Conferência SC 24 | A força da geolocalização impulsionada em ADS e Fullcomme...
ETANOL SUSTENTÁVEL
1. Entrevista José Carlos Grubisich - presidente da ETH Bioenergia
Ribeirão Preto SP
Julho - 2009
Ano 2 - Nº 16
R$ 9,90
O setor começa a respirar
A situação financeira do setor dá sinais de melhora e executivos,
como Fredy Colombo, do Grupo Colombo,
visualizam um bom segundo semestre
Cana tem futuro no frio
gaúcho?
Equipamentos 100% a
etanol
Sustentabilidade foi o foco
do Ethanol Summit
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3. Carta ao leitor
Luciana Paiva
Editora
Um pacote de sustentabilidade
“O Brasil precisa provar para o mundo que a expansão da
produção de cana não vai empurrar as áreas de pastagem de gado
e os grãos para a Amazônia. Precisa provar que o etanol de cana-
de-açúcar é sustentável”, alertou Bill Clinton, ex-presidente dos
Estados Unidos, em sua participação no Ethanol Summit 2009.
Antes de seu pronunciamento, Clinton recebeu no palco cinco
crianças caracterizadas como personagens de um livro,
representando as diversas faces da população brasileira. Elas
presentearam o ex-presidente com uma luminária de chão,
produzida com madeira de demolição e cestaría pelo artista
plástico Tóti, na cidade de Bichinho, em Minas. As crianças fazem
parte do programa “Educação pela paz nas escolas”, aplicado
nos Estados de São Paulo e Minas Gerais e patrocinado por cinco
usinas: Moema, Mandu, Vertente, Itapagipe e Frutal. O programa
envolve mais de 30 mil pessoas em 13 cidades dos dois Estados
e ensina a cultura da paz e como evitar conflitos.
Com esse gesto, Bill Clinton teve contato com um dos mais
de 600 projetos de responsabilidade social e ambiental
desenvolvidos pelas associadas da Unica. O ex-presidente
dos Estados Unidos nem de longe deve imaginar a quantidade
de ações e projetos visando à sustentabilidade do negócio
que está em curso na agroindústria canavieira. Mas, se
quiser ter uma idéia da relevância que o assunto tem para o setor,
basta olhar a programação do Ethanol Summit 2009, o principal
evento voltado para os biocombustíveis realizado no Brasil e um
dos principais do mundo, não só centrou sua programação em
temas sobre preservação ambiental, geração de alimentos, usina
sustentável, tecnologias verdes, como lançou dois programas
que permitirão ao segmento se tornar cada vez mais socialmente
responsável, ambientalmente correto e economicamente viável.
O RenoVação será o primeiro e maior programa de requalificação
profissional promovido pelo setor. Os trabalhadores que atuam
no plantio e no corte manual da cana-de-açúcar receberão
treinamento e requalificação para desempenharem outras
funções na área industrial das usinas ou fora da atividade
canavieira. Já o projeto “AGORA” baseia-se em uma campanha
de marketing e comunicação para destacar o papel positivo do
etanol em questões relacionadas com mudanças climáticas e
meio ambiente.
Clinton também disse que o mundo tem certeza de que o
etanol de cana-de-açúcar é o biocombustível mais eficiente
para combater os problemas de aquecimento global. Bem,
se eles já sabem disso, então facilita o nosso trabalho, pois,
só precisamos mostrar que somos sustentáveis. Aí também
levamos vantagem, afinal, não temos de começar do zero, o
setor já vem há tempos cultivando esse conceito, que passou
a ser aperfeiçoado e melhor estruturado, acompanhando a
evolução do setor.
Clinton recebeu das crianças um pequeno mimo, mas
muito representativo, é uma mostra do pacote de
sustentabilidade que a cana-de-açúcar está oferecendo
ao mundo.
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4. Correção
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Junho edição 15
O cargo correto do Luis Antonio Bellini é engenheiro mecânico.
Entrevista
6 José Carlos Grubisich – presidente da ETH Bioenergia
Eventos
8 Em exibição a tecnologia que produz o etanol
12 Etanol sustentável
18 Replicar experiência brasileira
Espaço Datagro
22 Direitos de propriedade versus impactos ambientais
Capa - Finanças
24 O setor começa a respirar
Conjuntura
30 Cana tem futuro no frio gaúcho?
38 Registros de uma ruína
Motomecanização
42 Equipamentos 100% a etanol
Espaço TI
48 Ferramentas inteligentes e econômicas
Espaço Fitotécnico
54 Plantio de inverno no cerrado
Lançamento
70 Afilatrice proporciona afiação técnica aos facões
Gestão de Pessoas
74 Desenvolvendo líderes
Informe Mecat
80 Tecnologia oferece inovação, competitividade e sustentabilidade
Pesquisa & Desenvolvimento
82 De olho na vinhaça
Marketing Canavieiro
84 Novidades e tecnologias que movimentam o mercado
Estilo
90 O que usar para um almoço ou jantar executivo
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5. Diretoria
Plínio César
plínio@pcebaldan.net
Marco Baldan
marco@pcebaldan.net
Redação
Editora Chefe
Luciana Rodrigues Paiva
luciana@canamix.net
Martha Sá
martha@canamix.net
Jaqueline Stamato
jaqueline@pcebaldan.net
Editor Gráfico/Arte
João Domingos Lança
joão@pcebldan.net
Expediente
Administrativo
Paulo Cézar
paulo@pcebaldan.net
Layla Furtado
layla@pcebaldan.net
Logística/Transporte
José Roberto
CanaMix
Periodicidade mensal
Tiragem 13 mil exemplares.
Impressão e circulação auditadas:
Publicação da PC & Baldan
Consultoria e Marketing Ltda.
Tel./Fax: (16) 3620 0555 e 3234 0377
Av. Independência, 3262
Cep 14025-230 - Ribeirão Preto-SP
Ambiental
Caminho facilitado
56Tecnologia
Agrícola
Pneus agrícolas: efeito da pressão
de inflação no desempenho do trator
92Qualidade de Vida
Alimentação caipira
Tecnologia
Industrial
Chega ao mercado
açúcar com vitamina “A”
Arte/Web
Thiago Gallo
thiago@pcebaldan.net
Caio Ingegneri
caio@pcebaldan.net
Anselmo José Germano
anselmo@pcebaldan.net
Gerente de Comunicação
Fábio Soares Rodrigues
fabio@pcebaldan.net
Assinaturas
Mirian Domingues
mdomingues@pcebaldan.net
Vanessa Cassimiro
vanessa@pcebaldan.net
Gerentes de Negócios
Luís Fernando
luisfernando@pcebaldan.net
Marcos Renato
marcosrenato@pcebaldan.net
Ogue Morenghi
ogue@pcebaldan.net
Guilherme Vilela
guilherme@pcebaldan.net
Consultor Técnico
Neriberto Simões
neriberto@pcebaldan.net
52
Ambiental
64
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6. REVISTA CANAMIX | JULHO | 20096
Luciana Paiva
A crise não
alterou os
planos da
ETH
José Carlos Grubisich - presidente da ETH Bioenergia
O presidente da ETH Bioenergia
diz que a entrada de grandes
empresas petrolíferas no
setor sucroenergético vai se
intensificar, pois a bioenergia
terá grande relevância no
mundo Foto: César Diniz
H
á um ano, o executivo José Carlos
Grubisich tornou-se presidente
da ETH Bioenergia, empresa
da Organização Odebrecht que atua na
produção de açúcar, etanol e energia
elétrica. Ao dirigir a ETH, Grubisich
encerrava um ciclo bem sucedido de
sete anos na liderança da Braskem onde
conduziu a empresa à condição de terceira
maior produtora de resinas termoplásticas
das Américas. O executivo assumia a nova
função com o desafio de liderar a estratégia
de crescimento da ETH e posicioná-la
como uma das empresas líderes do setor
de açúcar e álcool no mundo nos próximos
10 anos, com atuação integrada em toda
a cadeia produtiva – cultivo da cana-
de-açúcar, produção de açúcar e álcool,
logística, comercialização e co-geração de
energia.
A meta da empresa, fundada em 2007,
era estar em dez anos com 11 usinas em
mais de 600 mil hectares de área, com
capacidade total de moagem de 45 milhões
de toneladas de cana por safra e produção
de 3,1 bilhões de litros de etanol e 1,9
milhão de toneladas de açúcar por ano e
co-geração de energia de 1.300 MW/ano.
Para isso, ao projeto de construção de
noves unidades produtoras distribuídas
em três pólos - São Paulo, Mato Grosso
do Sul e Goiás -, somou-se a aquisição
da Usina Alcídia, na região do Pontal do
Paranapanema, SP, e a Eldorado, em Rio
Brilhante, MS.
Grubisich entrou para o comando da ETH
ainda em uma época em que a expansão do
setor caminhava a passos largos, apesar de
já haver sinais de tormentas no horizonte,
pois o setor estava alavancado e os preços
não ajudavam. A crise econômica mundial
derrubou o que já estava balançando,
muitas empresas sentiram o golpe e a
expansão estancou. Fomos saber de
Grubisich como a ETH responde a essa
nova realidade de mercado.
CanaMix – A crise alterou os planos da
ETH?
Grubisich – Não alterou, pois recebemos
aportes de capital de nossos acionistas,
que reafirmam o compromisso com a
empresa, investindo mesmo em um
momento de crise. Também conseguimos
financiamento de longo prazo com o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). Com isso, a ETH está bem
preparada e garantida para se expandir no
setor e mantém o plano de moer 45 milhões
de toneladas de cana entre 2015/16.
CanaMix – Qual a estratégia de negócios
da ETH?
Grubisich – Hoje, o negócio só sobrevive
se for competitivo e sustentável, por
isso, nosso modelo é de grande escala
de produção e alta eficiência energética.
Investimos em tecnologia de ponta, que
permite grande produtividade, menor
consumo de energia, reuso de água, enfim
“Temos linha de
capital de giro
própria para estocar
nosso etanol e
adquirir etanol de
outras unidades
não faz parte da
estratégia da ETH”,
afirma Grubisich
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7. 7REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
que seja eficiente e reduza custos. Vamos
produzir açúcar, mas nosso foco principal
é a área energética: etanol e eletricidade.
A meta é gerar energia em todas as usinas
do grupo, com utilização, além do bagaço,
das pontas e palhas da cana. No leilão
de reserva do governo no ano passado,
comercializamos cerca de 75 megawatt
médio. Essa energia começa a ser entregue
entre 2010 e 2011.
CanaMix – Os investimentos estão sendo
aplicados onde?
Grubisich – O nosso primeiro objetivo
foi investir nas unidades que adquirimos.
Duplicamos a capacidade de moagem
da Usina Alcídia, que nesta safra passará
para 2,4 milhões de toneladas de cana. A
parte de co-geração também foi ampliada.
A Eldorado deve moer entre 2,2 a 2,4,
investimos para chegar, nos próximos
três anos, a cinco milhões de toneladas
por safra. Os investimentos também
acontecem na área de co-geração de
energia, a Eldorado produz por volta de 15
MW e em três anos esse valor deve passar
para 130 MW.
CanaMix – E os projetos greenfields
(construção a partir do zero)?
Grubisich – Três deles entram em
funcionamento este ano. A primeira a
moer será a unidade Santa Luzia, em
Nova Alvorada do Sul, MS, que inicia as
atividades em agosto, com previsão de
moagem de aproximadamente 1 milhão
de toneladas, e nos próximos três anos
atingirá três milhões de toneladas. Ainda
este ano, entram em funcionamento a
unidade de Conquista do Pontal, SP, e a de
Rio Claro, localizada no município de Caçu,
sudoeste de Goiás. Cada uma deverá moer
perto de 1 milhão de toneladas, até atingir a
capacidade de 3 milhões de toneladas cada.
A expectativa é que nesta safra tenhamos
uma moagem entre 7 milhões e 8 milhões
de toneladas, com uma capacidade total de
até 13 milhões de toneladas.
CanaMix – Com a crise financeira, muitos
investidores passaram a achar que investir
em unidades já instaladas é melhor negócio
que montar novas usinas, qual a posição da
ETH sobre isso?
Grubisich – Nossa preferência se mantém
pelos greenfields, mas estamos atentos
às oportunidades de mercado, no entanto,
as opções precisam atender nosso foco
centrado em alta eficiência energética
e grande escala de produção. Além
disso, é necessário estar nas regiões que
resolvemos investir - São Paulo, Mato
Grosso do Sul e Goiás.
