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ADMINISTRANDO OS
        INSIGHT
        SAÚDE                MITOS DA ASSISTÊNCIA
                             MÉDICA
                             POR HENRY MINTZBERG   | IMAGEM SHUTTERSTOCK


                             É constante ver no noticiário os obstáculos eminentes relacionados à
                             saúde, à falta de atendimento em hospitais e aos problemas com planos
                             de saúde. No entanto, o caos que muitos países vivem hoje na área tem
                             solução e pode ser contornado.


Henry Mintzberg                               xistem    mui-           palavras, o sucesso é o pro-        reorganizamos e aplicamos a técnica de



                                 E
é um dos autores
mais produtivos da                            tos mitos que            blema, não a falha. Consulte        gerência do mês. Faça isso e tudo acaba-
Administração na                              cercam a Ad-             algumas estatísticas.               rá bem. Mas será que é sempre? Em par-
atualidade, com 16                            ministração.                  Nós estamos vivendo mais,      ticular, experts se esforçam para cooperar
livros publicados, quase
todos considerados                            Por exemplo:             perdendo menos filhos, e isso        com as pressões, mas não oferecem solu-
referências na área. Ele     que os gestores mais velhos               graças aos avanços nos trata-       ções, a maioria aparece com ideias ainda
é professor na McGill        sentam em cima (mas de que?),             mentos médicos. O problema          mais complicadas.
University, co-fundador
do International Master’s    que líderes são mais importan-            é que muitas dessas melhorias           E se, ao invés disso, nós reconhecermos
Program in Practicing        tes que gestores (tente liderar           são caras e nós não queremos        que as mudanças nas assistências médicas
Management, usado            sem gerir), e que as pessoas              pagar por elas – certamente         devem vir de fora das operações, para en-
por institutos de ensino
em Administração no          são recursos humanos (eu sou              não como pessoas saudáveis          tão serem difundidas? Considere, por exem-
Canadá, Inglaterra, Índia,   um ser humano).                           através dos nossos seguros e        plo, as mudanças recentes que fizeram dife-
China e Brasil. Mintzberg        Os mitos cercam também                impostos. Então, o serviço fica      rença, não apenas o corte de custos – essa é
também é responsável
pelo desenvolvimento do      os sistemas de saúde, quando              apertado e o sistema aparenta       a parte fácil – mas a melhoria da qualidade.
curso CoachingOurselves,     destacam que não é menos im-              estar falido. De fato, os proble-   Cirurgias diárias precisam estar no topo
que em solos brasileiros é   portante que um sistema e trata           mas não estão relacionados aos      dessa lista. Essa ideia partiu de clínicos en-
gerenciado pelo Grupo A.
                             da saúde (geralmente é uma co-            serviços de assistência médica      gajados, e não de engenheiros sociais.
www.impm.org
www.coachingourselves.com    leção de tratamentos de doen-             tanto quanto nas intervenções.          Mito 3: Sistemas de saúde podem ser
                             ças). Combine esses dois mitos            Nós consideramos três inter-        consertados com a ajuda de um líder herói.
                             e você chegará à bagunça que              venções: engenharia social, li-     Novos líderes podem ajudar, principalmen-
                             estamos enfrentando no mundo              derança e prática de negócios.      te quando vêm substituir um líder ruim. Mas
                             dos planos de saúde. Vamos co-                Mito 2: O sistema de saúde      o que significa liderança em um ambiente
                             meçar com os mitos de gestão              pode ser reparado com o uso         onde os profissionais têm tanto poder?
                             que prevalecem no sistema de              inteligente da engenharia so-           Em hospitais, por exemplo, médicos
                             saúde, e, em seguida, listare-            cial. O sistema está quebrado       respondem melhor a sua própria hierarquia
                             mos algumas soluções para sair            e os experts precisam consertá-     profissional que as hierarquias de gestores
                             dessa confusão.                           -lo: geralmente pessoas no          ou autoridade formal. Assim, o que pode
                                 Mito 1: O sistema de saú-             “chão”, que conhecem os pro-        ser chamado de “liderança heróica”, um
                             de está falhando. Conver-                 blemas viscerais, mas também        termo que está na moda no mundo dos ne-
                             se com qualquer pessoa, em                especialistas do “alto” – como      gócios, pode ser ruim no âmbito da saúde.
                             qualquer lugar do mundo e ela             economistas, e consultores –,       É muito mais necessário trazer o que cha-
                             lhe dirá isto, mas a verdade é            que acreditam que conhecem          mamos de gestão engajada: gestores que
                             bem o oposto: em muitos luga-             o problema conceitualmente.         são bastante proativos, ajudando outros
                             res do mundo desenvolvido,                Graças a eles, em assistên-         membros a se engajarem.
                             a assistência médica é bem                cia de saúde, nós medimos e             Mito 4: Os problemas do sistema de saú-
                             sucedida – e cara. Em outras              misturamos como loucos, nos         de podem ser resolvidos se ele for tratado


