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A inserção da aprendizagem de “loop duplo” no processo de
desenvolvimento de produtos: uma análise crítica da abordagem
do Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP)

Noel Torres Júnior, M.Eng.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Departamento de Engenharia de Produção

Dario Ikuo Miyake, Ph.D.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Departamento de Engenharia de Produção


O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) tem sido objeto de pesquisa por um número crescente de
trabalhos. Entretanto, relativamente poucos estudos têm sido realizados sobre a melhoria contínua do desempenho
no PDP. Este artigo discute os principais fatores e restrições que influenciam o desempenho da organização na
condução de atividades do PDP e delineia uma estrutura conceitual que relaciona as funções de planejamento,
avaliação e melhoria das atividades que constituem este processo num contexto que favoreça a aprendizagem de
“loop duplo”. O modelo de Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP) é então discutido criticamente
à luz da perspectiva conceitual apresentada.

Palavras-chave: processo de desenvolvimento de produto; APQP; aprendizagem de “loop duplo”.

The Product Development Process (PDP) has been investigated as a research subject by an increasing number of
works. However, relatively few studies have focused on the continuous improvement of performance in PDP. This
article points out major strategic issues and constraints that influence the performance of an organization in PDP and
delineates a conceptual framework aimed at supporting managers in planning, assessing, and improving development
activities based on the Double Loop Learning concept. The application of Advanced Product Quality Planning
(APQP) model is then critically discussed from the perspective of the proposed framework.

Keywords: product development process; APQP; double loop learning.


1 Introdução                                                    Devemos considerar ainda que o desenvolvimento de
                                                                produtos está sendo realizado numa nova economia.
                                                                Segundo Castells (1999), uma nova economia
O processo de desenvolvimento de produtos e                     informacional e global surgiu nas duas últimas
processos deve ser encarado como um elemento-                   décadas. Ela é informacional porque a produtividade e
chave para o sucesso das empresas, pois a sobrevi-              a competitividade de unidades ou agentes nesta
vência da empresa no longo prazo tende a depender               economia dependem basicamente de sua capacidade
cada vez mais da sua capacidade de desenvolver                  de gerar, processar e aplicar, de forma eficiente, a
produtos e processos com velocidade e eficácia. Ao              informação baseada em conhecimentos. É global
mesmo tempo, a empresa deve robustecer seu                      porque os mercados (o consumo e a circulação), e
processo de desenvolvimento no sentido de torná-lo              pelo lado da oferta (as atividades produtivas, assim
cada vez mais consistente e menos sujeito a varia-              como os recursos de capital, trabalho, matéria-prima,
ções significativas de desempenho. A grande                     administração, informação e tecnologia) se organizam
questão não é mais saber se o processo de desen-                cada vez mais em escala global. É ambas porque a
volvimento de produtos e processos é estratégico                concorrência e a busca de produtividade ocorrem
para as empresas. Esta é uma questão já respondida.             numa rede global de interação.
As organizações se defrontam agora com o desafio
de compreender como criar, estruturar e robustecer o            A sociedade se vê diante de um mundo em que a
processo de desenvolvimento de produtos e proces-               informação desempenha um papel cada vez mais
sos (CLARK e WHEELWRIGHT, 1992).                                relevante. As organizações são afetadas por esta
14          Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

revolução que influencia a própria competição, seja                      • Empresas analisadoras que monitoram cuidadosa-
alterando a estrutura do setor, mudando as regras da                       mente os competidores e freqüentemente conse-
competição, seja criando vantagens competitivas, de                        guem rapidamente seguir os competidores trazendo
maneira a proporcionar novas formas de as empresas                         inovações em termos de produto e/ou eficiência;
superarem os competidores; ou mesmo, dando origem
a novos negócios dentro das próprias operações já                        • Empresas protetoras que se limitam a manter um
existentes (PORTER e MILLAR, 1997).                                        nicho seguro do mercado protegendo o mesmo
                                                                           através do estabelecimento de um diferencial em
Inseridas neste contexto, as áreas pertencentes às                         alguma(s) dimensão(ões) como qualidade,
organizações empresariais são também afetadas por                          serviço ou preço;
estas tendências. Em particular, o processo de
desenvolvimento de produtos (PDP) também tem sido                        • Empresas reativas que somente respondem às
afetado por esta realidade e isso motiva a busca de                        mudanças de mercado quando pressionadas.
um melhor entendimento do papel da aprendizagem na
melhoria do desempenho no PDP. Com o propósito de
contribuir neste esforço, este artigo incorpora os
seguintes tópicos ainda pouco explorados na literatu-
ra de engenharia de produção:

• a aprendizagem de “loop duplo” no âmbito do
  PDP e sua importância para a melhoria do desem-
  penho no processo de desenvolvimento;

• a necessidade de gerenciar adequadamente a
  atenção humana dentro do PDP;                                          Figura 1 – Diferentes tipos de projeto segundo MILES e SNOW
                                                                                     (1978 apud MILES e SNOW, 1996).
• a contribuição que a aplicação de modelos
  referenciais de planejamento, organização e                            Quanto à estratégia de projeto, segundo Griffin e Page
  condução do PDP podem proporcionar para a                              (MILES e SNOW, 1978 apud MILES e SNOW, 1996),
  promoção da melhoria contínua no PDP.                                  os diferentes tipos de projetos podem ser agrupados
                                                                         em seis categorias conforme seguem (ver
Uma revisão bibliográfica sobre estes pontos é apresen-                  enquadramento na Figura 1):
tada e um quadro teórico é articulado de modo a
fundamentar o delineamento de uma estrutura conceitual
                                                                         • Produto novo para o mundo que cria um mercado
para a gestão da melhoria do desempenho do PDP. Esta
                                                                           completamente novo (novo para o mundo);
estrutura conceitual é utilizada para analisar o sistema de
Planejamento Avançado da Qualidade do Produto
(APQP), um particular modelo referencial de reconhecida                  • Produto novo para a empresa que viabiliza sua
relevância nos meios industriais e científicos.                            entrada, pela primeira vez, num determinado
                                                                           mercado (novo para a empresa);
2 O Processo de Desenvolvimento
de Produtos                                                              • Novos produtos que sejam adições às linhas de
                                                                           produtos existentes (adições às linhas existentes);
O PDP deve ser estruturado levando-se em considera-
ção as estratégias de negócio e de projeto adotadas                      • Novos produtos que sejam melhorias ou revisões dos
pela empresa. Segundo Griffin e Page1 (ANSOFF, 1996                        produtos existentes (melhoramentos no produto);
apud ANSOFF, 1957), as empresas podem ser
divididas nas seguintes quatro categorias conforme                       • Produtos existentes direcionados a novos merca-
sua estratégia de posicionamento no negócio:                               dos ou segmentos de mercados (reposicionamento);

• Empresas prospectoras que são as pioneiras em
                                                                         • Novos produtos que têm performance similar aos
  termos de mercados, produtos e tecnologia;
                                                                           existentes a um custo menor (redução de custo).



1
    ANSOFF, H.I. Strategies for diversification. Harvard Business Review, Sept-Oct, 1957.
2
    MILES, R.E. e SNOW, C.C. Organizational strategy, structure and process. New York: McGraw-Hill, 1978.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...                15
Numa empresa, a estratégia de negócio dominante                         3 Planejamento Avançado da
influencia sua estratégia de projeto. Por exemplo,
uma empresa predominantemente do tipo                                   Qualidade do Produto (APQP)
prospectora terá, em seu portfólio de produtos, um
percentual significativo de projetos do tipo “produto                   Na literatura sobre o PDP, muitos trabalhos foram
novo para a empresa” ou mesmo “produto novo para                        dedicados ao tema do planejamento e organização das
o mundo”, conforme o setor que atua. Ou seja, a                         atividades-chave que constituem o ciclo de desenvolvi-
proporção de cada tipo de projeto dentro do                             mento. O exame destes trabalhos revela que existem
portfólio de produtos da empresa está relacionada                       diversas abordagens para a divisão do PDP em diferen-
com sua estratégia de negócio predominante.                             tes etapas e que não seria pertinente eleger um modelo
                                                                        que possa ser genericamente apontado como ideal.
De modo semelhante, existe também uma relação
entre as estratégias de negócio e de projeto com o                      No entanto, face à sua crescente disseminação no meio
próprio PDP. Por exemplo, um projeto do tipo                            empresarial e ao grande detalhamento das atividades e
“produto novo para o mundo” exigirá uma estrutura                       ferramentas indicadas para cada fase, o presente traba-
de recursos, uma forma de organização e um sistema                      lho se aprofunda na discussão do modelo que é referen-
de informação muito mais complexo que um projeto                        ciado pela norma QS-9000, denominada de Planejamento
do tipo “redução de custo”.                                             Avançado da Qualidade do Produto (APQP).3

O desenvolvimento da discussão sobre a relação                          Segundo Abraham (1998), o Planejamento Avançado
entre a maneira como o PDP é planejado e conduzido                      da Qualidade do Produto (APQP) foi desenvolvido
e seu desempenho requer uma descrição genérica.                         em conjunto pela Ford, GM e Chrysler, em julho de
Silva et al. (2000) observam que alguns pontos são                      1994, com o objetivo de orientar seus fornecedores
praticamente comuns para a caracterização de                            no esforço de melhoria de seus processos de
qualquer PDP. Para estes autores, os seguintes                          planejamento avançado da qualidade. O APQP
elementos constituiriam um modelo de referência                         fornece um sistema estruturado que define e estabe-
para a condução de um PDP:                                              lece os procedimentos necessários para:

• Fases/Atividades: definem a evolução temporal                         • assegurar que o produto satisfaça o cliente;
  de um processo de desenvolvimento de produto;
                                                                        • facilitar a comunicação entre os envolvidos
• Recursos: suportam as pessoas no desenvolvimen-                         (fornecedor e montadora);
  to das atividades de desenvolvimento de produtos.
  Incluem conceitos, filosofias, métodos, técnicas,                     • garantir o cumprimento dos procedimentos e das
  ferramentas e sistemas que podem ser aplicados em                       atividades nos prazos;
  uma ou mais das atividades/fases do PDP;
                                                                        • minimizar riscos e custos associados a problemas
• Organização: refere-se à estrutura organizacional                       de qualidade do projeto do produto e processo,
  responsável e executora das atividades deste                            com base na abordagem do trabalho em equipe.
  processo bem como aos aspectos ligados às
  relações no trabalho;                                                 Na perspectiva do APQP, o PDP é composto de cinco
                                                                        etapas conforme seguem (GONZALEZ e MIGUEL, 2000):
• Informação: dimensão referente ao fluxo de informa-
  ção existente neste processo, ou seja, os dados, sua                  i. Planejamento e Definição do Programa – Determina-
  estrutura e o formato como estes circulam.                               ção das necessidades e expectativas dos clientes de
                                                                           forma a planejar e definir um programa de qualidade;
O contexto das relações apresentadas nesta seção
pode ser vizualizado na Figura 2.                                       ii. Projeto e Desenvolvimento do Produto – Planeja-
                                                                            mento e projeto do produto, e construção e teste


3 A norma QS-9000 é a harmonização do Manual de Qualidade Assegurada de Fornecedores da Chrysler, Norma de Sistema da Qualidade
  Q-101 da Ford, e Metas para Excelência da General Motors, com a contribuição dos Fabricantes de Caminhões. A norma QS-9000 é
  complementada por seis manuais técnicos de referência. São eles: Measurement Systems Analysis – MSA (guia para análise do sistema de
  medição), Statistical Process Control – SPC (guia de controle estatístico de processo), Quality System Assessment – QSA (guia para
  avaliação do sistema da qualidade), Failure Mode and Effects Analysis – FMEA (guia de FMEA de projeto e processo), Production Part
  Approval Process – PPAP (manual para aprovação das primeiras peças de produção) e Advanced Product Quality Planning – APQP
  (guia para o planejamento do desenvolvimento do produto e guia para elaboração do plano de controle).
16       Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

   do protótipo, com o objetivo de assegurar que as                  de desenvolver produtos e processos de uma maneira
   especificações próximas das finais atendam à Voz                  “extraordinária” representa, na atual conjuntura, uma
   do Cliente;                                                       valiosa arma competitiva. Clark e Wheelwright (1992)
                                                                     enumeram três grandes forças que tornam as ativida-
iii. Projeto e Desenvolvimento do Processo – Desen-                  des de desenvolvimento cada vez mais importantes:
     volvimento de um sistema de manufatura e seus
     respectivos planos de controle para obter produ-                • Intensa competição internacional: cada vez mais
     tos de qualidade;                                                 aumenta o número de empresas capazes de
                                                                       competir em nível “classe mundial”; conseqüen-
iv. Validação do Produto e do Processo – Validação                     temente, a competição vai se tornando cada vez
    do processo de manufatura através da avaliação                     mais agressiva.
    de uma corrida piloto de produção;
                                                                     • O mercado tem-se tornado mais fragmentado: os
v. Retroalimentação, Avaliação e Ação Corretiva – O                    clientes estão mais sensíveis às diferenças entre
   planejamento da qualidade não termina com a valida-                 os produtos e sentem-se mais atraídos por




                            Figura 2 – Relações entre o PDP e as estratégias de negócio e de projeto.


