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BABEL OU O INÍCIO
SIMBÓLICO: CAMINHOS
PARA UMA PEDAGOGIA
DO SUJEITO
Bernardo Marques & Susana Assunção
2009
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Covilhã, 2009
FICHA TÉCNICA
Título: Babel ou o Início Simbólico:
Caminhos para uma Pedagogia do Sujeito
Autor: Bernardo Marques & Susana Assunção
Colecção: Artigos LUSOSOFIA
Design da Capa: António Rodrigues Tomé
Composição & Paginação: José M. Silva Rosa
Universidade da Beira Interior
Covilhã, 2009
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Babel ou o Início Simbólico:
Caminhos para uma Pedagogia do
Sujeito
Bernardo Marques & Susana Assunção
Conteúdo
1 O Mito ou as Origens do Homem no Mundo Simbólico 3
1.1 Psicoarqueologia do Homem Civilizado . . . . . . 3
1.2 Babel e os Caminhos para a(s) Cultura(s) . . . . . 7
1.3 A Cultura como Universo Simbólico . . . . . . . . 9
2 Por Caminhos Pós-modernos 11
2.1 Cultura e Escola de Frankfurt na era pós-moderna . 11
2.2 Ficções Simbólicas: Babel (Re)interpretado . . . . 13
2.3 Para uma (Pós-)educação . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4 Pedagogia(s) Pós-moderna(s): o Sujeito enquanto
Autor Simbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3 Conclusão 18
4 Referências Bibliográficas 22
3
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4 Bernardo Marques & Susana Assunção
1 O Mito ou as Origens do Homem no
Mundo Simbólico
1.1 Psicoarqueologia do Homem Civilizado
“O que é o homem?” Perante esta questão secular, vários foram
os autores a elaborar diferentes respostas a partir de pressupostos
filosóficos diversos. Apesar de, aparentemente, Kant ter respon-
dido cabalmente à questão, já que esta pergunta era o culminar de
outras três questões – “o que posso conhecer”, “o que devo fazer” e
“o que me é permitido esperar” – que denunciavam o carácter epis-
temológico, ético e estético-político. Num registo diferente da filo-
sofia kantiana centrar-nos-emos no universo pós-moderno, no seu
carácter desvinculativo da supremacia da razão, designadamente o
discurso freudiano e psicanalítico (por si criado) enquanto modo
de interpretação do homem e do seu universo cultural.
Tendo em conta a ambivalência da natureza humana, Freud,
na sua obra Totem e Tabu, descreve uma narrativa que lhe permite
auscultar as “origens” da sociedade que, segundo ele, se centram
em duas questões: a diferença entre animalidade/humanidade, e
“como” aconteceu? (Castoriadis, 1998). Neste sentido, o autor
conta-nos que na horda primitiva, na qual os hominídeos viveriam
sob o domínio de um macho que exercia o seu poder absoluto sobre
as fêmeas, expulsando, castrando ou mesmo matando os rapazes
chegados à maturidade. Todos os seus filhos excluídos consegui-
riam “um dia” formar uma coligação, fortemente impregnada de
homossexualidade, terminando com a morte do próprio pai. Uma
vez perpetuado o crime, seguir-se-ia, através do ritual da ingestão
canibalística do corpo do pai morto – forma imaginária de incor-
porar o seu poder – procedido por um juramento, graças ao qual
aqueles renunciariam tanto à posse das fêmeas do clã como ao as-
sassínio entre membros do mesmo clã. Contudo, e embora os ir-
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mãos odiassem o pai déspota, também o tinham receado, venerado
e amado. Por isto, elegeram um animal para o seu lugar (ou, mais
raramente, um outro objecto), enquanto totem do seu clã, no qual
o assassínio e o consumo do corpo eram banidos.
Denota-se desde já uma ambivalência nos impulsos suscitados
em relação ao pai – por um lado, o amor e a veneração, e, por
outro, o ódio e o receio –, deixando entrever um conflito interno.
Tal ambivalência e compromisso entre dois impulsos em conflito
correspondem ao que Freud apelida de tabu. Os tabus são fenóme-
nos mais primitivos do que as proibições de ordem religiosa e mo-
ral, pois aqueles não aparentam ter qualquer base e são de origem
desconhecida, contudo, os rastos deixados pelos tabus primitivos
permitem-nos enquadrar o poder da psique das proibições morais e
religiosas mais desenvolvidas. É neste sentido que a nascença das
instituições (social, religiosa, moral e artística) é reduzida, em sen-
tido restrito, a duas proibições: a interdição do incesto e do crime
“entre pessoas do mesmo clã”. O tabu contra o incesto origina-se
no complexo de Édipo – o desejo incestuoso da criança masculina
pela mãe é o que é psicologicamente primitivo, e não desaparece
completamente, é reprimido e torna-se inconsciente. É por isso
Freud afirma que o incesto não é uma aversão natural e que este
é que é a chave para compreender o papel que os tabus desempe-
nham na prevenção do incesto. Surge assim uma atitude ambiva-
lente relativamente aos tabus: há um forte desejo para violá-lo e
medo e horror em fazê-lo. Deste modo, a definição de ambivalên-
cia consiste, por um lado, na manutenção de uma oposição do tipo
sim/não, onde a afirmação e negação são simultâneos e insepará-
veis; e, por outro lado, no reconhecimento de que esta oposição
básica é encontrada em vários sectores da vida mental. Em suma,
o conflito edipiano, na sua raiz instintiva, é concebido como um
conflito de ambivalência, cujas dimensões principais são um amor
bem estabelecido e um não menos justificável ódio em relação a
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6 Bernardo Marques & Susana Assunção
uma e mesma pessoa. Esta ambivalência psíquica é universal e não
erradicável (Bernstein, 2002).
Segundo Freud, o dealbar da consciência moral surge igual-
mente com a interdição do incesto, constituindo uma percepção in-
terna da rejeição de um desejo particular que opera dentro de nós,
o que, correlativamente, classifica a consciência de culpa como a
percepção de uma condenação interna de um acto pelo qual exe-
cutamos um desejo particular. A título de exemplo, a origem do
imperativo moral “Não matarás” provém precisamente do mito da
horda primitiva – um mandamento que, paradoxalmente, é fundado
no assassínio violento primordial do pai. Depois do assassínio, os
irmãos reuniram-se em solidariedade para garantirem a segurança
das suas vidas, e, assim, a proibição, baseada na religião, contra
matar o totem (representante do pai assassinado) foi adicionada à
proibição socialmente relacionada contra o fratricídio. Pouco de-
pois, a proibição deixou de estar limitada aos membros do clã e
assumiu a forma simples: “Não matarás”. A horda patriarcal foi
substituída, num primeiro momento, pelo clã fraterno, cuja exis-
tência foi assegurada pelos laços de sangue. A sociedade estava
agora sustentada na cumplicidade com o crime comum, onde a re-
ligião era baseada no sentido de culpa e remorso anexado ao crime,
enquanto a moralidade estava parcialmente assente na exigência da
sociedade e na penitência requerida pelo sentido de culpa. A cons-
ciência de tabu é a forma inicial onde se dá o fenómeno de cons-
ciência moral. Se o mal é caracterizado como a violação das proi-
bições morais, como a violação dos ditames da consciência moral,
então a tentação para o mal nunca é erradicada (Freud, 2001). A
grande lição freudiana é que temos de aprender a viver com esta
profunda e não erradicável ambivalência, não a podemos delimitar
ou controlar racionalmente de forma adequada. Tal lição ficou de-
monstrada na sua obra “Mal-estar das civilizações”, cujo cerne se
encontra diante do conflito que ocorre entre o princípio do prazer
e da realidade, cuja relação privilegiada é a do amor, que leva o
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indivíduo a não querer ver-se privado do seu objecto de desejo. O
princípio da dor surge a partir da não concretização de uma relação
interpessoal. Se, por um lado, o amor é tido como pulsão1
de vida,
manifestando-se através do desejo e da afloração da sexualidade,
por outro lado, a dor instaura-se na pulsão de morte, cujas mani-
festações de agressividade decorrem da incapacidade e insatisfação
de concretização do amor.
A proibição do incesto é um fenómeno onde a natureza se ultra-
passa a si mesma desencadeando um processo cuja acção permite
que uma estrutura de um novo tipo mais complexo se forme e se
sobreponha, integrando as estruturas mais simples que trás da vida
animal. Ela opera dentro de si própria e por si própria constitui
a realização de uma nova ordem. Neste sentido, o factor natu-
ral que é a consanguinidade (representando a estrutura simples da
vida animal) é substituído por um factor cultural: a aliança, o casa-
mento entre determinadas classes de seres (a estrutura mais com-
plexa) (Cardoso e Cunha, 1981). A aliança torna-se um símbolo,
uma atribuição simbólica pelo homem imposta a um objecto, que
passa a ter um significado. Ora, ela repete um carácter que Saus-
sure atribui, na sua obra “Curso Geral de Linguística”, às palavras:
o arbitrário, o que significa que ela é imposta convencionalmente.
É a regra que constitui, portanto, a cultura. É uma lei pela qual a
organização se substitui ao acaso. Entrevê-se aqui o paradigma es-
truturalista, de origem saussuriana, utilizado sistematicamente por
Lévi-Strauss, no campo da antropologia, cuja utilização mostra a
passagem da natureza à cultura.
1
Processo dinâmico que impulsiona o organismo em direcção a uma meta,
pré-existente, podendo dar-se sob a forma de um “instinto” ou de um “querer”
de base não-volitiva e categórica.
