1. III Seminário de Pesquisa da APA Itupararanga:
Água e Saneamento, desafios à conservação
28 e 29 de Novembro de 2012
Sorocaba – SP
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Caracterização da Comunidade Zooplanctônica da Represa de
Itupararanga com Ênfase na Comunidade de Rotíferos
Verônica Dionísio Bonatto (Estagiária - Bolsista PIBIC)
Caroline Soeiro Franzoe (Estagiária)
André Cordeiro Alves Dos Santos (Professor Orientador)
Maria do Carmo Calijuri (Coordenadora do Projeto)
UFSCar
ve.bonatto@hotmail.com
Resumo
O reservatório de Itupararanga fica em uma Área de Proteção Ambiental – APA- e está em
uso a quase 100 anos, o que sugere grande biodiversidade. Este reservatório gera energia
elétrica, é manancial de abastecimento, regulariza as vazões na bacia do rio Sorocaba e constitui-
se em área de lazer para as cidades ao redor. Os Rotifera, um dos principais grupos dentre a
comunidade zooplanctônica, desempenham importante papel na transferência de energia e
matéria nas cadeias alimentares. O estudo da sua diversidade e produtividade pode contribuir
para o melhor entendimento do funcionamento dos ecossistemas como um todo e a conservação
da biota aquática. No presente trabalho já foram identificadas 15 espécies, algumas delas podem
estar relacionadas com o grau de eutrofização do reservatório, como o Brachionus havanaensis, o
Trichocerca similis, a Keratela americana, que são típicos de ambientes eutrofizados. Todavia são
ainda necessários outros estudos para relacionar a composição da comunidade com o estado
trófico. O presente estudo apesar de não ser conclusivo permite dar as condições iniciais para
estudos mais aprofundados sobre esta comunidade e o entendimento deste ecossistema dando
subsídios para a conservação deste importante manancial para a região.
2. 1. Introdução
Os reservatórios são um importante exemplo de ambientes de águas continentais, e
exemplificam a heterogeneidade de ambientes aquáticos, ao longo de seu eixo central, formam
áreas diferentes, devido à ocorrência gradativa de mudanças físicas, químicas e biológicas. Essa
heterogeneidade ocorre devido ao sistema de transição entre rios (apresentando seu percurso
obstruído) e lagos (reserva de água originada da obstrução de percurso dos rios) encontrado em
um reservatório (THORNTON, 1990).
Este gradiente de mudanças físicas e químicas é acompanhado por mudanças na
composição de espécies e abundância de organismos, principalmente de rotíferos, que
apresentam sua composição e abundância alteradas de acordo com as variações do meio
(COELHO – BOTELHO, 2003).
O reservatório de Itupararanga está localizado na Área de Proteção Ambiental – APA – e é
responsável por mais da metade do abastecimento público da região do alto Sorocaba, além de
gerar energia elétrica, regularizar as vazões na bacia do rio Sorocaba e constituir-se em área de
lazer para as cidades próximas. A represa de Itupararanga está em uso a quase 100 anos sendo
um dos reservatórios mais antigos do Estado de São Paulo. Segundo Tundisi e Straskraba (1999)
quanto mais antigo um reservatório, maior sua biodiversidade, a não ser que essa seja impedida
pela poluição e contaminação, como: derrames de petróleo, efluentes industriais e chuvas ácidas.
O zooplâncton de água doce é menos diversificado se comparado à riqueza de espécies
no ambiente marinho (TUNDISI e STRASKRABA, 1999), mas são compostos, principalmente, de
pequenos invertebrados, sendo que dos grupos mais comuns são: Protozoa, Rotífera, Cladóceros
e Copépodos (estes dois últimos microcrustáceos), além de larvas de dípteros (insetos)
(ESTEVES, 1998).
No geral as comunidades zooplanctônicas se comportam como condutores tróficos na
transferência de energia entre os produtores primários e os consumidores secundários,
participando também na regeneração e transporte de nutrientes (KETCHUM, 1962), na
produtividade secundária, servindo ainda como eficientes indicadores biológicos de qualidade de
água (PEJLER, 1983).
Entre os organismos que compõe o zooplâncton, os rotíferos, são um grupo muito
importante, pois apresentam grande riqueza de espécies, grande abundância e produtividade
significativas (OLIVEIRA NETO & MORENO, 1999).
O filo Rotifera (do latim rota, “roda”; fera, “possuir”) inclui mais de 1.800 espécies descritas.
Algumas delas atingem comprimentos de 2-3mm, mas a maioria é menor que um milímetro
(BRUSCA e BRUSCA, 2007).
3. Mesmo possuindo pequenas dimensões e volume corporal reduzido sendo, portanto,
pouco representativos em termos de biomassa total, os rotíferos, são considerados amplamente
oportunistas, e apresentam taxas elevadas de crescimento populacional, além de tempos de
geração mais curtos, contribuindo grandemente com a produção secundária (EDMONDSON &
WINBERG, 1971).
A velocidade de reprodução dos rotíferos é muito rápida (geralmente por partenogênese)
(BRUSCA & BRUSCA, 2007), possuem tendência de serem muito sensíveis e apresentam uma
resposta rápida de acordo com as variações ambientais, sendo, abundantemente encontrados em
reservatórios (TUNDISI et al., 1995).
Este trabalho tem como objetivo inicial a descrição da riqueza da comunidade de rotíferos
no reservatório de Itupararanga, pois além da necessidade de conhecer esta comunidade para
aumentar o entendimento do funcionamento do ecossistema, não há trabalhos publicados sobre
esta comunidade neste ambiente.