CanaMix – E o setor e a crise?
Grubisich – O setor vive um problema
conjuntural. Houve grandes investimentos,
seguido por falta de crédito, o que zerou
o fluxo de caixa, levando as empresas a
não só cessar o plano de expansão, como
deixar de saldar seus compromissos. O
mercado inerno do etanol cresceu 26%, o
preço se matém baixo não é porque tenha
sobra de produto, mas porque as usinas
precisaram vender a preço baixo para fazer
caixa. Com as usinas mais equilibradas
sem a necessidade de “queimar” o produto
e com a estocagem de etanol na próxima
entressafra, o preço deve estar muito
interessante. Vejo que o setor vai até ganhar
com essa crise, nossa competitividade em
relação à gasolina é muito grande.
CanaMix – Por falar em estocagem de
etanol, o comentário é de que poucas
unidades vão conseguir financiamento do
BNDES para esse fim. A ETH candidatou-
se a esse crédito?
Grubisich – Não, temos nossa própria
linha de capital de giro para financiar nosso
estoque. E vamos investir nisso, pois a
expectativa é que, em 2010, haverá uma
oferta muito ajustada, não faltará produto,
mas os preços estarão bem acima do que o
mercado vivencia hoje.
CanaMix – Outro comentário entre
os executivos do setor é que grupos
capitalizados vão adquirir o produto
das unidades que não conseguirão o
empréstimo. A ETH pretende fazer isso?
Grubisich – Não vamos fazer isso, pois
esse não é nosso negócio, não temos a
intenção de ser um agente regulador do
mercado, nem comercializar o produto de
terceiros.
CanaMix – Além da Odebrecht, Petrobras
e a britânica BP, podemos esperar grande
avanço de empresas petrolíferas e do ramo
de energia no setor sucroenergético?
Grubisich – Com certeza. O Brasil tem
um potencial muito grande para fazer a
diferença no setor energético mundial. A
cana-de-açúcar é muito mais competitiva
que o milho, beterraba e outras fontes
de energia. Essas empresas sabem que
a bioenergia terá grande relevância no
mundo, que o mercado de biocombustíveis
vai crescer, seja nos Estados Unidos, na
China, na União Européia e no Japão. E
perceberam que nosso País é a melhor
opção de investimento para esse segmento.
Para continuarmos como líder nesse jogo
é fundamental investir na competitividade
e na sustentabilidade. E acreditar que o
Brasill tem potencial para transformar o
mundo.
O Brasil tem um potencial muito
grande para fazer a diferença no
setor energético mundial
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8. REVISTA CANAMIX | JULHO | 20098
Em exibição a tecnologia
que produz o etanol
4027 pessoas visitaram o Brazil Ethanol Trade Show
Ethanol Trade aconteceu no WTC Golden Hall recebeu visitantes de 17 Estados
brasileiros e mais 20 países
Da redação
Fotos: César Diniz
E
nquanto o Ethanol Summit discutia
o negócio sucroenergético e a sus-
tentabilidade dos biocombustíveis e
a evolução da tecnologia, os visitantes pu-
deram conferir o Brazil Ethanol Trade Show
- Feira Internacional de Tecnologia para a
Produção de Etanol, que aconteceu de 1 a 3
de junho no WTC Golden Hall, no andar de
cima das salas das conferências. Segundo
a Multiplus Eventos, empresa organizadora
da Trade, 4027 pessoas visitaram a feira.
No dia 1 de junho foram 1386 pessoas, em
2 de junho, 1298 e no dia 3 o número foi
de 1343 visitantes. O saldo foi considerado
positivo por parte dos organizadores e ex-
positores. O público presente foi composto
Muitos diretores de usinas como Silmara
Fernandes, Caio Fernandes Dias e Andréa
Sanches Fernandes, do Grupo Cerradinho,
Catanduva, SP, visitaram a feira
por dirigentes de usinas e especialistas do
setor sucroenergético, o que gerou para as
empresas importantes contatos comerciais
e fechamento de negócios.
Para o diretor da Multiplus Eventos,
Fernando Barbosa, “o nosso principal
objetivo foi alcançado, pois levamos até os
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9. 9REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
expositores aqueles contatos que realmente
lhes interessam e propiciamos a eles, além
de um evento bem organizado, contatos
que normalmente eles demorariam algum
tempo para conseguir”, disse.
Expositores – o público foi formado por
diretores, autoridades, especialistas e
estudiosos do setor sucroenergético do
Brasil e exterior. A feira contou com 63
expositores, e houve empresa que até
expôs equipamentos, é o caso da Mecat
do Brasil, de Abadia de Goiás, GO, que
apresentou o Turbofiltro, único no mundo,
tecnologia desenvolvida e patenteada pela
empresa. Para o presidente Attilio Turchetti,
o Ethanol Trade foi muito bem organizado e
a empresa realizou contatos estratégicos e
qualificados.
Os dirigentes da Orplana prestigiaram o evento
Os expositores não foram só de
empresas de tecnologia, mas também
entidades representativas do setor,
como a Organização dos Plantadores de
Cana do Centro-Sul do Brasil (Orplana),
Centro Nacional das Indústrias do Setor
Sucroalcooleiro e Energético (Ceise-Br),
Universidades e unidades produtoras.
A Mecat levou seu Turbofiltro para o
Trade e chamou a atenção
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10. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200910
A prefeita Dárcy Vera no estande da Prefeitura de
Ribeirão Preto: carro de fórmula Indy atraiu o público
A Prefeitura de Ribeirão Preto também participou,
levou ao Ethanol Trade um carro de fórmula Indy para
divulgar a intenção da cidade de sediar uma das etapas
da competição em 2010. O estande foi um dos mais
visitados e a prefeita Dárcy Vera, que tem como objetivo,
confirmar o status de capital do etanol para Ribeirão
Preto, fez muito sucesso entre os expositores e o público.
Atrações culturais – além de tecnologia, os visitantes
conferiram a exposição de fotos de Tadeu Fessel com
belas imagens do universo sucroenergético. Outra
atração foi o projeto “Linha do Tempo do Etanol”, que
apresentou projeções dos documentários “Etanol – a
energia do Brasil” e “Terra de Engenho”. O visitante pode
conhecer a evolução, história e pontos marcantes da
trajetória do combustível no Brasil por meio de uma linha
do tempo de 18 metros e de painéis e monitores de TV.
A organização e produção ficaram a cargo do jornalista
Gustavo Junqueira Jr. e da Matriz Produções. Houve
ainda uma exposição mostrando a história dos veículos
movidos a etanol no Brasil, dos pioneiros nos anos de
1970 até os bicombustíveis.
No final da noite, o visitante pode relaxar no “Café Bossa
Bar”, espaço especialmente projetado para receber o
show “Foi Saudade” de Vânia Lucas e Mário Feres,
No estande da CanaMix: vereador Palinkas, Luís Fernando, da PC & Baldan, Luciana Paiva, editora da CanaMix, Marco Baldan, diretor da PC & Baldan, Dárcy Vera,
Plínio César, diretor da PC & Baldan, Mandrison Almeida, marido da prefeita, Augusto Balieiro e Fernando Barbosa, diretores da Multiplus Eventos
O fotógrafo Tadeu Fessel e sua
exposição sobre o universo
sucroenergético
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11. 11REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
acompanhados de banda. Os músicos
cantaram e tocaram um seleto repertório
com músicas de Tom Jobim, Caymmi,
Vinícius, Chico Buarque e Guinga, além de
músicas da autoria de Mário Feres.
Complementar a teoria – a feira estava
muito bonita, e esses “mimos” culturais
foram de extremo bom gosto. A proposta
de realizar simultaneamente ao Summit
uma feira de tecnologia foi bastante
interessante, além disso, é a oportunidade
certa para mostrar, principalmente
para os estrangeiros, que a produção
de biocombustível no Brasil não está
no mundo das possibilidades, mas já
possui na prática tecnologias avançadas
que possibilitam competitividade e
sustentabilidade ao setor e que podem ser
aplicadas em outros países.
Por isso, muitos participantes sugerem
aos organizadores da Summit e do
Trade, promover na edição de 2011, uma
integração maior entre os dois eventos,
colocando os estandes nos corredores
entre as salas das palestras, ou, incluir
Linha do Tempo do Etanol: 18 metros
na programação visitas monitoradas à
feira, nas quais os técnicos explicam a
função das tecnologias expostas para o
desenvolvimento da produção sustentável
do etanol. Será a prática complementando
a teoria.
Expositores e visitantes ouviram a suave voz de Vânia Lucas acompanhada do piano de Mário Feres
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12. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200912
Q
uem atua no setor sucroenergético
já deve estar cansado de saber
que o etanol de cana-de-açúcar
é o mais competitivo do mundo, que
comparado a gasolina, emite 90% menos
gases de efeito estufa, que o setor realiza
práticas sustentáveis, que a expansão dos
canaviais não vai afetar a Amazônia nem
reduzir a oferta de alimentos. No entanto,
milhões de brasileiros ignoram essas
informações, imagine então, o restante dos
habitantes do planeta.
Etanol sustentável
Mostrar para o mundo que a produção de cana
pode crescer sem derrubar árvores e reduzir a oferta de alimentos.
Enfim, provar que o nosso etanol é sustentável,
esse foi o foco do Ethanol Summit 2009
Da redação
Fotos: César Diniz
O que chega ao público são imagens de
florestas brasileiras devastadas e notícias
de que o Brasil está se transformando
em um canavial, e que as usinas ainda
tratam os cortadores de cana como
escravos. Informações passadas por
formadores de opinião contrários a
ascensão dos biocombustíveis, alguns
são “radicais defensores do verde”, outros
são financiados por setores interessados
em manchar a imagem dos combustíveis
renováveis. Seja uma coisa, ou seja outra,
essa visão negativa tem causado muitos
estragos e atrapalhado a abertura de
mercado para o etanol.
Provar a sustentabilidade do setor
sucroenergético talvez seja o maior
dos desafios das entidades do setor,
encabeçadas pela União da Indústria
da Cana-de-Açúcar. O Ethanol Summit
2009, realizado de 1 a 3 de junho na
cidade de São Paulo, congresso bianual
organizado pela Unica, reuniu palestrantes
e um público formado por especialistas,
empresários, pesquisadores e autoridades
governamentais de vários países. Os
seminários aconteceram em cinco salas
temáticas operando simultaneamente, e
oferecendo um total de 25 painéis. Vários
temas foram debatidos, mas a maioria
deles tinha como fundo a sustentabilidade
do etanol.
Marcos Jank
recebe Bill Clinton
no Ethanol Summit 2009
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13. 13REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Ações responsáveis – logo na
cerimônia de abertura da 2° edição do
Ethanol Summit, representantes da Unica
anunciaram aos 1,5 mil participantes a
realização de dois projetos ligados às áreas
trabalhista e de comunicação do segmento
canavieiro. Um destes projetos, chamado
de “RenovAção”, será o primeiro e maior
programa de requalificação profissional
promovido pelo setor.
Inicialmente, o “RenovAção” será
implantado nas principais regiões
produtoras de cana-de-açúcar do Estado
de São Paulo, onde os trabalhadores que
atuam no plantio e no corte manual da
cana-de-açúcar receberão treinamento e
requalificação para desempenharem outras
funções na área industrial das usinas ou
fora da atividade canavieira.
“Por ano, requalificaremos sete mil
cortadores de cana, e este é só o primeiro
passo”, ressaltou o presidente da Unica,
Marcos Jank. O programa tem o apoio do
Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), além da participação da Federação
dos Empregados Rurais Assalariados
do Estado de São Paulo (Feraesp) e das
empresas John Deere, Case IH e Syngenta.
Outra iniciativa será o projeto “AGORA”
(Agroenergia e Meio Ambiente), cujo
objetivo é uma campanha de marketing e
comunicação para destacar o papel positivo
do etanol em questões relacionadas com
mudanças climáticas e meio ambiente.
As ações, desenvolvidas em sete Estados
brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Paraná, Goiás, Distrito
Federal, Mato Grosso do Sul e Bahia),
estarão voltadas para consumidores de
etanol, formadores de opinião e de políticas
públicas, além de estudantes do ensino
médio nas redes estaduais de ensino.
Umas das campanhas educativas do
“AGORA” visa a conscientização de
professores e alunos sobre formas de
mitigar o aquecimento global. Denominada
“Desafio Mudanças Climáticas”, a iniciativa
envolverá mais de 11 mil escolas, 47 mil
docentes e 2,3 milhões de jovens que
cursam a 7° e 8° séries. O projeto premiará
os 70 melhores trabalhos inscritos em todo
País.