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1.2 Babel e os Caminhos para a(s) Cultura(s)
Conforme narrado no Génesis, o primeiro capítulo da Bíblia, exis-
tia uma torre que fora construída pela humanidade com o objectivo
de alcançar os céus. Esta ficou conhecida como Torre de Babel. Tal
diegese reconhece como um todo as suas personagens, isto é, uma
personagem colectiva e sem nome cuja imagem que ela transmite
não interpela senão o sujeito que cada de um de nós é. Nesta al-
tura não podemos falar de Homem, pois os seres que existiam eram
seres sem nome, sem atribuições. Por esta razão, o “humanismo”
encontrava-se longe de alcançar. A única base na qual a inteligên-
cia e o querer destes seres encontrava fundamento era no laborar.
Era no exercício da criação e construção da torre que estes pers-
pectivavam o seu futuro, com o objectivo centrado no alcance do
bem supremo pois, tijolo a tijolo, conseguiriam abrir mais espaço.
Esta é a busca deste homem, uma busca sofrida pelo seu espaço,
pelo seu nome, uma busca que culminava no ser Homem. Mas este
projecto colectivo sofreu alterações ainda enquanto decorria. De
acordo com o mito, Deus cessou este projecto atribuindo a cada ser
uma linguagem diferente. Como desfecho, os seres já não conse-
guiam comunicar entre si e o trabalho parou.
Este inacabamento não foi, de todo, fruto do acaso pois sendo
o homem o agente da sua própria existência, foi ele mesmo que
interrompeu a construção na qual apostara todas as suas probabi-
lidades. Tijolo a tijolo, entre a união e a dispersão, mantida pelo
vínculo a uma única língua, e dividida pela confusão das palavras,
a obra eleva e reconhece o seu próprio futuro (Zumthor, 1998).
É portanto notório e constante um dualismo: começo-cessação,
empreendimento-inacabamento, desejo-abandono, continuidade--
dispersão. Segundo esta perspectiva, o fracasso decorrente deste
processo revela uma inadaptação do homem ao mundo e do mundo
a uma obscura aspiração humana. Mas não será esta a revelação
secreta de uma alienação primordial do homem na sua obra e esta
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a simples prova da sua finitude, quando a ele se afigura algo como
um êxito? Esta questão surge precisamente quando o Homem,
voltando-se para si mesmo, “bebe” da sua própria audácia. Babel
não afirma mas sugere, não ensina mas questiona. É, sem dúvida,
neste contexto que este inacabamento faz emergir a cultura como
um universo simbólico.
Até então o homem desconhecia os seus limites e as suas fon-
tes, ele confiava apenas o seu desabrochar à sua obra pessoal. Desta
forma poder-se-á dizer que a cada instante da história estamos no
começo de Babel. Pois é o Homem, somos nós os construtores
desta eterna Babel, somos nós o começo e o fim, somos nós os de-
tentores do saber que afirma só e apenas uma só língua, também
ela inacabada. O inacabamento não é uma ruptura mas a recusa de
um total cessar, é o não permitir que tudo acabe, mas se mantenha
em aberto.
1.3 A Cultura como Universo Simbólico
Lévi-Strauss, na obra Antropologia Estrutural, definiu os símbo-
los como os equivalentes significativos do significado. O símbolo
supõe uma estrutura dupla, um representante e um representado.
É nesta relação que tanto o estruturalismo como a linguística mo-
derna (Saussure) realçam como sendo primordial, embora a lin-
guística destaque a relação entre o significante e o significado no
signo. Ora, os símbolos são mais reais do que aquilo que sim-
bolizam, já que o significante precede e determina o significado
(Cardoso e Cunha, 1981).
Os factos sociais são simbólicos. Desta forma, a cultura é sim-
bólica pois pode ser considerada como um conjunto de sistemas
simbólicos, como por exemplo a linguagem, as regras matrimoni-
ais, as relações económicas, a arte, a ciência, a religião, entre ou-
tros. Assim, a explicação do símbolo pelo “real” é ilusória, sendo
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10 Bernardo Marques & Susana Assunção
naquela interpretação da cultura que necessitamos instalar-nos, re-
cusando toda e qualquer redução ao naturalismo. Por exemplo, o
mito e o ritual não são para serem compreendidos em função do
real, uma vez que consistem numa organização da experiência sen-
sível no âmbito de um sistema semântico. Tomando outro exemplo
apresentado por Deleuze, as relações irmão/irmã, marido/mulher,
pai/filho e tio materno/filho da irmã constituem a estrutura do pa-
rentesco mais simples cujos elementos não possuem valor determi-
nado à partida, mas determinam-se reciprocamente dentro da rela-
ção.
No campo da linguística, o simbólico identifica-se com a lín-
gua. Tomando a unidade mínima de uma linguagem, o signo lin-
guístico tem uma dimensão triádica: une o conceito (significado)
a uma imagem acústica (significante) e supõe (a coisa), (o real),
mas como que entre parênteses, pois o real, aqui também, é aquilo
que nunca se atinge directamente, mas que está sempre suposto.
Assim sendo, o simbólico identifica-se com a língua, pois têm as
suas regras em si mesmos, não sendo expressões de fenómenos ex-
trínsecos. Segundo Hjelmslev, a língua é uma estrutura onde os
elementos de cada categoria comutam uns com os outros.
Retomando a questão da prescindibilidade de compreender o
simbólico pelo recurso ao “real”, Lévi-Strauss parte do produto,
do resultado, e, em sentido inverso, põe em relação um número
elevado de temas e produtos, hipoteticamente, através de algumas
regras fundamentais. Assim, a análise empírica evidencia as trans-
formações que vão de uma mensagem a outra, ou seja, aquela de-
monstra ou actualiza a correlação que ocorre ao nível do sistema.
Assim, uma vez demonstradas as correlações, pode demonstrar-se
que se trata, do princípio ao fim, do mesmo universo simbólico, ou
seja, o conjunto de lugares e de regras, onde numa determinada cul-
tura, se pode operar, para todos e cada um, a passagem da natureza
à cultura.
Foca-se, tal como a tradição da linguística moderna, do es-
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truturalismo e da psicanálise, a arbitrariedade da relação entre o
significante e o significado (do representante e do representado)
como axioma fundamental para a compreensão do universo sim-
bólico, que, neste caso, toma a forma da cultura. No entanto, tal
como argumenta Lacan, no conjunto da cadeia significante (sendo
que a psicanálise enfatiza o papel da linguagem, a visão lacani-
ana fornece numa resposta de tipo estruturalista), as significações
estabelecem-se apenas de modo parcial. Estando de acordo com o
carácter arbitrário acima referido, afirma que existem alguns pon-
tos de fixação entre o significante e o significado (descrito na sua
teoria dos “points de capiton”). Neste sentido, existe sempre um
eixo que – segundo a psicanálise corresponde à função do com-
plexo de Édipo – permite ao eu e ao mundo organizarem-se, tese
também acolhida por Lévi-Strauss, cuja eleição recai na proibição
(do incesto).
A cultura enquanto produção humana compõe um universo sim-
bólico cuja rede de relações e significações lançam o homem num
mundo codificado e repleto de referentes não-arbitrários (porque
estabelecidos convencionalmente) mas cuja ambivalência (ou mes-
mo plurivalência) de objectos e significados são constantemente
interpretados. Ora, o homem é um produtor de símbolos por exce-
lência, já que estes são o elemento mediador entre si e o mundo. No
caso da religião, Eliade apresenta-nos o ser humano como homo
symbolicus, pois todos os factos religiosos são imbuídos de ca-
rácter simbólico, já que qualquer acto religioso aponta para uma
realidade metaempírica (Eliade, 2006). No campo da arte, Hegel
destaca a arte simbólica como pré-artística e representante de sig-
nificações abstractas, ainda não individualizadas, cujas formas que
lhe pertencem podem ser adequadas ou não. Há um esforço para
engendrar a intuição e representação artísticas, pois a interioridade
do conteúdo é apenas aproximativa, que no caso da arte simbólica
não atinge a divindade na sua completude (Hegel, 1993).
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2 Por Caminhos Pós-modernos
2.1 Cultura e Escola de Frankfurt na era
pós-moderna
De acordo com a Escola de Frankfurt, cujos membros mais co-
nhecidos são Adorno, Horkheimer, Benjamin e Habermas, entre
outros, os sujeitos são seres que criam coisas e experienciam um
mundo transferindo os seus sentimentos para esse mundo e inte-
riorizando a autoridade. No fundo, são seres que produzem, pro-
jectam2
e introjectam3
. Ora, se a dialéctica não constitui uma pro-
priedade intrínseca do mundo, certamente corresponde a uma ca-
racterística do discurso acerca dos sujeitos e objectos. No fundo,
o principal interesse teórico da Escola de Frankfurt foi a tentativa
para investigar a relação entre o desenvolvimento individual, social
e cultural.
Sob o aspecto dialéctico entendido como luta entre sujeitos e
objectos surge a teoria da reificação, elaborada por Lukács, onde
estes últimos parecem ter ganho vantagem sobre os primeiros. Esta
não é apenas uma teoria de uma falsa objectividade mas que vai
mais além e argumenta que os objectos são mal interpretados, pois
2
De acordo com a psicanálise, a projecção é o mecanismo de defesa que
consiste em atribuir a terceiros ou ao mundo que o rodeia os erros ou desejos
pessoais. In Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa, Versão 2.0a,
Abril de 2007.
