SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 31
Baixar para ler offline
ISSn: 2316-4670
Volume 1 - número 3 - novembro de 2012




                                         SoCIeDaDe BraSILeIra De HerPeToLogIa
Informações gerais

A revista eletrônica Herpetologia Brasileira é quadrimestral (com números em março, julho e novembro) e publica textos sobre assun-
tos de interesse para a comunidade herpetológica brasileira. Ela é disponibilizada apenas online, na página da Sociedade Brasileira de
Herpetologia; ou seja, não há versão impressa em gráfica. Entretanto, qualquer associado pode imprimir este arquivo.

                           Seções                                     Editores Gerais:	                Taran Grant
                                                                      	                                Marcio Martins
Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia: Esta se-            Notícias da SBH:	                Fausto Barbo
ção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de respon-         	                                Giovanna Montingeli
sabilidade da diretoria da Sociedade.                                 Notícias Herpetológicas Gerais:	 Paulo Bernarde
                                                                      Notícias de Conservação:	        Ariadne Angulo
Notícias Herpetológicas Gerais: Esta seção apresenta infor-
                                                                      	                                Débora Silvano
mações e avisos sobre os eventos, cursos, concursos, fontes de
                                                                      	                                Yeda Bataus
financiamento, bolsas, projetos etc. de interesse para nossa
comunidade.                                                           Obituários:	                     Francisco L. Franco
                                                                      	                                Marinus Hoogmoed
Notícias de Conservação: Esta seção apresenta informações             Resenhas:	                       José P. Pombal Jr. (anfíbios)
e avisos sobre a conservação da herpetofauna brasileira ou de         	                                Renato Bérnils (répteis)
fatos de interesse para nossa comunidade.                             Trabalhos Recentes:	             Carlos Jared
                                                                      	                                Ermelinda Oliveira
Obituários: Esta seção apresenta artigos avisando sobre o fale-       	                                Fernando Gomes
cimento recente de um membro da comunidade herpetológica              	                                João Alexandrino
brasileira ou internacional, contendo uma descrição de sua con-       	                                Reuber Brandão
tribuição para a herpetologia.                                        Mudanças Taxonômicas:	           José A. Langone (anfíbios)
                                                                      	                                Paulo C. A. Garcia (anfíbios)
Resenhas: Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam           	                                Paulo Passos (répteis)
o conteúdo de livros de interesse para nossa comunidade.
                                                                      Métodos em Herpetologia:	        Camila Both
                                                                      	                                Denis Andrade
Trabalhos Recentes: Esta seção apresenta resumos breves de
                                                                      	                                Felipe Grazziotin
trabalhos publicados recentemente sobre espécies brasileiras,
                                                                      	                                Felipe Toledo
ou sobre outros assuntos de interesse para a nossa comunida-
de, preferencialmente em revistas de outras áreas.                    Ensaios & Opiniões:	             Julio C. Moura-Leite
                                                                      	                                Luciana Nascimento
Mudanças Taxonômicas: Esta seção apresenta uma lista des-             	                                Teresa Cristina Ávila-Pires
critiva das mudanças na taxonomia da herpetofauna brasileira,         Notas de História Natural:	      Cynthia Prado
incluindo novas espécies e táxons maiores, novos sinônimos,           	                                Marcelo Menin
novas combinações e rearranjos maiores.                               	                                Marcio Borges-Martins
                                                                      	                                Mirco Solé
Métodos em Herpetologia: Esta seção apresenta descrições e            	                                Paula Valdujo
estudos empíricos relacionados aos diversos métodos de coleta         	                                Ricardo Sawaya
e análise de dados, representando a multidisciplinaridade da          Contato para Publicidade:	       Magno Segalla
herpetologia moderna.
                                                                                          Sociedade Brasileira de Herpetologia
Ensaios & Opiniões: Esta seção apresenta ensaios históricos e                                   www.sbherpetologia.org.br
biográficos, opiniões sobre assuntos de interesse em herpetolo-        Presidente:	       Marcio Martins
                                                                       1º Secretário:	    Giovanna Gondim Montingelli
gia, descrições de instituições, grupos de pesquisa, programas
                                                                       2º Secretário:	    Fausto Erritto Barbo
de pós-graduação etc.                                                  1º Tesoureiro:	    Vivian Carlos Trevine
                                                                       2º Tesoureiro:	    Roberta Graboski Mendes
Notas de História Natural: Esta seção apresenta artigos cur-           Conselho:	         Hussam El Dine Zaher, José Perez Pombal Júnior,
                                                                                          Magno Vicente Segalla, Ulisses Caramaschi, Taran Grant
tos que, preferencialmente, resultam de observações de campo,
de natureza fortuita, realizadas no Brasil ou sobre espécies que                         © Sociedade Brasileira de Herpetologia
ocorrem no país. Os artigos não devem versar sobre (1) novos           Diagramação:	 Airton de Almeida Cruz
registros ou extensões de área de distribuição, (2) observações        Foto da Capa:	 Enyalius iheringi, Campina Grande do Sul, PR
                                                                                      (Foto: M. V. Segalla).
realizadas em cativeiro ou (3) aberrações morfológicas.
ÍNDICE
             Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia......................                     89
             Notícias Herpetológicas Gerais................................................             94
             Notícias de Conservação..........................................................          95
            Resenhas................................................................................    98
             Trabalhos Recentes.................................................................       100
             Mudanças Taxonômicas...........................................................           102
             Ensaios & Opiniões..................................................................      106
             Notas de História Natural........................................................         109




Thecadactylus solimonensis, Porto Velho, RO (Foto: M. V. Segalla).
Notícias da Sociedade                                                                                                           	89
Brasileira de Herpetologia