Também será criado o prêmio “Top Etanol”
e “Top Bioeletricidade”, distinguindo
anualmente personalidades que se
destacarem no setor sucroenergético
nacional. “As participações das empresas
Monsanto, Itaú Unibanco Holding, Basf,
Dedini e SEW Eurodrive permitirão o
mapeamento de novos dados como o
Élio Neves, da Feraesp, ressaltou a parceria com a Unica para a melhoria das práticas
no corte de cana e o lançamento do programa RenovAção
“Por ano, requalificaremos sete mil
cortadores de cana, e este é só o primeiro
passo”, ressaltou Marcos Jank
Pedro Somma, Otávio Pilon, Carolina Camargo,
Beatriz Helena de Paula Machado (filha da
Carminha), Pedro Dinucci, Carolina Dinucci,
com o pai Carlos Dinucci, José Pilon, Carminha
Ruete de Oliveira e Iza Barbosa foram conferir os
debates do Ethanol Summit
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14. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200914
faturamento e a geração de empregos
diretos e indiretos no setor”, avalia Jank.
O Governo é parceiro do setor – a
ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff, compareceu ao Summit
representando o presidente Lula e ratificou
no evento que o governo brasileiro é
parceiro dos produtores de álcool no País,
“porque considera que esse setor fará
diferença no futuro e que seremos um País
mais rico porque temos uma cadeia forte”,
concluiu a ministra, após citar uma série
de ações de socorro ao setor após a crise
econômica mundial, entre elas a liberação
de crédito.
Dilma Rousseff: “esse setor fará a
diferença no futuro”
“O Brasil precisa provar para o mundo que pode
produzir combustível renovável sem afetar seu
próprio meio ambiente”, alertou Clinton
A Ministra também disse que o governo
federal, por meio da Eletrobrás, pode
utilizar o etanol como fonte de geração de
energia elétrica em pequenas comunidades
da Amazônia, em substituição ao diesel.
“Para evitar que se queime diesel na
Amazônia, queremos queimar etanol.
Avaliamos adotar essa solução em sistemas
isolados de geração na Amazônia, já que
é impossível levar redes de transmissão
para comunidades que estão isoladas”,
comentou a ministra.
Clinton cobra sustentabilidade – em sua
participação no Summit, o ex-presidente
dos Estados Unidos, Bill Clinton, refletiu a
imagem que bilhões de pessoas têm sobre
o nosso etanol, ao afirmou que o Brasil
precisa provar para o mundo que pode
produzir combustível renovável sem afetar
seu próprio meio ambiente. Segundo ele,
o Brasil vai ter de provar que pode reduzir
Clinton recebe homenagem de crianças
que fazem parte do programa “Educação
pela paz nas escolas”
as emissões de gás carbônico do mundo
sem afetar sua própria sustentabilidade.
“O Brasil terá de resolver este problema
interno, local, para depois tentar resolver
o problema global. O mundo tem certeza
de que o etanol de cana-de-açúcar é
o biocombustível mais eficiente para
combater os problemas de aquecimento
global”, observou. Porém, ponderou que,
se o etanol de cana começar a ser utilizado
em larga escala, a produção de cana poderá
se expandir de forma expressiva para as
áreas de pastagem de gado, empurrando o
gado e os grãos para a Amazônia. “O Brasil
precisa provar para o mundo que isto não
vai acontecer”, salientou Clinton.
Durante a plenária, Clinton também cobrou
do Brasil uma redução nas emissões
vindas de agricultura e desmatamento,
que segundo ele, correspondem a 75% das
emissões totais do País. “Vocês têm uma
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15. 15REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
eficiência grande na redução de emissões
dos transportes e na produção de energia
a partir de hidrelétricas”, lembrou. “Mas
vocês são o oitavo maior país em emissões
e estão próximos de Índia e China”, cutucou.
Crianças homenageiam Clinton – antes
de iniciar sua apresentação, o ex-presidente
Bill Clinton teve um breve contato com cinco
crianças que fazem parte do programa
“Educação pela paz nas escolas”, aplicado
nos Estados de São Paulo e Minas Gerais
e patrocinado por cinco usinas: Moema,
Mandu, Vertente, Itapagipe e Frutal. O
programa envolve mais de 30 mil pessoas
em 13 cidades dos dois Estados e ensina a
cultura da paz e como evitar conflitos.
As crianças entraram caracterizadas como
personagens de um livro, representando as
diversas faces da população brasileira e
presentearam Clinton com uma luminária
de chão, produzida com madeira de
demolição e cestaría pelo artista plástico
Tóti, da cidade de Bichinho, em Minas. Ao
final de sua apresentação, Clinton afirmou:
“Se trabalharmos juntos e pouparmos
nossos netos de muitas mudanças
climáticas, poderemos ter um modelo
na América Latina e Estados Unidos que
gere riqueza. Quanto mais fizermos isso,
mais essas crianças que representaram os
diferentes rostos do Brasil terão um futuro.”
Biocombustíveis certificados – a
certificação de processos e da qualidade
dos biocombustíveis poderá ser um meio
de acesso aos mercados de muitos países.
O painel “Biocombustíveis Certificados:
como chegar lá”, discutiu o tema.
A Comunidade Européia tem o objetivo de
reduzir em 23% as emissões de gases de
efeito estufa pela melhoria e incorporação
de biocombustíveis em 10%. Esta meta
aumentará o consumo de biocombustíveis,
o que exigirá importação do Terceiro
Mundo, como explicou a diretora de
Energia e Transportes da Comunidade
Européia, Alexandra Langenheld. Para isto,
serão formalizados acordos multilaterais
entre países e binacionais. O esquema
Um público de 1500 pessoas prestigiou
o Ethanol Summit 2009
para a certificação voluntária terá critérios
alinhados à sustentabilidade definidos
até o final do ano. Após o acordo final do
parlamento demorará 18 meses para que
as diretrizes entrem em vigor. O prazo final
para todo o projeto é 2014.
O mercado está receoso de que
o estabelecimento de critérios
excessivamente rigorosos desestimule a
produção de biocombustíveis. Alexandra,
entretanto, disse que a idéia é levar em
conta as experiências existentes e buscar
um equilíbrio, mas alerta que não serão
usados biocombustíveis sem critérios de
sustentabilidade. Segundo os planos, a
certificação voluntária deverá começar em
2010.
O presidente da BSI (Better Sugarcane
Iniciative), Daudi Lelijveld, disse que
existem 21 critérios e 48 indicadores na
BSI, todos de domínio público e disponíveis
no site da empresa para análise. Ele procura
agora escolher métricas corretas para
tornar práticos os processos de auditoria.
Rosemary Vianna, diretora da SGS Brasil,
empresa que trabalha orientando como
colocar os esquemas de certificação em
prática, opinou que os requisitos a serem
Kátia Abreu, senadora e presidente da
Confederação Brasileira de Agricultura e Pecuária,
cumprimenta Marcos Jank. Em sua participação, a
Senadora defendeu a posição da sustentabilidade
no agronegócio brasileiro
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16. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200916
estabelecidos devem ser exaustivamente
negociados. “Queremos que o processo
de certificação do etanol não resulte em
um equilíbrio negativo de GHG (GHG
Protocol é a ferramenta mais usada
mundialmente pelas empresas e governos
para entender, quantificar e gerenciar suas
emissões), em perda de biodiversidade,
erosão e degradação, desequilíbrio sócio-
econômico ou conflito pela posse da terra”,
disse Rosemary.
Alimento X biocombustíveis – outro
tema polêmico foi o do painel “Alimento
X Combustíveis: dilema ou dogma –
Ron Litterer, chairman da Associação
Americana de Produtores de Milho (NCGA),
disse que nos Estados Unidos a produção
de milho destinada aos biocombustíveis
impactou somente de 10 a 15% os preços
dos alimentos. Ismael Perina, presidente da
Organização dos Plantadores de Cana do
Centro-Sul do Brasil (Orplana), garantiu
que em nosso País não há nenhuma ligação
entre o aumento dos preços dos alimentos
e a produção de etanol no Brasil. “Pois
usamos apenas 1% das terras aráveis para
produção de etanol de cana”.
A posição de Perina foi confirmada
por Alexandre Strapasson, diretor de
agroenergia do Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Hoje
em dia, somos um dos maiores produtores
e exportadores de alimentos, além de
termos duplicado a produção de grãos na
última década”, complementa Alexandre
Strapasson. A rotatividade da cultura da
cana é um bom exemplo. Na entressafra,
dependendo das condições climáticas,
os produtores substituem o plantio por
amendoim ou soja, sem danificar o
solo. “Hoje, em torno de 16 a 17% das
áreas de cana são reformadas para a
cultura de outros alimentos”, ressalta o
diretor do Mapa. “Por conta da sua
extensão territorial e condições climáticas
favoráveis, o Brasil tem vocação agrícola
diversificada”, pondera Fabian Delcros,
representante da União Européia (UE).
O mito de que a expansão da produção
No Summit foi grande a concentração de executivos por metro quadrado
de etanol no Brasil poderá causar o
desflorestamento da Amazônia também foi
rechaçado. Atualmente, 90% da produção
da cana brasileira se concentram na região
Centro-Sul, a 2,5 mil quilômetros da
floresta amazônica. O restante das áreas de
cultivo se localiza na região Nordeste, a 2
mil quilômetros do grande bioma. “Perto
de 25 milhões de hectares de pastagens
degradadas do Brasil estão disponíveis
para a ampliação da cultura canavieira”,
explica o executivo da Orplana.
“O Etanol é vencedor” – um vídeo do
piloto de Fórmula Indy Hélio Castroneves
foi gravado especialmente para o Ethanol
Summit após vencer pela terceira vez 500
milhas de Indianápolis nos Estados Unidos,
no dia 24 de maio. O piloto venceu a prova
com etanol brasileiro, de cana-de-açúcar.
“Essa vitória foi ainda mais especial,
pois venci com o nosso etanol no meu
carro. Hoje, o etanol brasileiro é vencedor,
graças ao trabalho de todos vocês que
acreditaram. Vamos continuar acelerando”,
foram as palavras de Castroneves no vídeo
exibido durante a plenária de encerramento
do Ethanol Summit 2009.
Plínio César, diretor da PC & Baldan, empresa que
edita a CanaMix, o ex-ministro Antonio Palocci
e a prefeita Dárcy Vera: Palocci se diverte com
a Prefeita na capa da CanaMix com uniforme de
piloto de Fórmula Indy
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17. 17REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Ele é o Bill Clinton,
por isso, ele pode
O piloto é natural de Ribeirão Preto, SP, município
com grande concentração de plantações de
cana-de-açúcar, e tem feito esforços para que
sua cidade natal seja escolhida para receber
uma etapa da Fórmula Indy em 2010. Dárcy Vera,
prefeita da cidade, também participou do Summit
e divulgou as razões para Ribeirão sediar uma
das etapas da competição. No evento, a Prefeita
encontrou-se com o ex-ministro Antonio Palocci,
também palestrante e ex-prefeito de Ribeirão
Preto. Palocci apóia a iniciativa e salientou: “Se
a Fórmula Indy não for em Ribeirão Preto não tem
graça”.
Até 2011 – com esta frase Marcos Jank encerrou
a segunda edição do Ethanol Summit. O discurso
final de Jank foi pontuado pela esperança de
que os debates tenham contribuído não só para
avançar em discussões importantes do setor,
mas, principalmente, para consolidar-se como
um ponto de encontro internacional, favorecendo
o relacionamento da comunidade que de alguma
forma está relacionada aos biocombustíveis.
Durante a cerimônia de encerramento, três
grandes personalidades foram homenageadas por
notáveis contribuições ao setor sucroenergético
brasileiro, durante a plenária de encerramento
do Ethanol Summit 2009, José Goldemberg,
conhecido por suas posições a favor do Meio
Ambiente e das energias renováveis; Isaias de
Carvalho Macedo, que se dedica à pesquisa das
energias renováveis desde a década de 70 e João
Camilo Penna, engenheiro e articulador relevante
da implantação e sucesso do Proálcool.
José Goldemberg, ex-ministro, foi um dos
homenageados do evento
Carminha, qual sua opinião sobre a
roupa de Bill Clinton?