3
Segundo a psicanálise, é o processo de identificação por meio do qual uma
pessoa absorve, como parte integrante do ego, objectos e qualidades inerentes a
esses objectos; direcção afectiva dos impulsos e reacções de uma pessoa, mais
para uma imagem subjectiva e internalizada de um objecto do que para o próprio
objecto. Já segundo a sociologia, é o processo por meio do qual uma pessoa
incorpora a seu pensamento valores, crenças etc. de outras pessoas ou grupos
(deixando-se influenciar por eles, mas não a ponto de assimilá-los como parte
integrante da própria personalidade). In id., ibid.
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retornam para o sujeito corrompendo-lhe a experiência. Quando
Lukács, autor pós-marxista, elaborou a teoria da reificação, foi a
partir da teoria marxista da fetichização da mercadoria na qual a
tese central era obscurecer do escrutínio público a origem dos ob-
jectos em produção e a sua intenção em satisfazer as necessidades
(Levin, 1991).
Nesta linha de pensamento, os teóricos críticos (institucional-
mente apelidados de Escola de Frankfurt) afirmam que o envolvi-
mento e compromisso com a investigação da realidade é um pré-
requisito da sua “objectividade”, isto é, não caracterizam a objecti-
vidade no desinteresse, enquanto livre de qualquer valor, mas pre-
cisamente no interesse, no conceber a objectividade como “mo-
mento” na prática transformativa com vista a criar um mundo mais
humano. Ora, este desafio de tornar real a nossa humanidade e em-
penho contínuo para um mundo melhor deve ser realizado tendo
em conta a ausência de um telos, ou um sentido último. A Escola
de Frankfurt não elabora um niilismo vazio, como é correntemente
interpretado, mas reflecte a recusa, tal como na tradição judaica, de
criar imagens de Deus, traduzindo-se na recusa de um ideal posi-
tivo ou utopia. Tal ideal pode ser facilmente usado para justificar
violência ou injustiça, pois qualquer tentativa para realizar algum
ideal representado parece ser sinónimo de utilização de algum exer-
cício de terror (Blake & Masschelein, 2002). Tal elaboração foi
detalhadamente discutida por Adorno e Horkheimer na sua obra
“Dialéctica do Esclarecimento”, redigida no pós-II Guerra Mun-
dial, num ensaio para tentar compreender como havia sido possível
o emergir de uma figura como Hitler, e todas as atrocidades come-
tidas pelo regime nazi. É com base nestas condições, acrescida
pelo facto de os membros da Escola de Frankfurt serem judeus de
origem alemã, quase todos forçados a abandonar a Alemanha por
causa da perseguição. Nesta perspectiva, uma possível pedagogia
crítica (porque enunciada pelos autores da Teoria Crítica) poderá
ser desenhada como possuindo um carácter emancipatório, como
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14 Bernardo Marques & Susana Assunção
um processo transformativo rumo a uma libertação da “falsa cons-
ciência” acerca dos processos do capitalismo.
2.2 Ficções Simbólicas: Babel (Re)interpretado
O problema nuclear do filme Babel realizado pelo cineasta mexi-
cano Alejandro González Iñárritu assenta sobre a questão da comu-
nicação, ou melhor, na ausência de comunicação entre as persona-
gens, seres potencialmente dialógicos. Enquanto personagens re-
veladoras de características muito similares às existentes no mundo,
isto é, longe de serem criações arbitrárias ou irrealistas, apontam
para as dimensões mais reais da nossa existência na sociedade ac-
tual.
Tendo em conta o problema nuclear do filme em questão, na-
turalmente somos levados a colocar em causa um dos conceitos
centrais da teoria de Habermas e seus seguidores – a razão comu-
nicativa – pois defendiam vivamente o seu poder e virtudes. Ha-
bermas encontra-se também associado à Teoria Crítica da Escola
de Frankfurt, mencionada anteriormente, sendo que um tema per-
passa a obra de todos eles: a crítica radical à sociedade industrial
moderna. Este autor procura superar o conceito de racionalidade
instrumental, ampliando o conceito de razão para o de uma ra-
zão que contém em si as possibilidades de reconciliação consigo
mesma: a razão comunicativa. Assim, concebe a razão comunica-
tiva e a acção comunicativa ou seja, a comunicação livre, racional
e crítica que sobrevém como uma alternativa à razão instrumen-
tal e superação da razão iluminista "aprisionada"pela lógica instru-
mental encobridora do domínio. Todavia, ao assistirmos a Babel
deparamo-nos com um cenário absolutamente diferente pois toda a
atmosfera que nos envolve na trama do filme advém, precisamente,
da incapacidade de as personagens comunicarem umas com as ou-
tras, isto é, de as próprias não exercerem a sua “razão comunica-
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tiva”. O fascínio do espectador surge exactamente devido a esta
atmosfera envolvente e simultaneamente angustiante, que não per-
mite desviar de uma história na qual as personagens interagem en-
tre si sem que se ouçam nem reconheçam o outro, mesmo que este
outro seja aquele que compreende as razões que nos fazem mover.
A título de exemplo, a personagem Chieko, a adolescente japo-
nesa surda-muda, ilustra o quão insignificante e complexa se torna
a comunicação entre os seres. Num mundo de surdos, não terá
qualquer efeito exercer a “acção comunicativa” visto estarmos pe-
rante um mundo povoado por indivíduos que não se entendem, o
qual se transformará num mundo silencioso e não por acaso, num
mundo intitulado de Babel. Para além da questão da acção comu-
nicativa, o respectivo filme encaminha-nos também na direcção da
“coisificação” dos padrões sociais, sendo esta entendida como uma
analogia à visão defendida por Marx e a qual ele intitula de forma-
mercadoria. Esta última surge em defesa da teoria de que as coisas
são “superiores” às pessoas, da desigualdade que se faz sentir em
lugar da igualdade, da opressão em lugar da convivência demo-
crática. A preponderância tanto da mercadoria, da desconfiança e
da opressão revelam-se de forma concreta no objecto/símbolo em
torno do qual todo o enredo do filme gira: a arma.
2.3 Para uma (Pós-)educação
Podemos caracterizar a sociedade contemporânea utilizando pa-
lavras como crise, ruptura, desordem, entre outras. Contrabalan-
çadas com estas surgem outras características como a excelência,
qualidade e eficácia. E é exactamente desta forma que o acto edu-
cativo deve ser entendido, isto é, como um todo, como um conjunto
de dimensões da mais variada ordem. As práticas educativas não
podem nem devem descorar esta totalidade. É portanto iminente
conduzir um debate aprofundado acerca do agir pedagógico prin-
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cipalmente em tempos difíceis como este da pós-modernidade, isto
porque a pratica pedagógica é uma estrutura que se forma continu-
amente tendo como perspectiva o desenvolvimento do indivíduo e
o respeito pelos outros.
Não sendo, portanto, tarefa fácil, o acto educativo é parado-
xal, isto é, encontra-se, desde o século XVI, preso numa antino-
mia existente entre dois elementos opostos: o da humanização e
o da socialização. Presentemente, o objectivo será o de demons-
trar como se trata a passagem de um estado designado de sujeito-
agente, o qual está submetido ao sistema, ao de um sujeito-actor,
isto é, um sujeito capaz de interpretar o seu papel social de forma
activa embora ainda não decisor ou até mesmo a um sujeito-autor,
aquele que é criador do seu mundo (Pourtois & Desmet, 1999).
Na verdade, o propósito que se pretende atingir é o desenvol-
vimento da humanidade em cada ser humano, e este objectivo não
cabe apenas à escola ou ao educador, mas sim à família, à socie-
dade, a todos. E esta emergência toma ainda mais sentido no con-
texto paradoxal em que vivemos, o qual é cada vez mais estigma-
tizado pelo aumento da pobreza e da exclusão, como também pelo
aumento da riqueza e da eficácia da sociedade global. A dimensão
simbólica irrompe como capital neste processo de explicação da
exclusão e da desigualdade, pois estão declinados pela sociedade e
encontram-se marcados por uma identidade negativa. É este sen-
timento de insucesso, de decadência que acentua um progressivo
retrocesso, estabelecendo-se assim um ciclo vicioso, extraordina-
riamente complicado de quebrar. Num tal contexto, a educação
tem imperativamente que mudar, pretendendo avistar uma socie-
dade na qual cada um tem um lugar a ocupar, participando como
cidadão activo, e é precisamente aqui que o sujeito-actor ou mesmo
o sujeito-autor encontra o seu lugar.
A tarefa educativa ganha portanto uma importância acrescida
nesta nova sociedade, e a este propósito é essencial focar a ques-
tão abordada pela Comissão Internacional para a Educação, erigida
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pela Unesco em 1993, Que tipo de educação será necessária no sé-
culo XX e para que tipo de sociedade? (Charlot & Beilerot, 1995,
p.31):
Educação e Cultura: que via tomar para o domínio de si próprio
e para a compreensão do mundo?
Educação e cidadania: como pode a educação forjar cidadãos
livres e responsáveis?
Educação e coesão social: o que pode fazer a educação para
facilitar a coesão social, quando esta se encontra ameaçada não
apenas nos países em vias de desenvolvimento, como também nos
países ricos?
Educação, trabalho e emprego: de que conhecimentos e de que
experiencia terão os indivíduos necessidade, para participar activa-
mente na economia e no mercado de emprego?
Educação e desenvolvimento: como pode a educação contri-
buir não apenas para o progresso, como também para a difusão
equilibrada deste em todo o tecido económico e social?
Educação, investigação e ciência: como fazer para que cada in-
divíduo tenha a possibilidade de assimilar aquilo que, no progresso
científico e tecnológico, responde às necessidades do seu trabalho
e da sua vida quotidiana?
