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Baixar para ler offline
1
2	 Novembro · 2015
3
Clivonei Roberto	
clivonei@canaonline.com.br
Luciana Paiva
luciana@canaonline.com.br
CÁ ENTRE NÓS
Uuufaaa!!!
O Grupo Santa Terezinha, no Paraná, com
10 unidades, está entre os que vão esten-
der a colheita, ou melhor, não deve parar,
emendando as safras.
Muitos dizem que as expectativas
para o Brasil em 2016 são ainda de mui-
tos problemas, mas que para a agroindús-
tria canavieira o cenário é de recuperação.
Que assim seja!
P
ara o setor sucroenergético, até que
enfim surge a luz no fim do túnel.
Esta foi a impressão que tivemos dos
participantes do 8º Congresso Nacional
da Bioenergia Udop/Stab, realizado em
11 e 12 de novembro em Araçatuba, SP. O
mesmo sentimento pôde ser encontrado
nos participantes de vários outros eventos
do setor.
A explicação se deve aos bons preços
do etanol no mercado interno e do açú-
car no mercado externo. Este último incre-
mentado pela valorização do dólar e pela
informação de déficit no estoque mundial.
A valorização dos produtos está in-
centivando muitas usinas a estenderem a
moagem, reduzindo a quantidade de ca-
na-bis, mesmo que tenham de brigar com
as chuvas que têm atrapalhado a colheita.
Capa
DNA Canavieiro
Holofote
-	Qual é o futuro
	 do etanol hidratado?
Tendências
-	Gerindo custos na crise
ÍNDICE
Nordeste
-	Cana volta a
	 incrementar a
	 geração de emprego
	 em Pernambuco
Insectshow
-	Para controlar a
	 Ferrugem Alaranjada,
	 não precisa
	 erradicar o canavial
Editores:
Luciana Paiva
luciana@canaonline.com.br
Clivonei Roberto
clivonei@canaonline.com.br
Redação:
Adair Sobczack
Jornalista
adair@canaonline.com.br
Leonardo Ruiz
Jornalista
leonardo@canaonline.com.br
Marketing
Regina Baldin
Comercial
comercial@canaonline.com.br
Editor gráfico
Thiago Gallo
Tecnologia Agrícola
-	Cuidando da soqueira
Tecnologia
Industrial
-	Mais impurezas e
	 menos açúcar, este
	 é o cenário do setor
Economia
-	Benefícios da rotação de cultura
	 da cana com leguminosas
Pesquisa &
Desenvolvimento
-	Ridesa completa
	 25 anos e domina
	 os canaviais
Sustentabilidade
-	Lançado relatório sobre
	 o Projeto RenovAção
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CanaOnline é uma publicação
digital da Paiva& Baldin Editora
HOLOFOTE
7
râmetro da equação, veja o que vai acon-
tecer com o resto. Não é solução simples.
Parte da solução cabe a nós, que é resol-
ver o mecanismo de precificação do hi-
dratado e do anidro.
Celso Torquato Junqueira Franco,
diretor presidente da UDOP (União
dos Produtores de Bioenergia)
e diretor da Usina Pioneiros
Para de falar que
hidratado não
tem espaço
Estamos passando por uma
transição que ainda está
longe de acabar e
não temos chances
de dizer que álcool
hidratado não é um
produto importante.
Inclusive de regula-
ção de mercado. Vejo
que num futuro próximo, talvez, isso pos-
sa mudar quando todos os mecanismos
de uso de combustível limpo em vários
países do mundo estiverem definidos, de-
terminando o uso do etanol como aditivo.
E isso poderá levar a um grande aumento
da exportação. Mas hoje vejo o etanol hi-
dratado como produto de vital importân-
cia, no só em termos competitivos como
de criação de novos empregos, novas in-
dústrias, e pelo grande potencial que tem.
No curto e médio prazo, não tem chance
de continuarmos falando que o hidrata-
Ficou como
patinho feio
Oetanol hidratado permanece ou aca-
ba? É uma polêmica que se mantém
nas rodas de conversas. Na minha leitura,
quem estabelece hoje o preço do etanol,
dos produtos da cadeia, via de regra, é o
etanol hidratado, porque, de certa forma,
está atrelado ao preço da gasolina. Para o
anidro, nós convencionamos o preço em
relação ao hidratado. Quanto ao açúcar, a
partir do momento que a commodity re-
munera mais que o etanol, aumenta o mix
para açúcar. Quando inverte, aumenta o
mix para etanol. O biocombustível acaba
também gerando um parâmetro de preci-
ficação de açúcar no mercado internacio-
nal. Assim, o etanol hidratado ficou como
o patinho feio. Mas pensando num mo-
delo sem o etanol hidratado, como re-
solvemos o problema da sazonalidade de
produção? Hoje, quando tem excesso de
cana, o excesso de produção migra para
o hidratado. Isso porque o açúcar tem de-
manda estabelecida no mercado interna-
cional para cada ano. Se forçar a barra cai
muito o preço, piorando a rentabilidade.
No caso do anidro, é o volume de venda
de gasolina que determina sua demanda;
no máximo é possível interferir é na va-
riação da mistura.
Onde é que de-
sova o excesso
de produção de
cana? No hidra-
tado. Tira esse pa-
8	 Novembro · 2015
do não tem mais espaço. Temos inclusive
que ponderar nessa discussão. Podem até
imaginar que estamos pensando em redu-
zir a produção brasileira de etanol.
Ismael Perina, engenheiro
agrônomo e presidente da Câmara
Setorial de Açúcar e Etanol
Por um combustível
de melhor qualidade
Aquestão não é acabar com o álco-
ol carburante, mas deixar de fabri-
car um combustível meio ‘fajuto’, que tem
água. Se água fosse boa para o motor à
combustão, estava tudo resolvido. O álco-
ol carburante continuaria do mesmo jeito,
mas de melhor qualidade, sem água. E falo
em criar um programa de marcas e mer-
chandising sobre o assunto, mas para isso
precisa de muito dinheiro. O setor nunca
se preocupou em fazer reserva para esse
tipo de coisa. Seria fazer uma grande mu-
dança mercadológica, quase como lançar
um novo produto, buscando junto ao go-
verno novas condições, nova regulamen-
tação, inserção na matriz energéti-
ca brasileira. Concomitante a isso,
uma grande mudança da indús-
tria automobilística a fim de aca-
bar com essa tapeação de
ter motor a gasoli-
na adaptado para ál-
cool, com um rendi-
mento muito menor.
Essa discussão é algo
muito mais amplo do que simplesmente
deixar de produzir um produto, mas isso
exigiria um processo de vários anos. De
qualquer forma, não conheço nada que
seja melhor para o Brasil do que esse pro-
grama como um todo e seus derivados.
Maurílio Biagi Filho,
presidente do Grupo Maubisa
Mecanismo de
regulação
Ohidratado é a esponja que regula o
sistema e serve como mecanismo
de regulação desta in-
dústria. E é um mo-
delo que deveria ser
cogitado em outros
países.
Plínio Nastari,
presidente
da Datagro
Consultoria
Acaba com
o setor
Dos nossos 600 mi-
lhões de tone-
ladas de cana que
moemos no Cen-
tro-Sul, 200 mi-
lhões de to-
neladas são
transformadas
HOLOFOTE
9
em hidratado. Se não tivermos hidratado,
é muita cana para ‘chuparmos’. Não tem
mercado de açúcar para colocar mais 15
milhões de toneladas. E não tem anidro
para crescer nessa velocidade. Se acabar
com hidratado, acaba com o setor.
Luis Roberto Pogetti,
presidente do Conselho de
Administração da Copersucar
Temos problemas
maiores
Pelo que entendi da
proposta, não é aca-
bar com o hidratado,
mas que o E100 seja fei-
to com o anidro. Um
etanol sem água,
e que continu-
asse a mistura
dos 27% à ga-
solina. Mas par-
ticularmente me
preocupo mui-
to com isso, porque
teríamos um pro-
duto só. E neste caso minha preocupação
está com o governo, que afeta o nosso dia
a dia. Vide o que aconteceu nesse ano. Co-
meçamos o ano subindo a mistura de 25%
para 27% e os contratos de anidro baixa-
ram bastante. Ganhamos demanda, mas
perdemos preço, a princípio. Além disso,
acho difícil, ao tirar a água, ganharmos al-
guma coisa de eficiência energética. Mas
acho que é um assunto a ser bem discuti-
do, mas hoje temos problemas maiores. A
grande questão é a nossa vontade de en-
frentar estes grandes desafios.
André Rocha, presidente do Fórum
Nacional Sucroenergético e do Sifaeg
(Sindicato da Indústria de Fabricação
de Açúcar e Etanol de Goiás)
O hidratado vai ficar
OBrasil construiu nesses últimos 40
anos o maior programa de combus-
tível renovável do mundo. Agora o país
deverá ratificar seus compromissos com
relação à energia renovável na COP-21, a
partir de 30 de novembro, em Paris. Por
isso, falar em terminar com o álcool hidra-
tado significa maior consumo de combus-
tível fóssil. E para o Brasil, no momento
econômico difícil que enfrenta, o hidra-
tado é vital para a balança comercial, até
porque o país não tem projeto para novas
refinarias. Seja por pressão externa, para
que cumpramos os acor-
dos firmados na COP-21,
ou por pressão de caixa,
o etanol hidratado vai fi-
car e vai continuar inse-
rido de maneira cada vez
mais importante na nossa
matriz energética.
Jacyr Costa
Filho, diretor da
Divisão Brasil do
Grupo Tereos
10	 Novembro · 2015
TENDÊNCIAS
rado pela agência de classificação de risco
Standard & Poor’s.
A situação se agrava ainda mais dian-
te de uma crise política. O desacordo en-
tre Planalto, Senado e Câmara se intensi-
fica diariamente e dificulta aprovações de
políticas econômicas, fazendo com que
o país vivencie um momento de elevada
instabilidade.
É claro que muitas questões não es-
tão ao nosso alcance e dependem unica-
mente do direcionamento do governo, mas
apenas esperar por condições melhores de
mercado é o mesmo que aceitar todos os
impactos negativos trazidos pela crise do
país. É importante olhar para o ambiente
Gerindo custos na crise
Ana Malvestio1
e Luis Seixas2
T
odos sabem que a economia brasi-
leira está passando por momentos
difíceis. Segundo o Banco Central,
o país terá uma recessão em 2015, com re-
dução do Produto Interno Bruto (PIB) de
2,85%, aliado a uma elevação da inflação
que deve finalizar o ano a 9,53%. A moeda
brasileira sofre desvalorizações a cada dia
e o preço do dólar já gira em torno de R$
4,00, com picos de alta dependendo dos
movimentos do mercado. Por conta disso,
o país não deve conseguir cumprir a meta
de superávit primário e já mencionou um
orçamento deficitário para 2016. A conse-
quência deste cenário econômico resultou
na perda do selo de “bom pagador”, reti-
AS EMPRESAS CONSIDERADAS REFERÊNCIA EM GESTÃO
PODEM GERAR RESULTADOS CERCA DE 50% MELHORES
QUE A MÉDIA DO SETOR EM QUE ATUAM
Uma das saídas é baseada na aceleração de resultados. O
foco nesse momento é obter um retorno financeiro rápido
11
interno e encontrar soluções para superar
os desafios do atual momento, com a rea-
lização de ajustes para melhorar os resul-
tados. Mesmo na crise, isso é, sim, possível!
Mesmo na crise é possível
melhorar resultados
As empresas consideradas referência
em gestão podem gerar resultados cer-
ca de 50% melhores que a média do setor
em que atuam. Gestão é um tema muito
amplo que pode envolver múltiplas ações
voltadas para diversos objetivos. Porém,
quando se trata de um momento de cri-
se, se torna mais necessário olhar para os
custos. O baixo faturamento, proveniente
das condições adversas do mercado, pode
ter impacto menos significativo nos lucros
se os custos forem bem geridos.
Na PwC Brasil, o modelo de gestão
de custos é divido em duas fases interliga-
das. A primeira delas é baseada na acele-
ração de resultados. O foco nesse momen-
to é obter um retorno financeiro rápido,
que pode ser atingido, por exemplo, por
meio da eficiência tributária. Identifica-
ção de créditos não apropriados e de car-
gas tributárias que podem ser reduzidas
geram benefícios de curto prazo com im-
pacto imediato nos resultados financeiros
e, nessa primeira fase, o retorno financeiro
que a empresa obtém gera o financiamen-
to para pagar a segunda fase.
A segunda fase é focada na mudança
da cultura da empresa, visando uma redu-
ção de gastos sustentáveis. Portanto, exige
estruturação da gestão orçamentária, me-
lhorias de controles e envolvimento e ca-
pacitação de diversos gestores da empresa.
Os resultados não são imediatistas, como
na primeira fase, mas as ações implementa-
das representam um divisor de águas para
a empresa quando se trata do tema cus-
tos. O foco será sempre no binômio custo
Tem coisa que não dá para ficar esperando pelo fim da crise política
12	 Novembro · 2015
TENDÊNCIAS
= preço x consumo. Para a alavanca “pre-
ço”, a firma conta com as melhores práti-
cas do mercado em compras estratégicas,
que podem auxiliar nas formas de negocia-
ção com fornecedores, revisão de contra-
tos, técnicas de parametrização, etc. Na ala-
vanca “consumo”, a PwC Brasil estabelece
comparações entre áreas similares ou utili-
zando benchmark para identificar quais as
áreas que estão consumindo mais uma de-
terminada natureza do gasto e quais as que
estão consumindo menos. A partir dessa
diferença, são estabelecidas as lacunas e
planos de ação estruturados.
É importante tomar cuidado com cor-
tes lineares, pois essa ação pode trazer im-
pactos significativos para as organizações.
Por exemplo, uma empresa, forçada pe-
las condições econômicas desfavoráveis,
pode decidir impor um corte linear de 12%
em todos os custos. O resultado será nega-
tivo, pois gestores que têm um orçamento
inchado serão menos prejudicados do que
aqueles que realmente buscam gerenciar
os custos e construir um orçamento enxu-
to. O maior impacto está associado à per-
cepção desses gestores sobre a previsão
de gastos, e a tendência é que todos pas-
sem a construir um orçamento mais “fol-
gado” para amenizar os impactos de uma
possível crise e novo um corte linear.
Neste contexto, a gestão de custos é,
com certeza, um dos melhores caminhos
para enfrentar o momento delicado que
atravessa o Brasil. Reagir diante dos desa-
fios e acelerar mudanças internas são os
primeiros passos para se sobressair diante
desse cenário.
É preciso promover
redução de gastos
sustentáveis
1
Sócia da PwC
Brasil e líder de
Agribusiness para o
Brasil e Américas
2
Sócio da PwC Brasil,
especialista em gestão
de custos e melhoria na
eficiência operacional
13
14	 Novembro · 2015
NORDESTE
Luciana Paiva
REATIVAÇÃO DE TRÊS USINAS GERA 12 MIL EMPREGOS EM PLENA CRISE E É
RESPONSÁVEL POR PERNAMBUCO LIDERAR A GERAÇÃO DE EMPREGOS NO PAÍS
Cana volta a incrementar a geração
de emprego em Pernambuco
Em Pernambuco ainda predomina o corte manual da cana;
a alta incidência de topografia acidentada contribui para isso
D
urante o governo do presiden-
te Lula, Pernambuco era um can-
teiro de obras, faltava trabalhador
e sobrava vagas de emprego. Trabalhar
nas usinas de cana passou a ser uma op-
ção descartada, o negócio era ser operá-
rio nas obras do Porto de Suape, na refi-
naria Abreu e Lima, na pavimentação das
estradas ou na construção de fábricas que
se instalavam no estado.
Mas o “milagre econômico Lulista”
chegou ao fim. O corte dos investimen-
tos e a paralisação das obras empurra-
ram Pernambuco a liderar as estatísticas
de campeão nacional do desemprego. Po-
rém, neste ano, mais precisamente no mês
15
de setembro, o ranking do Cadastro Ge-
ral de Empregados e Desempregados (Ca-
ged) apontou Pernambuco como o maior
gerador de vagas do Brasil.
Em Pernambuco, foram admitidos
em setembro 52.583 pessoas e desliga-
das 37.335, com um saldo de 15.248 va-
gas criadas no período, o que represen-
ta 1,16% mais vagas em comparação com
agosto. Em todo o país, foram fechadas
95.602 vagas.
A expansão do número de vagas com
carteira assinada no estado se dá devido a
um componente sazonal, que são as ativi-
dades ligadas ao setor da cana-de-açúcar.
A indústria de transformação foi responsá-
vel pela criação de 10.824 postos, enquan-
to a fabricação do açúcar bruto correspon-
de a 2.061 vagas. A agropecuária acumulou
5.818 postos de trabalho, sendo 4.112 do
cultivo da cana e 1.214 do cultivo da uva.
A reativação das usinas Pumaty, em
Joaquim Nabuco, Cruangi, em Timbaúba,
e Pedrosa, em Cortes, incrementou ain-
da mais a geração de empregos promo-
vida pelo setor sucroenergético pernam-
bucano. As usinas “renascidas” já geraram
12 mil empregos diretos e indiretos. “Es-
tamos quebrando paradigmas, porque di-
zem que usina que fecha não abre mais e
80 unidades industriais fecharam no Brasil
nos últimos cinco anos”, diz Alexandre An-
drade Lima, presidente da Associação dos
Fornecedores de Cana de Pernambuco
(AFCP) e da Cooperativa do Agronegócio
dos Fornecedores de Cana de Pernambu-
Na época do milagre econômico Lulista sobravam obras em Pernambuco
16	 Novembro · 2015
NORDESTE
co (Coaf), gestora da Cruangi. Já a Puma-
ty foi reaberta pela Cooperativa Agrocan.
Neste cenário de gasolina cara, dó-
lar barato e menor estoque mundial de
açúcar, os nordestinos analisam que este
momento é vantajoso porque as usi-
nas podem exportar mais açúcar e tam-
bém podem produzir etanol, que está
“Enquanto outros estados fecham
usinas, nós abrimos. E abrimos na hora
certa”, diz Gerson Carneiro Leão
“Menino Monstro” derruba
previsão de safra no Nordeste
M
aior que o ocorrido em
1997/1998, esta é a análise so-
bre o “El Niño” 2015, tanto que
foi batizado de “Menino Monstro. Este fe-
nômeno climático é caracterizado pelas
temperaturas altas na superfície dos ma-
res no Pacífico, e ocorre entre a costa oes-
te da América Latina e o Sudeste Asiático,
mas seus efeitos podem ser sentidos em
todo o mundo – atingindo Japão e a re-
17
mais competitivo em relação à gasolina,
com isso, maior demanda. “Enquanto ou-
tros estados fecham usinas, nós abrimos.
E abrimos na hora certa. Havia um milhão
de toneladas de cana sobrando na região
e o preço do açúcar reagiu, porque a sa-
fra da Índia quebrou. Agora, estamos mo-
endo fila atrás de fila e já estamos expor-
gião norte do Pacífico. Várias vezes, ele le-
vou a desastres naturais.
A grosso modo, trata-se de um ciclo
anual que, em alguns anos, é pouco sen-
tando até para a Europa”, diz feliz Gerson
Carneiro Leão, sócio da usina Pedrosa. Mas
não é só ele que comemora, mas também
as comunidades em que as usinas estão
inseridas, pois a expectativa é que, ao fi-
nal do ano, cada unidade fature pelo me-
nos R$ 30 milhões. Nesta safra, 18 unida-
des estão em atividades em Pernambuco.
tido. A mudança da temperatura na su-
perfície do mar interage com a atmosfera
sobre o Oceano Pacífico e, em uma tem-
porada extrema, verifica-se o que os cien-
Além das perdas na safra atual, as soqueiras precisam da chuva para garantir a próxima safra
18	 Novembro · 2015
NORDESTE
tistas chamam de “evento”. De três a sete
anos, acontece um pico: quando quanti-
dade suficiente de água quente – em um
“El Niño” – se concentra no leste do Pací-
fico, próximo a costa do Peru. Como um
evento climático, pode-se perceber que os
picos começam no final de dezembro.
Mas o “Menino Monstro” já provoca
estragos no Brasil, com muita chuva na re-
gião Sul e seca no Nordeste, onde a cana-
de-açúcar foi seriamente afetada. O que
levou consultorias a reavaliarem para bai-
xo suas análises de produção. No fim de
outubro, a Datagro, maior consultoria do
mundo em cana, açúcar e etanol, reduziu
sua projeção para a safra Nordeste para 52
milhões de toneladas, ante os 59,2 milhões
de toneladas projetadas anteriormente.
Agora em novembro, a consultoria
FCStone reduziu em 6 milhões de tone-
ladas para 53,5 milhões a estimativa para
a moagem de cana-de-açúcar na região
Nordeste nesta safra 2015/16. Nos nú-
meros da FCStone, a previsão agora é de
uma produção de açúcar no Nordeste de
3,08 milhões de toneladas, uma queda de
13,6% em relação ao estimado em agosto
pela consultoria. Para a fabricação de eta-
nol, a nova estimativa da FCStone é de um
volume de 1,99 bilhão de litros, queda de
11,5% frente ao projetado em agosto.
Alexandre Andrade Lima, presidente
da Associação dos Fornecedores de Cana
de Pernambuco (AFCP), diz que a quebra
nos canaviais na zona da mata norte (a
mais seca do estado), chega a ser de 50%
e dá como exemplo a usina Cruangi, rea-
berta nesta safra após três anos sem moer,
“a expectativa era colher 500 mil tonela-
das, mas se confirmar o cenário de seca,
não deve chegar a 350 mil”. A Cruangi é
gerida pela Cooperativa do Agronegócio
dos Fornecedores de Cana de Pernambu-
co (Coaf), da qual Alexandre preside. Ainda
segundo ele, a média de quebra na safra
pernambucana deve ser de 25%, a mes-
ma média da região Nordeste. “Lamentá-
vel, justamente em um momento que os
produtos estão valorizados, teremos me-
nos matéria-prima.”
“Lamentável, justamente em um momento
que os produtos estão valorizados, teremos
menos matéria-prima”, diz Alexandre
19
20	 Novembro · 2015
INSECTSHOW
Para controlar a Ferrugem Alaranjada,
não precisa erradicar o canavial
Leonardo Ruiz
CONTROLE QUÍMICO PODE SER BASTANTE EFICAZ NO
CONTROLE DA FERRUGEM ALARANJADA DA CANA
E
m 2009, os técnicos agrícolas da Usi-
na Cerradão, localizada no municí-
pio mineiro de Frutal, começaram a
perceber que alguns canaviais da unida-
de apresentavam pequenas pontuações
amareladas em suas folhas. Naquele mo-
mento, não foi dada tanta importância a
esses sintomas, já que eles poderiam sig-
nificar apenas um segundo tipo de Fer-
rugem marrom (Puccinia melanocephala)
que estaria surgindo. Porém, aos poucos,
essas manchas foram evoluindo e passa-
ram a ganhar outro tom: mais alaranjado.
Esses sintomas se alastraram pelos
canaviais da Empresa e também por várias
outras unidades agroindustriais no Centro-
Sul. A Ferrugem alaranjada (Puccinia kueh-
nii), como ficou conhecida, chegava ao Bra-
Ferrugem alaranjada causou danos
ao setor, pois ataca, principalmente,
a variedade SP 81-3250, que, em
2009, era uma das mais cultivadas
CTC
21
sil por meio de correntes de ar, pegando
o setor de surpresa, pois ela ataca, princi-
palmente, a variedade SP 81-3250, que, na-
quela época, era uma das mais cultivadas.
A doença chegou a causar redução na pro-
dução agrícola na ordem de 30% a 50% em
TCH (toneladas de cana por hectare) e de
15% a 20% no teor de sacarose dos colmos.
Com esses números, muitos produtores
entraram em pânico, a ponto de erradicar
seus canaviais com a SP 81-3250, eliminan-
do-a do plantel varietal.
Na Cerradão, o cenário não era dife-
rente, já que a SP 81-3250 também era o
carro-chefe da empresa. Porém, o gerente
de produção agrícola da unidade, Michel
Fernandes, conta que o caminho tomado
foi outro. Em vez de erradicar completa-
mente o canavial, eles optaram em usar
outra medida de manejo, uma que impe-
disse os altos níveis de dano econômico
decorrentes da doença e que ainda per-
mitisse que as variedades atacadas con-
tinuassem sendo utilizadas. Os resulta-
dos foram excepcionais, pois o controle
da doença devolveu produtividade às va-
riedades. A forma de manejo escolhida foi
o uso do fungicida, e o produto escolhi-
do, o Opera®
, da BASF. Hoje, cerca de 28%
do canavial da Cerradão ainda é composto
pela 81-3250, número que seria bem me-
nor caso o modelo de combate adotado
tivesse sido outro.