Simpósio sobre conservação de
      anfíbios e répteis

    Entre os principais objetivos da SBH
está a promoção de eventos que permi-
tam congregar pessoas interessadas no
desenvolvimento da herpetologia, de
modo a promover, estimular e apoiar es-
tudos herpetológicos no Brasil, zelando
pela conservação da fauna herpetológica
brasileira. Intercalados aos congressos de
herpetologia, que atualmente ocorrem
nos anos ímpares, foram realizados pela
SBH, desde 2001, quatro simpósios abor-
dando assuntos diversos sobre répteis e
anfíbios. O último, realizado com sucesso
nos dias 24 e 25 de novembro, no auditó-
rio do Instituto Butantan, em São Paulo,
apresentou como objetivo a divulgação e
discussão dos conhecimentos atuais sobre
diversos aspectos relacionados à conserva-
ção dos anfíbios e répteis brasileiros, uma
das faunas mais ricas do mundo. O simpó-
sio, intitulado “Desafios para a conserva-
ção da megadiversidade: o caso dos anfí-
bios e répteis brasileiros”, foi organizado
pela diretoria da SBH em parceria com o
Museu Biológico do Instituto Butantan,
representado por Giuseppe Puorto, Erika
Hingst-Zaher e Michelle Campagner.
    Um total de 117 pessoas se inscreve-
ram para assistir o simpósio, entre alunos
de graduação, pós-graduação e profissio-
nais. Foram ministradas 12 palestras e
realizada uma mesa redonda (esta última
com a participação de quatro profissio-
nais), resultando em uma excelente opor-
tunidade para a discussão das mais diver-
sas questões relacionadas à conservação
de anfíbios e répteis. As palestras versa-
ram sobre (1) a avaliação do estado de con-
servação dos anfíbios e répteis brasileiros
(incluindo os resultados preliminares das         ANUNCIADO O VI Congresso                       março de 2013. Após esta data será exigi-
avaliações dos anfíbios e das serpentes,         Brasileiro de Herpetologia                      do o comprovante de pagamento da anui-
concluídas este ano), (2)  efeitos de ati-                                                       dade de 2013. O pagamento da anuidade
vidades agrícolas sobre as populações de          Já encontram-se abertas as inscrições          pode ser comprovado junto à Comissão
anfíbios, (3) quitridiomicose em anfíbios,    para o VI Congresso Brasileiro de Herpeto-         Organizadora através do envio do e‑mail
(4)  medicina veterinária aplicada a con-     logia, a ser realizado na cidade de Salvador,      de confirmação emitido pelo site da SBH.
servação, (5) conservação ex situ praticada   em Julho de 2013. Informações detalhadas           Ressaltamos que existem quatro catego-
pelo Zoológico de São Paulo, (6)  planos      podem ser obtidas em www.cbh13.com.br.             rias de preços (sócios e não sócios efeti-
de ação desenvolvidos pelo RAN‑ICMBio,            A SBH oferece descontos aos associa-           vos), com aumento gradativo do valor a
(7)  estado de conservação dos quelônios      dos que estejam em dia com suas anuida-            ser pago ao longo do ano.
e crocodilianos, (8)  espécies endêmicas      des. De acordo com o estatuto da socieda-              O Comitê Organizador do VI CBH é
de ilhas, (9) biogeografia da conservação,    de, as anuidades deverão ser pagas até 31          constituído por Marcelo Felgueiras Napo-
(10) o uso de novas filogenias para a con-    de março de cada ano. Portanto, os sócios          li, Presidente (UFBA), Flora Acuña Jun-
servação e (11)  o problema da rã-touro       em dia com a anuidade de 2012 poderão              cá, Vice-Presidente (UEFS), Mirco Kienle
como espécie invasora.                        efetuar a inscrição com desconto até 31 de         Solé, Presidente da Comissão Científica



                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
90                                                                                                   	     Notícias da Sociedade
                                                                                                     	 Brasileira de Herpetologia




Participantes do Simpósio sobre conservação de anfíbios e répteis (Foto: G. Puorto).


(UESC), Rejane Maria Lira da Silva, 1ª Se-         Documento sobre a técnica de                      como método de marcação para qualquer
cretária (UFBA), André Luis da Cruz, Te-            ablação de dedos e artelhos                      forma de pesquisa científica. Nas próxi-
soureiro (UFBA) e Ulisses Caramaschi,                                                                mas páginas a SBH apresenta aos asso-
Presidente de Honra da Comissão Cientí-                A Sociedade Brasileira de Herpetologia        ciados, e à comunidade herpetológica que
fica (MN).                                        elaborou um documento em resposta à so-            representa, o documento elaborado em
    A programação geral do VI CBH in-             licitação feita pelo ICMBio/SISBIO em re-          resposta ao Sr. Rodrigo S. P. Jorge, Co-
clui ampla diversidade de assuntos rela-          lação ao pleito do IBAMA e do Ministério           ordenador de Autorização e Informação
cionados ao estudo de anfíbios e répteis.         Público relativo à eliminação da ablação           Científica em Biodiversidade (ICMBio/
Entretanto, a organização do congresso            de dedos e artelhos de anfíbios e répteis          MMA).
pretende oferecer espaço privilegiado
para assuntos aplicados ao tema-alvo do
evento, a Herpetologia Integrativa.
    O VI CBH terá diversas atividades si-
multâneas, tais como apresentações de
trabalhos (painel e oral), palestras, con-
ferências, mesas-redondas, oficinas e
concursos. Tais atividades possibilitarão
a discussão tanto de assuntos acadêmicos
quanto de aspectos aplicados, envolvendo
diagnósticos e soluções para problemas
ambientais. Por meio de tais discussões,
espera-se promover colaborações entre
pesquisadores, oferecer subsídios a pro-
fissionais de empresas e órgãos gover-
namentais e aprimorar da formação de
estudantes.                                       Colobodactylus taunayi, Ribeirão Grande, SP (Foto: M. V. Segalla).




                                          Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Notícias da Sociedade                                                                      	91
Brasileira de Herpetologia




                        Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
92                                                              	     Notícias da Sociedade
                                                                	 Brasileira de Herpetologia




     Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Notícias da Sociedade                                                                      	93
Brasileira de Herpetologia




                        Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
94                                                                                               	Notícias
                                                                                                 	 Herpetológicas Gerais


 37° Congresso da Sociedade                   Conservação da Natureza e dos Recursos               Congresso internacional de
 de Zoológicos e Aquários do                  Naturais (IUCN), em estreita colaboração                    Bioacústica
           Brasil                             com a Convenção sobre o Comércio Inter-
                                              nacional de Espécies Ameaçadas de Fauna
                                              e Flora Silvestres (CITES) e outros órgãos
                                              internacionais para promover a conserva-
                                              ção de crocodilos e comércio legal que não
                                              ameace a sobrevivência desses répteis. A
                                              data limite para envio de resumos, resu-
                                              mos expandidos e manuscritos é 20 de
                                              abril de 2013. Maiores informações po-
                                              dem ser encontradas na página do evento:              Será realizado entre 8 e 13 de setem-
                                              www.csgsrilanka.com.                               bro de 2013 o XXIV International Bioa-
                                                                                                 coustics Congress (IBAC) em Pirenópolis,
                                                                                                 GO. O programa inclui palestras, mesas
                                              Editais da Fundação Boticário                      redondas, apresentações orais, apresenta-
                                                                                                 ção de painéis, workshops e mini-cursos.
                                                                                                 Resumos serão recebidos entre 1º de ja-
                                                                                                 neiro e 15 de abril de 2013. Mais infor-
                                                                                                 mações podem ser obtidas na página do
                                                                                                 evento: www.ibacbrazil.com.


                                                                                                   XXX Congresso Brasileiro de
                                                                                                           Zoologia
    O evento ocorrerá entre 13 a 17 de
março de 2013 no Beto Carrero World, na                                                              A cidade de Porto Alegre (RS) sediará
Penha (Santa Catarina). As inscrições de                                                         pela terceira vez o Congresso Brasileiro de
trabalhos serão aceitas até 13 de janeiro         Os editais da Fundação Grupo Boticá-           Zoologia (CBZ), que será realizado entre
de 2013. O tema do congresso é “Zoológi-      rio de Proteção À Natureza têm por obje-           4 e 7 fevereiro de 2014, sob a organiza-
cos e Aquários: O futuro da conservação”      tivo patrocinar projetos que contribuam            ção da Sociedade Brasileira de Zoologia
e a programação científica é composta por     efetivamente para a conservação da natu-           (SBZ) e da Pontifícia Universidade Católi-
minicursos, palestras e conferências, in-     reza no Brasil, sendo destinado somente a          ca do Rio Grande do Sul (PUCRS). As duas
cluindo um minicurso dentro da área de        pessoas jurídicas, sem fins lucrativos, ex-        edições anteriores foram em 1982 (IX) e
herpetologia (Répteis sob cuidados huma-      ceto o Edital de Apoio a Projetos Fundação         1996 (XXI). Mais detalhes podem ser en-
nos: como manter e como tratar). Maiores      Araucária e Fundação Grupo Boticário.              contrados na página da SBZ: www.sbzoo-
informações no Site do evento: www.con-           O Edital de Apoio a Projetos, vigente          logia.org.br.
gressoszb2013.com.br.                         desde o início dos anos 90, é direcionado
                                              a todas as regiões do Brasil e possui as
                                              seguintes linhas temáticas: (1)  Ações e
     Conferência sobre                        pesquisa para a conservação de espécies
conservação de crocodilianos                  e comunidades silvestres em ecossiste-
        no Sri Lanka                          mas naturais; (2)  Ações para implemen-
                                              tação de políticas voltadas à conservação
    Será realizado entre 20 e 23 de maio de   de ecossistemas naturais; (3)  Ações para
2013 em Negombo (Sri Lanka) a “World          a restauração de ecossistemas naturais;
Crocodile Conference (22nd Working Mee-       (4)  Ações para prevenção ou controle de
ting of the IUCN – SSC Crocodile Specia-      espécies invasoras; (5) Estudos para cria-
list Group)”. O Crocodile Specialist Group    ção ou manejo de unidades de conserva-
(CSG) é uma rede mundial de especialis-       ção; e (6) Pesquisa sobre vulnerabilidade,
tas (pesquisadores e representantes de        impacto e adaptação de espécies e ecossis-
órgãos governamentais, ONGs e empre-          têmicas a variáveis climáticas.
sas) envolvidos na conservação das 23             O próximo período de inscrição de pro-
espécies de jacarés, aligátores, crocodilos   postas é entre a primeira quinzena de janei-
e gaviais no mundo. O CSG opera sob os        ro e 31 de março de 2013. As normas para o
auspícios da Comissão de Sobrevivência        envio de propostas podem ser encontradas           Hypsiboas albomarginatus, Morretes, PR (Foto:
de Espécies da União Internacional para a     em: www.fundacaogrupoboticario.org.br.             M. V. Segalla).




