SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
Baixar para ler offline
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
1
MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA BIOLOGIA E SEUS
IMPACTOS NA AGROPECUÁRIA
GISELLA COLARES GOMES (1) ; CARLOS ALVES DO NASCIMENTO (2) .
1.FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
FORTALEZA, CE, BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA -
UFU, UBERLÂNDIA, MG, BRASIL.
canasc38@yahoo.com.br
APRESENTAÇÃO ORAL
AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA
BIOLOGIA E SEUS IMPACTOS NA AGROPECUÁRIA
Grupo de Pesquisa: Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável
Resumo
Este trabalho trata da mudança de paradigma científico enquanto modelo conceitual de
uma comunidade científica no século XX e seu impacto na sociedade. Mais
especificamente apresenta a Teoria de Gaia, a qual se constitui uma mudança de paradigma
nas ciências biológicas e seu impactos nas atividades agropecuárias.
Palavras-chaves: Mudança de Paradigma, Ecologia, Agropecuária, Solos.
Abstract
This paper summarizes the changes of paradigms while conception model of a scientific
community in the XX century and its impact to the society. Preferentially introducing the
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
2
Gaia´s theory, which forms a change of paradigm on the biological sciences and its shock
on the agricultural and cattle raising activities.
Key Words: Change Paradigm, Ecology, Agriculture, Cattle Raising.
1. PARADIGMA ENQUANTO MODELO CONCEITUAL DE UMA
COMUNIDADE CIENTÍFICA
Para KUHN (1962) o paradigma é como um veículo para a teoria científica. Ele
informa ao cientista que entidades a natureza contém ou não contém, bem como as
maneiras segundo as quais essas entidades se comportam. Estas informações fornecem o
mapa cujos detalhes serão elucidados pela pesquisa científica amadurecida.Trata-se de um
deslocamento da rede conceitual através da qual os cientistas vêem o mundo.
A noção de paradigma enquanto modelo conceitual partilhado por uma comunidade
científica inaugura a existência de uma disciplina científica caracterizada por um conjunto
de regras e técnicas que servem como diretriz para as atividades deste grupo de cientistas,
sendo denominado por Thomas Kuhn de Ciência Normal.
No âmbito da ciência normal, a partilha de um paradigma elimina as discussões
sobre os fundamentos, padrões e objetivos, de modo que os cientistas normais se dedicam à
articulação interna do paradigma, à extensão do conhecimento dos fatos selecionados como
importantes pelo paradigma e à ampliação contínua do seu alcance e precisão. As leis
quantitativas surgem desta articulação de um problema. Nesta perspectiva admite-se que a
ciência normal é um empreendimento cumulativo.
No entanto, KUHN(1962) se opõe à visão de que o progresso científico é um
processo gradativo, através do qual se adicionam fatos ao estoque sempre crescente de
conhecimentos e técnicas. O progresso científico é realizado através de rupturas, nas quais
se processa uma alteração nos problemas e nos padrões que determinam a identificação de
um problema. Uma nova teoria requer a reconstrução da teoria precedente e a reavaliação
dos fatos anteriores, é como se a natureza tivesse violado as expectativas paradigmáticas
que governam a ciência normal.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
3
É preciso ter consciência de que nenhum paradigma consegue resolver todos os
problemas que define. É exatamente este aspecto que garante a existência das revoluções
científicas.
Durante as revoluções os cientistas vêem coisas novas e diferentes quando olham
para os mesmos pontos já examinados antes. A transição para uma nova ciência normal é
então uma reconstrução da área de estudo a partir de novos princípios, novas
generalizações teóricas, novos métodos e aplicações. Manipula-se o mesmo conjunto de
dados mas estabelece-se um novo sistema de relações a partir de novo quadro de
referência. Transcende a simples inclusão de variáveis anteriormente excluídas ou não
percebidas. Este processo é complexo; trata-se de uma assimilação conceitual ampla que
raramente é completada por um único homem.
A revolução científica tem como precondição à emergência de crises, apresentando
problemas que provocam a proliferação de versões do paradigma e enfraquecendo as
regras de resolução da ciência normal. Ela deve colocar claramente em questão as
generalizações explícitas e fundamentais do paradigma. A crise se apresenta como o
obscurecimento das regras que orientam a pesquisa normal. No entanto, é preciso ter-se
claro que embora a emergência de uma crise seja condição necessária ao processo de
mudança de paradigma, não se configura elemento suficiente para tal. Nestes períodos pré-
paradigmáticos os cientistas se voltam a uma análise mais filosófica como uma forma de
compreender o significado dos problemas de sua área de estudo. Isto é, há a busca de uma
explicação para os novos fundamentos, padrões, pressupostos, princípios, regras e técnicas.
De acordo com KUHN (1962) as revoluções científicas iniciam-se com o
sentimento crescente de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na
explicação de um aspecto da natureza ou realidade. No entanto, a escolha entre paradigmas
é uma escolha entre modos incompatíveis de vida comunitária, não podendo ser
determinada simplesmente pelos procedimentos de avaliação característicos da ciência
normal. Isto é, não é um debate no qual cada grupo utiliza seu próprio paradigma para
argumentar em favor desse mesmo. Não é através de provas que um grupo convence ao
outro.
Na escolha de um paradigma não existe critério superior ao consentimento da
comunidade relevante, trata-se de um processo de conversão que não pode ser forçado e
que pode levar uma geração para que se efetive. Isto porque, são os novos cientistas, que
não estão comprometidos com o paradigma vigente que serão capazes de examinar com
imparcialidade.
2. IMPLICAÇOES DAS MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA
SOCIEDADE
A humanidade vivencia uma crise de dimensões inusitadas, não se trata apenas de
uma crise de indivíduos, de governos ou de instituições sociais. Trata-se de uma crise de
natureza sistêmica e sem precedentes na história, envolvendo tudo o que compõe a vida.
(CAPRA,1982)
Todos estes problemas possuem uma mesma dinâmica subjacente, é manifestações
de uma só crise, uma crise de percepção. Sendo uma crise de percepção está relacionada
com nossos princípios, valores, premissas e modelos conceituais. Isto é, relaciona-se com a
construção do pensamento e do conhecimento científico.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
4
A mecânica de Newton serviu de base para as doutrinas humanas e sociais como
economia, sociologia, psicologia. Desta forma, nas ciências humanas o processo de
mudança de paradigma parece ser mais lento.Durante muito tempo estas ciências se
limitaram a aplicar princípios oriundos das ciências exatas, não percebendo que os
fenômenos sociais são intrinsecamente fragmentados e não determinados por serem fruto
dos próprios atores e objetos de estudo. Isto é, as ciências sociais caminharam sempre no
sentido de reduzir a complexidade de seu objeto de estudo através da abordagem
mecanicista e fragmentada.
Esta observação aponta para a necessidade de desenvolvimento de um novo
paradigma, no qual os fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais
sejam percebidos como uma totalidade, em um estado de inter-relação e interdependência.
Neste sentido as propriedades não podem ser reduzidas às de suas unidades menores e o
que é enfatizado são os princípios de organização. Estes princípios não são perceptíveis
quando a realidade é decomposta em partes isoladas. Uma ilustração é a compreensão de
que a preservação do meio ambiente transcende a preservação de espécies animais ou
vegetais isoladamente, mas envolve toda a teia da vida.
Neste novo paradigma emergente, chamado de holístico ou sistêmico, o
conhecimento não se restringe ao conhecimento científico. Na pós-modernidade, procura-
se a racionalidade no diálogo com outras formas de conhecimento, incluindo o
conhecimento quotidiano que orienta as nossas ações e a nossa compreensão da realidade.
Flexibiliza-se a noção de um saber superior dissociado dos valores culturais e admite-se
que o saber socialmente praticado corresponde a formas efetivas de conhecimento, até
porque se processa com intervenções técnicas. É a técnica contrabalançada pela formação
sócio-cultural-histórica.
Como escreveu Prigogine em “Carta para as futuras Gerações”:
“O apelo às ciencias da complexidade não significa que estejamos sugerindo que as
ciencias humanas sejam “reduzidas” à física. Nossa empreitada não é de redução, mas de
reconciliação. Conceitos introduzidos das ciencias da complexidade podem servir como
metáforas muito mais úteis do que o tradicional apelo às metáforas newtonianas”.
No entanto, não estamos eliminando a importância do conhecimento científico
moderno. Este nível de conhecimento teve e ainda tem um papel a desempenhar. O que
deve ser superada é a percepção de que este paradigma fornece uma explicação completa.
O que se coloca é a existência de limites ou domínios nos quais os procedimentos
analíticos da ciência moderna são válidos.
Neste sentido podemos sintetizar os princípios do novo paradigma científico
(CAPRA & STEINDL-RAST,1991):
- As propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da dinâmica do todo.
Os elementos não possuem propriedades intrínsecas, as propriedades fluem das
relações.A parte é entendida como um padrão numa teia inseparável de relações,
não reducionista;
- Reconhecimento de que todos os conceitos e teorias são aproximações da realidade
e não a realidade em si. A ciência descreve de forma limitada a realidade e nunca
poderá fornecer uma compreensão completa e definitiva desta, não determinista;
- A compreensão do processo de conhecimento deve ser incluída explicitamente na
pesquisa cientifica, não objetividade;
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
5
- Na medida em que a realidade é percebida como uma rede de relações, as teorias
científicas igualmente formam uma rede interconexa, onde não existem hierarquias
ou alicerces. A física e a matemática não são mais importantes que outros “ramos”
da ciência; e
- As estruturas são vistas como a manifestação de um processo subjacente. Toda a
teia de relações é intrinsecamente dinâmica, não mecanicista.
Este processo deve ter como conseqüência uma mudança de mentalidade e uma
profunda alteração nas relações sociais e formas de organização social. Transformações
que transcendem a medidas de reajustamento político ou econômico.
Trata-se de um novo jogo “pouco conhecido e bem diferente dos velhos jogos
competitivos de soma zero (eu ganho – você perde)...O novo jogo é cooperativo, onde
ninguém ganha a menos que todos ganhem; nele os indivíduos funcionam melhor se
levarem em conta as necessidades dos outros” (HENDERSON,1991:70). Assim como os
sistemas naturais apresentam estratégias de competição e cooperação de modo eqüitativo e
equilibrado, é preciso que os sistemas sociais tenham equilíbrio entre cooperação e
competição, ambas são estratégias essenciais à sobrevivência.
3. MUDANÇA DE PARADIGMA NA BIOLOGIA – Teoria de Gaia
A hipótese de Gaia é um exemplo claro de uma mudança de paradigma nas ciências
biológicas. Nela, a perspectiva reducionista, mecanicista e antropocêntrica é suplantada
pela percepção sistêmica, auto-organizadora e biocentrica.
Gaia é a terra vista como um sistema fisiológico único, uma entidade que se
encontra viva, um sistema evolutivo em interação com o meio físico e não em uma
adaptação passiva a este.
Compreender Gaia é compreender que “o responsável pela regulação não
era a vida ou a biosfera, mas sim a totalidade do sistema... a evolução dos
organismos é de tal modo inseparável da evolução de seu ambiente físico e
químico, que juntos constituem um único processo evolutivo, auto-
regulável. Desta forma, tanto o clima como a composição das rochas, o ar e
os oceanos, não se limitam a ser fornecidos pela geologia, são também
conseqüência da presença da vida” (LOVELOCK, 1991: 39).
Isto é, na perspectiva de Gaia, os componentes vivos e não vivo do sistema