Provando a eficiência
Embora os primeiros sinais de Ferru-
ARQUIVOCANAONLINE
Michel Fernandes conta que, em vez de erradicar completamente
o canavial, a Usina Cerradão optou pelo uso do fungicida
22	 Novembro · 2015
A doença chegou
a causar redução
na produção
agrícola na
ordem de 30%
a 50% em TCH
INSECTSHOW
gem alaranjada na Usina Cerra-
dão tenham aparecido em 2009,
o pico da doença começou em
2011. Naquele ano, Michel Fer-
nandes teve que provar para a diretoria a
necessidade de entrar com controle quí-
mico pesado nos canaviais afetados. Para
isso, decidiu separar duas áreas com Fer-
rugem e tratar apenas uma delas. O resul-
tado foi impressionante. “No canavial não
tratado, tivemos perdas de 20% a 30% em
TCH e redução de 5 a 6 Kg de Açúcares
Totais Recuperáveis (ATR). Já nos locais
em que o Opera®
foi aplicado, consegui-
mos recuperar a produtividade.” Segundo
ele, esses dados provaram não só os mo-
tivos de entrar com controle químico no
combate a Ferrugem alaranjada, mas tam-
bém a alta eficiência e custo-benefício do
Opera®
.
Atualmente, a empresa utiliza algu-
mas estações meteorológicas próprias
para prever o surgimento da doença. Esse
sistema analisa as condições mais favo-
ráveis à eclosão da Ferrugem alaranjada,
cruzando informações de variedade e cli-
ma, por exemplo. “Essa tecnologia aju-
da a dar mais suporte sobre o momento
ideal de aplicação do fungicida. Essa aju-
da é de extrema importância, pois errar o
timing de aplicação resultará em estouro
da doença e perca de produtividade”, afir-
ma Fernandes.
Controle preventivo
na Usina Estiva
A Ferrugem alaranjada se desenvol-
ve no final do ciclo da cultura, favoreci-
da por verões úmidos com temperaturas
amenas (21°) após um período de molha-
mento foliar acima de 12 horas. As regiões
central e leste do Estado de São Paulo são
as mais favoráveis para o desenvolvimen-
to da doença, seguidas da região do Oeste
Paulista, que apresenta condições climáti-
cas menos adequadas.
E esse, aliás, foi um dos motivos que
fizeram com que a Usina São José da Esti-
va, de Novo Horizonte, SP, não tivesse re-
gistrado, até o ano passado, grandes casos
de Ferrugem alaranjada. O gerente agríco-
la da Unidade, Júlio Vieira de Araújo, conta
que em 2013 alguns canaviais da empresa
foram mais comprometidos com a doen-
ARQUIVOCANAONLINE
23
24	 Novembro · 2015
ça, porém, devido ao bom uso de fungici-
das, as produtividades não foram severa-
mente impactadas.
Foram duas as variedades da Empresa
que tiveram maiores problemas com a do-
ença. A SP 81-3250, que corresponde a 3%
da área, e a CTC 15, encontrada em 15% dos
canaviais. “Não temos a intenção de elimi-
nar a CTC 15 de nosso plantel, pois é ela é
um material rústico e muito produtivo. Por
isso, temos trabalhado fortemente no con-
trole preventivo, para não deixar a doença
entrar. Até o momento, os resultados têm
sido muito animadores”, afirma Araújo.
O gerente explica que, para esse
monitoramento, a Usina conta com uma
equipe técnica bem treinada que faz ava-
liação das áreas com potencial risco de
surgimento da Ferrugem a cada 15 dias,
com especial atenção durante os meses
de novembro a fevereiro. “Caso sejam en-
contrados vestígios da doença, procura-
mos, imediatamente, entrar com a apli-
cação de fungicidas para não perder o
timing. Após esse processo, é realizada,
ainda, uma vistoria nessas áreas, para ve-
rificar a necessidade de uma segunda
aplicação”, finaliza.
“Na São José da Estiva uma das variedades atacadas foi a CTC 15,
encontrada em 15% dos canaviais. Porém, não temos intenção de eliminá-la
de nosso plantel varietal”, diz o gerente agrícola, Júlio de Araújo
ARQUIVOCANAONLINE
INSECTSHOW
25
CAPA
DNA Canavieiro
ESTÁ NO SANGUE DO PRODUTOR SABER CUIDAR DA CANA,
MAS PARA SE MANTER NA ATIVIDADE É PRECISO SE REINVENTAR
E DOMINAR O NOVO CENÁRIO SUCROENERGÉTICO
Luciana Paiva e Clivonei Roberto
Arthur: sangue
de agricultor e
paixão pelo trator
“S
e pudesse, o Arthur ficaria o
dia todo encarapitado no tra-
tor. É a paixão dele”, conta o
avô José Garcez, um dos 70 mil produto-
res de cana do Brasil. Mais precisamente,
José faz parte dos 90% dos pequenos pro-
dutores que colhem até 10 mil toneladas
de cana.
Com apenas três anos, o pequeno
Arthur é o retrato de um jovem agricul-
tor, calçado com botina e boné na cabeça.
Com olhar compenetrado, percorre com
26	 Novembro · 2015
Família Garcez:
Suzan, Paulo, Arthur,
José e Matheus
o avô a propriedade de 14 hec-
tares no município de Motuca,
SP. Acompanha a vacinação das
vaquinhas, confere se a planta-
ção está a salvo das saúvas e,
ao lado de seu irmão Matheus,
houve atento seu pai, Paulo, e
seu avô, José, explicarem como
se deve cuidar da lavoura.
Matheus tem 15 anos e seu sonho
é ser engenheiro agrônomo. Tem todo
o apoio de sua mãe Suzan, que observa
ser preciso ter ensino para poder produzir
mais e melhor. O avô concorda e salienta
que é fundamental aumentar a renda do
agricultor para que se mantenha no cam-
po. Para isso, é preciso ter maior produti-
vidade, mas sem conhecimento e tecnolo-
gia não é possível.
Os Garcez valorizam o velho trator
de propriedade da família. “Ele ajuda mui-
to.” Mas já pensou como seria se tivessem
um trator de última geração, com compu-
tador de bordo e tecnologia de precisão?
Ahhh, isso é luxo demais!
Não é não. Hoje, para se manter na
atividade é preciso unir tradição de ser
agricultor, conhecimento sobre o campo,
prática do dia a dia, tecnologias de ponta,
conhecimento acadêmico e novas oportu-
nidades de mercado.
Não basta mais ter só
no DNA a excelência
da produção canavieira
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho,
também conhecido como Caio, presidente
da ABAG (Associação Brasileira do Agro-
negócio), o fornecedor de cana é o elo
mais fraco da cadeia e é quem sofre mais
com a crise. Para Caio, de fato os produ-
tores têm no DNA a excelência da produ-
ção canavieira. Ele lembra que os resul-
tados dos fornecedores de cana sempre
foram melhores do que os da usina. “Pelo
capricho, pelo dia a dia, pela dimensão da
operação que realizam. Normalmente têm
resultado médio melhor que das usinas.”
Mas, na opinião dele, até mesmo fornece-
CAPA
27
28	 Novembro · 2015
dores de cana tradicionais, que estão há
décadas no setor, tiveram dificuldade de
manter um padrão de excelência na pro-
dução de cana por conta da crise.
Além da crise do setor, outro fator
que tem pesado no desempenho do pro-
dutor, segundo Maria Christina Pacheco,
presidente da Associação dos Fornecedo-
res de Cana de Capivari, SP, é que com o
fim da queima e a mecanização, o canavial
mudou e o produtor precisa se requalifi-
car para poder produzir melhor e se man-
ter no negócio. “A mecanização impõe
um novo jeito de cuidar da lavoura, des-
de a adubação até o espaçamento das li-
nhas de cana. E o produtor, por mais que
tenha a cultura canavieira no DNA, precisa
aprender a dominar esta nova realidade”,
diz Maria Christina.
Em relação ao fim da queima, Maria
Christina salienta não ser a favor da quei-
ma da palha da cana, mas observa que o
fogo reduzia a incidência de plantas da-
ninhas e pragas. “Com a cana crua, pre-
cisamos utilizar mais defensivos químicos
para controlar daninhas que não eram co-
muns nos canaviais, como a corda-de-vio-
la, que se enrola nos pirulitos da colhedo-
ra e travam a máquina. Aumentou muito
a presença da broca, o que nos leva a re-
alizar mais liberação de cotésia. Também
passamos a conviver com pragas como o
Sphenophorus. Para controlar isso tudo,
aumentou o custo de produção.”
Orplana muda a forma
de gestão para atender
a nova realidade do setor
Fundada em 1976, a Organização dos
Plantadores de Cana da Região Centro-Sul
do Brasil (Orplana) reúne 33 Associações e
16 mil produtores, que representam apro-
ximadamente 23% da cana produzida na
região – das 571 milhões de toneladas co-
lhidas na safra 2014/15, 129 milhões de
toneladas vieram dos fornecedores. De
acordo com Manoel Ortolan, presiden-
te da Orplana, 90% desses produtores são
considerados pequenos, produzem até 10
mil toneladas de cana e respondem por
35% do total da cana de fornecedor.
Ortolan ressalta que o setor passou
por mudanças muito significativas nos
últimos anos, uma delas é a entrada de
grandes grupos e multinacionais, o que
provocou alterações na forma de nego-
ciação entre industriais e produtores de
cana. O cenário também exige que o pro-
CAPA
“O canavial mudou, o produtor
precisa aprender como lidar com esse
novo canavial”, diz Maria Christina
29
dutor mecanize o canavial e adote inova-
ções tecnológicas. No quesito representa-
ção de classe também houve mudanças.
Com a expansão da cana nas novas fron-
teiras, foram criadas associações que se
mesclaram com as já existentes, algumas
com mais de 70 anos. Com isso, as rein-
vindicações dos associados ficaram mui-
to diversas.
Este cenário, declara Ortolan, mos-
trou a necessidade urgente de promover
uma transformação na gestão da Orpla-
na para fazer frente à nova realidade. “Pre-
cisamos ser mais ágeis, estar mais próxi-
mos para assegurar aos seus associados
a oportunidade de continuarem no jogo.
Para isso, contratamos a Markestrat, ten-
do o professor Marcos Fava Neves à frente
desta consultoria. Eles realizaram um estu-
do para estruturação da Orplana. Através
do programa Caminhos da Cana, criado
pelo professor, visitamos 22 associações
de produtores de cana, ouvimos produ-
tores, técnicos, dirigentes. E quando isso
foi tudo tabulado, definimos seis diretrizes
para a Orplana e delas 19 projetos para
implementação”, conta.
As novas diretrizes da Orplana são:
“Este novo cenário mostrou a necessidade
urgente de promover uma transformação
na gestão da Orplana”, declara Ortolan
30	 Novembro · 2015
Reestruturação do Consecana
Além de reaprender a cuidar do ca-
navial, no momento, os produtores divi-
dem a atenção no debate que estão ten-
do com os industriais para a atualização
do sistema Consecana (Conselho dos Pro-
dutores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Ál-
cool), uma associação formada por repre-
sentantes das indústrias de açúcar e álcool
e dos plantadores de cana-de-açúcar, que
têm como principal responsabilidade ze-
lar pelo relacionamento entre ambas as
partes.
Para isso, o conselho criou um siste-
ma de pagamento da cana-de-açúcar pelo
teor de sacarose, com critérios técnicos
para avaliar a qualidade da cana-de-açú-
car entregue pelos plantadores às indús-
trias e para determinar o preço a ser pago
ao produtor rural. O sistema tem adoção
voluntária.
Pelo sistema, o valor da cana-de
-açúcar se baseia no chamado Açúcar To-
tal Recuperável (ATR), que corresponde à
quantidade de açúcar disponível na ma-
téria-prima subtraída das perdas no pro-
cesso industrial, e nos preços do açúcar e
etanol vendidos pelas usinas nos merca-
dos interno e externo.
Maria Christina diz que está no esta-
tuto do Consecana que o sistema deveria
ser reavaliado a cada cinco anos e isso não
tem acontecido. Resultado: está defasado
e o produtor, sendo prejudicado. “Hoje a
cana mais barata que entra na moenda
da usina é a do produtor. Compensa para
as usinas comprarem a cana de terceiros,
quem produz a cana é que arca com todos
os ônus. Alguns parâmetros do Conseca-
na precisam ser avaliados, o sistema tam-
bém precisa ser atualizado com a nova re-
alidade do setor, como o uso da biomassa.
O Consecana não é mais justo, precisa se
adequar”, afirma a dirigente.
Manoel Ortolan salienta que o Con-
secana é um sistema muito importante,
mas que precisa voltar a acompanhar as
mudanças. “No início tínhamos o açúcar
branco e o álcool hidratado, depois vie-
ram o açúcar VHP e o álcool anidro e en-
tendemos que seja a hora de agregar a co-
geração ao Consecana.”
CAPA
O projeto Caminhos
da Cana serviu como base
para a formulação das
novas diretrizes da Orplana
31
N
a maior parte das unidades
sucroenergéticas, dos 100%
da cana moída, 60% é própria
e 40% de fornecedor. Mas não é isso
que acontece nas unidades do Grupo
Zilor de Lençóis Paulista e Macatuba,
onde, desde 2004, 100% da cana mo-
ída são de parceiros agrícolas. O siste-
ma chamado parceirização começou
As lições vindas do Médio Tietê
PARCEIRIZAÇÃO, PRODUTOR TECNIFICADO E VENDA
DE PALHA SÃO DIFERENCIAIS IMPLEMENTADOS
PELA ZILOR E SEUS PARCEIROS AGRÍCOLAS
Cenário com fardos de palha de cana não é novidade na região
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
em 1999, em que o grupo sede suas
terras para o parceiro produzir a cana.
A produção de cada parceiro varia de
80 mil toneladas a 800 mil toneladas.
Luiz Carlos Dalben, diretor da
Agrícola Rio Claro e presidente da As-
sociação dos Plantadores de Cana do
Médio Tietê (Ascana), desde 2002 é um
dos parceiros do Grupo Zilor. A Rio Cla-
32	 Novembro · 2015
CAPA
indústria, então a relação é diferente.”
Dalben compara o sistema de
parceirização com o sistema conven-
cional. “A nossa cana tem qualida-
de melhor do que a da usina. A Usina
que trabalhamos tem, por exemplo, 15
frentes de trabalho. Se fosse uma usi-
na convencional seriam cinco frentes.
Então você consegue trabalhar de for-
ro cultiva 8.600 hectares e tem uma pro-
dução de 620 mil toneladas. Para ele,
esse sistema da Zilor é uma tomada in-
teligente, porque a cana da usina sem-
pre é mais cara do que a do fornecedor,
por questão de estrutura, já que a usina
tem uma estrutura maior. Além disso, o
produtor é dono do próprio negócio, o
que incentiva a ter maior envolvimen-
to, do que o funcionário da usina. “O
produtor de cana sente mais necessi-
dade de desenvolver tecnologia, de re-
alizar um trabalho bem-feito, porque
ele vive exclusivamente da cana. A usi-
na vive do açúcar, do etanol, da ener-
gia e de outros produtos. O produtor
não, por isso tem que ter lucro na cana.
A usina tem prejuízo na cana e lucro na
ma melhor e mais pontual em questão
de ATR, por exemplo. Nosso ATR está
135, que é a média acumulada até ano
passado. O TCH é 94. Isso levando em
consideração que temos 86% de am-
bientes D e E, que são os mais fracos.
Na verdade, estamos surpresos com
essa produtividade, mas o ano agríco-
la foi muito bom. Parte disso é decor-
Dalben:
parceirização e
venda de palha
para a usina
33
rente do ano agrícola e a maior parte
é das tecnologias que usamos, como
espaçamento, preparo de solo, cuida-
dos com colheita mecanizada, aplica-
ção de adubos e defensivos agrícolas
no momento certo. Tudo isso tem in-
fluência, fazendo com que ganhemos
produtividade.”
A Rio Claro trabalha com espaça-
mento de 50 x 1,40. “Estamos no quar-
to para o quinto ano com esse espaça-
mento e estamos tendo bom resultado.
Mas vamos ver realmente quando fe-
char o primeiro ciclo, porém, dificil-
mente vamos alterar o espaçamento a
não ser que apareça algo muito signifi-
cativo. Trabalhamos com canteirização,
faixa intercalar no preparo, colocação
de matéria orgânica, meiose, crotala-
ria, temos todo um sistema de prepa-
ro, realizamos um preparo profundo a
65 cm de profundidade. Trabalhamos
com esse sistema há oito anos e esta-
mos aperfeiçoando”, explica Dalben.
Segundo ele, a mecanização não
tem a perfeição do corte manual, mas
o custo final por tonelada da máqui-
na é menor. “Mesmo com mais perdas
do que no corte manual, o corte me-
cânico é mais lucrativo. Nosso sistema
todo é mecanizado, desde o preparo
de solo até a colheita. Tem usinas que
têm esmero e outras não, e a produti-
vidade está relacionada à operaciona-
lização do sistema. Se não tiver bom
preparo ou bom plantio não terá boa
Os produtores de cana
do Médio Tietê são
altamente tecnificados
34	 Novembro · 2015
colheita. O que também é essencial
é a capacitação de toda a equipe de
trabalho.”
Dalben salienta que os parcei-
ros são muito valorizados pela Zilor. E
que já há usinas tentando implemen-
tar um sistema parecido com o deles, o
de parceirizar a área agrícola e, assim,
reduzir um pouco a estrutura da usina
como um todo. “Eu acho que é um ca-
minho certo, mas é preciso ter parcei-
ro correto e usina correta. Tem que ter
honestidade e confiança no negócio”,
alerta.
Outro exemplo que vem de Len-
çóis é o pagamento pela palha da cana.
Desde 2004, a agrícola Rio Claro ven-
de palha para a Zilor. O sistema foi sen-
do aperfeiçoado e está dando tão cer-
to, que nesta safra a empresa ampliou
a parceria para outros oito produtores
de cana.
A Zilor realizou adaptações em
suas unidades industriais para o recebi-
mento e utilização direta nas caldeiras
da palha triturada no campo; com isso,
aumentou de 85 mil (2014/2015) para
200 mil toneladas (safra 2015/2016) o
CAPA
A Zilor realizou adaptações em suas unidades
industriais para o recebimento e utilização direta
nas caldeiras da palha triturada no campo
35
recebimento da biomassa, fornecida
por nove produtores. Além de aumen-
tar a sua disponibilidade de palha para
a geração de energia elétrica limpa e
renovável, a empresa garante ao for-
necedor receita extra, compartilhando
com a cadeia o valor agregado que a
energia traz para o negócio.
A empresa afirma que há a pos-
sibilidade de contribuir para a ma-
triz energética durante o ano todo,
não apenas no período da safra, des-
de que o governo apresente um mode-
lo com reconhecimento do diferencial
da energia gerada a partir da biomas-
sa como limpa e renovável, gerada no
período de menor vazão dos reserva-
tórios das hidrelétricas. Atualmente a
Zilor gera mais de 1.000.000 MWh/ano
e comercializa 600.000 MWh/ano, em
Contratos de Longo Prazo com vendas
realizadas nos leilões de 2006 e tam-
bém no mercado spot.
Essa experiência na comercializa-
ção da palha entre os produtores e a
Zilor está servindo de base para a ne-
gociação da agregação da cogeração
no sistema Consecana.
36	 Novembro · 2015
CAPA
Programa Cultivar une Raízen
e seus parceiros agrícolas
CULTIVAR VISA CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DE CUSTOS,
ESPECIALIZAÇÃO EM BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E OTIMIZAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE E DA QUALIDADE DA LAVOURA
Luciana Paiva
Lavoura com qualidade:
um dos objetivos do
programa Cultivar
D
as 72 milhões de toneladas de
cana moídas pela Raízen por sa-
fra, 50% vem de seus 3500 parcei-
ros agrícolas. “O produtor de cana é fun-
damental para nosso negócio, por isso
desenvolvemos ações para estreitar o rela-
cionamento e melhorar o desenvolvimen-
to da atividade”, salienta Carlos Martins
diretor de fornecedores de cana e parce-
rias agrícolas da Raízen.
Uma dessas ações é o Programa Cul-
tivar, lançado no ano-safra 2013/14, como
versão piloto e que visa contribuir para a
redução de custos, especialização em boas
práticas agrícolas e otimização da produ-
tividade e da qualidade da lavoura. O Cul-
tivar é estruturado a partir de cinco pilares
– Contribuição de compras, Desenvolvi-
mento de fornecedores, Reconhecimento
de desempenho, Linhas de Crédito e Ser-
37
viços - a iniciativa proporcionou aos 150
fornecedores envolvidos diversos bene-
fícios, entre eles a redução de custos na
aquisição de insumos para o campo, 256h
de treinamentos teóricos e práticos, cam-
panhas de incentivo para aumento de pro-
dutividade e qualidade, e a construção de
estrutura exclusiva para atendimentos nas
unidades da companhia.
O Cultivar já foi ampliado e envol-
ve 286 produtores, que representam 74%
da produção de cana-de-açúcar compra-
da pela companhia. Entre eles está Ma-
ria Christina Pacheco, que vê com mui-
to bons olhos essa parceria com a Raízen.
“Um dos pontos altos é que ao realizar-
mos compras de forma unificada por meio
da Raízen, temos volume e com isso po-
der de negociação, o que resulta em me-
lhores preços”, diz Christina, que ressalta
também as ferramentas (como os cursos
de qualificação) disponibilizadas pelo Pro-
grama para o aperfeiçoamento e cresci-
mento dos produtores.
Para o desenvolvimento do Progra-
ma, foram criadas ferramentas como:
Sala Cultivar – voltada exclusiva-
mente aos produtores de cana-de-açúcar
e parceiros da empresa, tem como obje-
tivo auxiliar o atendimento da equipe de
campo da região, além de proporcionar
um espaço para negociações e discussões
de assuntos inerentes ao negócio.
Central Agrícola – canal de aten-
dimento por telefone para todos os seus
parceiros das regiões de Piracicaba, Jaú,
Araçatuba, Andradina, Araraquara e Jataí.
A iniciativa tem como objetivo facilitar o
dia a dia do fornecedor esclarecendo dú-
vidas sobre as operações, pagamentos, e
outros assuntos relacionados. Há previsão
de expansão deste serviço para Assis no
Inauguração da sala Cultivar, em Valparaíso, SP
DIVULGAÇÃORAÍZEN
38	 Novembro · 2015
próximo mês de novembro.
Portal dos Fornecedores de Cana
– página na internet que permite o aces-
so personalizado a todas as informações
referentes à relação destes parceiros com
a companhia. O usuário cadastrado pode
acessar a página com seu CPF, do compu-
tador ou celular, e utilizar todas as ferra-
mentas disponíveis, como consulta ao ex-
trato financeiro, relatórios de entrega de
cana, entre outras.
Informações no celular – empre-
sa disponibiliza dados sobre o desempe-
nho e qualidade da colheita através tor-
pedos de celular (SMS). Periodicamente,
os fornecedores recebem em seu celular
cadastrado, informações sobre o nível de
impurezas minerais da cana, toneladas en-
tregues e ainda, dados consolidados que
contemplam desde qualidade e quanti-
dade, até os valores brutos, descontos e o
valor liquido a ser creditado na conta do
parceiro.
News “Cultivo da Informação” –
informativo bimestral encaminhado a to-
dos os fornecedores, com notícias e infor-
mações interessantes, com o objetivo de
facilitar o dia a dia do fornecedor de cana,
por meio de dicas para utilização do por-
tal do fornecedor, notícias sobre o merca-
do, e também ações da Raízen com intui-
to de beneficiá-los.
Incentivo e crédito
fazem parte do Cultivar
Para incentivar a maior produtivida-
de e qualidade da matéria-prima, o Cul-
tivar também empreende campanhas de
incentivo, com premiação para as melho-
res performances no último ano. Para ava-
liar seus 286 parceiros agrícolas envolvi-
dos no Cultivar, a companhia se baseia
nos indicadores de qualidade, produtivi-
dade, eficiência operacional e comprome-
timento com o programa. “Temos satisfa-
ção em ver o Programa Cultivar completar
CAPA
O maior volume de compra de insumos agrícolas reduz o preço: benefício ao parceiro do Cultivar
39
dois anos. Neste período, percebemos
um grande interesse de nossos parcei-
ros agrícolas em aumentar a qualidade e
a eficiência das operações. Nosso objeti-
vo é torná-los mais competitivos e premi-
á-los para aderirem às melhores práticas
de mercado. Isso posiciona nosso progra-
ma como pioneiro e referência em relacio-
namento com fornecedores no País”, ex-
plica Martins.
Ao fim da iniciativa, os seis fornece-
dores que alcançaram os melhores índices
de produtividade (TCH) em cada polo e os
seis com os melhores índices de qualida-
de da colheita (ATR) – também por polo –
foram premiados pela sua atuação. Além
disso, a campanha premiou os cinco me-
lhores fornecedores de cana-de-açúcar da
Raízen, que obtiveram resultados excep-
cionais em indicadores relativos ao negó-
cio (produtividade, qualidade, percentual
colheita mecanizada, adesão ao planeja-
mento de colheita e entrega de cana na
esteira.
Mas, para cuidar bem do canavial é
preciso ter recursos financeiros, assim, re-
centemente, a Raízen anunciou um con-
vênio de R$ 150 milhões com o Itaú BBA
para uso exclusivo dos fornecedores de
cana-de-açúcar participantes do Progra-
ma Cultivar.