                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Notícias                                                                                                                          	95
de Conservação


      Congresso Mundial de                     Cristiano Nogueira, da UnB, como Co-co-            MPEG, MZUSP, USP, UFRPE, UFRN,
       Conservação da UICN                     ordenador. O ponto forte do processo é a           UFMT, FURG, UFRGS, PUCRS, UFAM,
                                               participação da comunidade científica em           UFSM, UFES, UESC, UNIFESP e RAN. Na
    De 6 a 15 de setembro de 2012 foi rea-     todas as etapas, pois sem o conhecimento           primeira oficina foram avaliadas 173 es-
lizado o Congresso Mundial de Conserva-        acadêmico acumulado, não conseguiría-              pécies e na segunda 218, totalizando 391
ção na ilha de Jeju, Coréia do Sul. Este é o   mos chegar a um resultado de qualidade             espécies. Desse total, cinco espécies foram
maior evento de conservação realizado no       e legítimo.                                        categorizadas como Criticamente em pe-
mundo e ocorre a cada quatro anos. Parti-          A avaliação das serpentes foi dividida         rigo (CR), 18 como Em perigo (EN), cinco
ciparam do Congresso aproximadamente           em duas oficinas, realizadas neste ano             como Vulnerável (VU), sete como Quase
10 mil pessoas representando mais de 160       na Academia Brasileira de Biodiversidade           ameaçada (NT), 21 como Dados insufi-
países (incluindo o Brasil), sendo a meta-     (ACADEBIO), uma em abril e outra em ou-            cientes (DD), 314 como Menos preocu-
de delas especialistas em conservação. O       tubro. Participaram ao todo, 24 avaliado-          pante (LC) e 21 como Não aplicável (NA).
congresso conteve dois grupos de eventos:      res representando 16 instituições de ensi-         Na atual lista oficial da fauna brasileira
um fórum aberto ao público, que contava        no/pesquisa e empresa privada: AMPLO,              ameaçada de extinção (IN 03/03‑MMA),
com quase 600 eventos, e uma assembleia
de membros, os quais são estados repre-
sentados pelos seus governos e que discu-
tem e aprovam o programa da UICN para
o quadriênio seguinte (2013‑2016), as re-
soluções que guiarão a agenda de conser-
vação pelos próximos quatro anos e onde
são eleitos representantes para cargos
da organização (presidente, tesoureiro,
presidentes das comissões e conselheiros
regionais). Aconteceram dois componen-
tes especificamente relacionados aos an-
fíbios: 1)  uma oficina de conservação de
anfíbios, realizada dentro do contexto do
fórum, e 2) uma moção de conservação de
anfíbios submetida para consideração na
assembleia, a qual foi aprovada com al-
gumas modificações (Moção 020; http://
portals.iucn.org/2012motions). Maiores
detalhes sobre o Congresso e seus even-
tos podem ser obtidos na página: www.
iucnworldconser vationcongress.org.            Participantes da I Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil,
Editora: AA.                                   ACADEBIO, Iperó, SP, de 23 a 27 de abril de 2012. Foto: acervo RAN.



   Concluída a avaliação das
      serpentes no Brasil

    O processo de avaliação da biodiver-
sidade brasileira é coordenado pela Coor-
denação de Avaliação do Estado de Con-
servação da Biodiversidade (COABIO),
subordinada à Coordenação Geral de
Espécies Ameaçadas do ICMBio, e o pro-
cesso de avaliação da herpetofauna no
Brasil está sob a coordenação do Centro
Nacional de Pesquisa e Conservação de
Répteis e Anfíbios, RAN‑ICMBio, que tem
como Ponto Focal a Analista Ambiental,
Yeda Bataus. Para o processo de avaliação
das serpentes, o Centro conta com a par-
ticipação de Marcio Martins, da USP, São       Participantes da II Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil,
Paulo, como Coordenador do táxon, e de         ACADEBIO, Iperó, SP, de 22 a 26 de outubro de 2012. Foto: acervo RAN.




                                       Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
96                                                                                               	Notícias
                                                                                                 	 de Conservação


há cinco serpentes listadas como amea-        nas regiões da Ásia, Rússia e Oceania; en-         Unidos. Para maiores informações visite
çadas de extinção. Após a conclusão da        tretanto, ha notícias de interesse global,         a página: www.amphibianark.org/amphi-
avaliação atual, esse número subiu quase      como as publicações recentes (incluindo            bian-academy. Editora: AA.
seis vezes, pois 28 espécies foram cate-      um livro brasileiro), as oportunidades de
gorizadas como ameaçadas de extinção.         financiamento e iniciativas globais (avalia-
Entretanto, esse resultado reflete muito      ção de sucesso em conservação de anfíbios,                 Plano de Ação Nacional
mais mudanças na estratégia empregada         projeto BIOFRAG, etc.). Vale a pena confe-                 – Herpetofauna da Mata
(avaliação de toda a fauna, ao invés de       rir. Editora: AA.                                           Atlântica Nordestina
uma lista de espécies-candidatas, como
foi feito na preparação da lista de 2003)                                                           Entre os dias 27 de agosto e 1º de se-
do que uma piora significativa no estado             Academia dos Anfíbios                       tembro de 2012, o Centro Nacional de
de conservação das serpentes brasileiras.                                                        Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfí-
    A próxima etapa, sob coordenação da           A Amphibian Ark e a Sociedade Zoo-             bios (RAN‑ICMBio) realizou, em parceria
COABIO, é a validação dessas avaliações e,    lógica de Toledo, Estados Unidos, estão            com a Universidade Federal do Rio Gran-
em seguida, a publicação da lista das es-     oferecendo um novo programa de capaci-             de do Norte (UFRN), na cidade de Natal, a
pécies que estão ameaçadas, cuja compe-       tação em conservação de anfíbios chama-            Oficina de planejamento para elaboração
tência é do Ministério do Meio Ambiente.      do Academia dos Anfíbios. O programa               do Plano de Ação Nacional para Conserva-
Editores: YB e MMa.                           visa oferecer um curso de uma semana em            ção da Herpetofauna Ameaçada da Mata
                                              abril de 2013 em Toledo, Ohio, Estados             Atlântica Nordestina (PAN Herpetofauna

