SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
Revista Canavieiros - Setembro de 2016
5
Marcos Landell
Políticas definidas já!
Maior produtividade e resistência a pragas e ao
estresse hídrico. Estas são algumas característi-
cas desejadas em variedades de cana-de-açúcar.
No entanto, uma variedade que tem chamado a
atenção pelo seu potencial agroenergético é a
cana-energia, produzida por meio de um melho-
ramento genético que resulta em uma cana com
mais fibras e variação na quantidade de açúcar.
O principal destaque da variedade está no uso
para a cogeração de energia e para a produ-
ção de pellets. A Revista Canavieiros conversou
com o pesquisador e diretor do Centro de Cana
do IAC, Marcos Landell, durante o 2º Seminário
sobre Biomassa de Cana-de-Açúcar & Cia sobre
estes e outros assuntos. Confira:
Entrevista I
Revista Canavieiros: Acana-energia
tem se apresentado como uma opção
para aqueles que querem investir em
biomassa. Como o senhor avalia isso?
Marcos Landell: Temos constata-
do que o pessoal apresenta a biomassa
como uma energia viável em termos
econômicos. Tudo o que se falou de
etanol 2G, cogeração e pellets precisa
também de uma política de governo, de
preços ligados a matriz energética. Di-
ferente de alimentos, a política energé-
tica precisa ser muito clara em qualquer
país para que as pessoas possam estabe-
lecer seus negócios.
Percebi que há sim uma possibilida-
de e uma perspectiva muito grande que
também passa pela viabilidade econô-
mica, pois não é possível que se tenha
variações tão grandes no valor da ener-
gia paga. Ninguém sub-existe desta ma-
neira. É preciso ter uma política mais
clara sobre a bioenergia. O segundo
aspecto que salta aos olhos são as opor-
tunidades, principalmente dos pellets.
Parece ser até mais segura e concreta
do que a cogeração, que é o mercado
interno e passa pela política pública da
estratégia de definição de preço e tudo
mais. Também parece que as neces-
sidades do mercado externo são mais
estabelecidas e com políticas de longo
prazo. Dá mais confiança para o produ-
tor associar o seu projeto de biomassa
para entrega fora do país do que dentro
do país. No entanto, tem alguma coisa
errada aí, não deveria ser desta maneira.
Revista Canavieiros: Como estão os
programas de melhoramento genético?
Marcos Landell: Estamos indo para
10 anos de trabalhos em programas de
melhoramento genético voltados para
a cana energia e volto a frisar que ela
também precisa de uma política defini-
da. Se não tivermos isso, não terá se-
quer investimento na indústria que pro-
cessará esta cana que está sendo criada.
A Raízen e a Granbio estão com dificul-
dades em suas indústrias para processar
o etanol 2G em função de um monte de
coisas como o tipo de matéria-prima,
que é muito abrasiva, o problema da
lignina. Esta indústria, na minha visão,
ainda está em formação. Para nós, que
trabalhamos com melhoramento gené-
tico, as nossas ações têm que ter, pelo
menos 10 anos de antecedência, por-
que demora para fazer um novo tipo
de cana. Se ainda não temos sequer a
indústria de transformação claramen-
te estabelecida, imagine daqui a 10
anos! Esse é um dos grandes problemas
que eu vejo, no sentido de definir qual
matéria-prima será construída, qual
o biotipo destas futuras variedades. O
IAC tem trabalhado com tentativas, tem
feito como a Granbio, ninguém está pa-
rado. Está todo mundo fazendo alguma
coisa. É claro que se já tivéssemos uma
indústria redonda, essa sinalização fica-
ria muito melhor para nós construirmos
o biotipo mais adequado para ser pro-
cessado. Como essa indústria ainda não
está bem estabelecida, nosso exercício
fica bem mais complicado, mas esta-
mos trabalhando de maneira dedicada,
com pouquíssimos recursos. Inclusive
este é um dos problemas que vamos le-
var junto ao governo de São Paulo e o
governo federal, pois vemos um hiato
na pesquisa de biomassa, está havendo
uma descontinuidade em alguns pro-
jetos importantes. Esse hiato pode ser
fatal para as nossas pretensões de cres-
cimento no futuro. A bioenergia seria
estratégica para o Brasil, para promover
o crescimento quando as coisas volta-
rem ao normal. Temos que ser rápidos
nestas decisões, tem que ter mais inves-
timento nesta pesquisa para que possa-
mos colher os frutos em cinco ou seis
anos e para nos sustentar na geração de
energia via bioenergia e biomassa.
Revista Canavieiros: Já que o
senhor comentou, como estão os in-