Alexandre pergunta à Carminha sobre o estilo Clinton
No meio de tantos assuntos sérios, um detalhe mais descontraído
chamou a atenção do público: o azul gritante da gravata e a camisa
xadrez com rosa e branco que Bill Clinton trajava. A dúvida sobre a
elegância do ex-presidente dos Estados Unidos ficou no ar, mas Alexandre
Franceschi, presidente da Usina Alvorada, Itaporã, MG, resolveu solucioná-
la e perguntou para Caminha Ruete de Oliveira, consultora de Moda da
CanaMix:
Franceschi – Carminha, qual sua opinião sobre a roupa de Bill Clinton?
Carminha – Por ele ser um homem ligado às questões ambientais, talvez o
azul da gravata traga uma mensagem sobre a necessidade de termos águas
límpidas. Já o xadrez de rosa com branco seja uma volta às raízes de sua
região o meio-oeste americano, que apresenta esse estilo.
Franceschi – Mas, o Clinton estava elegante?
Carminha – Huummm... é melhor não comentar isso. Mas, não podemos
esquecer que ele é o Bill Clinton, por isso, ele pode.
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18. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200918
P
or estar no centro produtor de cana-
de-açúcar do Brasil, a cidade de
Ribeirão Preto foi escolhida para
sediar o Workshop Intergovernamental
sobre Açúcar e Diversificação, realizado
entre os dias 8 e 11 de junho. O workshop
foi promovido pelo Fundo Comum para
Commodities (CFC, sigla em inglês),
empresa que financia projetos na área de
açúcar e pela Organização Internacional
do Açúcar (ISO, sigla em inglês). As
associadas da ISO respondem por 83%
da produção mundial de açúcar, 65% do
consumo e 95% de sua exportação.
Em relação a realização do workshop em
nosso País, o diretor executivo da ISO, Peter
Baron, explicou que o Brasil é o “berço da
diversificação” de produtos que têm a cana
como matéria-prima. “A economia mundial
mudou radicalmente nos últimos anos
pelo aumento de pressões ambientais.
Por isso, a produção de etanol e bionergia
(alternativas ao açúcar) é muito importante.
Replicar a experiência brasileira
Brasil mostra produção sustentável em workshop internacional
O workshop é uma oportunidade para outros
países, produtores de açúcar, conhecerem
a experiência brasileira”, informou. Para o
diretor do CFC, Ali Mchumo, o Brasil está
na vanguarda das questões energéticas.
O evento recebeu representantes de 16
países produtores de açúcar da África,
Caribe e Pacífico. O governo brasileiro
aproveitou para mostrar como desenvolver
uma produção do etanol de maneira
sustentável e obter o máximo da produção
da cana-de-açúcar. Além de palestras com
especialistas no assunto, os participantes
visitaram o Centro Tecnológico da Cana,
em Piracicaba, SP e conheceram uma usina
de açúcar e álcool, em Jaboticabal, SP.
A experiência brasileira – Eduardo Leão
de Sousa, diretor-executivo da União da
Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),
foi um dos palestrantes. Segundo o
executivo, o Brasil tornou-se um modelo de
diversificação do uso da cana-de-açúcar
como matéria-prima, fabricando produtos
variados a partir dessa planta. “Além de já
produzirmosaçúcar,etanolebioeletricidade
em larga escala, iniciamos recentemente
Integrantes de 16 países
produtores de açúcar da África,
Caribe e Pacífico participaram do evento
“O Brasil é o berço da diversificação
de produtos que têm a cana
como matéria-prima”,
afirmou Peter Baron
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19. 19REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
a produção de bioplásticos e, em breve,
deveremos produzir diesel, querosene e
outros produtos da alcoolquímica, a partir
da cana-de-açúcar. É interessante perceber
que se trata de uma planta que, ao mesmo
tempo que se confunde com a própria
história de mais de 500 anos do Brasil,
atualmente se destaca como uma das
mais modernas e ricas fontes de energia
renovável do mundo”, explicou.
De acordo com Sousa, até 2021, a Unica
prevê que a produção de cana-de-açúcar no
Brasil irá ser duplicada, chegando a cerca
de um bilhão de toneladas e a produção
de etanol poderá chegar a 64 bilhões de
litros. “O objetivo é realmente favorecer a
diversificação. Fomentar a ampliação da
oferta dos produtos provenientes da cana,
bem como de seus mercados potenciais,
faz parte dos objetivos da Unica. O tripé
“competitividade, sustentabilidade e
comunicação” formam a base de sua
estratégia de longo prazo”.
Energia barata e confiável – a produção
de energia por meio da biomassa da
cana foi um dos temas apresentados, os
participantes mostraram-se interessados
por essa alternativa que reduz o custo de
produção, pois possibilita tocar a indústria
sem ter que comprar energia ou diesel,
além de ser mais uma fonte de renda.
Ricardo Dornelles, diretor do Departamento
dos Combustíveis Renováveis, do
Ministério de Minas e Energia (MME), disse
que o crescimento da população brasileira
previsto para 53 milhões de habitantes, em
2030, equivalente à população da Espanha,
é um desafio para o setor de energia
constante e barata. Dornelles lembrou que
a energia, por ser um bem de longo prazo,
precisa de planejamento e, prevendo este
crescimento demográfico, o MME já estuda
alternativas para obtenção de energia
barata e confiável. Entre as propostas do
governo estão estudos de tecnologias
alternativas para a co-geração de energia.
“A utilização do bagaço da cana, a chamada
energia de segunda geração, é um caminho
para suprir as necessidades dos próximos
anos”, salientou.
Quanto à expansão do comércio de
biocombustível, Ricardo Dornelles explicou
que o mercado interno é o maior e o mais
importante destino do etanol brasileiro. “Os
veículos flex fuel permitem ao consumidor
brasileiro decidir qual combustível usar”,
pondera. O diretor afirmou ainda que a
experiência do Brasil deve ser adaptada
à realidade de cada país interessado em
adotar o programa de biocombustível. O
etanol é um produto de origem agrícola
e energético também, enfatiza. A matriz
de energia brasileira é composta de 46%
de fonte renovável, sendo 17% desta de
produtos derivados da cana-de-açúcar.
Eduardo Leão: “até 2021 a Unica prevê que a
produção de cana-de-açúcar no Brasil chegará a
cerca de um bilhão de toneladas ”
Eltha Brown e Ricardo Dornelles: dois dos palestrantes do evento
Nastari: “com o uso da vinhaça o setor
economiza cerca de 300 milhões de dólares
ao ano com fertilizantes”,
Preocupação ambiental – em sua
participação, Ismael Perina, presidente
da Organização dos Plantadores de Cana
da Região Centro-Sul (Orplana), disse
que atualmente 50% do potássio das
plantações de cana-de-açúcar pode ser
reposto pela cobertura da palha deixada
no campo após o corte da cana. “A
medida reduz a aplicação e os gastos
com fertilizantes nos canaviais”, avalia.
Perina acrescenta que 65% da colheita da
cana na região centro-sul já é mecanizada,
reduzindo drasticamente as queimadas da
palha e seus efeitos no meio ambiente. Ele
informou ainda que cerca de 75% da frota
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20. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200920
Líria Nhaquilla: “Moçambique tem
interesse em produzir etanol”
de aviões agrícolas são movidos a etanol,
provenientes das próprias usinas, medida
que minimiza os custos na propriedade.
Os participantes questionaram o que fazer
com a vinhaça que resultará da produção de
etanol. O presidente da consultoria Datagro,
Plínio Nastari, também palestrante, contou
que no início do Proálcool não havia
conhecimento sobre a destinação correta
desse subproduto e que erros ambientais
foram cometidos, depois a vinhaça deixou
de ser um problema para ser uma solução
com os sistemas de ferti-irrigação. Há 40
anos, as terras do município de Sertãozinho
não eram tão férteis, mas com a aplicação
da vinhaça, o solo foi corrigido e a cidade
se tornou o maior pólo de produção de
cana-de-açúcar. “Tornou-se um produto
valioso, sua aplicação recupera áreas não
férteis para a cana e economiza cerca
de 300 milhões de dólares ao ano com
fertilizantes”, observa.
Para não reinventar a roda – Eltha
Brown, representante do CFC, explicou
que a função do fundo é atuar como
parceiro na disseminação de tecnologias já
existentes e exitosas para que outros países
não tenham que reinventar a roda. “Se já
existe algo pronto, testado e funcionando
eficientemente, não há necessidade de
investir em novas descobertas, mas sim
replicar essa experiência”, ressaltou.
O fundo não financia projetos, mas
facilita o investimento, principalmente
para tecnologias que tenham foco na
comunidade, como tratamento de águas
residuais e ações que levam à diversificação
de renda.
A engenheira agrônoma Líria Nhaquilla,
representante do Ministério da Agricultura
de Moçambique, estava entre os
participantes do evento e, pela primeira vez,
ia conhecer uma unidade sucroenergética
brasileira. “Aqui vocês falam usina, não é?
Para nós é açucareira”, contou. Segundo
ela, existem quatro açucareiras em seu
país, uma delas é do grupo francês Tereos,
o mesmo do Açúcar Guarani. As empresas
estão investindo para aumentar a produção,
em 2010 deverão ser produzidos 250 mil
toneladas de açúcar, em 2011, serão 400
mil e, em 2015, 500 mil toneladas. O açúcar
produzido em Moçambique entra sem
taxação na União Européia, beneficiado
pela lei de incentivo aos países pobres.
Líria comenta que também há interesse
no país em investimentos em etanol, dois
projetos estão em desenvolvimento e
devem iniciar a produção em 2011. O foco
é atender a União Européia, exportando o
etanol sem taxas. “É uma forma de gerar
mais renda, empregos, atualizarmos a
tecnologia no campo e ficarmos mais
competitivos. Por isso, conhecer na prática
a atividade no Brasil é uma experiência
enriquecedora”, concluiu.
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22. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200922 REVISTA CANAMIX | JULHO | 200922
Direitos de propriedade versus
impactos ambientais
Guilherme Nastari*
processo que estão causando a exaustão destes
recursos. Da mesma maneira que biólogos e
cientistas ligados a biodiversidade também não
encontram solução, pois não compreendem
o caráter econômico destas ações. Talvez o
caminho seja uma harmoniosa cooperação entres
estes diferentes métodos e formas de análise do
problema.
Dificilmente paramos para pensar sobre as razões
fundamentais que levam à superextração de
recursos naturais em países em desenvolvimento.
Enquanto estes recursos não forem devidamente
valorizados, não haverá tampouco incentivo para
o desenvolvimento e a introdução de tecnologias
que levem a um aproveitamento mais racional
destes recursos. Países desenvolvidos ainda são
os grandes consumidores de produtos oriundos
de reservas naturais, mas tem sido crescente
a demanda advinda dos países emergentes,
causando uma natural pressão de demanda, o que
tem agravado ainda mais o problema.
O reflexo destas atitudes gera ações bem
conhecidas. A ameaça de barreiras comerciais e
alegações superficiais e quase sempre viesadas
sobre as razões por detrás do desmatamento
de nossas florestas estão causando um
estress desnecessário e injusto sobre produtos
tradicionais de origem agrícola e extração mineral,
que nada tem a ver com as reais causas deste
processo. Obviamente, isso tem afetado também
o açúcar e o etanol.
Nada mais resta senão a defesa, com coragem e
transparência, para que um problema real, que
tem causa em outro lugar, não sirva de justificativa
para restrições ao livre comércio.
* Guilherme Nastari, economista, é diretor de
novos projetos da DATAGRO.
A
emissão de CO2 nos últimos 50 anos tem causado
grande impacto em várias comunidades de todo o mundo.
Pesquisadores e empresários estão desenvolvendo métodos
e práticas mais eficientes que buscam uma menor emissão de
gases causadores do efeito estufa em uma série de atividades
desenvolvidas pelo homem. Ocorre que uma parcela considerável
dessas emissões está relacionada à extração irresponsável de
recursos naturais.
Será que este não é um problema estrutural? Talvez este seja
um típico problema de direitos de propriedade, presente em
muitos países em desenvolvimento.
Diferentes práticas relacionadas a direitos
de propriedade existentes em vários países
pelo mundo pode ser um dos causadores
do desmatamento de florestas nativas,
naqueles países onde estas práticas
ainda não estão devidamente
regulamentadas e devidamente
aplicadas. Em grande parte dos países
desenvolvidos, recursos naturais
como petróleo, reservas minerais e
florestas são bens privados deixando
assim o mercado ajustar a extração
destes produtos. Em contrapartida,
em países em desenvolvimento, estes
bens são públicos e, geralmente,
a extração é feita abaixo do preço internacional. O reflexo é uma
utilização excessiva destes recursos naturais causando assim uma
potencial tragédia dos comuns.