   Parceria entre o Grupo de
  Especialistas de Anfíbios da
  IUCN (ASG) e a International
     Society for the Study
    and Conservation of the
       Amphibians (ISSCA)

    Recentemente for assinado um Memo-
rando de Entendimento entre o Grupo de
Especialistas de Anfíbios e a International
Society for the Study and Conservation of
the Amphibians (ISSCA). A ISSCA é uma
sociedade fundada em 1982 cujo principal
objetivo é promover a pesquisa e conser-
vação dos anfíbios, e que publica a revista
científica Alytes. O ASG e a ISSCA visam
colaborar compartilhando conteúdo entre
as suas respectivas publicações (Alytes no
caso da ISSCA e FrogLog no caso da ASG).
Como primeiro resultado dessa parceria, a
ISSCA tem disponibilizado para download
no site da ASG quatro trabalhos do volu-
me especial sobre conservação de anfíbios
da Alytes, recentemente publicado (volu-
me 29, 1‑4). Para ter acesso aos trabalhos,
visite a página: www.amphibians.org/re-
sources/publications/alytes. Editora: AA.


   Novo fascículo da revista
           FrogLog

    O número 104 da revista FrogLog está
disponível para download do site do Grupo
de Especialistas de Anfíbios da IUCN (ASG):
www.amphibians.org/blog/2012/10/22/
froglog-104. Este número concentra-se



                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Notícias                                                                                                                              	97
de Conservação


da Mata Atlântica Nordestina). Essa ofici-         em áreas estratégicas nos estados do Cea-          serem executadas até novembro de 2016,
na contou com a participação de 55 pesso-          rá, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam-          período de abrangência do PAN. Somente
as representando 43 instituições das esfe-         buco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Este plano         por meio das parcerias e acordos estabe-
ras federal, estadual e municipal, diversos        de ação tem como objetivo geral “Aumen-            lecidos com as instituições participantes
representantes do terceiro setor, órgãos           tar o conhecimento sobre as espécies-foco          deste Plano de Ação, será possível alcan-
de educação, pesquisa e proteção.                  e minimizar o efeito das ações antrópicas,         çarmos os objetivos identificados.
    No Plano de Ação foram contempladas            de forma a contribuir para a conservação               A previsão do RAN‑ICMBio é que até o
seis espécies de répteis e anfíbios oficial-       das espécies de anfíbios e répteis contem-         último bimestre de 2012, serão publicadas
mente ameaçados de extinção e mais 28              pladas no PAN da Mata Atlântica nordes-            as portarias de aprovação do plano de Ação,
espécies com potencial risco de ameaça,            tina, em cinco anos”. Foram estabelecidos          bem como do Grupo Assessor, oficializan-
todas com ocorrência nos remanescentes             durante a oficina cinco objetivos específi-        do assim este compromisso do RAN‑ICM-
da Mata Atlântica Nordestina, com foco             cos que somados contabilizam 47 ações a            Bio com a sociedade brasileira. Editora: YB.




Hypsiboas faber, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla).




                                           Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
98                                                                                                 	Resenhas




Maffei, F., Ubaid, F. K. & Jim, J. 2011. Anfíbios. Fazenda
  Rio Claro. Lençóis Paulista. SP. Brasil. Canal 6 Editora,
  Bauru. 128 pp.

    O Prof. Jorge Jim (1942‑2011) teve toda sua vida acadêmi-
ca dedicada ao estudo dos anfíbios. Desde cedo, ainda na gra-
duação em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, teve sua iniciação científica orientada pelo Prof. Eu-
genio Izecksohn, um dos pioneiros no estudo de anfíbios bra-
sileiros e um dos zoólogos de vertebrados mais completos que
conhecemos. Essa formação sólida ele levaria para seu primei-
ro e único emprego universitário, como docente da Faculdade
de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, mais tarde e até
hoje fazendo parte da Universidade Estadual Paulista – Cam-
pus de Botucatu. Nessa universidade, Jorge Jim desenvolveu
sua carreira e dedicou-se profundamente à sua maior paixão: o
ensino. Era um professor nato, com vasta cultura, opiniões fir-
mes e grande facilidade em transmitir conhecimentos, influen-
ciando diversas gerações de estudantes que passaram por suas
mãos e, em muitas oportunidades, o escolheram como patrono
ou paraninfo de suas turmas. Com a vinda do ensino de pós-
-graduação, estendeu suas atividades como professor e orienta-
dor de muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado,
sempre fiel à sua grande vontade de transmitir conhecimentos.
No campo científico, ainda que não fosse um pesquisador ex-
cepcionalmente produtivo, formou ou, pelo menos, influen-
ciou várias gerações de herpetólogos. Nunca parou de ensinar
e pesquisar, e isso o colocou na interessante posição de ser au-               O corpo principal do livro trata de 40 espécies de anfíbios
tor e ao mesmo tempo homenageado neste livro. Por um lado,                 anuros, distribuídos em 16 gêneros e sete famílias. A organiza-
junto com seus orientandos Fábio Maffei e Flávio Kulaif Ubaid,             ção é alfabética, o que facilita a localização de qualquer táxon
desenvolvia as ideias para elaboração deste trabalho, mas foi              e, apesar de não haver preocupação com o relacionamento fi-
colhido por impiedoso câncer que o levou à morte antes de ter              logenético das espécies estudadas, estas estão de acordo com
visto sua publicação. Assim, por outro lado, muito justamente              as mais modernas propostas nomenclaturais oriundas desses
o livro é dedicado ao Prof. Jorge Jim e em sua homenagem é                 estudos. Cada espécie á profusamente ilustrada com fotogra-
apresentado.                                                               fias de excelente qualidade, quase em sua totalidade obtidas
    O livro sobre os Anfíbios. Fazenda Rio Claro. Lençóis Paulista.        em campo e mostrando o animal em seu ambiente natural.
SP. Brasil constitui exemplar publicação sobre uma fauna re-               Exemplares em diversas posições e posturas, em atividade de
gional. Como salientam os autores, “apesar do vasto conheci-               vocalização, com o saco vocal distendido, amplexos, detalhes
mento sobre os anfíbios em território paulista, diversas lacunas           de estruturas, girinos, desovas, comportamentos de escavação
geográficas ainda persistem, sendo a região central do Estado              e de exibição e mesmo eventos de predação, vão se sucedendo
uma dessas lacunas…”                                                       nessas brilhantes ilustrações. Além dos infográficos, cada es-
    A organização do trabalho segue um formato mais ou menos               pécie ainda é acompanhada por pequeno texto, onde aparecem
tradicional, iniciando-se com pequena introdução sobre os an-              rápidas observações sobre diversos aspectos de cada espécie,
fíbios, suas ordens, sua importância ecológica e atuais ameaças.           mas no geral dando uma ideia sobre a distribuição geral da es-
Dois curtos textos sobre os dois biomas encontrados na região              pécie no Brasil, época de ocorrência e de reprodução, aspectos
estudada, o Cerrado e a Mata Atlântica, encerram essa parte e              da biologia e da ecologia, detalhes de coloridos e muitos ou-
segue-se a caracterização detalhada dessa região, envolvendo               tros pontos interessantes ou curiosos. Essa grande quantida-
sua exata localização e mapas, área, vegetação, clima, altitude            de de informações visuais e escritas torna cada espécie uma
e relevo. A descrição da metodologia de trabalho utilizada, en-            agradável experiência, seja para o leigo apenas interessado em
volvendo a periodicidade das coletas, pontos de amostragem e               apreciar os anfíbios, como também para os estudiosos espe-
tipos de corpos d’água explorados, são rapidamente abordados.              cialistas que ali podem encontrar interessantes exemplos e
Na página seguinte, há a apresentação e explicação dos infográ-            elementos com os quais ainda possam não estar totalmente
ficos que acompanharão cada espécie tratada, incluindo os me-              familiarizados.
ses de ocorrência da espécie, os biomas de ocorrência da espécie               Por fim, aparece uma inovação: os autores trazem um ca-
no Estado de São Paulo, os locais onde a espécie foi registrada            pítulo ao qual chamam de Bastidores. Neste, apresentam in-
na Fazenda Rio Claro, o tamanho real dos animais e os ambien-              teressantes e úteis observações sobre como se deve proceder
tes em que ocorrem.                                                        para a obtenção de boas fotografias. O que e como fotografar,