O convênio pode ofertar um crédi-
to de até R$ 2,2 milhões por CPF ou CNPJ,
com juros de 8,75% ao ano, sujeito às re-
gras vigentes do Programa de Crédito Ru-
ral estabelecido pelo Banco Central do
Brasil e sujeito à análise de crédito. “Nos-
so objetivo com essa parceria é disponibi-
lizar uma opção de crédito a custos baixos
e prazos viáveis para o produtor”, diz Car-
los Martins.
De acordo com a Raízen, o financia-
mento pode ser usado nos tratos culturais,
com financiamento de até R$ 1,2 milhão e
prazo de pagamento de 18 meses, e tam-
bém na linha de investimento em plantio,
que oferece ao fornecedor R$ 1 milhão e
pode ser quitado em até cinco anos, com
carência de um ano.
“Nosso objetivo com essa parceria é
disponibilizar uma opção de crédito
a custos baixos e prazos viáveis para
o produtor”, diz Carlos Martins
DIVULGAÇÃORAÍZEN
40	 Novembro · 2015
CAPA
RICARDOCARVALHO
COPLANA, SOCICANA E IAC IMPLEMENTAM PROGRAMA DE DIFUSÃO
TECNOLÓGICA PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE E PARA QUE
MELHORES RESULTADOS CHEGUEM ÀS MÃOS DO PRODUTOR
+cana abre ao produtor
acesso ao sistema MPB
P
ossibilitar aos produtores o
acesso às inovações tecnoló-
gicas é um dos pontos básicos
para que permaneçam na atividade.
Uma das inovações que têm feito a di-
ferença no setor é a Muda Pré-Brota-
da (MPB), que oferece sanidade, maior
produtividade e lucratividade - em
vez de transportar para o campo e
plantar 18 a 20 toneladas de cana para
cada hectare, ele transportará somen-
te 2 toneladas de mudas pré-brotadas
para a mesma área. As outras 16 ou 18
toneladas serão revertidas em produ-
to na usina.
A Socicana - Associação dos For-
necedores de Cana de Guariba, a Co-
plana - Cooperativa Agroindustrial, e
o IAC - Instituo Agronômico, se uni-
ram para garantir, ao produtor, a ado-
41
ção do sistema de MPB. A tecnolo-
gia desenvolvida pelo IAC pode ser
implantada até mesmo em peque-
nas propriedades, e o agricultor terá
autonomia para produzir sua própria
muda de cana com qualidade e sani-
dade, atividade da qual abriu mão há
algumas décadas.
A partir das MPBs, os viveiros pri-
mários ou matrizeiros, que são mudas
livres de pragas e doenças, são esta-
belecidos na propriedade do agricul-
tor e dão origem a mudas sadias. Em
termos de logística (transporte das
mudas até o campo) e aproveitamen-
to do material produzido, a diferença
é significativa.
Outra grande contribuição da
tecnologia é a redução do tempo para
RICARDOCARVALHO
o agricultor adotar as novas varieda-
des, o que demoraria anos no siste-
ma convencional. Com as MPBs, ele
recebe material genético de varieda-
des adaptadas à região, de acordo
com o seu ambiente de produção. Já
no plantio convencional, ele fica res-
trito às variedades disponíveis na usi-
na, com mudas, inclusive, que apre-
sentam idade de corte avançada.
Atualmente, com a produtivida-
de do canavial em torno de 70 tonela-
das por hectare (média de acordo com
a safra e região), a receita não cobre
custos. Desta forma, muitos produto-
res se viram obrigados a sair da ati-
vidade e outros continuam perden-
do patrimônio. A partir do sistema de
MPBs, a estimativa é chegar à “cana de
3 dígitos”, acima de 100 toneladas por
hectare, em cinco cortes.
A Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Pau-
lo disponibilizará uma linha de crédito
para financiar a implantação destes vi-
veiros, para que esta implantação pos-
sa ser acelerada e chegue mais rapida-
mente ao produtor, que será atendido
pela linha de crédito de até R$ 200
mil, do Fundo de Expansão do Agro-
negócio Paulista (Feap), com prazo de
pagamento de até seis anos, com ca-
rência de até dois anos. A taxa de juros
“Se não forem feitos investimentos
em tecnologia, gestão e melhoria da
administração, provavelmente estes
produtores vão sair do negócio”, diz
Bruno Rangel Geraldo Martins
42	 Novembro · 2015
CAPA
é de 3% ao ano e há o bônus de adim-
plência de 2,25%. Os beneficiários po-
dem financiar todos os itens necessá-
rios para estrutura, assim como para
aquisição das mudas e sementes, des-
de que sejam parte do mesmo projeto.
Revolução na gestão
dos produtores
Para Bruno Rangel Geraldo Mar-
tins, presidente da Socicana, a mudan-
ça de paradigma precisa acontecer
de imediato, como única forma para
a manutenção das lavouras canaviei-
ras. “Este é um programa de difusão
tecnológica e que pretende fazer com
que maior produtividade e melhores
resultados cheguem às mãos do pro-
dutor. Se não forem feitos investimen-
tos em tecnologia, gestão e melho-
ria da administração, provavelmente
estes produtores vão sair do negó-
cio. Para continuarmos na cana, pre-
cisamos desta revolução tecnológica
e administrativa em nossas proprieda-
des”, enfatiza.
O presidente da Coplana, José
Antonio de Rossato Junior, fala do pa-
pel das entidades. “Por meio da ca-
pacitação dos recursos humanos e
fomento à produção de mudas de
qualidade, incluindo critérios para a
escolha da variedade e o sistema MPB,
acreditamos na instalação de cana-
José Antonio de Rossato Junior acredita na instalação de
canaviais com alto padrão de sanidade e produtividade
RICARDOCARVALHO
43
viais com alto padrão de sanidade e
produtividade. Esta iniciativa conjunta
entre Coplana, Socicana e IAC cumpre
a missão mútua de auxiliar o cresci-
mento sustentável e promover o apri-
moramento tecnológico do produtor.”
1º Dia de campo +cana
Em 12 de novembro, a Coplana
realizou na Fazenda Santa Maria, no
município de Luiz Antônio o 1º Dia
de Campo +cana, que reuniu técni-
cos, estudantes, produtores e repre-
sentantes de empresas parceiras para
conheceram cada um dos passos da
cadeia de produção das MPBs. Em es-
tações de demonstração prática, os
grupos tiveram acesso a informações
sobre irrigação, adubação, colheita e
plantio da inovação desenvolvida pelo
IAC. O encontro reuniu cerca de 400
participantes.
Renata Morelli, gerente do Depar-
tamento de Tecnologia e Inovação da
Coplana, comemora os resultados ini-
ciais. “O Dia de Campo é parte da ini-
ciativa +cana, lançada em março des-
te ano, como uma resposta ao produtor
1º Dia de Campo +cana foi um sucesso
EWERTONALVES
44	 Novembro · 2015
CAPA
que queria uma solução para a lavoura
canavieira. É surpreendente o resulta-
do obtido em apenas oito meses. Isso é
fruto do comprometimento de muitos
profissionais da Coplana, Socicana, IAC
e do produtor, que aceitou o desafio
de contribuir para a geração deste co-
nhecimento. Acredito que nós estamos
construindo uma nova realidade para a
cultura, com benefícios para todos os
elos da cadeia produtiva”, conclui.
No Dia de Campo também esta-
vam presentes os oito produtores po-
los, ou seja, aqueles que aceitaram o
desafio do pioneirismo. Eles deram
início à adoção da tecnologia este
ano, como um grande campo de es-
tudos. Em agosto, adquiriram os kits
de validação de MPB com um protóti-
po da câmara de brotação, uma mesa
para corte do mini rebolo, um supor-
te para tratamento químico e lotes de
MPBs com variedades de cana lançadas
recentemente.
RICARDOCARVALHO
Apresentação de plantio de MPB no Dia de Campo
45
46	 Novembro · 2015
CAPA
No Nordeste, produtor
faz renascer usinas
POR MEIO DO COOPERATIVISMO, PRODUTORES
DE CANA REATIVAM TRÊS USINAS
Trabalhadores da Cruangi no dia da reativação
Luciana Paiva
N
a região Nordeste, o produtor
de cana está revolucionando a
agroindústria canavieira. Em Per-
nambuco e Alagoas, eles resolveram fazer
renascer usinas. Alexandre Andrade Lima,
presidente da Associação dos Fornecedo-
res de Cana de Pernambuco (AFCP) e da
Cooperativa do Agronegócio dos Forne-
cedores de Cana de Pernambuco (Coaf),
conta que a mobilização surgiu quando os
canavieiros ficaram sem ter para onde le-
var a cana colhida na Zona da Mata por
ASSESSORIAAFCP
47
a três safras parada e está sob a adminis-
tração da Coaf.
“A reabertura passou a ser salvação
dos nossos produtores de cana. Eles le-
vam e recebem pela cana nas suas coope-
rativas. No final do ano, ainda vão receber
parte dos lucros das usinas”, conta Alexan-
dre, que lembra que, apesar de o Nordes-
te representar apenas 9% da produção de
cana do Brasil, conta com 25 mil produto-
res de cana, sendo que 92% são conside-
rados pequenos produtores, pertencentes
a agricultura familiar.
Além da Pumaty e Cruangi, outra usi-
na que voltou a moer nesta safra é a Pe-
causa da desativação de diversas usinas
brasileiras. “Eles estavam impossibilitados
de continuar no trabalho. Muitos já esta-
vam até desistindo da atividade”, explica
Alexandre de Andrade Lima.
O renascimento das usinas está sen-
do possível em decorrência do cooperati-
vismo, destaca Alexandre. A primeira uni-
dade a voltar a moer, em 2014, após uma
safra parada, foi a Pumaty, localizada em
Joaquim Nabuco, Zona da Mata-sul per-
nambucana, que está sendo gerida pela
cooperativa Agrocan. Já nesta safra, foi re-
aberta a usina Cruangi, de Timbaúba, Zona
da Mata-Norte pernambucana, que estava
Alexandre (de verde), e à sua esquerda Paulo Câmara, o
Governador de Pernambuco, na reinauguração de Cruangi
ASSESSORIAAFCP
48	 Novembro · 2015
drosa, no município perde em Cortês, mas
esta não é administrada por cooperativa.
Nesta safra, 18 usinas estão e atividade
em Pernambuco e Alexandre diz que não
ver mais possibilidade de, no estado, ou-
tras unidades voltarem a moer, pelo me-
nos sob a gestão das cooperativas. “Nosso
objetivo era reativar uma unidade na Zona
da Mata Sul e outra na Zona da Mata Nor-
te, já conseguimos isso.”
Se em Pernambuco o milagre do re-
nascimento da usina já deve ter cessado,
em Alagoas, observa Alexandre, ainda há
espaço. No final de outubro iniciou a mo-
agem a usina Coopervale-Uruba, em Ata-
laia, uma das três unidades do Grupo João
Lyra, em Alagoas. A usina voltou à ativida-
de nesta safra, graças ao empenho da Co-
operativa dos Produtores Rurais do Vale
de Satuba (Coopervales).
A Uruba estava desativada havia três
anos e, desde 2014, quando foi fundada,
a Coopervale buscava na Justiça o arren-
damento da usina. De acordo com o pre-
sidente da Coopervale, Túlio Acioly Tenó-
rio, inicialmente cerca de 1.500 postos de
trabalho diretos serão reabertos. “Quando
estiver a todo vapor, a Uruba vai empregar
aproximadamente três mil pessoas no cam-
po e na indústria. Isso vai mudar a econo-
mia nos municípios do entorno da usina.”
Veja vídeo com
a largada da
safra 2015/16 da
Coopervale-Uruba
Usina Pumaty, a primeira a ser reativada, está sob gestão da Cooperativa Agrocan
49
50	 Novembro · 2015
TECNOLOGIA AGRÍCOLA
Leonardo Ruiz
DEVIDO À CRISE DO SETOR, MUITAS VEZES, A DECISÃO É ADIAR A
RENOVAÇÃO DO CANAVIAL. PORÉM, É PRECISO TOMAR CERTOS CUIDADOS
COM A CANA-SOCA PARA QUE ELA PRODUZA BEM E POR MAIS TEMPO
Cuidando da soqueira
O
s canaviais estão ficando mais
velhos. O índice de reforma, que
já chegou a atingir 20% em anos
anteriores, está na faixa de 14%, atualmen-
te. Tem usina reformando normalmente e
tem usina fazendo nada. Isso ocorre devi-
do à crise instaurada no setor, que abalou
o fluxo de caixa das empresas.
Porém, esses dados não precisam ser
necessariamente ruins. Afinal, se uma so-
queira está respondendo bem, é até pre-
ferível esperar mais um ou dois ciclos para
renovar essa área. Entretanto, para que a
cana-soca atinja um nível satisfatório de
Crise no setor diminuiu o número de
reformas, que atinge, atualmente, 14%
ARQUIVOCANAONLINE
51
produtividade ao longo dos cortes, além
de alta longevidade, o produtor deve cui-
dar corretamente dela, fazendo um mane-
jo adequado, que começa antes mesmo
da implantação do canavial.
Caso essa “receita de bolo” seja fei-
ta corretamente, os ganhos em termos de
longevidade serão maiores do que aque-
les que o produtor teria caso optasse por
renovar o canavial. Pesquisadores afirmam
que algumas usinas que têm feito esse
tipo de manejo estão, inclusive, conse-
guindo sobreviver à atual crise.
Implantação do canavial
Como afirmado, os cuidados com as
soqueiras de cana-de-açúcar não podem
ser pensados apenas no momento em que
a cana atinge esse estágio. Para o pesqui-
sador científico da Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da
Secretaria de Agricultura e Abastecimen-
to do Estado de São Paulo, André Cesar
Vitti, as unidades que cuidaram correta-
mente da implantação do seu canavial es-
tão, atualmente, com produtividades con-
sideráveis e, às vezes, investindo menos
do que aquelas que estão entrando agora
nesse contexto de manejo mais adequado
do seu canavial.
Vitti explica que, para se ganhar em
termos de produtividade, é importante ver
a cana como um todo, relacionando os fa-
tores de produtividade que estão envolvi-
dos. A cana-de-açúcar difere de uma cul-
tura anual de grãos que tem o ciclo de um
ano. A cana tem ciclo longo. Dessa forma,
vários fatores interagem entre si.
Primeiramente, segundo o pesquisa-
dor, deve-se conhecer o ambiente onde a
cultura será instalada, para, após isso, de-
cidir qual variedade será alocada naque-
la região. Em ambientes mais restritivos,
por exemplo, é necessária uma variedade
mais rústica, já em ambientes melhores,
uma variedade mais exigente irá respon-
der mais, aumentando assim sua produ-
tividade. “Um dos fatores que devem ser
levados em conta é o tipo de solo, pois
dependendo dele, há mais ou menos com-
pactação, o que interfere muito na ques-
tão de desenvolvimento do sistema radi-
Vitti: “Primeiramente, deve-se conhecer
o ambiente onde a cultura será
instalada, para decidir qual variedade
será alocada naquela região”
ARQUIVOCANAONLINE
52	 Novembro · 2015
cular e na rebrota da cana.”
O clima e o déficit hídrico de um solo
também são fatores decisivos na hora do
plantio, já que quanto mais seco o clima,
maior tem que ser a preocupação com a
capacidade que um solo tem de armaze-
nar água. “Podemos citar como exemplo
o plantio em um nitosolo que possui uma
capacidade de água disponível de 120 a
160 litros por m³ de solo. Nele podem-se
alocar variedades mais tardias. Já em lato-
solos com textura mediana, onde a quan-
tidade de água disponível gira em torno
de 40 litros por m³ de solo, é importante
utilizar variedades mais precoces ou me-
dianas, no sentido de antecipar a safra.”
A época de plantio é outra impor-
tante característica em um ambiente de
produção. Vitti aponta que, se a cana-de
-açúcar for plantada em janeiro em um la-
tosolo de textura arenosa, por exemplo,
ela vai se desenvolver demais, produzin-
do muito fitomassa, o que fará com que
ela sofra um stress hídrico, estando sujei-
ta a perda de produtividade. “Já nos solos
que possuem melhores condições de ar-
mazenamento e disponibilidade de água,
a margem em termos de tempo de plantio
é maior”, completa.
Após escolhida a variedade, Vitti afir-
ma que o ideal é não pensar na economia
de insumos, já que é vital a preparação de
uma base de sustentação para a cultura.
“Isso ocorre porque, às vezes, a aplicação
de um corretivo na soqueira não é tão efi-
caz quanto o feito na época do preparo do
TECNOLOGIA AGRÍCOLA
O ideal é não pensar na economia de insumos na hora de implantar o canavial,
já que é vital a preparação de uma base de sustentação para a cultura
ARQUIVOCANAONLINE
53
54	 Novembro · 2015
solo. Por isso, é importante fazer um bom
planejamento para tentar buscar a efici-
ência do uso desses corretivos.” Segun-
do ele, a utilização desses corretivos na
hora do preparo do solo promoverá uma
melhor eficiência dos fertilizantes futura-
mente. “Eu não posso, por exemplo, apli-
car uma fonte fosfatada num solo que não
foi corrigido.”
Domando a máquina
Após todo esse investimento na im-
plantação do canavial, é hora de cuidar
para que as soqueiras durem e produzam
por muitos ciclos. Para o diretor agríco-
la do Grupo Clealco, Cássio Paggiaro, um
dos aspectos mais importantes é relacio-
nado à colheita, que deve ser feita da ma-
neira mais adequada possível, para preve-
nir o arranquio ou pisoteio da soqueira. “O
futuro do canavial está diretamente ligado
à qualidade da operação mecanizada que
é realizada na área. Por isso, não tenho dú-
vida que, para se ter áreas de cana-soca
com bom desempenho por vários ciclos, o
produtor tem que domar a máquina.”
Após a colheita, Paggiaro afirma que
é preciso iniciar um trato cultural adequa-
Augusto de Camargo Monteiro: “Uma das
principais causas de perda de produtividade e
de longevidade da cultura está no aumento do
percentual de falhas no stand dos canaviais”
DIVULGAÇÃOBAYERCROPSCIENCE
O futuro do canavial está diretamente ligado à
qualidade da operação mecanizada que é realizada
na área, já que uma colheita mal feita pode
significar arranquio ou pisoteio da soqueira
DIVULGAÇÃOUSINASITAMARATI
55
do, sendo que, para isso, é preciso definir
o que aquela área precisa. “Primeiro, tem
que se perguntar se estamos em uma re-
gião onde é necessário fazer aleiramento
para melhorar a brotação.”
O diretor agrícola lembra, também,
que é importante realizar uma fertiliza-
ção adequada, além da correção do pH
da área. “Às vezes esquecemos que cál-
cio e magnésio não são apenas correto-
res de pH, mas também fornecem macro-
nutrientes para a nutrição da planta”, frisa
Paggiaro.
Redutores de produtividade
O Agrônomo de Desenvolvimen-
to de Mercado da Bayer CropScience, Au-
gusto de Camargo Monteiro, lembra, tam-
bém, que uma das principais causas de
perda de produtividade e de longevidade
da cultura está no aumento do percentual
de falhas no stand dos canaviais, seja ela
causada pela presença de pragas ou por
doenças. Dessa forma, uma vez que o pro-
dutor consiga manter seu stand uniforme,
conseguirá manter seu canavial produtivo
por vários e vários anos.
Para isso, Augusto recomenda o uso
de produtos como o regulador vegetal
Ethrel®
para favorecer a brotação e o per-
filhamento da cultura, e o fungicida Nati-
vo®
para a proteção da cultura nessa fase
tão importante.
Na implantação do canavial, o pro-
dutor realizou uma série de investimentos
nos fatores promotores de produtividade,
como correção do solo com a calagem e
a gessagem e uma nutrição adequada vi-
sando maximizar a expressão do potencial
produtivo da cultura. Porém, com o cana-
vial já implantado, o produtor não pode
esquecer-se dos fatores redutores de pro-
dutividade, que podem “roubar” todo
o investimento realizado anteriormen-
te. “Essa interferência pode proporcionar,
dependendo da intensidade, margens de
contribuição negativas para os produto-
res de cana. Nesse sentido, se faz impres-
cindível o controle dos fatores redutores
de produtividade, que são representados
pela interferência de doenças, plantas da-
ninhas ou pragas”, explica Augusto.
Para Cássio Paggiaro, é importante
realizar uma fertilização adequada,
além da correção do pH da área
ARQUIVOCANAONLINE
56	 Novembro · 2015
Uma das pragas desse cenário é a Ci-
garrinha-das Raízes (Mahanarva fimbrio-
lata), que vem crescendo no setor princi-
palmente nesse momento de entrada da
primavera e com as primeiras chuvas acu-
mulando volumes generosos nas mais di-
versas regiões produtoras do Centro-Sul
do país. Essa praga vem ganhando cada
vez mais importância dentro do cená-
rio sucroenergético tanto pela sua ampla
distribuição, quanto pelo nível de perdas
proporcionado, que pode chegar facil-
mente a mais de 45% de redução de pro-
dutividade da cultura. Entre outros preju-
ízos causados pela Cigarrinha-das-raízes,
está à redução do teor de açúcar nos col-
mos, aumento do teor de fibras e dos col-
mos mortos, o que diminui a capacidade
de moagem, além da extração de grande
quantidade de água e nutrientes das raí-
zes pelas ninfas.
“Foi pensando na sustentabilidade
Aplicação de defensivos agrícolas é importante para o controle de
doenças, pragas e plantas daninhas que podem dizimar a produtividade
do canavial e, consequentemente, levar a reformas precoces
ARQUIVOCANAONLINE
TECNOLOGIA AGRÍCOLA
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58	 Novembro · 2015
TECNOLOGIA AGRÍCOLA
do negócio dos produtores de cana, sejam
fornecedores ou agroindustriais, que a
Bayer estudou e criou uma estratégia ino-
vadora para o controle da Cigarrinhas-das
-Raízes, que permite, além de tudo, que
os nossos clientes tenham o entendimen-
to com profundidade de qual seu nível de
exposição às perdas provocadas pela pra-
ga”, diz.
Essa estratégia, salienta Augusto,
passa pelo entendimento de alguns pon-
tos-chave, como: o profundo conheci-
mento da praga e suas implicações para
a cultura da cana; o comportamento das
diferentes variedades de cana cultivadas
frente à presença da praga; e a correlação
com o estágio de desenvolvimento da cul-
tura no momento do início da infestação.
“O inseticida Curbix®
, da Bayer, é o único
que se encaixa perfeitamente nessa nova
abordagem de controle da praga, pois
apresenta rápida ação e elevada eficiên-
cia de controle. O principal objetivo dessa
estratégia é assegurar a proteção das so-
queiras e proporcionar maiores margens
para nossos clientes, reduzindo o custo de
investimento para cada tonelada de cana
produzida.”
Cigarrinha-das-Raízes é um dos fatores redutores de produtividade, que
podem “roubar” todo o investimento realizado na implantação do canavial
ARQUIVOCANAONLINE
59
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Mais impurezas e menos açúcar,
este é o cenário do setor
Tendência de
aumento dos
preços do açúcar
em real em 2016
deve tornar a
próxima safra
mais açucareira
DIVULGAÇÃOSABARALCOOL
INTENSIFICAÇÃO DA COLHEITA MECANIZADA DE CANA CRUA FAZ
COM QUE A INDÚSTRIA SINTA NA PELE AS DIFICULDADES PARA
FABRICAR AÇÚCAR COM A MESMA QUALIDADE DE ANTES
60	 Novembro · 2015
A
pós alguns anos consecutivos de
baixa nos preços, o açúcar deve
se recuperar ao longo do próxi-
mo ano, devido à combinação entre os fu-
turos da commodity em dólar na bolsa de
Nova York e a cotação da moeda america-
na frente ao real. Caso esse cenário se con-
solide, é provável que esta seja a primei-
duto do que o registrado em 2015, caso o
governo não eleve mais o preço da gaso-
lina e torne as vendas de etanol mais inte-
ressantes. No ciclo atual, as usinas que se
encontram em dificuldades financeiras fa-
voreceram a produção do biocombustível
devido à maior liquidez e à melhoria da
remuneração do produto.
Leonardo Ruiz
ra temporada (se referindo à safra mundial
de açúcar que vai de outubro de 2015 a
setembro de 2016), em muitos anos, em
que o consumo irá superar a produção.
Essa tendência de aumento dos pre-
ços do açúcar em real em 2016 deve esti-
mular as usinas brasileiras a produzir, na
próxima safra, um volume maior do pro-
O aumento da demanda por açúcar
e, consequentemente, dos preços, pode-
rá ser de grande ajuda para o setor sucro-
energético, que vem enfrentando uma das
piores crises de sua história. Porém, esse
fato chega num momento em que o seg-
mento ainda tenta contornar um grave
problema enfrentado na fabricação des-
Márcia Mutton:
“Em algumas
usinas, eu olho a
mesa de recepção
e não vejo cana,
apenas palha”
ARQUIVOCANAONLINE
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
61
se produto: a expressiva quantidade de
impurezas mineiras e vegetais que chega
junto com a matéria-prima vinda do cam-
po e que afeta, grandemente, a qualidade
do produto final.