vestimentos?
Marcos Landell: Os acenos dados
nos últimos 15 anos, ainda na parte do
primeiro governo Lula, foram muito
positivos. Todo mundo achou que a
Agroenergia era o grande caminho.
Mas a partir de 2008, tudo o que se
prometeu ficou para trás, as pessoas
Diana Nascimento
Revista Canavieiros - Setembro de 2016
6
começaram a ficar omissas, a política
de governo ficou omissa, o setor fi-
cou fragilizado, não havia política de
preço, o etanol com valor totalmente
desconstruído com a política equivo-
cada da Petrobras em relação ao preço
subsidiado de combustível. Isso fez
com que, de 2008 até recentemente, o
etanol não tivesse praticamente varia-
ção de preço. Produziu-se etanol com
prejuízo e isso assustou os demais,
como a biomassa. A dúvida era se o
Brasil iria produzir mesmo, se queria
produzir energia renovável. Essa era a
grande questão. Isso com certeza afu-
gentou tanto o capital brasileiro quan-
to o capital exterior. Ninguém mais
sentiu confiança.
Se você desconstrói um projeto, que
num primeiro momento estava indo
muito bem, não se retoma de maneira
produtiva tão fácil devido a descon-
fiança. Muita gente perdeu o seu ne-
gócio porque não foram construídos
com o investimento do governo como
foi no Proálcool, foram construídos
com financiamentos privados. Quantas
empresas nacionais se multiplicaram
acreditando que seria um grande negó-
cio? A partir de 2008 elas se descapi-
talizaram a ponto de perder todo o seu
negócio para o banco ou para empre-
sas internacionais. Neste momento é
preciso ter um aceno muito claro, uma
política clara de governo para atrair
novamente o investidor nacional e es-
trangeiro. Também é preciso que os
projetos de pesquisa sejam estimula-
dos para que possamos ter uma bioe-
nergia sustentável no futuro.
Revista Canavieiros: Como seria a
cana dos sonhos para o setor sucroe-
nergético nacional?
Marcos Landell: A cana-de-açúcar
dos sonhos é uma cana bem adaptada a
todo processo mecânico, tanto de plan-
tio quanto de colheita, com alta popula-
ção de colmos, maior longevidade com
grande número de cortes e acima de dez
cortes com valores economicamente
sustentáveis; alto teor de sacarose; boa
resistência a doenças; porte ereto para
ser colhida mais facilmente; que tenha
todas as vantagens de uma cana de alta
produção agroindustrial, mas que tam-
bém tenha os facilitadores para a me-
canização, bom fechamento de entreli-
nhas e bom sombreamento para reduzir
a matocompetição. O produtor pode ter
todas essas adicionalidades em duas va-
riedades de cana com a mesma produ-
tividade agroindustrial e com o mesmo
número de corte, mas uma terá fecha-
mento excepcional e a outra não fecha-
rá, uma terá alta tolerância a herbicidas
e a outra terá alta suscetibilidade. Todas
essas adicionalidades devem ser consi-
deradas para chegar a melhor cana.
Já o fornecedor tem que ter uma cana
que simplifique a vida dele. Não pode
ser uma cana que tenha fechamento
ineficiente, que precise de um segundo
controle de mato, tem que ser uma cana
com alta capacidade de brotação e per-
filhamento mesmo em períodos secos,
pois ele não tem capital para reformar
o canavial todo ano. Tem que ter estas
características para que ele se mantenha
ativo, produtivo e sustentável.
Revista Canavieiros: O senhor
acredita que haverá uma melhora no
setor com o novo governo?
Marcos Landell: Para nossa decep-
ção tivemos, nos últimos anos, uma
política muito confusa em relação a
Agroenergia. Os últimos cinco anos
foram um verdadeiro desastre... Acho
que qualquer ação mais organizada,
bem pontuada e, principalmente, de
médio e longo prazo, com regras cla-
ras, teria tido muito mais sucesso. O
que assistimos foi um verdadeiro de-
sencontro, não sei se por incompetên-
cia ou se foi deliberado, mas o fato é
que o setor tem uma resiliência im-
pressionante. Cada vez que via as coi-
sas acontecendo, empresas fechando
e pessoas perdendo empregos, eu não
conseguia entender o porque. Ações
simples e rápidas não foram tomadas.
Seria melhor ter dito, de forma defini-
da, que não iria promover a bioener-
gia e o agricultor teria outras opções,
correria para outros caminhos e a in-
dústria poderia passar por transforma-
ções e adaptações. O que não pode ter
é algo escuso, intenções ocultas. Isso
não é honesto. Qualquer política mais
definida em relação à Agroenergia e
com regras claras fará muito bem para
o setor e para outros setores do agrone-
gócio nacional.RC