   18        administradores.com                     FEVEREIRO/MARÇO 2013
como um negócio. É uma ideia bastante po-         Será que esses administradores devem      por exemplo, sobre os serviços e onde co-
pular nos Estados Unidos. Talvez nenhum       ter o poder de tomar decisões sobre a com-    locá-los. Mas isso foi construído dentro da
país trate o sistema de saúde mais como um    pra de um equipamento caro, independen-       estrutura e história de cada instituição.
negócio, ou encoraje a competição nesse       te da opinião dos médicos que fazem uso           Hospitais podem se engajar em um pla-
meio. Mas dado o desempenho dos ameri-        dele? Isso nem sempre faz mais sentido do     no estratégico, mas esse é o grande negócio.
canos – bem mais caro que em qualquer ou-     que deixar essas decisões para os próprios    Na minha experiência, isso não conta muito.
tro lugar e cujo desempenho nos rankings é    médicos. Essas escolhas não são financei-      Muitas vezes é só o que chamamos de “bu-
medíocre – nós precisamos usar isso como      ras ou técnicas, mas decisões do hospital,    raco administrativo” – a falta de conexão
um exemplo das maravilhas do mundo com-       que exigem a colaboração de toda a equipe.    entre máquinas de gestão.
petitivo nos sistemas de saúde?               E não se engane: o envolvimento dos médi-
     Em nome da competição, a saúde so-       cos nesse tipo de decisão faz com que eles    REVENDO O ESTILO
fre da individualização: todo profissional e   tomem as rédeas da gestão - assim que nós     DE GERIR: COMO CUIDAR
cada instituição por si. Então vamos tentar   passarmos a ideia de que gestão é algo pra-   MAIS QUE CURAR
algo diferente: assistências médicas fun-     ticado com pessoas chamadas de gestores.      Enfermagem, focada nos cuidados, pode
cionam melhor se não forem tratadas como                                                    ser um modelo mais adequado para ges-
um negócio. Exige cooperação, e não com-      REVENDO A ESTRATÉGIA:                         tão do que a medicina focada na cura.
petição entre instituições. Médicos podem     COMO NÃO SE AVENTU-                           Nossas instituições de assistência médi-
ser bem pagos, mas eles são inteligentes      RAR, O PLANEJAMENTO                           ca, em outras palavras, exigem mais cui-
e capazes de ganhar dinheiro em outro lu-     Se você quer entender o significado de         dados do que cura: o engajamento desses
gar. O que os mantêm no sistema de saú-       estratégia em uma organização como um         gestores faz com que essas instituições
de é o senso de que estão servindo. Isso      hospital, fique longe da maioria dos livros    funcionem de maneira mais suave, me-
se aplica às enfermeiras, que não ganham      sobre o assunto. Eles lhe explicam como       lhor que ter líderes heróicos correndo
tão bem, além de alguns gestores. O que       planejar uma estratégia; reconhecer uma       para consertar os problemas.
acontece quando os hospitais são vistos       aventura estratégica desde o princípio. E         Existe um quadrinho que mostra um
como “fábricas especializadas”, pacientes     de onde isso vem?                             grupo de médicos ao redor de um pacien-
como “consumidores” e médicos como                Raramente de algum gerente “de cima”      te, com a questão: “quem vai abrir?”. Na
“players das indústrias” (como descreveu      e raramente em algum processo de plane-       medicina, nós sabemos quem vai abrir, nos
Herzlinger, em 2006)?                         jamento. Eles vêm em parte das atividades     negócios não. É por isso que a administra-
                                              de aventura dos profissionais: a preocu-       ção é uma prática cooperativa, um estilo
REVENDO A GESTÃO: UMA                         pação sobre uma nova doença aqui, a de-       longe dos líderes heróicos. Administrar
DISTRIBUIÇÃO PELO TOPO                        fesa de um novo tratamento ali. Em ou-        um sistema de saúde deve ser um trabalho
Como observamos no início, a gestão par-      tras palavras, a estratégia de um hospital    contínuo, holístico e voltado ao trabalho
tindo de cima é um mito. Afora os gráficos     está ligada à soma de várias experiências     preventivo, mais que intervencionista, com
onipresentes e os famosos bônus, o que        da equipe de profissionais.                    curas estreitas e radicais.
é a gestão partindo do topo? Nos hospi-           Então aqui, especialmente, é assim que        O que isso deixa claro é que exis-
tais, os administradores do alto escalão      nós distribuímos a gestão: profissionais do    te muita energia e boa vontade no campo
ficam no térreo (talvez para escaparem         térreo, que não são gestores, mas que são     dos sistemas de saúde, para trabalhar com
mais rápido). Estar no topo de uma orga-      responsáveis pela maior parte das iniciati-   colaboração e mais efetividade em nível
nização, não significa que você sabe tudo      vas estratégicas na saúde. Claro que exis-    global e local. Nós precisamos apenas
que acontece nela.                            tem outras estratégias mais convencionais,    deixar de lado os mitos.