   ção do processo e sua instalação. A avaliação da                      produtos que fornecem soluções para suas
   efetividade do esforço de planejamento da qualidade                   necessidades e problemas específicos.
   do produto deve ser feita com foco na redução da
   variação, na satisfação do cliente, na melhoria da qua-           • Grande e rápida mudança nas tecnologias: o
   lidade e do custo da entrega e assistência técnica.                 crescimento do conhecimento científico e a
                                                                       evolução tecnológica têm criado novas opções
A norma QS-9000 não será mais utilizada a partir de                    para o atendimento das diversas e crescentes
Dezembro de 2006 e será substituída pela norma ISO/                    necessidades dos mercados, aumentando as
TS-16949. No entanto, para os fornecedores das                         soluções disponíveis para engenheiros e
                                                                       profissionais de marketing na busca por novos
montadoras Ford, GM e Daimler-Chrysler, os manuais
                                                                       produtos. As novas tecnologias em áreas como
técnicos como o do APQP e do Plano de Controle
                                                                       materiais, eletrônica e biologia têm, muitas
continuarão sendo referenciados pela ISO/TS-16949
                                                                       vezes, mudado a natureza da competição
(MUNRO, 2002; LUPO, 2002).
                                                                       existente nestas áreas.

4 Elementos para a melhoria do                                       De forma semelhante, Pine II (1994) destaca a necessida-
desempenho no contexto do                                            de de as empresas desenvolverem, produzirem,
Processo de Desenvolvimento                                          comercializarem e entregarem produtos com suficiente
de Produtos                                                          variedade e personalização, atendendo de modo cada
                                                                     vez mais customizado o mercado. Tal padrão de demanda
                                                                     tem induzido uma gradual diminuição dos ciclos de
No ambiente turbulento atual, as competências em                     desenvolvimento e de vida dos produtos. Estas tendên-
desenvolvimento de produto e processo tornaram-se                    cias têm forçado as organizações a aprimorarem seus
um ativo organizacional com impacto significativo na                 processos de desenvolvimento de produtos de modo a
definição da competitividade das empresas. Ser capaz                 torná-los mais ágeis, eficientes e robustos.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...        17
Estas forças têm atuado nos mais variados setores                                      estabelecer uma efetiva gestão do conhecimento.
industriais, afetando até mesmo indústrias maduras                                     Dentro deste contexto, segundo Probst et al. (2002), a
onde os ciclos de vida são historicamente longos, a                                    gestão do conhecimento lida com os seguintes
tecnologia já está madura e o mercado estável. Portan-                                 grandes processos dentro da empresa:
to, torna-se fundamental implementar uma estratégia
que possibilite levar adiante o melhoramento contínuo                                  • Identificação do conhecimento: tanto os conheci-
do desempenho do PDP.
                                                                                         mentos internos quanto externos não estão
                                                                                         automaticamente visíveis, portanto, as organiza-
Nesta direção, a presente seção examina as seguintes
                                                                                         ções devem analisar e descrever o ambiente de
questões fundamentais na busca deste objetivo:
                                                                                         conhecimento da empresa;
• O papel da gestão do conhecimento no PDP e,
  de modo mais específico, discute o que caracte-                                      • Aquisição do conhecimento: as empresas
  rizaria um sistema de aprendizagem de “loop                                            importam conhecimento de várias fontes externas
  duplo” no mesmo;                                                                       como especialistas, outras empresas, clientes,
                                                                                         fornecedores, concorrentes e parceiros;
• A necessidade de gerenciar adequadamente a
  escassez de atenção das pessoas, para que a                                          • Desenvolvimento do conhecimento: consiste no
  aprendizagem ocorra dentro do PDP;                                                     desenvolvimento de novas habilidades, novos
                                                                                         produtos, idéias melhores e processos mais
• O que se entende por melhoria de desempenho                                            eficientes. Inclui a criação de competências que
  no PDP.                                                                                ainda não existem dentro ou fora da empresa;

                                                                                       • Partilha ou distribuição do conhecimento: signifi-
Finalmente, elabora uma estrutura conceitual em que a
aprendizagem de “loop duplo” é inserida no contexto                                      ca a transferência de conhecimento entre um
do planejamento, condução e avaliação de projetos de                                     determinado grupo de funcionários, entre indiví-
desenvolvimento como um catalisador da melhoria                                          duos, dentro de equipes ou grupos de trabalho;
contínua das atividades de desenvolvimento.
                                                                                       • Utilização do conhecimento: consiste na sua
4.1. Gestão do conhecimento no Processo                                                  aplicação e visa garantir que a empresa utilize
de Desenvolvimento de Produtos                                                           efetivamente o seu know-how;

                                                                                       • Retenção do conhecimento: objetiva construir a
Conforme indica o Figura 3, o tema gestão do conhe-                                      “memória” da empresa, possibilitando que grande
cimento tornou-se mais presente nos últimos anos                                         parte do conhecimento não seja perdido em
dentro do PDP.                                                                           conseqüência da rotação ou saída de pessoas.

                         12                                                            Para que seja possível tratar o conhecimento como
                         10                                                            recurso que possa ser gerido e explorado através
    N ° d e art ig o s




                          8                                                            deste conjunto de processos, a administração deve
                          6                                                            ainda acrescentar dois elementos construtivos na
                          4                                                            organização, quais sejam: uma estrutura para o
                          2
                                                                                       estabelecimento de metas de conhecimento e um
                          0
                                                                                       mecanismo de avaliação (ver Figura 4).
                               1999        2000          2001      2003
                                                  Ano


 Figura 3 – Número de artigos sobre gestão do conhecimento
                                                                                                                 Feedback
 no PDP apresentados no Congresso Brasileiro de Gestão de
              Desenvolvimento de Produto.

                              Fontes: Anais do 1°, 2°, 3° e 4° CBGDP.

Dentre vários fatores, o crescente interesse pelo tema
no PDP pode ser relacionado com a intensificação da
competição no mercado que motiva as empresas a
melhorarem suas competências de desenvolvimento
de produto e criar/agregar outras ao longo do tempo.
O fortalecimento das competências atuais e a criação                                   Figura 4 – Elementos construtivos da gestão do conhecimento
de novas competências dependem da capacidade de                                                       segundo Probst et al. (2002).
18         Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

A gestão do conhecimento no PDP envolve várias                            número de empresas se encontram ainda trabalhando
atividades que lidam com os processos listados por                        com a aprendizagem no modo de “loop único”. Para
Probst et al. (2002). Várias características presentes                    uma organização caminhar para a aprendizagem de
no PDP tornam o processo de gestão do conheci-                            “loop duplo” várias ações e atitudes devem ser
mento mais complexo. Exemplos dessas característi-                        desenvolvidas. Neste contexto, baseando-se em
cas são apresentados a seguir:                                            estudos de caso, Hameri e Nihtilã (1998) listam alguns
                                                                          requisitos que devem estar presentes no PDP para
• É composto de atividades intensivas em conheci-                         que a aprendizagem de “loop duplo” ocorra:
  mento (tanto explícito como tácito);
                                                                          • As etapas do desenvolvimento de produtos
• É um processo pouco estruturado, composto de                              devem estar claramente definidas e documentadas,
  atividades muitas vezes simultâneas e que                                 permitindo, também, que as mudanças ocorridas
  interagem continuamente;                                                  em cada produto e projeto sejam retidas. Não é
                                                                            suficiente que o PDP esteja apenas formalizado e
• Cada ciclo de projeto apresenta desafios próprios                         documentado, ele também deve estar estruturado
  e, em cada ciclo, o conhecimento sobre o projeto                          de modo a assegurar que o PDP proposto pela
  deve ser disseminado rapidamente dentro da                                organização suporte efetivamente as atividades
  organização;                                                              diárias e os papéis desempenhados pelos indiví-
                                                                            duos durante o desenvolvimento de produtos.
• É um processo multidisciplinar que necessita integrar                     Cabe à gerência zelar pela observação destes
  o conhecimento de vários especialistas e funções.                         cuidados no PDP;

Em face à complexidade da gestão de conhecimento                          • A gerência deve garantir que, em todos os níveis
existente no PDP, este trabalho se limita a focalizar os                    organizacionais, exista um entendimento comum
                                                                            do PDP. Neste sentido, desde as fases iniciais de
processos de retenção, distribuição e utilização de
                                                                            desenvolvimento, deve-se estabelecer claramente
conhecimentos dentro do PDP. Esses três processos
                                                                            os objetivos de desempenho para cada atividade e
são vistos sob a ótica da estruturação de práticas que
                                                                            membro do time, detalhando-os em um nível
permitam uma aprendizagem reflexiva no mesmo. Para
                                                                            adequado de compreensão;
isto, resgata o conceito de aprendizagem de “loop
duplo” descrito na seção seguinte.
                                                                          • Na fase de conceituação, nas fases inicial e final do
                                                                            desenvolvimento, e também no follow-up, a gerência
4.2. Aprendizagem de “loop duplo”                                           deve primordialmente propiciar um clima para a
                                                                            efetiva participação e envolvimento de todo o time.
Segundo Argyris (1976; 1977), a aprendizagem                                Após o estabelecimento do conceito do produto e
organizacional pode ser dividida em aprendizagem                            com o avançar das atividades, a gerência deve se
de “loop único” ou “loop duplo”. A aprendizagem                             concentrar nas atividades de controle, de modo a
de “loop único” ocorre quando erros são detectados                          assegurar o cumprimento dos planos e metas.
e corrigidos mas sem implicar em nenhum impacto
efetivo na maneira como as atividades são planeja-                        • Deve existir, para todos os membros do time, uma
das e executadas nas organizações. A aprendizagem                           contínua coleta e análise de dados referentes ao
de “loop duplo” inclui além da detecção e correção                          desempenho das atividades de desenvolvimento.
dos erros, o questionamento e modificação dos                               Isto demanda naturalmente um esforço extra por
                                                                            parte da empresa, e requer que a mesma propicie
objetivos, políticas, normas e procedimentos
                                                                            recursos (técnicas, métodos, ferramentas e
vigentes. No contexto de um PDP, a aprendizagem de
                                                                            sistemas) e tempo para a devida realização destas
“loop único” implica apenas na realização de                                atividades. Cada membro do time de desenvolvi-
atividades do tipo “apagar incêndios”,4 na medida                           mento deve estar motivado e apto para documen-
que o desenvolvimento avança e problemas vão                                tar suas atividades, coletar os dados para avaliar
sendo identificados, enquanto que a aplicação da                            seu desempenho e tomar ações pertinentes na
aprendizagem de “loop duplo” promove a sua                                  ocorrência de problemas.
contínua melhoria por meio de uma sistemática de
revisão e melhoramento das atividades.                                    Para que a aprendizagem de “loop duplo” seja inse-
                                                                          rida no âmbito do PDP de uma organização, esta deve
É preocupante que mesmo tendo decorrido quase três                        empreender esforços para que a aprendizagem tam-
décadas desde a publicação desse conceito, grande                         bém ocorra nos demais processos e áreas existentes.