Pensar a educação nos dias que correm inclui questionarmo-
nos e confrontarmo-nos com contendas psicológicas, económicas,
culturais, sociais e simbólicas, cujos elementos são vários e anti-
nómicos mas com o propósito de se encontrar formas de liberdade,
de igualdade, de dignidade e de bem-estar.
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18 Bernardo Marques & Susana Assunção
2.4 Pedagogia(s) Pós-moderna(s): o Sujeito
enquanto Autor Simbólico
Face à dispersão da modernidade, o universo pós-moderno será,
inevitavelmente, complexo. Os seus dois grandes sustentáculos são
a racionalização e a objectivação. Assim, assiste-se a um volte-
face relativamente à modernidade, a qual pode ser descrita como
uma racionalidade instrumental na qual o homem é reprimido pela
ciência e pela técnica onde a noção de sujeito e de subjectividade
são declinadas, para se dar importância à emergência do próprio
sujeito. O que agora está em jogo é o sujeito, entendido como
actor e autor. O interesse do mundo pós-moderno parte de uma
possível, essencial e crescente interacção entre o sujeito, a razão, a
subjectividade e a objectividade, fazendo-as dialogar entre si.
É na sinergia existente entre estas duas perspectivas – subjec-
tiva, agora entendida como epistemológica, e a objectiva, identi-
ficada com a metodológica – que se empenham as pesquisas ci-
entíficas da pós-modernidade. Não só ocorreram mudanças neste
domínio mas também noutros, designadamente, no social, cultu-
ral e pedagógico. O reconhecimento do sujeito-autor mantém-se e
impõe-se, dando-se a passagem da existência de um si integrado na
sociedade e participante na obra colectiva para um eu, um sujeito
actor e autor de uma vida pessoal. Quando estas duas instâncias
se articulam dão origem ao eu mesmo, cuja construção integra o
sujeito e o indivíduo formando um actor social. O mundo pós-
moderno não faz a distinção entre sujeito individual e respectivas
funções sociais, sendo a grande missão da sociedade pós-moderna
precisamente o não permitir a absorção de uma dimensão pela ou-
tra.
Relembrando que a dispersão e fragmentação são característi-
cas da modernidade, e não querendo reportá-las para os dias que
correm, torna-se necessário questionar a possibilidade de uma uni-
dade entre cada um dos fragmentos do passado. Trata-se de en-
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Babel ou o Início Simbólico... 19
contrar um princípio integrador no seio deste universo dissolvido.
Para Edgar Morin, deverá desenvolver-se um espaço “intermédio”,
de forma a que, simultaneamente, se aproximem e afastem os pó-
los divergentes, fazendo-os retroagir e actuar, estabelecendo desta
forma ligações entre os elementos contraditórios. O que se torna
importante neste cenário de pós-modernidade é a criação de uma
mediação, pois esta é indispensável para restaurar o espaço inter-
médio entre os termos do paradoxo.
3 Conclusão
A perspectiva apresentada anteriormente conduz à complexidade,
cuja inscrição num espaço intermédio onde os termos agem por re-
troacção com vista a uma produção (dialecticamente) nova, rejei-
tando assim a univocidade e totalidade de uma só pedagogia para
dar lugar a um pensamento contra-hegemónico, ou seja, plural e
integrador das contradições que constituem a acção pedagógica na
pós-modernidade.
Uma tal opção pela complexidade provém de uma inquietude
pós-babeliana, a luta contra a fragmentação incomunicativa das di-
ferentes culturas, pretendendo uma consciencialização das pessoas,
que implica uma maturidade, conducente a uma luta contra as re-
sistências e contra a ansiedade e até mesmo angústia causada pela
perda de certeza. Não obstante, só a partir desta integração através
da mediação é possível enfrentar este mundo em mutação constante
e cada vez mais rápida.
Ora, já não se trata de transferir noções de uma determinada
língua para outra, ou mesmo de instituir uma única língua, ou seja,
não se trata de uma linguagem unidimensional, mas trata-se de,
virtualmente, incrementar um poliglotismo. Apesar de muitos dos
referenciais se caracterizarem pela sua heterogeneidade e pela sua
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20 Bernardo Marques & Susana Assunção
incompatibilidade manifesta, trata-se de conceber uma abordagem
complexa. A par deste movimento pós-moderno com base na mul-
tirreferencialidade, mediação e consequente complexidade, temos
de (re)equacionar o papel e o ethos do próprio sujeito. Tal como
temos vindo a desenvolver desde o início do trabalho, este sujeito
é constituído a partir de interdições (incesto e assassínio), narrados
no mito freudiano. Queremos dizer que o sujeito forma-se pelo
nascimento do universo simbólico, do seu acto simbólico atribu-
tivo, aquando da eleição do um totem e das duas leis (com base
nos tabus ou interdições já referidas). Se este mito nos permitiu
asseverar a natureza do ser humano, mostrando uma passagem (da
animalidade à humanidade, ou mesmo da natureza à cultura), o
mito de Babel permite-nos compreender a essência da própria cul-
tura ou culturas, simbolicamente instituídas a partir de uma des-
truição (que se pretende reparador, embora se entenda igualmente
o acto de destruição de Deus como um castigo ou punição). Do
mito freudiano recuperamos a ambivalência, não erradicável, da
natureza humana, a saber, a procura do prazer e a recusa da dor
que se manifestam nas pulsões de vida e de morte. Sem cair em
maniqueísmos, entendemos tal constatação como um movimento
dialéctico, uma subsunção (o Aufhebung hegeliano) destes dois ele-
mentos, que pela sua constante recuperação enformam a própria ci-
vilização. Apelando, por outro lado, ao mito babeliano, queremos,
tomando em conta a característica supracitada, recuperar a inelutá-
vel passagem da ambivalência de cada homem, agora sujeito por-
que autor da sua própria cultura, para uma multirreferencialidade,
embora aparentemente contraditórias, se integram, por via da me-
diação, para manifestar uma hibridação da própria cultura, de certa
forma antecipável pela própria estrutura simbólica em que esta as-
senta.
Por fim, apresentámos uma crítica ao filme Babel, que nos per-
mite destilar não só o estado actual do sujeito e da própria con-
dição da sociedade, a qual destacamos, por um lado, a fragmen-
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Babel ou o Início Simbólico... 21
tação que conduz a uma incomunicação, perdida algures entre as
fendas do universo simbólico da cultura ou culturas. Trata-se, no
fundo, de analisar, apropriar e pedagogicamente ordenar um es-
paço, não-físico mas simbólico, que serve de mediação entre su-
jeitos, cultura(s), cuja assemblagem constitui a essência da própria
sociedade. Tal espaço é designado, por Morin, como o espaço in-
termediário caracterizado pela retroacção dos pólos.
Em tom de conclusão, o acto pedagógico-educativo, relevante
pelo carácter perfectível do ser humano, assume-se como legítimo
pois constitui a ferramenta mais poderosa de que dispomos para
agir no espaço intermédio simbólico, onde se dá a constituição, in-
teracção e modificação dos elementos intervenientes. Se, tal como
Benjamin nos informa, “não existe um documento de cultura que
não tenha sido simultaneamente um documento de barbárie”, então
a nossa resposta a tal paradoxo, e, em última instância, ambivalên-
cia (caracterizadora do ser humano, da cultura e da sociedade) é
dada através do acto pedagógico, que simultaneamente congrega e
torna imperativa a questão dos direito humanos. Mais do que ins-
trumentos jurídico-normativos, estes devem ser entendidos como
eixo condutor e estruturante desse mesmo palco que é o espaço
intermediário de que temos vindo a falar.
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22 Bernardo Marques & Susana Assunção
4 Referências Bibliográficas
• BAUDRILLARD, J. (1996). O Crime Perfeito. Lisboa: Reló-
gio D’Água.
• BERNSTEIN, R. (2002). Radical Evil: A Philosophical In-
terrogation. New Jersey: Polity Press.
• BLAKE, N.; MASSCHELEIN, J. (2002). “Critical Theory and
Critical Pedagogy”, in BLAKE, N.; SMEYERS, P.; SMITH, R.
& STANDISH, P. (2002). The Blackwell Guide to Philosophy
of Education. New Jersey: Wiley-Blackwell, pp. 38-56.
• CARDOSO E CUNHA, B. (1981). Psicanálise e Estrutura-
lismo. Lisboa: Assírio e Alvim.
• CASTORIADIS, C. (1998). A Ascensão da Insignificância.
Lisboa: Bizâncio.
• CHARLOT, B.; BEILLEROT, J. (orgs.). (1995). La construc-
tion des politiques d’éducation et de formation. Paris: PUF.
• ELIADE, M. (2006). O Sagrado e o Profano. Lisboa: Livros
do Brasil.
• FREUD, S. (2001). Totem e Tabu. Lisboa: Relógio D’Água.
• HEGEL, G. W. F. (1993). Estética (I-VII). Lisboa: Guima-
rães Editora
• KRISTEVA, J. (1982). “Psychoanalysis and the Polis”, in
Critical Inquiry, 9, pp. 77-92.
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Babel ou o Início Simbólico... 23
• LEVIN, C. (1991). BAUDRILLARD, “Critical Theory and
Psychoanalysis??, in KROKER, A. & M. (1991). Ideology
and Power. Montreal: New World Perspectives, pp. 170-
187.
• POURTOIS, J.-P. ; DESMET, H. (1999). A Educação Pós-
Moderna. Lisboa: Instituto Piaget.
• ROBERTS. J. (2004). “The Dialectic of Enlightenment??,
in RUSH, F. (2004). The Cambridge Companion to Critical
Theory. Cambridge: CUP, pp. 57-73.
• ZUMTHOR, P. (1998). Babel ou o Inacabamento. Lisboa:
Bizâncio.