                                        Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Resenhas                                                                                                                             	99


como iluminar, cuidados a serem tomados, obtenção de efeitos                   competência e — por que não dizer? —, até mesmo o carinho
especiais, equipamentos e mesmo observações sobre a atitude                    e respeito pelos anfíbios anuros, reflexo indubitável de sua for-
correta do fotógrafo, são abordados. Aspectos simples, úteis,                  mação junto ao seu professor e orientador, Dr. Jorge Jim.
apresentados com objetividade e exemplificados com fotogra-                        Em resumo, um livro bem elaborado, bonito, informativo
fias do próprio livro, são dicas importantes para as pessoas                   e útil. Não deve faltar em uma biblioteca herpetológica e, mais
que desejem registrar fotograficamente esses interessantes                     que isso, não pode faltar para qualquer interessado nos anfíbios
animais.                                                                       do Brasil.
    Anfíbios. Fazenda Rio Claro. Lençóis Paulista. SP. Brasil cons-
titui mais uma brilhante contribuição ao conhecimento dos                      Ulisses Caramaschi
anfíbios anuros do Brasil. Ainda que seja regional, aborda es-                 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, De-
pécies em geral de grande distribuição geográfica, desta forma                 partamento de Vertebrados. Quinta da Boa Vista, 20940‑040,
transpondo essa limitação. Os autores demonstram sua grande                    Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E‑mail: ulisses@acd.ufrj.br.




Bolitoglossa paraensis, Belém, PA (Foto: M. V. Segalla).




                                            Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
100                                                                                              	         Trabalhos Recentes




Provete, D. B., M. G. Garey, F. R. Da Silva e M. X. Jorda-               entre estes dois biomas (maior estrutura vertical e maior va-
   ni. 2012. Knowledge gaps and bibliographical revi-                    riação dentro dos habitats na Amazônia versus maior estrutura
   sion about descriptions of free-swimming anuran                       horizontal e maior variação entre habitats no Cerrado) podem
   larvae from Brazil. North-Western Journal of Zoology,                 explicar tais resultados. O fato da filogenia não explicar varia-
   8:283-286.                                                            ções em uso de microhabitats possui importantes implicações
                                                                         para o estudo da estrutura filogenética de comunidades. Em
   A despeito do recente aumento de artigos que apresentam               escalas locais, demonstra que aspectos ecológicos e sua asso-
descrições de girinos nos últimos anos, a maior parte dos tra-           ciação com filogenia são essenciais para determinar quais pro-
balhos publicados com anuros brasileiros não foca aspectos               cessos afetam a estrutura de comunidades. Em escala regional,
da morfologia da fase larval das espécies. Diogo Provete e               ajuda a entender o papel dos filtros ambientais, da competição
colaboradores realizaram uma revisão dos artigos que descre-             e de processos neutros na estruturação filogenética das comu-
vem girinos de vida livre de espécies brasileiras e concluíram           nidades. Editor: RB.
que já foram descritos os girinos de aproximadamente 61.3%
dos anuros nacionais. Bufonidae se destaca como a família
com menos girinos descritos (46.3%). Sugerem que estudos                 Liu, Y., L. Ding, J. Lei, E. Zhao e Y. Tang. Eye size varia-
futuros sobre girinos devem também incluir informações                      tion reflects habitat and daily activity patterns in Co-
sobre os ovos e os imaturos. Os autores ainda disponibili-                  lubrid snakes. Journal of Morphology, 273:883-893.
zam uma base de informações sobre descrições de girinos na
web (http://goo.gl/opquI), visando facilitar estudos futuros.                Neste estudo, os autores testaram a hipótese de que o ta-
Editor: RB.                                                              manho do olho de serpentes reflete adaptação ao habitat e ao
                                                                         padrão de atividade de forrageio. A variação do tamanho dos
                                                                         olhos (diâmetro) de 839 colubrídeos (49 gêneros e 66 espécies
Garda, A. A., H. C. Wiederhecker, A. M. Gainsbury,                       e subespécies) foram analisados e correlacionados a variáveis
  G. C. Costa, R. A. Pyron, G. H. C. Vieira, F. P. Wer-                  como tamanho do corpo, tipo de habitat e modos de forrageio.
  neck e G. R. Colli. Microhabitat variation ex-                         Os resultados mostram que padrões de atividade e habitat são
  plains local-scale distribution of terrestrial                         fatores determinantes para a variação do tamanho de olhos
  Amazonian lizards in Rondônia, western Brazil. Bio-                    em espécies de colubrídeos. Ao contrário de outras espécies de
  tropica. Article first published online: 26 JUL 2012 DOI:              vertebrados, colubrídeos diurnos apresentam olhos maiores do
  10.1111/j.1744-7429.2012.00906.x                                       que colubrídeos noturnos. Olhos de serpentes arborícolas tem
                                                                         tamanho absoluto maior que serpentes semiaquáticas e terres-
    Entender como a história filogenética, as interações eco-            tres, contudo espécies destes hábitats, com atividade diurna ou
lógicas e aspectos biogeográficos afetam a composição e a                noturna, não apresentam diferença relativa. O tamanho dos
estrutura das comunidades é um tema central da Ecologia de               olhos de espécies terrestres é maior que de espécies fossoriais,
Comunidades. Embora existam muitos trabalhos que tenham                  mas não há diferenças entre espécies semiaquáticas e fossoriais
investigado o uso de microhabitats na estrutura das comuni-              com hábitos noturnos. Essas observações mostram que entre
dades, poucos incorporam o papel das relações de parentesco              colubrídeos, a variação do tamanho do olho reflete adaptação a
das espécies em tais questões. Garda e colaboradores investiga-          diferentes habitats, estratégias de forrageio e padrões de ativi-
ram o papel da ecologia e da filogenia para avaliar a associação         dade diária, apresentando pouca relação com a filogenia deste
entre a abundância de lagartos e variáveis de microhabitats              grupo. Editora: MEO.
em uma comunidade de 23 espécies, de sete famílias, em uma
localidade de mata de terra firme em Rondônia. As espécies
foram capturadas em armadilhas de queda e as variáveis foram             Schaerlaeken V., V. Holanova, R. Boitel, P. Aerts, P. Ve-
coletadas no local onde as armadilhas foram instaladas. Pa-                 lensky, I. Rehak, D. V. Andrade e A. Herrel. Built to
drões locais de distribuição de recursos afetaram a variação na             bite: feeding kinematics, bite forces, and head shape
abundância de espécies, sendo que cupinzeiros, diâmetro das                 of a specialized durophagous lizards, Dracaena guia-
árvores e abertura do dossel foram as variáveis mais importan-              nensis (Teiidae). Journal of Experimental Zoology,
tes. No entanto, embora as espécies tenham sido agrupadas de                317A:371-381.
acordo com as variáveis ambientais mais importantes para sua
história de vida (com base em estudos autoecológicos já dis-                 A malocofagia foi registrada para poucas espécies de la-
poníveis), nem o uso do microhabitat ou a abundância foram               gartos. Comer moluscos com carapaça requer uma morfologia
afetadas pela estrutura filogenética da comunidade. Os resul-            especializada que permita uma mordida eficaz, além de uma
tados sugerem que, embora a comunidade tenha apresentado                 estratégia alimentar adaptada e eficiente para capturar, mani-
estrutura quanto ao uso de microhabitat, os padrões atuais               pular e ingerir estas presas. Mas, quais adaptações estão en-
de uso de recursos nesta escala refletem interações ecológicas           volvidas? Haveria mudança ontogenética na morfologia ou no
associadas a variáveis ambientais. Esse padrão é diferente do            comportamento alimentar? Muito pouco se conhece sobre este
observado no Cerrado, onde não há estrutura filogenética ou              aspecto em relação a espécies conhecidamente durofágicas. Os
ecológica no uso de hábitat. Diferenças na estrutura de hábitat          autores comparam a morfologia do crânio, a eficácia da mordida



