Ponto de equilíbrio: revista aborda transtornos mentais
1.
2. 2 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Poesia Salvador
DIÁRIO DA REGIÃO
Amanhecer
Hernandes 15 Hamilton Pavam
Levanta a cortina dos teus olhos
Contempla a maravilha do amanhecer
A vida é uma criança,
esperta, bonita, inteligente
Passa correndo, é preciso ver
Editor-chefe Acredita, enquanto há tempo:
Fabrício Carareto
fabricio.carareto@diarioweb.com.br não existe dor sem alento
Editora-executiva
nem tristeza tão longe da alegria
Rita Magalhães quando a luz de cada dia,
rita.magalhaes@diarioweb.com.br
acende a vida,
Coordenação
Ligia Ottoboni
iluminando o amanhecer
ligia.ottoboni@diarioweb.com.br Não vacila, toma posse
Editor de Bem-Estar e TV da imensa alegria de viver.
Igor Galante Ivone Boechat Instrutor de ioga e meditação estreia
igor.galante@diarioweb.com.br no time de colunistas da revista com
Editora de Turismo um artigo sobre a importância de
Cecília Demian reconhecer seus próprios valores
cecilia.demian@diarioweb.com.br
Editor de Arte
Editorial
César A. Belisário
Televisão
18
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Pesquisa de fotos
Mara Lúcia de Sousa
Diagramação
Cristiane Magalhães
Ponto de Luiza Dantas/Divulgação
Tratamento de Imagens
Luciana Nardelli
Matérias:
Agência Estado
Agência O Globo
equilíbrio
TV Press A revista Bem-Estar nasceu e se mantém firme no propósito de,
todo domingo, oferecer a seus leitores reportagens que os
auxiliem a ter qualidade de vida. Quando falamos de saúde, por
exemplo, o foco não fica preso só à doença, mas à busca por
soluções, ao que está ao alcance da medicina e dentro de nós
mesmos para, uma vez acometidos por um problema,
reencontrarmos nosso ponto de equilíbrio. E essa postura não é
nem poderia ser diferente na edição especial deste domingo, que
aborda um adversário que vem ganhando força em nossa Aos 45 anos, Claudia Raia mostra
sociedade moderna: os transtornos psíquicos. Ansiedade, vitalidade ao conciliar a vilã Lívia de
depressão, compulsão, síndrome do pânico, entre outras doenças “Salve Jorge” com o musical “Cabaret”
de origem emocional têm suas causas, sintomas, semelhanças e
diferenciações trazidas à tona, junto com a palavra de
Turismo
especialistas de várias áreas sobre o que é preciso fazer para
controlar ou vencer tais transtornos.
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Agência O Globo/Divulgação
Pensamentos
“Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao
sabor das ondas e, longe de se conduzirem, deixam-se levar pelos primeiros.”
Sêneca
“Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais
nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência,
que é o mais amargo.”
Confúcio
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real No Equador, vale a pena conhecer
tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.” as cidades de Quito, Otavalo e
Platão Guayaquil, beleza puramente andina
3. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 3
Doenças psíquicas
SAÚDE
EMOCIONAL O número de pessoas vítimas de transtornos
psiquiátricos no mundo preocupa. É preciso agir
Gisele Bortoleto Apesar dos números, a Associação ção especial com alguns dos principais
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Brasileira de Psiquiatria garante que transtornos encontrados nas socieda-
não há no país políticas públicas satisfa- des modernas. Estudos indicam que
Duas em cada dez pessoas em todo tórias em saúde mental. Para o primeiro- pessoas que nascem e crescem em cen-
o mundo tem ou já teve algum transtor- secretário da entidade, Luiz Carlos Illa- tros urbanos são mais propensas a
no mental e o Brasil não foge à regra. font Coronel, a política de saúde mental transtornos mentais. Se há 60 anos me-
Dados do Ministério da Saúde mos- brasileira carece de três coisas: reconhecer nos de uma terça parte da população
tram que 3% dos brasileiros sofrem as doenças psiquiátricas; saber das necessi- mundial vivia em cidades, hoje mais
com transtornos mentais severos e per- dades da população com o mapeamento da metade mora em centros urbanos e
sistentes e mais de 6% da população das doenças mais comuns, e considerar as até 2050 a estimativa é de mais de
têm transtornos psiquiátricos graves de- peculiaridades de cada idade. 70%. “Com o aumento da população
correntes do uso de álcool e drogas. Chamadas comumente de distúr- urbana, o número de distúrbios psíqui-
Também de acordo com o órgão, 12% bios, disfunções, transtornos ou pertur- cos também tem aumentado em todo o
da população necessitam de algum aten- bações, muitas das doenças psicológi- mundo”, alerta o diretor do Instituto
dimento em saúde mental. Em todo o cas conhecidas são atribuídas ao estilo Central de Saúde Mental de Man-
mundo, mais de 400 milhões de pes- de vida, cultura e sociedade em que a nhein, na Alemanha, Andreas Meyer-
soas são afetadas por distúrbios men- pessoa vive. Depressão e ansiedade são Lindenberg.
tais ou comportamentais. Os proble- exemplos de doenças psicológicas co- A boa notícia é que, segundo espe-
mas de saúde mentais ocupam cinco muns nos dias atuais na nossa socieda- cialistas ouvidos pela Bem-Estar, mui-
posições no ranking das dez princi- de. Mas existem outras e podem afetar tos desses distúrbios têm cura, e ou-
pais causas de incapacidade, de acor- pessoas próximas a nós mais do que tros, se respeitados os tratamentos, per-
do com a Organização Mundial da imaginamos. mitem ao paciente viver com qualidade
Saúde (OMS). A Revista Bem-Estar traz uma edi- de vida. I
4. 4 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
Entenda o transtorno bipolar, que
NA DIREÇÃO pode levar a vítima da euforia
extrema à tristeza absoluta
DOS EXTREMOS Gisele Bortoleto lar na família apresentarão este nidas suas causas de forma defini-
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
mesmo quadro. tiva. Trata-se de um distúrbio
A terapêutica é feita com a as- mental, em que os sintomas mais
Até alguns atrás as pessoas sociação de remédios específicos proeminentes são os que dizem
Fotos: www.sxc.hu/Divulgação
costumam se referir a ela como para o tratamento psiquiátrico e respeito à alteração do humor e
psicose maníaco-depressiva, mas psicoterapia. “Idealmente se de- dos sentimentos (afeto), ou seja:
hoje os médicos dizem apenas trans- veria juntar também a terapia ou há rebaixamento do humor,
torno bipolar. O humor das pessoas ocupacional, mas isso se dá quase com sintomas de tristeza, senti-
que sofrem dele se altera entre dois exclusivamente em contextos mentos de culpa, isolamento, sen-
polos, o da euforia extrema à triste- hospitalares, o que se deve à es- timentos de impotência (é o polo
za absoluta. Daí o nome. “Trata- trutura da atenção à saúde em ge- da depressão) ou, então, uma ele-
se de uma doença mental crônica ral e da mental em particular. Os vação do humor, manifestado
que se caracteriza pela centros de atenção psicossociais por alegria exagerada e inexplicá-
alternância do humor (ora acon- (CAPS) também têm condição vel, sentimento de superpoderes,
tecendo episódios de depressão, de oferecer terapia ocupacional, megalomania, atos compulsivos
ora de euforia), com períodos de mas não são, ainda, em número (não refletidos) que levam a com-
normalidade”, diz o médico psiquia- suficiente para toda a demanda”, portamento de exagero como
tra Altino Bessa Marques Filho. complementa o médico. compras desnecessárias, prodiga-
A estimativa é que o índice de As melhores evoluções, nas lidade (doa aos outros o que pu-
incidência do transtorno seja de primeiras crises, podem durar se- der) ausência de ideia do perigo,
5% da população mundial e exis- manas, mas devido ao preconceito etc (é o polo maníaco)”, explica o
te o risco de suicídio em ambas contra a medicação e contra os psi- psiquiatra Wilson Daher.