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Políticas definidas já!

Edição 102 dezembro 2014 - Etanol 2G
Edição 102   dezembro 2014 - Etanol 2GEdição 102   dezembro 2014 - Etanol 2G
Edição 102 dezembro 2014 - Etanol 2GRafael Mermejo
 
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199Lela Gomes
 
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757A547e48966b10698a7138b5a31e0a757
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757kaze_no_tani
 
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ
 
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...Antonio Inácio Ferraz
 
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...AgroTalento
 
Plano de Projecto de Investimento
Plano de Projecto de InvestimentoPlano de Projecto de Investimento
Plano de Projecto de InvestimentoWadiley Nascimento
 
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14Fellippe Antonelle
 
ANUÁRIO ABISOLO.pdf
ANUÁRIO ABISOLO.pdfANUÁRIO ABISOLO.pdf
ANUÁRIO ABISOLO.pdfssuserc44a301
 
Fenasucro & Acrocana
Fenasucro & AcrocanaFenasucro & Acrocana
Fenasucro & AcrocanaACIDADE ON
 
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...ANTONIO INACIO FERRAZ
 

Semelhante a Políticas definidas já! (20)

Ed08fev07
Ed08fev07Ed08fev07
Ed08fev07
 
Edição 102 dezembro 2014 - Etanol 2G
Edição 102   dezembro 2014 - Etanol 2GEdição 102   dezembro 2014 - Etanol 2G
Edição 102 dezembro 2014 - Etanol 2G
 
Ed37julho09
Ed37julho09Ed37julho09
Ed37julho09
 
Ed41novembro09
Ed41novembro09Ed41novembro09
Ed41novembro09
 
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199
Youblisher.com 1224451-terra cia-edi_o_199
 
Ed47maio10
Ed47maio10Ed47maio10
Ed47maio10
 
Ed42dezembro09
Ed42dezembro09Ed42dezembro09
Ed42dezembro09
 
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757A547e48966b10698a7138b5a31e0a757
A547e48966b10698a7138b5a31e0a757
 
02_04_2012
02_04_201202_04_2012
02_04_2012
 
Ed68fevereiro12
Ed68fevereiro12Ed68fevereiro12
Ed68fevereiro12
 
Ed27setembro08
Ed27setembro08Ed27setembro08
Ed27setembro08
 
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
 
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...
COMEÇOU A SAFRA 16/17 REVISTA CANA ONLINE-ANTONIO INACIO FERRAZ, TÉCNICO EM E...
 
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
Os principais desafios da distribuição rural no agronegócio do futuro - Profe...
 
Plano de Projecto de Investimento
Plano de Projecto de InvestimentoPlano de Projecto de Investimento
Plano de Projecto de Investimento
 
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14
Pub 20140530170956 mapeamento_quantificacao_safra2013-14
 
ANUÁRIO ABISOLO.pdf
ANUÁRIO ABISOLO.pdfANUÁRIO ABISOLO.pdf
ANUÁRIO ABISOLO.pdf
 
Revista emRede 04, DGADR, 2014
Revista emRede 04, DGADR, 2014Revista emRede 04, DGADR, 2014
Revista emRede 04, DGADR, 2014
 
Fenasucro & Acrocana
Fenasucro & AcrocanaFenasucro & Acrocana
Fenasucro & Acrocana
 
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...
revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e...
 