Segundo a professora adjunta do De-
partamento de Tecnologia (FCAV) da Unesp
de Jaboticabal, Márcia Mutton, o nível de im-
purezas vegetais na indústria saiu de 4,6%
em 2008/09 para 8,8% na safra 2013/14. “Es-
ses números são as médias de algumas uni-
dades, porém, tem usina em que esse nível
chega a 17%. Nesses locais, eu olho a mesa
de recepção e não vejo cana, apenas palha.”
Impurezas e seus impactos
Devido à assinatura do Protocolo
AgroAmbiental em 2007, as usinas sucro-
energéticas do Estado de São Paulo ado-
taram a mecanização de forma acelerada.
Em 2008/09, a mecanização da colheita da
cana no Estado de São Paulo era de 37,5%.
Atualmente, estima-se que 90% das áre-
as do Estado já estejam sendo colhidas
mecanicamente.
Porém, essa “correria” se deu sem
que o setor estivesse preparado para ela,
já que os plantios foram feitos visando
corte manual. Dessa forma, por falta de ni-
Colheita mecanizada leva para a indústria, além dos colmos, impurezas
mineiras e vegetais, o que acaba aumentando o teor de certos compostos
inorgânicos, como potássio, cálcio, silício, ferro e cobre
FERDINANDORAMOS
62	 Novembro · 2015
velamento dos terrenos, a máquina acaba
colhendo, junto da cana, grandes quan-
tidades de terra. Isso sem falar da palha,
pontas e folhas verdes, que antes eram
queimadas para que o corte manual pu-
desse ocorrer. O resultado final é uma ma-
téria-prima de péssima qualidade e, con-
sequentemente, problemas no processo
de fabricação do açúcar.
Márcia Mutton explica que esses pro-
blemas ocorrem porque a matéria-prima
vinda do campo apresenta certos com-
postos inorgânicos, como potássio, cál-
cio, silício, ferro e cobre. Com o sistema
de colheita mecanizada, são levadas para
a indústria, além dos colmos, as chamadas
impurezas mineiras e vegetais, o que aca-
ba aumentando, significativamente, o teor
desses elementos. A presença de sódio,
potássio, cálcio e magnésio, por exemplo,
que não foram previamente separados na
clarificação da calda, compromete a cris-
talização da sacarose, o que reduz a quan-
tidade de açúcar produzido e aumenta a
quantidade de melaço residual.
Além disso, há comprometimento na
incrustação dos evaporadores e elevação
do teor de cinzas no cristal, o que afeta
a filtrabilidade do caldo. Já o ferro pode
causar o amarelecimento do cristal de açú-
car, por meio da reação com o oxigênio do
ar e compostos fenólicos presentes. “Es-
ses compostos devem ser retirados do cal-
do para que a produção atinja bons níveis
de qualidade, atendendo, dessa forma, as
especificações do mercado, que exige pol,
cor e pureza, e penaliza falta de padrão”,
afirma Márcia.
Queda no
rendimento industrial
Segundo o gerente industrial das
unidades Santa Cândida e Paraíso, do Gru-
po Tonon, Antônio Carlos Viesser, as indús-
trias têm sofrido bastante com o avanço
da mecanização, principalmente no quesi-
to qualidade da matéria-prima. “Os índices
de impurezas minerais e vegetais aumen-
taram muito, o que interferiu na qualidade
do produto final. Hoje, a maioria das usi-
nas possui um rendimento industrial me-
Para Antonio Carlos Viesser, a
impureza mineral é a que mais tem
atrapalhado os trabalhos da Tonon, já
que ela é “arrastada” junto da vegetal
DIVULGAÇÃOTONONBIOENERGIA
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
63
nor em função disso. O balizador - sacos
por tonelada - tem caído bastante.”
Para Viesser, a impureza mineral é a
que mais tem atrapalhado os trabalhos do
Grupo, já que ela é “arrastada” com a ve-
getal. “Se tivéssemos apenas canas eretas,
seria tranquilo, porém as canas tendem a
deitar devido ao ano de plantio, chuvas
e vento. Dessa forma, por ter ficado dei-
tada, a cana enrola no chão e começa a
criar brotos e a enraizar, fazendo com que,
na hora da colheita, a máquina colha essa
terra junto, o que contribui negativamente
para a indústria.”
Ele afirma, ainda, que o momento de
dificuldade vivido pelo setor canavieiro tam-
bém impactou na qualidade da matéria-pri-
ma. “A maioria deixou de dar comida para a
cana. Dessa forma, o rendimento agrícola e
a qualidade caem e isso reflete na indústria.”
Viesser conta que, mesmo diante de
tantos empecilhos, as usinas até conse-
guem tirar o açúcar com qualidade. Po-
rém, o custo operacional aumenta devido
à maior utilização de produtos químicos.
“Quando se tem matéria-prima de boa
qualidade, algumas oscilações no proces-
so nem são perceptíveis, mas quando ela
piora, é preciso ficar atento na operação,
pois qualquer oscilação pode representar
grandes perdas na produção do dia. Gas-
ta-se mais para fazer igual ou até menos.”
A solução deve vir do campo
Uma das soluções para esse proble-
ma é o tratamento do caldo, que pode ser
realizado por caleagem simples, sulfode-
fecação, carbonatação e ozonização. Nes-
se processo, as impurezas são removidas
por meio da precipitação resultante da re-
ação entre fosfatos presentes no caldo e
insumos adicionados.
DIVULGAÇÃOTONONBIOENERGIA
No Grupo Tonon, o índice de impurezas vegetais é alto para que a palha possa ser separada
da cana pelo sistema de limpeza a seco e utilizada visando melhorar o índice de cogeração
64	 Novembro · 2015
Para Dib Nunes Jr.,
a área industrial
não pode mais
aceitar essa
“matéria-prima
horrorosa” que
vem do campo
Porém, essa solução pode não ser a
mais viável, já que os gastos com insumos
aumentariam significativamente os custos
operacionais. Dessa forma, grande par-
te dessa melhoria deve ser realizada na
área agrícola, já que muitos afirmam que
o açúcar é feito no campo, sendo que para
a indústria cabe a recuperação.
Esse, aliás, é o pensamento do con-
sultor e diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes
Jr.. Ele afirma que, atualmente, não exis-
tem usinas que entregam matéria-prima
de boa qualidade. “Passamos por um mo-
mento de transição, da colheita manual
para a mecanizada, sendo que a afetada
foi a indústria, que passou a aceitar uma
matéria-prima horrorosa.” Para ele, a área
industrial não pode mais aceitar essa ca-
na-de-açúcar que vem do campo. “O Bra-
sil tem 600 milhões de toneladas de cana,
porém, 12% disso não é cana. Apenas
quando a indústria parar de aceitar e re-
clamar mais forte é que a agrícola irá en-
tender que precisa trazer uma matéria-pri-
ma com mais qualidade.”
Segundo ele, muito desses proble-
mas podem ser resolvidos por meio da re-
gulagem das máquinas de colheita. “Como
não pode faltar cana na indústria, a colhei-
ta é acelerada, o que prejudica a limpe-
za da cana, pois o vento não é suficiente
para limpar grandes quantidades de ma-
téria-prima.” Nunes afirma, também, que
é necessário que as usinas tenham mais
máquinas à disposição. “Porém, se man-
dam comprar mais colhedoras, falam que
não terá custo-benefício. Mas, o que mui-
tos não entendem, é que o custo-benefí-
cio se encontra na indústria.”
Limpeza a seco
O sistema de limpeza a seco é outra
tecnologia que tem contribuído para a me-
lhoria desse problema, já sendo uma das
principais saídas das usinas
para superar esses desafios,
pois, além de retirar as im-
purezas minerais da matéria
-prima, é possível aprovei-
tar as vegetais no processo
ARQUIVOCANAONLINE
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
65
Sistema de limpeza a seco
separa as impurezas vegetais
e minerais da cana colhida
mecanicamente nas usinas
de cogeração de energia. O conceito pode
ser aplicado tanto para o processamen-
to da cana inteira (mesas alimentadoras)
como de cana picada (descarga direta). O
processo, que veio para substituir efetiva-
mente a lavagem da cana, possui eficiên-
cia de remoção de impurezas entre 40% e
70%.
Na Unidade Paraíso, do Grupo Tonon,
o índice de impureza vegetal é de 14%.
Viesser explica que isso ocorre proposital-
mente, para que a palha possa ser separada
da cana pelo sistema de limpeza a seco e
utilizada visando melhorar o índice de co-
geração. Atualmente, a capacidade de ge-
ração de eletricidade da unidade, localiza-
da no município paulista de Brotas, é de
70MW.
Porém, Viesser relata que a eficiên-
cia do sistema de limpeza a seco na reti-
rada das impurezas minerais é prejudica-
da nos períodos úmidos, não chegando a
50%. “Até mesmo à noite, devido à umi-
dade em função do orvalho, o índice de
impurezas minerais aumenta. Já com chu-
va, é desastre total.” Para ele, o setor ainda
esta aprendendo a trabalhar. “Acredito que
vamos nos adaptar e melhorar as opera-
ções diárias, tendo, futuramente, resulta-
dos mais satisfatórios.”
DIVULGAÇÃOZANINI
66	 Novembro · 2015
ECONOMIA
Benefícios da rotação de cultura
da cana com leguminosas
APESAR DE TODOS OS BENEFÍCIOS, A PRÁTICA DE ROTAÇÃO
DE CULTURAS DEVE SER BEM PLANEJADA PARA NÃO OCORRER
ATRASOS NA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA DE CANA
A região de Ribeirão Preto
é a maior produtora de
amendoim do Brasil e 85%
das áreas com amendoim são
de renovação de canaviais
A
cana-de-açúcar é uma cultura de
ciclo longo, normalmente de 5 a
6 anos. A reposição nutricional
convencional nem sempre atende suas
necessidades, já que essa lavoura deman-
da uma grande quantidade de nutrientes.
Além dessa dificuldade, a área de culti-
vo sofre tráfego intenso de máquinas e
equipamentos, causando compactação
do solo. É importante lembrar que em al-
guns casos não é possível quebrar o ciclo
de algumas pragas e doenças e a produ-
tividade acaba sendo afetada.
	 Para reduzir esses problemas, a ro-
tação de cultura entre cana-de-açúcar e
uma leguminosa é uma alternativa indi-
cada. Ela traz inúmeros benefícios para
o solo, além de proporcionar uma renda
extra para o produtor.
Uma das vantagens desse sistema
de manejo é a otimização do uso da ter-
ra com a produção de alimento em um
67
didade, e a descompactação do solo devi-
do ao sistema radicular das leguminosas.
“A rotação de culturas também é funda-
mental para quebrar o ciclo de pragas e
doenças de cada cultura”, afirma Miriam.
Há benefícios ainda em relação aos
custos, uma vez que a rotação de cultu-
ras permite diminuição dos custos das
operações de preparo dos solos (insumos
para correção e adubação). “As legumino-
sas promovem a fixação biológica de ni-
trogênio e a incorporação de matéria or-
período em que ela ficaria em repouso,
aguardando a melhor época para o plan-
tio da cana. Esse sistema também pro-
porciona a cobertura do solo no período
chuvoso (primavera/ verão), protegendo
e evitando a erosão da área.
A engenheira agrônoma Miriam Car-
la de Paula, da MBF Agribusiness, expli-
ca que a rotação de culturas promove o
controle de plantas daninhas, o melhora-
mento das propriedades físicas, químicas
e biológicas do solo, inclusive em profun-
Colheita de soja no sistema de meiosi com cana
68	 Novembro · 2015
ECONOMIA
gânica, o que resulta na redução do uso
de nitrogênio fertilizante em cana-plan-
ta e contribui para o sistema radicular da
cana, dispensando o preparo intensivo do
solo”, acrescenta de Paula.
Além disso, vários equipamentos
utilizados no cultivo da cana-de-açúcar
podem ser utilizados para o cultivo das
leguminosas e a mão de obra também
pode ser aproveitada na entressafra da
cana.
A engenheira agrônoma ressalta que
O milho também figura na dobradinha com a cana, gerando renda ao produtor
a possibilidade de aumento da produti-
vidade dos canaviais gera perspectivas
de aumento de receita para as usinas de
açúcar e álcool, cooperativas de produto-
res, revendas e agricultores familiares.
“Apesar de todos os benefícios cita-
dos, a prática de rotação de culturas deve
ser bem planejada para não ocorrer atra-
sos na implantação da lavoura de cana”
destaca de Paula. Neste caso, a utilização
de variedades precoces de leguminosas é
muito importante.
69
Ridesa completa 25 anos
e domina os canaviais
EM 1991, AS VARIEDADES RB OCUPAVAM 9% DA ÁREA
CULTIVADA COM CANA NO PAÍS; HOJE ESTÃO EM 68%
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
As variedades RB são as mais plantadas no Brasil
A
Ridesa (Rede Interuniversitária
para o Desenvolvimento do Setor
Sucroenergético) foi criada em
1991. Sua trajetória começou quando uma
canetada do então presidente Fernando
Collor de Melo extinguiu, em 1990, o Ins-
tituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Autar-
quia criada em 1933 pelo presidente Ge-
túlio Vargas, a instituição tinha o objetivo
de orientar, fomentar e realizar o controle
da produção de cana, açúcar e etanol no
território nacional. Premissa que redun-
dou na criação, em 1971, do Planalsucar
(Plano Nacional de Melhoramento da Ca-
na-de-açúcar) – órgão ligado ao IAA vol-
tado ao desenvolvimento de novas varie-
dades e que tinha o objetivo de contribuir
com o aumento da produtividade da ativi-
dade canavieira no país.
A extinção do IAA detonou mudan-
70	 Novembro · 2015
ças profundas no setor sucroenergético,
obrigando-o a buscar alternativas para ca-
minhar por conta própria.
O fim do Instituto também provocou
o término dos trabalhos do Planalsucar,
que já tinha uma história de quase vinte
anos de contribuição ao setor. Sob a sigla
RB, o órgão já havia liberado 19 varieda-
des e muitas outras pesquisas estavam em
curso em 1990. No entanto, a interrupção
do Planalsucar deixava órfão um projeto
de melhoramento de cana-de-açúcar que
foi fundamental para a consolidação do
Proálcool, instituído em 1975.
Mas tudo o que havia sido construí-
do a partir do Planalsucar não poderia se
acabar. Com apoio de parte significativa
do setor sucroenergético, foi articulada a
criação da Ridesa composta inicialmente
por uma rede firmada por convênio entre
sete universidades federais (UFPR, UFS-
Car, UFV, UFRRJ, UFS, UFAL e UFRPE). Estas
instituições eram localizadas nas áreas de
atuação do extinto Planalsucar, do qual foi
absorvido todo corpo técnico e infraestru-
tura das sedes das coordenadorias e es-
Estação de cruzamento de cana Serra do Ouro, em Alagoas, onde nascem as variedades RB
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
71
tações experimentais do antigo órgão do
IAA.
A trilha de liderança da Ridesa
Hoje, a Rede utiliza para o desenvol-
vimento de seus estudos um total de 80
estações experimentais, localizadas nos
estados onde a cultura da cana-de-açú-
car apresenta maior expressão. Nestes 25
anos de atuação, as universidades fede-
rais deram maior ênfase à manutenção e
continuidade da pesquisa relacionada ao
Programa de Melhoramento Genético da
Cana-de-açúcar (PMGCA), que continuou
a utilizar a sigla RB para identificar seus
cultivares.
Em 1991, as variedades RB ocupa-
vam 9% da área cultivada com cana no
país; hoje estão em 68%. Depois que a Ri-
desa foi constituída, houve o lançamen-
to de 59 variedades. Hoje já são 78 mate-
riais de cana distinguidos com a sigla RB,
que tem alto nível de adoção nos estados
canavieiros do país. As quatro variedades
mais plantadas são originárias de unida-
des da Rede: RB867515, lançada pela Uni-
versidade Federal de Viçosa (UFV), MG;
RB966928, lançada pela Universidade Fe-
deral do Paraná (UFPR); RB92579, lança-
da pela Universidade Federal de Alagoas
(UFAL); e a RB965902, lançada pela Univer-
sidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.
Na estação de Carpina, onde é desenvolvido o Programa de Melhoramento Genético da
Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de Pernambuco, o auditório recebeu o nome de Planalsucar
72	 Novembro · 2015
“Ao analisarmos nossa história de 25
anos de pesquisa, com trabalhos que ini-
ciaram em 1991, a nossa participação era
inferior a 9% da área cultivada no Brasil”,
diz Edelclaiton Daros, coordenador nacio-
nal da Rede.
Segundo Daros, os pesquisadores
dos programas de melhoramento que fa-
zem parte da Ridesa passaram a buscar
variedades que contribuíssem para o setor
em momentos de dificuldades, “com libe-
rações de variedades rústicas, com libera-
ção de variedades hiperprecoces para am-
pliar o período de safra, com liberação de
variedades tolerantes a novas doenças e
com boas produtividades, mesmo diante
de desafios como foi a chegada da colhei-
ta e do plantio mecanizados.”
Difusão de conhecimento
O desenvolvimento de variedades de
cana que possibilitam maior competitivi-
dade ao setor é o foco principal da Ridesa,
mas difundir conhecimento também está
na pauta da Rede. Um dos trabalhos nes-
se sentido são os encontros técnicos pro-
movidos pelo Programa de Melhoramento
Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA) da
Universidade Federal de São Carlos (UFS-
Car), integrante da Ridesa, realizados em
diferentes regiões de São Paulo e no Mato
Grosso do Sul e que abordam variados te-
mas, como controle do carvão e da ferru-
gem alaranjada
De acordo com Hermann Hoffmann,
coordenador do PMGCA da UFSCar. “As
reuniões permitiram uma aproximação
ainda maior entre o programa e usinas e
fornecedores de cana, facilitando o com-
“Os pesquisadores dos programas de melhoramento que
fazem parte da Ridesa buscam variedades que contribuem
para o setor em momentos de dificuldades”, diz Daros
“As reuniões facilitam o compartilhamento
de tecnologias”, diz Hermann
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
73
partilhamento de tecnologias, a troca de
experiências e a disseminação de infor-
mações”, diz Hermann. Ao todo, 90 usi-
nas e 12 associações conveniadas à Ride-
sa UFSCar participaram das dez reuniões,
que tiveram a participação de mais de 400
profissionais.
Os encontros foram realizados entre
os meses de agosto e outubro deste ano.
Cada reunião foi regional, reunindo pro-
fissionais de usinas ou de associações de
produtores próximas, o que facilitou um
maior contato entre os pesquisadores do
programa de pesquisa e os produtores de
cana e técnicos das empresas.
Controle de doenças
“As reuniões foram muito proveito-
sas. Discutimos o manejo de variedades
RB, apresentamos o censo varietal e veri-
ficamos a intenção de variedades a serem
plantadas no próximo ciclo de plantio”, diz
Hermann.
Nos encontros também foram discu-
tidas ações para controle do carvão e da
ferrugem alaranjada por conta da ameaça
que estas doenças representam à produti-
vidade do canavial.
“Defendemos que o produtor deve
priorizar a troca das variedades de áreas
infestadas por estas doenças tão logo seja
A Ridesa mantém parcerias com o setor. Uma dessas parcerias é com a Usina Caeté,
em Alagoas, onde a PMGCA UFAL conta com 50 hectares para o experimento de clones
74	 Novembro · 2015
possível, mas sempre utilizando materiais
resistentes. Para controle do carvão, tam-
bém é essencial o plantio de mudas sa-
dias. No caso das ferrugens, acreditamos
que fungicidas devam ser aplicados ape-
nas em situações emergenciais”, relata Ro-
berto Chapola, pesquisador do PMGCA da
UFSCar.
Esta série de reuniões promovidas
pela Ridesa UFSCar com profissionais de
usinas e produtores de cana foi muito efi-
ciente para divulgar informações e com-
partilhar conhecimento por conta do for-
mato dos encontros. “Conseguimos formar
grupos menores, o que permite uma troca
de ideias e de conteúdos muito grande”,
pontua Hermann.
25 anos da Ridesa,
45 anos das variedades RB
e lançamento de variedades
No próximo dia 25 de novembro, 16
novas variedades RB serão lançadas du-
rante o Encontro Nacional da Ridesa. Sete
universidades que compõem a Rede libe-
rarão novos materiais na ocasião: UFAL,
UFRPE, UFG, UFPR, UFSCar, UFRRJ e UFV.
Os nomes e as características das 16
novas variedades ainda são guardados a
sete chaves pelos programas de pesqui-
Prédio do PMGCA e do Laboratório de Biotecnologia de Plantas da
UFSCar – Ridesa, em Araras, SP, também é fruto da parceria com o setor
PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
75
sa. O que divulgam é que são variedades
que foram escolhidas estrategicamen-
te entre as universidades e se comple-
tam ao longo da safra, nos mais diferen-
tes ambientes.
“Como são variedades para os mais
diferentes ambientes de produção, os no-
vos materiais se destacam em aspectos
como precocidade, produtividade, apti-
dão a ambientes restritivos, boa colheita-
bilidade e adequação ao plantio mecani-
zado, além de boa sanidade em relação às
principais doenças”, relata Daros.
No Encontro Nacional será divulga-
da a Revista de Liberação Nacional de Va-
riedades RB de Cana-de-Açúcar, com a
descrição completa e recomendação de
manejo para as 16 novas variedades RB.
Também será lançado o Livro comemora-
tivo “45 anos de Variedades RB de Cana-
de-Açúcar – 25 anos de RIDESA”. Todas as
informações originais de liberação das 94
variedades RB serão descritas e apresenta-
das nesta edição.
ENCONTRO NACIONAL DA RIDESA
Local: Hotel JP, em Ribeirão Preto – Via Anhanguera, Km 306,5
Horário: das 8h às 13h
Não perca a cobertura em tem real no https://www.facebook.com/canaonline.com.br
e depois a matéria especial na edição de dezembro da CanaOnline.
A RB867515 é a variedade mais plantada no Brasil
76	 Novembro · 2015
A partir daí houve
um convite às empresas privadas
e instituições interessadas no desenvolvi-
mento do projeto. As parcerias foram fei-
SUSTENTABILIDADE
Lançado relatório sobre
o Projeto RenovAção
PUBLICAÇÃO LEVANTA NÚMEROS, RESGATA HISTÓRIAS E
REGISTRA COMO A QUALIFICAÇÃO PODE TRANSFORMAR VIDAS
“F
iz minha inscrição nesse curso,
mas pensei que não me cha-
mariam. Escolhi fazer solda,
só que todo mundo pensa que é função
mais de homem. Mesmo assim me cha-
maram para fazer o curso. E não é tão di-
fícil. Estou fazendo o melhor, quero con-
seguir um trabalho na usina ou onde
aparecer. Depois quero continuar estu-
dando. Estou pronta, mas não para ser
apenas uma soldadora. Serei uma boa
soldadora”, diz Giani da Silva Concei-
ção, 24 anos, de Dumont, SP, uma das
alunas de um dos cursos oferecidos
pelo Projeto RenovAção, na modali-
dade Comunidade.
Transformar vidas por meio da
qualificação é o principal objeti-
vo do RenovAção. Maria Luiza Bar-
bosa, consultora de Responsabili-
dade Social da Unica, explica que
o RenovAção é um projeto que
foi criado primeiro pela cadeia produtiva,
reunindo as associadas da Unica e a Fe-
deração dos Empregados Rurais Assala-
riados do Estado de São Paulo (Feraesp).
77
tas com: o Banco Interamericano de De-
senvolvimento, a Fundação Solidaridad, a
Iveco, a Case IH, a FMC e a Syngenta. A
John Deere também apoiou o projeto du-
rante os seus primeiros anos. E também
contou com o suporte de técnicos do Ser-
viço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI) e do Centro Paula Souza, que co-
ordenaram o treinamento teórico e práti-
co dos cursos.
Um dos grandes méritos da inicia-
tiva foi o envolvimento dos parceiros do
RenovAção na formatação e na condução
do programa. As empresas e instituições
envolvidas formaram um comitê para que
todos pudessem contribuir com a imple-
Giani durante o curso e com
os filhos na formatura
Durante lançamento do relatório do Projeto RenovAção: Iza Barbosa,
Fátima Cardoso, Elizabeth Farina, presidente da Unica, e Edgardo Legar,
responsável pela área de treinamento de operadores na CaseIH
78	 Novembro · 2015
mentação do RenovAção. Diversas reuni-
ões foram realizadas. Todas as decisões do
Projeto foram debatidas e analisadas por
esse comitê, que não só colaborou finan-
ceiramente, mas ajudou a pensar e melho-
rar o Programa.
Lançado em 2009, o RenovAção pre-
via o treinamento especializado de traba-
lhadores nas seis principais regiões produ-
toras de cana-de-açúcar do Estado de São
Paulo: as macrorregiões de Ribeirão Preto,
Piracicaba, Bauru, Araçatuba, São José do
Rio Preto e Presidente Prudente. O gran-
de diferencial do programa, foi que o co-
laborador pôde se dedicar integralmente
ao curso, não precisando trabalhar no pe-
ríodo, mas sem deixar de receber o salário
mensal. Em 2010 ocorreu a formatura das
primeiras turmas de capacitação.