as fases: da depressão e da fase quiatras e psicólogos o tratamento Geralmente começa na adoles-
maníaca, segundo o psiquiatra é logo abandonado, o que favorece cência, o que não é uma regra ab-
Wilson Daher. recaídas, dentro do próprio ciclo e soluta, e hoje se sabe que fatores
A boa notícia é que a doen- recorrências (depois que o porta- estressantes podem desencadear
ça pode sim ser controlada, as- dor se recupera). os sintomas. Evitar esses fatores
sim como o portador pode ter Em média, há nove ciclos ou estressantes, portanto, é uma for-
qualidade de vida e viver nor- episódios durante a vida. Trata- ma de prevenir o surgimento dos
malmente como no caso da mentos feitos pela metade, ressal- sintomas.
maioria das enfermidades fí- ta Altino Marques, facilitam o “A família deve observar al-
sicas conhecidas como dia- agravamento a cada recorrência, terações de comportamento, se-
betes e hipertensão, desde aumentando o período da doen- ja no nível depressivo, seja no
que faça a adesão adequada ça e diminuindo o espaço normal maníaco, para que haja inter-
aos tratamentos. entre as crises ou fases. “A recupe- venção médica o mais cedo pos-
Mas o que causa afinal es- ração da fase aguda varia de sema- sível”, complementa Daher. O
sa doença? Todos nós pode- nas a meses, mas o retorno ao fun- tratamento básico é medicamen-
mos ser acometidos pelo cionamento social e profissional pa- toso, já que não se trata de doen-
transtorno? “Os sintomas são ra o estágio anterior da crise pode le- ça psicológica, mas sim um dis-
decorrentes de modificações var semestres. Daí a importância túrbio mental. “A psicoterapia,
no funcionamento cerebral, da psicoterapia e da terapia ocupa- no entanto, para os pacientes fo-
mas as causas específicas ainda cional. A internação consegue uma ra de crise, é um valioso instru-
são desconhecidas”, explica Mar- estabilização mais rápida do que o mento para o reforço psicológi-
ques Filho. As evidências de pes- tratamento ambulatorial, mas a gra- co no enfrentamento da realida-
quisa têm mostrado a importância vidade do quadro completo tem de de”, complementa.
de fatores genéticos, havendo levar em conta a possível necessida- No entanto, Daher lembra
maior incidência da doença entre de de hospitalização”, explica. que está havendo uma
familiares de portadores. Isso não “Transtorno bipolar é chama- supervalorização do diagnóstico
significa que todos que tenham do de transtorno e não doença, de bipolar. “Comportamentos bi-
um histórico de transtorno bipo- justamente por ainda não ter defi- zarros e estranhos todos nós os te-
5. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 5
mos vez por outra, que podem até ser
vistos como comportamento bipolar,
mas nunca como um transtorno
doentio”, explica.
“Toda situação de infelicidade
não resolvida ou mal resolvida pela
pessoa, com o passar do tempo, vai se
transformar num transtorno emocio-
nal. Existem vários tipos de transtor-
nos, entre eles o do humor, que é
quando surgem situações que alte-
ram o humor da pessoa, mas ela não
consegue ou não se permite agir com
espontaneidade”, diz o psiquiatra
Ururahy Barroso.
Os efeitos que ocorrem junto às
emoções e aos comportamentos são
apenas para sinalizar que, lá den-
tro, no inconsciente, existem fato-
res geradores de infelicidade pa-
ra ser transformados em fatores
gerados de felicidade, ressalta
Barroso.
Nos transtornos, provoca-
mos alterações de neurotrans-
missores. Com a prática da fe-
licidade, mantemos um pa-
drão razoável desses neuro-
transmissores, facultando a
estabilidade emocional e a
prevenção de qualquer trans-
torno. “Todo transtorno tem
uma causa emocional. Trans-
tornos repetidos sem tratamen-
to acabam desencadeando crises,
mesmo sem situações-gatilho. Por is-
so, cuidar das emoções é até mais im-
portante do que cuidar do físico, pois
saúde nem sempre gera felicidade, mas
felicidade sempre gera saúde.”
Sintomas
Alternância de episódios depressivos, Autoestima bastante prejudicada, sentindo-se
episódios maníacos (ou eufóricos) e períodos inútil, culpando-se por fatos atuais ou passados
de normalidade
Desesperança, com pensamentos que se
O episódio depressivo promove alterações de repetem em torno de morte ou de suicídio. Vale
apetite e peso, geralmente para menos, mas lembrar que alguns pacientes podem apresentar
pode ser para mais delírios e alucinações, com o agravamento do
quadro depressivo
O padrão de sono se modifica para insônia de
conciliação, intermediária ou de final de período, No episódio maníaco ou eufórico, o mesmo
quase sempre resultando em sono não reparador, enfermo que se apresentou com os sintomas
o portador sentindo-se cansado depois de uma acima pode acelerar o pensamento e sua conduta,
noite mal dormida falando rapidamente, mudando de assunto
frequentemente
Inquietude, que pode evoluir para agitação
Inquietude que também pode desaguar
Lentidão nos pensamentos e nas atitudes,
alternada com inquietude, ou não na agitação
Na maior parte do tempo, diminuição da Afetivamente, o portador oscila entre a
energia, vivenciada como um cansaço euforia e a irritabilidade, principalmente quando se
desproporcional ao que se faz, ou sentida até na discorda do que diz ou do que faz
inatividade A autoestima aumenta tanto que suas ideias de
Insegurança, com dificuldade para a tomada grandeza podem virar delírio; também aqui a
de decisões severidade do quadro pode chegar à alucinação I
Impossibilidade de se concentrar Fonte: Altino Bessa Marques Filho
6. 6 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
Mecanismo
desregulado
A ansiedade, usada no passado como instinto de sobrevivência,
hoje desencadeia uma série de comportamentos nocivos.