Mais de Agricultura Sao Paulo

Usina de Lixo Verde tem expectativa de desfecho
Usina de Lixo Verde  tem expectativa de desfechoUsina de Lixo Verde  tem expectativa de desfecho
Usina de Lixo Verde tem expectativa de desfechoAgricultura Sao Paulo
 
Laboratórios de ponta são inaugurados no IAC
Laboratórios de ponta são inaugurados no IACLaboratórios de ponta são inaugurados no IAC
Laboratórios de ponta são inaugurados no IACAgricultura Sao Paulo
 
Globo Rural Responde: Laranja atacada
Globo Rural Responde: Laranja atacadaGlobo Rural Responde: Laranja atacada
Globo Rural Responde: Laranja atacadaAgricultura Sao Paulo
 
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019Agricultura Sao Paulo
 
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e Agosto
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e AgostoChuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e Agosto
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e AgostoAgricultura Sao Paulo
 
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR Nova técnica para cultivo de maracujá no PR
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR Agricultura Sao Paulo
 
Novas Cultivares de uvas para região sul
Novas Cultivares de uvas para região sul     Novas Cultivares de uvas para região sul
Novas Cultivares de uvas para região sul Agricultura Sao Paulo
 
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiro
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiroGlobo Rural Responde:manchas brancas em limoeiro
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiroAgricultura Sao Paulo
 
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agosto
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agostoChuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agosto
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agostoAgricultura Sao Paulo
 
Extremistas não terão vez na agricultura paulista
Extremistas não terão vez na agricultura paulistaExtremistas não terão vez na agricultura paulista
Extremistas não terão vez na agricultura paulistaAgricultura Sao Paulo
 
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custo
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custoAmendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custo
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custoAgricultura Sao Paulo
 
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimento
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimentoPara ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimento
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimentoAgricultura Sao Paulo
 
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados Agricultura Sao Paulo
 
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019Agricultura Sao Paulo
 
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPB
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPBA importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPB
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPBAgricultura Sao Paulo
 
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviaisNematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviaisAgricultura Sao Paulo
 

Mais de Agricultura Sao Paulo (20)

Usina de Lixo Verde tem expectativa de desfecho
Usina de Lixo Verde  tem expectativa de desfechoUsina de Lixo Verde  tem expectativa de desfecho
Usina de Lixo Verde tem expectativa de desfecho
 
Laboratórios de ponta são inaugurados no IAC
Laboratórios de ponta são inaugurados no IACLaboratórios de ponta são inaugurados no IAC
Laboratórios de ponta são inaugurados no IAC
 
Globo Rural Responde: Laranja atacada
Globo Rural Responde: Laranja atacadaGlobo Rural Responde: Laranja atacada
Globo Rural Responde: Laranja atacada
 
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019
IAC/SAA apresenta o censo de irrigação na cana para 2019
 
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e Agosto
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e AgostoChuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e Agosto
Chuvas de Maio de 2019 & previsões para Junho, Julho e Agosto
 
Nova variedades no campo
Nova variedades no campoNova variedades no campo
Nova variedades no campo
 
Batata-Semente produzida no ar
Batata-Semente produzida no arBatata-Semente produzida no ar
Batata-Semente produzida no ar
 
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR Nova técnica para cultivo de maracujá no PR
Nova técnica para cultivo de maracujá no PR
 
Captação de água em debate
Captação de água em debateCaptação de água em debate
Captação de água em debate
 
Novas Cultivares de uvas para região sul
Novas Cultivares de uvas para região sul     Novas Cultivares de uvas para região sul
Novas Cultivares de uvas para região sul
 
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiro
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiroGlobo Rural Responde:manchas brancas em limoeiro
Globo Rural Responde:manchas brancas em limoeiro
 
Captação de água em debate
Captação de água em debateCaptação de água em debate
Captação de água em debate
 
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agosto
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agostoChuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agosto
Chuvas de Abril de 2019 & previsões para junho, julho e agosto
 
Extremistas não terão vez na agricultura paulista
Extremistas não terão vez na agricultura paulistaExtremistas não terão vez na agricultura paulista
Extremistas não terão vez na agricultura paulista
 
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custo
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custoAmendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custo
Amendoim na palha, o caminho para reduzir erosão e custo
 
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimento
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimentoPara ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimento
Para ter raiz profunda é preciso também aprofundar o conhecimento
 
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados
As tecnologias do negócio cana-de-açúcar gerando os melhores resultados
 
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019
Águas de Março de 2019 & previsões para abril a junho de 2019
 
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPB
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPBA importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPB
A importância do manejo dos insumos e agua: desafios na produtividade de MPB
 
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviaisNematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
 

Políticas definidas já!