Como as unidades sucroenergéticas
não conseguem recontratar todos os tra-
balhadores que foram dispensados pela
mecanização, o Programa criou um se-
gundo módulo de capacitação voltado a
qualificar trabalhadores para outros seto-
res da economia. É o chamado RenovAção
Comunidade.
Lançamento do Relatório
do Projeto RenovAção
Em 29 de outubro, na capital paulis-
ta, a Unica e a Fundação Solidaridad lan-
çaram o Relatório Final do Projeto Reno-
vAção. O balanço mostra que, no período
de 2010 a 2015, o RenovAção profissiona-
lizou 6.650 pessoas ligadas direta ou indi-
retamente ao setor sucroenergético pau-
lista, especialmente trabalhadores que
atuavam no plantio e colheita manuais em
seis das maiores zonas de cultivo cana-
SUSTENTABILIDADE
O relatório de balanço do Projeto RenovAão é em português e inglês
79
vieiro impactadas pelo rápido avanço da
mecanização no campo. Considerado um
dos maiores programas mundiais de re-
qualificação na cadeia produtiva da cana,
o RenovAção serviu de referência para a
formação de outros 20 mil novos profis-
sionais em programas semelhantes toca-
dos pelas usinas paulistas.
Este conjunto de ações permitiu a
absorção de um contingente expressivo
de profissionais cujas atividades vêm sen-
do progressivamente abolidas na última
década, em grande parte por conta do fim
da queima da palha da cana. A tendência
RENOVAÇÃO EM NÚMEROS
80	 Novembro · 2015
ganhou mais força a partir de 2007, quan-
do governo e representantes do setor as-
sinaram o Protocolo Agroambiental, acor-
do que na época envolveu 170 usinas e 29
associações de fornecedores canavieiro. O
pacto antecipou os prazos legais para o
fim do uso do fogo controlado, que facili-
tava o corte manual da planta.
Mais de 1,2 milhão de empregos di-
retos são gerados pelo setor sucroenergé-
tico no Brasil. Cerca de 500 mil estão em
atividades manuais vinculadas exclusiva-
mente à colheita da cana-de-açúcar. O Es-
tado de São Paulo, sozinho, abriga 20%
dessa mão-de-obra, ou cerca de 110 mil
trabalhadores. Dados do Instituto de Eco-
nomia Agrícola, da Secretaria de Agricul-
tura do Estado de São Paulo (IEA) apon-
tam que na atual safra a mecanização
da colheita já atingiu 90% dos canaviais
paulistas.
O RenovAção pode ser
replicado em outros países
O presidente da Federação dos Em-
pregados Rurais Assalariados do Estado de
São Paulo (Feraesp), Élio Neves, cuja enti-
dade coordenou o RenovAção em parceria
com a Unica, ressalta o aspecto inclusivo
do Projeto, em contraponto ao desem-
prego gerado pelo avanço da tecnológi-
co no setor. “A mecanização gera ganhos
ambientais e de produtividade, mas tam-
bém faz com que trabalhadores percam
SUSTENTABILIDADE
Técnicos do Senai treinando os novos operadores de colhedora de cana
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip
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revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

  • 1. 1
  • 3. 3 Clivonei Roberto clivonei@canaonline.com.br Luciana Paiva luciana@canaonline.com.br CÁ ENTRE NÓS Uuufaaa!!! O Grupo Santa Terezinha, no Paraná, com 10 unidades, está entre os que vão esten- der a colheita, ou melhor, não deve parar, emendando as safras. Muitos dizem que as expectativas para o Brasil em 2016 são ainda de mui- tos problemas, mas que para a agroindús- tria canavieira o cenário é de recuperação. Que assim seja! P ara o setor sucroenergético, até que enfim surge a luz no fim do túnel. Esta foi a impressão que tivemos dos participantes do 8º Congresso Nacional da Bioenergia Udop/Stab, realizado em 11 e 12 de novembro em Araçatuba, SP. O mesmo sentimento pôde ser encontrado nos participantes de vários outros eventos do setor. A explicação se deve aos bons preços do etanol no mercado interno e do açú- car no mercado externo. Este último incre- mentado pela valorização do dólar e pela informação de déficit no estoque mundial. A valorização dos produtos está in- centivando muitas usinas a estenderem a moagem, reduzindo a quantidade de ca- na-bis, mesmo que tenham de brigar com as chuvas que têm atrapalhado a colheita.
  • 4. Capa DNA Canavieiro Holofote - Qual é o futuro do etanol hidratado? Tendências - Gerindo custos na crise ÍNDICE Nordeste - Cana volta a incrementar a geração de emprego em Pernambuco Insectshow - Para controlar a Ferrugem Alaranjada, não precisa erradicar o canavial
  • 5. Editores: Luciana Paiva luciana@canaonline.com.br Clivonei Roberto clivonei@canaonline.com.br Redação: Adair Sobczack Jornalista adair@canaonline.com.br Leonardo Ruiz Jornalista leonardo@canaonline.com.br Marketing Regina Baldin Comercial comercial@canaonline.com.br Editor gráfico Thiago Gallo Tecnologia Agrícola - Cuidando da soqueira Tecnologia Industrial - Mais impurezas e menos açúcar, este é o cenário do setor Economia - Benefícios da rotação de cultura da cana com leguminosas Pesquisa & Desenvolvimento - Ridesa completa 25 anos e domina os canaviais Sustentabilidade - Lançado relatório sobre o Projeto RenovAção Aproveite melhor sua navegação clicando em: Áudio LinkFotosVídeo Entre em contato: Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re- vista CanaOnline serão muito bem-vindas: Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22 Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SP Telefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074 Email: luciana@canaonline.com.br www.canaonline.com.br CanaOnline é uma publicação digital da Paiva& Baldin Editora
  • 7. 7 râmetro da equação, veja o que vai acon- tecer com o resto. Não é solução simples. Parte da solução cabe a nós, que é resol- ver o mecanismo de precificação do hi- dratado e do anidro. Celso Torquato Junqueira Franco, diretor presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia) e diretor da Usina Pioneiros Para de falar que hidratado não tem espaço Estamos passando por uma transição que ainda está longe de acabar e não temos chances de dizer que álcool hidratado não é um produto importante. Inclusive de regula- ção de mercado. Vejo que num futuro próximo, talvez, isso pos- sa mudar quando todos os mecanismos de uso de combustível limpo em vários países do mundo estiverem definidos, de- terminando o uso do etanol como aditivo. E isso poderá levar a um grande aumento da exportação. Mas hoje vejo o etanol hi- dratado como produto de vital importân- cia, no só em termos competitivos como de criação de novos empregos, novas in- dústrias, e pelo grande potencial que tem. No curto e médio prazo, não tem chance de continuarmos falando que o hidrata- Ficou como patinho feio Oetanol hidratado permanece ou aca- ba? É uma polêmica que se mantém nas rodas de conversas. Na minha leitura, quem estabelece hoje o preço do etanol, dos produtos da cadeia, via de regra, é o etanol hidratado, porque, de certa forma, está atrelado ao preço da gasolina. Para o anidro, nós convencionamos o preço em relação ao hidratado. Quanto ao açúcar, a partir do momento que a commodity re- munera mais que o etanol, aumenta o mix para açúcar. Quando inverte, aumenta o mix para etanol. O biocombustível acaba também gerando um parâmetro de preci- ficação de açúcar no mercado internacio- nal. Assim, o etanol hidratado ficou como o patinho feio. Mas pensando num mo- delo sem o etanol hidratado, como re- solvemos o problema da sazonalidade de produção? Hoje, quando tem excesso de cana, o excesso de produção migra para o hidratado. Isso porque o açúcar tem de- manda estabelecida no mercado interna- cional para cada ano. Se forçar a barra cai muito o preço, piorando a rentabilidade. No caso do anidro, é o volume de venda de gasolina que determina sua demanda; no máximo é possível interferir é na va- riação da mistura. Onde é que de- sova o excesso de produção de cana? No hidra- tado. Tira esse pa-
  • 8. 8 Novembro · 2015 do não tem mais espaço. Temos inclusive que ponderar nessa discussão. Podem até imaginar que estamos pensando em redu- zir a produção brasileira de etanol. Ismael Perina, engenheiro agrônomo e presidente da Câmara Setorial de Açúcar e Etanol Por um combustível de melhor qualidade Aquestão não é acabar com o álco- ol carburante, mas deixar de fabri- car um combustível meio ‘fajuto’, que tem água. Se água fosse boa para o motor à combustão, estava tudo resolvido. O álco- ol carburante continuaria do mesmo jeito, mas de melhor qualidade, sem água. E falo em criar um programa de marcas e mer- chandising sobre o assunto, mas para isso precisa de muito dinheiro. O setor nunca se preocupou em fazer reserva para esse tipo de coisa. Seria fazer uma grande mu- dança mercadológica, quase como lançar um novo produto, buscando junto ao go- verno novas condições, nova regulamen- tação, inserção na matriz energéti- ca brasileira. Concomitante a isso, uma grande mudança da indús- tria automobilística a fim de aca- bar com essa tapeação de ter motor a gasoli- na adaptado para ál- cool, com um rendi- mento muito menor. Essa discussão é algo muito mais amplo do que simplesmente deixar de produzir um produto, mas isso exigiria um processo de vários anos. De qualquer forma, não conheço nada que seja melhor para o Brasil do que esse pro- grama como um todo e seus derivados. Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa Mecanismo de regulação Ohidratado é a esponja que regula o sistema e serve como mecanismo de regulação desta in- dústria. E é um mo- delo que deveria ser cogitado em outros países. Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria Acaba com o setor Dos nossos 600 mi- lhões de tone- ladas de cana que moemos no Cen- tro-Sul, 200 mi- lhões de to- neladas são transformadas HOLOFOTE
  • 9. 9 em hidratado. Se não tivermos hidratado, é muita cana para ‘chuparmos’. Não tem mercado de açúcar para colocar mais 15 milhões de toneladas. E não tem anidro para crescer nessa velocidade. Se acabar com hidratado, acaba com o setor. Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar Temos problemas maiores Pelo que entendi da proposta, não é aca- bar com o hidratado, mas que o E100 seja fei- to com o anidro. Um etanol sem água, e que continu- asse a mistura dos 27% à ga- solina. Mas par- ticularmente me preocupo mui- to com isso, porque teríamos um pro- duto só. E neste caso minha preocupação está com o governo, que afeta o nosso dia a dia. Vide o que aconteceu nesse ano. Co- meçamos o ano subindo a mistura de 25% para 27% e os contratos de anidro baixa- ram bastante. Ganhamos demanda, mas perdemos preço, a princípio. Além disso, acho difícil, ao tirar a água, ganharmos al- guma coisa de eficiência energética. Mas acho que é um assunto a ser bem discuti- do, mas hoje temos problemas maiores. A grande questão é a nossa vontade de en- frentar estes grandes desafios. André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e do Sifaeg (Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar e Etanol de Goiás) O hidratado vai ficar OBrasil construiu nesses últimos 40 anos o maior programa de combus- tível renovável do mundo. Agora o país deverá ratificar seus compromissos com relação à energia renovável na COP-21, a partir de 30 de novembro, em Paris. Por isso, falar em terminar com o álcool hidra- tado significa maior consumo de combus- tível fóssil. E para o Brasil, no momento econômico difícil que enfrenta, o hidra- tado é vital para a balança comercial, até porque o país não tem projeto para novas refinarias. Seja por pressão externa, para que cumpramos os acor- dos firmados na COP-21, ou por pressão de caixa, o etanol hidratado vai fi- car e vai continuar inse- rido de maneira cada vez mais importante na nossa matriz energética. Jacyr Costa Filho, diretor da Divisão Brasil do Grupo Tereos
  • 10. 10 Novembro · 2015 TENDÊNCIAS rado pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. A situação se agrava ainda mais dian- te de uma crise política. O desacordo en- tre Planalto, Senado e Câmara se intensi- fica diariamente e dificulta aprovações de políticas econômicas, fazendo com que o país vivencie um momento de elevada instabilidade. É claro que muitas questões não es- tão ao nosso alcance e dependem unica- mente do direcionamento do governo, mas apenas esperar por condições melhores de mercado é o mesmo que aceitar todos os impactos negativos trazidos pela crise do país. É importante olhar para o ambiente Gerindo custos na crise Ana Malvestio1 e Luis Seixas2 T odos sabem que a economia brasi- leira está passando por momentos difíceis. Segundo o Banco Central, o país terá uma recessão em 2015, com re- dução do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,85%, aliado a uma elevação da inflação que deve finalizar o ano a 9,53%. A moeda brasileira sofre desvalorizações a cada dia e o preço do dólar já gira em torno de R$ 4,00, com picos de alta dependendo dos movimentos do mercado. Por conta disso, o país não deve conseguir cumprir a meta de superávit primário e já mencionou um orçamento deficitário para 2016. A conse- quência deste cenário econômico resultou na perda do selo de “bom pagador”, reti- AS EMPRESAS CONSIDERADAS REFERÊNCIA EM GESTÃO PODEM GERAR RESULTADOS CERCA DE 50% MELHORES QUE A MÉDIA DO SETOR EM QUE ATUAM Uma das saídas é baseada na aceleração de resultados. O foco nesse momento é obter um retorno financeiro rápido
  • 11. 11 interno e encontrar soluções para superar os desafios do atual momento, com a rea- lização de ajustes para melhorar os resul- tados. Mesmo na crise, isso é, sim, possível! Mesmo na crise é possível melhorar resultados As empresas consideradas referência em gestão podem gerar resultados cer- ca de 50% melhores que a média do setor em que atuam. Gestão é um tema muito amplo que pode envolver múltiplas ações voltadas para diversos objetivos. Porém, quando se trata de um momento de cri- se, se torna mais necessário olhar para os custos. O baixo faturamento, proveniente das condições adversas do mercado, pode ter impacto menos significativo nos lucros se os custos forem bem geridos. Na PwC Brasil, o modelo de gestão de custos é divido em duas fases interliga- das. A primeira delas é baseada na acele- ração de resultados. O foco nesse momen- to é obter um retorno financeiro rápido, que pode ser atingido, por exemplo, por meio da eficiência tributária. Identifica- ção de créditos não apropriados e de car- gas tributárias que podem ser reduzidas geram benefícios de curto prazo com im- pacto imediato nos resultados financeiros e, nessa primeira fase, o retorno financeiro que a empresa obtém gera o financiamen- to para pagar a segunda fase. A segunda fase é focada na mudança da cultura da empresa, visando uma redu- ção de gastos sustentáveis. Portanto, exige estruturação da gestão orçamentária, me- lhorias de controles e envolvimento e ca- pacitação de diversos gestores da empresa. Os resultados não são imediatistas, como na primeira fase, mas as ações implementa- das representam um divisor de águas para a empresa quando se trata do tema cus- tos. O foco será sempre no binômio custo Tem coisa que não dá para ficar esperando pelo fim da crise política
  • 12. 12 Novembro · 2015 TENDÊNCIAS = preço x consumo. Para a alavanca “pre- ço”, a firma conta com as melhores práti- cas do mercado em compras estratégicas, que podem auxiliar nas formas de negocia- ção com fornecedores, revisão de contra- tos, técnicas de parametrização, etc. Na ala- vanca “consumo”, a PwC Brasil estabelece comparações entre áreas similares ou utili- zando benchmark para identificar quais as áreas que estão consumindo mais uma de- terminada natureza do gasto e quais as que estão consumindo menos. A partir dessa diferença, são estabelecidas as lacunas e planos de ação estruturados. É importante tomar cuidado com cor- tes lineares, pois essa ação pode trazer im- pactos significativos para as organizações. Por exemplo, uma empresa, forçada pe- las condições econômicas desfavoráveis, pode decidir impor um corte linear de 12% em todos os custos. O resultado será nega- tivo, pois gestores que têm um orçamento inchado serão menos prejudicados do que aqueles que realmente buscam gerenciar os custos e construir um orçamento enxu- to. O maior impacto está associado à per- cepção desses gestores sobre a previsão de gastos, e a tendência é que todos pas- sem a construir um orçamento mais “fol- gado” para amenizar os impactos de uma possível crise e novo um corte linear. Neste contexto, a gestão de custos é, com certeza, um dos melhores caminhos para enfrentar o momento delicado que atravessa o Brasil. Reagir diante dos desa- fios e acelerar mudanças internas são os primeiros passos para se sobressair diante desse cenário. É preciso promover redução de gastos sustentáveis 1 Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas 2 Sócio da PwC Brasil, especialista em gestão de custos e melhoria na eficiência operacional
  • 13. 13
  • 14. 14 Novembro · 2015 NORDESTE Luciana Paiva REATIVAÇÃO DE TRÊS USINAS GERA 12 MIL EMPREGOS EM PLENA CRISE E É RESPONSÁVEL POR PERNAMBUCO LIDERAR A GERAÇÃO DE EMPREGOS NO PAÍS Cana volta a incrementar a geração de emprego em Pernambuco Em Pernambuco ainda predomina o corte manual da cana; a alta incidência de topografia acidentada contribui para isso D urante o governo do presiden- te Lula, Pernambuco era um can- teiro de obras, faltava trabalhador e sobrava vagas de emprego. Trabalhar nas usinas de cana passou a ser uma op- ção descartada, o negócio era ser operá- rio nas obras do Porto de Suape, na refi- naria Abreu e Lima, na pavimentação das estradas ou na construção de fábricas que se instalavam no estado. Mas o “milagre econômico Lulista” chegou ao fim. O corte dos investimen- tos e a paralisação das obras empurra- ram Pernambuco a liderar as estatísticas de campeão nacional do desemprego. Po- rém, neste ano, mais precisamente no mês
  • 15. 15 de setembro, o ranking do Cadastro Ge- ral de Empregados e Desempregados (Ca- ged) apontou Pernambuco como o maior gerador de vagas do Brasil. Em Pernambuco, foram admitidos em setembro 52.583 pessoas e desliga- das 37.335, com um saldo de 15.248 va- gas criadas no período, o que represen- ta 1,16% mais vagas em comparação com agosto. Em todo o país, foram fechadas 95.602 vagas. A expansão do número de vagas com carteira assinada no estado se dá devido a um componente sazonal, que são as ativi- dades ligadas ao setor da cana-de-açúcar. A indústria de transformação foi responsá- vel pela criação de 10.824 postos, enquan- to a fabricação do açúcar bruto correspon- de a 2.061 vagas. A agropecuária acumulou 5.818 postos de trabalho, sendo 4.112 do cultivo da cana e 1.214 do cultivo da uva. A reativação das usinas Pumaty, em Joaquim Nabuco, Cruangi, em Timbaúba, e Pedrosa, em Cortes, incrementou ain- da mais a geração de empregos promo- vida pelo setor sucroenergético pernam- bucano. As usinas “renascidas” já geraram 12 mil empregos diretos e indiretos. “Es- tamos quebrando paradigmas, porque di- zem que usina que fecha não abre mais e 80 unidades industriais fecharam no Brasil nos últimos cinco anos”, diz Alexandre An- drade Lima, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) e da Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana de Pernambu- Na época do milagre econômico Lulista sobravam obras em Pernambuco
  • 16. 16 Novembro · 2015 NORDESTE co (Coaf), gestora da Cruangi. Já a Puma- ty foi reaberta pela Cooperativa Agrocan. Neste cenário de gasolina cara, dó- lar barato e menor estoque mundial de açúcar, os nordestinos analisam que este momento é vantajoso porque as usi- nas podem exportar mais açúcar e tam- bém podem produzir etanol, que está “Enquanto outros estados fecham usinas, nós abrimos. E abrimos na hora certa”, diz Gerson Carneiro Leão “Menino Monstro” derruba previsão de safra no Nordeste M aior que o ocorrido em 1997/1998, esta é a análise so- bre o “El Niño” 2015, tanto que foi batizado de “Menino Monstro. Este fe- nômeno climático é caracterizado pelas temperaturas altas na superfície dos ma- res no Pacífico, e ocorre entre a costa oes- te da América Latina e o Sudeste Asiático, mas seus efeitos podem ser sentidos em todo o mundo – atingindo Japão e a re-
  • 17. 17 mais competitivo em relação à gasolina, com isso, maior demanda. “Enquanto ou- tros estados fecham usinas, nós abrimos. E abrimos na hora certa. Havia um milhão de toneladas de cana sobrando na região e o preço do açúcar reagiu, porque a sa- fra da Índia quebrou. Agora, estamos mo- endo fila atrás de fila e já estamos expor- gião norte do Pacífico. Várias vezes, ele le- vou a desastres naturais. A grosso modo, trata-se de um ciclo anual que, em alguns anos, é pouco sen- tando até para a Europa”, diz feliz Gerson Carneiro Leão, sócio da usina Pedrosa. Mas não é só ele que comemora, mas também as comunidades em que as usinas estão inseridas, pois a expectativa é que, ao fi- nal do ano, cada unidade fature pelo me- nos R$ 30 milhões. Nesta safra, 18 unida- des estão em atividades em Pernambuco. tido. A mudança da temperatura na su- perfície do mar interage com a atmosfera sobre o Oceano Pacífico e, em uma tem- porada extrema, verifica-se o que os cien- Além das perdas na safra atual, as soqueiras precisam da chuva para garantir a próxima safra