Descubra a vida além do medo e da apreensão
Gisele Bortoleto ma coisa. Isso é fundamentado tinuará respondendo a uma sen- Kátia, a ansiedade é uma das siosamente diante das ameaças
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
no instinto de preservação da sação de perigo, mesmo que ela principais queixas dos pacien- da vida moderna, como a com-
vida que todos nós temos. “Se não exista. E é aí exatamente tes. Ela pode se manifestar em petitividade social, a seguran-
Vivemos na era da ansieda- você já fugiu de uma vaca no sí- que começa o problema. Psico- três níveis: neuroendócrino, ça, a competência profissional,
de, com nossa psique se adap- tio de seu avô ou pulou um mu- logicamente, a ansiedade pode visceral e de consciência. O ní- a sobrevivência econômica, as
tando a esse estilo de vida mo- ro alto para escapar de um ca- monopolizar as atividades psí- vel neuroendócrino diz respei- perspectivas futuras e muitas
derno agitado, competitivo e chorro bravo, entende perfeita- quicas e comprometer desde a to aos efeitos da adrenalina, no- outras reais ou imaginárias,
voltado para o consumismo mente o mecanismo de prote- atenção e memória até a inter- radrenalina, glucagon, hormô- que contribuem para que o ho-
sem medidas. Este modelo nos ção que o medo desencadeia”, pretação fiel da realidade. nio antidiurético e cortisol. No mem moderno sinta sua sobre-
convida o tempo todo a mani- diz o psicólogo cognitivo-com- Se considerarmos a necessi- plano visceral, a ansiedade cor- vivência ameaçada constante-
festar ansiedade: prazos para portamental Alexandre Caprio. dade fisiológica de nos adaptar- re por conta do Sistema Nervo- mente. A diferença é que nos-
cumprir, metas para atingir, A sensação de alerta dispara o mos às diversas circunstâncias so Autônomo (SNA), que reage sos ancestrais tinham ameaças
horários, compromissos. “Se coração, que bombeia o sangue por meio da ansiedade, falamos excitando o organismo na rea- concretas e, hoje, as ameaças vi-
descuidarmos, corremos o ris- rapidamente para o corpo todo, em ansiedade normal. Por ou- ção de alarme (sistema simpáti- vem, dormem e acordam den-
co de viver nesse estado cons- oxigenando a musculatura que tro lado, falamos também da an- co) ou relaxando (sistema va- tro de cada um de nós.
tante, como se o momento pre- será usada na fuga. A adrenali- siedade patológica como uma gal) na fase de esgotamento. A ansiedade aparece em nos-
sente não existisse”, diz a psi- na aumenta a força e o reflexo, forma de resposta inadequada, Até certo ponto, a ansieda- sa vida como um sentimento
cóloga Kátia Ricardi de nos dando a agilidade que não em intensidade e duração a soli- de é adaptativa e favorável. Pas- de apreensão, uma sensação de
Abreu, especialista em análise teríamos em situação de descan- citações de adaptação. Um de- sado um limite, ela começa a que algo está para acontecer.
transacional. so. Isso pode acontecer em terminado estímulo (interno contribuir para a falência dessa Ela representa um contínuo es-
A ansiedade nasce do mau questão de segundos e, se não ou externo) funcionando como capacidade. Nossos ancestrais tado de alerta e uma constante
funcionamento de um mecanis- fosse por esse mecanismo fan- uma convocação de alarme con- utilizavam a ansiedade e o es- pressa em terminar as coisas
mo importantíssimo para a pre- tástico, nossa espécie não teria tinuamente, por exemplo, pode tresse como mecanismo de so- que ainda nem começamos. É
servação da vida, que levou mi- chegado até onde chegou. favorecer o surgimento da an- brevivência, ressalta Kátia. aquela sensação que tira a pes-
lhares de anos para evoluir. To- Mas esse mecanismo pode siedade patológica. O homem moderno conser- soa do momento presente. Bas-
dos nós sentimos medo de algu- ficar desregulado. O corpo con- No consultório, explica vou esta natureza, reagindo an- ta que o cérebro dê a ordem e to-
7. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 7
Saiba mais
COMO SE MANIFESTA
Por meio da consciência das sensações fisiológicas de
sudorese, palpitação, inquietação e outros sintomas
autossômicos (do sistema nervoso autônomo)
Por meio da consciência de estar nervoso ou amedrontado
SINTOMAS
Cardiovasculares: palpitações, sudorese ou opressão no peito
Gastrointestinais: náuseas, vômito, diarreia ou vazio no
estômago
Mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular
exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia
Sintomas do transtorno
de ansiedade generalizada
Inquietação Tensão muscular
Fadiga Perturbação do sono
Dificuldade em se concentrar Fonte: Kátia Ricardi de Abreu,
psicóloga
Irritabilidade
dos os sintomas indicando que de abstração seletiva e é co- zada por psicólogos e médicos, A terapia cognitivo-compor- aprendamos a dissociar os
o corpo está preparado para o mum em pessoas com transtor- é possível determinar a intensi- tamental é um tratamento efi- transtornos de nossa personali-
perigo estarão lá. no de ansiedade. dade do transtorno de ansieda- caz no combate ao transtorno dade. É normal ouvir alguém
Mas e se a sensação de peri- “O transtorno de ansiedade de. “Em graus mais leves, a psi- de ansiedade. Alguns ataques dizer que é ansioso”, diz Ca-
go for permanente? Se uma pes- tem vários subtipos. Abrange coterapia pode reverter o qua- de pânico podem ser regredi- prio. Ansiedade é um transtor-
soa aprende, por exemplo, que desde uma fobia social ou espe- dro sem o uso de medicamen- dos e até anulados com poucas no, não uma característica da
o mundo é perigoso, ressalta cífica até transtorno obsessivo tos”, lembra o psicólogo. A par- sessões. Essa linha da psicolo- identidade. Embora algumas
pessoas tenham ansiedade
Caprio, poderá ficar em estado compulsivo (TOC), ataques de tir do grau moderado, a psicote- gia enfoca o trabalho conjunto desde a infância, ela não po-
de alerta por uma grande parte pânico e agorafobia”, comple- rapia deve ser realizada em par- entre terapeuta e paciente, que de e nem deve ser rotulada co-
do dia. Tudo depende das cren- menta Caprio. Todos eles de- ceria com um médico, para que levantam informações sobre as mo parte de nossa estrutura
ças que o indivíduo formará ao correm do mesmo padrão: a se- seja possível uma intervenção características do transtorno e mental. Uma pessoa não deve
longo da vida por meio da leção e memorização de infor- medicamentosa. É importante identificam os principais pensa- dizer que é ansiosa. Ela tem
aprendizagem, educação e am- mações negativas que susten- frisar que apenas o uso de remé- mentos negativos que desenca- ansiedade, e pode se livrar de-
biente que frequenta. tem as crenças e temores do pa- dios como os ansiolíticos não deiam a apreensão e o medo. Es- la. Aquilo não é ela, é algo
Além do fator genético, ciente, e o desprezo ou descarte modifica o conjunto de crenças ses pensamentos são então con- que tem que ser dissociado pa-
pais podem transmitir seus me- de informações positivas que que desencadeiam o transtor- frontados e testados. O terapeu- ra ser combatido.
dos para a criança no processo permitam uma visão neutra da no. Eles alteram quimicamente ta o ajuda a testar e reformular Esse é o primeiro passo pa-
de formação e educação. Atra- situação. Em resumo, a pessoa os sintomas, mas não eliminam essa crença verificando situa- ra compreender e lidar com es-
vés do discurso que ocorre den- está sempre com medo de algu- a origem. Por isso, o paciente ções em que ele tenha tido su- se transtorno, que já tem sido
considerado uma epidemia de
tro de casa, um filho poderá ma coisa ou situação. Se uma pode acabar se tornando depen- cesso ao longo de sua vida.