  • 1. Revista Canavieiros - Setembro de 2016 5 Marcos Landell Políticas definidas já! Maior produtividade e resistência a pragas e ao estresse hídrico. Estas são algumas característi- cas desejadas em variedades de cana-de-açúcar. No entanto, uma variedade que tem chamado a atenção pelo seu potencial agroenergético é a cana-energia, produzida por meio de um melho- ramento genético que resulta em uma cana com mais fibras e variação na quantidade de açúcar. O principal destaque da variedade está no uso para a cogeração de energia e para a produ- ção de pellets. A Revista Canavieiros conversou com o pesquisador e diretor do Centro de Cana do IAC, Marcos Landell, durante o 2º Seminário sobre Biomassa de Cana-de-Açúcar & Cia sobre estes e outros assuntos. Confira: Entrevista I Revista Canavieiros: Acana-energia tem se apresentado como uma opção para aqueles que querem investir em biomassa. Como o senhor avalia isso? Marcos Landell: Temos constata- do que o pessoal apresenta a biomassa como uma energia viável em termos econômicos. Tudo o que se falou de etanol 2G, cogeração e pellets precisa também de uma política de governo, de preços ligados a matriz energética. Di- ferente de alimentos, a política energé- tica precisa ser muito clara em qualquer país para que as pessoas possam estabe- lecer seus negócios. Percebi que há sim uma possibilida- de e uma perspectiva muito grande que também passa pela viabilidade econô- mica, pois não é possível que se tenha variações tão grandes no valor da ener- gia paga. Ninguém sub-existe desta ma- neira. É preciso ter uma política mais clara sobre a bioenergia. O segundo aspecto que salta aos olhos são as opor- tunidades, principalmente dos pellets. Parece ser até mais segura e concreta do que a cogeração, que é o mercado interno e passa pela política pública da estratégia de definição de preço e tudo mais. Também parece que as neces- sidades do mercado externo são mais estabelecidas e com políticas de longo prazo. Dá mais confiança para o produ- tor associar o seu projeto de biomassa para entrega fora do país do que dentro do país. No entanto, tem alguma coisa errada aí, não deveria ser desta maneira. Revista Canavieiros: Como estão os programas de melhoramento genético? Marcos Landell: Estamos indo para 10 anos de trabalhos em programas de melhoramento genético voltados para a cana energia e volto a frisar que ela também precisa de uma política defini- da. Se não tivermos isso, não terá se- quer investimento na indústria que pro- cessará esta cana que está sendo criada. A Raízen e a Granbio estão com dificul- dades em suas indústrias para processar o etanol 2G em função de um monte de coisas como o tipo de matéria-prima, que é muito abrasiva, o problema da lignina. Esta indústria, na minha visão, ainda está em formação. Para nós, que trabalhamos com melhoramento gené- tico, as nossas ações têm que ter, pelo menos 10 anos de antecedência, por- que demora para fazer um novo tipo de cana. Se ainda não temos sequer a indústria de transformação claramen- te estabelecida, imagine daqui a 10 anos! Esse é um dos grandes problemas que eu vejo, no sentido de definir qual matéria-prima será construída, qual o biotipo destas futuras variedades. O IAC tem trabalhado com tentativas, tem feito como a Granbio, ninguém está pa- rado. Está todo mundo fazendo alguma coisa. É claro que se já tivéssemos uma indústria redonda, essa sinalização fica- ria muito melhor para nós construirmos o biotipo mais adequado para ser pro- cessado. Como essa indústria ainda não está bem estabelecida, nosso exercício fica bem mais complicado, mas esta- mos trabalhando de maneira dedicada, com pouquíssimos recursos. Inclusive este é um dos problemas que vamos le- var junto ao governo de São Paulo e o governo federal, pois vemos um hiato na pesquisa de biomassa, está havendo uma descontinuidade em alguns pro- jetos importantes. Esse hiato pode ser fatal para as nossas pretensões de cres- cimento no futuro. A bioenergia seria estratégica para o Brasil, para promover o crescimento quando as coisas volta- rem ao normal. Temos que ser rápidos nestas decisões, tem que ter mais inves- timento nesta pesquisa para que possa- mos colher os frutos em cinco ou seis anos e para nos sustentar na geração de energia via bioenergia e biomassa. Revista Canavieiros: Já que o senhor comentou, como estão os in- vestimentos? Marcos Landell: Os acenos dados nos últimos 15 anos, ainda na parte do primeiro governo Lula, foram muito positivos. Todo mundo achou que a Agroenergia era o grande caminho. Mas a partir de 2008, tudo o que se prometeu ficou para trás, as pessoas Diana Nascimento