constituem-se em duas forças interatuantes, cada uma delas dando forma e influenciando
uma à outra.
Na verdade, o sistema é considerado vivo, na perspectiva fisiológica de que se trata
de um sistema aberto a um fluxo de matéria e energia, capaz de manter constante a
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
6
composição de seu meio interno e intacto o seu lado físico enquanto seu meio ambiente de
altera é capaz de manter a sua homeostase1
.
A auto-regulação emerge à medida que o sistema evolui. Não existem previsões ou
intencionalidade. Gaia é um sistema global2
de funcionamento e não várias partes isoladas
de um planeta arbitrariamente dividido em biosfera, atmosfera, litosfera e hidrosfera. Isto
é, o todo é mais do que a soma das partes. Além disto, não é desmontando, matando,
dissecando e submetendo as partes a um procedimento analítico, como por exemplo, o
bioquímico ou histológico, que se compreende o funcionamento do sistema. Neste sentido,
“o médico planetar olharia primeiro para o ecossistema de que os animais fazem parte para
ver se a doença é conseqüência de um distúrbio de maiores dimensões, e não específico
apenas dos próprios animais” (LOVELOCK, 1991: 26).
Todas as esferas da terra necessitam de um meio que assegure sua regulação
persistente, este meio é Gaia. “A atmosfera, os oceanos, e as rochas da
crosta terrestre: eles fazem parte do organismo em que a vida se encontra
tenuemente dispersa. As aves e os insetos que voam, ou as pessoas que
viajam de avião, praticamente não afectam a composição fundamental da
atmosfera e as suas propriedades. Os oceanos são bastante povoados e o
solo mais ainda, mas apesar disso a atmosfera, o mar e as rochas são
habitualmente considerados em si mesmos sem vida. Eu, no entanto, vejo-
os como partes essenciais de um organismo maior. Tal como as penas de
uma ave ou o pêlo de um gato, a atmosfera mantém a superfície quente... A
atmosfera, tal como a pele e o pêlo de um gato, também protege as
delicadas células vivas da superfície, da exposição à radiação solar. As
águas da terra... funcionam de forma semelhante ao sistema circulatório de
um animal. O seu perpetuo movimento (juntamente com a ação do vento)
transfere elementos nutritivos essenciais de uma parte para outra, e arrasta
consigo os resíduos do metabolismo. As rochas por sua vez são como os
nossos ossos, constituindo ao mesmo tempo um suporte sólido forte e um
reservatório de nutrientes minerais. As rochas não são estáticas, os
movimentos contínuos das placas e a atividade vulcânica transportam
material sólido e gasoso, do magma para a atmosfera e para os oceanos. Por
outro lado, os movimentos das placas levam consigo, misturando-os com o
magma, alguns sedimentos que se originaram no ambiente da superfície”
(LOVELOCK, 1991: 55-56).
Nesta perspectiva os ecossistemas naturais são os órgãos de Gaia. Cada um deles é
parcialmente independente, mas não existem senão como parte do sistema. Gaia pode ser
entendido como um domínio emergente.
Um sistema de controle sempre produz algum erro ou variação em torno de um
valor determinado. Nos organismos vivos o erro e uma parte essencial. Para conseguir se
1
Homeostase não e um estado de constância permanente ou fixo, mas um estado de constância dinâmica.
Um sistema homeostático oscila, mas evita a falência deslocando-se para um novo estado de constância
reajustado a novos limites.
2
Por exemplo, a intensidade da vida varia entre as varias partes. O cabelo, as unhas e as camadas exteriores
dos dentes não contem células vivas, no entanto fazem parte do organismo vivo.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
7
auto-regular eficazmente, o sistema de controle natural recorre a mecanismos de feedback
positivos e negativos3
. Assim, Gaia é um sistema vivo que possui homeostase, tem
capacidade de regulação do ambiente físico e químico de forma a manter-se favorável à
vida, encontra-se em permanente evolução e possui uma anatomia que se transforma
permanentemente.
A propriedade emergente de auto-regulação fisiológica que chamamos de Gaia
surgiu depois do início da vida. Antes da hipótese de Gaia, aceitava-se que as condições
adequadas para a existência de vida na terra era obra do acaso.
Para LOVELOCK (1991) o acaso pode ter sido responsável pelo surgimento, mas
não pela manutenção da vida na terra. Se Gaia não tivesse emergido, a física e a química
da terra teria evoluído para um estado inóspito de vida. A existência de água permitiu o
aparecimento da vida na terra, mas se a vida não tivesse aparecido a terra estaria seca.
Depois de ter tido inicio a vida começou a afetar o ambiente na terra, e foi esta união que
fez durar a pequena escala de temperaturas e de composições químicas favorável à
persistência da vida.
“Os cientistas não sabem quais eram os organismos primitivos. Podem ter
sido bactérias que utilizavam a energia solar disponível, ou bactérias que
obtinham energia através da fermentação dos resíduos orgânicos deixados
por anteriores tentativas infrutíferas para produzir vida. Podemos, no
entanto estar certos de que pouco depois de a vida ter tido origem, a
fotossíntese tornar-se-ia a fonte primordial de onde a vida retira energia...
Qual terá sido a específica via química utilizada pelos primeiros
fotossintetizadores, é um assunto aberto à especulação. A princípio podem
ter utilizado o ciclo simples do enxofre,... ou podem ter metido ombros a
mais difícil tarefa de separar o oxigênio da água. Em qualquer dos casos,
para poderem fabricar açúcares, tiveram certamente que utilizar carbono, e
o dióxido de carbono como sua fonte” (LOVELOCK, 1991: 108).
A evolução deste processo poderia reduzir o nível e gás carbônico na atmosfera,
reduzir a temperatura da estufa protetora e poderia ter levado à extinção das condições de
vida na terra. Para LOVELOCK (1991) este processo foi controlado pelos organismos
fermentadores que obtêm energia química através da conversão da matéria orgânica em
metano e dióxido de carbono.
“O nascimento de Gaia teve lugar quando a evolução daquelas bactérias
simples, de acordo com a seleção natural de Darwin, e a evolução do
ambiente e da atmosfera da superfície do planeta deixou de ser dois
processos separados e independentes. Depois de a vida ter começado a
modificar a atmosfera, a seleção natural garantiu que essa modificação só
podia dar-se no sentido de um ambiente favorável” (LOVELOCK, 1991:
109).
Nesta perspectiva, a divisão da química em orgânica e inorgânica é artificial e
dificulta o reconhecimento de que a química da vida e a química do ambiente material
estão intrinsecamente relacionadas, fazendo parte de um único domínio. Um exemplo é o
3
O feedback positivo reforça a variação, é mais rápido, porém instável. O feedback negativo inverte a
variação.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
8
paralelismo existente entre os fluxos anuais dos principais gases de Gaia e os fluxos
químicos diários do organismo humano (LOVELOCK, 1991).
A conexão entre a bioquímica, os genes e Gaia, reside nas propriedades de
moléculas simples das células vivas. A ação do ácido desoxirribonucléico4
(ADN) depende
do funcionamento de outras células estruturais, sem as quais ele não poderia replicar-se.
Entre estas células, as mais importantes constituem as membranas celulares que mantém
esta estrutura dada a existência de forcas intermoleculares fracas, conhecidas como forcas
de Van Der Waal.
Para LOVELOCK (1991) as propriedades do ADN estão relacionadas com as
propriedades vastas da terra através destas forças fracas da bioquímica que mantém as
membranas celulares de todos os organismos vivos. As membranas são essenciais e não se
constituem em paredes passivas. Para a vida ser possível, as condições físicas e químicas
do ambiente deve permanecer entre limites adequados às membranas. Os organismos
alteram o ambiente que os rodeia através de sua química. A pressão exercida pela seleção
pode atuar favorecendo aos organismos que efetuam alterações positivas sobre o meio e
conseqüentemente também favorece a sobrevivência da descendência. Isto é, não existe
controle genético do ambiente, porém a intensa atividade dos genes modifica
continuamente o ambiente material da terra, que exercem uma pressão seletiva sobre as
gerações seguintes. É possível observar este fenômeno na evolução das células, com o
surgimento da célula eucariota e dos organismos multicelulares. Os eucariotas tiveram
vantagens na transferência ordenada de material genético e os multicelulares possuem
maior capacidade de resistência a desitradatação.
“Para definir a vida não basta dizer que lê se desdobra e é capaz de corrigir os erros
cometidos durante esse desdobramento através da seleção natural entre a descendência... A
vida tal como a conhecemos caracteriza-se pelo metabolismo...” (LOVELOCK, 1991:141)
O qual consiste na absorção de materiais e energia livre do meio, realização de transações
químicas e na expulsão de resíduos e energia de baixo grau sob a forma de calor.
O metabolismo de Gaia é realizado pelos grandes ecossistemas fotossintetizadores,
decompositores e consumidores. As plantas armazenam a energia que obtêm da luz do sol
sob a forma de energia química potencial. Os decompositores utilizam os resíduos das
plantas mortas convertendo-os em dióxido de carbono e metano. Os consumidores obtêm
energia através da combustão interna de alimentos e oxigênio. O metabolismo de Gaia
envolve todos os ecossistemas da terra, os organismos vivos, os gases, os oceanos e o solo,
“em cada um deles verificamos que Gaia, o sistema constituído pela vida e pelo seu meio
ambiente, se encontra envolvida em processos metabólicos que, à dimensão do planeta,
estabelecem uma ligação entre a bioquímica dos organismos e a bioquímica da terra”
(LOVELOCK, 1991:176).
Para LOVELOCK (1991) o atual clima fresco e as condições de existência de vida
na terra não podem ser explicados pela biologia, pela geofísica ou geoquímica
isoladamente. Apenas um modelo geofisiológico, contemplando a evolução dos
organismos, das rochas, dos oceanos e do ar como um sistema de interelações pode
oferecer uma explicação plausível.
4
Os físicos também admitem que as propriedades microscópicas dos átomos e de suas partes se relacionam
com as propriedades mais vastas do universo.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
9
Testar um sistema homeostático consiste em avaliar a sua capacidade de resposta à
desordem e à agressão. Gaia sobrevive há pelo menos 3,6 bilhões de anos, tendo
enfrentado muitos desafios, como a completa alteração do estado atmosférico e impactos
de meteoritos. O fato de a vida ter persistido é demonstração de resistência do sistema,
bem como, da existência de um organismo capaz de auto-correção e auto-regulação.
Muitas críticas foram realizadas à hipótese de Gaia partindo-se do princípio de que
os diversos organismos vivos da terra não poderiam funcionar em simbiose para regular o
ambiente do planeta. A evolução através da seleção natural deveria sempre favorecer os
genes. A regulação do planeta exigiria capacidade de previsão e de planificação por parte
das biotas. Gaia não pode se reproduzir, não existindo a possibilidade de evolução por
meio da seleção natural entre planetas.
Estas críticas motivaram LOVELOCK (1991) a exprimir a idéia de Gaia em um
modelo científico, o modelo do planeta margarida. O modelo sintetiza a regulação de uma
única variável, a temperatura, e inclui uma única espécie, as margaridas, guardando
semelhança a regulação da temperatura nos seres humanos, que não exige o exercício da
previsão ou planejamento. A regulação é automática. No modelo, a evolução dos
organismos e do ambiente físico constitui-se em um único processo evolutivo, onde existe
lugar para no ecossistema para a seleção natural das margaridas.
Inicialmente crescia no planeta margarida, apenas margaridas de cor clara e
de cor escura. “Margarida pode ser imaginado como um planeta semelhante
à terra, girando em torno de uma estrela como o sol. A temperatura
existente à superfície de um planeta que recebe luz solar, é afetada pela
profundidade da sua cor, devido ao efeito albedo: um planeta mais escuro
absorve a luz solar e por isso aquece. Em Margarida, o solo é nu é de uma
tonalidade média, nem escura e nem claro. O nosso planeta-modelo é úmido
e fértil; as sementes crescem sempre que a temperatura é suficientemente