proporções globais, assim co-
aprender a selecionar e memori- pessoa tem, por exemplo, fobia dente da substância. Os ansio- Com uma visão mais clara so- mo a depressão. O segundo, cla-
zar informações negativas ou em dirigir, poderá evitar essa si- líticos mais comuns são os ben- bre si mesmo e a realidade apre- ro, é buscar a ajuda de um bom
imaginar e calcular riscos com tuação, comprometendo suas zodiazepínicos e diversos estu- sentada, passa a ter mais habili- profissional para perceber que
intensidade muito maior do atividades sociais, profissio- dos e bulas registram a depen- dades para lidar com as diferen- a vida tem muito mais a nos
que a situação realmente exige. nais e até familiares. dência física e emocional da tes situações que surgem. acrescentar além de medo e
Esse erro cognitivo é chamado Por meio de avaliação reali- medicação. “É muito importante que apreensão. I
8. 8 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
Alívio traiçoeiro
O prazer é imediato, mas rapidamente se esgota, daí vem o sentimento de culpa e a
necessidade de repetir o processo. Saiba o que são comportamentos compulsivos
Gisele Bortoleto ciais, mas que depois provoca sentimen- por não ter resistido ao impulso de rea-
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br to de culpa e mal-estar. lizá-lo”, complementa. Mesmo as-
“Já está demonstrado que existe sim, a gratificação inicial (o reforço
Embora muita gente pense que no nosso cérebro um circuito de re- positivo) permanece mais forte, le-
os comportamentos compulsivos es- compensa, na verdade uma estrutura vando à repetição.
tejam apenas associados a drogas co- bastante rudimentar que, de alguma Normalmente, os comportamen-
forma, está presente também nos ou- tos compulsivos precisam de trata-
mo álcool, fumo, maconha ou cocaí-
na, a compulsão não está relacionada tros animais, por exemplo, nos ratos, Compulsões mento quando têm como
exclusivamente com o uso de subs-
tâncias químicas. Ela pode estar liga-
e que vai mediar nossa relação com si-
tuações de prazer, como fazer sexo, ir são hábitos consequência prejuízos significati-
vos à vida da pessoa ou ao seu entor-
da a outras situações que provocam
prazer. Você certamente conhece pes-
às compras, comer uma comida gos-
tosa ou encontrar uma pessoa queri-
seguidos por no sócio-familiar.
“As compulsões são comporta-
soas que compram compulsivamen-
te, estouram o limite do cartão de cré-
da que não víamos há muito tempo”,
diz Malbergier. Sabe-se também
gratificação mentos que surgem para o alívio de
uma ansiedade. Um sentimento mui-
dito, do cheque especial e a conta no
banco, ficam horas em frente do com-
que, dependendo do grau de prazer
que determinada situação gera, esse
emocional, to forte que surge em situações espe-
cíficas ou generalizadas (qualquer lugar
putador e se esquecem de comer, de
falar com os amigos, de prestar aten-
circuito é estimulado em diferentes
níveis. Certos comportamentos e al-
um alívio de oumotivo).Oindivíduo senteanecessida-
de de emitir um comportamento que tem-
ção nos filhos. Esses comportamen- gumas substâncias conseguem fazê-
lo de uma maneira que dificilmente
ansiedade porariamente alivia esse sentimento, que,
por ser muito doloroso emocionalmente,
tos, tanto quanto os relacionados
com o uso de drogas, podem adquirir seria possível ocorrer na vida cotidia-
na, ressalta. É muito difícil dimensio-
ou angústia deveserafastado”,dizapsicoterapeutacog-
nitivo-comportamental Ana Cristina Pen-
características patológicas, de certa
forma, incontroláveis. nar o grau de prazer experimentado Geraldo Ballone, psiquiatra teadoLopes.Poralgumtipodepareamen-
Não há uma causa bem estabelecida pelos dependentes se o compararmos to do comportamento com um pouco de
para a ocorrência de comportamentos com o de uma pessoa comum. “Tal- alívio de ansiedade, essa pessoa inicia a re-
compulsivos. Pode-se falar em vulnera- vez seja isso que, depois de algum petição. Toda vez que sentir-se ameaçada
bilidades e predisposições, seja de ele- tempo, os faça declarar que nada tos compulsivos ou aditivos, são hábi- poressesentimento.Comoessecomporta-
mentos familiares, tais como os hábitos mais lhes traz prazer além do sexo, tos aprendidos e seguidos por algu- mento não resolve o motivo pelo qual essa
consequentes à extrema insegurança e da cocaína ou das compras, por exem- ma gratificação emocional, normal- ansiedadecomeçou,anecessidadederepe-
aprendidos no seio familiar, seja por ra- plo”, complementa. mente um alívio de ansiedade ou an- ti-lo torna-se maior com o passar do tem-
zões individuais e relacionados às Existe ainda, segundo o médico, gústia”, diz o psiquiatra Geraldo po. Os transtornos ansiosos surgem de um
vivências do passado e ao dinamismo uma alteração no cérebro ligada à libera- Ballone, professor do Departamento evento onde a pessoa sentiu-se impotente
psicológico pessoal, seja por razões bio- ção de um neurotransmissor chamado de Neuropsiquiatria da Faculdade diante da situação, incapaz de resolver
lógicas, de acordo com o funcionamen- dopamina, que é responsável pela sensa- de Medicina da PUC de Campinas. ou sair dela.
to orgânico e mental. ção de prazer. Ele faz com que a pessoa, Diz-se que esses comportamen- O tratamento deve ser médico e
O médico André Malbergier, pro- ao entrar em contato com determinado tos compulsivos são mal adaptativos, psicoterápico. “O tratamento psico-
fessor do Departamento de Psiquia- comportamento ou substância, associe porque, apesar do objetivo de propor- terápico consiste na identificação do
tria na Faculdade de Medicina da tal estímulo ao prazer e bem-estar que es- cionar algum alívio de tensões emo- problema, onde, como, quando apare-
Universidade de São Paulo (Uni- tá sentindo e que foi provocado pela cionais, normalmente não se adap- ce e desde quando. O psicólogo es-
fesp) e coordenador do Grupo Inter- maior liberação desse neurotransmissor. tam ao bem-estar mental pleno, ao tudará todas as circunstâncias em
disciplinar de Estudos de Álcool e No entanto, quando se repete muito tal conforto físico e à adaptação social, que o problema aparece, e a histó-
Drogas (Grea), explica no site www. comportamento ou o uso da droga, a diz o médico. ria de vida do cliente. Inicia-se a
drauziovarella.com.br que o compor- ação da dopamina se esgota, se esvazia ra- Eles se caracterizam por ser repetiti- conduta levando o próprio cliente
tamento compulsivo se caracteriza por pidamente, a pessoa se sente mal e preci- vos e se apresentarem de forma frequen- a fazer essa identificação e fortale-
uma pressão interna que, em determina- sa repetir com mais frequência o estímu- te e excessiva. “A gratificação que segue cer a capacidade de enfrentamen-
das situações, faz com que a pessoa se lo externo para manter minimamente os ao ato, seja ela o prazer ou alívio do des- to”, diz Ana Cristina. É possível
sinta impelida, tomada por desejo mui- níveis de dopamina no sistema cerebral prazer, reforça a pessoa a repeti-lo, mas, tratar sem o uso da medicação,
to forte de realizar uma ação que gera de recompensa. com o tempo, depois desse alívio ime- mas isso deve ser analisado indivi-
prazer, principalmente nos estágios ini- “As compulsões, comportamen- diato, segue-se uma sensação negativa dualmente. I
9. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 9