Referências Multimédia
• IÑARRITÚ, G. (Argumentista, Produtor, Realizador). (2006).
Babel. [Filme]. EUA: Paramount Pictures
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Babel ou o Início Simbólico

  • 1. i i i i i i i i www.lusosofia.net BABEL OU O INÍCIO SIMBÓLICO: CAMINHOS PARA UMA PEDAGOGIA DO SUJEITO Bernardo Marques & Susana Assunção 2009
  • 3. i i i i i i i i Covilhã, 2009 FICHA TÉCNICA Título: Babel ou o Início Simbólico: Caminhos para uma Pedagogia do Sujeito Autor: Bernardo Marques & Susana Assunção Colecção: Artigos LUSOSOFIA Design da Capa: António Rodrigues Tomé Composição & Paginação: José M. Silva Rosa Universidade da Beira Interior Covilhã, 2009
  • 5. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico: Caminhos para uma Pedagogia do Sujeito Bernardo Marques & Susana Assunção Conteúdo 1 O Mito ou as Origens do Homem no Mundo Simbólico 3 1.1 Psicoarqueologia do Homem Civilizado . . . . . . 3 1.2 Babel e os Caminhos para a(s) Cultura(s) . . . . . 7 1.3 A Cultura como Universo Simbólico . . . . . . . . 9 2 Por Caminhos Pós-modernos 11 2.1 Cultura e Escola de Frankfurt na era pós-moderna . 11 2.2 Ficções Simbólicas: Babel (Re)interpretado . . . . 13 2.3 Para uma (Pós-)educação . . . . . . . . . . . . . . 15 2.4 Pedagogia(s) Pós-moderna(s): o Sujeito enquanto Autor Simbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3 Conclusão 18 4 Referências Bibliográficas 22 3
  • 6. i i i i i i i i 4 Bernardo Marques & Susana Assunção 1 O Mito ou as Origens do Homem no Mundo Simbólico 1.1 Psicoarqueologia do Homem Civilizado “O que é o homem?” Perante esta questão secular, vários foram os autores a elaborar diferentes respostas a partir de pressupostos filosóficos diversos. Apesar de, aparentemente, Kant ter respon- dido cabalmente à questão, já que esta pergunta era o culminar de outras três questões – “o que posso conhecer”, “o que devo fazer” e “o que me é permitido esperar” – que denunciavam o carácter epis- temológico, ético e estético-político. Num registo diferente da filo- sofia kantiana centrar-nos-emos no universo pós-moderno, no seu carácter desvinculativo da supremacia da razão, designadamente o discurso freudiano e psicanalítico (por si criado) enquanto modo de interpretação do homem e do seu universo cultural. Tendo em conta a ambivalência da natureza humana, Freud, na sua obra Totem e Tabu, descreve uma narrativa que lhe permite auscultar as “origens” da sociedade que, segundo ele, se centram em duas questões: a diferença entre animalidade/humanidade, e “como” aconteceu? (Castoriadis, 1998). Neste sentido, o autor conta-nos que na horda primitiva, na qual os hominídeos viveriam sob o domínio de um macho que exercia o seu poder absoluto sobre as fêmeas, expulsando, castrando ou mesmo matando os rapazes chegados à maturidade. Todos os seus filhos excluídos consegui- riam “um dia” formar uma coligação, fortemente impregnada de homossexualidade, terminando com a morte do próprio pai. Uma vez perpetuado o crime, seguir-se-ia, através do ritual da ingestão canibalística do corpo do pai morto – forma imaginária de incor- porar o seu poder – procedido por um juramento, graças ao qual aqueles renunciariam tanto à posse das fêmeas do clã como ao as- sassínio entre membros do mesmo clã. Contudo, e embora os ir- www.lusosofia.net
  • 7. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 5 mãos odiassem o pai déspota, também o tinham receado, venerado e amado. Por isto, elegeram um animal para o seu lugar (ou, mais raramente, um outro objecto), enquanto totem do seu clã, no qual o assassínio e o consumo do corpo eram banidos. Denota-se desde já uma ambivalência nos impulsos suscitados em relação ao pai – por um lado, o amor e a veneração, e, por outro, o ódio e o receio –, deixando entrever um conflito interno. Tal ambivalência e compromisso entre dois impulsos em conflito correspondem ao que Freud apelida de tabu. Os tabus são fenóme- nos mais primitivos do que as proibições de ordem religiosa e mo- ral, pois aqueles não aparentam ter qualquer base e são de origem desconhecida, contudo, os rastos deixados pelos tabus primitivos permitem-nos enquadrar o poder da psique das proibições morais e religiosas mais desenvolvidas. É neste sentido que a nascença das instituições (social, religiosa, moral e artística) é reduzida, em sen- tido restrito, a duas proibições: a interdição do incesto e do crime “entre pessoas do mesmo clã”. O tabu contra o incesto origina-se no complexo de Édipo – o desejo incestuoso da criança masculina pela mãe é o que é psicologicamente primitivo, e não desaparece completamente, é reprimido e torna-se inconsciente. É por isso Freud afirma que o incesto não é uma aversão natural e que este é que é a chave para compreender o papel que os tabus desempe- nham na prevenção do incesto. Surge assim uma atitude ambiva- lente relativamente aos tabus: há um forte desejo para violá-lo e medo e horror em fazê-lo. Deste modo, a definição de ambivalên- cia consiste, por um lado, na manutenção de uma oposição do tipo sim/não, onde a afirmação e negação são simultâneos e insepará- veis; e, por outro lado, no reconhecimento de que esta oposição básica é encontrada em vários sectores da vida mental. Em suma, o conflito edipiano, na sua raiz instintiva, é concebido como um conflito de ambivalência, cujas dimensões principais são um amor bem estabelecido e um não menos justificável ódio em relação a www.lusosofia.net
  • 8. i i i i i i i i 6 Bernardo Marques & Susana Assunção uma e mesma pessoa. Esta ambivalência psíquica é universal e não erradicável (Bernstein, 2002). Segundo Freud, o dealbar da consciência moral surge igual- mente com a interdição do incesto, constituindo uma percepção in- terna da rejeição de um desejo particular que opera dentro de nós, o que, correlativamente, classifica a consciência de culpa como a percepção de uma condenação interna de um acto pelo qual exe- cutamos um desejo particular. A título de exemplo, a origem do imperativo moral “Não matarás” provém precisamente do mito da horda primitiva – um mandamento que, paradoxalmente, é fundado no assassínio violento primordial do pai. Depois do assassínio, os irmãos reuniram-se em solidariedade para garantirem a segurança das suas vidas, e, assim, a proibição, baseada na religião, contra matar o totem (representante do pai assassinado) foi adicionada à proibição socialmente relacionada contra o fratricídio. Pouco de- pois, a proibição deixou de estar limitada aos membros do clã e assumiu a forma simples: “Não matarás”. A horda patriarcal foi substituída, num primeiro momento, pelo clã fraterno, cuja exis- tência foi assegurada pelos laços de sangue. A sociedade estava agora sustentada na cumplicidade com o crime comum, onde a re- ligião era baseada no sentido de culpa e remorso anexado ao crime, enquanto a moralidade estava parcialmente assente na exigência da sociedade e na penitência requerida pelo sentido de culpa. A cons- ciência de tabu é a forma inicial onde se dá o fenómeno de cons- ciência moral. Se o mal é caracterizado como a violação das proi- bições morais, como a violação dos ditames da consciência moral, então a tentação para o mal nunca é erradicada (Freud, 2001). A grande lição freudiana é que temos de aprender a viver com esta profunda e não erradicável ambivalência, não a podemos delimitar ou controlar racionalmente de forma adequada. Tal lição ficou de- monstrada na sua obra “Mal-estar das civilizações”, cujo cerne se encontra diante do conflito que ocorre entre o princípio do prazer e da realidade, cuja relação privilegiada é a do amor, que leva o www.lusosofia.net
  • 9. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 7 indivíduo a não querer ver-se privado do seu objecto de desejo. O princípio da dor surge a partir da não concretização de uma relação interpessoal. Se, por um lado, o amor é tido como pulsão1 de vida, manifestando-se através do desejo e da afloração da sexualidade, por outro lado, a dor instaura-se na pulsão de morte, cujas mani- festações de agressividade decorrem da incapacidade e insatisfação de concretização do amor. A proibição do incesto é um fenómeno onde a natureza se ultra- passa a si mesma desencadeando um processo cuja acção permite que uma estrutura de um novo tipo mais complexo se forme e se sobreponha, integrando as estruturas mais simples que trás da vida animal. Ela opera dentro de si própria e por si própria constitui a realização de uma nova ordem. Neste sentido, o factor natu- ral que é a consanguinidade (representando a estrutura simples da vida animal) é substituído por um factor cultural: a aliança, o casa- mento entre determinadas classes de seres (a estrutura mais com- plexa) (Cardoso e Cunha, 1981). A aliança torna-se um símbolo, uma atribuição simbólica pelo homem imposta a um objecto, que passa a ter um significado. Ora, ela repete um carácter que Saus- sure atribui, na sua obra “Curso Geral de Linguística”, às palavras: o arbitrário, o que significa que ela é imposta convencionalmente. É a regra que constitui, portanto, a cultura. É uma lei pela qual a organização se substitui ao acaso. Entrevê-se aqui o paradigma es- truturalista, de origem saussuriana, utilizado sistematicamente por Lévi-Strauss, no campo da antropologia, cuja utilização mostra a passagem da natureza à cultura. 1 Processo dinâmico que impulsiona o organismo em direcção a uma meta, pré-existente, podendo dar-se sob a forma de um “instinto” ou de um “querer” de base não-volitiva e categórica. www.lusosofia.net