Grande parte da destruição dos recursos naturais está sendo
fomentada por incentivos econômicos. Florestas estão sendo
desmatadas com o objetivo de exportação de produtos primários,
como é o caso do desmatamento na Malásia para a plantação de
palma, para a extração de óleo (o mais consumido no planeta,
para fins alimentícios), ou simplesmente para que se prove o uso
econômico da terra, mantendo, mesmo que de forma precária, o seu
título ou propriedade, como ocorre no Brasil.
O impacto deste problema econômico é fundamentalmente físico
e biológico. Cientistas econômicos não conseguem resolver tais
problemas, pois não compreendem as minúcias das práticas do
ESPAÇO DATAGRO
Divulgação
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23. 23REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
A equivalência de preço é um algoritmo Datagro que coloca em mesma base FOB de comparação (US$ cents/lb) os preços do açúcar no
mercado interno, etanol (anidro e hidratado) no mercado interno e açúcar no mercado externo ( contrato nº11 negociado na bolsa de Nova
York) para análise da rentabilidade de cada mercado analizado.
As informações contidas no Espaço Datagro são estritamente informativas e não tem um caráter de recomendação de compra,
venda ou outro fim com propósito particular de investimento. A distribuição e a utilização desde relatório por pessoas/entidades não
autorizadas é proibida e fica suscetível às regulamentações locais contra esta violação.
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24. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200924
O setor começa
a respirarA situação financeira do setor sucroenergético
dá sinais de melhora e executivos visualizam um
bom segundo semestre
A
gora em julho, a Usina Santa
Albertina, segunda unidade do
Grupo Colombo, começa a moer. A
Santa Albertina é um dos muitos projetos
gerados no calor da expansão do setor
motivada pela internacionalização do
etanol. Localizada no pequeno município
de Palestina, interior paulista, a unidade,
desde o início de suas instalações, em
2007, ampliou as oportunidades de
empregos na região, mas com as moendas
em movimento, a expectativa da população
é de que a situação econômica do município
melhore ainda mais.
NãoésóapopulaçãodePalestinaqueespera
por melhorias com o início da moagem,
na verdade, a safra da cana em pleno
andamento no Centro-Sul traz a expectativa
de tirar o setor do sufoco da crise. “Usina
parada não produz dinheiro”, diz Fredy de
Assis Colombo, diretor-financeiro do Grupo
Colombo. O etanol gerado nos primeiros
meses de safra, mesmo comercializado
a preço baixo, serviu para abastecer os
caixas das empresas esvaziadas pela falta
de crédito provocada pela crise financeira
mundial.
Luciana Paiva
Fotos: César Diniz
Fredy de Assis Colombo:
expectativa de recuperação
A partir de setembro de 2008, um conjunto
de fatores como a falta de crédito, o menor
consumo de etanol no mercado externo,
a queda no câmbio, os baixos preços dos
produtos canavieiros, o aumento do custo
de produção e os altos investimentos
para acompanhar a febre expansionista,
acabou com o gás do setor. Resultado,
muitos projetos pararam, a inadimplência
explodiu, empresas pediram recuperação
judicial e algumas foram vendidas ou
se uniram a outras. Além disso, poucas
unidades conseguiram manter 100% as
atividades normais, como tratos culturais e
manutenção industrial.
O Grupo Colombo está entre as raras
exceções que mesmo com a crise não
abriu mão de investir 100% nos tratos
culturais. “O açúcar se faz no campo, e se
não tratarmos bem dele, as consequências
ruins persistirão por vários anos, pois a
cana-de-açúcar é uma cultura de ciclos,
não anual”, salienta Fredy. O Grupo também
não descuidou da manutenção da frota e da
indústria, pois para Fredy “as paradas não
programadas custam mais do que realizar a
manutenção corretamente.” O executivo diz
que o cenário do setor começa a melhorar,
no entanto, a expectativa de início de
recuperação é mais forte para o segundo
semestre e para 2010, quando oferta e
demanda deverão estar bem ajustadas e,
com isso, os preços mais remuneradores.
Panorama favorável, principalmente, às
unidades que investiram e não apresentarão
quebra de produção, como é o caso da
Colombo, que espera moer em sua unidade
I, em Ariranha, SP, 2 milhões de toneladas
e 800 mil na unidade II.
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25. 25REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
José Pessoa: “Dólar a 2,40 reais ajudaria
bem”
O pior parece já ter passado – durante
o Ethanol Summit no meio da imensidão
de temas sobre sustentabilidade e os
caminhos para conquistar o mercado
externo para o etanol, a grande quantidade
de executivos presentes não se desligavam
das informações sobre valor do dólar,
movimento das bolsas, comercialização
do açúcar e do etanol. José Pessoa de
Queiroz Bisneto, presidente da Companhia
Brasileira de Açúcar e Álcool (CBAA) era
um deles, pelo celular acompanhava mais
um dia de dólar em baixa. “Está 1,94,
muito baixo”, reclama. Perguntei a ele qual
seria um bom valor para o setor? “Ah, o
bom mesmo seria uns 3 reais, mas como
não é possível, uns 2,40 já ajudaria bem”,
respondeu o executivo.
Mas, apesar do dólar em baixa, José
Pessoa diz que o setor começa a respirar,
pois o pior parece já ter passado. “O açúcar
está bastante remunerador e o etanol está
com valores baixos não porque há excesso
de produção, mas porque as empresas
estão vendendo a qualquer preço, pois
estão descapitalizadas. E, assim, que
equilibrarem o caixa, vão negociar melhor”,
explica. O fato de o preço do açúcar poder
ultrapassar a barreira de 22 centavos
por libra peso e com isso fazer com que
os outros países também se tornem
competitivos, não preocupa o empresário,
pois, segundo José Pessoa, isso era
problema quando o Brasil não dominava
amplamente o mercado de açúcar (hoje
detém 58,4% com previsão de chegar a
73,3% até 2019).
O cenário está bem melhor do que no
final de 2008 e início de 2009, afirma
Carminha Ruete de Oliveira, diretora do
Grupo Virgolino de Oliveira, também
de olho no celular, acompanhando os
movimentos do mercado. “A bolsa fechou
em alta e o dólar em baixa”, comenta. A
explicação da executiva para o cenário
em ascensão deve-se aos bons preços do
açúcar e também a recuperação do dólar,
Carminha Ruete de Oliveira: “após a crise o
mundo não voltará a ser como era”
que mesmo tímida já apresenta um ganho,
pois no ano passado chegou a R$ 1,60. Em
relação ao etanol, Carminha acredita que
assim que as empresas estabilizarem o
caixa, as vendas se equilibrarão e os valores
ficarão mais atraentes. O mercado interno
brasileiro foi apontado pela executiva como
um dos fatores para que a crise esteja
mais amena no Brasil.“Temos um mercado
interno valioso, diferentemente de outros
países”, diz. Para 2010, Carminha observa
que os fundamentos do mercado para o
setor continuam positivos, com equilíbrio
entre oferta e demanda e com a Índia se
mantendo compradora. Mas, a executiva
alerta que é preciso ter cautela com a Índia,
pois as notícias que vêm daquele país nem
sempre refletem a realidade. Na opinião
de Carminha, após a crise, o mundo não
será o mesmo, os conceitos vão mudar, os
valores serão outros e os investidores não
mais arriscarão tanto, preferindo negócios
mais sólidos.
O setor sairá fortalecido – o Estado
de Mato Grosso do Sul é alcooleiro,
72% de sua produção de cana vai para o
etanol, com isso, poucas unidades estão
aproveitando a opção de se voltar para o
açúcar e seus preços mais remuneradores.
O que tem auxiliado é a venda de energia
elétrica, diz Roberto Hollanda, presidente
da Biosul. Hollanda concorda que o setor
começa a respirar mais aliviado e, acredita
que deve sair mais forte dessa crise, com
empresas mais preparadas para seguir no
negócio, e investidores mais conscientes.
Está muito melhor – para o diretor-
executivo da Unica, Antonio Pádua, o atual
cenário está muito melhor do que meses
atrás. “Começamos o ano com muito
pessimismo, com situação financeira difícil,
Roberto Hollanda: “setor mais forte após
a crise”
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26. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200926
mas aí o preço do açúcar foi melhorando dia
a dia e o câmbio também ajudou. O preço
do etanol não se recuperou, mas, agora
começaremos a abastecer o Nordeste,
as unidades vão começar a equilibrar o
caixa, e como não há excesso de produto,
os preços vão subir”, alerta. Pádua diz
que, normalmente, o ano que inicia com
perspectiva ruim, acaba surpreendendo
positivamente, é o que acredita que vai
acontecer com 2009.
Poucas empresas conseguirão o
warrantagem – Pedro Robério, presidente
do Sindaçúcar de Alagoas, observa que
a crise econômica mundial e com ela
Pádua: “ano que começa ruim, no final pode
surpreender positivamente”
a escassez de crédito, pegaram o setor
justamente em uma época de plena
expansão, com grandes investimentos
sendo realizados e as empresas
necessitando de crédito para tocá-los.
A situação piorou para o Nordeste, pois
quando estourou a crise em setembro,
as unidades iniciavam a safra, os caixas
estavam em baixa e as empresas não
conseguiram o crédito para realizar suas
operações. Tudo isso, agravou a situação
do setor que já vinha com depressão de
preços, resultando em inadimplência,
redução de investimentos no campo e na
indústria. Segundo Robério, a junção da
redução de tratos culturais e problemas
entre dezembro de 2008 e fevereiro de
vão adquirir o etanol de outras unidades.
O etanol está financiando a safra – José
CarlosToledo,presidentedoGrupoEquipav,
ressalta que as coisas começam a melhorar.
“O preço do açúcar está maravilhoso e,
mesmo que ultrapasse a barreira de preços
de 22 centavos de dólar por libra peso, o
que tornará a produção de outros países
mais competitiva, continuaremos liderando
com folga o mercado, pois o Brasil tem
plenas condições para isso, grande
competitividade, clima e terra”, salienta.
Em relação aos baixos preços do etanol,
Toledo explica que sempre foi o açúcar que
financiou o setor, no entanto, com a falta
de crédito para exportação, o etanol no
mercado interno é quem está abastecendo
os caixas das unidades. Toledo concorda
com Pedro Robério sobre a questão de
que poucas empresas terão acesso ao
crédito para estocagem de etanol, pois os
bancos são muito rígidos nas avaliações
para empréstimo, e grupos como a Cosan e
Copersucar são os candidatos mais certos
para conseguir esses financiamentos.
Para se manter no negócio – a Ferrari
Agroindustrial S.A, Pirassununga, SP,
mesmo com a crise investiu 140 milhões de
reais em suas instalações para aumentar a
capacidade de moagem de 1,2 milhão para
2,5 milhões de toneladas na safra 2009/10:
“Redução de investimentos e problemas climáticos
derrubarão a safra”,
diz Pedro Robério
José Carlos Toledo: “rigidez dos bancos”
2009, gera a expectativa de redução
na safra de 10% no Nordeste e 6% na
produção nacional. “O setor apresenta
uma reação nos preços do açúcar, o
mesmo não acontece com o etanol, não
porque haja uma superoferta, mas pelo
fato de as empresas estarem produzindo e
vendendo, sem estocar”. Para o Presidente
da Sindaçúcar/AL, a proposta do governo
federal de warrantagem para estocagem
de etanol atenderá poucas unidades,
pois a grande maioria está devedora e
não conseguirá atender as exigências
do BNDES. De acordo com Robério, o
comentário no setor, é que uns três grupos
grandes terão acesso ao financiamento e
Previte: “a saída é atuar em bloco”
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27. 27REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Maria Christina: “ciúme de homem”
a moenda de 54” passou para 84”;
colocou acionamento a vapor hidráulico;
o acionamento que era de 380 toneladas/
hora passou para 600 toneladas. Outro feito
da empresa foi tornar-se uma cooperada
da Copersucar. Segundo Antônio Carlos
Previte, diretor-financeiro da Ferrari, hoje,
uma empresa que mói na faixa de 2 a 3
milhões de toneladas tem mais condições
de se manter no mercado se agir em bloco
para obter financiamentos, melhores
condições de compras e de negociação.
“Quem não se associar vai acabar sendo
comprada pelas grandes”, alerta Previte,
que agora espera usufruir os bons ventos
que começam a chegar ao setor.