4 Entende-se por ações do tipo “apagar incêndios”, ações caracterizadas pela alocação não prevista de projetistas e/ou outros recursos para
  consertar problemas descobertos tardiamente no desenvolvimento.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...                 19
Vários esforços devem ser realizados nesta tarefa.                      • Variedade operacional: existem diferentes maneiras
Dentro deste objetivo, Nevis et al. (1995)5 identifica-                   para se atingir os objetivos de trabalho. Uma
ram dez fatores facilitadores que induzem ou dão                          organização que dá suporte a variações de
suporte à aprendizagem:                                                   estratégias, políticas, processos e estruturas de
                                                                          pessoal tem mais facilidade para se readaptar caso
• Imperativo da varredura minuciosa: a organização                        surjam problemas imprevistos. Ela conta com mais
  deve empreender esforços para sistematicamente                          alternativas de ação e talvez ofereça uma riqueza
  realizar uma varredura minuciosa do ambiente;                           maior de estilos e de interpretações a todos seus
                                                                          membros. Isso ajuda a enriquecer a aprendizagem
• Existência de lacunas de desempenho: o feedback                         futura de uma forma que seria impossível com uma
  é essencial para a avaliação. Particularmente,                          abordagem simplificada;
  quando revela um resultado inferior ou fracasso, a
  análise de suas causas freqüentemente proporcio-                      • Advogados múltiplos: quanto maior o número de
  na novos insights e conduz à experimentação e ao                        adeptos que promovam a idéia nova, mais rápida e
  desenvolvimento de novas habilidades. A                                 extensivamente a aprendizagem ocorrerá. Mais
  consciência da existência de uma lacuna de                              ainda, num sistema eficaz, qualquer membro deve
  desempenho é importante porque motiva a                                 poder atuar como um agente de conscientização e
  organização a reconhecer que a aprendizagem                             da melhoria ou como advogado do desenvolvi-
  precisa ocorrer ou que algo já aprendido pode não                       mento de novas competências. Desta forma, são
  estar funcionando bem. Uma razão pela qual                              possíveis tanto as iniciativas de cima para baixo,
  organizações bem estabelecidas com histórico de                         quanto as de baixo para cima;
  sucesso duradouro podem, paradoxalmente, deixar
  a desejar em aprendizagem sistêmica é que passam                      • Liderança envolvida: a liderança em todos os níveis
  por longos períodos em que o feedback é predo-                          organizacionais deve estar engajada na
  minantemente positivo. A falta de evidências não-                       implementação da visão. Os líderes somente poderão
  confirmadoras é uma barreira para a aprendizagem;                       obter dados importantes e fornecer poderosos
                                                                          modelos de desempenho através do envolvimento
• Preocupação com a medição: a organização deve                           direto que reflita coordenação, visão e integração;
  desenvolver métricas e realizar medições para dar
  suporte à aprendizagem;                                               • Perspectiva sistêmica: os participantes-chave devem
                                                                          pensar na interdependência das variáveis
• Mentalidade experimental: a organização deve dar                        organizacionais em termos abrangentes. Isto envolve
  ênfase à experimentação em bases correntes;                             o grau com que gerentes verificam se as causas de
                                                                          suas dificuldades estão nos próprios sistemas
• Clima de abertura: os limites em torno do fluxo de                      internos em vez de atribuí-las a fatores externos.
  informação devem ser permeáveis de tal modo que
  as pessoas possam fazer suas próprias observa-                        4.3. A Economia da Atenção
  ções. Grande parte da aprendizagem informal é uma
  função das interações diárias entre as pessoas, em                    Na conjuntura atual, a discussão da aprendizagem no
  sua maioria não planejadas. Além disso, a aprendi-                    PDP não pode omitir um problema que vem se agravan-
  zagem é promovida pela oportunidade de reunião                        do cada vez mais nas organizações: a insuficiência de
  com outros grupos e níveis mais altos da gerência.                    atenção humana. Segundo Davenport e Beck (2001), a
  As pessoas precisam de liberdade para expressar                       humanidade encontra-se na era da Economia da Aten-
  seus pontos de vista através do desacordo legítimo                    ção.6 Tem sido cada vez mais crítico às empresas con-
  e do debate. Outro aspecto crítico é o grau com que                   quistar e preservar a atenção de atores como consumi-
  erros são compartilhados e não ocultados;                             dores, acionistas e empregados, além de saber distribuir
                                                                        a própria atenção perante tantas opções atraentes e
• Educação contínua: existência de um compromisso                       tanta sobrecarga de informação. As tecnologias moder-
  com a educação no longo prazo em todos níveis                         nas continuarão cada vez mais acessíveis, oferecendo
  da organização. Deve haver um sentimento                              novas e fascinantes características que prometem
  patente de que a aprendizagem e o treinamento                         melhorar os nossos contextos de informação, mas elas
  prático nunca terminam;                                               redundarão em maiores necessidades de atenção.

5 Na tentativa de compreender o que seria uma organização que aprende, os autores realizaram observações intensivas no campo em quatro
  empresas: Motorola, MIC, EDF e Fiat.
6 O termo “Economia da Atenção” foi cunhado por estes autores para caracterizar esse novo contexto em que o capital, o trabalho, a
  informação e o conhecimento são fatores relativamente abundantes, o que atenua as dificuldades para se começar um negócio, conquistar
  acesso a clientes e mercados, desenvolver uma estratégia, montar um site na web etc. Já a atenção humana, tem se tornado um recurso
  cada vez mais escasso.
20       Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

Neste novo contexto, o PDP concorre com outras              usados na construção dos protótipos e quaisquer
atividades em busca da atenção das pessoas                  serviços que a empresa, por ventura, use.
envolvidas. A aprendizagem no PDP para ser efetiva
necessita do tempo e da dedicação das pessoas               De acordo com McGrath (1996), a produtividade
envolvidas no processo. Faz-se necessário                   no PDP é basicamente definida em função dos
implementar estratégias que habilitem as atividades         seguintes fatores:
do PDP a concorrer eficazmente com atividades de
outros processos existentes na empresa para atrair a        •    tempo do ciclo de desenvolvimento,
atenção das pessoas afetadas.
                                                            •    nível de perdas no desenvolvimento,
Davenport e Beck (2001) sugerem algumas abordagens          •    grau de utilização dos recursos, e
para lidar com o problema da escassez de atenção:           •    potencial de atrair e reter talentos técnicos.

• Utilizar a tecnologia para defender seus recursos         Por esta perspectiva, seria possível melhorar a produti-
  de atenção contra intromissões indesejadas. Para          vidade no PDP buscando-se a redução do tempo de
  este fim, dispositivos para peneiramento de               desenvolvimento, a redução dos casos de cancelamen-
  informações especialmente adaptados às mídias             to ou redirecionamento de projetos, e pela alocação das
  existentes podem ser aplicados (ex.: dispositivos         pessoas mais capazes, criativas e produtivas.
  de filtragem de e-mails, dispositivos de filtragem
  ou bloqueio de chamadas telefônicas etc.);                4.5. Uma estrutura conceitual de gestão do
                                                            PDP com aprendizagem de “loop duplo”
• Aproveitar as lacunas de atenção ambiental
  existentes (situações em que existe uma ampla             Os elementos apresentados nesta seção podem ser
  oferta de atenção, como em salas de espera, no            relacionados tal como na Figura 5 de modo a articular
  refeitório, no trânsito etc.), aplicando a informa-       uma estrutura conceitual para a consideração da
  ção neste momento;                                        gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” no
                                                            contexto competitivo exposto.
• Utilizar a tecnologia para tornar as mensagens
  enviadas mais customizadas às necessidades                Os seguintes pontos constituem a estrutura
  das pessoas;                                              conceitual proposta:

• Utilizar a tecnologia para estruturar o conteúdo          • A melhoria do desempenho no contexto do PDP
  da informação de maneira que a atenção seja                 representa um resultado direto da articulação dos
  facilmente conquistada. Isto pode ser obtido                seus elementos constituintes. Como as estratégias
  através da utilização de técnicas de comunicação            de negócio e de projeto afetam a formação desses
  na elaboração da informação. Por exemplo, pode-             elementos, o desempenho do PDP deve também
  se usar recursos visuais que façam mudanças no              ser considerado como um processo sujeito a essas
  conteúdo, no formato, no tom, no nível de                   condições contextuais.
  envolvimento e assim por diante para atrair e
  reter a atenção do usuário da informação.                 • O conceito de melhoria contínua, adotado na
                                                              gestão de sistemas de produção, pode ser
4.4. Melhoria do desempenho do Processo                       estendido às atividades de desenvolvimento
                                                              buscando-se o aprimoramento contínuo do PDP
de Desenvolvimento de Produto
                                                              por meio da aprendizagem de “loop duplo”. A
                                                              sua adoção tem um impacto positivo em vários
Clark e Fujimoto (1991), ao estudarem o desenvolvi-           elementos. Obtém-se uma melhor utilização dos
mento de produtos no setor automobilístico,                   recursos porque os erros e problemas são
definiram que o desempenho do PDP que afeta a                 continuamente reduzidos. Obtém-se uma
capacidade do produto em atrair e satisfazer os               redução do número de projetos cancelados ou
consumidores está assentada em três aspectos: (a)             que necessitam ser redirecionados devido ao
lead time, (b) qualidade do produto desenvolvido e            aumento do conhecimento sobre PDP. Melhora-
(c) produtividade. Segundo estes autores, o lead              se a habilidade para atrair e reter os talentos
time é o tempo gasto no projeto, da concepção ao              técnicos porque o ambiente de trabalho torna-se
lançamento do produto comercial, mas essa dimen-              mais motivador. Assim, o lead time, a qualidade
são não é incorporada à produtividade. A produti-             do produtos desenvolvidos e a produtividade
vidade em um dado projeto é então definida pelo               do PDP melhorariam em decorrência dos efeitos
nível de recursos requeridos para seu desenvolvi-             promovidos pela aprendizagem de “loop
mento, incluindo horas trabalhadas, materiais                 duplo”.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...       21




                              INPUT                                                                     OUTPUT




                             Figura 5 – Estrutura Conceitual de gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo”
Hameri e Nihtilã




                   Figura 6 – Aplicação da estrutura conceitual de gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” ao APQP
22       Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

• A aprendizagem dentro PDP necessita ser analisa-          Portanto, partindo-se da Figura 6, pode-se avaliar
  da dentro da ótica de que as atividades do PDP            como em cada fase os elementos propostos pelo
  concorrem com as outras atividades existentes na          APQP podem contribuir para o atendimento dos
  empresa na disputa pelo escasso recurso da                objetivos de aprendizagem de “loop duplo” no
  atenção das pessoas. A utilização da Tecnologia           desenvolvimento.
  da Informação pode tornar esse recurso mais
  escasso ainda ou viabilizar sua melhor utilização         5.1. A aprendizagem na fase de
  (DAVENPORT e BECK, 2001). Isso implica em                 conceituação do produto
  assegurar a participação das pessoas envolvidas
  no PDP sabendo gerenciar adequadamente a
                                                            Nesta fase, a gerência deve gerar um entendimento
  escassez de atenção humana.
                                                            comum dos processos de desenvolvimento e de
                                                            avaliação. Os times de desenvolvimento devem
5 Aplicando a estrutura conceitual                          assegurar que os objetivos principais e os específicos
de gestão do PDP ao APQP                                    do projeto sejam bem entendidos.

O modelo do APQP tem sido adotado por um grande             Para o atendimento destes objetivos o APQP dispõe
número de empresas sendo que, muitas vezes, os              de alguns elementos:
recursos investidos em sua implementação atingem
valores expressivos. Trata-se de um modelo que vem          i. Os objetivos de projeto;
se consolidando como referência tanto nos meios
industriais como no âmbito do ensino e pesquisa em          ii. As metas de confiabilidade e qualidade;
áreas como Engenharia de Produção e Engenharia de
Produto. Dada a magnitude de sua projeção e suas            iii. A lista preliminar de características especiais de
proposições para a sistematização do PDP, o presen-
                                                                 produto e processo, que merecem atenção e
te trabalho adota sua estrutura conceitual e
                                                                 controle especial durante a manufatura;
metodológica como objeto de estudo. Até que ponto
a iniciativa de estabelecer uma maneira mais discipli-
                                                            iv. Plano de garantia do produto podendo conter os
nada e estruturada no PDP pela adoção do “pacote”
prescrito pelo APQP promove também a inserção e                 itens i, ii e iii, além de elementos como avaliação de
desenvolvimento da aprendizagem de “loop duplo”                 requisitos de inovação tecnológica, complexidade,
na organização?                                                 materiais, meio-ambiente, embalagem, serviço e
                                                                manufatura ou qualquer outro fator que possa
O desenvolvimento desta capacidade depende da                   colocar o projeto em risco.
busca de certos objetivos-chave. Na Figura 6, o
quadro localizado na parte superior aponta, em linhas       Estes quatro elementos fazem parte dos outputs
gerais, o papel a ser cumprido pela gerência e pelos        desta fase. O APQP estabelece que os mesmos
times de desenvolvimento no decorrer das fases de           devem ser formalmente descritos e divulgados para
conceituação, execução e follow-up do PDP, na               o time de desenvolvimento.
perspectiva de Hameri e Nihtilã (1998).
                                                            Gonzalez e Miguel (2001) reportam que a implantação
Na mesma figura, o quadro maior localizado na parte         do APQP possibilitou a criação de uma linguagem
inferior sintetiza o “pacote” do APQP em termos dos         comum de comunicação entre todos os setores
quatro elementos que constituem um modelo de PDP,           participantes do desenvolvimento permitindo maior
quais sejam: i) fases/atividades, ii) informação,           negociação entre os membros do time na definição
iii) recursos, e iv) organização. As cinco etapas de        dos prazos para o cumprimento das diversas fases
um projeto de desenvolvimento admitidas pelo                desse processo.
modelo do APQP (ver seção 2) são associadas às três
fases consideradas por Hameri e Nihtilã (1998) e os         Na fase de conceituação do produto, o APQP
documentos, técnicas, métodos, ferramentas, sistemas        conduz à clara definição das diretrizes do projeto,
etc. prescritos pelo APQP para a condução das               estimula a reflexão e antecipação de aspectos
diferentes etapas de um projeto de desenvolvimento          críticos ao desenvolvimento, incute uma disciplina
são apresentados no corpo do quadro maior.                  pela formalização destas considerações de modo a
                                                            facilitar a interação entre os atores envolvidos no
A Figura 6 apresenta, portanto, as relações entre os        desenvolvimento e propicia uma melhoria na quali-
objetivos que devem ser atendidos para a aprendiza-         dade da comunicação. Assim, suporta os objetivos
gem de “loop duplo” e o instrumental fornecido pelo         de aprendizagem tanto da gerência como do time de
APQP, sob uma perspectiva temporal.                         desenvolvimento.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...                   23
5.2. A aprendizagem na fase de execução                                   APQP, bem como a necessidade de terem os recur-
do desenvolvimento                                                        sos adequados para executar tais atividades. Neste
                                                                          sentido, uma pesquisa realizada por Abraham (1998)
Esta fase corresponde à segunda, terceira e quarta                        junto a uma amostra de fornecedores, revelou que,
etapas do APQP que têm como propósito garantir                            em muitas empresas, as pessoas envolvidas com
que os projetos do produto e do processo de                               PDP encontram dificuldades para implementar as
produção atendam aos requisitos de desempenho e                           práticas propostas pelo APQP. Os principais fatores
especificações de engenharia.                                             inibidores seriam os seguintes:

