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Título: Um Discurso sobre as Ciências
Referência: SANTOS, Boaventura de (1987); Um discurso sobre as Ciências; Edições * Afrontamento;
Porto; 1998.
Dados sobre o autor: Boaventura Sousa Santos, é sociólogo, professor da faculdade de economia da
Universidade de Coimbra.EspecializadoemSociologiadoDireitoe doEstadoe emSociologiadaCiência,
com investigações empíricas realizadas no Brasil, Portugal e Cabo Verde. Tendo publicado inúmeros
trabalhos,nomeadamente:ODiscursoe o Poder (1980); O Estado, o Direito e a Questão Urbana (1982);
A Justiça Popular em Cabo Verde (1884), entre outros.
Na sua obra supracitada,oautor começapor debruçar-se sobre a existência do homem desde o tempo
passado, presente e o futuro. Nesta reflexão, o autor faz uma comparação simultânea, relacionando a
existência do homem ao conhecimento científico produzido através dos tempos. Para ele, a “primeira
imagem” que nós temos dos “progressos científicos produzidos” no passado são experiências
dramáticas, mas, recentes. E as do futuro, exigem uma reflexão aprofundada dos limites do rigor
científico.
Para o autor vivemosumafase de transição“difícil de entendere percorrer”. Segundoele,“é necessário
voltaràs coisassimples”.Ouseja, colocarquestões para perguntas simples. E deu como exemplo, Jean
Jacques Rosseau, na sua obra Discurso sobre as ciências e as artes.
Do mesmo modo que, há 200 anos atrás, a fase de transição, conhecida no mundo científico, causou
perplexidadenosespíritosdaépoca,fazendo-osreflectirsobre osfundamentosdasociedade. Esta fase,
está de novo a causar a mesma perplexidade, mas desta vez, ela deixa-nos uma “sensação de perda
irreparável”.Ouseja,perdemosaconfiançaepistemológica.E,de novo, encontramos a necessidade de
reformular perguntas, tais como, o papel do senso comum e do conhecimento científico no nosso
quotidiano.
Paradigma Dominante
Para o autor, a ciência está a viver os seus últimos dias. Há uma nova ordem científica que se impõe.
Esta nova ordem fará uma síntese, ou funcionará como um pólo catalisador, entre, o que é ciências
naturais e sociais, conhecimento científico e senso comum. A nova ordem cientifica basear-se-á num
novo modelo – que convencionou chamar de “racionalidade científica” - que convergirá essas duas
ciências, dois conhecimentos, num todo.
O novo paradigma científico traz consigo novas formas/fases de investigação:
- as observações da natureza dão lugar á observação dos factos sociais;
- a formulação de leis naturais dão lugar á formulação de leis sociais;
- o método da experiência e verificação dá lugar á objectividade;
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E, desta forma, as ciências sociais conseguem reivindicar, para si, “um estatuto epistemológico e
metodológico próprio, com base na especificidade do ser humano”. Esta nova ciência vem se chamar
“Física Social”que propõe estudarosfenómenossociaiscomose fossemosfenómenos naturais, ciente
dos obstáculos que enfrentará, uma vez que, as ciências sociais não dispõem, á priori, de teorias/leis
universais e explicativas dos fenómenos sociais, semelhante às ciências naturais.
Esse atraso se verifica,dadoaoobjecto de estudo ser diferente. Nas ciências sociais trabalha-se com o
serhumano,há imprevisibilidadedo comportamento humano,poroutrolado, o próprio cientista social
encontra-se inserido no contexto social da sua investigação, influenciado pelos valores sociais, o que
pode tornar difícil oprocessode conhecimento.Parao autor, “os obstáculos são enormes, mas não são
insuperáveis”. Pensa ele de que, “com o tempo e dinheiro, poderá vir a ser reduzido e eliminado.”