  • 18. 18 Novembro · 2015 NORDESTE tistas chamam de “evento”. De três a sete anos, acontece um pico: quando quanti- dade suficiente de água quente – em um “El Niño” – se concentra no leste do Pací- fico, próximo a costa do Peru. Como um evento climático, pode-se perceber que os picos começam no final de dezembro. Mas o “Menino Monstro” já provoca estragos no Brasil, com muita chuva na re- gião Sul e seca no Nordeste, onde a cana- de-açúcar foi seriamente afetada. O que levou consultorias a reavaliarem para bai- xo suas análises de produção. No fim de outubro, a Datagro, maior consultoria do mundo em cana, açúcar e etanol, reduziu sua projeção para a safra Nordeste para 52 milhões de toneladas, ante os 59,2 milhões de toneladas projetadas anteriormente. Agora em novembro, a consultoria FCStone reduziu em 6 milhões de tone- ladas para 53,5 milhões a estimativa para a moagem de cana-de-açúcar na região Nordeste nesta safra 2015/16. Nos nú- meros da FCStone, a previsão agora é de uma produção de açúcar no Nordeste de 3,08 milhões de toneladas, uma queda de 13,6% em relação ao estimado em agosto pela consultoria. Para a fabricação de eta- nol, a nova estimativa da FCStone é de um volume de 1,99 bilhão de litros, queda de 11,5% frente ao projetado em agosto. Alexandre Andrade Lima, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), diz que a quebra nos canaviais na zona da mata norte (a mais seca do estado), chega a ser de 50% e dá como exemplo a usina Cruangi, rea- berta nesta safra após três anos sem moer, “a expectativa era colher 500 mil tonela- das, mas se confirmar o cenário de seca, não deve chegar a 350 mil”. A Cruangi é gerida pela Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana de Pernambu- co (Coaf), da qual Alexandre preside. Ainda segundo ele, a média de quebra na safra pernambucana deve ser de 25%, a mes- ma média da região Nordeste. “Lamentá- vel, justamente em um momento que os produtos estão valorizados, teremos me- nos matéria-prima.” “Lamentável, justamente em um momento que os produtos estão valorizados, teremos menos matéria-prima”, diz Alexandre
  • 19. 19
  • 20. 20 Novembro · 2015 INSECTSHOW Para controlar a Ferrugem Alaranjada, não precisa erradicar o canavial Leonardo Ruiz CONTROLE QUÍMICO PODE SER BASTANTE EFICAZ NO CONTROLE DA FERRUGEM ALARANJADA DA CANA E m 2009, os técnicos agrícolas da Usi- na Cerradão, localizada no municí- pio mineiro de Frutal, começaram a perceber que alguns canaviais da unida- de apresentavam pequenas pontuações amareladas em suas folhas. Naquele mo- mento, não foi dada tanta importância a esses sintomas, já que eles poderiam sig- nificar apenas um segundo tipo de Fer- rugem marrom (Puccinia melanocephala) que estaria surgindo. Porém, aos poucos, essas manchas foram evoluindo e passa- ram a ganhar outro tom: mais alaranjado. Esses sintomas se alastraram pelos canaviais da Empresa e também por várias outras unidades agroindustriais no Centro- Sul. A Ferrugem alaranjada (Puccinia kueh- nii), como ficou conhecida, chegava ao Bra- Ferrugem alaranjada causou danos ao setor, pois ataca, principalmente, a variedade SP 81-3250, que, em 2009, era uma das mais cultivadas CTC
  • 21. 21 sil por meio de correntes de ar, pegando o setor de surpresa, pois ela ataca, princi- palmente, a variedade SP 81-3250, que, na- quela época, era uma das mais cultivadas. A doença chegou a causar redução na pro- dução agrícola na ordem de 30% a 50% em TCH (toneladas de cana por hectare) e de 15% a 20% no teor de sacarose dos colmos. Com esses números, muitos produtores entraram em pânico, a ponto de erradicar seus canaviais com a SP 81-3250, eliminan- do-a do plantel varietal. Na Cerradão, o cenário não era dife- rente, já que a SP 81-3250 também era o carro-chefe da empresa. Porém, o gerente de produção agrícola da unidade, Michel Fernandes, conta que o caminho tomado foi outro. Em vez de erradicar completa- mente o canavial, eles optaram em usar outra medida de manejo, uma que impe- disse os altos níveis de dano econômico decorrentes da doença e que ainda per- mitisse que as variedades atacadas con- tinuassem sendo utilizadas. Os resulta- dos foram excepcionais, pois o controle da doença devolveu produtividade às va- riedades. A forma de manejo escolhida foi o uso do fungicida, e o produto escolhi- do, o Opera® , da BASF. Hoje, cerca de 28% do canavial da Cerradão ainda é composto pela 81-3250, número que seria bem me- nor caso o modelo de combate adotado tivesse sido outro. Provando a eficiência Embora os primeiros sinais de Ferru- ARQUIVOCANAONLINE Michel Fernandes conta que, em vez de erradicar completamente o canavial, a Usina Cerradão optou pelo uso do fungicida
  • 22. 22 Novembro · 2015 A doença chegou a causar redução na produção agrícola na ordem de 30% a 50% em TCH INSECTSHOW gem alaranjada na Usina Cerra- dão tenham aparecido em 2009, o pico da doença começou em 2011. Naquele ano, Michel Fer- nandes teve que provar para a diretoria a necessidade de entrar com controle quí- mico pesado nos canaviais afetados. Para isso, decidiu separar duas áreas com Fer- rugem e tratar apenas uma delas. O resul- tado foi impressionante. “No canavial não tratado, tivemos perdas de 20% a 30% em TCH e redução de 5 a 6 Kg de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR). Já nos locais em que o Opera® foi aplicado, consegui- mos recuperar a produtividade.” Segundo ele, esses dados provaram não só os mo- tivos de entrar com controle químico no combate a Ferrugem alaranjada, mas tam- bém a alta eficiência e custo-benefício do Opera® . Atualmente, a empresa utiliza algu- mas estações meteorológicas próprias para prever o surgimento da doença. Esse sistema analisa as condições mais favo- ráveis à eclosão da Ferrugem alaranjada, cruzando informações de variedade e cli- ma, por exemplo. “Essa tecnologia aju- da a dar mais suporte sobre o momento ideal de aplicação do fungicida. Essa aju- da é de extrema importância, pois errar o timing de aplicação resultará em estouro da doença e perca de produtividade”, afir- ma Fernandes. Controle preventivo na Usina Estiva A Ferrugem alaranjada se desenvol- ve no final do ciclo da cultura, favoreci- da por verões úmidos com temperaturas amenas (21°) após um período de molha- mento foliar acima de 12 horas. As regiões central e leste do Estado de São Paulo são as mais favoráveis para o desenvolvimen- to da doença, seguidas da região do Oeste Paulista, que apresenta condições climáti- cas menos adequadas. E esse, aliás, foi um dos motivos que fizeram com que a Usina São José da Esti- va, de Novo Horizonte, SP, não tivesse re- gistrado, até o ano passado, grandes casos de Ferrugem alaranjada. O gerente agríco- la da Unidade, Júlio Vieira de Araújo, conta que em 2013 alguns canaviais da empresa foram mais comprometidos com a doen- ARQUIVOCANAONLINE
  • 23. 23
  • 24. 24 Novembro · 2015 ça, porém, devido ao bom uso de fungici- das, as produtividades não foram severa- mente impactadas. Foram duas as variedades da Empresa que tiveram maiores problemas com a do- ença. A SP 81-3250, que corresponde a 3% da área, e a CTC 15, encontrada em 15% dos canaviais. “Não temos a intenção de elimi- nar a CTC 15 de nosso plantel, pois é ela é um material rústico e muito produtivo. Por isso, temos trabalhado fortemente no con- trole preventivo, para não deixar a doença entrar. Até o momento, os resultados têm sido muito animadores”, afirma Araújo. O gerente explica que, para esse monitoramento, a Usina conta com uma equipe técnica bem treinada que faz ava- liação das áreas com potencial risco de surgimento da Ferrugem a cada 15 dias, com especial atenção durante os meses de novembro a fevereiro. “Caso sejam en- contrados vestígios da doença, procura- mos, imediatamente, entrar com a apli- cação de fungicidas para não perder o timing. Após esse processo, é realizada, ainda, uma vistoria nessas áreas, para ve- rificar a necessidade de uma segunda aplicação”, finaliza. “Na São José da Estiva uma das variedades atacadas foi a CTC 15, encontrada em 15% dos canaviais. Porém, não temos intenção de eliminá-la de nosso plantel varietal”, diz o gerente agrícola, Júlio de Araújo ARQUIVOCANAONLINE INSECTSHOW
  • 25. 25 CAPA DNA Canavieiro ESTÁ NO SANGUE DO PRODUTOR SABER CUIDAR DA CANA, MAS PARA SE MANTER NA ATIVIDADE É PRECISO SE REINVENTAR E DOMINAR O NOVO CENÁRIO SUCROENERGÉTICO Luciana Paiva e Clivonei Roberto Arthur: sangue de agricultor e paixão pelo trator “S e pudesse, o Arthur ficaria o dia todo encarapitado no tra- tor. É a paixão dele”, conta o avô José Garcez, um dos 70 mil produto- res de cana do Brasil. Mais precisamente, José faz parte dos 90% dos pequenos pro- dutores que colhem até 10 mil toneladas de cana. Com apenas três anos, o pequeno Arthur é o retrato de um jovem agricul- tor, calçado com botina e boné na cabeça. Com olhar compenetrado, percorre com
  • 26. 26 Novembro · 2015 Família Garcez: Suzan, Paulo, Arthur, José e Matheus o avô a propriedade de 14 hec- tares no município de Motuca, SP. Acompanha a vacinação das vaquinhas, confere se a planta- ção está a salvo das saúvas e, ao lado de seu irmão Matheus, houve atento seu pai, Paulo, e seu avô, José, explicarem como se deve cuidar da lavoura. Matheus tem 15 anos e seu sonho é ser engenheiro agrônomo. Tem todo o apoio de sua mãe Suzan, que observa ser preciso ter ensino para poder produzir mais e melhor. O avô concorda e salienta que é fundamental aumentar a renda do agricultor para que se mantenha no cam- po. Para isso, é preciso ter maior produti- vidade, mas sem conhecimento e tecnolo- gia não é possível. Os Garcez valorizam o velho trator de propriedade da família. “Ele ajuda mui- to.” Mas já pensou como seria se tivessem um trator de última geração, com compu- tador de bordo e tecnologia de precisão? Ahhh, isso é luxo demais! Não é não. Hoje, para se manter na atividade é preciso unir tradição de ser agricultor, conhecimento sobre o campo, prática do dia a dia, tecnologias de ponta, conhecimento acadêmico e novas oportu- nidades de mercado. Não basta mais ter só no DNA a excelência da produção canavieira Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, também conhecido como Caio, presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agro- negócio), o fornecedor de cana é o elo mais fraco da cadeia e é quem sofre mais com a crise. Para Caio, de fato os produ- tores têm no DNA a excelência da produ- ção canavieira. Ele lembra que os resul- tados dos fornecedores de cana sempre foram melhores do que os da usina. “Pelo capricho, pelo dia a dia, pela dimensão da operação que realizam. Normalmente têm resultado médio melhor que das usinas.” Mas, na opinião dele, até mesmo fornece- CAPA
  • 27. 27
  • 28. 28 Novembro · 2015 dores de cana tradicionais, que estão há décadas no setor, tiveram dificuldade de manter um padrão de excelência na pro- dução de cana por conta da crise. Além da crise do setor, outro fator que tem pesado no desempenho do pro- dutor, segundo Maria Christina Pacheco, presidente da Associação dos Fornecedo- res de Cana de Capivari, SP, é que com o fim da queima e a mecanização, o canavial mudou e o produtor precisa se requalifi- car para poder produzir melhor e se man- ter no negócio. “A mecanização impõe um novo jeito de cuidar da lavoura, des- de a adubação até o espaçamento das li- nhas de cana. E o produtor, por mais que tenha a cultura canavieira no DNA, precisa aprender a dominar esta nova realidade”, diz Maria Christina. Em relação ao fim da queima, Maria Christina salienta não ser a favor da quei- ma da palha da cana, mas observa que o fogo reduzia a incidência de plantas da- ninhas e pragas. “Com a cana crua, pre- cisamos utilizar mais defensivos químicos para controlar daninhas que não eram co- muns nos canaviais, como a corda-de-vio- la, que se enrola nos pirulitos da colhedo- ra e travam a máquina. Aumentou muito a presença da broca, o que nos leva a re- alizar mais liberação de cotésia. Também passamos a conviver com pragas como o Sphenophorus. Para controlar isso tudo, aumentou o custo de produção.” Orplana muda a forma de gestão para atender a nova realidade do setor Fundada em 1976, a Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) reúne 33 Associações e 16 mil produtores, que representam apro- ximadamente 23% da cana produzida na região – das 571 milhões de toneladas co- lhidas na safra 2014/15, 129 milhões de toneladas vieram dos fornecedores. De acordo com Manoel Ortolan, presiden- te da Orplana, 90% desses produtores são considerados pequenos, produzem até 10 mil toneladas de cana e respondem por 35% do total da cana de fornecedor. Ortolan ressalta que o setor passou por mudanças muito significativas nos últimos anos, uma delas é a entrada de grandes grupos e multinacionais, o que provocou alterações na forma de nego- ciação entre industriais e produtores de cana. O cenário também exige que o pro- CAPA “O canavial mudou, o produtor precisa aprender como lidar com esse novo canavial”, diz Maria Christina
  • 29. 29 dutor mecanize o canavial e adote inova- ções tecnológicas. No quesito representa- ção de classe também houve mudanças. Com a expansão da cana nas novas fron- teiras, foram criadas associações que se mesclaram com as já existentes, algumas com mais de 70 anos. Com isso, as rein- vindicações dos associados ficaram mui- to diversas. Este cenário, declara Ortolan, mos- trou a necessidade urgente de promover uma transformação na gestão da Orpla- na para fazer frente à nova realidade. “Pre- cisamos ser mais ágeis, estar mais próxi- mos para assegurar aos seus associados a oportunidade de continuarem no jogo. Para isso, contratamos a Markestrat, ten- do o professor Marcos Fava Neves à frente desta consultoria. Eles realizaram um estu- do para estruturação da Orplana. Através do programa Caminhos da Cana, criado pelo professor, visitamos 22 associações de produtores de cana, ouvimos produ- tores, técnicos, dirigentes. E quando isso foi tudo tabulado, definimos seis diretrizes para a Orplana e delas 19 projetos para implementação”, conta. As novas diretrizes da Orplana são: “Este novo cenário mostrou a necessidade urgente de promover uma transformação na gestão da Orplana”, declara Ortolan
  • 30. 30 Novembro · 2015 Reestruturação do Consecana Além de reaprender a cuidar do ca- navial, no momento, os produtores divi- dem a atenção no debate que estão ten- do com os industriais para a atualização do sistema Consecana (Conselho dos Pro- dutores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Ál- cool), uma associação formada por repre- sentantes das indústrias de açúcar e álcool e dos plantadores de cana-de-açúcar, que têm como principal responsabilidade ze- lar pelo relacionamento entre ambas as partes. Para isso, o conselho criou um siste- ma de pagamento da cana-de-açúcar pelo teor de sacarose, com critérios técnicos para avaliar a qualidade da cana-de-açú- car entregue pelos plantadores às indús- trias e para determinar o preço a ser pago ao produtor rural. O sistema tem adoção voluntária. Pelo sistema, o valor da cana-de -açúcar se baseia no chamado Açúcar To- tal Recuperável (ATR), que corresponde à quantidade de açúcar disponível na ma- téria-prima subtraída das perdas no pro- cesso industrial, e nos preços do açúcar e etanol vendidos pelas usinas nos merca- dos interno e externo. Maria Christina diz que está no esta- tuto do Consecana que o sistema deveria ser reavaliado a cada cinco anos e isso não tem acontecido. Resultado: está defasado e o produtor, sendo prejudicado. “Hoje a cana mais barata que entra na moenda da usina é a do produtor. Compensa para as usinas comprarem a cana de terceiros, quem produz a cana é que arca com todos os ônus. Alguns parâmetros do Conseca- na precisam ser avaliados, o sistema tam- bém precisa ser atualizado com a nova re- alidade do setor, como o uso da biomassa. O Consecana não é mais justo, precisa se adequar”, afirma a dirigente. Manoel Ortolan salienta que o Con- secana é um sistema muito importante, mas que precisa voltar a acompanhar as mudanças. “No início tínhamos o açúcar branco e o álcool hidratado, depois vie- ram o açúcar VHP e o álcool anidro e en- tendemos que seja a hora de agregar a co- geração ao Consecana.” CAPA O projeto Caminhos da Cana serviu como base para a formulação das novas diretrizes da Orplana
  • 31. 31 N a maior parte das unidades sucroenergéticas, dos 100% da cana moída, 60% é própria e 40% de fornecedor. Mas não é isso que acontece nas unidades do Grupo Zilor de Lençóis Paulista e Macatuba, onde, desde 2004, 100% da cana mo- ída são de parceiros agrícolas. O siste- ma chamado parceirização começou As lições vindas do Médio Tietê PARCEIRIZAÇÃO, PRODUTOR TECNIFICADO E VENDA DE PALHA SÃO DIFERENCIAIS IMPLEMENTADOS PELA ZILOR E SEUS PARCEIROS AGRÍCOLAS Cenário com fardos de palha de cana não é novidade na região Luciana Paiva e Leonardo Ruiz em 1999, em que o grupo sede suas terras para o parceiro produzir a cana. A produção de cada parceiro varia de 80 mil toneladas a 800 mil toneladas. Luiz Carlos Dalben, diretor da Agrícola Rio Claro e presidente da As- sociação dos Plantadores de Cana do Médio Tietê (Ascana), desde 2002 é um dos parceiros do Grupo Zilor. A Rio Cla-
  • 32. 32 Novembro · 2015 CAPA indústria, então a relação é diferente.” Dalben compara o sistema de parceirização com o sistema conven- cional. “A nossa cana tem qualida- de melhor do que a da usina. A Usina que trabalhamos tem, por exemplo, 15 frentes de trabalho. Se fosse uma usi- na convencional seriam cinco frentes. Então você consegue trabalhar de for- ro cultiva 8.600 hectares e tem uma pro- dução de 620 mil toneladas. Para ele, esse sistema da Zilor é uma tomada in- teligente, porque a cana da usina sem- pre é mais cara do que a do fornecedor, por questão de estrutura, já que a usina tem uma estrutura maior. Além disso, o produtor é dono do próprio negócio, o que incentiva a ter maior envolvimen- to, do que o funcionário da usina. “O produtor de cana sente mais necessi- dade de desenvolver tecnologia, de re- alizar um trabalho bem-feito, porque ele vive exclusivamente da cana. A usi- na vive do açúcar, do etanol, da ener- gia e de outros produtos. O produtor não, por isso tem que ter lucro na cana. A usina tem prejuízo na cana e lucro na ma melhor e mais pontual em questão de ATR, por exemplo. Nosso ATR está 135, que é a média acumulada até ano passado. O TCH é 94. Isso levando em consideração que temos 86% de am- bientes D e E, que são os mais fracos. Na verdade, estamos surpresos com essa produtividade, mas o ano agríco- la foi muito bom. Parte disso é decor- Dalben: parceirização e venda de palha para a usina
  • 33. 33 rente do ano agrícola e a maior parte é das tecnologias que usamos, como espaçamento, preparo de solo, cuida- dos com colheita mecanizada, aplica- ção de adubos e defensivos agrícolas no momento certo. Tudo isso tem in- fluência, fazendo com que ganhemos produtividade.” A Rio Claro trabalha com espaça- mento de 50 x 1,40. “Estamos no quar- to para o quinto ano com esse espaça- mento e estamos tendo bom resultado. Mas vamos ver realmente quando fe- char o primeiro ciclo, porém, dificil- mente vamos alterar o espaçamento a não ser que apareça algo muito signifi- cativo. Trabalhamos com canteirização, faixa intercalar no preparo, colocação de matéria orgânica, meiose, crotala- ria, temos todo um sistema de prepa- ro, realizamos um preparo profundo a 65 cm de profundidade. Trabalhamos com esse sistema há oito anos e esta- mos aperfeiçoando”, explica Dalben. Segundo ele, a mecanização não tem a perfeição do corte manual, mas o custo final por tonelada da máqui- na é menor. “Mesmo com mais perdas do que no corte manual, o corte me- cânico é mais lucrativo. Nosso sistema todo é mecanizado, desde o preparo de solo até a colheita. Tem usinas que têm esmero e outras não, e a produti- vidade está relacionada à operaciona- lização do sistema. Se não tiver bom preparo ou bom plantio não terá boa Os produtores de cana do Médio Tietê são altamente tecnificados
  • 34. 34 Novembro · 2015 colheita. O que também é essencial é a capacitação de toda a equipe de trabalho.” Dalben salienta que os parcei- ros são muito valorizados pela Zilor. E que já há usinas tentando implemen- tar um sistema parecido com o deles, o de parceirizar a área agrícola e, assim, reduzir um pouco a estrutura da usina como um todo. “Eu acho que é um ca- minho certo, mas é preciso ter parcei- ro correto e usina correta. Tem que ter honestidade e confiança no negócio”, alerta. Outro exemplo que vem de Len- çóis é o pagamento pela palha da cana. Desde 2004, a agrícola Rio Claro ven- de palha para a Zilor. O sistema foi sen- do aperfeiçoado e está dando tão cer- to, que nesta safra a empresa ampliou a parceria para outros oito produtores de cana. A Zilor realizou adaptações em suas unidades industriais para o recebi- mento e utilização direta nas caldeiras da palha triturada no campo; com isso, aumentou de 85 mil (2014/2015) para 200 mil toneladas (safra 2015/2016) o CAPA A Zilor realizou adaptações em suas unidades industriais para o recebimento e utilização direta nas caldeiras da palha triturada no campo
  • 35. 35 recebimento da biomassa, fornecida por nove produtores. Além de aumen- tar a sua disponibilidade de palha para a geração de energia elétrica limpa e renovável, a empresa garante ao for- necedor receita extra, compartilhando com a cadeia o valor agregado que a energia traz para o negócio. A empresa afirma que há a pos- sibilidade de contribuir para a ma- triz energética durante o ano todo, não apenas no período da safra, des- de que o governo apresente um mode- lo com reconhecimento do diferencial da energia gerada a partir da biomas- sa como limpa e renovável, gerada no período de menor vazão dos reserva- tórios das hidrelétricas. Atualmente a Zilor gera mais de 1.000.000 MWh/ano e comercializa 600.000 MWh/ano, em Contratos de Longo Prazo com vendas realizadas nos leilões de 2006 e tam- bém no mercado spot. Essa experiência na comercializa- ção da palha entre os produtores e a Zilor está servindo de base para a ne- gociação da agregação da cogeração no sistema Consecana.