                                                                        FEVEREIRO/MARÇO 2013                administradores.com    19

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Administrando os mitos da assistência médica

  • 1. ADMINISTRANDO OS INSIGHT SAÚDE MITOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICA POR HENRY MINTZBERG | IMAGEM SHUTTERSTOCK É constante ver no noticiário os obstáculos eminentes relacionados à saúde, à falta de atendimento em hospitais e aos problemas com planos de saúde. No entanto, o caos que muitos países vivem hoje na área tem solução e pode ser contornado. Henry Mintzberg xistem mui- palavras, o sucesso é o pro- reorganizamos e aplicamos a técnica de E é um dos autores mais produtivos da tos mitos que blema, não a falha. Consulte gerência do mês. Faça isso e tudo acaba- Administração na cercam a Ad- algumas estatísticas. rá bem. Mas será que é sempre? Em par- atualidade, com 16 ministração. Nós estamos vivendo mais, ticular, experts se esforçam para cooperar livros publicados, quase todos considerados Por exemplo: perdendo menos filhos, e isso com as pressões, mas não oferecem solu- referências na área. Ele que os gestores mais velhos graças aos avanços nos trata- ções, a maioria aparece com ideias ainda é professor na McGill sentam em cima (mas de que?), mentos médicos. O problema mais complicadas. University, co-fundador do International Master’s que líderes são mais importan- é que muitas dessas melhorias E se, ao invés disso, nós reconhecermos Program in Practicing tes que gestores (tente liderar são caras e nós não queremos que as mudanças nas assistências médicas Management, usado sem gerir), e que as pessoas pagar por elas – certamente devem vir de fora das operações, para en- por institutos de ensino em Administração no são recursos humanos (eu sou não como pessoas saudáveis tão serem difundidas? Considere, por exem- Canadá, Inglaterra, Índia, um ser humano). através dos nossos seguros e plo, as mudanças recentes que fizeram dife- China e Brasil. Mintzberg Os mitos cercam também impostos. Então, o serviço fica rença, não apenas o corte de custos – essa é também é responsável pelo desenvolvimento do os sistemas de saúde, quando apertado e o sistema aparenta a parte fácil – mas a melhoria da qualidade. curso CoachingOurselves, destacam que não é menos im- estar falido. De fato, os proble- Cirurgias diárias precisam estar no topo que em solos brasileiros é portante que um sistema e trata mas não estão relacionados aos dessa lista. Essa ideia partiu de clínicos en- gerenciado pelo Grupo A. da saúde (geralmente é uma co- serviços de assistência médica gajados, e não de engenheiros sociais. www.impm.org www.coachingourselves.com leção de tratamentos de doen- tanto quanto nas intervenções. Mito 3: Sistemas de saúde podem ser ças). Combine esses dois mitos Nós consideramos três inter- consertados com a ajuda de um líder herói. e você chegará à bagunça que venções: engenharia social, li- Novos líderes podem ajudar, principalmen- estamos enfrentando no mundo derança e prática de negócios. te quando vêm substituir um líder ruim. Mas dos planos de saúde. Vamos co- Mito 2: O sistema de saúde o que significa liderança em um ambiente meçar com os mitos de gestão pode ser reparado com o uso onde os profissionais têm tanto poder? que prevalecem no sistema de inteligente da engenharia so- Em hospitais, por exemplo, médicos saúde, e, em seguida, listare- cial. O sistema está quebrado respondem melhor a sua própria hierarquia mos algumas soluções para sair e os experts precisam consertá- profissional que as hierarquias de gestores dessa confusão. -lo: geralmente pessoas no ou autoridade formal. Assim, o que pode Mito 1: O sistema de saú- “chão”, que conhecem os pro- ser chamado de “liderança heróica”, um de está falhando. Conver- blemas viscerais, mas também termo que está na moda no mundo dos ne- se com qualquer pessoa, em especialistas do “alto” – como gócios, pode ser ruim no âmbito da saúde. qualquer lugar do mundo e ela economistas, e consultores –, É muito mais necessário trazer o que cha- lhe dirá isto, mas a verdade é que acreditam que conhecem mamos de gestão engajada: gestores que bem o oposto: em muitos luga- o problema conceitualmente. são bastante proativos, ajudando outros res do mundo desenvolvido, Graças a eles, em assistên- membros a se engajarem. a assistência médica é bem cia de saúde, nós medimos e Mito 4: Os problemas do sistema de saú- sucedida – e cara. Em outras misturamos como loucos, nos de podem ser resolvidos se ele for tratado 18 administradores.com FEVEREIRO/MARÇO 2013