quente, acima de 5◦
C. O crescimento máximo é obtido a temperaturas
próximas dos 22◦
C, mas diminui a temperaturas altas e cessa acima dos
40◦
C. Imaginem que, tal como o sol, a estrela de Margarida aquece à medida
que evolui... Quando o rendimento da estrela tiver aumentado o suficiente
para elevar a temperatura das regiões equatoriais do planeta Margarida até
os 5◦
C, algumas sementes de margarida germinar e crescer. As margaridas
de cor escura são favorecidas, por que absorvem uma quantidade maior de
luz da estrela e são mais quentes do que o solo nu. As margaridas claras são
desencorajadas, porque refletem a luz da estrela e são mais frias do que a
superfície nua... O extenso revestimento do solo das margaridas escuras
altera a reflexibilidade da superfície, e o planeta aquece juntamente com as
margaridas. Rapidamente, devido a um forte feedback positivo, o
crescimento das margaridas escuras e a temperatura do planeta elevam-se
até que, em determinado ponto situado acima do ótimo para o crescimento
das margaridas, a temperatura e o crescimento estabilizam. Agora o planeta
está quente, as margaridas claras crescem e competem com as margaridas
escuras pelo seu espaço, até que o arrefecimento que provocam altere de
forma adversa à temperatura do ambiente. Por último, atinge-se um certo
equilíbrio entre as margaridas escuras e as claras, com albedo médio
próximo daquele que é necessário para manter a temperatura da superfície
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
10
num valor ótimo para o crescimento das margaridas “(LOVELOCK,
1991:90)”.
Mesmo com a introdução de margaridas de cor neutra que estariam libertas da
necessidade de fabricar pigmento e assim teriam vantagem na taxa de crescimento, a
regulação do clima persiste pelas margaridas claras e escuras, pois as margaridas neutras só
florescem quando as condições são ótimas, isto é a ausência de necessidade de regulação.
Outra crítica diz respeito ao “fato de que a escala de luminosidades solares,
em que este sistema auto-regulável é possível, ser limitada, como prova de
que a idéia de auto-regulação é errada. A estes críticos posso dizer apenas
que o fato de poderem morrer se forem sobreaquecidos ou congelados não
significa que não estejam vivos neste momento” (LOVELOCK, 1991: 94-
96).
Outra crítica diz respeito à possibilidade de destruição das margaridas por um vírus.
Mais uma vez isto se refere à possibilidade de morte do sistema e não se constitui uma
demonstração de que ele não existe.
A ampliação do modelo das margaridas, incluindo coelhos, representado os
herbívoros e raposas, representando os predadores, e que possui características adaptativas
e evolutivas, é tão eficaz na regulação da temperatura como o modelo original, mesmo na
presença de perturbações.
Além disto, “um aspecto intrigante do modelo que inclui as margaridas
batoteiras cinzentas, e do modelo que inclui herbívoros e predadores, é que,
ao contrário da experiência habitual dos modelos biológicos de populações,
há mais de duas espécies de organismos presentes, coexistindo num estado
de estabilidade constante5
” (LOVELOCK, 1991: 96).
4. IMPACTOS DA MUDANÇA DE PARADIGMA NAS ATIVIDADES
AGROPECUÁRIAS
A acumulação de bens materiais intensificada pela revolução industrial é realizada
com um alto custo ambiental. Isto porque o capital natural, imprescindível para o
desenvolvimento da humanidade, esta sendo rapidamente dilapidado, em nível de estoque
de recursos naturais como também, dos sistemas vivos que oferecem serviços biológicos
como a armazenagem de água, regulação dos oceanos, processamento de resíduos,
proteção contra os extremos climáticos, regeneração atmosférica, etc.
Dentre as principais conseqüências da agricultura intensiva, as quais causam à
queda da produtividade agrícola, está à degradação física e orgânica do solo, o elevado
custo energético fóssil em relação ao retorno que se obtém em energia alimentar, a
contaminação das águas, o esgotamento de lençóis subterrâneos para o uso na irrigação de
5
A adição de uma terceira espécie tornava os modelos instáveis como no problema dos três corpos
na astrofísica.
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
11
forma ineficiente, a destruição ou a privatização da diversidade genética, a dependência
química das monoculturas, etc.
A necessidade do desenvolvimento sustentável impõe-se pela sobrecarga nos
sistemas vivos, principalmente devido à tecnologia extrativista que possui custos raramente
calculados e internalizados nos preços. Neste sentido os limites do desenvolvimento estão
mais no capital natural do que na capacidade industrial e tecnológica.
A ótica do capitalismo natural reconhece a interdependência fundamental entre a
produção e o uso do capital produzido pelo homem, bem como, entre a conservação e o
fornecimento de capital natural. No entanto, prescinde de uma nova mentalidade. Trata-se
de uma nova perspectiva de rentabilidade, planejamento, padrão de consumo e produção.
Isto significa que a intensificação da produção através da industrialização da
agricultura deverá ser repensada. De acordo com Hawken, Wendell Berry disse “quando
nós atravessamos o continente abatendo as matas e arando os prados, não sabíamos o que
estávamos fazendo porque não sabíamos o que estávamos desfazendo” (HAWKEN et al
1999:177). Isto é, a agricultura intensiva que transformou vastos e complexos ecossistemas
nativos em grandes extensões de trigo, sorgo e milho, que utiliza fertilizantes sintéticos e
pesticidas, é fruto da ignorância ecológica.
Neste sentido é preciso resgatar e aprimorar o conhecimento tradicional da
agricultura, os quais eram mais baseados nos modelos naturais, tendo a compreensão de
que o solo é um ecossistema de Gaia e que as atividades agrícolas possuem impactos não
apenas no solo, mas também atmosfera, na fauna e na flora, já que o aumento das
fronteiras agrícolas destrói os sistemas nativos e leva à escassez de chuvas. Deve-se
pensar a agricultura de forma sistêmica, buscando sempre se harmonizar com os ciclos
naturais.
Nesta perspectiva o uso de pesticidas para erradicar pragas e pestes é um erro, pois
todo sistema deve possuir uma certa quantidade de pragas que servem de alimento aos
predadores, mantendo-se o equilíbrio do ecossistema. Além do mais, os pesticidas
transformam insetos anteriormente inofensivos em pragas, tornam as pragas resistentes a
este tipo de tratamento químico. Isto é, no longo prazo este tipo de agricultura é lucrativa
apenas para os fornecedores de insumos. Isto porque exige-se cada vez mais fertilizantes
para substituir os serviços ecológicos gratuitos que o solo, outras plantas e o esterco
oferece ao sistema natural.
As mudanças climáticas pressionam ainda mais a monocultura especializada e, nos
dias de hoje, apuradas pela engenharia genética, a qual precarisa a resistência da cultura à
temperatura, umidade e insolação. Esta fragilidade vinda da troca dos sistemas naturais
altamente adaptáveis para sistemas artificiais especializados pode ser altamente destrutiva
se os últimos se depararem com condições muito diferentes das condições estáveis
pressupostas pelos engenheiros genéticos. Esta substituição
A nova agropecuária deve ser pensada de acordo com quatro estratégias
consideradas para que todas as formas de capital sejam valorizadas: a produtividade dos
recursos, o biomimetismo, a economia de serviço e fluxo e o investimento em capital
natural. Faz com que a biomassa existente de bactérias e fungos e a própria biota do solo
morra, apodrecendo-se, oxidando-se e liberando carbono no ar6
.
6
“Essa perda líquida de carbono do solo contribui com aproximadamente sete por cento do carbono ora
presente na atsmofera” ( Lal et al apud Hawken et al 1999:191).
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
12
A produtividade dos recursos deve ser aprimorada através de muitas e simples
aplicações de criatividade tendo como referência a sabedoria da natureza e não a esperteza
do homem. Neste sentido, deve procurar sistemas que reutilizam os resíduos em ciclos
fechados, como o metabolismo de Gaia, bem como, sistemas poupadores de energia não
renovável.
Para isto, deve-se repensar também a escala de produção. A produção local e com
base na comunidade, seja em ambiente fechado ou ao ar livre, seja no campo ou na cidade,
reduz a utilização de energia fóssil com transporte, a qual não seria viável economicamente
se não fosse subsidiada na maioria das vezes. “Cerca de 15% da produção agrícola mundial
já provêm das cidades. Na China, essa agricultura desenvolvida em quintais, terrenos e
telhados fornece mais de 85% dos legumes urbanos” ( HAWKEN et al.1999:187).
O fechamento do ciclo através da reutilização de resíduos deve ser feito na
plantação e nas indústrias de processamento. Muitos destes refugos podem até gerar
biocombustível.
Na verdade, devemos contar o valor da terra nua não em hectares, mas de acordo
com as condições de saúde do ecossistema solo, pois este abriga uma microflora complexa,
com muitos processos bioquímicos ainda desconhecidos.
As pastagens também estão dentre as atividades que devem buscar a harmonização
com os ciclos naturais. A pastagem de base ecológica demonstra que é muito melhor
restaurar e manter o pasto em terras que evoluíram com os ruminantes e não conservam a
saúde sem eles. De acordo com Hawken, Allan Savory observou que “o pastio de animais
nativos, cercados e acossados pelas feras, é muito concentrado no tempo e no espaço. O
rebanho muda rapidamente de lugar, deixando pegadas profundas na terra revirada, as
quais retêm o esterco, a água e as sementes que geram o capim no ano seguinte”
(HAWKEN et al. 1999:193). Sobretudo no oeste dos Estados Unidos, Savory “constatou
que grande parte dos pastos normalmente considerada esgotada na verdade está
subaproveitada por ter sido utilizada erroneamente” (HAWKEN et al. 1999:193).
A compreensão ecológica de cada pedaço de terra permite a administração rotativa
intensiva, de modo a utilizar o pasto no pico nutricional, garante o tempo adequado para
que o esterco retorne ao solo, fechando o ciclo do nutriente sem produzir resíduos tóxicos.
“As práticas comuns da agricultura orgânica moldadas em ecossistemas complexos
geralmente têm produção comparável ou apenas ligeiramente inferior à da agricultura
química, porém com custos mais baixos” (HAWKEN et al. 1999:194). Essa vantagem é
ainda maior nas propriedades de escala familiar.
A bioagricultura pode ser usada para repensar a “exploração” das matas tropicais
até os desertos, das florestas temperadas às campinas. Sua eficiência é fruto da integração
natural e seus retornos são mais para o agricultor e para o meio ambiente e menos para o
fornecedor de insumos.
“A eficiência desse método de transformar a luz do sol em alimento será, por sua
própria natureza, a mais alta possível, pois se existisse uma maneira mais eficiente de fazê-
lo, a natureza a teria encontrado” (HAWKEN et al. 1999:198).
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
13
BERTALANFFY, L.V. (1977). Teoria geral dos sistemas. Petrópolis, Vozes.
CAPRA, Fritijof & STEINDL-RAST, David. (1991). Pertencendo ao Universo. São Paulo,
Cultrix.
CAPRA, Fritjof. (1982). O ponto de mutação. São Paulo, Cultrix.
ROHDE, Geraldo Mário. (2003) “Mudanças de paradigma e desenvolvimento sustentado”.
In: CAVALCANTE, Clóvis (Org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para
uma sociedade sustentável. São Paulo, Cortez.
HAWKEN et al.(1999). Capitalismo Natural- Criando a próxima revolução industrial.São
Paulo, Cultrix/Amana-Key.
HENDERSON, Hazel. (1991). Transcendendo a economia. São Paulo, Cultrix.
JACOBS, Jane.(2001). A natureza das economias. São Paulo, Beca.
KUHN, Thomas. (1962). A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Perspectiva.
LOVELOCK, James. (1991). A prática da medicina planetar. Lisboa, Instituto Piaget.
MORIN, Edgar. (1999). “Por uma reforma do pensamento”. In: Veiga, Alfredo Pena &
Nascimento, Elimar. O Pensar complexo- Edgar Morin e a crise da modernidade.
Rio de Janeiro, Garamond.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Gerenciamento de Recrutamento e Seleção
Gerenciamento de Recrutamento e SeleçãoGerenciamento de Recrutamento e Seleção
Gerenciamento de Recrutamento e SeleçãoRicardo Brandão Broker
 