  • 2. Revista Canavieiros - Setembro de 2016 6 começaram a ficar omissas, a política de governo ficou omissa, o setor fi- cou fragilizado, não havia política de preço, o etanol com valor totalmente desconstruído com a política equivo- cada da Petrobras em relação ao preço subsidiado de combustível. Isso fez com que, de 2008 até recentemente, o etanol não tivesse praticamente varia- ção de preço. Produziu-se etanol com prejuízo e isso assustou os demais, como a biomassa. A dúvida era se o Brasil iria produzir mesmo, se queria produzir energia renovável. Essa era a grande questão. Isso com certeza afu- gentou tanto o capital brasileiro quan- to o capital exterior. Ninguém mais sentiu confiança. Se você desconstrói um projeto, que num primeiro momento estava indo muito bem, não se retoma de maneira produtiva tão fácil devido a descon- fiança. Muita gente perdeu o seu ne- gócio porque não foram construídos com o investimento do governo como foi no Proálcool, foram construídos com financiamentos privados. Quantas empresas nacionais se multiplicaram acreditando que seria um grande negó- cio? A partir de 2008 elas se descapi- talizaram a ponto de perder todo o seu negócio para o banco ou para empre- sas internacionais. Neste momento é preciso ter um aceno muito claro, uma política clara de governo para atrair novamente o investidor nacional e es- trangeiro. Também é preciso que os projetos de pesquisa sejam estimula- dos para que possamos ter uma bioe- nergia sustentável no futuro. Revista Canavieiros: Como seria a cana dos sonhos para o setor sucroe- nergético nacional? Marcos Landell: A cana-de-açúcar dos sonhos é uma cana bem adaptada a todo processo mecânico, tanto de plan- tio quanto de colheita, com alta popula- ção de colmos, maior longevidade com grande número de cortes e acima de dez cortes com valores economicamente sustentáveis; alto teor de sacarose; boa resistência a doenças; porte ereto para ser colhida mais facilmente; que tenha todas as vantagens de uma cana de alta produção agroindustrial, mas que tam- bém tenha os facilitadores para a me- canização, bom fechamento de entreli- nhas e bom sombreamento para reduzir a matocompetição. O produtor pode ter todas essas adicionalidades em duas va- riedades de cana com a mesma produ- tividade agroindustrial e com o mesmo número de corte, mas uma terá fecha- mento excepcional e a outra não fecha- rá, uma terá alta tolerância a herbicidas e a outra terá alta suscetibilidade. Todas essas adicionalidades devem ser consi- deradas para chegar a melhor cana. Já o fornecedor tem que ter uma cana que simplifique a vida dele. Não pode ser uma cana que tenha fechamento ineficiente, que precise de um segundo controle de mato, tem que ser uma cana com alta capacidade de brotação e per- filhamento mesmo em períodos secos, pois ele não tem capital para reformar o canavial todo ano. Tem que ter estas características para que ele se mantenha ativo, produtivo e sustentável. Revista Canavieiros: O senhor acredita que haverá uma melhora no setor com o novo governo? Marcos Landell: Para nossa decep- ção tivemos, nos últimos anos, uma política muito confusa em relação a Agroenergia. Os últimos cinco anos foram um verdadeiro desastre... Acho que qualquer ação mais organizada, bem pontuada e, principalmente, de médio e longo prazo, com regras cla- ras, teria tido muito mais sucesso. O que assistimos foi um verdadeiro de- sencontro, não sei se por incompetên- cia ou se foi deliberado, mas o fato é que o setor tem uma resiliência im- pressionante. Cada vez que via as coi- sas acontecendo, empresas fechando e pessoas perdendo empregos, eu não conseguia entender o porque. Ações simples e rápidas não foram tomadas. Seria melhor ter dito, de forma defini- da, que não iria promover a bioener- gia e o agricultor teria outras opções, correria para outros caminhos e a in- dústria poderia passar por transforma- ções e adaptações. O que não pode ter é algo escuso, intenções ocultas. Isso não é honesto. Qualquer política mais definida em relação à Agroenergia e com regras claras fará muito bem para o setor e para outros setores do agrone- gócio nacional.RC