A cana maltratada vai perdurar –
Maria Christina Pacheco, presidente da
Associação dos Plantadores de Cana da
Região de Capivari, (Assocap) espera
ansiosa pela recuperação no setor, porém,
avisa que a situação pode melhorar, mas a
canamaltratadavaiperdurar.“Vaiterquebra
de produção, pois a cana não remunerou
os custos e o fornecedor de cana reduziu
os tratos, ou então não renovou a área. E
isso vai repercutir nos próximos anos”,
afirma. Maria Christina observa que a crise
mundial agravou a crise interna do setor
e o que se viu foi grandes grupos ruindo.
“Não dá para imaginar uma Santelisa,
uma NovAmérica, que são verdadeiras
Lamartine Neto: “faltou dinheiro, não
credibilidade ao etanol”
instituições do setor, modelos de qualidade,
precisarem ser vendidas, enquanto
empresas que historicamente vivem mal
das pernas continuarem em atividade”,
admira-se. Para ela, o setor viveu uma fase
de “ciúme de homem”, uma competição
por poder, para ver quem ia liderar essa
expansão sucroenergética. Mas, a crise
mundial sepultou muitos sonhos. “Os
valores mudaram rapidamente, pensar que
a Vale do Rosário foi comprada pelo valor
equivalente a 104 dólares a tonelada e hoje
a Santelisa Vale não consegue ser vendida
por 50 dólares a tonelada”, comenta.
No segundo semestre a situação
melhora – Lamartine Navarro Neto, diretor
da L Navarro Consultoria em Bioenergia, diz
que a situação do setor vai melhorar neste
segundo semestre. Segundo ele, falta de
estrutura do setor faz com que o preço
despenque com qualquer oferta maior
de produto. Para 2010, os fundamentos
continuam fortes, porém, a área agrícola
é quem mais sente com a crise, por isso
espera-se perdas nas safras de 2010 e
2011. Lamartine conta, que com a crise
houve desaceleração na expansão do setor,
porque faltou dinheiro e não credibilidade
ao etanol, tanto que, nos bastidores as
especulações e consultas por parte dos
investidores continuam. “O etanol é viável
financeiramente a partir de 30 dólares o
barril de petróleo, e será muito difícil o
petróleo chegar e se manter neste patamar.
Assim que o crédito voltar a corrida por
aquisição e instalação de novas unidades
recomeçará”, avisa.
Está muito melhor do que estava –
Virgínia Lyra, executiva da área de mercado
do Grupo Carlos Lyra, faz parte do time
que acha que o cenário do setor está
muito melhor que no começo da crise.
Tradicionalmente, o Grupo é açucareiro,
62% da cana das unidades Caeté segue
para a produção de açúcar, o Grupo
também investe em etanol, co-geração de
energia, exportação de levedura e crédito
de carbono. A subida dos preços do açúcar
deixa Virgínia animada, ela considera 16
centavos, 18 centavos por libra peso,
valores interessantes. “O pessoal espera
que ultrapasse os 20 centavos, mas é
bom ter prudência, garantir boa parte da
produção nesses valores e deixar uma parte
menor para jogar com valores maiores”,
aconselha. A executiva também espera
queda na safra, diz que o Grupo investiu
80% do orçamento que costuma destinar
aos tratos culturais.
Boas oportunidades também estão em
outros países – em 2006, quando a Clean
Energy Brazil resolveu apostar no setor
Virgínia Lyra: “prudência é bom”
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28. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200928
“Sabemos que não é momento de criar
obstáculos”, diz Cavalcanti
sucroenergético, o cenário apresentava
um céu de brigadeiro. Marcelo Diniz
Junqueira, Ceo da empresa, lembra que
a expectativa era de o etanol se tornar
commodity mundial, redução de barreiras
internacionais ao produto e o barril de
petróleo estava a 150 dólares. No entanto, a
expectativa não se concretizou, veio a crise,
o preço do petróleo despencou, o crédito
sumiu e os Estados Unidos e a Europa
ficaram mais abalados financeiramente do
que o Brasil, com isso, boas oportunidades
de investimentos também surgiram por lá.
“Eu falo para os investidores que agora
é um bom momento para investir nas
usinas no Brasil, pois o valor caiu, mas
eles respondem que em seus países as
oportunidades estão melhores ainda, e
com retorno mais rápido do que o setor
de etanol. Além disso, preferem investir no
país deles, pois estarão gerando empregos
por lá”, conta Marcelo que ainda vê um
período difícil para o setor.
Será um bom ano – segundo o balanço
de Plínio Nastari, presidente da Datagro,
no final das contas 2009 será um bom
Marcelo Junqueira: “o investidor está preferindo
apostar no seu próprio país”
Plínio Nastari: balanço positivo
ano, os preços terminarão remuneradores.
O açúcar, produto que dá mais liquidez
ao setor no momento, tem déficit mundial
de 7,8 milhões de toneladas. Porém, ele
chama a atenção para os anos de 2010
e 2011, pois com os bons preços do
mercado internacional de açúcar, a União
Européia vai direcionar mais beterraba
para a produção de açúcar, as atuais 670
mil toneladas passarão para 1,3 milhão.
Reduzindo a quantidade de beterraba que
ia para a produção de etanol, o que não
significa que vai abrir espaço para o nosso
etanol no território europeu. A Índia, que
tem um ciclo de plantio de cana de um
ano meio, também aumentará a produção.
Mesmo assim, na próxima safra o déficit se
manterá, e a oferta deverá ser 4,5 milhões
inferior à demanda.
Respondendo às críticas dos executivos
do setor de que poucas unidades
sucroenergéticas terão acesso ao
financiamento para estocagem de
etanol proposto pelo governo federal,
por causa dos critérios rígidos para
liberação de crédito, Carlos Eduardo
Cavalcanti, chefe do Departamento de
Biocombustíveis do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), em entrevista à CanaMix,
garantiu que, neste caso, o Banco será
mais acessível.
“A intenção é socorrer o setor neste
momento difícil, o dinheiro precisa sair
o mais rápido possível, então sabemos
que não adianta criar obstáculos”,
salientou Cavalcanti. Segundo ele, para
facilitar as operações, os empréstimos
ocorrerão via agentes financeiros e não
diretamente com o BNDES, pois sua
O BNDES quer
socorrer o setor
análise de crédito é mais burocrática.
O Banco do Brasil recebeu 1 bilhão
de reais para emprestar às empresas
sucroenergéticas, os outros 1,31 bilhão
foram distribuídos para outros agentes
financeiros. Cavalcanti conta que em
maio, grupos do setor já iniciaram
as negociações e, no mês de julho
é esperado o anúncio de valores de
capitação entre 500 e 800 milhões de
reais.
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30. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200930
N
o último dia 16 de abril, o Ministério
da Agricultura presenteou os
agricultores gaúchos com
a inclusão do Rio Grande do Sul no
zoneamento agroclimático da cana-de-
açúcar. Esperado há pelo menos quatro
anos, quando técnicos e dirigentes rurais
gaúchos concluíram que o plantio de cana
seria a melhor saída para agricultores cujas
lavouras — de milho e soja, principalmente
— vêm sendo castigadas pela seca na
região noroeste do Estado, o “presente”
federal abriu o guarda-chuva do crédito
rural e do seguro agrícola a produtores de
216 municípios.
Cana tem futuro no frio gaúcho?
A pesquisa agronômica
corre em busca de variedades adaptadas
ao Paralelo 30
Geraldo Hasse
Teoricamente, cerca de 800 mil hectares
estão habilitados a plantar cana no
Estado. Na prática, bastará “canavializar”
apenas 200 mil hectares para suprir a
demanda gaúcha por etanol – 700 milhões
de litros/ano para a frota de veículos e
450 milhões de litros/ano para a nova
planta de eteno (“plástico verde”) que a
Braskem promete inaugurar em 2011 em
Triunfo, sede do pólo petroquímico sulino.
Pioneiro no aproveitamento em escala
industrial do álcool vegetal como matéria-
prima de resinas típicas da petroquímica
convencional, o empreendimento de Triunfo
prevê produzir 200 mil toneladas anuais do
chamado “plástico verde”. Com demanda
estimada de 600 mil toneladas anuais
no mercado internacional, o polietileno
verde pode obter uma cotação 30% acima
do preço do polietileno de origem não-
renovável.
Durante o lançamento da pedra
fundamental da planta de eteno verde da
Braskem, em 22 de abril, a governadora
Yeda Crusius anunciou a concessão de
incentivo fiscal para o álcool destinado à
indústria petroquímica no Estado. A medida
prevê a diferenciação de ICMS para o álcool
utilizado como matéria-prima pelo setor,
por meio de projeto de lei encaminhado
à Assembleia Legislativa, e não implicará
perdadearrecadação.Ainiciativa,conforme
destaca a governadora, soma-se a uma
série de ações que o governo vem adotando
para beneficiar segmentos da economia e
tem como propósito diversificar a produção
agropecuária do Estado, incentivando
a produção de cana-de-açúcar no Rio
Grande do Sul. Deve-se também ao fato de
o Estado ter sido incluído no mapeamento
do Ministério da Agricultura para ser área
produtora de cana.
Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul,
participou de lançamento da planta de eteno verde:
incentivo fiscal ao etanol destinado à indústria
petroquímica
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31. 31REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
A agroindústria canavieira em RS –
atualmente, apenas uma destilaria de
álcool opera no Rio Grande do Sul.
Fundada em 1985 em Porto Xavier,
a Cooperativa Produtora de Álcool
(Coopercana), ex-Alpox, produziu no ano
Junto a estas instalações de Triunfo, a Braskem começa a construir a pioneira fábrica de plástico de etanol
passado sete milhões de litros – 1% da
demanda automotiva de etanol no Estado.
Pertencente a uma cooperativa de 310
pequenos agricultores que cultivam um
total de 2400 hectares, a empresa tem
um projeto para aumentar em 30% sua
capacidade de moagem de cana. “Vamos
continuar produzindo apenas álcool, pois
não temos cacife para investir na produção
de açúcar”, diz o gerente Gildo Bratz.
Para garantir a expansão, projetada por
um grupo de engenheiros de Piracicaba,
a Coopercana conta agregar mais 200
associados à cooperativa.
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32. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200932
Vista aérea da Coopercana – única unidade em atividade no Estado Gaúcho
Momento de avaliação – mesmo com o
empurrão do zoneamento e a existência de
um mercado que paga caro para “importar”
etanol de São Paulo, o momento ainda é
de avaliação das perspectivas da cana no
território gaúcho. Embora seja bastante
rústica, a gramínea Saccharis officinalis
sofre com as baixas temperaturas e a
luminosidade fraca durante o inverno.
Acredita-se que esses problemas
agronômicos podem ser resolvidos a
longo prazo por meio da seleção de
variedades mais adaptadas ao clima e aos
solos do Rio Grande do Sul. Experimentos
estão em andamento em uma dezena de
unidades de pesquisa em diversos pontos
do território gaúcho, principalmente no
noroeste. Esse trabalho é liderado pelo
agrônomo Sergio dos Anjos, da Embrapa
Clima Temperado, de Pelotas. Além da
Embrapa, estão engajadas na empreitada a
Emater, a Fepagro e a Universidade Federal
do Paraná, que colocou à disposição do
projeto o agrônomo Edelcleiton Daro,
responsável pelo melhoramento genético
da cana cultivada no território paranaense.
Divulgação
Correndo por fora, a Universidade Federal
de Santa Maria faz um estudo agronômico
sobre o potencial da cana no Rio Grande
do Sul. Coordenado pelo professor Gerson
Guedes, o trabalho foi encomendado pela
Petrobras Biocombustível, que projeta
investimentos de US$ 2 bilhões em etanol
no período 2009-2013. Mediante parcerias,
a meta da estatal é produzir 3,7 bilhões de
litros em 2013, sendo 1,9 bilhões de litros
para o mercado externo.