Orientações para projeto de pesquisa
Orientações para projeto de pesquisaOrientações para projeto de pesquisa
Orientações para projeto de pesquisaCRIS TORRES
 
Recrutamento e seleção - Apresentação MBA
Recrutamento e seleção - Apresentação MBARecrutamento e seleção - Apresentação MBA
Recrutamento e seleção - Apresentação MBAMaurício BG
 
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & Salários
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & SaláriosRemuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & Salários
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & SaláriosSIMPLIFIQUE! RH
 
análise de conteúdo de entrevista
análise de conteúdo de entrevistaanálise de conteúdo de entrevista
análise de conteúdo de entrevistaMichelle Silva
 
Recrutamento e seleção de pessoas
Recrutamento e seleção de pessoasRecrutamento e seleção de pessoas
Recrutamento e seleção de pessoasÉrica Rangel
 
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009Flavio Oliveira Alencar
 
Aula 04 metodologia de um tcc
Aula 04   metodologia de um tccAula 04   metodologia de um tcc
Aula 04 metodologia de um tccHidematuda
 
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENAC
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENACMINI AULA KARINA ZACCARON - SENAC
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENACKarina Z.
 
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...IFSC
 
Metodologia cientifica
Metodologia cientificaMetodologia cientifica
Metodologia cientificaFelipe Mago
 
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.Diego Ventura
 
Conhecimento e Ciência
Conhecimento e CiênciaConhecimento e Ciência
Conhecimento e CiênciaRobson Santos
 
Como redigir o projeto de pesquisa
Como redigir o projeto de pesquisaComo redigir o projeto de pesquisa
Como redigir o projeto de pesquisaLaércio Góes
 

Mais procurados (20)

Gerenciamento de Recrutamento e Seleção
Gerenciamento de Recrutamento e SeleçãoGerenciamento de Recrutamento e Seleção
Gerenciamento de Recrutamento e Seleção
 
Orientações para projeto de pesquisa
Orientações para projeto de pesquisaOrientações para projeto de pesquisa
Orientações para projeto de pesquisa
 
Recrutamento e seleção - Apresentação MBA
Recrutamento e seleção - Apresentação MBARecrutamento e seleção - Apresentação MBA
Recrutamento e seleção - Apresentação MBA
 
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & Salários
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & SaláriosRemuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & Salários
Remuneração sem Mistérios - Como implantar um projeto de Cargos & Salários
 
análise de conteúdo de entrevista
análise de conteúdo de entrevistaanálise de conteúdo de entrevista
análise de conteúdo de entrevista
 
Recrutamento e seleção de pessoas
Recrutamento e seleção de pessoasRecrutamento e seleção de pessoas
Recrutamento e seleção de pessoas
 
Recrutamento
RecrutamentoRecrutamento
Recrutamento
 
Recrutamento (Métodos e Suas Fontes)
Recrutamento (Métodos e Suas Fontes)Recrutamento (Métodos e Suas Fontes)
Recrutamento (Métodos e Suas Fontes)
 
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009
Metodologia pesquisa cientifica 24 03 2009
 
Aula 04 metodologia de um tcc
Aula 04   metodologia de um tccAula 04   metodologia de um tcc
Aula 04 metodologia de um tcc
 
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENAC
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENACMINI AULA KARINA ZACCARON - SENAC
MINI AULA KARINA ZACCARON - SENAC
 
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Aspetos principais da Revisão da Literatura - Defini...
 