As ciências sociais propõem um novo estatuto metodológico, diferente das ciências naturais. Um
método qualitativo, que estuda os fenómenos sociais, com o objectivo de obter um conhecimento
intersubjectivo,descritivoe compreensivoemvezde ummétodoquantitativo,atravésdoqual se obtém
um conhecimento objectivo, explicativo e metodológico.
Crise do Paradigma Dominante
Para o autor, as ciências naturais vivem, actualmente, (nesta fase de transição), uma crise, que exige,
igualmente,umareflexãosobre o limite e o rigor científico. Depois do fenómeno da industrialização e
globalização,asciênciasmudaramomodode produçãocientífica. A ciênciamoderna, proletarizou-se, e
passou a servir a “interesses militares e económicos”.
O Paradigma Emergente
Diante deste cenário, o autor defende que, deverá deixar de fazer distinção entre ciências naturais e
ciênciassociais.Oautorpropõe um novoparadigma que se assenta na concepção mecanicista, ou seja,
na relaçãoentre sujeito/objecto que se fundanasuperaçãodoconhecimentoentre ambos, e passamos
a citar “em vez de serem os fenómenos sociais a ser estudados como se fossem fenómenos naturais,
seremosfenómenosnaturaisestudadoscomo se fossem fenómenos sociais.” Desta forma, as ciências
naturais tenderão a aproximar-se mais da “humanidade” e as ciências sociais seriam o agente
catalizador/fusor entre as duas ciências. Ou seja, este novo paradigma, colocaria a pessoa, enquanto
autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento.
Por outrolado,o autor realçou maisum aspecto,que diferencie, a ciência moderna da pós-moderna. A
ciênciaModernaé feitanumapluralidademetodológica,apesardisso,elaproduz pouco conhecimento.
As excessivasespecializações,tornaramocientista,umignorante.Aocontrário, daciênciapós-moderna,
esta tenta dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas.
Enquanto, que a ciência moderna desprezava o senso comum, por outro, a ciência pós-moderna
valoriza.Oautor, acreditaque, apesardoconhecimento vindo do senso comum possa ser mistificador,
ela pode vir “enriquecer a nossa relação com o mundo”, dadas outras características, e por esta razão
poder constituir-se no novo paradigma emergente nas ciências.
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Ideação: No seu livro, o autor, fala sobre o papel da ciência e das produções científicas dos últimos
séculos. O autor analisa através dos tempos e mostra-nos que nem sempre a ciência se volta para a
construção de um mundo melhor. Por outro lado, mostrou a capacidade do homem inventar e
reinventar num curto espaço de tempo.
No século XVIII, surgia uma nova ciência - a Ciência Social. Esta demorou alguns anos para impor-se,
como tal,enfrentouinúmeras questões,no meio da ordem científica que reinava naltura, que aceitava
como estudo científico,apenas,se este fosse baseado na natureza e compreendesse as várias fases de
investigação pré-estabelecidas.
Volvidos uns anos, a ciência social, igualmente como as outras ciências está a viver uma crise - fase de
transição - e reclama para si novas formas de produção de conhecimento científico e metodológico.
Esta passa pela utilização duma nova metodologia. O autor, propõe que os estudos efectuados nas
ciênciassociaispassempelousoda metodologia qualitativa, em vez de, quantitativa. O autor entende
assimque,destaforma,as ciênciassociaisestarãoapassar por umnovoparadigma científico. Longe vai
o tempo,desde que aciênciasocial tentou impor-se ou igualar às ciências naturais. Esta luta encontra-
se já afirmada, é necessário e urgente passar a outro patamar. De salientar que, as ciências sociais
sempre reclamaramparasi a ideologiada“objectividade”,comeste novométodoaciênciasocial rende-
se á sua “subjectividade” na construção dos factos.
Em suma,este livro, lança um olhar retrospectivo sobre a forma como nascem os modelos científicos -
através de revoluções científicas. Estas revoluções não são, muitas vezes, pacíficas, elas exigem lutas,
enfrentar obstáculos, fazer questionamentos, reflexões até se imporem.