  • 10. i i i i i i i i 8 Bernardo Marques & Susana Assunção 1.2 Babel e os Caminhos para a(s) Cultura(s) Conforme narrado no Génesis, o primeiro capítulo da Bíblia, exis- tia uma torre que fora construída pela humanidade com o objectivo de alcançar os céus. Esta ficou conhecida como Torre de Babel. Tal diegese reconhece como um todo as suas personagens, isto é, uma personagem colectiva e sem nome cuja imagem que ela transmite não interpela senão o sujeito que cada de um de nós é. Nesta al- tura não podemos falar de Homem, pois os seres que existiam eram seres sem nome, sem atribuições. Por esta razão, o “humanismo” encontrava-se longe de alcançar. A única base na qual a inteligên- cia e o querer destes seres encontrava fundamento era no laborar. Era no exercício da criação e construção da torre que estes pers- pectivavam o seu futuro, com o objectivo centrado no alcance do bem supremo pois, tijolo a tijolo, conseguiriam abrir mais espaço. Esta é a busca deste homem, uma busca sofrida pelo seu espaço, pelo seu nome, uma busca que culminava no ser Homem. Mas este projecto colectivo sofreu alterações ainda enquanto decorria. De acordo com o mito, Deus cessou este projecto atribuindo a cada ser uma linguagem diferente. Como desfecho, os seres já não conse- guiam comunicar entre si e o trabalho parou. Este inacabamento não foi, de todo, fruto do acaso pois sendo o homem o agente da sua própria existência, foi ele mesmo que interrompeu a construção na qual apostara todas as suas probabi- lidades. Tijolo a tijolo, entre a união e a dispersão, mantida pelo vínculo a uma única língua, e dividida pela confusão das palavras, a obra eleva e reconhece o seu próprio futuro (Zumthor, 1998). É portanto notório e constante um dualismo: começo-cessação, empreendimento-inacabamento, desejo-abandono, continuidade-- dispersão. Segundo esta perspectiva, o fracasso decorrente deste processo revela uma inadaptação do homem ao mundo e do mundo a uma obscura aspiração humana. Mas não será esta a revelação secreta de uma alienação primordial do homem na sua obra e esta www.lusosofia.net
  • 11. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 9 a simples prova da sua finitude, quando a ele se afigura algo como um êxito? Esta questão surge precisamente quando o Homem, voltando-se para si mesmo, “bebe” da sua própria audácia. Babel não afirma mas sugere, não ensina mas questiona. É, sem dúvida, neste contexto que este inacabamento faz emergir a cultura como um universo simbólico. Até então o homem desconhecia os seus limites e as suas fon- tes, ele confiava apenas o seu desabrochar à sua obra pessoal. Desta forma poder-se-á dizer que a cada instante da história estamos no começo de Babel. Pois é o Homem, somos nós os construtores desta eterna Babel, somos nós o começo e o fim, somos nós os de- tentores do saber que afirma só e apenas uma só língua, também ela inacabada. O inacabamento não é uma ruptura mas a recusa de um total cessar, é o não permitir que tudo acabe, mas se mantenha em aberto. 1.3 A Cultura como Universo Simbólico Lévi-Strauss, na obra Antropologia Estrutural, definiu os símbo- los como os equivalentes significativos do significado. O símbolo supõe uma estrutura dupla, um representante e um representado. É nesta relação que tanto o estruturalismo como a linguística mo- derna (Saussure) realçam como sendo primordial, embora a lin- guística destaque a relação entre o significante e o significado no signo. Ora, os símbolos são mais reais do que aquilo que sim- bolizam, já que o significante precede e determina o significado (Cardoso e Cunha, 1981). Os factos sociais são simbólicos. Desta forma, a cultura é sim- bólica pois pode ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, como por exemplo a linguagem, as regras matrimoni- ais, as relações económicas, a arte, a ciência, a religião, entre ou- tros. Assim, a explicação do símbolo pelo “real” é ilusória, sendo www.lusosofia.net
  • 12. i i i i i i i i 10 Bernardo Marques & Susana Assunção naquela interpretação da cultura que necessitamos instalar-nos, re- cusando toda e qualquer redução ao naturalismo. Por exemplo, o mito e o ritual não são para serem compreendidos em função do real, uma vez que consistem numa organização da experiência sen- sível no âmbito de um sistema semântico. Tomando outro exemplo apresentado por Deleuze, as relações irmão/irmã, marido/mulher, pai/filho e tio materno/filho da irmã constituem a estrutura do pa- rentesco mais simples cujos elementos não possuem valor determi- nado à partida, mas determinam-se reciprocamente dentro da rela- ção. No campo da linguística, o simbólico identifica-se com a lín- gua. Tomando a unidade mínima de uma linguagem, o signo lin- guístico tem uma dimensão triádica: une o conceito (significado) a uma imagem acústica (significante) e supõe (a coisa), (o real), mas como que entre parênteses, pois o real, aqui também, é aquilo que nunca se atinge directamente, mas que está sempre suposto. Assim sendo, o simbólico identifica-se com a língua, pois têm as suas regras em si mesmos, não sendo expressões de fenómenos ex- trínsecos. Segundo Hjelmslev, a língua é uma estrutura onde os elementos de cada categoria comutam uns com os outros. Retomando a questão da prescindibilidade de compreender o simbólico pelo recurso ao “real”, Lévi-Strauss parte do produto, do resultado, e, em sentido inverso, põe em relação um número elevado de temas e produtos, hipoteticamente, através de algumas regras fundamentais. Assim, a análise empírica evidencia as trans- formações que vão de uma mensagem a outra, ou seja, aquela de- monstra ou actualiza a correlação que ocorre ao nível do sistema. Assim, uma vez demonstradas as correlações, pode demonstrar-se que se trata, do princípio ao fim, do mesmo universo simbólico, ou seja, o conjunto de lugares e de regras, onde numa determinada cul- tura, se pode operar, para todos e cada um, a passagem da natureza à cultura. Foca-se, tal como a tradição da linguística moderna, do es- www.lusosofia.net
  • 13. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 11 truturalismo e da psicanálise, a arbitrariedade da relação entre o significante e o significado (do representante e do representado) como axioma fundamental para a compreensão do universo sim- bólico, que, neste caso, toma a forma da cultura. No entanto, tal como argumenta Lacan, no conjunto da cadeia significante (sendo que a psicanálise enfatiza o papel da linguagem, a visão lacani- ana fornece numa resposta de tipo estruturalista), as significações estabelecem-se apenas de modo parcial. Estando de acordo com o carácter arbitrário acima referido, afirma que existem alguns pon- tos de fixação entre o significante e o significado (descrito na sua teoria dos “points de capiton”). Neste sentido, existe sempre um eixo que – segundo a psicanálise corresponde à função do com- plexo de Édipo – permite ao eu e ao mundo organizarem-se, tese também acolhida por Lévi-Strauss, cuja eleição recai na proibição (do incesto). A cultura enquanto produção humana compõe um universo sim- bólico cuja rede de relações e significações lançam o homem num mundo codificado e repleto de referentes não-arbitrários (porque estabelecidos convencionalmente) mas cuja ambivalência (ou mes- mo plurivalência) de objectos e significados são constantemente interpretados. Ora, o homem é um produtor de símbolos por exce- lência, já que estes são o elemento mediador entre si e o mundo. No caso da religião, Eliade apresenta-nos o ser humano como homo symbolicus, pois todos os factos religiosos são imbuídos de ca- rácter simbólico, já que qualquer acto religioso aponta para uma realidade metaempírica (Eliade, 2006). No campo da arte, Hegel destaca a arte simbólica como pré-artística e representante de sig- nificações abstractas, ainda não individualizadas, cujas formas que lhe pertencem podem ser adequadas ou não. Há um esforço para engendrar a intuição e representação artísticas, pois a interioridade do conteúdo é apenas aproximativa, que no caso da arte simbólica não atinge a divindade na sua completude (Hegel, 1993). www.lusosofia.net
  • 14. i i i i i i i i 12 Bernardo Marques & Susana Assunção 2 Por Caminhos Pós-modernos 2.1 Cultura e Escola de Frankfurt na era pós-moderna De acordo com a Escola de Frankfurt, cujos membros mais co- nhecidos são Adorno, Horkheimer, Benjamin e Habermas, entre outros, os sujeitos são seres que criam coisas e experienciam um mundo transferindo os seus sentimentos para esse mundo e inte- riorizando a autoridade. No fundo, são seres que produzem, pro- jectam2 e introjectam3 . Ora, se a dialéctica não constitui uma pro- priedade intrínseca do mundo, certamente corresponde a uma ca- racterística do discurso acerca dos sujeitos e objectos. No fundo, o principal interesse teórico da Escola de Frankfurt foi a tentativa para investigar a relação entre o desenvolvimento individual, social e cultural. Sob o aspecto dialéctico entendido como luta entre sujeitos e objectos surge a teoria da reificação, elaborada por Lukács, onde estes últimos parecem ter ganho vantagem sobre os primeiros. Esta não é apenas uma teoria de uma falsa objectividade mas que vai mais além e argumenta que os objectos são mal interpretados, pois 2 De acordo com a psicanálise, a projecção é o mecanismo de defesa que consiste em atribuir a terceiros ou ao mundo que o rodeia os erros ou desejos pessoais. In Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa, Versão 2.0a, Abril de 2007. 3 Segundo a psicanálise, é o processo de identificação por meio do qual uma pessoa absorve, como parte integrante do ego, objectos e qualidades inerentes a esses objectos; direcção afectiva dos impulsos e reacções de uma pessoa, mais para uma imagem subjectiva e internalizada de um objecto do que para o próprio objecto. Já segundo a sociologia, é o processo por meio do qual uma pessoa incorpora a seu pensamento valores, crenças etc. de outras pessoas ou grupos (deixando-se influenciar por eles, mas não a ponto de assimilá-los como parte integrante da própria personalidade). In id., ibid. www.lusosofia.net