Metodologia cientifica
Metodologia cientificaMetodologia cientifica
Metodologia cientifica
 
Aula 2 metodologia científica
Aula 2   metodologia científicaAula 2   metodologia científica
Aula 2 metodologia científica
 
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.
 
Case restaurante fellini
Case restaurante felliniCase restaurante fellini
Case restaurante fellini
 
Conhecimento e Ciência
Conhecimento e CiênciaConhecimento e Ciência
Conhecimento e Ciência
 
Etapas de um projeto de pesquisa
Etapas de um projeto de pesquisaEtapas de um projeto de pesquisa
Etapas de um projeto de pesquisa
 
Dissertação do Mestrado
Dissertação do MestradoDissertação do Mestrado
Dissertação do Mestrado
 
Como redigir o projeto de pesquisa
Como redigir o projeto de pesquisaComo redigir o projeto de pesquisa
Como redigir o projeto de pesquisa
 

Semelhante a Mudanças de paradigma na biologia e seus impactos

Artigo comunicação científica uma revisão de seus elementos básicos
Artigo   comunicação científica uma revisão de seus elementos básicosArtigo   comunicação científica uma revisão de seus elementos básicos
Artigo comunicação científica uma revisão de seus elementos básicosJackeline Ferreira
 
Myriam sepúlveda interdisc
Myriam sepúlveda   interdiscMyriam sepúlveda   interdisc
Myriam sepúlveda interdiscelena_va
 
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionais
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionaisA crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionais
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionaisAndréa Kochhann
 
Resumo dimas floriani
Resumo dimas florianiResumo dimas floriani
Resumo dimas florianiMarta Sousa
 
MIC-Métodos-2021.pptx
MIC-Métodos-2021.pptxMIC-Métodos-2021.pptx
MIC-Métodos-2021.pptxVenncioCorreia
 
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.ppt
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.pptFilosofia, ensino médio tema: epistemologia.ppt
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.pptSrJorgeH
 
Curriculo e posmodernidade bernadete gatti
Curriculo e posmodernidade bernadete gattiCurriculo e posmodernidade bernadete gatti
Curriculo e posmodernidade bernadete gattibelluomosp
 
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...Marta Caregnato
 
MIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxMIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxVenncioCorreia
 
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133Martha Hoppe
 

Semelhante a Mudanças de paradigma na biologia e seus impactos (20)

Artigo comunicação científica uma revisão de seus elementos básicos
Artigo   comunicação científica uma revisão de seus elementos básicosArtigo   comunicação científica uma revisão de seus elementos básicos
Artigo comunicação científica uma revisão de seus elementos básicos
 
Apostila metodologia 1
Apostila   metodologia 1Apostila   metodologia 1
Apostila metodologia 1
 
Myriam sepúlveda interdisc
Myriam sepúlveda   interdiscMyriam sepúlveda   interdisc
Myriam sepúlveda interdisc
 
Ficha de Leitura
Ficha de Leitura Ficha de Leitura
Ficha de Leitura
 
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionais
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionaisA crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionais
A crise de paradigmas e os modelos paradigmáticos educacionais
 
Resumo dimas floriani
Resumo dimas florianiResumo dimas floriani
Resumo dimas floriani
 
MIC-Métodos-2021.pptx
MIC-Métodos-2021.pptxMIC-Métodos-2021.pptx
MIC-Métodos-2021.pptx
 
Paradigma 2
Paradigma  2Paradigma  2
Paradigma 2
 
document-7.pdf
document-7.pdfdocument-7.pdf
document-7.pdf
 
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.ppt
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.pptFilosofia, ensino médio tema: epistemologia.ppt
Filosofia, ensino médio tema: epistemologia.ppt
 
Filosofia
FilosofiaFilosofia
Filosofia
 
Ciencia
CienciaCiencia
Ciencia
 
Curriculo e posmodernidade bernadete gatti
Curriculo e posmodernidade bernadete gattiCurriculo e posmodernidade bernadete gatti
Curriculo e posmodernidade bernadete gatti
 
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...
Imaginário e ciênciaImaginário e ciência: novas perspectivas do conhecimento ...
 
MIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptxMIC 2 Métod 2021.pptx
MIC 2 Métod 2021.pptx
 
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133
Sobre a pesquisa ação na educação a11v1133
 
Kuhn História da Quiímica
Kuhn História da QuiímicaKuhn História da Quiímica
Kuhn História da Quiímica
 
Jornalismo e ciência
Jornalismo e ciênciaJornalismo e ciência
Jornalismo e ciência
 
Educação discursos e saberes
Educação discursos e saberesEducação discursos e saberes
Educação discursos e saberes
 
Visao cienc
Visao ciencVisao cienc
Visao cienc
 

Último

Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfAlissonMiranda22
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptxthaisamaral9365923
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 

Último (20)

Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdfRedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
RedacoesComentadasModeloAnalisarFazer.pdf
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 