  • 2. como um negócio. É uma ideia bastante po- Será que esses administradores devem por exemplo, sobre os serviços e onde co- pular nos Estados Unidos. Talvez nenhum ter o poder de tomar decisões sobre a com- locá-los. Mas isso foi construído dentro da país trate o sistema de saúde mais como um pra de um equipamento caro, independen- estrutura e história de cada instituição. negócio, ou encoraje a competição nesse te da opinião dos médicos que fazem uso Hospitais podem se engajar em um pla- meio. Mas dado o desempenho dos ameri- dele? Isso nem sempre faz mais sentido do no estratégico, mas esse é o grande negócio. canos – bem mais caro que em qualquer ou- que deixar essas decisões para os próprios Na minha experiência, isso não conta muito. tro lugar e cujo desempenho nos rankings é médicos. Essas escolhas não são financei- Muitas vezes é só o que chamamos de “bu- medíocre – nós precisamos usar isso como ras ou técnicas, mas decisões do hospital, raco administrativo” – a falta de conexão um exemplo das maravilhas do mundo com- que exigem a colaboração de toda a equipe. entre máquinas de gestão. petitivo nos sistemas de saúde? E não se engane: o envolvimento dos médi- Em nome da competição, a saúde so- cos nesse tipo de decisão faz com que eles REVENDO O ESTILO fre da individualização: todo profissional e tomem as rédeas da gestão - assim que nós DE GERIR: COMO CUIDAR cada instituição por si. Então vamos tentar passarmos a ideia de que gestão é algo pra- MAIS QUE CURAR algo diferente: assistências médicas fun- ticado com pessoas chamadas de gestores. Enfermagem, focada nos cuidados, pode cionam melhor se não forem tratadas como ser um modelo mais adequado para ges- um negócio. Exige cooperação, e não com- REVENDO A ESTRATÉGIA: tão do que a medicina focada na cura. petição entre instituições. Médicos podem COMO NÃO SE AVENTU- Nossas instituições de assistência médi- ser bem pagos, mas eles são inteligentes RAR, O PLANEJAMENTO ca, em outras palavras, exigem mais cui- e capazes de ganhar dinheiro em outro lu- Se você quer entender o significado de dados do que cura: o engajamento desses gar. O que os mantêm no sistema de saú- estratégia em uma organização como um gestores faz com que essas instituições de é o senso de que estão servindo. Isso hospital, fique longe da maioria dos livros funcionem de maneira mais suave, me- se aplica às enfermeiras, que não ganham sobre o assunto. Eles lhe explicam como lhor que ter líderes heróicos correndo tão bem, além de alguns gestores. O que planejar uma estratégia; reconhecer uma para consertar os problemas. acontece quando os hospitais são vistos aventura estratégica desde o princípio. E Existe um quadrinho que mostra um como “fábricas especializadas”, pacientes de onde isso vem? grupo de médicos ao redor de um pacien- como “consumidores” e médicos como Raramente de algum gerente “de cima” te, com a questão: “quem vai abrir?”. Na “players das indústrias” (como descreveu e raramente em algum processo de plane- medicina, nós sabemos quem vai abrir, nos Herzlinger, em 2006)? jamento. Eles vêm em parte das atividades negócios não. É por isso que a administra- de aventura dos profissionais: a preocu- ção é uma prática cooperativa, um estilo REVENDO A GESTÃO: UMA pação sobre uma nova doença aqui, a de- longe dos líderes heróicos. Administrar DISTRIBUIÇÃO PELO TOPO fesa de um novo tratamento ali. Em ou- um sistema de saúde deve ser um trabalho Como observamos no início, a gestão par- tras palavras, a estratégia de um hospital contínuo, holístico e voltado ao trabalho tindo de cima é um mito. Afora os gráficos está ligada à soma de várias experiências preventivo, mais que intervencionista, com onipresentes e os famosos bônus, o que da equipe de profissionais. curas estreitas e radicais. é a gestão partindo do topo? Nos hospi- Então aqui, especialmente, é assim que O que isso deixa claro é que exis- tais, os administradores do alto escalão nós distribuímos a gestão: profissionais do te muita energia e boa vontade no campo ficam no térreo (talvez para escaparem térreo, que não são gestores, mas que são dos sistemas de saúde, para trabalhar com mais rápido). Estar no topo de uma orga- responsáveis pela maior parte das iniciati- colaboração e mais efetividade em nível nização, não significa que você sabe tudo vas estratégicas na saúde. Claro que exis- global e local. Nós precisamos apenas que acontece nela. tem outras estratégias mais convencionais, deixar de lado os mitos. FEVEREIRO/MARÇO 2013 administradores.com 19