                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Trabalhos Recentes                                                                                                                    	101


e a sequência alimentar de uma espécie especialista, o Jacuruxi          Assis, V. R., C. A. Navas, M. T. Mendonça e F. R. Gomes.
(Dracaena guianensis), e uma onívora, o Teiú (Tupinambis me‑                2012. Vocal and territorial behavior in the Smith frog
rianae). Embora ambas espécies se alimentem de moluscos,                    (Hypsiboas faber): Relationships with plasma levels
possuem habitats e morfologia diferentes, onde D. guianensis                of corticosterone and testosterone. Comparative Bio-
pode ser encontrada próximo a ambientes aquáticos e apresen-                chemistry and Physiology A, 163:265-271.
ta dentes baixos e arredondados, características próprias da sua
dieta especialista em moluscos. A análise dos movimentos de                  O possível compromisso entre os papéis dos glicocorticói-
mastigação revelou que os jacuruxis são mais ágeis em mani-              des como facilitadores da mobilização de substratos energé-
pular os moluscos e, embora adultos das duas espécies tenham             ticos e inibidores neurais do comportamento sexual durante
força semelhante na mordida, jacuruxis possuem cabeça maior,             a temporada reprodutiva encontra-se em debate. Os autores
o que sugere que o fenótipo de adultos pode ser resultante da            estudaram a relação entre o comportamento vocal e territorial
seleção sobre jovens. Jovens de jacuruxi também possuem ca-              e os níveis plasmáticos de corticosterona (CORT) e testostero-
beça relativamente maior, mas, diferente dos adultos, possuem            na (T) ao longo da temporada reprodutiva de Hypsiboas faber,
mordida mais forte. Os autores acreditam que pode ocorrer se-            uma perereca Neotropical territorial de grande porte. Os au-
leção nos estágios de crescimento dos jovens, resultando em              tores investigaram estas relações através de observações fo-
cabeça relativamente maior e mordida mais forte. Embora não              cais de machos em coros naturais, seguidas de amostragem de
existam registros sobre a dieta de jovens, os autores sugerem            sangue para dosagem hormonal através de radioimunoensaio.
que muito provavelmente, moluscos façam parte da dieta nesta             Os autores usaram, adicionalmente, uma abordagem experi-
fase. Durante a mastigação dos jacuruxis, a língua tem impor-            mental que consistiu na reprodução de gravações do canto de
tante papel, pois auxilia na manipulação da presa, ao mesmo              advertência por 10 minutos para simular uma invasão no ter-
tempo que elimina fragmentos da concha. O comportamento                  ritório de machos focais, seguidas de observação comporta-
alimentar dos jacuruxis parece ser mais adequado para esmagar            mental e amostragem de sangue para dosagem hormonal. Os
e processar este alimento de carapaça dura, ao mesmo tempo               resultados mostraram um padrão de covariação entre CORT
em que minimiza possíveis perdas da presa. Em outras pala-               e T ao longo da temporada reprodutiva. Adicionalmente, a
vras, feito para morder. Editora: MEO.                                   variação individual em CORT e T foi relacionada a diferentes
                                                                         aspectos do comportamento: indivíduos com CORT mais altos
                                                                         apresentaram maiores taxas de vocalização, enquanto indiví-
Sartori, M. R.; E. W. Taylor, e A. S. Abe. 2012. Nitrogen                duos com níveis de esteroides mais altos, principalmente T,
   excretion during embrionic development of the green                   mostraram maior responsividade a estímulos sociais oriun-
   iguana, Iguana iguana (Reptilia; Squamata). Compa-                    dos de outros machos no coro. A simulação experimental de
   rative Biochemistry and Physiology A, 163:210-214.                    invasão territorial através do uso da reprodução do canto de
                                                                         anúncio da espécie não gerou alterações consistentes de com-
    O desenvolvimento no interior do ovo cleidóico das aves e            portamento agonístico e CORT, mas reduziu T nos machos
répteis impõe ao embrião o problema do acúmulo de excretas               focais. Editor: FG.
nitrogenados. A amônia, derivada do catabolismo proteico, é
convertida em ureia, menos tóxica, ou em ácido úrico, relativa-
mente insolúvel. O padrão de excreção nitrogenada do iguana
verde, Iguana iguana, foi determinado durante o desenvolvi-
mento embrionário usando amostras de fluido do alantoide,
a partir do ovo homogeneizado por inteiro, e em amostras de
plasma de jovens recém-eclodidos e adultos. A ureia foi o prin-
cipal produto de excreção ao longo de todo o desenvolvimento
embrionário. Foi encontrada em altas concentrações no saco
alantóico, sugerindo a existência de um mecanismo presen-
te na membrana do alantoide que permita a concentração da
ureia. Iguanas recém-eclodidos ainda produzem ureia, enquan-
to os adultos produzem ácido úrico. O curso temporal desta
mudança no tipo de excreta nitrogenado não foi determinado,
mas as alterações estão provavelmente relacionadas às relações
hídricas associadas com o hábito terrestre dos adultos. Iguanas
verdes produzem ovos com casca pergaminosa que dobram de
massa ao longo da incubação devido à absorção de água; os ovos
também acumulam 0,02 mM de ureia, representando 82% do
total dos resíduos nitrogenados acumulados no alantoide. O
aumento de massa dos ovos e da concentração de ureia tornam-
-se significativos após os 55 dias de incubação, permanecendo
inalterados até a eclosão. Editor: FG.                                   Hydromedusa tectifera, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla).