Aqui a gerência deve controlar as atividades do time                      • As pessoas podem não estar adequadamente
obtendo um feedback on-line das mesmas enquanto                             treinadas para compreender a lógica do processo
que os times avançam no desenvolvimento do                                  de planejamento da qualidade do produto.
produto e do processo, respondendo e lidando                                Ao não compreenderem esta lógica, elas se
imediatamente com os problemas que surgem. Nos                              tornam alheias aos objetivos principais;
ciclos de definição e resolução de problemas, os
indivíduos envolvidos certamente aprendem com a                           • As pessoas demonstram ter dificuldade em
própria experiência, contudo isso não implica na                            compreender os requisitos do texto do APQP.
aprendizagem organizacional. Vale também ressaltar                          A interpretação do APQP pode ser vista como
que este processo gera uma enorme quantidade e                              uma tarefa difícil;7
variedade de dados, informações e decisões que
precisam ser organizadas e agregadas à base de                            • As pessoas podem não estar adequadamente
conhecimentos da organização.                                               treinadas no ferramental prescrito e enfrentar
                                                                            dificuldades para aplicá-lo;
A proposta do APQP é justamente procurar
disponibilizar para a gerência, de uma maneira
                                                                          • Face à estrutura enxuta das empresas, ao alto
estruturada e prescritiva, inúmeras informações
                                                                            volume de produtos desenvolvidos e à necessi-
sobre o projeto do produto e processo. Assim o
                                                                            dade de cumprimento de prazos, algumas etapas
modelo do APQP prescreve vários documentos
                                                                            do APQP acabam sendo parcialmente suprimidas.
como planos e relatórios, bem como testes que
devem ser realizados e submetidos a uma análise
crítica durante o desenvolvimento para fins de                            5.3. A aprendizagem na fase de follow-up
aprovação. Como exemplos de tais elementos
podemos citar: FMEA de Projeto, Plano de Verifica-                        Esta fase corresponde à última das cinco etapas
ção do Projeto, Plano de Controle e Construção de                         concebidas pelo APQP. Trata-se da fase mais pobre
Protótipo, Formulário de Compromisso da Equipe                            em detalhes e informações no modelo do APQP.
com a Viabilidade, Lista de Verificação da Qualidade
do Produto/Processo, FMEA de Processo, Plano de                           Nela, cabe à gerência avaliar o desempenho do
Controle de Pré-Lançamento, Plano de Análise dos                          processo de desenvolvimento de produto identifi-
Sistemas de Medição, Plano de Estudo Preliminar da                        cando as áreas que precisam ou podem ser melhora-
Capabilidade do Processo, Testes de Validação da                          das. Já os times de desenvolvimento devem obter
Produção e Avaliação da Embalagem, entre outros                           sugestões de melhoria para o produto desenvolvido
(AIAG, 1995).                                                             e para o processo de desenvolvimento em si e
                                                                          ganhar experiência com as lições aprendidas. A
Mas até que ponto a simples introdução de diretrizes                      implementação destas modificações deve ser
para a formalização dos conhecimentos promove                             acompanhada pela gerência, a quem cabe assegurar
efetivamente a aprendizagem da gerência e dos                             a eficácia dos esforços de aprimoramento.
times?
                                                                          Nesta fase, podem ser obtidos os três tipos de
Para que esta abordagem seja bem sucedida nas                             resultados apontados a seguir:
empresas, devemos considerar a necessidade das
mesmas de serem capazes de compreender adequa-                            i. Redução da variação através de ações sobre os
damente os requisitos e ferramentas abarcadas pelo                           processos produtivos existentes;




7 Um técnico responsável pelo desenvolvimento do APQP em uma montadora conduziu um estudo para avaliar o nível de leitura de seu
  texto. Utilizando um software específico para este fim, constatou que seu texto requer um nível de leitura equivalente ao do segundo ano
  do ensino superior. Diante desta dificuldade, muitas empresas têm de recorrer à ajuda de consultores.
24        Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

ii. Partindo de estudos de satisfação do cliente,                     Um segundo aspecto é que o APQP traz consigo a
    identificar deficiências no produto e obter maior                 utilização de várias técnicas e ferramentas. A
    aprovação tomando as medidas necessárias para                     equipe de desenvolvimento deve conhecer e utilizar
    corrigi-las;                                                      a Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos
                                                                      (FMEA), Análise dos Sistemas de Medição (MSA),
iii. Melhoria da qualidade, do custo e da entrega ao                  Benchmarking, Índices de Capabilidade, Sistemas à
     cliente mediante investigação dos dados e                        Prova de Erros (Mistake Proofing/Poka-yoke),
     problemas encontrados tanto na Entrega como na                   Fluxograma e Controle Estatístico de Processo
     Assistência Técnica (AIAG, 1995).                                (CEP). Além destas, a norma QS-9000, nas prescri-
                                                                      ções referentes ao Controle de Projeto, determina
Entretanto, para que o conhecimento gerado na                         que dependendo das circunstâncias a empresa
busca de tais resultados após a fase de execução do                   deve se qualificar também nas seguintes técnicas e
desenvolvimento propriamente dito não fique                           ferramentas: Delineamento de Experimentos (DOE),
circunscrito somente às pessoas que participaram do                   Desdobramento da Função Qualidade (QFD),
projeto em questão e seja útil para evitar a ocorrên-                 Engenharia de Valor, Dimensionamento Geométrico
cia das mesmas falhas em projetos futuros, é impera-                  e Tolerância (GD&T), Análise de Elementos Finitos,
tivo estabelecer um mecanismo que incorpore aquilo                    Modelagem de Sólidos, Técnicas de Simulação, CAD/
que foi aprendido à base de conhecimento da                           CAE, Planos de Confiabilidade de Engenharia, Projeto
empresa. Este mecanismo deve também facilitar o                       para Manufatura (DFM) e Projeto para Montagem
reaproveitamento deste conhecimento num estágio                       (DFA) (ABRAHAM, 1998, p.110). Muitas destas não
mais à montante do processo de desenvolvimentos                       são conhecidas e/ou dominadas pelos times de
em projetos subseqüentes. Uma organização pode                        desenvolvimento. Portanto, para que uma empresa
até estar conforme o modelo APQP mas sem este                         possa aplicar adequadamente o APQP, deve
último mecanismo corre o risco de desperdiçar os                      despender recursos e tempo para capacitar seu
esforços dedicados e ainda permanecer na aprendi-                     pessoal nas mesmas.9 Isto pode ser um fator bastante
zagem de “loop único”.                                                restritivo para sua implementação. Por outro lado, na
                                                                      medida em que a própria assimilação dos requisitos
6 Considerações gerais sobre a                                        do APQP demanda esforços para aquisição de
aprendizagem de “loop duplo”                                          novos conhecimentos e capacitação em novas
                                                                      práticas, a sua adoção em si reforça a necessidade
no APQP                                                               de tornar mais consistente o processo de aprendi-
                                                                      zagem organizacional.
Após a discussão analítica do modelo APQP na seção
anterior, são apresentadas a seguir algumas conside-                  Um outro aspecto que merece ser salientado é que a
rações gerais sobre as possibilidades da sua adoção                   adoção do APQP implica em privilegiar as atividades
contribuir para a aprendizagem de “loop duplo”.                       de planejamento. Segundo Stamatis (1998), para
                                                                      muitas organizações, a priorização do planejamento
Um primeiro aspecto a ser levantado sobre esta                        somente ocorre após uma grande mudança cultural na
questão é o caráter compulsório com que o APQP                        maneira de conduzir as atividades de desenvolvimen-
normalmente é implementado nas empresas.8 Ao                          to. Portanto, as empresas devem evitar armadilhas que
implementarem o APQP, as empresas (ex.: fornecedo-                    inibam esta mudança. As principais armadilhas
res de primeira e segunda camadas das montadoras)                     encontradas pelas empresas segundo este autor são:
devem adotar um conjunto mínimo de requisitos,
independentemente da sua responsabilidade pelo                        i. Falta de suporte da gerência e falta de comprome-
projeto do produto. Neste sentido, não se considera                      timento da mesma com o planejamento;
a necessidade de reduzir ou amenizar a aplicação de
alguns requisitos para produtos bastante simples ou                   ii. Alocação de um tempo insuficiente para as
para produtos projetados pelo cliente que apenas                          atividades de planejamento;
necessitam de algumas modificações. Além disso, os
cronogramas de implementação comumente aperta-                        iii. Convivência com práticas do tipo “apagar incêndi-
dos acabam prejudicando a qualidade das atividades                         os”, reconhecendo as pessoas mobilizadas como
realizadas (ABRAHAM, 1998).                                                “heróis” em detrimento justamente dos profissio-



8 O APQP não é uma aplicação obrigatória, mas o fornecedor deve utilizá-lo como um manual de referência; entretanto, alguns de seus
  requisitos específicos devem ser implementados integralmente.
9 Algumas destas técnicas exigem uma formação anterior para que sejam devidamente compreendidas.
Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”...    25
   nais que planejam as atividades de maneira correta         7 Conclusão
   visando a prevenir tais práticas paliativas.
                                                              O PDP em muitas organizações ainda se situa no
Um quarto aspecto da adoção do APQP pelas                     estágio da aprendizagem de “loop único”. As
empresas, ainda segundo Stamatis (1998), é a exigên-          considerações colocadas neste trabalho podem ser
cia da implantação de times multifuncionais para o            úteis aos gestores de desenvolvimento empenha-
desenvolvimento. Esta abordagem promove o                     dos em conduzir o PDP de sua organização a um
compartilhamento do conhecimento e expertise de
                                                              estágio evolutivo superior.
diferentes áreas funcionais e especialistas possibili-
tando oportunidades para a geração de soluções e
                                                              A formulação e difusão de modelos referenciais como
adoção de melhorias no projeto e/ou no processo.
                                                              o APQP têm como motivação tornar mais robusto o
Contudo, tal abordagem requer uma estrutura
                                                              PDP e melhorar o desempenho de suas atividades.
organizacional e de comando que propicie a formação
de times multifuncionais e suporte suas ações. Nas            Contudo, como discutido ao longo das seções 5 e 6, a
empresas que continuam com uma estrutura rígida,              aprendizagem de “loop duplo” nem sempre é assegu-
departamentalizada e centralizadora, a                        rada pela adoção do APQP como modelo referencial
multifuncionalidade poderá ser obstruída.                     de planejamento, organização e condução do PDP. O
                                                              estabelecimento de um ambiente de aprendizagem de
                                                              “loop duplo” requer a implementação de mecanismos
Finalmente, vale observar que um projeto típico de
desenvolvimento pode gerar centenas de documentos             e recursos complementares.
e conter milhares de dados. Caso o projeto seja
conduzido passo a passo em conformidade com o                 Como extensão do presente trabalho, sugere-se
APQP isso pode se acentuar. Portanto, a adoção do             pesquisar se a adoção de um outro modelo referencial
APQP requer um gerenciamento adequado de docu-                (e.g. PMBOK,10 DFSS11) suportaria de forma mais
mentos e dados. Diante desta necessidade, várias              favorável a aprendizagem de “loop duplo” no ambien-
empresas têm-se tornado usuárias de softwares que             te de desenvolvimento de produtos.
permitem gerenciar apropriadamente os documentos e
dados gerados ao longo do desenvolvimento. Vale               Referências
lembrar que uma mudança qualquer em um documento
pode implicar na revisão de outros e na necessidade           ABRAHAM, M. O futuro do desenvolvimento de
de divulgação, análise e aprovação por várias áreas,          produtos e da cadeia de fornecimento da indústria
pessoas e, até, fornecedores ou clientes (ADAMS,              automobilística. São Paulo, 1998. 175 p. Tese
2000; MITCHELL, 2001). Conseqüentemente, para                 (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de
uma efetiva implementação do APQP, faz-se necessá-            São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.
rio estruturar um sistema de gerenciamento da
informação que possa suportar todo este complexo              ADAMS, L. Software helps you mind your APQPs.
processo de gestão de conhecimento retendo a                  Quality, p.42-45, Out. 2000.
atenção das pessoas envolvidas nas diferentes
etapas do PDP. Naturalmente, isto implica na necessi-         AIAG, APQP - Advanced Product Quality Planning and
dade das empresas de investir recursos significativos         Control Plan – Chrysler, Ford and General Motors, 1995.
na aquisição de equipamentos e softwares, bem como
no treinamento de seu pessoal para se capacitar na            ARGYRIS, C. Single-loop and double-loop models in
exploração dos recursos proporcionados pelas                  research on decision making. Administrative Science
Tecnologias de Informação com tal propósito.                  Quarterly, v.21, p.363-377, Sept. 1976.