  • 15. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 13 retornam para o sujeito corrompendo-lhe a experiência. Quando Lukács, autor pós-marxista, elaborou a teoria da reificação, foi a partir da teoria marxista da fetichização da mercadoria na qual a tese central era obscurecer do escrutínio público a origem dos ob- jectos em produção e a sua intenção em satisfazer as necessidades (Levin, 1991). Nesta linha de pensamento, os teóricos críticos (institucional- mente apelidados de Escola de Frankfurt) afirmam que o envolvi- mento e compromisso com a investigação da realidade é um pré- requisito da sua “objectividade”, isto é, não caracterizam a objecti- vidade no desinteresse, enquanto livre de qualquer valor, mas pre- cisamente no interesse, no conceber a objectividade como “mo- mento” na prática transformativa com vista a criar um mundo mais humano. Ora, este desafio de tornar real a nossa humanidade e em- penho contínuo para um mundo melhor deve ser realizado tendo em conta a ausência de um telos, ou um sentido último. A Escola de Frankfurt não elabora um niilismo vazio, como é correntemente interpretado, mas reflecte a recusa, tal como na tradição judaica, de criar imagens de Deus, traduzindo-se na recusa de um ideal posi- tivo ou utopia. Tal ideal pode ser facilmente usado para justificar violência ou injustiça, pois qualquer tentativa para realizar algum ideal representado parece ser sinónimo de utilização de algum exer- cício de terror (Blake & Masschelein, 2002). Tal elaboração foi detalhadamente discutida por Adorno e Horkheimer na sua obra “Dialéctica do Esclarecimento”, redigida no pós-II Guerra Mun- dial, num ensaio para tentar compreender como havia sido possível o emergir de uma figura como Hitler, e todas as atrocidades come- tidas pelo regime nazi. É com base nestas condições, acrescida pelo facto de os membros da Escola de Frankfurt serem judeus de origem alemã, quase todos forçados a abandonar a Alemanha por causa da perseguição. Nesta perspectiva, uma possível pedagogia crítica (porque enunciada pelos autores da Teoria Crítica) poderá ser desenhada como possuindo um carácter emancipatório, como www.lusosofia.net
  • 16. i i i i i i i i 14 Bernardo Marques & Susana Assunção um processo transformativo rumo a uma libertação da “falsa cons- ciência” acerca dos processos do capitalismo. 2.2 Ficções Simbólicas: Babel (Re)interpretado O problema nuclear do filme Babel realizado pelo cineasta mexi- cano Alejandro González Iñárritu assenta sobre a questão da comu- nicação, ou melhor, na ausência de comunicação entre as persona- gens, seres potencialmente dialógicos. Enquanto personagens re- veladoras de características muito similares às existentes no mundo, isto é, longe de serem criações arbitrárias ou irrealistas, apontam para as dimensões mais reais da nossa existência na sociedade ac- tual. Tendo em conta o problema nuclear do filme em questão, na- turalmente somos levados a colocar em causa um dos conceitos centrais da teoria de Habermas e seus seguidores – a razão comu- nicativa – pois defendiam vivamente o seu poder e virtudes. Ha- bermas encontra-se também associado à Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, mencionada anteriormente, sendo que um tema per- passa a obra de todos eles: a crítica radical à sociedade industrial moderna. Este autor procura superar o conceito de racionalidade instrumental, ampliando o conceito de razão para o de uma ra- zão que contém em si as possibilidades de reconciliação consigo mesma: a razão comunicativa. Assim, concebe a razão comunica- tiva e a acção comunicativa ou seja, a comunicação livre, racional e crítica que sobrevém como uma alternativa à razão instrumen- tal e superação da razão iluminista "aprisionada"pela lógica instru- mental encobridora do domínio. Todavia, ao assistirmos a Babel deparamo-nos com um cenário absolutamente diferente pois toda a atmosfera que nos envolve na trama do filme advém, precisamente, da incapacidade de as personagens comunicarem umas com as ou- tras, isto é, de as próprias não exercerem a sua “razão comunica- www.lusosofia.net
  • 17. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 15 tiva”. O fascínio do espectador surge exactamente devido a esta atmosfera envolvente e simultaneamente angustiante, que não per- mite desviar de uma história na qual as personagens interagem en- tre si sem que se ouçam nem reconheçam o outro, mesmo que este outro seja aquele que compreende as razões que nos fazem mover. A título de exemplo, a personagem Chieko, a adolescente japo- nesa surda-muda, ilustra o quão insignificante e complexa se torna a comunicação entre os seres. Num mundo de surdos, não terá qualquer efeito exercer a “acção comunicativa” visto estarmos pe- rante um mundo povoado por indivíduos que não se entendem, o qual se transformará num mundo silencioso e não por acaso, num mundo intitulado de Babel. Para além da questão da acção comu- nicativa, o respectivo filme encaminha-nos também na direcção da “coisificação” dos padrões sociais, sendo esta entendida como uma analogia à visão defendida por Marx e a qual ele intitula de forma- mercadoria. Esta última surge em defesa da teoria de que as coisas são “superiores” às pessoas, da desigualdade que se faz sentir em lugar da igualdade, da opressão em lugar da convivência demo- crática. A preponderância tanto da mercadoria, da desconfiança e da opressão revelam-se de forma concreta no objecto/símbolo em torno do qual todo o enredo do filme gira: a arma. 2.3 Para uma (Pós-)educação Podemos caracterizar a sociedade contemporânea utilizando pa- lavras como crise, ruptura, desordem, entre outras. Contrabalan- çadas com estas surgem outras características como a excelência, qualidade e eficácia. E é exactamente desta forma que o acto edu- cativo deve ser entendido, isto é, como um todo, como um conjunto de dimensões da mais variada ordem. As práticas educativas não podem nem devem descorar esta totalidade. É portanto iminente conduzir um debate aprofundado acerca do agir pedagógico prin- www.lusosofia.net
  • 18. i i i i i i i i 16 Bernardo Marques & Susana Assunção cipalmente em tempos difíceis como este da pós-modernidade, isto porque a pratica pedagógica é uma estrutura que se forma continu- amente tendo como perspectiva o desenvolvimento do indivíduo e o respeito pelos outros. Não sendo, portanto, tarefa fácil, o acto educativo é parado- xal, isto é, encontra-se, desde o século XVI, preso numa antino- mia existente entre dois elementos opostos: o da humanização e o da socialização. Presentemente, o objectivo será o de demons- trar como se trata a passagem de um estado designado de sujeito- agente, o qual está submetido ao sistema, ao de um sujeito-actor, isto é, um sujeito capaz de interpretar o seu papel social de forma activa embora ainda não decisor ou até mesmo a um sujeito-autor, aquele que é criador do seu mundo (Pourtois & Desmet, 1999). Na verdade, o propósito que se pretende atingir é o desenvol- vimento da humanidade em cada ser humano, e este objectivo não cabe apenas à escola ou ao educador, mas sim à família, à socie- dade, a todos. E esta emergência toma ainda mais sentido no con- texto paradoxal em que vivemos, o qual é cada vez mais estigma- tizado pelo aumento da pobreza e da exclusão, como também pelo aumento da riqueza e da eficácia da sociedade global. A dimensão simbólica irrompe como capital neste processo de explicação da exclusão e da desigualdade, pois estão declinados pela sociedade e encontram-se marcados por uma identidade negativa. É este sen- timento de insucesso, de decadência que acentua um progressivo retrocesso, estabelecendo-se assim um ciclo vicioso, extraordina- riamente complicado de quebrar. Num tal contexto, a educação tem imperativamente que mudar, pretendendo avistar uma socie- dade na qual cada um tem um lugar a ocupar, participando como cidadão activo, e é precisamente aqui que o sujeito-actor ou mesmo o sujeito-autor encontra o seu lugar. A tarefa educativa ganha portanto uma importância acrescida nesta nova sociedade, e a este propósito é essencial focar a ques- tão abordada pela Comissão Internacional para a Educação, erigida www.lusosofia.net
  • 19. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 17 pela Unesco em 1993, Que tipo de educação será necessária no sé- culo XX e para que tipo de sociedade? (Charlot & Beilerot, 1995, p.31): Educação e Cultura: que via tomar para o domínio de si próprio e para a compreensão do mundo? Educação e cidadania: como pode a educação forjar cidadãos livres e responsáveis? Educação e coesão social: o que pode fazer a educação para facilitar a coesão social, quando esta se encontra ameaçada não apenas nos países em vias de desenvolvimento, como também nos países ricos? Educação, trabalho e emprego: de que conhecimentos e de que experiencia terão os indivíduos necessidade, para participar activa- mente na economia e no mercado de emprego? Educação e desenvolvimento: como pode a educação contri- buir não apenas para o progresso, como também para a difusão equilibrada deste em todo o tecido económico e social? Educação, investigação e ciência: como fazer para que cada in- divíduo tenha a possibilidade de assimilar aquilo que, no progresso científico e tecnológico, responde às necessidades do seu trabalho e da sua vida quotidiana? Pensar a educação nos dias que correm inclui questionarmo- nos e confrontarmo-nos com contendas psicológicas, económicas, culturais, sociais e simbólicas, cujos elementos são vários e anti- nómicos mas com o propósito de se encontrar formas de liberdade, de igualdade, de dignidade e de bem-estar. www.lusosofia.net