Doenças psíquicas
Medo ‘fora de hora’
Pensamentos negativos, estresse e ansiedade podem ‘estourar’ na forma
de síndrome do pânico, caracterizada por crises inesperadas de desespero
Gisele Bortoleto nas fases iniciais, o ideal é a
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Fuja das crises combinação das terapêuticas
farmacológicas com prescri-
Sintomas
É mais ou menos assim: de Reconheça que sensações de ansiedade são ções médicas, feitas por psiquia- Se você exibe pelo menos
repente os olhos embaçam, vo- desagradáveis, mas não perigosas tras e psicoterapia cognitivo- quatro dos 14 sintomas
cê fica tonto, não consegue res- comportamental, recomenda abaixo, em quatro
Aprenda e domine técnicas de relaxamento muscular e Mara Lúcia. ocasiões diferentes por
pirar e começa a se sentir fora
controle do estresse “O transtorno do pânico é quatro semanas, procure
da realidade, apavorado, sem sa-
ber o que está acontecendo e Em vez de evitar ou fugir de situações que causam uma vivência catastrófica que auxílio médico. A
nem onde isso vai parar. As per- ansiedade, continue agindo, apesar de ansioso. A aceitação pode se agravar tanto ao ponto suspeita de síndrome
da ansiedade e permanência no local a farão desaparecer de limitar a vida da pessoa aco- do pânico é real
nas começam a tremer, o cora-
ção fica disparado, começa a metida. É um quadro de ansie- 1 - Palpitações ou
Não seja espectador da ansiedade, mantenha o foco na dade aguda, que corresponde a
transpirar. Aí não consegue se tarefa que estiver realizando em vez de concentrar a atenção taquicardia
concentrar em mais nada, a um medo patológico exacerba-
nos sintomas de ansiedade
ponto de não querer mais sair do desencadeado de modo au- 2 - Tremores ou
de casa, nem para trabalhar, Fonte: Mara Lúcia Madureira, psicóloga tomático – tipo ‘alarme fal- abalos
muito menos para se divertir. so’, sem nenhum estímulo
3 - Sufoco,
Existe sempre o temor de que ameaçador real”, explica o
desconforto, torácico ou
todas essas situações voltem a médico e psicoterapeuta An-
dor torácica
acontecer. súbito diante de intensa preocu- nismo, seus humores, senti- tonio Pedreira, professor da
O que é isso, afinal? Trans- pação ou sensação de medo ou ter- mentos e comportamentos são Universidade Federal da 4 - Asfixia ou dispneia
torno do pânico. Nome que a ror. Os sintomas que ocorrem du- influenciados pelo modo como Bahia (UFBA), conferencista
internacional e autor de li- 5 - Sudorese
maioria conhece por síndrome rante um ataque de pânico são as a pessoa pensa, avalia, interpre-
do pânico, uma enfermidade mesmas respostas corporais que ta e assimila suas experiências. vros como “A Hora e a Vez 6 - Tontura, sensação
da Competência Emocional” de fraqueza ou
que se caracteriza por crises ab- ocorrem naturalmente quando se Em termos comportamen-
(ed. Casa da Qualidade). Os instabilidade
solutamente inesperadas de me- é confrontado com situações de tais, a ansiedade pode compro-
sintomas podem aparecer co-
do e desespero. A pessoa tem a emergência ou potencialmente fa- meter o desempenho, especial- 7 - Náuseas ou
mo um mal-estar enorme, me-
impressão que vai morrer na- tais, ressalta. Tais respostas corpo- mente de atividades que exi- desconforto abdominal
do pavoroso, terror, sensação
quele instante de ataque cardía- rais preparam o organismo para jam concentração e habilidade, de morte iminente, coração
co, por exemplo. reagir e lidar com a emergência, como ler, realizar uma tarefa di- 8 - Engasgos
disparado - como se fosse
Quem padece desse trans- fugindo ou tomando alguma ou- fícil, um discurso. “Quanto “sair pela boca” -, abafamen- 9 - Despersonalização
torno sofre durante as crises e tra atitude. mais negativo o pensamento e to e asfixia como se o ar fosse ou desrealização
ainda mais nos intervalos entre “Transtornos de ansiedade interpretações errôneas, mais faltar de vez, acompanhado
uma e outra, porque não tem a envolvem fatores fisiológicos, intensos os sintomas de ansie- pelo medo, sensação vertigi- 10 - Rubores ou ondas
menor ideia de quando vai cognitivos e comportamen- dade. Estabelece-se um ciclo vi- nosa, formigamento e tremo- de calor ou calafrios
ocorrer novamente. A insegu- tais”, explica Mara Lúcia. O as- cioso, no qual sensações físicas res incontroláveis. “O trata- 11 - Medo de perder o
rança se torna tão grande que a pecto fisiológico inclui aumen- aumentam a probabilidade de mento é feito após avaliação controle e agir
qualidade de vida do paciente to do fluxo sanguíneo para as nova excitação física, mais pen- diagnóstica mediante histórico descontroladamente
fica seriamente comprometida. extremidades (mãos, pés) e di- samento negativo e maiores ní- clínico: o paciente será subme-
“É um transtorno de ansie- minuição para a cabeça e para veis da ansiedade”, explica. tido a exames físicos e comple- 12 - Medo de perder
dade bastante comum, que aco- os órgãos internos. Intensifica- O tratamento psicológico mentares que permitam o diag- a consciência
mete 10% da população adulta, ção do ritmo cardíaco e respira- implica no treinamento da ca- nóstico diferencial para afastar 13 - Medo de
responsável por um grande nú- tório, digestão lenta, dificulda- pacidade de distorcer ou modi- problemas cardíacos, neurológi- enlouquecer ou fazer
mero de consultas médicas, es- de para respirar, formigamento ficar tais cognições, interpreta- cos, etc”, complementa. algo insano
pecialmente a cardiologistas”, de pés e mãos. Tais sintomas ções ou autoafirmações e me- É importante que o médico in-
explica a psicóloga cognitivo- não são perigosos, mas podem lhorar a capacidade de lidar forme ao paciente que suas sensa- 14 - Medo de
comportamental Mara Lúcia ser desagradáveis e angustian- com o estresse, a ansiedade e ções não são algo imaginário de morrer I
Madureira. tes para a pessoa. outras experiências ou situa- loucura, mas uma doença que
Os ataques de pânico po- O aspecto cognitivo corres- ções desagradáveis. não mata, mas incomoda demais, Fonte: Antonio Pedreira,
dem ser considerados uma res- ponde a pensamentos, crenças Este tratamento pode ser fei- e que limita sua realidade de vi- psicoterapeuta
posta automática, com início pessoais, expectativas. O orga- to sem medicamentos, porém, da. Contudo, tem cura.
10. 10 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
DA AVERSÃO À
COMPULSÃO
POR COMIDA
Baixa autoestima e distorção da
autoimagem estão entre os fatores ligados
à anorexia e bulimia, os dois mais
graves transtornos alimentares. Saiba
como reencontrar-se com seu eu
verdadeiro diante do espelho
Gisele Bortoleto
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
A preocupação exagerada com o peso corpo-
ral, causada muitas vezes pela recomendação
médica de que não há vantagens em acumu-
lar gordura, pelo contrário, de que devemos
ser magros, e a pressão social do padrão de be-
leza em modelos bonitos e magros têm causa-
do problemas para muita gente. A quantida-
de de pessoas que lutam para perder peso, fa-
zer dietas e tomar remédios não para de
crescer. Essa preocupação exagerada
pode provocar distúrbios psiquiátri-
cos graves, cada vez mais frequentes,
ligados à distorção da autoimagem.
A pessoa se olha no espelho e vê
uma figura obesa que não corres-
ponde à realidade. Não nota a perda
de gordura, nem os ossos proeminentes.
