas, que não conhecia. Com as trocas incessantes,
quantas forem necessárias, vai assimilando os princípios
— 66 —
66. da verdade, com maior interesse e, notadamente, com
mais amor. A natureza material não dá saltos, muito
menos a espiritual: a evolução é gradativa, mas perfeita:
demorada, mas permanente: sofre reveses variados, mas
vence a necessidade e encontra a plenitude da paz.
Paulo escreve aos tessalonicenses, argumentando
sobre a necessidade da vigilância, não somente como de
fesa dos valores daqueles espíritos, como também por
que chegara a hora desse exercício para aquelas almas,
já maduras para Cristo. Vigiar, constitui a primeira defesa
da alma, na batalha consigo mesma : policiar suas mais
caras experiências, que a consciência selecionou, con
tra as investidas do mal, que deturpa: da ignorância,
cia que desestimula; da sombra, que entristece.
O exercício do pensamento poderá ser uma lavoura
de conhecimentos inesgotáveis e, deste manejo individual,
tiraremos lições valiosas, porque a razão constitui pro
fessor insubstituível, no templo do coração.
Por incrível que pareça, não conseguimos fazer na
da disso sozinhos, alguém coopera conosco e Deus com
todos. Prestemos um pouco de atenção às coisas da
terra, e daremos maior valor à vigilância. Se não fosse a
vigilância da casca da fruta, não teríamos seu conteú
do; se não fosse a vigilância das grossas cascas das
árvores, nunca teríamos os frutos; se não fosse a vigi
lância do ar, que circunda a terra, não haveria vida.
Os raios do Sol, portadores de elementos indispensáveis
às existências físicas, sem a vigilância, que regula, po
dem queimar e produzir a morte. Por esses prismas,
podereis tirar inúmeros outros, para ilustração mais
ampla.
Assim também ocorre com as almas. A vigilância é
imprescindível nas lutas empreendidas em busca do Se
nhor. Comecemos a vigiar nossos pensamentos, que não
devem ser deformados pelo verbo, pois no campo em
que estais, na carne, a palavra, conforme sua estrutura,
pode servir de escândalo, e a vigilância tem o poder de
silenciar o pensamento nascido no fermento do mal. Com
esse exercício, os sentimentos tomarão outros rumos,
e a alma entrará na era dos pensamentos puros, frutos
da vigilância com Jesus, ensinada pelo Evangelho.
G7 -•
67. A vigilância é a força que constrói ,nas aimas, as
boas tendências. Deveis vigiar no pensar, no falar, e no
viver, para que não sejais apanhados, de surpresa, pelo
ladrão da maledicência.
“ Mas vós, irmãos, não estais em trevas,
para que esse dia como ladrão vos apanhe
de surpresa” .
— 68 —
68. PARA CURAR OS ENFERMOS
"Pedro, porém, lhe disse : Não possuo nem
prata nem ouro, mos o que tenho, isso te
dou; em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
levanta-te e anda !”
— Atos - Cap. 3, v. 6.
Enfermidades sempre existiram no mundo, algumas
desafiando os poderes curativos das plantas, sem contu
do, desmoralizar a ciência. Os homens do saber conhe
cem casos em que intervieram poderes maiores que a
ação terapêutica conhecida. A solução ainda vibra em
outros campos, não atingidos pelas pesquisas dos espe
cialistas.
A dor se constitui num fenômeno não explicado pe
la medicina, dentro dos seus objetivos. Mas o futuro
nos dará resposta às nossas indagações, explicando a
missão da dor no corpo humano. Quase todos os gênios
do mundo acreditam em Deus. Porém, perguntam-se;
porque Ele deixa a dor instalar hospitais, abrir indús
trias de medicamentos, e apodrecer homens, seus fi
lhos, nas sargetas ? Se cremos nele, só poderemos acei
tá-lo como mais sábio que os sábios, mais gênio que
os gênios, mais justiceiro que a justiça, mais verdade
que as verdades, mais amor que os amores. Não sente,
no entanto, as misérias dos homens ? Por que será que
Deus recorre a esses paliativos, de remédios para re
mediar, de consolos para consolar ? Com a inteligência
de que é dotado, não poderá acabar com as enfermida
des e com as tristezas? Certo que sim.
A ciência do mundo é, por natureza, fria e descon
fiada, por não ter encontrado ainda a resposta a essas
interrogações, em razão de seu desinteresse pela ciên
cia divina que, certamente, lhe permitiría conhecer o
porque da dor, os objetivos do desequilíbrio humano, e
as lições aprendidas pelos espíritos, com o aguilhão na
— 69 —