  • 20. i i i i i i i i 18 Bernardo Marques & Susana Assunção 2.4 Pedagogia(s) Pós-moderna(s): o Sujeito enquanto Autor Simbólico Face à dispersão da modernidade, o universo pós-moderno será, inevitavelmente, complexo. Os seus dois grandes sustentáculos são a racionalização e a objectivação. Assim, assiste-se a um volte- face relativamente à modernidade, a qual pode ser descrita como uma racionalidade instrumental na qual o homem é reprimido pela ciência e pela técnica onde a noção de sujeito e de subjectividade são declinadas, para se dar importância à emergência do próprio sujeito. O que agora está em jogo é o sujeito, entendido como actor e autor. O interesse do mundo pós-moderno parte de uma possível, essencial e crescente interacção entre o sujeito, a razão, a subjectividade e a objectividade, fazendo-as dialogar entre si. É na sinergia existente entre estas duas perspectivas – subjec- tiva, agora entendida como epistemológica, e a objectiva, identi- ficada com a metodológica – que se empenham as pesquisas ci- entíficas da pós-modernidade. Não só ocorreram mudanças neste domínio mas também noutros, designadamente, no social, cultu- ral e pedagógico. O reconhecimento do sujeito-autor mantém-se e impõe-se, dando-se a passagem da existência de um si integrado na sociedade e participante na obra colectiva para um eu, um sujeito actor e autor de uma vida pessoal. Quando estas duas instâncias se articulam dão origem ao eu mesmo, cuja construção integra o sujeito e o indivíduo formando um actor social. O mundo pós- moderno não faz a distinção entre sujeito individual e respectivas funções sociais, sendo a grande missão da sociedade pós-moderna precisamente o não permitir a absorção de uma dimensão pela ou- tra. Relembrando que a dispersão e fragmentação são característi- cas da modernidade, e não querendo reportá-las para os dias que correm, torna-se necessário questionar a possibilidade de uma uni- dade entre cada um dos fragmentos do passado. Trata-se de en- www.lusosofia.net
  • 21. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 19 contrar um princípio integrador no seio deste universo dissolvido. Para Edgar Morin, deverá desenvolver-se um espaço “intermédio”, de forma a que, simultaneamente, se aproximem e afastem os pó- los divergentes, fazendo-os retroagir e actuar, estabelecendo desta forma ligações entre os elementos contraditórios. O que se torna importante neste cenário de pós-modernidade é a criação de uma mediação, pois esta é indispensável para restaurar o espaço inter- médio entre os termos do paradoxo. 3 Conclusão A perspectiva apresentada anteriormente conduz à complexidade, cuja inscrição num espaço intermédio onde os termos agem por re- troacção com vista a uma produção (dialecticamente) nova, rejei- tando assim a univocidade e totalidade de uma só pedagogia para dar lugar a um pensamento contra-hegemónico, ou seja, plural e integrador das contradições que constituem a acção pedagógica na pós-modernidade. Uma tal opção pela complexidade provém de uma inquietude pós-babeliana, a luta contra a fragmentação incomunicativa das di- ferentes culturas, pretendendo uma consciencialização das pessoas, que implica uma maturidade, conducente a uma luta contra as re- sistências e contra a ansiedade e até mesmo angústia causada pela perda de certeza. Não obstante, só a partir desta integração através da mediação é possível enfrentar este mundo em mutação constante e cada vez mais rápida. Ora, já não se trata de transferir noções de uma determinada língua para outra, ou mesmo de instituir uma única língua, ou seja, não se trata de uma linguagem unidimensional, mas trata-se de, virtualmente, incrementar um poliglotismo. Apesar de muitos dos referenciais se caracterizarem pela sua heterogeneidade e pela sua www.lusosofia.net
  • 22. i i i i i i i i 20 Bernardo Marques & Susana Assunção incompatibilidade manifesta, trata-se de conceber uma abordagem complexa. A par deste movimento pós-moderno com base na mul- tirreferencialidade, mediação e consequente complexidade, temos de (re)equacionar o papel e o ethos do próprio sujeito. Tal como temos vindo a desenvolver desde o início do trabalho, este sujeito é constituído a partir de interdições (incesto e assassínio), narrados no mito freudiano. Queremos dizer que o sujeito forma-se pelo nascimento do universo simbólico, do seu acto simbólico atribu- tivo, aquando da eleição do um totem e das duas leis (com base nos tabus ou interdições já referidas). Se este mito nos permitiu asseverar a natureza do ser humano, mostrando uma passagem (da animalidade à humanidade, ou mesmo da natureza à cultura), o mito de Babel permite-nos compreender a essência da própria cul- tura ou culturas, simbolicamente instituídas a partir de uma des- truição (que se pretende reparador, embora se entenda igualmente o acto de destruição de Deus como um castigo ou punição). Do mito freudiano recuperamos a ambivalência, não erradicável, da natureza humana, a saber, a procura do prazer e a recusa da dor que se manifestam nas pulsões de vida e de morte. Sem cair em maniqueísmos, entendemos tal constatação como um movimento dialéctico, uma subsunção (o Aufhebung hegeliano) destes dois ele- mentos, que pela sua constante recuperação enformam a própria ci- vilização. Apelando, por outro lado, ao mito babeliano, queremos, tomando em conta a característica supracitada, recuperar a inelutá- vel passagem da ambivalência de cada homem, agora sujeito por- que autor da sua própria cultura, para uma multirreferencialidade, embora aparentemente contraditórias, se integram, por via da me- diação, para manifestar uma hibridação da própria cultura, de certa forma antecipável pela própria estrutura simbólica em que esta as- senta. Por fim, apresentámos uma crítica ao filme Babel, que nos per- mite destilar não só o estado actual do sujeito e da própria con- dição da sociedade, a qual destacamos, por um lado, a fragmen- www.lusosofia.net
  • 23. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 21 tação que conduz a uma incomunicação, perdida algures entre as fendas do universo simbólico da cultura ou culturas. Trata-se, no fundo, de analisar, apropriar e pedagogicamente ordenar um es- paço, não-físico mas simbólico, que serve de mediação entre su- jeitos, cultura(s), cuja assemblagem constitui a essência da própria sociedade. Tal espaço é designado, por Morin, como o espaço in- termediário caracterizado pela retroacção dos pólos. Em tom de conclusão, o acto pedagógico-educativo, relevante pelo carácter perfectível do ser humano, assume-se como legítimo pois constitui a ferramenta mais poderosa de que dispomos para agir no espaço intermédio simbólico, onde se dá a constituição, in- teracção e modificação dos elementos intervenientes. Se, tal como Benjamin nos informa, “não existe um documento de cultura que não tenha sido simultaneamente um documento de barbárie”, então a nossa resposta a tal paradoxo, e, em última instância, ambivalên- cia (caracterizadora do ser humano, da cultura e da sociedade) é dada através do acto pedagógico, que simultaneamente congrega e torna imperativa a questão dos direito humanos. Mais do que ins- trumentos jurídico-normativos, estes devem ser entendidos como eixo condutor e estruturante desse mesmo palco que é o espaço intermediário de que temos vindo a falar. www.lusosofia.net
  • 24. i i i i i i i i 22 Bernardo Marques & Susana Assunção 4 Referências Bibliográficas • BAUDRILLARD, J. (1996). O Crime Perfeito. Lisboa: Reló- gio D’Água. • BERNSTEIN, R. (2002). Radical Evil: A Philosophical In- terrogation. New Jersey: Polity Press. • BLAKE, N.; MASSCHELEIN, J. (2002). “Critical Theory and Critical Pedagogy”, in BLAKE, N.; SMEYERS, P.; SMITH, R. & STANDISH, P. (2002). The Blackwell Guide to Philosophy of Education. New Jersey: Wiley-Blackwell, pp. 38-56. • CARDOSO E CUNHA, B. (1981). Psicanálise e Estrutura- lismo. Lisboa: Assírio e Alvim. • CASTORIADIS, C. (1998). A Ascensão da Insignificância. Lisboa: Bizâncio. • CHARLOT, B.; BEILLEROT, J. (orgs.). (1995). La construc- tion des politiques d’éducation et de formation. Paris: PUF. • ELIADE, M. (2006). O Sagrado e o Profano. Lisboa: Livros do Brasil. • FREUD, S. (2001). Totem e Tabu. Lisboa: Relógio D’Água. • HEGEL, G. W. F. (1993). Estética (I-VII). Lisboa: Guima- rães Editora • KRISTEVA, J. (1982). “Psychoanalysis and the Polis”, in Critical Inquiry, 9, pp. 77-92. www.lusosofia.net
  • 25. i i i i i i i i Babel ou o Início Simbólico... 23 • LEVIN, C. (1991). BAUDRILLARD, “Critical Theory and Psychoanalysis??, in KROKER, A. & M. (1991). Ideology and Power. Montreal: New World Perspectives, pp. 170- 187. • POURTOIS, J.-P. ; DESMET, H. (1999). A Educação Pós- Moderna. Lisboa: Instituto Piaget. • ROBERTS. J. (2004). “The Dialectic of Enlightenment??, in RUSH, F. (2004). The Cambridge Companion to Critical Theory. Cambridge: CUP, pp. 57-73. • ZUMTHOR, P. (1998). Babel ou o Inacabamento. Lisboa: Bizâncio. Referências Multimédia • IÑARRITÚ, G. (Argumentista, Produtor, Realizador). (2006). Babel. [Filme]. EUA: Paramount Pictures www.lusosofia.net