  • 36. 36 Novembro · 2015 CAPA Programa Cultivar une Raízen e seus parceiros agrícolas CULTIVAR VISA CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DE CUSTOS, ESPECIALIZAÇÃO EM BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E OTIMIZAÇÃO DA PRODUTIVIDADE E DA QUALIDADE DA LAVOURA Luciana Paiva Lavoura com qualidade: um dos objetivos do programa Cultivar D as 72 milhões de toneladas de cana moídas pela Raízen por sa- fra, 50% vem de seus 3500 parcei- ros agrícolas. “O produtor de cana é fun- damental para nosso negócio, por isso desenvolvemos ações para estreitar o rela- cionamento e melhorar o desenvolvimen- to da atividade”, salienta Carlos Martins diretor de fornecedores de cana e parce- rias agrícolas da Raízen. Uma dessas ações é o Programa Cul- tivar, lançado no ano-safra 2013/14, como versão piloto e que visa contribuir para a redução de custos, especialização em boas práticas agrícolas e otimização da produ- tividade e da qualidade da lavoura. O Cul- tivar é estruturado a partir de cinco pilares – Contribuição de compras, Desenvolvi- mento de fornecedores, Reconhecimento de desempenho, Linhas de Crédito e Ser-
  • 37. 37 viços - a iniciativa proporcionou aos 150 fornecedores envolvidos diversos bene- fícios, entre eles a redução de custos na aquisição de insumos para o campo, 256h de treinamentos teóricos e práticos, cam- panhas de incentivo para aumento de pro- dutividade e qualidade, e a construção de estrutura exclusiva para atendimentos nas unidades da companhia. O Cultivar já foi ampliado e envol- ve 286 produtores, que representam 74% da produção de cana-de-açúcar compra- da pela companhia. Entre eles está Ma- ria Christina Pacheco, que vê com mui- to bons olhos essa parceria com a Raízen. “Um dos pontos altos é que ao realizar- mos compras de forma unificada por meio da Raízen, temos volume e com isso po- der de negociação, o que resulta em me- lhores preços”, diz Christina, que ressalta também as ferramentas (como os cursos de qualificação) disponibilizadas pelo Pro- grama para o aperfeiçoamento e cresci- mento dos produtores. Para o desenvolvimento do Progra- ma, foram criadas ferramentas como: Sala Cultivar – voltada exclusiva- mente aos produtores de cana-de-açúcar e parceiros da empresa, tem como obje- tivo auxiliar o atendimento da equipe de campo da região, além de proporcionar um espaço para negociações e discussões de assuntos inerentes ao negócio. Central Agrícola – canal de aten- dimento por telefone para todos os seus parceiros das regiões de Piracicaba, Jaú, Araçatuba, Andradina, Araraquara e Jataí. A iniciativa tem como objetivo facilitar o dia a dia do fornecedor esclarecendo dú- vidas sobre as operações, pagamentos, e outros assuntos relacionados. Há previsão de expansão deste serviço para Assis no Inauguração da sala Cultivar, em Valparaíso, SP DIVULGAÇÃORAÍZEN
  • 38. 38 Novembro · 2015 próximo mês de novembro. Portal dos Fornecedores de Cana – página na internet que permite o aces- so personalizado a todas as informações referentes à relação destes parceiros com a companhia. O usuário cadastrado pode acessar a página com seu CPF, do compu- tador ou celular, e utilizar todas as ferra- mentas disponíveis, como consulta ao ex- trato financeiro, relatórios de entrega de cana, entre outras. Informações no celular – empre- sa disponibiliza dados sobre o desempe- nho e qualidade da colheita através tor- pedos de celular (SMS). Periodicamente, os fornecedores recebem em seu celular cadastrado, informações sobre o nível de impurezas minerais da cana, toneladas en- tregues e ainda, dados consolidados que contemplam desde qualidade e quanti- dade, até os valores brutos, descontos e o valor liquido a ser creditado na conta do parceiro. News “Cultivo da Informação” – informativo bimestral encaminhado a to- dos os fornecedores, com notícias e infor- mações interessantes, com o objetivo de facilitar o dia a dia do fornecedor de cana, por meio de dicas para utilização do por- tal do fornecedor, notícias sobre o merca- do, e também ações da Raízen com intui- to de beneficiá-los. Incentivo e crédito fazem parte do Cultivar Para incentivar a maior produtivida- de e qualidade da matéria-prima, o Cul- tivar também empreende campanhas de incentivo, com premiação para as melho- res performances no último ano. Para ava- liar seus 286 parceiros agrícolas envolvi- dos no Cultivar, a companhia se baseia nos indicadores de qualidade, produtivi- dade, eficiência operacional e comprome- timento com o programa. “Temos satisfa- ção em ver o Programa Cultivar completar CAPA O maior volume de compra de insumos agrícolas reduz o preço: benefício ao parceiro do Cultivar
  • 39. 39 dois anos. Neste período, percebemos um grande interesse de nossos parcei- ros agrícolas em aumentar a qualidade e a eficiência das operações. Nosso objeti- vo é torná-los mais competitivos e premi- á-los para aderirem às melhores práticas de mercado. Isso posiciona nosso progra- ma como pioneiro e referência em relacio- namento com fornecedores no País”, ex- plica Martins. Ao fim da iniciativa, os seis fornece- dores que alcançaram os melhores índices de produtividade (TCH) em cada polo e os seis com os melhores índices de qualida- de da colheita (ATR) – também por polo – foram premiados pela sua atuação. Além disso, a campanha premiou os cinco me- lhores fornecedores de cana-de-açúcar da Raízen, que obtiveram resultados excep- cionais em indicadores relativos ao negó- cio (produtividade, qualidade, percentual colheita mecanizada, adesão ao planeja- mento de colheita e entrega de cana na esteira. Mas, para cuidar bem do canavial é preciso ter recursos financeiros, assim, re- centemente, a Raízen anunciou um con- vênio de R$ 150 milhões com o Itaú BBA para uso exclusivo dos fornecedores de cana-de-açúcar participantes do Progra- ma Cultivar. O convênio pode ofertar um crédi- to de até R$ 2,2 milhões por CPF ou CNPJ, com juros de 8,75% ao ano, sujeito às re- gras vigentes do Programa de Crédito Ru- ral estabelecido pelo Banco Central do Brasil e sujeito à análise de crédito. “Nos- so objetivo com essa parceria é disponibi- lizar uma opção de crédito a custos baixos e prazos viáveis para o produtor”, diz Car- los Martins. De acordo com a Raízen, o financia- mento pode ser usado nos tratos culturais, com financiamento de até R$ 1,2 milhão e prazo de pagamento de 18 meses, e tam- bém na linha de investimento em plantio, que oferece ao fornecedor R$ 1 milhão e pode ser quitado em até cinco anos, com carência de um ano. “Nosso objetivo com essa parceria é disponibilizar uma opção de crédito a custos baixos e prazos viáveis para o produtor”, diz Carlos Martins DIVULGAÇÃORAÍZEN
  • 40. 40 Novembro · 2015 CAPA RICARDOCARVALHO COPLANA, SOCICANA E IAC IMPLEMENTAM PROGRAMA DE DIFUSÃO TECNOLÓGICA PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE E PARA QUE MELHORES RESULTADOS CHEGUEM ÀS MÃOS DO PRODUTOR +cana abre ao produtor acesso ao sistema MPB P ossibilitar aos produtores o acesso às inovações tecnoló- gicas é um dos pontos básicos para que permaneçam na atividade. Uma das inovações que têm feito a di- ferença no setor é a Muda Pré-Brota- da (MPB), que oferece sanidade, maior produtividade e lucratividade - em vez de transportar para o campo e plantar 18 a 20 toneladas de cana para cada hectare, ele transportará somen- te 2 toneladas de mudas pré-brotadas para a mesma área. As outras 16 ou 18 toneladas serão revertidas em produ- to na usina. A Socicana - Associação dos For- necedores de Cana de Guariba, a Co- plana - Cooperativa Agroindustrial, e o IAC - Instituo Agronômico, se uni- ram para garantir, ao produtor, a ado-
  • 41. 41 ção do sistema de MPB. A tecnolo- gia desenvolvida pelo IAC pode ser implantada até mesmo em peque- nas propriedades, e o agricultor terá autonomia para produzir sua própria muda de cana com qualidade e sani- dade, atividade da qual abriu mão há algumas décadas. A partir das MPBs, os viveiros pri- mários ou matrizeiros, que são mudas livres de pragas e doenças, são esta- belecidos na propriedade do agricul- tor e dão origem a mudas sadias. Em termos de logística (transporte das mudas até o campo) e aproveitamen- to do material produzido, a diferença é significativa. Outra grande contribuição da tecnologia é a redução do tempo para RICARDOCARVALHO o agricultor adotar as novas varieda- des, o que demoraria anos no siste- ma convencional. Com as MPBs, ele recebe material genético de varieda- des adaptadas à região, de acordo com o seu ambiente de produção. Já no plantio convencional, ele fica res- trito às variedades disponíveis na usi- na, com mudas, inclusive, que apre- sentam idade de corte avançada. Atualmente, com a produtivida- de do canavial em torno de 70 tonela- das por hectare (média de acordo com a safra e região), a receita não cobre custos. Desta forma, muitos produto- res se viram obrigados a sair da ati- vidade e outros continuam perden- do patrimônio. A partir do sistema de MPBs, a estimativa é chegar à “cana de 3 dígitos”, acima de 100 toneladas por hectare, em cinco cortes. A Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Pau- lo disponibilizará uma linha de crédito para financiar a implantação destes vi- veiros, para que esta implantação pos- sa ser acelerada e chegue mais rapida- mente ao produtor, que será atendido pela linha de crédito de até R$ 200 mil, do Fundo de Expansão do Agro- negócio Paulista (Feap), com prazo de pagamento de até seis anos, com ca- rência de até dois anos. A taxa de juros “Se não forem feitos investimentos em tecnologia, gestão e melhoria da administração, provavelmente estes produtores vão sair do negócio”, diz Bruno Rangel Geraldo Martins
  • 42. 42 Novembro · 2015 CAPA é de 3% ao ano e há o bônus de adim- plência de 2,25%. Os beneficiários po- dem financiar todos os itens necessá- rios para estrutura, assim como para aquisição das mudas e sementes, des- de que sejam parte do mesmo projeto. Revolução na gestão dos produtores Para Bruno Rangel Geraldo Mar- tins, presidente da Socicana, a mudan- ça de paradigma precisa acontecer de imediato, como única forma para a manutenção das lavouras canaviei- ras. “Este é um programa de difusão tecnológica e que pretende fazer com que maior produtividade e melhores resultados cheguem às mãos do pro- dutor. Se não forem feitos investimen- tos em tecnologia, gestão e melho- ria da administração, provavelmente estes produtores vão sair do negó- cio. Para continuarmos na cana, pre- cisamos desta revolução tecnológica e administrativa em nossas proprieda- des”, enfatiza. O presidente da Coplana, José Antonio de Rossato Junior, fala do pa- pel das entidades. “Por meio da ca- pacitação dos recursos humanos e fomento à produção de mudas de qualidade, incluindo critérios para a escolha da variedade e o sistema MPB, acreditamos na instalação de cana- José Antonio de Rossato Junior acredita na instalação de canaviais com alto padrão de sanidade e produtividade RICARDOCARVALHO
  • 43. 43 viais com alto padrão de sanidade e produtividade. Esta iniciativa conjunta entre Coplana, Socicana e IAC cumpre a missão mútua de auxiliar o cresci- mento sustentável e promover o apri- moramento tecnológico do produtor.” 1º Dia de campo +cana Em 12 de novembro, a Coplana realizou na Fazenda Santa Maria, no município de Luiz Antônio o 1º Dia de Campo +cana, que reuniu técni- cos, estudantes, produtores e repre- sentantes de empresas parceiras para conheceram cada um dos passos da cadeia de produção das MPBs. Em es- tações de demonstração prática, os grupos tiveram acesso a informações sobre irrigação, adubação, colheita e plantio da inovação desenvolvida pelo IAC. O encontro reuniu cerca de 400 participantes. Renata Morelli, gerente do Depar- tamento de Tecnologia e Inovação da Coplana, comemora os resultados ini- ciais. “O Dia de Campo é parte da ini- ciativa +cana, lançada em março des- te ano, como uma resposta ao produtor 1º Dia de Campo +cana foi um sucesso EWERTONALVES
  • 44. 44 Novembro · 2015 CAPA que queria uma solução para a lavoura canavieira. É surpreendente o resulta- do obtido em apenas oito meses. Isso é fruto do comprometimento de muitos profissionais da Coplana, Socicana, IAC e do produtor, que aceitou o desafio de contribuir para a geração deste co- nhecimento. Acredito que nós estamos construindo uma nova realidade para a cultura, com benefícios para todos os elos da cadeia produtiva”, conclui. No Dia de Campo também esta- vam presentes os oito produtores po- los, ou seja, aqueles que aceitaram o desafio do pioneirismo. Eles deram início à adoção da tecnologia este ano, como um grande campo de es- tudos. Em agosto, adquiriram os kits de validação de MPB com um protóti- po da câmara de brotação, uma mesa para corte do mini rebolo, um supor- te para tratamento químico e lotes de MPBs com variedades de cana lançadas recentemente. RICARDOCARVALHO Apresentação de plantio de MPB no Dia de Campo
  • 45. 45
  • 46. 46 Novembro · 2015 CAPA No Nordeste, produtor faz renascer usinas POR MEIO DO COOPERATIVISMO, PRODUTORES DE CANA REATIVAM TRÊS USINAS Trabalhadores da Cruangi no dia da reativação Luciana Paiva N a região Nordeste, o produtor de cana está revolucionando a agroindústria canavieira. Em Per- nambuco e Alagoas, eles resolveram fazer renascer usinas. Alexandre Andrade Lima, presidente da Associação dos Fornecedo- res de Cana de Pernambuco (AFCP) e da Cooperativa do Agronegócio dos Forne- cedores de Cana de Pernambuco (Coaf), conta que a mobilização surgiu quando os canavieiros ficaram sem ter para onde le- var a cana colhida na Zona da Mata por ASSESSORIAAFCP
  • 47. 47 a três safras parada e está sob a adminis- tração da Coaf. “A reabertura passou a ser salvação dos nossos produtores de cana. Eles le- vam e recebem pela cana nas suas coope- rativas. No final do ano, ainda vão receber parte dos lucros das usinas”, conta Alexan- dre, que lembra que, apesar de o Nordes- te representar apenas 9% da produção de cana do Brasil, conta com 25 mil produto- res de cana, sendo que 92% são conside- rados pequenos produtores, pertencentes a agricultura familiar. Além da Pumaty e Cruangi, outra usi- na que voltou a moer nesta safra é a Pe- causa da desativação de diversas usinas brasileiras. “Eles estavam impossibilitados de continuar no trabalho. Muitos já esta- vam até desistindo da atividade”, explica Alexandre de Andrade Lima. O renascimento das usinas está sen- do possível em decorrência do cooperati- vismo, destaca Alexandre. A primeira uni- dade a voltar a moer, em 2014, após uma safra parada, foi a Pumaty, localizada em Joaquim Nabuco, Zona da Mata-sul per- nambucana, que está sendo gerida pela cooperativa Agrocan. Já nesta safra, foi re- aberta a usina Cruangi, de Timbaúba, Zona da Mata-Norte pernambucana, que estava Alexandre (de verde), e à sua esquerda Paulo Câmara, o Governador de Pernambuco, na reinauguração de Cruangi ASSESSORIAAFCP
  • 48. 48 Novembro · 2015 drosa, no município perde em Cortês, mas esta não é administrada por cooperativa. Nesta safra, 18 usinas estão e atividade em Pernambuco e Alexandre diz que não ver mais possibilidade de, no estado, ou- tras unidades voltarem a moer, pelo me- nos sob a gestão das cooperativas. “Nosso objetivo era reativar uma unidade na Zona da Mata Sul e outra na Zona da Mata Nor- te, já conseguimos isso.” Se em Pernambuco o milagre do re- nascimento da usina já deve ter cessado, em Alagoas, observa Alexandre, ainda há espaço. No final de outubro iniciou a mo- agem a usina Coopervale-Uruba, em Ata- laia, uma das três unidades do Grupo João Lyra, em Alagoas. A usina voltou à ativida- de nesta safra, graças ao empenho da Co- operativa dos Produtores Rurais do Vale de Satuba (Coopervales). A Uruba estava desativada havia três anos e, desde 2014, quando foi fundada, a Coopervale buscava na Justiça o arren- damento da usina. De acordo com o pre- sidente da Coopervale, Túlio Acioly Tenó- rio, inicialmente cerca de 1.500 postos de trabalho diretos serão reabertos. “Quando estiver a todo vapor, a Uruba vai empregar aproximadamente três mil pessoas no cam- po e na indústria. Isso vai mudar a econo- mia nos municípios do entorno da usina.” Veja vídeo com a largada da safra 2015/16 da Coopervale-Uruba Usina Pumaty, a primeira a ser reativada, está sob gestão da Cooperativa Agrocan
  • 49. 49
  • 50. 50 Novembro · 2015 TECNOLOGIA AGRÍCOLA Leonardo Ruiz DEVIDO À CRISE DO SETOR, MUITAS VEZES, A DECISÃO É ADIAR A RENOVAÇÃO DO CANAVIAL. PORÉM, É PRECISO TOMAR CERTOS CUIDADOS COM A CANA-SOCA PARA QUE ELA PRODUZA BEM E POR MAIS TEMPO Cuidando da soqueira O s canaviais estão ficando mais velhos. O índice de reforma, que já chegou a atingir 20% em anos anteriores, está na faixa de 14%, atualmen- te. Tem usina reformando normalmente e tem usina fazendo nada. Isso ocorre devi- do à crise instaurada no setor, que abalou o fluxo de caixa das empresas. Porém, esses dados não precisam ser necessariamente ruins. Afinal, se uma so- queira está respondendo bem, é até pre- ferível esperar mais um ou dois ciclos para renovar essa área. Entretanto, para que a cana-soca atinja um nível satisfatório de Crise no setor diminuiu o número de reformas, que atinge, atualmente, 14% ARQUIVOCANAONLINE
  • 51. 51 produtividade ao longo dos cortes, além de alta longevidade, o produtor deve cui- dar corretamente dela, fazendo um mane- jo adequado, que começa antes mesmo da implantação do canavial. Caso essa “receita de bolo” seja fei- ta corretamente, os ganhos em termos de longevidade serão maiores do que aque- les que o produtor teria caso optasse por renovar o canavial. Pesquisadores afirmam que algumas usinas que têm feito esse tipo de manejo estão, inclusive, conse- guindo sobreviver à atual crise. Implantação do canavial Como afirmado, os cuidados com as soqueiras de cana-de-açúcar não podem ser pensados apenas no momento em que a cana atinge esse estágio. Para o pesqui- sador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimen- to do Estado de São Paulo, André Cesar Vitti, as unidades que cuidaram correta- mente da implantação do seu canavial es- tão, atualmente, com produtividades con- sideráveis e, às vezes, investindo menos do que aquelas que estão entrando agora nesse contexto de manejo mais adequado do seu canavial. Vitti explica que, para se ganhar em termos de produtividade, é importante ver a cana como um todo, relacionando os fa- tores de produtividade que estão envolvi- dos. A cana-de-açúcar difere de uma cul- tura anual de grãos que tem o ciclo de um ano. A cana tem ciclo longo. Dessa forma, vários fatores interagem entre si. Primeiramente, segundo o pesquisa- dor, deve-se conhecer o ambiente onde a cultura será instalada, para, após isso, de- cidir qual variedade será alocada naque- la região. Em ambientes mais restritivos, por exemplo, é necessária uma variedade mais rústica, já em ambientes melhores, uma variedade mais exigente irá respon- der mais, aumentando assim sua produ- tividade. “Um dos fatores que devem ser levados em conta é o tipo de solo, pois dependendo dele, há mais ou menos com- pactação, o que interfere muito na ques- tão de desenvolvimento do sistema radi- Vitti: “Primeiramente, deve-se conhecer o ambiente onde a cultura será instalada, para decidir qual variedade será alocada naquela região” ARQUIVOCANAONLINE
  • 52. 52 Novembro · 2015 cular e na rebrota da cana.” O clima e o déficit hídrico de um solo também são fatores decisivos na hora do plantio, já que quanto mais seco o clima, maior tem que ser a preocupação com a capacidade que um solo tem de armaze- nar água. “Podemos citar como exemplo o plantio em um nitosolo que possui uma capacidade de água disponível de 120 a 160 litros por m³ de solo. Nele podem-se alocar variedades mais tardias. Já em lato- solos com textura mediana, onde a quan- tidade de água disponível gira em torno de 40 litros por m³ de solo, é importante utilizar variedades mais precoces ou me- dianas, no sentido de antecipar a safra.” A época de plantio é outra impor- tante característica em um ambiente de produção. Vitti aponta que, se a cana-de -açúcar for plantada em janeiro em um la- tosolo de textura arenosa, por exemplo, ela vai se desenvolver demais, produzin- do muito fitomassa, o que fará com que ela sofra um stress hídrico, estando sujei- ta a perda de produtividade. “Já nos solos que possuem melhores condições de ar- mazenamento e disponibilidade de água, a margem em termos de tempo de plantio é maior”, completa. Após escolhida a variedade, Vitti afir- ma que o ideal é não pensar na economia de insumos, já que é vital a preparação de uma base de sustentação para a cultura. “Isso ocorre porque, às vezes, a aplicação de um corretivo na soqueira não é tão efi- caz quanto o feito na época do preparo do TECNOLOGIA AGRÍCOLA O ideal é não pensar na economia de insumos na hora de implantar o canavial, já que é vital a preparação de uma base de sustentação para a cultura ARQUIVOCANAONLINE
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  • 54. 54 Novembro · 2015 solo. Por isso, é importante fazer um bom planejamento para tentar buscar a efici- ência do uso desses corretivos.” Segun- do ele, a utilização desses corretivos na hora do preparo do solo promoverá uma melhor eficiência dos fertilizantes futura- mente. “Eu não posso, por exemplo, apli- car uma fonte fosfatada num solo que não foi corrigido.” Domando a máquina Após todo esse investimento na im- plantação do canavial, é hora de cuidar para que as soqueiras durem e produzam por muitos ciclos. Para o diretor agríco- la do Grupo Clealco, Cássio Paggiaro, um dos aspectos mais importantes é relacio- nado à colheita, que deve ser feita da ma- neira mais adequada possível, para preve- nir o arranquio ou pisoteio da soqueira. “O futuro do canavial está diretamente ligado à qualidade da operação mecanizada que é realizada na área. Por isso, não tenho dú- vida que, para se ter áreas de cana-soca com bom desempenho por vários ciclos, o produtor tem que domar a máquina.” Após a colheita, Paggiaro afirma que é preciso iniciar um trato cultural adequa- Augusto de Camargo Monteiro: “Uma das principais causas de perda de produtividade e de longevidade da cultura está no aumento do percentual de falhas no stand dos canaviais” DIVULGAÇÃOBAYERCROPSCIENCE O futuro do canavial está diretamente ligado à qualidade da operação mecanizada que é realizada na área, já que uma colheita mal feita pode significar arranquio ou pisoteio da soqueira DIVULGAÇÃOUSINASITAMARATI
  • 55. 55 do, sendo que, para isso, é preciso definir o que aquela área precisa. “Primeiro, tem que se perguntar se estamos em uma re- gião onde é necessário fazer aleiramento para melhorar a brotação.” O diretor agrícola lembra, também, que é importante realizar uma fertiliza- ção adequada, além da correção do pH da área. “Às vezes esquecemos que cál- cio e magnésio não são apenas correto- res de pH, mas também fornecem macro- nutrientes para a nutrição da planta”, frisa Paggiaro. Redutores de produtividade O Agrônomo de Desenvolvimen- to de Mercado da Bayer CropScience, Au- gusto de Camargo Monteiro, lembra, tam- bém, que uma das principais causas de perda de produtividade e de longevidade da cultura está no aumento do percentual de falhas no stand dos canaviais, seja ela causada pela presença de pragas ou por doenças. Dessa forma, uma vez que o pro- dutor consiga manter seu stand uniforme, conseguirá manter seu canavial produtivo por vários e vários anos. Para isso, Augusto recomenda o uso de produtos como o regulador vegetal Ethrel® para favorecer a brotação e o per- filhamento da cultura, e o fungicida Nati- vo® para a proteção da cultura nessa fase tão importante. Na implantação do canavial, o pro- dutor realizou uma série de investimentos nos fatores promotores de produtividade, como correção do solo com a calagem e a gessagem e uma nutrição adequada vi- sando maximizar a expressão do potencial produtivo da cultura. Porém, com o cana- vial já implantado, o produtor não pode esquecer-se dos fatores redutores de pro- dutividade, que podem “roubar” todo o investimento realizado anteriormen- te. “Essa interferência pode proporcionar, dependendo da intensidade, margens de contribuição negativas para os produto- res de cana. Nesse sentido, se faz impres- cindível o controle dos fatores redutores de produtividade, que são representados pela interferência de doenças, plantas da- ninhas ou pragas”, explica Augusto. Para Cássio Paggiaro, é importante realizar uma fertilização adequada, além da correção do pH da área ARQUIVOCANAONLINE
  • 56. 56 Novembro · 2015 Uma das pragas desse cenário é a Ci- garrinha-das Raízes (Mahanarva fimbrio- lata), que vem crescendo no setor princi- palmente nesse momento de entrada da primavera e com as primeiras chuvas acu- mulando volumes generosos nas mais di- versas regiões produtoras do Centro-Sul do país. Essa praga vem ganhando cada vez mais importância dentro do cená- rio sucroenergético tanto pela sua ampla distribuição, quanto pelo nível de perdas proporcionado, que pode chegar facil- mente a mais de 45% de redução de pro- dutividade da cultura. Entre outros preju- ízos causados pela Cigarrinha-das-raízes, está à redução do teor de açúcar nos col- mos, aumento do teor de fibras e dos col- mos mortos, o que diminui a capacidade de moagem, além da extração de grande quantidade de água e nutrientes das raí- zes pelas ninfas. “Foi pensando na sustentabilidade Aplicação de defensivos agrícolas é importante para o controle de doenças, pragas e plantas daninhas que podem dizimar a produtividade do canavial e, consequentemente, levar a reformas precoces ARQUIVOCANAONLINE TECNOLOGIA AGRÍCOLA
  • 57. 57
  • 58. 58 Novembro · 2015 TECNOLOGIA AGRÍCOLA do negócio dos produtores de cana, sejam fornecedores ou agroindustriais, que a Bayer estudou e criou uma estratégia ino- vadora para o controle da Cigarrinhas-das -Raízes, que permite, além de tudo, que os nossos clientes tenham o entendimen- to com profundidade de qual seu nível de exposição às perdas provocadas pela pra- ga”, diz. Essa estratégia, salienta Augusto, passa pelo entendimento de alguns pon- tos-chave, como: o profundo conheci- mento da praga e suas implicações para a cultura da cana; o comportamento das diferentes variedades de cana cultivadas frente à presença da praga; e a correlação com o estágio de desenvolvimento da cul- tura no momento do início da infestação. “O inseticida Curbix® , da Bayer, é o único que se encaixa perfeitamente nessa nova abordagem de controle da praga, pois apresenta rápida ação e elevada eficiên- cia de controle. O principal objetivo dessa estratégia é assegurar a proteção das so- queiras e proporcionar maiores margens para nossos clientes, reduzindo o custo de investimento para cada tonelada de cana produzida.” Cigarrinha-das-Raízes é um dos fatores redutores de produtividade, que podem “roubar” todo o investimento realizado na implantação do canavial ARQUIVOCANAONLINE
  • 59. 59 TECNOLOGIA INDUSTRIAL Mais impurezas e menos açúcar, este é o cenário do setor Tendência de aumento dos preços do açúcar em real em 2016 deve tornar a próxima safra mais açucareira DIVULGAÇÃOSABARALCOOL INTENSIFICAÇÃO DA COLHEITA MECANIZADA DE CANA CRUA FAZ COM QUE A INDÚSTRIA SINTA NA PELE AS DIFICULDADES PARA FABRICAR AÇÚCAR COM A MESMA QUALIDADE DE ANTES