Mudanças de paradigma na biologia e seus impactos

  • 1. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA BIOLOGIA E SEUS IMPACTOS NA AGROPECUÁRIA GISELLA COLARES GOMES (1) ; CARLOS ALVES DO NASCIMENTO (2) . 1.FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, FORTALEZA, CE, BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU, UBERLÂNDIA, MG, BRASIL. canasc38@yahoo.com.br APRESENTAÇÃO ORAL AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA BIOLOGIA E SEUS IMPACTOS NA AGROPECUÁRIA Grupo de Pesquisa: Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Resumo Este trabalho trata da mudança de paradigma científico enquanto modelo conceitual de uma comunidade científica no século XX e seu impacto na sociedade. Mais especificamente apresenta a Teoria de Gaia, a qual se constitui uma mudança de paradigma nas ciências biológicas e seu impactos nas atividades agropecuárias. Palavras-chaves: Mudança de Paradigma, Ecologia, Agropecuária, Solos. Abstract This paper summarizes the changes of paradigms while conception model of a scientific community in the XX century and its impact to the society. Preferentially introducing the
  • 2. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 2 Gaia´s theory, which forms a change of paradigm on the biological sciences and its shock on the agricultural and cattle raising activities. Key Words: Change Paradigm, Ecology, Agriculture, Cattle Raising. 1. PARADIGMA ENQUANTO MODELO CONCEITUAL DE UMA COMUNIDADE CIENTÍFICA Para KUHN (1962) o paradigma é como um veículo para a teoria científica. Ele informa ao cientista que entidades a natureza contém ou não contém, bem como as maneiras segundo as quais essas entidades se comportam. Estas informações fornecem o mapa cujos detalhes serão elucidados pela pesquisa científica amadurecida.Trata-se de um deslocamento da rede conceitual através da qual os cientistas vêem o mundo. A noção de paradigma enquanto modelo conceitual partilhado por uma comunidade científica inaugura a existência de uma disciplina científica caracterizada por um conjunto de regras e técnicas que servem como diretriz para as atividades deste grupo de cientistas, sendo denominado por Thomas Kuhn de Ciência Normal. No âmbito da ciência normal, a partilha de um paradigma elimina as discussões sobre os fundamentos, padrões e objetivos, de modo que os cientistas normais se dedicam à articulação interna do paradigma, à extensão do conhecimento dos fatos selecionados como importantes pelo paradigma e à ampliação contínua do seu alcance e precisão. As leis quantitativas surgem desta articulação de um problema. Nesta perspectiva admite-se que a ciência normal é um empreendimento cumulativo. No entanto, KUHN(1962) se opõe à visão de que o progresso científico é um processo gradativo, através do qual se adicionam fatos ao estoque sempre crescente de conhecimentos e técnicas. O progresso científico é realizado através de rupturas, nas quais se processa uma alteração nos problemas e nos padrões que determinam a identificação de um problema. Uma nova teoria requer a reconstrução da teoria precedente e a reavaliação dos fatos anteriores, é como se a natureza tivesse violado as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal.
  • 3. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3 É preciso ter consciência de que nenhum paradigma consegue resolver todos os problemas que define. É exatamente este aspecto que garante a existência das revoluções científicas. Durante as revoluções os cientistas vêem coisas novas e diferentes quando olham para os mesmos pontos já examinados antes. A transição para uma nova ciência normal é então uma reconstrução da área de estudo a partir de novos princípios, novas generalizações teóricas, novos métodos e aplicações. Manipula-se o mesmo conjunto de dados mas estabelece-se um novo sistema de relações a partir de novo quadro de referência. Transcende a simples inclusão de variáveis anteriormente excluídas ou não percebidas. Este processo é complexo; trata-se de uma assimilação conceitual ampla que raramente é completada por um único homem. A revolução científica tem como precondição à emergência de crises, apresentando problemas que provocam a proliferação de versões do paradigma e enfraquecendo as regras de resolução da ciência normal. Ela deve colocar claramente em questão as generalizações explícitas e fundamentais do paradigma. A crise se apresenta como o obscurecimento das regras que orientam a pesquisa normal. No entanto, é preciso ter-se claro que embora a emergência de uma crise seja condição necessária ao processo de mudança de paradigma, não se configura elemento suficiente para tal. Nestes períodos pré- paradigmáticos os cientistas se voltam a uma análise mais filosófica como uma forma de compreender o significado dos problemas de sua área de estudo. Isto é, há a busca de uma explicação para os novos fundamentos, padrões, pressupostos, princípios, regras e técnicas. De acordo com KUHN (1962) as revoluções científicas iniciam-se com o sentimento crescente de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na explicação de um aspecto da natureza ou realidade. No entanto, a escolha entre paradigmas é uma escolha entre modos incompatíveis de vida comunitária, não podendo ser determinada simplesmente pelos procedimentos de avaliação característicos da ciência normal. Isto é, não é um debate no qual cada grupo utiliza seu próprio paradigma para argumentar em favor desse mesmo. Não é através de provas que um grupo convence ao outro. Na escolha de um paradigma não existe critério superior ao consentimento da comunidade relevante, trata-se de um processo de conversão que não pode ser forçado e que pode levar uma geração para que se efetive. Isto porque, são os novos cientistas, que não estão comprometidos com o paradigma vigente que serão capazes de examinar com imparcialidade. 2. IMPLICAÇOES DAS MUDANÇAS DE PARADIGMA CIENTÍFICO NA SOCIEDADE A humanidade vivencia uma crise de dimensões inusitadas, não se trata apenas de uma crise de indivíduos, de governos ou de instituições sociais. Trata-se de uma crise de natureza sistêmica e sem precedentes na história, envolvendo tudo o que compõe a vida. (CAPRA,1982) Todos estes problemas possuem uma mesma dinâmica subjacente, é manifestações de uma só crise, uma crise de percepção. Sendo uma crise de percepção está relacionada com nossos princípios, valores, premissas e modelos conceituais. Isto é, relaciona-se com a construção do pensamento e do conhecimento científico.
  • 4. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 4 A mecânica de Newton serviu de base para as doutrinas humanas e sociais como economia, sociologia, psicologia. Desta forma, nas ciências humanas o processo de mudança de paradigma parece ser mais lento.Durante muito tempo estas ciências se limitaram a aplicar princípios oriundos das ciências exatas, não percebendo que os fenômenos sociais são intrinsecamente fragmentados e não determinados por serem fruto dos próprios atores e objetos de estudo. Isto é, as ciências sociais caminharam sempre no sentido de reduzir a complexidade de seu objeto de estudo através da abordagem mecanicista e fragmentada. Esta observação aponta para a necessidade de desenvolvimento de um novo paradigma, no qual os fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais sejam percebidos como uma totalidade, em um estado de inter-relação e interdependência. Neste sentido as propriedades não podem ser reduzidas às de suas unidades menores e o que é enfatizado são os princípios de organização. Estes princípios não são perceptíveis quando a realidade é decomposta em partes isoladas. Uma ilustração é a compreensão de que a preservação do meio ambiente transcende a preservação de espécies animais ou vegetais isoladamente, mas envolve toda a teia da vida. Neste novo paradigma emergente, chamado de holístico ou sistêmico, o conhecimento não se restringe ao conhecimento científico. Na pós-modernidade, procura- se a racionalidade no diálogo com outras formas de conhecimento, incluindo o conhecimento quotidiano que orienta as nossas ações e a nossa compreensão da realidade. Flexibiliza-se a noção de um saber superior dissociado dos valores culturais e admite-se que o saber socialmente praticado corresponde a formas efetivas de conhecimento, até porque se processa com intervenções técnicas. É a técnica contrabalançada pela formação sócio-cultural-histórica. Como escreveu Prigogine em “Carta para as futuras Gerações”: “O apelo às ciencias da complexidade não significa que estejamos sugerindo que as ciencias humanas sejam “reduzidas” à física. Nossa empreitada não é de redução, mas de reconciliação. Conceitos introduzidos das ciencias da complexidade podem servir como metáforas muito mais úteis do que o tradicional apelo às metáforas newtonianas”. No entanto, não estamos eliminando a importância do conhecimento científico moderno. Este nível de conhecimento teve e ainda tem um papel a desempenhar. O que deve ser superada é a percepção de que este paradigma fornece uma explicação completa. O que se coloca é a existência de limites ou domínios nos quais os procedimentos analíticos da ciência moderna são válidos. Neste sentido podemos sintetizar os princípios do novo paradigma científico (CAPRA & STEINDL-RAST,1991): - As propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da dinâmica do todo. Os elementos não possuem propriedades intrínsecas, as propriedades fluem das relações.A parte é entendida como um padrão numa teia inseparável de relações, não reducionista; - Reconhecimento de que todos os conceitos e teorias são aproximações da realidade e não a realidade em si. A ciência descreve de forma limitada a realidade e nunca poderá fornecer uma compreensão completa e definitiva desta, não determinista; - A compreensão do processo de conhecimento deve ser incluída explicitamente na pesquisa cientifica, não objetividade;
  • 5. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 5 - Na medida em que a realidade é percebida como uma rede de relações, as teorias científicas igualmente formam uma rede interconexa, onde não existem hierarquias ou alicerces. A física e a matemática não são mais importantes que outros “ramos” da ciência; e - As estruturas são vistas como a manifestação de um processo subjacente. Toda a teia de relações é intrinsecamente dinâmica, não mecanicista. Este processo deve ter como conseqüência uma mudança de mentalidade e uma profunda alteração nas relações sociais e formas de organização social. Transformações que transcendem a medidas de reajustamento político ou econômico. Trata-se de um novo jogo “pouco conhecido e bem diferente dos velhos jogos competitivos de soma zero (eu ganho – você perde)...O novo jogo é cooperativo, onde ninguém ganha a menos que todos ganhem; nele os indivíduos funcionam melhor se levarem em conta as necessidades dos outros” (HENDERSON,1991:70). Assim como os sistemas naturais apresentam estratégias de competição e cooperação de modo eqüitativo e equilibrado, é preciso que os sistemas sociais tenham equilíbrio entre cooperação e competição, ambas são estratégias essenciais à sobrevivência. 3. MUDANÇA DE PARADIGMA NA BIOLOGIA – Teoria de Gaia A hipótese de Gaia é um exemplo claro de uma mudança de paradigma nas ciências biológicas. Nela, a perspectiva reducionista, mecanicista e antropocêntrica é suplantada pela percepção sistêmica, auto-organizadora e biocentrica. Gaia é a terra vista como um sistema fisiológico único, uma entidade que se encontra viva, um sistema evolutivo em interação com o meio físico e não em uma adaptação passiva a este. Compreender Gaia é compreender que “o responsável pela regulação não era a vida ou a biosfera, mas sim a totalidade do sistema... a evolução dos organismos é de tal modo inseparável da evolução de seu ambiente físico e químico, que juntos constituem um único processo evolutivo, auto- regulável. Desta forma, tanto o clima como a composição das rochas, o ar e os oceanos, não se limitam a ser fornecidos pela geologia, são também conseqüência da presença da vida” (LOVELOCK, 1991: 39). Isto é, na perspectiva de Gaia, os componentes vivos e não vivo do sistema constituem-se em duas forças interatuantes, cada uma delas dando forma e influenciando uma à outra. Na verdade, o sistema é considerado vivo, na perspectiva fisiológica de que se trata de um sistema aberto a um fluxo de matéria e energia, capaz de manter constante a