2. Objetivo
Levantamento da riqueza de espécies da comunidade de rotíferos no reservatório de
Itupararanga com informações da ecologia das espécies como indicadoras da qualidade
ambiental.
3. Metodologia
O zooplâncton foi coletado em três profundidades (superfície, meio e fundo) por bomba de
sucção. Em cada profundidade foram filtrados 100L de água em rede de plâncton de malha de
68µm. A parte inferior da rede foi mantida embaixo da água, para amortecer o impacto do jato de
água da mangueira e evitar a morte das espécies coletadas. Os organismos foram narcotizados
com água gaseificada e as amostras fixadas com solução formol-sacarose a 4% (SCHADEN,
1985). Foi analisado o volume total das amostras e são considerados constituintes do plâncton
copépodos, cladóceros, larvas de inseto (Caoborus) e rotíferos. Copépodos, cladóceros e larvas
de inseto serão objeto de outros trabalhos.
Os organismos foram triados em lupa e analisados contados e identificados na câmara
Sedwick – Rafter sob microscópio óptico, conforme descrito APHA (1995).
Para a identificação das espécies de Rotifera, foram utilizadas algumas das chaves de
identificação e descrições disponíveis na literatura (PENNAK, 1953; NOGRADY et al., 1993;).
4. Resultados
Foram encontradas 15 espécies de rotíferos, como descritas abaixo:
Phylum: Rotifera
5. Os Rotíferos possuem uma coroa ciliada e uma faringe modificada (mástax), com um
complexo conjunto de peças rígidas que atuam como uma mandíbula (trophi) (NOGRADY et al.,
1993; OLIVEIRA – NETO & MORENO, 1999). Além disso, sua lórica (cutícula secretada pela
hipoderme sincicial) que pode ser muito fina ou grossa como uma armadura (PENNAK, 1953)
também é muito utilizada para se identificar e caracterizar as espécies com lórica espessa, como
por exemplo, os indivíduos do gênero Brachionus.
O corpo é alongado ou em forma de saco, às vezes cilíndrico ou vermiforme e ainda são
conhecidas algumas formas esféricas (NOGRADY et al., 1993). Pode ser dividido em uma região
curta (“cabeça”), uma região mais longa chamada de tronco e um pé terminal.
Quando fixados a identificação de estruturas como a corona ciliada e do pé terminal são
dificultadas devido à contração de seus corpos no momento da fixação, para minimizar essa
contração utilizamos água gaseificada na hora da coleta das amostras.
Nas análises do presente estudo já foram observados 15 táxons distribuídos em 8 famílias.
A maioria das espécies encontradas é típica de regiões tropicais e neotropicais, exceto a espécie
Kellicottia bostoniensis. Por enquanto a família Brachionidae foi bem representativa, caracterizada
por gêneros típicos como Brachionus e Keratella. Segundo Dumont (1983) os gêneros Brachionus
e Keratella são altamente endêmicos na América do Sul e Austrália. Pesquisas recentes feitas no
Brasil também verificaram esse mesmo padrão (LUCINDA, 2003; NEGREIROS, 2010).
José De Paggi & Koste (1995) não incluem a Kellicottia bostoniensis entre os rotíferos
neotropicais. No entanto Landa et al. (2002) a encontrou no reservatório de Furnas, afirmando sua
introdução recente no Brasil. Sua presença está relacionada com maiores densidades nas
estações que apresentavam características de meso a eutotróficas. Negreiros (2010)
posteriormente também encontrou a K. bostonienesis no reservatório de Furnas o que indica uma
população já estabelecida.
A alta dominância de Conochilus unicornis, por sua vez, pode estar relacionada com baixa
trofia (LUCINDA, 2003). No entanto, como ainda não foram realizadas as análises quantitativas
esta relação ainda não pode ser estabelecida para este reservatório.
Contudo, as diferenças de tolerância a eutrofização pelas espécies de rotíferos, em
diversos trabalhos ainda é incerto e por vezes contraditório, havendo a necessidade de mais
estudos mais aprofundados, principalmente nos ambientes tropicais (MATSUMURA – TUNDISI et
al., 1990; LUCINDA, 2003, NEGREIROS, 2010).
De modo geral a composição da comunidade de rotíferos é semelhante a aquelas
observadas recentemente em outros reservatórios tropicais (LUCINDA, 2003; NEGREIROS,
2010).
6. 5. Conclusão
Foram encontrados no reservatório de Itupararanga 15 táxons de Rotíferos, sendo que
estão distribuídos em 8 famílias. Todos os indivíduos aqui identificados já foram observados em
outros reservatórios brasileiros, como no reservatório de Furnas, MG e em Reservatório da Bacia
do rio Tietê.
Dos táxons encontrados o único que não é considerado tropical ou neotropical foi a
Kellicottia bostoniensis da família Brachionidea. Ela é típica da América do Norte, mas foi
observada no Brasil recentemente e sua distribuição espacial e temporal já foi objeto de estudos
no reservatório de Furnas, o que nos deixa claro sua boa adaptação aos reservatórios brasileiros.
A comunidade observada é semelhante àquela de outros reservatórios tropicais no Estado
de São Paulo e em outros estados do Brasil. No entanto a relação entre a ocorrência e/ou
dominância de uma espécie ou mais com o nível de eutrofização do reservatório e o papel
bioindicador dos rotíferos só poderão ser observados após a análise quantitativa das amostras.
6. Referências
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