Iludida por essa falsa imagem, imagina-
se com excesso de peso e diminui obses-
sivamente a comida, até que, num dado
momento, não consegue mais comer. Co-
mo consequência, pode desenvolver proble-
mas graves de saúde que chegam, às vezes, a
ser fatais.
Anorexia e bulimia nervosa são os mais co-
muns dos transtornos alimentares resultan-
tes dessa preocupação exagerada com o peso
11. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 11
Anorexia
PRINCIPAIS SINTOMAS irregular, escassa ou, em
FÍSICOS casos graves, para de vez
Comer muito pouco PRINCIPAIS SINTOMAS
PSICOLÓGICOS Bulimia
Perda drástica de peso Tendência ao isolamento PRINCIPAIS SINTOMAS Fadiga
Sensação de peso no FÍSICOS
Tristeza Pele ressecada
estomago ao comer Comer vorazmente e às
Depressão escondidas grande
Tonturas Desmaios
Angústia quantidade de comida
PRINCIPAIS SINTOMAS
Fadiga Vômitos provocados PSICOLÓGICOS
Apatia
Desmaios Sangramento do esôfago Comportamento
Desânimo
Palidez obsessivo compulsivo
Irritabilidade Inflamações na garganta
Pele seca Ansiedade
Alteração e instabilidade Desidratação
de humor Depressão
Queda de cabelo Cáries
Ansiedade Irritabilidade
Falta de cálcio nos ossos Problemas
e nos dentes Diminuição ou falta da gastrointestinais
Alteração e instabilidade
libido, com disfunção erétil
Problemas intestinais nos homens Constipação de humor
Menstruação fica Tendências suicidas Menstruação fica Tendência ao isolamento
irregular, escassa ou, em
casos graves, para de vez Fonte: Mariah Bressani, psicóloga
corporal. São transtornos que se ma- senta episódios de compulsão perió- amor a quem estamos alimentando. e que, assim, ele será mais aceito social-
nifestam principalmente em mulhe- dica de comida, ou seja, de ingestão Assistimos a todo o tempo indiví- mente”, complementa Gisele.
res jovens, embora sua incidência es- descontrolada de comida em um cur- duos utilizando-se da alimentação para O primeiro passo é buscar ajuda es-
teja aumentando também entre ho- to espaço de tempo, sem necessaria- preencher espaços vazios em sua vida. pecializada. O tratamento é realizado
mens. Não é tão raro os pacientes mente sentir forme. Isso é seguido Quem não tem uma amiga, um amigo por uma equipe formada por psicólogo,
anoréxicos chegarem a um grau ex- de um sentimento de culpa e medo que já não se empanturrou de chocolate psiquiatra e nutricionista. Mas não é
tremo de desnutrição e o índice de de engordar, e posterior tentativa de ou de qualquer outra guloseima por es- simples.
mortalidade chega a atingir 15% a eliminação do excesso que foi ingeri- tar chateado, triste, principalmente “Anorexia é uma disfunção classifi-
20% dos casos, segundo o Ministério do, através de vômito autoinduzido. após uma briga de amor? Agora imagi- cada pela Organização Mundial da Saú-
da Saúde. Ambos são transtornos Nos dois transtornos alimentares, nemos essa situação ampliada. Encon- de como transtorno da conduta alimen-
que necessitam de tratamento médi- há também o fato de usar laxantes ou tramos alguém que não consegue elabo- tar ou como transtorno mental e do
co e psicológico. diuréticos, além de moderadores de rar e expressar suas emoções, trocando comportamento. É uma doença psiquiá-
As causas que geram a anorexia, apetite. essa atitude por comer compulsivamen- trica”, diz a psicóloga Mariah Bressani,
como também a bulimia, são múltiplas, “A bulimia nervosa e a anorexia te, por exemplo. psicoterapeuta e master coach. É consi-
como por exemplo componente sociais, nervosa são os mais conhecidos dos Desde o nascimento até a vida adul- derada uma doença porque a pessoa tem
devido à pressão social que tem a magre- transtornos alimentares, existindo ta, em quase todas as sociedades huma- um desejo patológico de se manter ma-
za como ideal de beleza, fatores genéti- ainda o transtorno do comer compul- nas o aprendizado alimentar é organiza- gra e tem um medo intenso (também pa-
cos e fatores psicológicos, como baixa sivo. A alimentação, nesses casos, do segundo complexas normas que defi- tológico) de engordar. A pessoa que tem
autoestima, autovalor equivocado e au- torna-se uma válvula de escape para nem o que pode e o que não pode ser co- anorexia tem práticas como alimentar-
toimagem distorcida. as mais variadas dificuldades emocio- mido. Estas práticas estão diretamente se com o mínimo possível de comida,
Tanto uma quanto a outra podem nais”, explica a psicóloga especialista relacionadas aos mitos e crenças religio- faz exercícios físicos à exaustão, utiliza-
acometer pessoas extremamente per- clínica Sirley Santos Bittu, psicodrama- sas, influenciando o comportamento do se de medicamentos inibidores de apeti-
feccionistas e autoexigentes. “A ano- tista didata e supervisora pela Federa- indivíduo e sua aceitação social. Desta te, laxantes e diuréticos sem orientação
rexia e a bulimia não são transtornos ção Brasileira de Psicodrama. O ato de forma, a comida relaciona-se à questão médica e, em casos extremos, provoca o
recentes, no entanto, a cultura da comer, diz ela, está relacionado a uma do poder e do controle sobre si e muitas próprio vômito.
busca por um corpo ideal, que acon- necessidade física e a uma necessidade vezes sobre os outros. Normalmente, a doença é desenca-
teceu a partir do século 20, fez com emocional. Quando nos alimentamos, “A autoavaliação desses pacientes deada na adolescência, quando a pessoa
que aumentasse muito a recorrência somamos o prazer oral da alimentação à sempre se dá com referências à forma fí- a começa se preocupar com seu corpo,
das mesmas”, diz a psicóloga Gisele necessidade do organismo de sais mine- sica e ao peso. Devido à distorção da se é bonito ou atraente.
Lelis Vilela. rais, proteínas, carboidratos, enfim, a to- imagem corporal, torna-se bastante A bulimia também é uma disfunção
Na bulimia, o paciente muitas ve- da fonte de energia que precisamos para complicado o paciente conseguir admi- classificada pela OMS como transtorno
zes está no peso ou um pouco acima, pensar, agir e amar. Trata-se também tir que está doente, que apresenta um da conduta alimentar ou como transtor-
mas apresenta também uma de uma necessidade emocional, porque problema. Até porque, muitas vezes, ele no mental e do comportamento. E é
distorção da imagem corporal. Apre- implica em oferecer atenção, cuidado e acredita que quanto mais magro melhor também uma doença psiquiátrica. I
12. 12 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
VAI ALÉM DA
TRISTEZA Baixa autoestima, apatia e perda do prazer
estão entre os sintomas que caracterizam a
depressão, uma das doenças emocionais
mais comuns do mundo moderno
Gisele Bortoleto o psicólogo Josinel Braga Carmona. Se- física, estresse, etc. Este segundo grupo é
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
gundo a OMS, é mais comum entre mu- o mais frequente.