                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
102                                                                                              	       Mudanças Taxonômicas




                          Répteis                                        Squamata (correspondendo a 1.319 exemplares examinados,
                                                                         sendo 51 fósseis e 141 viventes), através de métodos de má-
Editor: PP                                                               xima parcimônia e inferência bayesiana. Os autores utilizaram
                                                                         espécimes preparados por meio de técnicas tradicionais e to-
Diapsida Osborn, 1903: posicionamento filogenético da                    mografias computadorizadas de alta resolução, perfazendo
   Ordem Testudines Linnaeus, 1758                                       uma matriz global com 610 caracteres. As topologias obtidas
                                                                         por meio de ambos métodos foram fundamentalmente con-
Comentários: Crawford. et  al. (2012) realizaram análises fi-            gruentes com os estudos morfológicos prévios (e.g., Conrad,
logenômicas (> 1.000 loci de sequências ultra-conservadas de             2008), mas divergiram das topologias obtidas a partir das aná-
ADN), por meio de métodos de inferência bayesiana a partir               lises moleculares disponíveis (e.g., divisão basal de Iguania e
de matrizes com genes concatenados, para os representantes               Scleroglossa).
atuais das principais linhagens de répteis (Lepidosauria e Ar-               Wiens et al. (2012) realizaram análises filogenéticas mole-
chosauria), com o intuito de determinar o posicionamento dos             culares por meio de métodos probabilísticos (máxima veros-
Testudines, haja vista que hipóteses prévias, tanto morfológi-           similhança e inferência bayesiana), tratados de forma conca-
cas (Rieppel e de Braga, 1996) como moleculares (Lyson et al.,           tenada e não-concatenada, incluindo uma amostragem de 44
2011), recuperaram os quelônios como grupo irmão de Lepido-              marcadores nucleares (contabilizando 33.717 pares de bases)
sauria. A hipótese de relacionamento filogenético obtida por             para 161 terminais de Squamata. As topologias obtidas nes-
Crawford et al. (2012) sugere que os quelônios compartilham              te estudo corroboraram, em grande medida, as análises mo-
um ancestral comum mais recente com os Archosauria (Aves +               leculares prévias, mas divergiram das filogenias morfológicas
Crocodylia).                                                             e mesmo de hipóteses geradas a partir de dados moleculares
                                                                         principalmente no que se refere aos seguintes pontos: recupe-
                                                                         rarem um ramo basal contendo Dibamidae Boulenger, 1884 +
Iguania, 1817                                                            Gekkota Cuvier, 1817 como grupo irmão dos demais Squama-
Dactyloidae Fitzinger, 1843                                              ta; revelarem o parafiletismo de Amphisbaenia Gray, 1844 em
Anolis Daudin, 1802 (ca. 390 espécies, 18 no Brasil):                    relação a família Teiidae Gray 1827; e o parafiletismo da Scole-
   revalidação e redefinição de gêneros                                  cophidia Cope, 1864 em relação as demais Serpentes Linnaeus,
                                                                         1758.
Comentários: Nicholson et  al. (2012) propuseram uma nova
classificação para o gênero Anolis (sensu lato) a partir de hi-
póteses de relacionamento filogenético formuladas através                Scincomorpha Camp, 1923
de análises moleculares concatenadas e, posteriormente, por              Teiidae Gray, 1827 (ca. 140 espécies, 34 no Brasil):
meio de análises de evidência total usando o critério de máxi-              descrição de subfamília e descrição e revalidação de
ma parcimônia. As análises moleculares realizadas pelo método               gêneros
de inferência bayesiana corresponderam a uma matriz de 189
táxons terminais (compreendendo 1.482 pares de bases), en-               Comentários: Harvey et al. (2012) realizaram uma revisão sis-
quanto as análises de evidência total incorporaram a mesma               temática da família Teiidae por meio de caracteres morfológi-
base de dados molecular acrescida de 51 terminais e 58 carac-            cos. Os autores conduziram análises de máxima parcimônia a
teres morfológicos. Os autores recuperaram topologias bem                partir de formas distintas de codificação, estratégias de pesa-
similares através de ambos métodos, as quais revelaram oito              gem, ordenamento e inclusão/exclusão de caracteres. Harvey
linhagens principais. Com base nestas topologias, Nicholson              et al. (2012) também realizaram análises independentes para
et al. (2012) restringiram o conceito de Anolis e revalidaram os         grupos menos inclusivos dentro da família Teiidae (e.g., subfa-
seguintes gêneros: Xiphosaurus Fitzinger, 1826; Norops Wagler,           mílias e/ou gêneros) na tentativa de obter uma melhor resolu-
1830; Dactyloa Fitzinger, 1843; Deiroptyx Fitzinger, 1843; Cte‑          ção global do relacionamento entre os terminais considerados,
notus Fitzinger, 1843; Chamalionorops Schmidt, 1919; e Audan‑            além de compilarem e discutirem dados disponíveis na litera-
tia Cochran 1934. Dessa forma, dentro do território brasileiro é         tura com respeito a outras hipóteses de relacionamento filoge-
atualmente registrada a ocorrência de dois destes gêneros, No‑           nético, baseadas tanto em dados morfológicos quanto molecu-
rops (para o antigos grupo de espécies de A. auratus – 12 spp.)          lares. As topologias obtidas no estudo de Harvey et al. (2012)
e Dactyloa (para o antigo grupo de espécies de A.  punctatus             revelaram o merofiletismo (parafiletimos e/ou polifiletismos)
– 6 spp.).                                                               da família no seu senso tradicional e, por conseguinte, os mes-
                                                                         mos propõem um novo arranjo taxonômico no sentido de me-
                                                                         lhor refletir historia evolutiva do grupo. Deste modo, os auto-
Squamata Merrem, 1820 (ca. 9.000 espécies, 740 no                        res reconheceram três subfamílias (Callopistinae, Teiinae Estes,
   Brasil): filogenias sem proposição de mudanças                        de Queiroz e Gauthier, 1988 e Tupinambinae Estes, de Queiroz
   taxonômicas                                                           e Gauthier, 1988), sendo a primeira descrita para acomodar a li-
                                                                         nhagem mais basal dentro da família que corresponde ao gêne-
Comentários: Gauthier et  al. (2012) realizaram análises fi-             ro Callopistes Gravenhorst, 1837. Com o objetivo de resolver o
logenéticas morfológicas a partir de 192 táxons terminais de             polifiletismo dos gêneros Ameiva Meyer, 1795, Cnemidophorus



                                      Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Mudanças Taxonômicas                                                                                                           	103