Os aspectos aqui discutidos sugerem que a iniciativa          ARGYRIS, C. Double loop learning in organizations.
de implantar o APQP numa organização e o posterior            Harvard Business Review, p.115-124, Sept.-Oct. 1977.
processo de realização de projetos de desenvolvimento
em conformidade com o modelo do APQP têm implica-             CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz
ções distintas sobre a aprendizagem de “loop duplo”.          e Terra, 1999, p.21-172.
Num primeiro momento, a adoção do APQP tende a ser
mais um fator motivador da aprendizagem. Já a sua             CLARK, K.B.; FUJIMOTO, T. The parameters of
aplicação em regime pode ser um fator promotor da             performance: lead time, quality, and productivity. In:
aprendizagem de “loop duplo”. De qualquer forma, o            Product Development Performance Strategy,
APQP por si só não seria um fator suficiente.                 Organization, and Management in the World Auto

10 Project Management Body of Knowledge
11 Design for Six Sigma
26        Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004

Industry. Boston: Harvard Business School Press,             MUNRO, R.A. Future of APQP and PPAP in Doubt.
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CLARK, K.B.; WHEELWRIGHT, S.C. Revolutionizing               NEVIS, E.C.; DIBELLA, A.J.; GOULD, J.M.
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Aprendizagem Loop Duplo APQP