Gildo Bratz: “a Coopercana tem um projeto
para aumentar em 30% sua capacidade de
moagem de cana”
Noroesthe Bioenergética – nos
bastidores dos órgãos técnicos envolvidos
com o projeto de implantação da cana
no RS, todo mundo tem consciência de
que a decisão dos agricultores quanto
ao plantio depende da confirmação de
projetos industriais ainda em estudo ou
simplesmente planejados. O maior projeto
de etanol divulgado no Rio Grande do Sul é
o da Noroesthe Bioenergética – Norobios,
em São Luiz Gonzaga, destilaria de R$
270 milhões com entrada em operação
prevista inicialmente para 2011 e planos de
esmagar 1,3 milhões de toneladas de cana
em 2014 para produzir 160 milhões de litros
de etanol por ano. Fundada em meados
de 2007, apenas em dezembro de 2008
a Norobios recebeu a licença ambiental
para tocar seu projeto. A empresa é uma
associação entre a construtora Sultepa, a
Rede Energia (40 postos de abastecimento)
e a Canasul, empresa formada por 47
produtores rurais responsáveis pelo futuro
plantio de cana em 16 mil hectares.
O projeto recebeu um alento com a portaria
do Ministério da Agricultura que incluiu
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33. 33REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Divulgação
o Rio Grande do Sul no zoneamento
agroclimático da cana, mas teve a captação
de recursos retardada pela crise financeira
mundial. Por coincidência, quando o caldo
Refinaria da Petrobras no RS: o anidro para
adicionar a gasolina vem de outros Estados
entornou, no início de outubro passado, os
diretores da Norobios estavam na Ásia em
busca de parceiros para o empreendimento.
Mesmo voltando sem nada concreto
nas mãos, eles mantêm a esperança de
construir uma parceria com empresários
asiáticos que entrariam como sócios e
clientes da Norobios.
Logística – ainda que nenhum novo
projeto tenha vindo à tona, há quem pense
nos futuros problemas de logística que
advirão da chuva e da umidade nessa
nova fronteira agrícola da cana. “Vai ser
complicado colher e transportar cana no
inverno gaúcho”, diz o químico Antonio
Cesar Zborowfki, diretor da Globorr,
indústria de borracha de São José do Rio
Preto. Natural do noroeste gaúcho, ele
participou dos estudos iniciais sobre a
inserção da cana na região missioneira. De
tanto conversar sobre o assunto, adquiriu
a certeza de que em território gaúcho não
deverá prevalecer o modelo intensivo de
produção vigente em São Paulo e outras
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34. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200934
regiões, onde a cana é cultivada em
grandes áreas predominantemente planas
e a maior parte da colheita, mecânica ou
manual, ocorre em períodos de seca.
O principal foro gaúcho de discussão
sobre o etanol e os biocombustíveis é
a Câmara Setorial da Cana-de-Açúcar
da Secretaria da Agricultura. Criada em
2006, ela aproveitou o clima favorável aos
combustíveis renováveis para levar o Rio
Grande do Sul a encarar seriamente a nova
lavoura com um tríplice objetivo: 1) buscar
a auto-suficiência na produção de etanol
e, se possível, de açúcar; 2) oferecer aos
agricultores uma alternativa de produção,
sobretudo na região noroeste, onde a seca
castiga severamente as lavouras de milho
e soja; 3) abrir caminho para a entrada no
mercado de biocombustíveis.
Excluídas do zoneamento – o agrônomo
Alencar Rugeri, coordenador da Câmara
Setorial da Cana, acredita que o modelo
gaúcho de produção de etanol deverá
ancorar-se principalmente em pequenas
e médias propriedades, que predominam
na estrutura agrária da metade norte do
Estado. Ou seja, o modelo tende a ser mais
intensivo em pessoas do que em capitais.
Um dos sinais da expectativa reinante é
que diversas microrregiões excluídas do
zoneamento oficial estão reivindicando
sua inclusão no futuro mapa gaúcho da
cana. Uma delas é o vale do Jaguari, no
O setor de etanol no Rio Grande do Sul terá como base pequenos e médios produtores e microdestilarias
ArquivoAlcompac
centro-oeste do Estado, que concentra
quase 10% dos canaviais e dos alambiques
do RS. Embora tenha sido esquecida pelo
Ministério da Agricultura – e não foi a única
–, essa região tem tradição na exploração
da cana, tanto sustenta há mais de 30 anos
uma indústria de alambiques, moendas e
outros equipamentos para o beneficiamento
da planta.
“A inclusão de nossa região no zoneamento
vai facilitar o fechamento de projetos
que só não estão andando por falta de
recursos para a implantação de lavouras”,
Moenda de cana produzida pela Limana:
com o zoneamento a empresa espera
fechar mais negócios
ArquivoLimana
afirma José Limana, diretor-proprietário da
Limana Poliserviços. Com 18 funcionários,
a empresa nunca teve tanta encomenda.
Em 2007, segundo o IBGE, a cana ocupava
900 hectares no município de Jaguari e o
rendimento médio era de 50 toneladas/ha.
Na região existe até um projeto de formar
técnicos em produção de derivados da
cana-de-açúcar.
Volumoso para o gado e produção de
cachaça – embora não tenha um clima
totalmente propício à cana-de-açúcar, o
Rio Grande do Sul possui os outros três
fatores – solo, topografia e mão-de-obra –
necessários à produção de cana em larga
escala. É o que pensa Alencar Rugeri,
funcionário de carreira da Emater-RS, que
possui grande experiência na extensão
rural junto a pequenas propriedades rurais.
“A rigor, o que nos falta é conhecimento
científico e escala de produção”, diz ele.
Atualmente, o Rio Grande do Sul ocupa
35 mil hectares com cana, cerca de 0,3%
da área canavieira do Brasil. O rendimento
médio é de 28 toneladas por hectare,
equivalente à metade da média brasileira
e três vezes menor do que a produtividade
média da região de Ribeirão Preto, atual
centro geográfico da produção de cana,
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35. 35REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
açúcar e álcool no Brasil. O Ministério da
Agricultura estabeleceu 60 toneladas por
hectare como referência básica para a
No Rio Grande do Sul operam
3,5 mil alambiques
ArquivoLimana
sustentabilidade da lavoura de cana no Rio
Grande do Sul. Esse é o rendimento médio
dos fornecedores da Coopercana, de Porto
Xavier.
Cultivada em pequenas propriedades
familiares principalmente para a
alimentação de vacas leiteiras, a cana
gaúcha gera ainda 10 milhões de litros
anuais de cachaça, além de um volume
não contabilizado de melado, rapadura e
açúcar mascavo. Segundo o Sebrae-RS,
operam no Estado 3,5 mil alambiques que
praticamente não têm chance de evoluir
para a produção de álcool – por falta de
recursos e porque produzir cachaça na
informalidade é mais rentável do que fazer
álcool na legalidade.
“Sem dúvida, teremos pela frente uma
transição cultural, pois a maioria dos
nossos agricultores não está familiarizada
com a cana, mas a expectativa é boa”,
afirma o deputado Edson Brum, presidente
da Comissão de Agricultura da Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul. Um dos
indicadores de que a cana tem chance de
vingar é a intensa procura de informações
nos bastidores dos órgãos responsáveis
pela expansão da canavicultura no Estado.
“O zoneamento foi o primeiro passo de um
processoquedependedoapoiodogoverno,
pois os agricultores estão descapitalizados
pela seca”, lembra Brum.
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36. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200936
No RS a cana segue principalmente para a alimentação de vacas leiteiras
Cenário interessante – “Embora
não pareça, o cenário é interessante”,
insiste Alencar Rugeri, referindo-se às
perspectivas de produção de etanol no Rio
Grande do Sul. No aspecto agrícola, sua
principal referência é a soja. “Até 1980, a
soja não tinha ido além do Paralelo 30”,
diz Rugeri, lembrando que a leguminosa
chinesa demorou a penetrar no Brasil
LucianaPaiva
hectares. Técnicos da usina uruguaia vêm
participando de reuniões e seminários no
Sul. Em outubro de 2008, a Petroleos de
Venezuela aumentou de 10% para 25%
sua participação nessa usina, denominada
Alcoholes del Uruguay (ALUR), que se
comprometeu a exportar parte de sua
produção para o mercado venezuelano.
O investimento da PDVSA foi de US$ 12
milhões.
O agrônomo Marcos Landell, gerente de
pesquisa de cana no Instituto Agronômico
de Campinas – estação de Ribeirão Preto,
afirma que seria preciso empregar muitos
recursos por largo tempo para obter bons
resultados no melhoramento genético
de variedades de cana aptas a vencer as
restrições climáticas no Rio Grande do
Sul. Ele estima que seria preciso de três
a quatro anos para concluir estudos sobre
canas já adaptadas ao clima gaúcho; e dez
a doze anos para obter melhoramentos a
partir de materiais novos, recolhidos em
outras partes do Brasil.
Central. “Tal como a soja foi tropicalizada
e chegou à Amazônia, a cana pode se dar
bem abaixo do Paralelo 20”, afirma.
Um dos exemplos de aclimatação da
cana apontados pelos gaúchos é Bella
Unión, no noroeste do Uruguai. Ali, há
alguns anos, produz-se álcool de cana,
cultivada inicialmente em três mil hectares
e com previsão de chegar a 10 mil
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38. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200938
E
m 2009 vai fazer 20 anos que
se apagou a chaminé da Agasa,
sigla da Açúcar Gaúcho S.A.,
empreendimento estatal que não conseguiu
realizar o sonho de uma usina açucareira
no Rio Grande do Sul. Apesar de não
produzir sequer um litro de pinga ou um
quilo de rapadura, a chaminé continua de
pé às margens da BR-290 (Free Way) em
Santo Antônio da Patrulha, no litoral norte
do Estado, onde foi erguida há quase meio
século.
No seu melhor ano, a usina
produziu 300 mil sacas de açúcar;
na última safra, 12 mil
Registros de uma ruína
Para a agroindústria canavieira se expandir no Rio Grande do Sul é
fundamental que não siga exemplos como o da Açúcar Gaúcho S. A. (Agasa)
Geraldo Hasse
Fotos: Marcos de Franceschi
Mais do que um símbolo negativo, esse
monolito de tijolos sobre edifícios vazios,
com os telhados já se desmanchando,
representa um questionamento permanente
sobre a viabilidade da agroindústria
canavieira em território gaúcho.
Projetada no início dos anos 1960 pelo
líder trabalhista Leonel Brizola, inaugurada
em 1965 pelo governador Ildo Meneghetti
e desativada em 1989 no governo de
Pedro Simon, a Agasa mantém-se
milagrosamente viva, como uma ponte
com o passado canavieiro do nordeste do
Rio Grande do Sul. Nessa mesma região,
houve outras duas usinas que também não
prosperaram, uma nos anos 1940, outra
nos anos 1920.
Administrada pela prefeitura de Santo
Antônio da Patrulha, que a recebeu do
governo estadual em regime de comodato, a
Agasa tem diretor-presidente, conselheiros,
contador e um zelador chamado Cláudio
Antonio de Souza Santos, que mora numa
das 22 casas da vila da ex-usina. Admitido
como motorista em 1987, Cláudio recebeu
o molho de chaves da Agasa há 18 anos,
no final da sua derradeira safra. Tornou-se
assim uma espécie de testemunha oficial
de um processo de extinção que não se
concretiza.
Até três anos atrás, Cláudio tinha um auxiliar
para a ronda noturna, mas acabou ficando
completamente só em seu trabalho, pois o
vigia também se aposentou, como muitos
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39. 39REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
outros antigos funcionários da usina –
muitos deles ainda moram nas redondezas,
presos ao passado açucareiro do bairro
rural, à beleza da Serra Geral ou ao fascínio
das águas escuras da Lagoa dos Barros,
que ocupa 10 mil hectares nos arredores.
Cintas de aço na chaminé – o zelador
conhece todas as histórias da Agasa,
desde as mais antigas. Por exemplo, se
alguém lhe pergunta por que a chaminé
está envolvida por várias cintas de aço,
ele explica que foi necessário amarrá-la
para evitar o desabamento, na época da
construção da Free Way, nos anos 1970. As
detonações a dinamite abriram uma trinca
no meio da chaminé. A amarração manteve
o monolito de pé.
A rachadura ainda é visível. “Quando
eu era criança e passava por aqui com
meu pai, a caminho de Tramandaí, ficava
impressionado com as filas de caminhões
cheios de cana”, lembra Cláudio, que não
descansou enquanto não arranjou um
emprego na firma dos seus sonhos. Ele
não imaginava que as filas já eram um
dos sintomas de uma bagunça histórica,
fruto de administrações não profissionais,
nomeadas por influência política, ao sabor
dos resultados eleitorais. Isso tudo sem
falar das churrascadas políticas por conta
da casa.