  • 60. 60 Novembro · 2015 A pós alguns anos consecutivos de baixa nos preços, o açúcar deve se recuperar ao longo do próxi- mo ano, devido à combinação entre os fu- turos da commodity em dólar na bolsa de Nova York e a cotação da moeda america- na frente ao real. Caso esse cenário se con- solide, é provável que esta seja a primei- duto do que o registrado em 2015, caso o governo não eleve mais o preço da gaso- lina e torne as vendas de etanol mais inte- ressantes. No ciclo atual, as usinas que se encontram em dificuldades financeiras fa- voreceram a produção do biocombustível devido à maior liquidez e à melhoria da remuneração do produto. Leonardo Ruiz ra temporada (se referindo à safra mundial de açúcar que vai de outubro de 2015 a setembro de 2016), em muitos anos, em que o consumo irá superar a produção. Essa tendência de aumento dos pre- ços do açúcar em real em 2016 deve esti- mular as usinas brasileiras a produzir, na próxima safra, um volume maior do pro- O aumento da demanda por açúcar e, consequentemente, dos preços, pode- rá ser de grande ajuda para o setor sucro- energético, que vem enfrentando uma das piores crises de sua história. Porém, esse fato chega num momento em que o seg- mento ainda tenta contornar um grave problema enfrentado na fabricação des- Márcia Mutton: “Em algumas usinas, eu olho a mesa de recepção e não vejo cana, apenas palha” ARQUIVOCANAONLINE TECNOLOGIA INDUSTRIAL
  • 61. 61 se produto: a expressiva quantidade de impurezas mineiras e vegetais que chega junto com a matéria-prima vinda do cam- po e que afeta, grandemente, a qualidade do produto final. Segundo a professora adjunta do De- partamento de Tecnologia (FCAV) da Unesp de Jaboticabal, Márcia Mutton, o nível de im- purezas vegetais na indústria saiu de 4,6% em 2008/09 para 8,8% na safra 2013/14. “Es- ses números são as médias de algumas uni- dades, porém, tem usina em que esse nível chega a 17%. Nesses locais, eu olho a mesa de recepção e não vejo cana, apenas palha.” Impurezas e seus impactos Devido à assinatura do Protocolo AgroAmbiental em 2007, as usinas sucro- energéticas do Estado de São Paulo ado- taram a mecanização de forma acelerada. Em 2008/09, a mecanização da colheita da cana no Estado de São Paulo era de 37,5%. Atualmente, estima-se que 90% das áre- as do Estado já estejam sendo colhidas mecanicamente. Porém, essa “correria” se deu sem que o setor estivesse preparado para ela, já que os plantios foram feitos visando corte manual. Dessa forma, por falta de ni- Colheita mecanizada leva para a indústria, além dos colmos, impurezas mineiras e vegetais, o que acaba aumentando o teor de certos compostos inorgânicos, como potássio, cálcio, silício, ferro e cobre FERDINANDORAMOS
  • 62. 62 Novembro · 2015 velamento dos terrenos, a máquina acaba colhendo, junto da cana, grandes quan- tidades de terra. Isso sem falar da palha, pontas e folhas verdes, que antes eram queimadas para que o corte manual pu- desse ocorrer. O resultado final é uma ma- téria-prima de péssima qualidade e, con- sequentemente, problemas no processo de fabricação do açúcar. Márcia Mutton explica que esses pro- blemas ocorrem porque a matéria-prima vinda do campo apresenta certos com- postos inorgânicos, como potássio, cál- cio, silício, ferro e cobre. Com o sistema de colheita mecanizada, são levadas para a indústria, além dos colmos, as chamadas impurezas mineiras e vegetais, o que aca- ba aumentando, significativamente, o teor desses elementos. A presença de sódio, potássio, cálcio e magnésio, por exemplo, que não foram previamente separados na clarificação da calda, compromete a cris- talização da sacarose, o que reduz a quan- tidade de açúcar produzido e aumenta a quantidade de melaço residual. Além disso, há comprometimento na incrustação dos evaporadores e elevação do teor de cinzas no cristal, o que afeta a filtrabilidade do caldo. Já o ferro pode causar o amarelecimento do cristal de açú- car, por meio da reação com o oxigênio do ar e compostos fenólicos presentes. “Es- ses compostos devem ser retirados do cal- do para que a produção atinja bons níveis de qualidade, atendendo, dessa forma, as especificações do mercado, que exige pol, cor e pureza, e penaliza falta de padrão”, afirma Márcia. Queda no rendimento industrial Segundo o gerente industrial das unidades Santa Cândida e Paraíso, do Gru- po Tonon, Antônio Carlos Viesser, as indús- trias têm sofrido bastante com o avanço da mecanização, principalmente no quesi- to qualidade da matéria-prima. “Os índices de impurezas minerais e vegetais aumen- taram muito, o que interferiu na qualidade do produto final. Hoje, a maioria das usi- nas possui um rendimento industrial me- Para Antonio Carlos Viesser, a impureza mineral é a que mais tem atrapalhado os trabalhos da Tonon, já que ela é “arrastada” junto da vegetal DIVULGAÇÃOTONONBIOENERGIA TECNOLOGIA INDUSTRIAL
  • 63. 63 nor em função disso. O balizador - sacos por tonelada - tem caído bastante.” Para Viesser, a impureza mineral é a que mais tem atrapalhado os trabalhos do Grupo, já que ela é “arrastada” com a ve- getal. “Se tivéssemos apenas canas eretas, seria tranquilo, porém as canas tendem a deitar devido ao ano de plantio, chuvas e vento. Dessa forma, por ter ficado dei- tada, a cana enrola no chão e começa a criar brotos e a enraizar, fazendo com que, na hora da colheita, a máquina colha essa terra junto, o que contribui negativamente para a indústria.” Ele afirma, ainda, que o momento de dificuldade vivido pelo setor canavieiro tam- bém impactou na qualidade da matéria-pri- ma. “A maioria deixou de dar comida para a cana. Dessa forma, o rendimento agrícola e a qualidade caem e isso reflete na indústria.” Viesser conta que, mesmo diante de tantos empecilhos, as usinas até conse- guem tirar o açúcar com qualidade. Po- rém, o custo operacional aumenta devido à maior utilização de produtos químicos. “Quando se tem matéria-prima de boa qualidade, algumas oscilações no proces- so nem são perceptíveis, mas quando ela piora, é preciso ficar atento na operação, pois qualquer oscilação pode representar grandes perdas na produção do dia. Gas- ta-se mais para fazer igual ou até menos.” A solução deve vir do campo Uma das soluções para esse proble- ma é o tratamento do caldo, que pode ser realizado por caleagem simples, sulfode- fecação, carbonatação e ozonização. Nes- se processo, as impurezas são removidas por meio da precipitação resultante da re- ação entre fosfatos presentes no caldo e insumos adicionados. DIVULGAÇÃOTONONBIOENERGIA No Grupo Tonon, o índice de impurezas vegetais é alto para que a palha possa ser separada da cana pelo sistema de limpeza a seco e utilizada visando melhorar o índice de cogeração
  • 64. 64 Novembro · 2015 Para Dib Nunes Jr., a área industrial não pode mais aceitar essa “matéria-prima horrorosa” que vem do campo Porém, essa solução pode não ser a mais viável, já que os gastos com insumos aumentariam significativamente os custos operacionais. Dessa forma, grande par- te dessa melhoria deve ser realizada na área agrícola, já que muitos afirmam que o açúcar é feito no campo, sendo que para a indústria cabe a recuperação. Esse, aliás, é o pensamento do con- sultor e diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes Jr.. Ele afirma que, atualmente, não exis- tem usinas que entregam matéria-prima de boa qualidade. “Passamos por um mo- mento de transição, da colheita manual para a mecanizada, sendo que a afetada foi a indústria, que passou a aceitar uma matéria-prima horrorosa.” Para ele, a área industrial não pode mais aceitar essa ca- na-de-açúcar que vem do campo. “O Bra- sil tem 600 milhões de toneladas de cana, porém, 12% disso não é cana. Apenas quando a indústria parar de aceitar e re- clamar mais forte é que a agrícola irá en- tender que precisa trazer uma matéria-pri- ma com mais qualidade.” Segundo ele, muito desses proble- mas podem ser resolvidos por meio da re- gulagem das máquinas de colheita. “Como não pode faltar cana na indústria, a colhei- ta é acelerada, o que prejudica a limpe- za da cana, pois o vento não é suficiente para limpar grandes quantidades de ma- téria-prima.” Nunes afirma, também, que é necessário que as usinas tenham mais máquinas à disposição. “Porém, se man- dam comprar mais colhedoras, falam que não terá custo-benefício. Mas, o que mui- tos não entendem, é que o custo-benefí- cio se encontra na indústria.” Limpeza a seco O sistema de limpeza a seco é outra tecnologia que tem contribuído para a me- lhoria desse problema, já sendo uma das principais saídas das usinas para superar esses desafios, pois, além de retirar as im- purezas minerais da matéria -prima, é possível aprovei- tar as vegetais no processo ARQUIVOCANAONLINE TECNOLOGIA INDUSTRIAL
  • 65. 65 Sistema de limpeza a seco separa as impurezas vegetais e minerais da cana colhida mecanicamente nas usinas de cogeração de energia. O conceito pode ser aplicado tanto para o processamen- to da cana inteira (mesas alimentadoras) como de cana picada (descarga direta). O processo, que veio para substituir efetiva- mente a lavagem da cana, possui eficiên- cia de remoção de impurezas entre 40% e 70%. Na Unidade Paraíso, do Grupo Tonon, o índice de impureza vegetal é de 14%. Viesser explica que isso ocorre proposital- mente, para que a palha possa ser separada da cana pelo sistema de limpeza a seco e utilizada visando melhorar o índice de co- geração. Atualmente, a capacidade de ge- ração de eletricidade da unidade, localiza- da no município paulista de Brotas, é de 70MW. Porém, Viesser relata que a eficiên- cia do sistema de limpeza a seco na reti- rada das impurezas minerais é prejudica- da nos períodos úmidos, não chegando a 50%. “Até mesmo à noite, devido à umi- dade em função do orvalho, o índice de impurezas minerais aumenta. Já com chu- va, é desastre total.” Para ele, o setor ainda esta aprendendo a trabalhar. “Acredito que vamos nos adaptar e melhorar as opera- ções diárias, tendo, futuramente, resulta- dos mais satisfatórios.” DIVULGAÇÃOZANINI
  • 66. 66 Novembro · 2015 ECONOMIA Benefícios da rotação de cultura da cana com leguminosas APESAR DE TODOS OS BENEFÍCIOS, A PRÁTICA DE ROTAÇÃO DE CULTURAS DEVE SER BEM PLANEJADA PARA NÃO OCORRER ATRASOS NA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA DE CANA A região de Ribeirão Preto é a maior produtora de amendoim do Brasil e 85% das áreas com amendoim são de renovação de canaviais A cana-de-açúcar é uma cultura de ciclo longo, normalmente de 5 a 6 anos. A reposição nutricional convencional nem sempre atende suas necessidades, já que essa lavoura deman- da uma grande quantidade de nutrientes. Além dessa dificuldade, a área de culti- vo sofre tráfego intenso de máquinas e equipamentos, causando compactação do solo. É importante lembrar que em al- guns casos não é possível quebrar o ciclo de algumas pragas e doenças e a produ- tividade acaba sendo afetada. Para reduzir esses problemas, a ro- tação de cultura entre cana-de-açúcar e uma leguminosa é uma alternativa indi- cada. Ela traz inúmeros benefícios para o solo, além de proporcionar uma renda extra para o produtor. Uma das vantagens desse sistema de manejo é a otimização do uso da ter- ra com a produção de alimento em um
  • 67. 67 didade, e a descompactação do solo devi- do ao sistema radicular das leguminosas. “A rotação de culturas também é funda- mental para quebrar o ciclo de pragas e doenças de cada cultura”, afirma Miriam. Há benefícios ainda em relação aos custos, uma vez que a rotação de cultu- ras permite diminuição dos custos das operações de preparo dos solos (insumos para correção e adubação). “As legumino- sas promovem a fixação biológica de ni- trogênio e a incorporação de matéria or- período em que ela ficaria em repouso, aguardando a melhor época para o plan- tio da cana. Esse sistema também pro- porciona a cobertura do solo no período chuvoso (primavera/ verão), protegendo e evitando a erosão da área. A engenheira agrônoma Miriam Car- la de Paula, da MBF Agribusiness, expli- ca que a rotação de culturas promove o controle de plantas daninhas, o melhora- mento das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, inclusive em profun- Colheita de soja no sistema de meiosi com cana
  • 68. 68 Novembro · 2015 ECONOMIA gânica, o que resulta na redução do uso de nitrogênio fertilizante em cana-plan- ta e contribui para o sistema radicular da cana, dispensando o preparo intensivo do solo”, acrescenta de Paula. Além disso, vários equipamentos utilizados no cultivo da cana-de-açúcar podem ser utilizados para o cultivo das leguminosas e a mão de obra também pode ser aproveitada na entressafra da cana. A engenheira agrônoma ressalta que O milho também figura na dobradinha com a cana, gerando renda ao produtor a possibilidade de aumento da produti- vidade dos canaviais gera perspectivas de aumento de receita para as usinas de açúcar e álcool, cooperativas de produto- res, revendas e agricultores familiares. “Apesar de todos os benefícios cita- dos, a prática de rotação de culturas deve ser bem planejada para não ocorrer atra- sos na implantação da lavoura de cana” destaca de Paula. Neste caso, a utilização de variedades precoces de leguminosas é muito importante.
  • 69. 69 Ridesa completa 25 anos e domina os canaviais EM 1991, AS VARIEDADES RB OCUPAVAM 9% DA ÁREA CULTIVADA COM CANA NO PAÍS; HOJE ESTÃO EM 68% PESQUISA & DESENVOLVIMENTO As variedades RB são as mais plantadas no Brasil A Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético) foi criada em 1991. Sua trajetória começou quando uma canetada do então presidente Fernando Collor de Melo extinguiu, em 1990, o Ins- tituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Autar- quia criada em 1933 pelo presidente Ge- túlio Vargas, a instituição tinha o objetivo de orientar, fomentar e realizar o controle da produção de cana, açúcar e etanol no território nacional. Premissa que redun- dou na criação, em 1971, do Planalsucar (Plano Nacional de Melhoramento da Ca- na-de-açúcar) – órgão ligado ao IAA vol- tado ao desenvolvimento de novas varie- dades e que tinha o objetivo de contribuir com o aumento da produtividade da ativi- dade canavieira no país. A extinção do IAA detonou mudan-
  • 70. 70 Novembro · 2015 ças profundas no setor sucroenergético, obrigando-o a buscar alternativas para ca- minhar por conta própria. O fim do Instituto também provocou o término dos trabalhos do Planalsucar, que já tinha uma história de quase vinte anos de contribuição ao setor. Sob a sigla RB, o órgão já havia liberado 19 varieda- des e muitas outras pesquisas estavam em curso em 1990. No entanto, a interrupção do Planalsucar deixava órfão um projeto de melhoramento de cana-de-açúcar que foi fundamental para a consolidação do Proálcool, instituído em 1975. Mas tudo o que havia sido construí- do a partir do Planalsucar não poderia se acabar. Com apoio de parte significativa do setor sucroenergético, foi articulada a criação da Ridesa composta inicialmente por uma rede firmada por convênio entre sete universidades federais (UFPR, UFS- Car, UFV, UFRRJ, UFS, UFAL e UFRPE). Estas instituições eram localizadas nas áreas de atuação do extinto Planalsucar, do qual foi absorvido todo corpo técnico e infraestru- tura das sedes das coordenadorias e es- Estação de cruzamento de cana Serra do Ouro, em Alagoas, onde nascem as variedades RB PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
  • 71. 71 tações experimentais do antigo órgão do IAA. A trilha de liderança da Ridesa Hoje, a Rede utiliza para o desenvol- vimento de seus estudos um total de 80 estações experimentais, localizadas nos estados onde a cultura da cana-de-açú- car apresenta maior expressão. Nestes 25 anos de atuação, as universidades fede- rais deram maior ênfase à manutenção e continuidade da pesquisa relacionada ao Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA), que continuou a utilizar a sigla RB para identificar seus cultivares. Em 1991, as variedades RB ocupa- vam 9% da área cultivada com cana no país; hoje estão em 68%. Depois que a Ri- desa foi constituída, houve o lançamen- to de 59 variedades. Hoje já são 78 mate- riais de cana distinguidos com a sigla RB, que tem alto nível de adoção nos estados canavieiros do país. As quatro variedades mais plantadas são originárias de unida- des da Rede: RB867515, lançada pela Uni- versidade Federal de Viçosa (UFV), MG; RB966928, lançada pela Universidade Fe- deral do Paraná (UFPR); RB92579, lança- da pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL); e a RB965902, lançada pela Univer- sidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP. Na estação de Carpina, onde é desenvolvido o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de Pernambuco, o auditório recebeu o nome de Planalsucar
  • 72. 72 Novembro · 2015 “Ao analisarmos nossa história de 25 anos de pesquisa, com trabalhos que ini- ciaram em 1991, a nossa participação era inferior a 9% da área cultivada no Brasil”, diz Edelclaiton Daros, coordenador nacio- nal da Rede. Segundo Daros, os pesquisadores dos programas de melhoramento que fa- zem parte da Ridesa passaram a buscar variedades que contribuíssem para o setor em momentos de dificuldades, “com libe- rações de variedades rústicas, com libera- ção de variedades hiperprecoces para am- pliar o período de safra, com liberação de variedades tolerantes a novas doenças e com boas produtividades, mesmo diante de desafios como foi a chegada da colhei- ta e do plantio mecanizados.” Difusão de conhecimento O desenvolvimento de variedades de cana que possibilitam maior competitivi- dade ao setor é o foco principal da Ridesa, mas difundir conhecimento também está na pauta da Rede. Um dos trabalhos nes- se sentido são os encontros técnicos pro- movidos pelo Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA) da Universidade Federal de São Carlos (UFS- Car), integrante da Ridesa, realizados em diferentes regiões de São Paulo e no Mato Grosso do Sul e que abordam variados te- mas, como controle do carvão e da ferru- gem alaranjada De acordo com Hermann Hoffmann, coordenador do PMGCA da UFSCar. “As reuniões permitiram uma aproximação ainda maior entre o programa e usinas e fornecedores de cana, facilitando o com- “Os pesquisadores dos programas de melhoramento que fazem parte da Ridesa buscam variedades que contribuem para o setor em momentos de dificuldades”, diz Daros “As reuniões facilitam o compartilhamento de tecnologias”, diz Hermann PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
  • 73. 73 partilhamento de tecnologias, a troca de experiências e a disseminação de infor- mações”, diz Hermann. Ao todo, 90 usi- nas e 12 associações conveniadas à Ride- sa UFSCar participaram das dez reuniões, que tiveram a participação de mais de 400 profissionais. Os encontros foram realizados entre os meses de agosto e outubro deste ano. Cada reunião foi regional, reunindo pro- fissionais de usinas ou de associações de produtores próximas, o que facilitou um maior contato entre os pesquisadores do programa de pesquisa e os produtores de cana e técnicos das empresas. Controle de doenças “As reuniões foram muito proveito- sas. Discutimos o manejo de variedades RB, apresentamos o censo varietal e veri- ficamos a intenção de variedades a serem plantadas no próximo ciclo de plantio”, diz Hermann. Nos encontros também foram discu- tidas ações para controle do carvão e da ferrugem alaranjada por conta da ameaça que estas doenças representam à produti- vidade do canavial. “Defendemos que o produtor deve priorizar a troca das variedades de áreas infestadas por estas doenças tão logo seja A Ridesa mantém parcerias com o setor. Uma dessas parcerias é com a Usina Caeté, em Alagoas, onde a PMGCA UFAL conta com 50 hectares para o experimento de clones
  • 74. 74 Novembro · 2015 possível, mas sempre utilizando materiais resistentes. Para controle do carvão, tam- bém é essencial o plantio de mudas sa- dias. No caso das ferrugens, acreditamos que fungicidas devam ser aplicados ape- nas em situações emergenciais”, relata Ro- berto Chapola, pesquisador do PMGCA da UFSCar. Esta série de reuniões promovidas pela Ridesa UFSCar com profissionais de usinas e produtores de cana foi muito efi- ciente para divulgar informações e com- partilhar conhecimento por conta do for- mato dos encontros. “Conseguimos formar grupos menores, o que permite uma troca de ideias e de conteúdos muito grande”, pontua Hermann. 25 anos da Ridesa, 45 anos das variedades RB e lançamento de variedades No próximo dia 25 de novembro, 16 novas variedades RB serão lançadas du- rante o Encontro Nacional da Ridesa. Sete universidades que compõem a Rede libe- rarão novos materiais na ocasião: UFAL, UFRPE, UFG, UFPR, UFSCar, UFRRJ e UFV. Os nomes e as características das 16 novas variedades ainda são guardados a sete chaves pelos programas de pesqui- Prédio do PMGCA e do Laboratório de Biotecnologia de Plantas da UFSCar – Ridesa, em Araras, SP, também é fruto da parceria com o setor PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
  • 75. 75 sa. O que divulgam é que são variedades que foram escolhidas estrategicamen- te entre as universidades e se comple- tam ao longo da safra, nos mais diferen- tes ambientes. “Como são variedades para os mais diferentes ambientes de produção, os no- vos materiais se destacam em aspectos como precocidade, produtividade, apti- dão a ambientes restritivos, boa colheita- bilidade e adequação ao plantio mecani- zado, além de boa sanidade em relação às principais doenças”, relata Daros. No Encontro Nacional será divulga- da a Revista de Liberação Nacional de Va- riedades RB de Cana-de-Açúcar, com a descrição completa e recomendação de manejo para as 16 novas variedades RB. Também será lançado o Livro comemora- tivo “45 anos de Variedades RB de Cana- de-Açúcar – 25 anos de RIDESA”. Todas as informações originais de liberação das 94 variedades RB serão descritas e apresenta- das nesta edição. ENCONTRO NACIONAL DA RIDESA Local: Hotel JP, em Ribeirão Preto – Via Anhanguera, Km 306,5 Horário: das 8h às 13h Não perca a cobertura em tem real no https://www.facebook.com/canaonline.com.br e depois a matéria especial na edição de dezembro da CanaOnline. A RB867515 é a variedade mais plantada no Brasil
  • 76. 76 Novembro · 2015 A partir daí houve um convite às empresas privadas e instituições interessadas no desenvolvi- mento do projeto. As parcerias foram fei- SUSTENTABILIDADE Lançado relatório sobre o Projeto RenovAção PUBLICAÇÃO LEVANTA NÚMEROS, RESGATA HISTÓRIAS E REGISTRA COMO A QUALIFICAÇÃO PODE TRANSFORMAR VIDAS “F iz minha inscrição nesse curso, mas pensei que não me cha- mariam. Escolhi fazer solda, só que todo mundo pensa que é função mais de homem. Mesmo assim me cha- maram para fazer o curso. E não é tão di- fícil. Estou fazendo o melhor, quero con- seguir um trabalho na usina ou onde aparecer. Depois quero continuar estu- dando. Estou pronta, mas não para ser apenas uma soldadora. Serei uma boa soldadora”, diz Giani da Silva Concei- ção, 24 anos, de Dumont, SP, uma das alunas de um dos cursos oferecidos pelo Projeto RenovAção, na modali- dade Comunidade. Transformar vidas por meio da qualificação é o principal objeti- vo do RenovAção. Maria Luiza Bar- bosa, consultora de Responsabili- dade Social da Unica, explica que o RenovAção é um projeto que foi criado primeiro pela cadeia produtiva, reunindo as associadas da Unica e a Fe- deração dos Empregados Rurais Assala- riados do Estado de São Paulo (Feraesp).
  • 77. 77 tas com: o Banco Interamericano de De- senvolvimento, a Fundação Solidaridad, a Iveco, a Case IH, a FMC e a Syngenta. A John Deere também apoiou o projeto du- rante os seus primeiros anos. E também contou com o suporte de técnicos do Ser- viço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Centro Paula Souza, que co- ordenaram o treinamento teórico e práti- co dos cursos. Um dos grandes méritos da inicia- tiva foi o envolvimento dos parceiros do RenovAção na formatação e na condução do programa. As empresas e instituições envolvidas formaram um comitê para que todos pudessem contribuir com a imple- Giani durante o curso e com os filhos na formatura Durante lançamento do relatório do Projeto RenovAção: Iza Barbosa, Fátima Cardoso, Elizabeth Farina, presidente da Unica, e Edgardo Legar, responsável pela área de treinamento de operadores na CaseIH
  • 78. 78 Novembro · 2015 mentação do RenovAção. Diversas reuni- ões foram realizadas. Todas as decisões do Projeto foram debatidas e analisadas por esse comitê, que não só colaborou finan- ceiramente, mas ajudou a pensar e melho- rar o Programa. Lançado em 2009, o RenovAção pre- via o treinamento especializado de traba- lhadores nas seis principais regiões produ- toras de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo: as macrorregiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Bauru, Araçatuba, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. O gran- de diferencial do programa, foi que o co- laborador pôde se dedicar integralmente ao curso, não precisando trabalhar no pe- ríodo, mas sem deixar de receber o salário mensal. Em 2010 ocorreu a formatura das primeiras turmas de capacitação. Como as unidades sucroenergéticas não conseguem recontratar todos os tra- balhadores que foram dispensados pela mecanização, o Programa criou um se- gundo módulo de capacitação voltado a qualificar trabalhadores para outros seto- res da economia. É o chamado RenovAção Comunidade. Lançamento do Relatório do Projeto RenovAção Em 29 de outubro, na capital paulis- ta, a Unica e a Fundação Solidaridad lan- çaram o Relatório Final do Projeto Reno- vAção. O balanço mostra que, no período de 2010 a 2015, o RenovAção profissiona- lizou 6.650 pessoas ligadas direta ou indi- retamente ao setor sucroenergético pau- lista, especialmente trabalhadores que atuavam no plantio e colheita manuais em seis das maiores zonas de cultivo cana- SUSTENTABILIDADE O relatório de balanço do Projeto RenovAão é em português e inglês
  • 79. 79 vieiro impactadas pelo rápido avanço da mecanização no campo. Considerado um dos maiores programas mundiais de re- qualificação na cadeia produtiva da cana, o RenovAção serviu de referência para a formação de outros 20 mil novos profis- sionais em programas semelhantes toca- dos pelas usinas paulistas. Este conjunto de ações permitiu a absorção de um contingente expressivo de profissionais cujas atividades vêm sen- do progressivamente abolidas na última década, em grande parte por conta do fim da queima da palha da cana. A tendência RENOVAÇÃO EM NÚMEROS
  • 80. 80 Novembro · 2015 ganhou mais força a partir de 2007, quan- do governo e representantes do setor as- sinaram o Protocolo Agroambiental, acor- do que na época envolveu 170 usinas e 29 associações de fornecedores canavieiro. O pacto antecipou os prazos legais para o fim do uso do fogo controlado, que facili- tava o corte manual da planta. Mais de 1,2 milhão de empregos di- retos são gerados pelo setor sucroenergé- tico no Brasil. Cerca de 500 mil estão em atividades manuais vinculadas exclusiva- mente à colheita da cana-de-açúcar. O Es- tado de São Paulo, sozinho, abriga 20% dessa mão-de-obra, ou cerca de 110 mil trabalhadores. Dados do Instituto de Eco- nomia Agrícola, da Secretaria de Agricul- tura do Estado de São Paulo (IEA) apon- tam que na atual safra a mecanização da colheita já atingiu 90% dos canaviais paulistas. O RenovAção pode ser replicado em outros países O presidente da Federação dos Em- pregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Élio Neves, cuja enti- dade coordenou o RenovAção em parceria com a Unica, ressalta o aspecto inclusivo do Projeto, em contraponto ao desem- prego gerado pelo avanço da tecnológi- co no setor. “A mecanização gera ganhos ambientais e de produtividade, mas tam- bém faz com que trabalhadores percam SUSTENTABILIDADE Técnicos do Senai treinando os novos operadores de colhedora de cana