  • 1. Adissi, P. J; Guedes, D. T.; Melo, L. C. M.. – Comparação entre os sistemas de corte manual de cana-de-açúcar... Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, out.2002 13 A inserção da aprendizagem de “loop duplo” no processo de desenvolvimento de produtos: uma análise crítica da abordagem do Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP) Noel Torres Júnior, M.Eng. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Produção Dario Ikuo Miyake, Ph.D. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Produção O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) tem sido objeto de pesquisa por um número crescente de trabalhos. Entretanto, relativamente poucos estudos têm sido realizados sobre a melhoria contínua do desempenho no PDP. Este artigo discute os principais fatores e restrições que influenciam o desempenho da organização na condução de atividades do PDP e delineia uma estrutura conceitual que relaciona as funções de planejamento, avaliação e melhoria das atividades que constituem este processo num contexto que favoreça a aprendizagem de “loop duplo”. O modelo de Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP) é então discutido criticamente à luz da perspectiva conceitual apresentada. Palavras-chave: processo de desenvolvimento de produto; APQP; aprendizagem de “loop duplo”. The Product Development Process (PDP) has been investigated as a research subject by an increasing number of works. However, relatively few studies have focused on the continuous improvement of performance in PDP. This article points out major strategic issues and constraints that influence the performance of an organization in PDP and delineates a conceptual framework aimed at supporting managers in planning, assessing, and improving development activities based on the Double Loop Learning concept. The application of Advanced Product Quality Planning (APQP) model is then critically discussed from the perspective of the proposed framework. Keywords: product development process; APQP; double loop learning. 1 Introdução Devemos considerar ainda que o desenvolvimento de produtos está sendo realizado numa nova economia. Segundo Castells (1999), uma nova economia O processo de desenvolvimento de produtos e informacional e global surgiu nas duas últimas processos deve ser encarado como um elemento- décadas. Ela é informacional porque a produtividade e chave para o sucesso das empresas, pois a sobrevi- a competitividade de unidades ou agentes nesta vência da empresa no longo prazo tende a depender economia dependem basicamente de sua capacidade cada vez mais da sua capacidade de desenvolver de gerar, processar e aplicar, de forma eficiente, a produtos e processos com velocidade e eficácia. Ao informação baseada em conhecimentos. É global mesmo tempo, a empresa deve robustecer seu porque os mercados (o consumo e a circulação), e processo de desenvolvimento no sentido de torná-lo pelo lado da oferta (as atividades produtivas, assim cada vez mais consistente e menos sujeito a varia- como os recursos de capital, trabalho, matéria-prima, ções significativas de desempenho. A grande administração, informação e tecnologia) se organizam questão não é mais saber se o processo de desen- cada vez mais em escala global. É ambas porque a volvimento de produtos e processos é estratégico concorrência e a busca de produtividade ocorrem para as empresas. Esta é uma questão já respondida. numa rede global de interação. As organizações se defrontam agora com o desafio de compreender como criar, estruturar e robustecer o A sociedade se vê diante de um mundo em que a processo de desenvolvimento de produtos e proces- informação desempenha um papel cada vez mais sos (CLARK e WHEELWRIGHT, 1992). relevante. As organizações são afetadas por esta
  • 2. 14 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 revolução que influencia a própria competição, seja • Empresas analisadoras que monitoram cuidadosa- alterando a estrutura do setor, mudando as regras da mente os competidores e freqüentemente conse- competição, seja criando vantagens competitivas, de guem rapidamente seguir os competidores trazendo maneira a proporcionar novas formas de as empresas inovações em termos de produto e/ou eficiência; superarem os competidores; ou mesmo, dando origem a novos negócios dentro das próprias operações já • Empresas protetoras que se limitam a manter um existentes (PORTER e MILLAR, 1997). nicho seguro do mercado protegendo o mesmo através do estabelecimento de um diferencial em Inseridas neste contexto, as áreas pertencentes às alguma(s) dimensão(ões) como qualidade, organizações empresariais são também afetadas por serviço ou preço; estas tendências. Em particular, o processo de desenvolvimento de produtos (PDP) também tem sido • Empresas reativas que somente respondem às afetado por esta realidade e isso motiva a busca de mudanças de mercado quando pressionadas. um melhor entendimento do papel da aprendizagem na melhoria do desempenho no PDP. Com o propósito de contribuir neste esforço, este artigo incorpora os seguintes tópicos ainda pouco explorados na literatu- ra de engenharia de produção: • a aprendizagem de “loop duplo” no âmbito do PDP e sua importância para a melhoria do desem- penho no processo de desenvolvimento; • a necessidade de gerenciar adequadamente a atenção humana dentro do PDP; Figura 1 – Diferentes tipos de projeto segundo MILES e SNOW (1978 apud MILES e SNOW, 1996). • a contribuição que a aplicação de modelos referenciais de planejamento, organização e Quanto à estratégia de projeto, segundo Griffin e Page condução do PDP podem proporcionar para a (MILES e SNOW, 1978 apud MILES e SNOW, 1996), promoção da melhoria contínua no PDP. os diferentes tipos de projetos podem ser agrupados em seis categorias conforme seguem (ver Uma revisão bibliográfica sobre estes pontos é apresen- enquadramento na Figura 1): tada e um quadro teórico é articulado de modo a fundamentar o delineamento de uma estrutura conceitual • Produto novo para o mundo que cria um mercado para a gestão da melhoria do desempenho do PDP. Esta completamente novo (novo para o mundo); estrutura conceitual é utilizada para analisar o sistema de Planejamento Avançado da Qualidade do Produto (APQP), um particular modelo referencial de reconhecida • Produto novo para a empresa que viabiliza sua relevância nos meios industriais e científicos. entrada, pela primeira vez, num determinado mercado (novo para a empresa); 2 O Processo de Desenvolvimento de Produtos • Novos produtos que sejam adições às linhas de produtos existentes (adições às linhas existentes); O PDP deve ser estruturado levando-se em considera- ção as estratégias de negócio e de projeto adotadas • Novos produtos que sejam melhorias ou revisões dos pela empresa. Segundo Griffin e Page1 (ANSOFF, 1996 produtos existentes (melhoramentos no produto); apud ANSOFF, 1957), as empresas podem ser divididas nas seguintes quatro categorias conforme • Produtos existentes direcionados a novos merca- sua estratégia de posicionamento no negócio: dos ou segmentos de mercados (reposicionamento); • Empresas prospectoras que são as pioneiras em • Novos produtos que têm performance similar aos termos de mercados, produtos e tecnologia; existentes a um custo menor (redução de custo). 1 ANSOFF, H.I. Strategies for diversification. Harvard Business Review, Sept-Oct, 1957. 2 MILES, R.E. e SNOW, C.C. Organizational strategy, structure and process. New York: McGraw-Hill, 1978.
  • 3. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 15 Numa empresa, a estratégia de negócio dominante 3 Planejamento Avançado da influencia sua estratégia de projeto. Por exemplo, uma empresa predominantemente do tipo Qualidade do Produto (APQP) prospectora terá, em seu portfólio de produtos, um percentual significativo de projetos do tipo “produto Na literatura sobre o PDP, muitos trabalhos foram novo para a empresa” ou mesmo “produto novo para dedicados ao tema do planejamento e organização das o mundo”, conforme o setor que atua. Ou seja, a atividades-chave que constituem o ciclo de desenvolvi- proporção de cada tipo de projeto dentro do mento. O exame destes trabalhos revela que existem portfólio de produtos da empresa está relacionada diversas abordagens para a divisão do PDP em diferen- com sua estratégia de negócio predominante. tes etapas e que não seria pertinente eleger um modelo que possa ser genericamente apontado como ideal. De modo semelhante, existe também uma relação entre as estratégias de negócio e de projeto com o No entanto, face à sua crescente disseminação no meio próprio PDP. Por exemplo, um projeto do tipo empresarial e ao grande detalhamento das atividades e “produto novo para o mundo” exigirá uma estrutura ferramentas indicadas para cada fase, o presente traba- de recursos, uma forma de organização e um sistema lho se aprofunda na discussão do modelo que é referen- de informação muito mais complexo que um projeto ciado pela norma QS-9000, denominada de Planejamento do tipo “redução de custo”. Avançado da Qualidade do Produto (APQP).3 O desenvolvimento da discussão sobre a relação Segundo Abraham (1998), o Planejamento Avançado entre a maneira como o PDP é planejado e conduzido da Qualidade do Produto (APQP) foi desenvolvido e seu desempenho requer uma descrição genérica. em conjunto pela Ford, GM e Chrysler, em julho de Silva et al. (2000) observam que alguns pontos são 1994, com o objetivo de orientar seus fornecedores praticamente comuns para a caracterização de no esforço de melhoria de seus processos de qualquer PDP. Para estes autores, os seguintes planejamento avançado da qualidade. O APQP elementos constituiriam um modelo de referência fornece um sistema estruturado que define e estabe- para a condução de um PDP: lece os procedimentos necessários para: • Fases/Atividades: definem a evolução temporal • assegurar que o produto satisfaça o cliente; de um processo de desenvolvimento de produto; • facilitar a comunicação entre os envolvidos • Recursos: suportam as pessoas no desenvolvimen- (fornecedor e montadora); to das atividades de desenvolvimento de produtos. Incluem conceitos, filosofias, métodos, técnicas, • garantir o cumprimento dos procedimentos e das ferramentas e sistemas que podem ser aplicados em atividades nos prazos; uma ou mais das atividades/fases do PDP; • minimizar riscos e custos associados a problemas • Organização: refere-se à estrutura organizacional de qualidade do projeto do produto e processo, responsável e executora das atividades deste com base na abordagem do trabalho em equipe. processo bem como aos aspectos ligados às relações no trabalho; Na perspectiva do APQP, o PDP é composto de cinco etapas conforme seguem (GONZALEZ e MIGUEL, 2000): • Informação: dimensão referente ao fluxo de informa- ção existente neste processo, ou seja, os dados, sua i. Planejamento e Definição do Programa – Determina- estrutura e o formato como estes circulam. ção das necessidades e expectativas dos clientes de forma a planejar e definir um programa de qualidade; O contexto das relações apresentadas nesta seção pode ser vizualizado na Figura 2. ii. Projeto e Desenvolvimento do Produto – Planeja- mento e projeto do produto, e construção e teste 3 A norma QS-9000 é a harmonização do Manual de Qualidade Assegurada de Fornecedores da Chrysler, Norma de Sistema da Qualidade Q-101 da Ford, e Metas para Excelência da General Motors, com a contribuição dos Fabricantes de Caminhões. A norma QS-9000 é complementada por seis manuais técnicos de referência. São eles: Measurement Systems Analysis – MSA (guia para análise do sistema de medição), Statistical Process Control – SPC (guia de controle estatístico de processo), Quality System Assessment – QSA (guia para avaliação do sistema da qualidade), Failure Mode and Effects Analysis – FMEA (guia de FMEA de projeto e processo), Production Part Approval Process – PPAP (manual para aprovação das primeiras peças de produção) e Advanced Product Quality Planning – APQP (guia para o planejamento do desenvolvimento do produto e guia para elaboração do plano de controle).
  • 4. 16 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 do protótipo, com o objetivo de assegurar que as de desenvolver produtos e processos de uma maneira especificações próximas das finais atendam à Voz “extraordinária” representa, na atual conjuntura, uma do Cliente; valiosa arma competitiva. Clark e Wheelwright (1992) enumeram três grandes forças que tornam as ativida- iii. Projeto e Desenvolvimento do Processo – Desen- des de desenvolvimento cada vez mais importantes: volvimento de um sistema de manufatura e seus respectivos planos de controle para obter produ- • Intensa competição internacional: cada vez mais tos de qualidade; aumenta o número de empresas capazes de competir em nível “classe mundial”; conseqüen- iv. Validação do Produto e do Processo – Validação temente, a competição vai se tornando cada vez do processo de manufatura através da avaliação mais agressiva. de uma corrida piloto de produção; • O mercado tem-se tornado mais fragmentado: os v. Retroalimentação, Avaliação e Ação Corretiva – O clientes estão mais sensíveis às diferenças entre planejamento da qualidade não termina com a valida- os produtos e sentem-se mais atraídos por Figura 2 – Relações entre o PDP e as estratégias de negócio e de projeto. ção do processo e sua instalação. A avaliação da produtos que fornecem soluções para suas efetividade do esforço de planejamento da qualidade necessidades e problemas específicos. do produto deve ser feita com foco na redução da variação, na satisfação do cliente, na melhoria da qua- • Grande e rápida mudança nas tecnologias: o lidade e do custo da entrega e assistência técnica. crescimento do conhecimento científico e a evolução tecnológica têm criado novas opções A norma QS-9000 não será mais utilizada a partir de para o atendimento das diversas e crescentes Dezembro de 2006 e será substituída pela norma ISO/ necessidades dos mercados, aumentando as TS-16949. No entanto, para os fornecedores das soluções disponíveis para engenheiros e profissionais de marketing na busca por novos montadoras Ford, GM e Daimler-Chrysler, os manuais produtos. As novas tecnologias em áreas como técnicos como o do APQP e do Plano de Controle materiais, eletrônica e biologia têm, muitas continuarão sendo referenciados pela ISO/TS-16949 vezes, mudado a natureza da competição (MUNRO, 2002; LUPO, 2002). existente nestas áreas. 4 Elementos para a melhoria do De forma semelhante, Pine II (1994) destaca a necessida- desempenho no contexto do de de as empresas desenvolverem, produzirem, Processo de Desenvolvimento comercializarem e entregarem produtos com suficiente de Produtos variedade e personalização, atendendo de modo cada vez mais customizado o mercado. Tal padrão de demanda tem induzido uma gradual diminuição dos ciclos de No ambiente turbulento atual, as competências em desenvolvimento e de vida dos produtos. Estas tendên- desenvolvimento de produto e processo tornaram-se cias têm forçado as organizações a aprimorarem seus um ativo organizacional com impacto significativo na processos de desenvolvimento de produtos de modo a definição da competitividade das empresas. Ser capaz torná-los mais ágeis, eficientes e robustos.
  • 5. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 17 Estas forças têm atuado nos mais variados setores estabelecer uma efetiva gestão do conhecimento. industriais, afetando até mesmo indústrias maduras Dentro deste contexto, segundo Probst et al. (2002), a onde os ciclos de vida são historicamente longos, a gestão do conhecimento lida com os seguintes tecnologia já está madura e o mercado estável. Portan- grandes processos dentro da empresa: to, torna-se fundamental implementar uma estratégia que possibilite levar adiante o melhoramento contínuo • Identificação do conhecimento: tanto os conheci- do desempenho do PDP. mentos internos quanto externos não estão automaticamente visíveis, portanto, as organiza- Nesta direção, a presente seção examina as seguintes ções devem analisar e descrever o ambiente de questões fundamentais na busca deste objetivo: conhecimento da empresa; • O papel da gestão do conhecimento no PDP e, de modo mais específico, discute o que caracte- • Aquisição do conhecimento: as empresas rizaria um sistema de aprendizagem de “loop importam conhecimento de várias fontes externas duplo” no mesmo; como especialistas, outras empresas, clientes, fornecedores, concorrentes e parceiros; • A necessidade de gerenciar adequadamente a escassez de atenção das pessoas, para que a • Desenvolvimento do conhecimento: consiste no aprendizagem ocorra dentro do PDP; desenvolvimento de novas habilidades, novos produtos, idéias melhores e processos mais • O que se entende por melhoria de desempenho eficientes. Inclui a criação de competências que no PDP. ainda não existem dentro ou fora da empresa; • Partilha ou distribuição do conhecimento: signifi- Finalmente, elabora uma estrutura conceitual em que a aprendizagem de “loop duplo” é inserida no contexto ca a transferência de conhecimento entre um do planejamento, condução e avaliação de projetos de determinado grupo de funcionários, entre indiví- desenvolvimento como um catalisador da melhoria duos, dentro de equipes ou grupos de trabalho; contínua das atividades de desenvolvimento. • Utilização do conhecimento: consiste na sua 4.1. Gestão do conhecimento no Processo aplicação e visa garantir que a empresa utilize de Desenvolvimento de Produtos efetivamente o seu know-how; • Retenção do conhecimento: objetiva construir a Conforme indica o Figura 3, o tema gestão do conhe- “memória” da empresa, possibilitando que grande cimento tornou-se mais presente nos últimos anos parte do conhecimento não seja perdido em dentro do PDP. conseqüência da rotação ou saída de pessoas. 12 Para que seja possível tratar o conhecimento como 10 recurso que possa ser gerido e explorado através N ° d e art ig o s 8 deste conjunto de processos, a administração deve 6 ainda acrescentar dois elementos construtivos na 4 organização, quais sejam: uma estrutura para o 2 estabelecimento de metas de conhecimento e um 0 mecanismo de avaliação (ver Figura 4). 1999 2000 2001 2003 Ano Figura 3 – Número de artigos sobre gestão do conhecimento Feedback no PDP apresentados no Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto. Fontes: Anais do 1°, 2°, 3° e 4° CBGDP. Dentre vários fatores, o crescente interesse pelo tema no PDP pode ser relacionado com a intensificação da competição no mercado que motiva as empresas a melhorarem suas competências de desenvolvimento de produto e criar/agregar outras ao longo do tempo. O fortalecimento das competências atuais e a criação Figura 4 – Elementos construtivos da gestão do conhecimento de novas competências dependem da capacidade de segundo Probst et al. (2002).