  • 6. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 6 composição de seu meio interno e intacto o seu lado físico enquanto seu meio ambiente de altera é capaz de manter a sua homeostase1 . A auto-regulação emerge à medida que o sistema evolui. Não existem previsões ou intencionalidade. Gaia é um sistema global2 de funcionamento e não várias partes isoladas de um planeta arbitrariamente dividido em biosfera, atmosfera, litosfera e hidrosfera. Isto é, o todo é mais do que a soma das partes. Além disto, não é desmontando, matando, dissecando e submetendo as partes a um procedimento analítico, como por exemplo, o bioquímico ou histológico, que se compreende o funcionamento do sistema. Neste sentido, “o médico planetar olharia primeiro para o ecossistema de que os animais fazem parte para ver se a doença é conseqüência de um distúrbio de maiores dimensões, e não específico apenas dos próprios animais” (LOVELOCK, 1991: 26). Todas as esferas da terra necessitam de um meio que assegure sua regulação persistente, este meio é Gaia. “A atmosfera, os oceanos, e as rochas da crosta terrestre: eles fazem parte do organismo em que a vida se encontra tenuemente dispersa. As aves e os insetos que voam, ou as pessoas que viajam de avião, praticamente não afectam a composição fundamental da atmosfera e as suas propriedades. Os oceanos são bastante povoados e o solo mais ainda, mas apesar disso a atmosfera, o mar e as rochas são habitualmente considerados em si mesmos sem vida. Eu, no entanto, vejo- os como partes essenciais de um organismo maior. Tal como as penas de uma ave ou o pêlo de um gato, a atmosfera mantém a superfície quente... A atmosfera, tal como a pele e o pêlo de um gato, também protege as delicadas células vivas da superfície, da exposição à radiação solar. As águas da terra... funcionam de forma semelhante ao sistema circulatório de um animal. O seu perpetuo movimento (juntamente com a ação do vento) transfere elementos nutritivos essenciais de uma parte para outra, e arrasta consigo os resíduos do metabolismo. As rochas por sua vez são como os nossos ossos, constituindo ao mesmo tempo um suporte sólido forte e um reservatório de nutrientes minerais. As rochas não são estáticas, os movimentos contínuos das placas e a atividade vulcânica transportam material sólido e gasoso, do magma para a atmosfera e para os oceanos. Por outro lado, os movimentos das placas levam consigo, misturando-os com o magma, alguns sedimentos que se originaram no ambiente da superfície” (LOVELOCK, 1991: 55-56). Nesta perspectiva os ecossistemas naturais são os órgãos de Gaia. Cada um deles é parcialmente independente, mas não existem senão como parte do sistema. Gaia pode ser entendido como um domínio emergente. Um sistema de controle sempre produz algum erro ou variação em torno de um valor determinado. Nos organismos vivos o erro e uma parte essencial. Para conseguir se 1 Homeostase não e um estado de constância permanente ou fixo, mas um estado de constância dinâmica. Um sistema homeostático oscila, mas evita a falência deslocando-se para um novo estado de constância reajustado a novos limites. 2 Por exemplo, a intensidade da vida varia entre as varias partes. O cabelo, as unhas e as camadas exteriores dos dentes não contem células vivas, no entanto fazem parte do organismo vivo.
  • 7. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 7 auto-regular eficazmente, o sistema de controle natural recorre a mecanismos de feedback positivos e negativos3 . Assim, Gaia é um sistema vivo que possui homeostase, tem capacidade de regulação do ambiente físico e químico de forma a manter-se favorável à vida, encontra-se em permanente evolução e possui uma anatomia que se transforma permanentemente. A propriedade emergente de auto-regulação fisiológica que chamamos de Gaia surgiu depois do início da vida. Antes da hipótese de Gaia, aceitava-se que as condições adequadas para a existência de vida na terra era obra do acaso. Para LOVELOCK (1991) o acaso pode ter sido responsável pelo surgimento, mas não pela manutenção da vida na terra. Se Gaia não tivesse emergido, a física e a química da terra teria evoluído para um estado inóspito de vida. A existência de água permitiu o aparecimento da vida na terra, mas se a vida não tivesse aparecido a terra estaria seca. Depois de ter tido inicio a vida começou a afetar o ambiente na terra, e foi esta união que fez durar a pequena escala de temperaturas e de composições químicas favorável à persistência da vida. “Os cientistas não sabem quais eram os organismos primitivos. Podem ter sido bactérias que utilizavam a energia solar disponível, ou bactérias que obtinham energia através da fermentação dos resíduos orgânicos deixados por anteriores tentativas infrutíferas para produzir vida. Podemos, no entanto estar certos de que pouco depois de a vida ter tido origem, a fotossíntese tornar-se-ia a fonte primordial de onde a vida retira energia... Qual terá sido a específica via química utilizada pelos primeiros fotossintetizadores, é um assunto aberto à especulação. A princípio podem ter utilizado o ciclo simples do enxofre,... ou podem ter metido ombros a mais difícil tarefa de separar o oxigênio da água. Em qualquer dos casos, para poderem fabricar açúcares, tiveram certamente que utilizar carbono, e o dióxido de carbono como sua fonte” (LOVELOCK, 1991: 108). A evolução deste processo poderia reduzir o nível e gás carbônico na atmosfera, reduzir a temperatura da estufa protetora e poderia ter levado à extinção das condições de vida na terra. Para LOVELOCK (1991) este processo foi controlado pelos organismos fermentadores que obtêm energia química através da conversão da matéria orgânica em metano e dióxido de carbono. “O nascimento de Gaia teve lugar quando a evolução daquelas bactérias simples, de acordo com a seleção natural de Darwin, e a evolução do ambiente e da atmosfera da superfície do planeta deixou de ser dois processos separados e independentes. Depois de a vida ter começado a modificar a atmosfera, a seleção natural garantiu que essa modificação só podia dar-se no sentido de um ambiente favorável” (LOVELOCK, 1991: 109). Nesta perspectiva, a divisão da química em orgânica e inorgânica é artificial e dificulta o reconhecimento de que a química da vida e a química do ambiente material estão intrinsecamente relacionadas, fazendo parte de um único domínio. Um exemplo é o 3 O feedback positivo reforça a variação, é mais rápido, porém instável. O feedback negativo inverte a variação.
  • 8. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 8 paralelismo existente entre os fluxos anuais dos principais gases de Gaia e os fluxos químicos diários do organismo humano (LOVELOCK, 1991). A conexão entre a bioquímica, os genes e Gaia, reside nas propriedades de moléculas simples das células vivas. A ação do ácido desoxirribonucléico4 (ADN) depende do funcionamento de outras células estruturais, sem as quais ele não poderia replicar-se. Entre estas células, as mais importantes constituem as membranas celulares que mantém esta estrutura dada a existência de forcas intermoleculares fracas, conhecidas como forcas de Van Der Waal. Para LOVELOCK (1991) as propriedades do ADN estão relacionadas com as propriedades vastas da terra através destas forças fracas da bioquímica que mantém as membranas celulares de todos os organismos vivos. As membranas são essenciais e não se constituem em paredes passivas. Para a vida ser possível, as condições físicas e químicas do ambiente deve permanecer entre limites adequados às membranas. Os organismos alteram o ambiente que os rodeia através de sua química. A pressão exercida pela seleção pode atuar favorecendo aos organismos que efetuam alterações positivas sobre o meio e conseqüentemente também favorece a sobrevivência da descendência. Isto é, não existe controle genético do ambiente, porém a intensa atividade dos genes modifica continuamente o ambiente material da terra, que exercem uma pressão seletiva sobre as gerações seguintes. É possível observar este fenômeno na evolução das células, com o surgimento da célula eucariota e dos organismos multicelulares. Os eucariotas tiveram vantagens na transferência ordenada de material genético e os multicelulares possuem maior capacidade de resistência a desitradatação. “Para definir a vida não basta dizer que lê se desdobra e é capaz de corrigir os erros cometidos durante esse desdobramento através da seleção natural entre a descendência... A vida tal como a conhecemos caracteriza-se pelo metabolismo...” (LOVELOCK, 1991:141) O qual consiste na absorção de materiais e energia livre do meio, realização de transações químicas e na expulsão de resíduos e energia de baixo grau sob a forma de calor. O metabolismo de Gaia é realizado pelos grandes ecossistemas fotossintetizadores, decompositores e consumidores. As plantas armazenam a energia que obtêm da luz do sol sob a forma de energia química potencial. Os decompositores utilizam os resíduos das plantas mortas convertendo-os em dióxido de carbono e metano. Os consumidores obtêm energia através da combustão interna de alimentos e oxigênio. O metabolismo de Gaia envolve todos os ecossistemas da terra, os organismos vivos, os gases, os oceanos e o solo, “em cada um deles verificamos que Gaia, o sistema constituído pela vida e pelo seu meio ambiente, se encontra envolvida em processos metabólicos que, à dimensão do planeta, estabelecem uma ligação entre a bioquímica dos organismos e a bioquímica da terra” (LOVELOCK, 1991:176). Para LOVELOCK (1991) o atual clima fresco e as condições de existência de vida na terra não podem ser explicados pela biologia, pela geofísica ou geoquímica isoladamente. Apenas um modelo geofisiológico, contemplando a evolução dos organismos, das rochas, dos oceanos e do ar como um sistema de interelações pode oferecer uma explicação plausível. 4 Os físicos também admitem que as propriedades microscópicas dos átomos e de suas partes se relacionam com as propriedades mais vastas do universo.
  • 9. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 9 Testar um sistema homeostático consiste em avaliar a sua capacidade de resposta à desordem e à agressão. Gaia sobrevive há pelo menos 3,6 bilhões de anos, tendo enfrentado muitos desafios, como a completa alteração do estado atmosférico e impactos de meteoritos. O fato de a vida ter persistido é demonstração de resistência do sistema, bem como, da existência de um organismo capaz de auto-correção e auto-regulação. Muitas críticas foram realizadas à hipótese de Gaia partindo-se do princípio de que os diversos organismos vivos da terra não poderiam funcionar em simbiose para regular o ambiente do planeta. A evolução através da seleção natural deveria sempre favorecer os genes. A regulação do planeta exigiria capacidade de previsão e de planificação por parte das biotas. Gaia não pode se reproduzir, não existindo a possibilidade de evolução por meio da seleção natural entre planetas. Estas críticas motivaram LOVELOCK (1991) a exprimir a idéia de Gaia em um modelo científico, o modelo do planeta margarida. O modelo sintetiza a regulação de uma única variável, a temperatura, e inclui uma única espécie, as margaridas, guardando semelhança a regulação da temperatura nos seres humanos, que não exige o exercício da previsão ou planejamento. A regulação é automática. No modelo, a evolução dos organismos e do ambiente físico constitui-se em um único processo evolutivo, onde existe lugar para no ecossistema para a seleção natural das margaridas. Inicialmente crescia no planeta margarida, apenas margaridas de cor clara e de cor escura. “Margarida pode ser imaginado como um planeta semelhante à terra, girando em torno de uma estrela como o sol. A temperatura existente à superfície de um planeta que recebe luz solar, é afetada pela profundidade da sua cor, devido ao efeito albedo: um planeta mais escuro absorve a luz solar e por isso aquece. Em Margarida, o solo é nu é de uma tonalidade média, nem escura e nem claro. O nosso planeta-modelo é úmido e fértil; as sementes crescem sempre que a temperatura é suficientemente quente, acima de 5◦ C. O crescimento máximo é obtido a temperaturas próximas dos 22◦ C, mas diminui a temperaturas altas e cessa acima dos 40◦ C. Imaginem que, tal como o sol, a estrela de Margarida aquece à medida que evolui... Quando o rendimento da estrela tiver aumentado o suficiente para elevar a temperatura das regiões equatoriais do planeta Margarida até os 5◦ C, algumas sementes de margarida germinar e crescer. As margaridas de cor escura são favorecidas, por que absorvem uma quantidade maior de luz da estrela e são mais quentes do que o solo nu. As margaridas claras são desencorajadas, porque refletem a luz da estrela e são mais frias do que a superfície nua... O extenso revestimento do solo das margaridas escuras altera a reflexibilidade da superfície, e o planeta aquece juntamente com as margaridas. Rapidamente, devido a um forte feedback positivo, o crescimento das margaridas escuras e a temperatura do planeta elevam-se até que, em determinado ponto situado acima do ótimo para o crescimento das margaridas, a temperatura e o crescimento estabilizam. Agora o planeta está quente, as margaridas claras crescem e competem com as margaridas escuras pelo seu espaço, até que o arrefecimento que provocam altere de forma adversa à temperatura do ambiente. Por último, atinge-se um certo equilíbrio entre as margaridas escuras e as claras, com albedo médio próximo daquele que é necessário para manter a temperatura da superfície