As safras iam de julho a dezembro, mas o
fornecimento de cana era muito irregular –
uma chuva mais forte inviabilizava o tráfego
de caminhões na zona colonial, em cima
da Serra Geral. Além disso, a operação
da usina sujeitava-se a longas panes, por
falhas mecânicas, derrubando o moral
de centenas de fornecedores de cana,
que buscavam ali uma receita certa, com
pagamento em dia, todo ano. Às vezes, na
espera do reparo de uma avaria mecânica
ou por
causa da chuva, perdiam-se toneladas de
cana já cortada na lavoura ou no pátio da
indústria. Uma lástima.
Nem o Proálcool, criado em novembro
de 1975, lhe serviu como alento. Etanol,
Símbolo de um sonho fracassado, a
chaminé da Agasa só está de pé porque foi
envolvida por cintas de aço
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40. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200940
mesmo, a Agasa produziu apenas por três
anos, pois já faltava matéria-prima para
garantir a produção do popular Açúcar
Gaúcho, largamente distribuído em pontos
de varejo do Estado. No seu melhor ano,
a usina fabricou 300 mil sacas de açúcar.
Na última temporada, não passou de 12 mil
sacas. Mesmo diante da morte anunciada,
era grande a torcida para que a usina não
fechasse as portas. Em Santo Antônio da
Patrulha ninguém admitia sua desativação.
O zelador recorda: “O primeiro nomeado
para fechar a usina foi o advogado Ferúlio
Tedesco Neto, depois vereador e prefeito de
Santo Antônio. Para concorrer à Câmara,
ele passou o cargo de liquidante para
Odone Pires, um tipo empreendedor que
resolveu salvar a Agasa, usando os meios
disponíveis na própria usina”.
A Agasa peca pela má localização, apertada entre um morro pedregoso e uma das maiores lagoas do Estado
Último suspiro – sem comprar
equipamentos novos ou contratar pessoal
extra para a safra de 1989, Pires mobilizou
a velha guarda agasiana num verdadeiro
mutirão para reverter o processo de
liquidação. Quando a safra acabou, já no
início de janeiro de 1990, ele mandou
comprar açúcar a granel em São Paulo e o
fez embalar nos sacos do Açúcar Gaúcho.
Disposto a não entregar a rapadura,
colocou os tratores e caminhões da usina
a serviço dos sitiantes da vizinhança, até
ser denunciado na Câmara por usar uma
patrola da Agasa numa lavoura de sua
propriedade, numa várzea vizinha. Assim
acabou o último esforço para reativar
uma usina praticamente inviável. Além
da origem estatal, a Agasa pecava pela
má localização, apertada entre um morro
pedregoso e uma das maiores lagoas do
Rio Grande.
Por incrível que pareça, a liquidação
definitiva ainda depende de medidas
judiciais em andamento. O maior evento
nesse terreno aconteceu em dezembro de
2002, quando foi divulgado o valor (R$ 520
mil) dos equipamentos de fabricação de
açúcar e álcool, penhorados como garantia
de uma dívida trabalhista reclamada por 70
trabalhadores.
Desmanche – uma empresa paulista
especializada na venda de peças para
usinas açucareiras assumiu a dívida
trabalhista e foi autorizada judicialmente
a dispor dos bens da Agasa – sem leilão
público, logo substituído pela venda avulsa
de peças e equipamentos. Todo o material
tido como sucata foi vendido para uma
firma da Grande Porto Alegre. Um turbo-
gerador foi comprado por uma serraria do
Paraná. O restante, num total de quarenta
carretas rodoviárias, foi embarcado aos
poucos para o interior de São Paulo, onde
existe um ativo mercado de reposição de
peças e equipamentos açucareiros. Afinal,
é ali que se concentra o forte da indústria
sucroalcooleira do Brasil.
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41. 41REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Cláudio Santos, zelador da ruína da Agasa,
diante de uma das últimas máquinas que restaram
Depois da retirada dos órgãos vitais da
Agasa – os cinco ternos de moendas,
a destilaria de álcool, as turbinas, os
redutores, as pontes rolantes, os cozedores
de açúcar, tudo fornecido pela Dedini, de
Piracicaba –, houve ainda alguns lances
menores. Um dos derradeiros episódios
desta estória-sem-fim foi a entrega de um
Corcel II branco ano 1982 a um credor de
200 reais. Último carro da diretoria, ele
enguiçara há muitos anos, mas o motor
movido a álcool estava joinha, avalia o
zelador. Num dos cantos do antigo depósito
de açúcar, Cláudio improvisou uma cozinha
com fogões velhos – um a gás, outro a
lenha – doados pela vizinhança.
Uma das maiores ruínas gaúchas, a ex-
Agasa atrai inúmeros curiosos – e alguns
acabam se transformando em usuários
de suas dependências. A antiga portaria é
ocupada há anos pela Polícia Rodoviária
Estadual, que mantém ali um posto de
fiscalização do tráfego da RS-30, bastante
movimentada por caminhões e automóveis
que fogem do pedágio da Free Way. O
prédio da antiga oficina mecânica da usina
foi emprestado à empreiteira responsável
pela manutenção da rodovia. Uma oficina
mecânica dá expediente num dos galpões.
O edifício do antigo centro administrativo
foi cedido há alguns anos a uma indústria
de calçados originária de uma cidade
vizinha. Mais recentemente um pavilhão
atraiu uma metalúrgica de outro município.
Isentos de aluguel graças a essa espécie
de “incentivo municipal” – pois a prefeitura
não desiste de revitalizar a área –, esses
inquilinos oportunistas asseguram algum
movimento à ex-Agasa, mas nada que
permita restaurar o que foi a maior potência
industrial do litoral norte gaúcho há 20
anos.
Se o Rio Grande do Sul montar uma grande
usina de açúcar e álcool, certamente não
será aqui.
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42. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200942
D
edicar-se ao aperfeiçoamento
das operações que envolvam a
área de motomecanização do
setor sucroenergético e ainda identificar
e expressar os interesses aos integrantes
do Gmec, no intuito de proporcionar
produtividade e melhor preservação ao
meio ambiente, foi o tema do encontro do
Gmec que aconteceu na segunda quinzena
de maio, no Centro de Treinamento
da SantelisaVale Bioenergia S/A, em
Sertãozinho, SP.
Equipamentos 100% a etanol
Carregadoras de cana, de sacaria em armazém de açúcar e
moto-bomba de irrigação são alguns experimentos de algumas
usinas com motores movidos a etanol
Jaqueline Stamato Taube
Mais de 60 técnicos
de 25 Usinas marcam
presença no Gmec
A reunião visou a informar aos membros
presentes o atual estado da arte de
motores de média e grande potência
modificados para queimar etanol.
Luiz Nitsch, engenheiro mecânico e
consultor de empresas sucroenergéticas,
mostrou quatro razões básicas
que justificariam tais ações: ecológica,
mercadológica, estratégica e econômica.
“Já faz mais de 100 anos que os motores
de combustão interna são desenhados
e construídos para funcionarem de dois
JaquelineStamato
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43. 43REVISTA CANAMIX | JULHO | 2009
Principais características que diferem os motores Otto e Diesel
* T.C. (taxa de compressão)
Ciclo Otto – 4 tempos Ciclo Diesel – 4 tempos
*T.C. entre 8:1 e 14:1 *T.C. entre 14:1 e 28:1
Manutenção simplificada e de menor custo Manutenção sofisticada e de maior custo
Ignição provocada (centelha elétrica inflama a carga de
combustível + comburente, previamente misturados na
proporção correta)
Ignição espontânea (combustível inflama a medida que entra em
contato com o comburente comprimido e aquecido)
Rotações mais altas Rotações mais baixas
Gera mais potência Gera mais torque
Eficiência térmica de até 44% Eficiência térmica de até 53%
Construção mais leve Construção robusta
Opera com combustível octanico Opera com combustível cetanico
Apoio:
modos ou dois ciclos: Otto e Diesel. Nomes
estes dados em homenagem aos inventores
e que, com o passar do tempo, ocorreram
modificações e melhoramentos, mas a
essência dos sistemas continua a mesma
até hoje e é tranquilamente possível utilizá-
la usando etanol como combustível”,
comentou Nitsch.
De acordo com o engenheiro Nitsch, as
tecnologias atuais de injeção eletrônica
sinalizam a possibilidade de se chegar a
valores de consumo próximos à diferença
energética entre os dois combustíveis
diesel e etanol, que é de 57,4%.
Teoricamente, para uma mesma eficiência
térmica, o motor a etanol consumiria
um volume maior de combustível, ou
seja, esta diferença energética aliada às
imperfeições técnicas na transformação
“caseira” do motor, principalmente aquelas
relacionadas ao formato da câmara de
combustão, rugosidade, aerodinâmica
e aquecimento dos dutos e coletores
de admissão, influenciam nos valores
de consumo volumétrico que ficaram
entre quase inexplicáveis 53%, em seu
melhor desempenho, e 93% no pior
desempenho obtido. No entanto, caso os
Integrantes do Gmec conferem o caminhão
movido a 100% etanol
patamares diferenciais de preços do etanol
e do diesel continuem nos níveis atuais, há
uma significativa economia quando se usa
etanol, além do fator ambiental.
NeribertoSimões
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44. REVISTA CANAMIX | JULHO | 200944
Grupo pioneiro – háalgumtempoinvestindo
isoladamente em projetos para motores a
álcool, o Grupo SantelisaVale Bioenergia
S/A, há dois anos, resolveu focar no uso do
álcool hidratado produzido em suas unidades.
Com a parceria da consultoria Sigma, Retífica
Reunidas e Pandoo Indústria de Eletrônicos
Ltda, o primeiro motor Ciclo Diesel a ser
“ottolizado” inicialmente com carburadores
em motores de potência menor e depois com
a introdução da injeção eletrônica básica,
sinalizou um horizonte promissor.
De acordo com o gerente de manutenção
agrícola da SantelisaVale, Ariano Pereira
Dias, no segundo semestre de 2008, sem
apoio de nenhum fabricante, o Grupo
iniciou este processo em um motor Volvo
420 HP, rodando inicialmente em bancada
por praticamente seis meses passando por
ajustes e regulagens. Este motor está aplicado
no caminhão canavieiro rodando sem carga,
ou seja, sem os conjuntos de semi-reboque.
Trata-se de um cavalo mecânico que está
sendo ajustado para ser colocado em
composição Rodotrem.
“O Grupo está bastante otimista, pois se
trata de um motor 100% a etanol cuja
tecnologia embarcada e o retrabalho no
motor são considerados adequados à
aplicação e com custo benefício bastante
interessante. O importante são as demais
aplicações que estes motores poderão ter
que vão de moto-bombas, já consagrados,
estendendo-se a toda frota. Temos certeza de
estarmos contribuindo com o setor e fazendo
o melhor para o meio ambiente”, declarou
Ariano.
1 - Unidade de controle eletrônico Diesel
2 - Galeria de combustível Diesel
3 - Injetor - Diesel
4 - Bomba de alta pressão - Diesel
5 - Sensor Temp/Pressão - Turbo
6 - Atuador do Turbo
7 - Pedal do acelerador
8 - Sensor de rotação
9 - Sensor de fase
10 - Sensor de Temperatura d’ Água
11 - Bomba elétrica - etanol
12 - Válvula reguladora de pressão etanol
13 - Galeria de combustivel - Etanol
14 - Injetor - Etanol
15 - Sensor Lambda
16 - Unidade de controle eletrônico - Etanol
Sistema Flex - na reunião, o engenheiro
Nitsch aproveitou para comentar sobre
o sistema diesel com combustíveis
alternativos desenvolvido pela Bosch
que permite aos veículos operarem
simultaneamente com diesel/etanol ou
somente diesel. O Sistema Flex ou Sistema
Sigma, como foi batizado algum tempo
atrás, apresenta características como: boa
dirigibilidade, boa curva de torque com
capacidadedecarga,potencialdeeconomia
de combustível, retorno no investimento,
melhor efeito em rotações menores e,
principalmente, redução de fumaça e
ruído. “Um dos principais objetivos da
Bosch é desenvolver tecnologias capazes
de tornar os veículos mais seguros e
confortáveis, combinando ainda maior
desempenho do motor e menos emissões
de poluentes e, principalmente, diminuir
o consumo de combustível de até 30% do
quilômetro rodado”, esclareceu o gerente
de engenharia da Unidade de Sistemas de
Injeção a Diesel da Bosch América Latina,
Sidney de Oliveira. Também foi discorrido
no encontro do Gmec sobre o recente
lançamento na Europa do caminhão P-270
Esquema do Sistema Diesel-Etanol
desenvolvido pela Bosch
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