  • 6. 18 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 A gestão do conhecimento no PDP envolve várias número de empresas se encontram ainda trabalhando atividades que lidam com os processos listados por com a aprendizagem no modo de “loop único”. Para Probst et al. (2002). Várias características presentes uma organização caminhar para a aprendizagem de no PDP tornam o processo de gestão do conheci- “loop duplo” várias ações e atitudes devem ser mento mais complexo. Exemplos dessas característi- desenvolvidas. Neste contexto, baseando-se em cas são apresentados a seguir: estudos de caso, Hameri e Nihtilã (1998) listam alguns requisitos que devem estar presentes no PDP para • É composto de atividades intensivas em conheci- que a aprendizagem de “loop duplo” ocorra: mento (tanto explícito como tácito); • As etapas do desenvolvimento de produtos • É um processo pouco estruturado, composto de devem estar claramente definidas e documentadas, atividades muitas vezes simultâneas e que permitindo, também, que as mudanças ocorridas interagem continuamente; em cada produto e projeto sejam retidas. Não é suficiente que o PDP esteja apenas formalizado e • Cada ciclo de projeto apresenta desafios próprios documentado, ele também deve estar estruturado e, em cada ciclo, o conhecimento sobre o projeto de modo a assegurar que o PDP proposto pela deve ser disseminado rapidamente dentro da organização suporte efetivamente as atividades organização; diárias e os papéis desempenhados pelos indiví- duos durante o desenvolvimento de produtos. • É um processo multidisciplinar que necessita integrar Cabe à gerência zelar pela observação destes o conhecimento de vários especialistas e funções. cuidados no PDP; Em face à complexidade da gestão de conhecimento • A gerência deve garantir que, em todos os níveis existente no PDP, este trabalho se limita a focalizar os organizacionais, exista um entendimento comum do PDP. Neste sentido, desde as fases iniciais de processos de retenção, distribuição e utilização de desenvolvimento, deve-se estabelecer claramente conhecimentos dentro do PDP. Esses três processos os objetivos de desempenho para cada atividade e são vistos sob a ótica da estruturação de práticas que membro do time, detalhando-os em um nível permitam uma aprendizagem reflexiva no mesmo. Para adequado de compreensão; isto, resgata o conceito de aprendizagem de “loop duplo” descrito na seção seguinte. • Na fase de conceituação, nas fases inicial e final do desenvolvimento, e também no follow-up, a gerência 4.2. Aprendizagem de “loop duplo” deve primordialmente propiciar um clima para a efetiva participação e envolvimento de todo o time. Segundo Argyris (1976; 1977), a aprendizagem Após o estabelecimento do conceito do produto e organizacional pode ser dividida em aprendizagem com o avançar das atividades, a gerência deve se de “loop único” ou “loop duplo”. A aprendizagem concentrar nas atividades de controle, de modo a de “loop único” ocorre quando erros são detectados assegurar o cumprimento dos planos e metas. e corrigidos mas sem implicar em nenhum impacto efetivo na maneira como as atividades são planeja- • Deve existir, para todos os membros do time, uma das e executadas nas organizações. A aprendizagem contínua coleta e análise de dados referentes ao de “loop duplo” inclui além da detecção e correção desempenho das atividades de desenvolvimento. dos erros, o questionamento e modificação dos Isto demanda naturalmente um esforço extra por parte da empresa, e requer que a mesma propicie objetivos, políticas, normas e procedimentos recursos (técnicas, métodos, ferramentas e vigentes. No contexto de um PDP, a aprendizagem de sistemas) e tempo para a devida realização destas “loop único” implica apenas na realização de atividades. Cada membro do time de desenvolvi- atividades do tipo “apagar incêndios”,4 na medida mento deve estar motivado e apto para documen- que o desenvolvimento avança e problemas vão tar suas atividades, coletar os dados para avaliar sendo identificados, enquanto que a aplicação da seu desempenho e tomar ações pertinentes na aprendizagem de “loop duplo” promove a sua ocorrência de problemas. contínua melhoria por meio de uma sistemática de revisão e melhoramento das atividades. Para que a aprendizagem de “loop duplo” seja inse- rida no âmbito do PDP de uma organização, esta deve É preocupante que mesmo tendo decorrido quase três empreender esforços para que a aprendizagem tam- décadas desde a publicação desse conceito, grande bém ocorra nos demais processos e áreas existentes. 4 Entende-se por ações do tipo “apagar incêndios”, ações caracterizadas pela alocação não prevista de projetistas e/ou outros recursos para consertar problemas descobertos tardiamente no desenvolvimento.
  • 7. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 19 Vários esforços devem ser realizados nesta tarefa. • Variedade operacional: existem diferentes maneiras Dentro deste objetivo, Nevis et al. (1995)5 identifica- para se atingir os objetivos de trabalho. Uma ram dez fatores facilitadores que induzem ou dão organização que dá suporte a variações de suporte à aprendizagem: estratégias, políticas, processos e estruturas de pessoal tem mais facilidade para se readaptar caso • Imperativo da varredura minuciosa: a organização surjam problemas imprevistos. Ela conta com mais deve empreender esforços para sistematicamente alternativas de ação e talvez ofereça uma riqueza realizar uma varredura minuciosa do ambiente; maior de estilos e de interpretações a todos seus membros. Isso ajuda a enriquecer a aprendizagem • Existência de lacunas de desempenho: o feedback futura de uma forma que seria impossível com uma é essencial para a avaliação. Particularmente, abordagem simplificada; quando revela um resultado inferior ou fracasso, a análise de suas causas freqüentemente proporcio- • Advogados múltiplos: quanto maior o número de na novos insights e conduz à experimentação e ao adeptos que promovam a idéia nova, mais rápida e desenvolvimento de novas habilidades. A extensivamente a aprendizagem ocorrerá. Mais consciência da existência de uma lacuna de ainda, num sistema eficaz, qualquer membro deve desempenho é importante porque motiva a poder atuar como um agente de conscientização e organização a reconhecer que a aprendizagem da melhoria ou como advogado do desenvolvi- precisa ocorrer ou que algo já aprendido pode não mento de novas competências. Desta forma, são estar funcionando bem. Uma razão pela qual possíveis tanto as iniciativas de cima para baixo, organizações bem estabelecidas com histórico de quanto as de baixo para cima; sucesso duradouro podem, paradoxalmente, deixar a desejar em aprendizagem sistêmica é que passam • Liderança envolvida: a liderança em todos os níveis por longos períodos em que o feedback é predo- organizacionais deve estar engajada na minantemente positivo. A falta de evidências não- implementação da visão. Os líderes somente poderão confirmadoras é uma barreira para a aprendizagem; obter dados importantes e fornecer poderosos modelos de desempenho através do envolvimento • Preocupação com a medição: a organização deve direto que reflita coordenação, visão e integração; desenvolver métricas e realizar medições para dar suporte à aprendizagem; • Perspectiva sistêmica: os participantes-chave devem pensar na interdependência das variáveis • Mentalidade experimental: a organização deve dar organizacionais em termos abrangentes. Isto envolve ênfase à experimentação em bases correntes; o grau com que gerentes verificam se as causas de suas dificuldades estão nos próprios sistemas • Clima de abertura: os limites em torno do fluxo de internos em vez de atribuí-las a fatores externos. informação devem ser permeáveis de tal modo que as pessoas possam fazer suas próprias observa- 4.3. A Economia da Atenção ções. Grande parte da aprendizagem informal é uma função das interações diárias entre as pessoas, em Na conjuntura atual, a discussão da aprendizagem no sua maioria não planejadas. Além disso, a aprendi- PDP não pode omitir um problema que vem se agravan- zagem é promovida pela oportunidade de reunião do cada vez mais nas organizações: a insuficiência de com outros grupos e níveis mais altos da gerência. atenção humana. Segundo Davenport e Beck (2001), a As pessoas precisam de liberdade para expressar humanidade encontra-se na era da Economia da Aten- seus pontos de vista através do desacordo legítimo ção.6 Tem sido cada vez mais crítico às empresas con- e do debate. Outro aspecto crítico é o grau com que quistar e preservar a atenção de atores como consumi- erros são compartilhados e não ocultados; dores, acionistas e empregados, além de saber distribuir a própria atenção perante tantas opções atraentes e • Educação contínua: existência de um compromisso tanta sobrecarga de informação. As tecnologias moder- com a educação no longo prazo em todos níveis nas continuarão cada vez mais acessíveis, oferecendo da organização. Deve haver um sentimento novas e fascinantes características que prometem patente de que a aprendizagem e o treinamento melhorar os nossos contextos de informação, mas elas prático nunca terminam; redundarão em maiores necessidades de atenção. 5 Na tentativa de compreender o que seria uma organização que aprende, os autores realizaram observações intensivas no campo em quatro empresas: Motorola, MIC, EDF e Fiat. 6 O termo “Economia da Atenção” foi cunhado por estes autores para caracterizar esse novo contexto em que o capital, o trabalho, a informação e o conhecimento são fatores relativamente abundantes, o que atenua as dificuldades para se começar um negócio, conquistar acesso a clientes e mercados, desenvolver uma estratégia, montar um site na web etc. Já a atenção humana, tem se tornado um recurso cada vez mais escasso.
  • 8. 20 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 Neste novo contexto, o PDP concorre com outras usados na construção dos protótipos e quaisquer atividades em busca da atenção das pessoas serviços que a empresa, por ventura, use. envolvidas. A aprendizagem no PDP para ser efetiva necessita do tempo e da dedicação das pessoas De acordo com McGrath (1996), a produtividade envolvidas no processo. Faz-se necessário no PDP é basicamente definida em função dos implementar estratégias que habilitem as atividades seguintes fatores: do PDP a concorrer eficazmente com atividades de outros processos existentes na empresa para atrair a • tempo do ciclo de desenvolvimento, atenção das pessoas afetadas. • nível de perdas no desenvolvimento, Davenport e Beck (2001) sugerem algumas abordagens • grau de utilização dos recursos, e para lidar com o problema da escassez de atenção: • potencial de atrair e reter talentos técnicos. • Utilizar a tecnologia para defender seus recursos Por esta perspectiva, seria possível melhorar a produti- de atenção contra intromissões indesejadas. Para vidade no PDP buscando-se a redução do tempo de este fim, dispositivos para peneiramento de desenvolvimento, a redução dos casos de cancelamen- informações especialmente adaptados às mídias to ou redirecionamento de projetos, e pela alocação das existentes podem ser aplicados (ex.: dispositivos pessoas mais capazes, criativas e produtivas. de filtragem de e-mails, dispositivos de filtragem ou bloqueio de chamadas telefônicas etc.); 4.5. Uma estrutura conceitual de gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” • Aproveitar as lacunas de atenção ambiental existentes (situações em que existe uma ampla Os elementos apresentados nesta seção podem ser oferta de atenção, como em salas de espera, no relacionados tal como na Figura 5 de modo a articular refeitório, no trânsito etc.), aplicando a informa- uma estrutura conceitual para a consideração da ção neste momento; gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” no contexto competitivo exposto. • Utilizar a tecnologia para tornar as mensagens enviadas mais customizadas às necessidades Os seguintes pontos constituem a estrutura das pessoas; conceitual proposta: • Utilizar a tecnologia para estruturar o conteúdo • A melhoria do desempenho no contexto do PDP da informação de maneira que a atenção seja representa um resultado direto da articulação dos facilmente conquistada. Isto pode ser obtido seus elementos constituintes. Como as estratégias através da utilização de técnicas de comunicação de negócio e de projeto afetam a formação desses na elaboração da informação. Por exemplo, pode- elementos, o desempenho do PDP deve também se usar recursos visuais que façam mudanças no ser considerado como um processo sujeito a essas conteúdo, no formato, no tom, no nível de condições contextuais. envolvimento e assim por diante para atrair e reter a atenção do usuário da informação. • O conceito de melhoria contínua, adotado na gestão de sistemas de produção, pode ser 4.4. Melhoria do desempenho do Processo estendido às atividades de desenvolvimento buscando-se o aprimoramento contínuo do PDP de Desenvolvimento de Produto por meio da aprendizagem de “loop duplo”. A sua adoção tem um impacto positivo em vários Clark e Fujimoto (1991), ao estudarem o desenvolvi- elementos. Obtém-se uma melhor utilização dos mento de produtos no setor automobilístico, recursos porque os erros e problemas são definiram que o desempenho do PDP que afeta a continuamente reduzidos. Obtém-se uma capacidade do produto em atrair e satisfazer os redução do número de projetos cancelados ou consumidores está assentada em três aspectos: (a) que necessitam ser redirecionados devido ao lead time, (b) qualidade do produto desenvolvido e aumento do conhecimento sobre PDP. Melhora- (c) produtividade. Segundo estes autores, o lead se a habilidade para atrair e reter os talentos time é o tempo gasto no projeto, da concepção ao técnicos porque o ambiente de trabalho torna-se lançamento do produto comercial, mas essa dimen- mais motivador. Assim, o lead time, a qualidade são não é incorporada à produtividade. A produti- do produtos desenvolvidos e a produtividade vidade em um dado projeto é então definida pelo do PDP melhorariam em decorrência dos efeitos nível de recursos requeridos para seu desenvolvi- promovidos pela aprendizagem de “loop mento, incluindo horas trabalhadas, materiais duplo”.
  • 9. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 21 INPUT OUTPUT Figura 5 – Estrutura Conceitual de gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” Hameri e Nihtilã Figura 6 – Aplicação da estrutura conceitual de gestão do PDP com aprendizagem de “loop duplo” ao APQP
  • 10. 22 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 • A aprendizagem dentro PDP necessita ser analisa- Portanto, partindo-se da Figura 6, pode-se avaliar da dentro da ótica de que as atividades do PDP como em cada fase os elementos propostos pelo concorrem com as outras atividades existentes na APQP podem contribuir para o atendimento dos empresa na disputa pelo escasso recurso da objetivos de aprendizagem de “loop duplo” no atenção das pessoas. A utilização da Tecnologia desenvolvimento. da Informação pode tornar esse recurso mais escasso ainda ou viabilizar sua melhor utilização 5.1. A aprendizagem na fase de (DAVENPORT e BECK, 2001). Isso implica em conceituação do produto assegurar a participação das pessoas envolvidas no PDP sabendo gerenciar adequadamente a Nesta fase, a gerência deve gerar um entendimento escassez de atenção humana. comum dos processos de desenvolvimento e de avaliação. Os times de desenvolvimento devem 5 Aplicando a estrutura conceitual assegurar que os objetivos principais e os específicos de gestão do PDP ao APQP do projeto sejam bem entendidos. O modelo do APQP tem sido adotado por um grande Para o atendimento destes objetivos o APQP dispõe número de empresas sendo que, muitas vezes, os de alguns elementos: recursos investidos em sua implementação atingem valores expressivos. Trata-se de um modelo que vem i. Os objetivos de projeto; se consolidando como referência tanto nos meios industriais como no âmbito do ensino e pesquisa em ii. As metas de confiabilidade e qualidade; áreas como Engenharia de Produção e Engenharia de Produto. Dada a magnitude de sua projeção e suas iii. A lista preliminar de características especiais de proposições para a sistematização do PDP, o presen- produto e processo, que merecem atenção e te trabalho adota sua estrutura conceitual e controle especial durante a manufatura; metodológica como objeto de estudo. Até que ponto a iniciativa de estabelecer uma maneira mais discipli- iv. Plano de garantia do produto podendo conter os nada e estruturada no PDP pela adoção do “pacote” prescrito pelo APQP promove também a inserção e itens i, ii e iii, além de elementos como avaliação de desenvolvimento da aprendizagem de “loop duplo” requisitos de inovação tecnológica, complexidade, na organização? materiais, meio-ambiente, embalagem, serviço e manufatura ou qualquer outro fator que possa O desenvolvimento desta capacidade depende da colocar o projeto em risco. busca de certos objetivos-chave. Na Figura 6, o quadro localizado na parte superior aponta, em linhas Estes quatro elementos fazem parte dos outputs gerais, o papel a ser cumprido pela gerência e pelos desta fase. O APQP estabelece que os mesmos times de desenvolvimento no decorrer das fases de devem ser formalmente descritos e divulgados para conceituação, execução e follow-up do PDP, na o time de desenvolvimento. perspectiva de Hameri e Nihtilã (1998). Gonzalez e Miguel (2001) reportam que a implantação Na mesma figura, o quadro maior localizado na parte do APQP possibilitou a criação de uma linguagem inferior sintetiza o “pacote” do APQP em termos dos comum de comunicação entre todos os setores quatro elementos que constituem um modelo de PDP, participantes do desenvolvimento permitindo maior quais sejam: i) fases/atividades, ii) informação, negociação entre os membros do time na definição iii) recursos, e iv) organização. As cinco etapas de dos prazos para o cumprimento das diversas fases um projeto de desenvolvimento admitidas pelo desse processo. modelo do APQP (ver seção 2) são associadas às três fases consideradas por Hameri e Nihtilã (1998) e os Na fase de conceituação do produto, o APQP documentos, técnicas, métodos, ferramentas, sistemas conduz à clara definição das diretrizes do projeto, etc. prescritos pelo APQP para a condução das estimula a reflexão e antecipação de aspectos diferentes etapas de um projeto de desenvolvimento críticos ao desenvolvimento, incute uma disciplina são apresentados no corpo do quadro maior. pela formalização destas considerações de modo a facilitar a interação entre os atores envolvidos no A Figura 6 apresenta, portanto, as relações entre os desenvolvimento e propicia uma melhoria na quali- objetivos que devem ser atendidos para a aprendiza- dade da comunicação. Assim, suporta os objetivos gem de “loop duplo” e o instrumental fornecido pelo de aprendizagem tanto da gerência como do time de APQP, sob uma perspectiva temporal. desenvolvimento.