lheres do que entre homens. Os primei-
Dados da Organização Mundial de ros sintomas costumam surgir entre 20 e Tristeza x depressão
Saúde (OMS) mostram que a depressão é 50 anos, mas também entre crianças e
uma doença que atinge mais de 100 mi- adolescentes. Neste estado, a pessoa tem Hoje em dia, diz Carmona, existe
lhões de pessoas em todo o mundo. E es- um aumento da sensibilidade para senti- uma tendência de se aceitar um caminho
tes números desafiam a ciência, uma vez mentos desagradáveis e negativos, poden- bem mais abrangente para se definir as
que as causas são confundidas com ou- do variar de leve até uma apatia extrema. causas da depressão. Essa doença tem
tras patologias. Por ser uma síndrome, os “Sente uma profunda tristeza, acompa- uma origem biopsicossocial. Biológica,
aparentes sintomas podem ser confundi- nhada de uma lentidão e inibição dos pro- psicológica e social. Independente da cau-
dos com outras doenças. cessos psíquicos, lentidão físico-motora, sa, os sintomas depressivos são muito va-
A depressão se origina quando há linguagem lenta e empobrecida e senti- riados e até mesmo particulares, ou seja,
uma alteração na comunicação entre as mentos de inutilidade e baixa autoesti- cada indivíduo tem manifestações dife-
células cerebrais, mais especificamente ma, com uma perda do interesse pela vi- rentes da doença e seus sintomas por in-
um desequilíbrio físico-químico dos neu- da, onde tudo parece perder a cor e o sen- fluência de sua personalidade. Mas, de
rotransmissores (serotonina e noradrena- tido”, complementa Carmona. forma geral, três sintomas são comuns a
lina). Isso pode acontecer quando a pes- De maneira geral, são reconhecidas todos: autoestima baixa, apatia e desinte-
soa tem uma disposição ao desenvolvi- duas importantes causas para a depres- resse e perda do prazer.
mento da doença em sua carga genética são: endógena e exógena. Na depressão “É comum confundir tristeza com de-
ou quando, tendo ou não disposição, leva de origem endógena, as causas estão liga- pressão. Para diferenciar a doença do sen-
um estilo de vida com alto nível de estres- das a fatores intrínsecos da pessoa, fato- timento, é preciso levar em consideração
se, doses elevadas de preocupação, triste- res constitutivos e genéticos (hereditá- duas questões: o tempo e a gravidade dos
za, culpa ou traumas que podem desenca- rios), ressalta o psicólogo. As causas são sintomas”, diz o psicólogo Rodrigo
dear o processo. Nesses casos, um trata- biológicas e não existe relação entre os Mansil. Se você levou um fora, foi de-
mento clínico com medicamentos e uma sintomas depressivos e vivências exter- mitido ou está enfrentando o luto
terapia geralmente surtem efeito. nas causadoras que possam ter contribuí- pela morte de alguém próximo,
É uma síndrome que se revela pelo es- do para desencadear a doença depressiva. provavelmente está enfrentan-
tado de humor deprimido. A pessoa fica O depressivo endógeno, desde criança, do uma profunda triste-
angustiada, desanimada, sente-se sem pode apresentar sinais de um humor e za, ou seja, uma depres-
energia, focada em tristeza profunda e, afetividade diferentes. Uma crise depres- são reativa - considera-
no final, se comporta com tédio e indife- siva pode se manifestar já na infância e da necessária e até po-
rença. Quando os sentimentos são mui- ou adolescência. Quando a etiologia é sitiva, porque faz di-
tos e confusos, o indivíduo pode ter a im- exógena, ou seja, a depressão se manifes- gerir acontecimen-
pressão de que não tem sentimentos, apá- ta como consequência de fatores exter- tos ruins e reor-
tico a tudo e a todos. nos à pessoa, estão ligados a traumas, per- ganizar os
“De forma geral, trata-se de um esta- das significativas, luto, crises relacionais, sentimen-
do patológico orgânico e psicológico que conflitos existenciais, dificuldades de au-
se manifesta por um abatimento moral, toestima e aceitação pessoal, dificuldades
desânimo, inércia e letargia, não rara- sociais, escolares ou de trabalho, doença
mente acompanhado de ansiedade”, diz
13. DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 / 13
Sintomas
As atividades normais do dia a social, os delírios místicos podem
dia passam a não ter mais aparecer, levando-o até a uma
importância e a pessoa passa a mudança de pensamento e atitude
encarar até as tarefas mais simples POSSÍVEIS CAUSAS
como se fossem um grande
esforço. A vida perde o encanto e o Disposição genética ao
indivíduo se desinteressa por tudo desenvolvimento da doença
Familiares, amigos, diversão, Estilo de vida com elevado
estresse, doses elevadas de
hobbies, sexualidade deixam de ter
preocupação, tristeza, culpa e
importância; a insônia e a falta de traumas recorrentes
apetite se mostram evidentes já na
primeira fase da doença Nos dois casos existe
tratamento clínico, medicamentoso
A pessoa deprimida prefere com relativo sucesso e uma boa
ficar isolada, num lugar onde possa expectativa de cura se
ficar só. Assim, a doença interfere acompanhado de terapia
no trabalho, na vida pessoal e comportamental e energética
tos depois de algum tempo. “Mas é bem conseguem ultrapassar uma crise de-
diferente da depressão doença. Quando pressiva leve envolvendo-se com ativi-
essa tristeza se alonga demais, pode se tra- dades lúdicas e psicoterapia, sem fazer
tar de uma patologia. Esse problema muda uso de medicamentos.
o funcionamento do nosso cérebro e o cor- Outras pessoas, que deveriam fazer
po reduz drasticamente a produção de subs- uso de medicamentos, resistem em iniciar
tâncias responsáveis pelas sensações de pra- o tratamento, orientadas por preconceitos
zer e bem-estar”, complementa. e desconhecimento, sofrendo e prolongan-
“É fundamental um diagnóstico cor- do grandes desconfortos pessoais, afeti-
reto. Existem diversos e diferentes tipos de vos, de humor e sociais. A psicologia e a
tratamentos e abordagens terapêuticas para psiquiatria associadas devem ser buscadas
ajudar a pessoa deprimida”, explica Carmo- tanto para o diagnóstico quanto para o tra-
na. De fato, o que não deve acontecer de ma- tamento dos transtornos depressivos.
neira alguma é a pessoa deprimida ficar Os resultados e as respostas ao tratamen-
sem tratamento e acompanhamento es- to aparecem logo nas primeiras semanas
pecializado. Abordagens medicamen- após seu início. Mais uma vez a particulari-
tosas, alopáticas e homeopáticas, psi- dade dos sintomas, sua intensidade e a per-
coterapia e atividade física podem sonalidade do deprimido vão ser determi-
ser associadas com grande ganho nantes quanto à evolução terapêutica. A re-
para o indivíduo. Existem ain- cuperação da qualidade de vida é crescente e
da outras abordagens, como após os primeiros meses de tratamento. A
massagens, acupuntura, medi- medicação, quando necessária, reequilibra
tação, atividades laborais e ar- quimicamente as substâncias e algumas fun-
tísticas, o exercício da fé. “In- ções cerebrais envolvidas na depressão. A
sisto na importância do diag- psicoterapia ajuda o indivíduo a entender e
nóstico e no tratamento, que organizar seu universo afetivo, ideacional,
deve ser acompanhado e relacional e existencial. “Acredito muito na
muitas vezes supervisiona- importância de atividades físicas na recupe-
do pela família. O paciente ração não só do deprimido, como também
deve ser sempre muito bem de muitas outras doenças”, diz Carmona.