  • 10. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 10 num valor ótimo para o crescimento das margaridas “(LOVELOCK, 1991:90)”. Mesmo com a introdução de margaridas de cor neutra que estariam libertas da necessidade de fabricar pigmento e assim teriam vantagem na taxa de crescimento, a regulação do clima persiste pelas margaridas claras e escuras, pois as margaridas neutras só florescem quando as condições são ótimas, isto é a ausência de necessidade de regulação. Outra crítica diz respeito ao “fato de que a escala de luminosidades solares, em que este sistema auto-regulável é possível, ser limitada, como prova de que a idéia de auto-regulação é errada. A estes críticos posso dizer apenas que o fato de poderem morrer se forem sobreaquecidos ou congelados não significa que não estejam vivos neste momento” (LOVELOCK, 1991: 94- 96). Outra crítica diz respeito à possibilidade de destruição das margaridas por um vírus. Mais uma vez isto se refere à possibilidade de morte do sistema e não se constitui uma demonstração de que ele não existe. A ampliação do modelo das margaridas, incluindo coelhos, representado os herbívoros e raposas, representando os predadores, e que possui características adaptativas e evolutivas, é tão eficaz na regulação da temperatura como o modelo original, mesmo na presença de perturbações. Além disto, “um aspecto intrigante do modelo que inclui as margaridas batoteiras cinzentas, e do modelo que inclui herbívoros e predadores, é que, ao contrário da experiência habitual dos modelos biológicos de populações, há mais de duas espécies de organismos presentes, coexistindo num estado de estabilidade constante5 ” (LOVELOCK, 1991: 96). 4. IMPACTOS DA MUDANÇA DE PARADIGMA NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS A acumulação de bens materiais intensificada pela revolução industrial é realizada com um alto custo ambiental. Isto porque o capital natural, imprescindível para o desenvolvimento da humanidade, esta sendo rapidamente dilapidado, em nível de estoque de recursos naturais como também, dos sistemas vivos que oferecem serviços biológicos como a armazenagem de água, regulação dos oceanos, processamento de resíduos, proteção contra os extremos climáticos, regeneração atmosférica, etc. Dentre as principais conseqüências da agricultura intensiva, as quais causam à queda da produtividade agrícola, está à degradação física e orgânica do solo, o elevado custo energético fóssil em relação ao retorno que se obtém em energia alimentar, a contaminação das águas, o esgotamento de lençóis subterrâneos para o uso na irrigação de 5 A adição de uma terceira espécie tornava os modelos instáveis como no problema dos três corpos na astrofísica.
  • 11. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 11 forma ineficiente, a destruição ou a privatização da diversidade genética, a dependência química das monoculturas, etc. A necessidade do desenvolvimento sustentável impõe-se pela sobrecarga nos sistemas vivos, principalmente devido à tecnologia extrativista que possui custos raramente calculados e internalizados nos preços. Neste sentido os limites do desenvolvimento estão mais no capital natural do que na capacidade industrial e tecnológica. A ótica do capitalismo natural reconhece a interdependência fundamental entre a produção e o uso do capital produzido pelo homem, bem como, entre a conservação e o fornecimento de capital natural. No entanto, prescinde de uma nova mentalidade. Trata-se de uma nova perspectiva de rentabilidade, planejamento, padrão de consumo e produção. Isto significa que a intensificação da produção através da industrialização da agricultura deverá ser repensada. De acordo com Hawken, Wendell Berry disse “quando nós atravessamos o continente abatendo as matas e arando os prados, não sabíamos o que estávamos fazendo porque não sabíamos o que estávamos desfazendo” (HAWKEN et al 1999:177). Isto é, a agricultura intensiva que transformou vastos e complexos ecossistemas nativos em grandes extensões de trigo, sorgo e milho, que utiliza fertilizantes sintéticos e pesticidas, é fruto da ignorância ecológica. Neste sentido é preciso resgatar e aprimorar o conhecimento tradicional da agricultura, os quais eram mais baseados nos modelos naturais, tendo a compreensão de que o solo é um ecossistema de Gaia e que as atividades agrícolas possuem impactos não apenas no solo, mas também atmosfera, na fauna e na flora, já que o aumento das fronteiras agrícolas destrói os sistemas nativos e leva à escassez de chuvas. Deve-se pensar a agricultura de forma sistêmica, buscando sempre se harmonizar com os ciclos naturais. Nesta perspectiva o uso de pesticidas para erradicar pragas e pestes é um erro, pois todo sistema deve possuir uma certa quantidade de pragas que servem de alimento aos predadores, mantendo-se o equilíbrio do ecossistema. Além do mais, os pesticidas transformam insetos anteriormente inofensivos em pragas, tornam as pragas resistentes a este tipo de tratamento químico. Isto é, no longo prazo este tipo de agricultura é lucrativa apenas para os fornecedores de insumos. Isto porque exige-se cada vez mais fertilizantes para substituir os serviços ecológicos gratuitos que o solo, outras plantas e o esterco oferece ao sistema natural. As mudanças climáticas pressionam ainda mais a monocultura especializada e, nos dias de hoje, apuradas pela engenharia genética, a qual precarisa a resistência da cultura à temperatura, umidade e insolação. Esta fragilidade vinda da troca dos sistemas naturais altamente adaptáveis para sistemas artificiais especializados pode ser altamente destrutiva se os últimos se depararem com condições muito diferentes das condições estáveis pressupostas pelos engenheiros genéticos. Esta substituição A nova agropecuária deve ser pensada de acordo com quatro estratégias consideradas para que todas as formas de capital sejam valorizadas: a produtividade dos recursos, o biomimetismo, a economia de serviço e fluxo e o investimento em capital natural. Faz com que a biomassa existente de bactérias e fungos e a própria biota do solo morra, apodrecendo-se, oxidando-se e liberando carbono no ar6 . 6 “Essa perda líquida de carbono do solo contribui com aproximadamente sete por cento do carbono ora presente na atsmofera” ( Lal et al apud Hawken et al 1999:191).
  • 12. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 12 A produtividade dos recursos deve ser aprimorada através de muitas e simples aplicações de criatividade tendo como referência a sabedoria da natureza e não a esperteza do homem. Neste sentido, deve procurar sistemas que reutilizam os resíduos em ciclos fechados, como o metabolismo de Gaia, bem como, sistemas poupadores de energia não renovável. Para isto, deve-se repensar também a escala de produção. A produção local e com base na comunidade, seja em ambiente fechado ou ao ar livre, seja no campo ou na cidade, reduz a utilização de energia fóssil com transporte, a qual não seria viável economicamente se não fosse subsidiada na maioria das vezes. “Cerca de 15% da produção agrícola mundial já provêm das cidades. Na China, essa agricultura desenvolvida em quintais, terrenos e telhados fornece mais de 85% dos legumes urbanos” ( HAWKEN et al.1999:187). O fechamento do ciclo através da reutilização de resíduos deve ser feito na plantação e nas indústrias de processamento. Muitos destes refugos podem até gerar biocombustível. Na verdade, devemos contar o valor da terra nua não em hectares, mas de acordo com as condições de saúde do ecossistema solo, pois este abriga uma microflora complexa, com muitos processos bioquímicos ainda desconhecidos. As pastagens também estão dentre as atividades que devem buscar a harmonização com os ciclos naturais. A pastagem de base ecológica demonstra que é muito melhor restaurar e manter o pasto em terras que evoluíram com os ruminantes e não conservam a saúde sem eles. De acordo com Hawken, Allan Savory observou que “o pastio de animais nativos, cercados e acossados pelas feras, é muito concentrado no tempo e no espaço. O rebanho muda rapidamente de lugar, deixando pegadas profundas na terra revirada, as quais retêm o esterco, a água e as sementes que geram o capim no ano seguinte” (HAWKEN et al. 1999:193). Sobretudo no oeste dos Estados Unidos, Savory “constatou que grande parte dos pastos normalmente considerada esgotada na verdade está subaproveitada por ter sido utilizada erroneamente” (HAWKEN et al. 1999:193). A compreensão ecológica de cada pedaço de terra permite a administração rotativa intensiva, de modo a utilizar o pasto no pico nutricional, garante o tempo adequado para que o esterco retorne ao solo, fechando o ciclo do nutriente sem produzir resíduos tóxicos. “As práticas comuns da agricultura orgânica moldadas em ecossistemas complexos geralmente têm produção comparável ou apenas ligeiramente inferior à da agricultura química, porém com custos mais baixos” (HAWKEN et al. 1999:194). Essa vantagem é ainda maior nas propriedades de escala familiar. A bioagricultura pode ser usada para repensar a “exploração” das matas tropicais até os desertos, das florestas temperadas às campinas. Sua eficiência é fruto da integração natural e seus retornos são mais para o agricultor e para o meio ambiente e menos para o fornecedor de insumos. “A eficiência desse método de transformar a luz do sol em alimento será, por sua própria natureza, a mais alta possível, pois se existisse uma maneira mais eficiente de fazê- lo, a natureza a teria encontrado” (HAWKEN et al. 1999:198). 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
  • 13. XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 13 BERTALANFFY, L.V. (1977). Teoria geral dos sistemas. Petrópolis, Vozes. CAPRA, Fritijof & STEINDL-RAST, David. (1991). Pertencendo ao Universo. São Paulo, Cultrix. CAPRA, Fritjof. (1982). O ponto de mutação. São Paulo, Cultrix. ROHDE, Geraldo Mário. (2003) “Mudanças de paradigma e desenvolvimento sustentado”. In: CAVALCANTE, Clóvis (Org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo, Cortez. HAWKEN et al.(1999). Capitalismo Natural- Criando a próxima revolução industrial.São Paulo, Cultrix/Amana-Key. HENDERSON, Hazel. (1991). Transcendendo a economia. São Paulo, Cultrix. JACOBS, Jane.(2001). A natureza das economias. São Paulo, Beca. KUHN, Thomas. (1962). A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Perspectiva. LOVELOCK, James. (1991). A prática da medicina planetar. Lisboa, Instituto Piaget. MORIN, Edgar. (1999). “Por uma reforma do pensamento”. In: Veiga, Alfredo Pena & Nascimento, Elimar. O Pensar complexo- Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro, Garamond.