  • 11. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 23 5.2. A aprendizagem na fase de execução APQP, bem como a necessidade de terem os recur- do desenvolvimento sos adequados para executar tais atividades. Neste sentido, uma pesquisa realizada por Abraham (1998) Esta fase corresponde à segunda, terceira e quarta junto a uma amostra de fornecedores, revelou que, etapas do APQP que têm como propósito garantir em muitas empresas, as pessoas envolvidas com que os projetos do produto e do processo de PDP encontram dificuldades para implementar as produção atendam aos requisitos de desempenho e práticas propostas pelo APQP. Os principais fatores especificações de engenharia. inibidores seriam os seguintes: Aqui a gerência deve controlar as atividades do time • As pessoas podem não estar adequadamente obtendo um feedback on-line das mesmas enquanto treinadas para compreender a lógica do processo que os times avançam no desenvolvimento do de planejamento da qualidade do produto. produto e do processo, respondendo e lidando Ao não compreenderem esta lógica, elas se imediatamente com os problemas que surgem. Nos tornam alheias aos objetivos principais; ciclos de definição e resolução de problemas, os indivíduos envolvidos certamente aprendem com a • As pessoas demonstram ter dificuldade em própria experiência, contudo isso não implica na compreender os requisitos do texto do APQP. aprendizagem organizacional. Vale também ressaltar A interpretação do APQP pode ser vista como que este processo gera uma enorme quantidade e uma tarefa difícil;7 variedade de dados, informações e decisões que precisam ser organizadas e agregadas à base de • As pessoas podem não estar adequadamente conhecimentos da organização. treinadas no ferramental prescrito e enfrentar dificuldades para aplicá-lo; A proposta do APQP é justamente procurar disponibilizar para a gerência, de uma maneira • Face à estrutura enxuta das empresas, ao alto estruturada e prescritiva, inúmeras informações volume de produtos desenvolvidos e à necessi- sobre o projeto do produto e processo. Assim o dade de cumprimento de prazos, algumas etapas modelo do APQP prescreve vários documentos do APQP acabam sendo parcialmente suprimidas. como planos e relatórios, bem como testes que devem ser realizados e submetidos a uma análise crítica durante o desenvolvimento para fins de 5.3. A aprendizagem na fase de follow-up aprovação. Como exemplos de tais elementos podemos citar: FMEA de Projeto, Plano de Verifica- Esta fase corresponde à última das cinco etapas ção do Projeto, Plano de Controle e Construção de concebidas pelo APQP. Trata-se da fase mais pobre Protótipo, Formulário de Compromisso da Equipe em detalhes e informações no modelo do APQP. com a Viabilidade, Lista de Verificação da Qualidade do Produto/Processo, FMEA de Processo, Plano de Nela, cabe à gerência avaliar o desempenho do Controle de Pré-Lançamento, Plano de Análise dos processo de desenvolvimento de produto identifi- Sistemas de Medição, Plano de Estudo Preliminar da cando as áreas que precisam ou podem ser melhora- Capabilidade do Processo, Testes de Validação da das. Já os times de desenvolvimento devem obter Produção e Avaliação da Embalagem, entre outros sugestões de melhoria para o produto desenvolvido (AIAG, 1995). e para o processo de desenvolvimento em si e ganhar experiência com as lições aprendidas. A Mas até que ponto a simples introdução de diretrizes implementação destas modificações deve ser para a formalização dos conhecimentos promove acompanhada pela gerência, a quem cabe assegurar efetivamente a aprendizagem da gerência e dos a eficácia dos esforços de aprimoramento. times? Nesta fase, podem ser obtidos os três tipos de Para que esta abordagem seja bem sucedida nas resultados apontados a seguir: empresas, devemos considerar a necessidade das mesmas de serem capazes de compreender adequa- i. Redução da variação através de ações sobre os damente os requisitos e ferramentas abarcadas pelo processos produtivos existentes; 7 Um técnico responsável pelo desenvolvimento do APQP em uma montadora conduziu um estudo para avaliar o nível de leitura de seu texto. Utilizando um software específico para este fim, constatou que seu texto requer um nível de leitura equivalente ao do segundo ano do ensino superior. Diante desta dificuldade, muitas empresas têm de recorrer à ajuda de consultores.
  • 12. 24 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 ii. Partindo de estudos de satisfação do cliente, Um segundo aspecto é que o APQP traz consigo a identificar deficiências no produto e obter maior utilização de várias técnicas e ferramentas. A aprovação tomando as medidas necessárias para equipe de desenvolvimento deve conhecer e utilizar corrigi-las; a Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos (FMEA), Análise dos Sistemas de Medição (MSA), iii. Melhoria da qualidade, do custo e da entrega ao Benchmarking, Índices de Capabilidade, Sistemas à cliente mediante investigação dos dados e Prova de Erros (Mistake Proofing/Poka-yoke), problemas encontrados tanto na Entrega como na Fluxograma e Controle Estatístico de Processo Assistência Técnica (AIAG, 1995). (CEP). Além destas, a norma QS-9000, nas prescri- ções referentes ao Controle de Projeto, determina Entretanto, para que o conhecimento gerado na que dependendo das circunstâncias a empresa busca de tais resultados após a fase de execução do deve se qualificar também nas seguintes técnicas e desenvolvimento propriamente dito não fique ferramentas: Delineamento de Experimentos (DOE), circunscrito somente às pessoas que participaram do Desdobramento da Função Qualidade (QFD), projeto em questão e seja útil para evitar a ocorrên- Engenharia de Valor, Dimensionamento Geométrico cia das mesmas falhas em projetos futuros, é impera- e Tolerância (GD&T), Análise de Elementos Finitos, tivo estabelecer um mecanismo que incorpore aquilo Modelagem de Sólidos, Técnicas de Simulação, CAD/ que foi aprendido à base de conhecimento da CAE, Planos de Confiabilidade de Engenharia, Projeto empresa. Este mecanismo deve também facilitar o para Manufatura (DFM) e Projeto para Montagem reaproveitamento deste conhecimento num estágio (DFA) (ABRAHAM, 1998, p.110). Muitas destas não mais à montante do processo de desenvolvimentos são conhecidas e/ou dominadas pelos times de em projetos subseqüentes. Uma organização pode desenvolvimento. Portanto, para que uma empresa até estar conforme o modelo APQP mas sem este possa aplicar adequadamente o APQP, deve último mecanismo corre o risco de desperdiçar os despender recursos e tempo para capacitar seu esforços dedicados e ainda permanecer na aprendi- pessoal nas mesmas.9 Isto pode ser um fator bastante zagem de “loop único”. restritivo para sua implementação. Por outro lado, na medida em que a própria assimilação dos requisitos 6 Considerações gerais sobre a do APQP demanda esforços para aquisição de aprendizagem de “loop duplo” novos conhecimentos e capacitação em novas práticas, a sua adoção em si reforça a necessidade no APQP de tornar mais consistente o processo de aprendi- zagem organizacional. Após a discussão analítica do modelo APQP na seção anterior, são apresentadas a seguir algumas conside- Um outro aspecto que merece ser salientado é que a rações gerais sobre as possibilidades da sua adoção adoção do APQP implica em privilegiar as atividades contribuir para a aprendizagem de “loop duplo”. de planejamento. Segundo Stamatis (1998), para muitas organizações, a priorização do planejamento Um primeiro aspecto a ser levantado sobre esta somente ocorre após uma grande mudança cultural na questão é o caráter compulsório com que o APQP maneira de conduzir as atividades de desenvolvimen- normalmente é implementado nas empresas.8 Ao to. Portanto, as empresas devem evitar armadilhas que implementarem o APQP, as empresas (ex.: fornecedo- inibam esta mudança. As principais armadilhas res de primeira e segunda camadas das montadoras) encontradas pelas empresas segundo este autor são: devem adotar um conjunto mínimo de requisitos, independentemente da sua responsabilidade pelo i. Falta de suporte da gerência e falta de comprome- projeto do produto. Neste sentido, não se considera timento da mesma com o planejamento; a necessidade de reduzir ou amenizar a aplicação de alguns requisitos para produtos bastante simples ou ii. Alocação de um tempo insuficiente para as para produtos projetados pelo cliente que apenas atividades de planejamento; necessitam de algumas modificações. Além disso, os cronogramas de implementação comumente aperta- iii. Convivência com práticas do tipo “apagar incêndi- dos acabam prejudicando a qualidade das atividades os”, reconhecendo as pessoas mobilizadas como realizadas (ABRAHAM, 1998). “heróis” em detrimento justamente dos profissio- 8 O APQP não é uma aplicação obrigatória, mas o fornecedor deve utilizá-lo como um manual de referência; entretanto, alguns de seus requisitos específicos devem ser implementados integralmente. 9 Algumas destas técnicas exigem uma formação anterior para que sejam devidamente compreendidas.
  • 13. Torres Jr., N.; Miyake, D. I. – A inserção da aprendizagem de “loop duplo”... 25 nais que planejam as atividades de maneira correta 7 Conclusão visando a prevenir tais práticas paliativas. O PDP em muitas organizações ainda se situa no Um quarto aspecto da adoção do APQP pelas estágio da aprendizagem de “loop único”. As empresas, ainda segundo Stamatis (1998), é a exigên- considerações colocadas neste trabalho podem ser cia da implantação de times multifuncionais para o úteis aos gestores de desenvolvimento empenha- desenvolvimento. Esta abordagem promove o dos em conduzir o PDP de sua organização a um compartilhamento do conhecimento e expertise de estágio evolutivo superior. diferentes áreas funcionais e especialistas possibili- tando oportunidades para a geração de soluções e A formulação e difusão de modelos referenciais como adoção de melhorias no projeto e/ou no processo. o APQP têm como motivação tornar mais robusto o Contudo, tal abordagem requer uma estrutura PDP e melhorar o desempenho de suas atividades. organizacional e de comando que propicie a formação de times multifuncionais e suporte suas ações. Nas Contudo, como discutido ao longo das seções 5 e 6, a empresas que continuam com uma estrutura rígida, aprendizagem de “loop duplo” nem sempre é assegu- departamentalizada e centralizadora, a rada pela adoção do APQP como modelo referencial multifuncionalidade poderá ser obstruída. de planejamento, organização e condução do PDP. O estabelecimento de um ambiente de aprendizagem de “loop duplo” requer a implementação de mecanismos Finalmente, vale observar que um projeto típico de desenvolvimento pode gerar centenas de documentos e recursos complementares. e conter milhares de dados. Caso o projeto seja conduzido passo a passo em conformidade com o Como extensão do presente trabalho, sugere-se APQP isso pode se acentuar. Portanto, a adoção do pesquisar se a adoção de um outro modelo referencial APQP requer um gerenciamento adequado de docu- (e.g. PMBOK,10 DFSS11) suportaria de forma mais mentos e dados. Diante desta necessidade, várias favorável a aprendizagem de “loop duplo” no ambien- empresas têm-se tornado usuárias de softwares que te de desenvolvimento de produtos. permitem gerenciar apropriadamente os documentos e dados gerados ao longo do desenvolvimento. Vale Referências lembrar que uma mudança qualquer em um documento pode implicar na revisão de outros e na necessidade ABRAHAM, M. O futuro do desenvolvimento de de divulgação, análise e aprovação por várias áreas, produtos e da cadeia de fornecimento da indústria pessoas e, até, fornecedores ou clientes (ADAMS, automobilística. São Paulo, 1998. 175 p. Tese 2000; MITCHELL, 2001). Conseqüentemente, para (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de uma efetiva implementação do APQP, faz-se necessá- São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção. rio estruturar um sistema de gerenciamento da informação que possa suportar todo este complexo ADAMS, L. Software helps you mind your APQPs. processo de gestão de conhecimento retendo a Quality, p.42-45, Out. 2000. atenção das pessoas envolvidas nas diferentes etapas do PDP. Naturalmente, isto implica na necessi- AIAG, APQP - Advanced Product Quality Planning and dade das empresas de investir recursos significativos Control Plan – Chrysler, Ford and General Motors, 1995. na aquisição de equipamentos e softwares, bem como no treinamento de seu pessoal para se capacitar na ARGYRIS, C. Single-loop and double-loop models in exploração dos recursos proporcionados pelas research on decision making. Administrative Science Tecnologias de Informação com tal propósito. Quarterly, v.21, p.363-377, Sept. 1976. Os aspectos aqui discutidos sugerem que a iniciativa ARGYRIS, C. Double loop learning in organizations. de implantar o APQP numa organização e o posterior Harvard Business Review, p.115-124, Sept.-Oct. 1977. processo de realização de projetos de desenvolvimento em conformidade com o modelo do APQP têm implica- CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz ções distintas sobre a aprendizagem de “loop duplo”. e Terra, 1999, p.21-172. Num primeiro momento, a adoção do APQP tende a ser mais um fator motivador da aprendizagem. Já a sua CLARK, K.B.; FUJIMOTO, T. The parameters of aplicação em regime pode ser um fator promotor da performance: lead time, quality, and productivity. In: aprendizagem de “loop duplo”. De qualquer forma, o Product Development Performance Strategy, APQP por si só não seria um fator suficiente. Organization, and Management in the World Auto 10 Project Management Body of Knowledge 11 Design for Six Sigma
  • 14. 26 Produto & Produção, vol. 7, n. 2, p. 13-26, jun. 2004 Industry. Boston: Harvard Business School Press, MUNRO, R.A. Future of APQP and PPAP in Doubt. 1991, p.67-95. Quality, p.28-32, Jan. 2002. CLARK, K.B.; WHEELWRIGHT, S.C. Revolutionizing NEVIS, E.C.; DIBELLA, A.J.; GOULD, J.M. product development: quantum leaps in speed, Understanding Organizations as Learning Systems. efficiency, and quality. New York: The Free Press, 1992. Sloan Management Review, p.73-84, Winter 1995. DAVENPORT, T.H.; BECK, J.C. A economia da atenção. Rio de Janeiro: Campus, 2001. PINE II, B.J. Personalizando Produtos e Serviços: Customização Maciça. São Paulo: Makron Books, 1994. GONZALEZ, J.C.S.; MIGUEL, P.A.C. APQP: uma ferramenta para estruturação do desenvolvimento do PORTER, M.E.; MILLAR, V.E. Como a informação lhe produto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO proporciona vantagem competitiva. In: Revolução em DO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO. Anais do tempo real – Gerenciando a tecnologia da informa- II CBGDP. São Carlos, 2000. ção, 2a ed., Rio de Janeiro: Campus, 1997. GRIFFIN, A.; PAGE A.A. PDMA Success Measurement PROBST, G. et al. Gestão do conhecimento: os Project: Recommended Measures for Product elementos construtivos do sucesso. Porto Alegre: Development Success and Failure. Journal of Product Bookman, 2002. Innovation Management, v.13, p. 478-496, 1996. SILVA, S.L.; AMARAL, D.C.; ROZENFELD, H. HAMERI, A.; NIHTILÃ, J. Data-based learning in Portais da internet como ferramenta para a gestão de product development. Scandinavian Journal of conhecimentos no desenvolvimento de produtos. In: Management, v.14, n.3, p.223-238, 1998. CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO DO DE- SENVOLVIMENTO DE PRODUTO. Anais do II LUPO, C. ISO/TS 16949 the clear choice for CBGDP. São Carlos, 2000. automotive suppliers. Quality Progress, Oct. 2002. McGRATH, M.E. Setting the pace in product STAMATIS, D. H. Advanced Quality Planning: a development: guide to product and cycle-time commonsense guide to AQP and APQP. New York: excellence. Butterworth-Heinemann, 1996. Quality Resources, 1998. MITCHELL, E. Web-based APQP keeps everyone Submetido em abril/2004 connected. Quality, p.40-44., July 2001. Aprovado em agoosto/2004