informado a respeito dos medi- A psicóloga Silvana Parreira de Jesus
camentos, seus efeitos terapêu- ressalta que o tempo para que os resultados
ticos e colaterais e o tempo de do tratamento apareçam depende também
tratamento”, complementa. da disposição da pessoa em provocar e reali-
O uso de remédios ou não zar as mudanças necessárias. “Com o uso
vai depender da natureza e in- de medicamento e mais terapia, em quatro
tensidade dos sintomas de- a seis meses já é possível ver melhoras no
pressivos. Muitas pessoas paciente”, diz. I
14. 14 / São José do Rio Preto, 11 de novembro de 2012 DIÁRIO DA REGIÃO
Doenças psíquicas
PERIGOSO
DELÍRIO
Vítimas de esquizofrenia
sentem-se perseguidas e
respondem ao comando de
“vozes” que só elas escutam
Gisele Bortoleto ções caracterizam-se por uma percepção
Gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Sintomas de acordo com o que ocorre independentemente de um estí-
mulo externo. Por exemplo: o doente escu-
Esquizofrenia é uma psicose severa
que se caracteriza pela perda do contato
tipo de esquizofrenia ta vozes, em geral as vozes dos perseguido-
res, que dão ordens e comentam o que ele
com a realidade. A pessoa pode ficar fe- faz. São vozes imperativas que podem levá-
chada em si mesma, com o olhar perdi- PARANOIDES constante de agitação, não se mexer lo ao suicídio, mandando que pule de um
do, indiferente a tudo o que se passa ou apresentar níveis de atividade prédio ou de uma ponte.
Geralmente, sentem ansiedade, baixos. Os músculos e a postura
ao redor ou, os exemplos mais clássi- Delírio e alucinações são sintomas pro-
ficam furiosos ou briguentos com mais podem ser rígidos. Eles podem fazer
cos, ter alucinações e delírios. “A es- dutivos que respondem mais rapidamente
frequência e acreditam falsamente que caretas ou apresentar outras
quizofrenia é uma doença única, mas ao tratamento. No outro extremo, estão os
pessoas estão tentando fazer mal a expressões faciais estranhas, e reagir
com diferentes tipos de sintomas”, diz eles ou a seus entes queridos
sintomas negativos da doença, mais resis-
menos a outras pessoas tentes ao tratamento, e que se caracterizam
o psiquiatra Fábio Borg, do Departa-
mento de Psiquiatria e Psicologia Mé- DESORGANIZADOS INDIFERENCIADOS por diminuição dos impulsos e da vontade
dica da Faculdade de Medicina de Rio e por achatamento afetivo. Há a perda da
Apresentam dificuldade para Podem apresentar sintomas de capacidade de entrar em ressonância com
Preto (Famerp). raciocinar e expressar suas ideias mais de um tipo de esquizofrenia
O portador ouve vozes que ninguém o ambiente, de sentir alegria ou tristeza
claramente, geralmente apresentam
mais escuta e imagina estar sendo vítima RESIDUAIS condizentes com a situação externa.
comportamento infantil e com
de um complô tramado com o propósito “A esquizofrenia se instala em pessoas
frequência demonstram pouca emoção Apresentam alguns sintomas, mas
de destruí-lo. Não há argumento nem bom jovens. O pico da instalação se dá, no ho-
CATATÔNICOS não tanto quanto as pessoas que estão mem, por volta dos 25 anos de idade. A mu-
senso que o convença do contrário. A esti- em um episódio completo de lher parece estar um pouco mais protegi-
mativa é de que incide em 1% da popula- Podem estar em um estado esquizofrenia da. Nela a doença ocorre mais tarde, por
ção e ocorre em todas as etnias e culturas, e
volta dos 29 a 30 anos. A incidência, po-
estudos indicam que se manifesta igual- rém, é igual nos dois sexos. A proporção é
mente em todas as classes de um homem para cada mulher com a
alteram o equilíbrio das substâncias quí- colocados em sanatórios para loucos, por-
socioeconômicas e nos países ricos e po- doença”, diz Gattaz.
micas do cérebro e podem ajudar a con- que pouco se sabia a respeito da doença.
bres. Isso reforça a ideia de que a esquizo- A família do portador de esquizofrenia
frenia é uma doença própria da condição trolar os sintomas da doença. “O uso de No entanto, nas últimas décadas, houve
medicamentos é obrigatório, mas o grande avanço no estudo e tratamento da deve estar atenta aos primeiros sinais de
humana e independe de fatores externos. mudança de comportamento fora do nor-
Em cada 100 mil habitantes, surgem de 30 acompanhamento multiprofissional esquizofrenia, que, quanto mais precoce-
por uma equipe com psiquiatra, psicólo- mente for tratada, menos danos trará aos mal, como delírios, alucinações ou fora do
a 50 casos novos por ano. padrão normal, recomenda a psiquiatra Sil-
Manifesta-se por episódios agudos de go, enfermeiro, terapeuta ocupacional, doentes”, explica o psiquiatra Wagner Gat-
além de um profissional da área de edu- taz, professor de psiquiatria no Instituto vanita Yacubian. Comportamentos como
psicose que podem incluir alucinações, esses podem surgir mais ou menos de re-
delírios e diversos sintomas crônicos re- cação física ou um fisioterapeuta facili- de Psiquiatria da Universidade de São Pau-
tam a adesão ao tratamento e a lo, no site www.drauziovarella.com.br. pente ou por mudança de comportamento
sultantes de problemas emocionais, in- que vai se tornando aguda.
telectuais e psicomotores. As causas des- reinserção social”, explica Borg. O nível Segundo o médico, são dois tipos de
A base do tratamento é a medicação e a
sa doença complexa ainda são controver- de melhora depende da agilidade na sintomas: os produtivos e os negativos. Os partir dessa é feita a inserção dele no con-
sas, mas ela é considerada, pelo menos identificação da doença e do tratamento produtivos são, basicamente, os delírios e texto social e laborativo “O portador, se to-
parcialmente, hereditária. As pessoas precoce e também da adesão do pacien- as alucinações. O delírio se caracteriza por mar os remédios podem melhorar e a
com qualquer tipo de esquizofrenia po- te ao tratamento. Muitos o abandonam uma visão distorcida da realidade. O mais ressocialização é grande”, explica.
dem ter dificuldade de manter suas ami- no caminho e surgem novas crises. “Mas comum, na esquizofrenia, é o delírio A velocidade com que os pacien-
zades e de trabalhar. Elas também po- quando o paciente segue o tratamento, ele persecutório. O indivíduo acredita que es- tes de transtornos psiquiátricos têm
dem apresentar problemas relacionados tem uma melhora e passa a ter uma vida tá sendo perseguido e observado por pes- procurado ajuda hoje é bem maior
à ansiedade, depressão e pensamentos praticamente normal”, diz. O controle pre- soas que tramam alguma coisa contra ele. do que no passado, segundo Silvani-
ou comportamentos suicidas. Os medi- coce da doença é importante para que se- Imagina, por exemplo, que instalaram câ- ta, graças a uma maior divulgação, e
camentos antipsicóticos são o tratamen- jam evitados danos cerebrais. meras de vídeo em sua casa para descobrir isso tem sido importante para o su-
to mais eficaz para a esquizofrenia. Eles “Antigamente, esses indivíduos eram o que faz a fim de prejudicá-lo. As alucina- cesso do tratamento. I