Wagler, 1830 e Tupinambis Daudin, 1802 os autores descreve-               Leposternon Wagler, 1824 (9 espécies, todas no Brasil):
ram quatro novos gêneros (Ameivula, Aurevela, Contomastix e                  revalidação de gênero e descrição de espécie nova
Modopheros) e revalidaram dois outros, Holcosus Cope, 1862 e
Salvator Duméril e Bibron, 1839. Assim, atualmente, dentro do             Comentários: Ribeiro et al. (2011) descreveram uma nova es-
território brasileiro ocorrem os seguintes gêneros de Teiidae:            pécie de Amphisbaenidae para o Cerrado dos Estados de Goiás e
Ameiva (2  spp.), Ameivula (10  spp.), Cnemidophorus (2  spp.),           Minas Gerais, alocando-a no gênero Leposternon (previamente
Contomastix (2 spp.), Kentropyx (7 spp.), Teius (2 spp.), Croco‑          sinonimizado com Amphisbaena por Mott e Vieites, 2009). Em
dilurus (monotípico), Dracaena (2 spp.), Salvator (2 spp.) e Tu‑          sua discussão, os autores justificaram que o gênero Leposternon
pinambis (4 spp.).                                                        constitui um grupo natural dentro dos anfisbenídeos Neotropi-
                                                                          cais e que a topologia obtida no estudo de Mott e Vieites (2009)
                                                                          somente havia apresentado altos valores de suporte nas proba-
Mabuyidae Mittleman, 1952                                                 bilidades posteriores da análise bayesiana (que podem ser mui-
Mabuyinae Mittleman, 1952 (ca. 61 espécies, 14 no                         to afetadas por decisões e/ou opções metodológicas), enquanto
  Brasil): descrição de espécies e de táxons supra-                       o suporte deste clado (contendo representantes de Amphisbae‑
  específicos (gêneros e subfamílias), revalidação de                     na, Anops Bell, 1833, Cercolophia Vanzolini, 1992 e Leposternon)
  gêneros                                                                 foi baixo nas análises de máxima parcimônia e verossimilhança.
                                                                          Ribeiro et al. (2011) comentaram que ao reanalisarem a matriz
Comentários: Hedges e Conn (2012) realizaram análises fi-                 original de dados fornecida por Mott e Vieites (2009) obtive-
logenéticas moleculares por meio de métodos probabilísticos               ram uma topologia significativamente distinta a das análises
(máxima verossimilhança e inferência bayesiana) para repre-               prévias de máxima verossimilhança e, apesar de corroborarem
sentantes do gênero Mabuya Fitzinger, 1826 (sensu lato) a par-            a topologia anterior, as análises de máxima parcimônia refor-
tir de uma matriz de dados composta por 3 marcadores mito-                çaram os baixos valores de suporte do clado em questão. En-
condriais e um (1) nuclear para 136 indivíduos (perfazendo um             tretanto, Ribeiro et  al. (2011) não fornecem muitos detalhes
total de 2.701 pares de bases), tratados de forma concatenada             metodológicos com respeito às análises conduzidas (dados não
e, em certos casos, não-concatenada (e.g., citocromo b). A partir         mostrados no referido estudo). Assim sendo, de forma implíci-
das topologias obtidas, mesmo considerando o baixo suporte                ta, os autores revalidaram o gênero Leposternon para acomodar
apresentado por vários ramos, os autores reconheceram gran-               L.  maximus, bem como as demais espécies tradicionalmente
de parte dos clados recuperados como 13 novos gêneros e re-               alocadas no gênero Leposternon, diagnosticando a nova espé-
validaram dois outros previamente colocados na sinonímia de               cie pelo elevado número de annuli pós-peitorais. Consequente-
Mabuya (Copeoglossum Tschudi, 1845 e Spondylurus Fitzinger,               mente, o gênero Amphisbaena (sensu Ribeiro et al., 2011) cons-
1826). Ainda, com base na caracterização morfológica apresen-             titui um grupo parafilético com respeito a Leposternon.
tada, Hedges e Conn (2012) descreveram 24 espécies e revali-
daram outras 10, sobretudo das Ilhas do Caribe. Dessa forma,
temos atualmente nove gêneros reconhecidos para o território              Serpentes Linnaeus, 1758
brasileiro (Aspronema, Brasilicincus, Copeoglossum, Exila, Man‑           Scolecophidia Cope, 1864
ciola, Notomabuya, Psychosaura, Trachylepis e Varzea), sendo três         Leptotyphlopidae Stejneger, 1891
deles monotípicos.                                                        Trilepida Hedges, 2011 (ca. 13 espécies, 7 no Brasil):
                                                                             descrição de espécie

Amphisbaenia Gray, 1844                                                   Comentários: Pinto e Fernandes (2012) revisaram o posicio-
Amphisbaenidae Gray, 1865                                                 namento taxonômico das populações previamente associadas
Amphisbaena Linnaeus, 1758 (ca. 92 espécies, 57 no                        à Trilepida dimidiata (Jan, 1862), as quais apresentavam um
  Brasil): elevação de subespécies ao nível específico                    grande hiato em sua distribuição geográfica (entre o sul do
                                                                          Estado de Roraima e a base da cadeia do Espinhaço no Esta-
Comentários: Perez et al. (2012) revisaram o posicionamento               do de Minas Gerais). Esta espécie, originalmente descrita do
taxonômico de A. prunicolor e A. albocingulata (o último táxon            Brasil sem localidade específica, teve posteriormente a sua
tem sido tradicionalmente considerado como subespécie de                  localidade-tipo restrita para São Marcos, município de Boa
A.  prunicolor). Apesar de A.  albocingulata ter sido tratada em          Vista em Roraima (Peters e Orejas-Miranda, 1970). Pinto e
nível específico por autores prévios, os referidos estudos não            Fernandes (2012) estabeleceram que, em face da perda do ho-
balizaram esta decisão taxonômica em comentários adequados                lótipo (destruído durante a Segunda Guerra Mundial) e de sua
fornecendo caracteres diagnósticos para o reconhecimento des-             descrição original sucinta, não é possível associar o nome Ste‑
tes táxons na categoria de espécie (cf. Vanzolini, 2002). Perez           nostoma dimidiatum Jan, 1862 com suas populações naturais
et al. (2012) diagnosticaram propriamente ambos táxons (reco-             e, consequentemente, designaram um neótipo para a espécie.
nhecidos em nível específico) através de uma combinação única             Os autores estabeleceram que a população distribuída ao lon-
de caracteres morfológicos, como por exemplo pela presença da             go da Serra do Espinhaço representa outra espécie para a qual
série transversal de escamas pós-malares em A. prunicolor que             nomearam Trilepida jani (nome em substituição a Tricheilos‑
está ausente em A. albocingulata.                                         toma; veja Hedges, 2011), distinguindo-a dos demais Epictini



                                       Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
104                                                                                                	       Mudanças Taxonômicas




Hedges, Adalsteinsson e Branch, 2009 por meio de uma com-                 peruana e brasileira representam Atractus natans Hoogmoed
binação única de caracteres.                                              e Prudente, 2003 (= A. emersoni Silva, 2004; veja abaixo). Em
                                                                          função de seu histórico nomenclatural complexo e em face da
                                                                          perda do holótipo, que nunca havia sido figurado, os autores
Caenophidia Hoffstetter, 1939                                             designaram um neótipo no sentido de estabilizar a taxono-
Dipsasidae Bonaparte 1838 (ca. 730 espécies, ca. 300                      mia de A.  microrhynchus. Durante este processo, e com base
   no Brasil): redefinição de táxons supra-específicos,                   no exame das séries-tipo e espécimes adicionais de A. natans e
   sinonimização, revalidação e descrição de gêneros                      A. emersoni (espécies previamente identificadas erroneamente
                                                                          como A. microrhynchus ou A. cf. microrhynchus), os autores ob-
Comentários: Grazziotin et  al. (2012) realizaram análises fi-            servaram grande sobreposição entre vários complexos de carac-
logenéticas moleculares para a família Dipsadidae Bonaparte               teres morfológicos (e.g., dados merísticos, morfométricos e de
1838 por meio de métodos de máxima parcimônia e máxima                    padões de coloração) de ambas espécies e, consequentemente,
verossimilhança, usando diferentes estratégias de alinhamento             relegaram A. emersoni a sinonímia de A. natans.
(homologia dinâmica e estática) em análises independentes. A
matriz de dados foi composta por 246 terminais (representan-
do 196 espécies) e oito marcadores, sendo cinco mitocondriais             Viperidae Laurenti, 1768
e três nucleares, onde novas sequências foram incorporadas                Crotalinae Oppel, 1811
para gêneros monotípicos previamente não amostrados (e.g.,                Bothrops Wagler, 1824 (ca. 50 espécies, 25 no Brasil):
Sordellina Procter, 1923 e Rhachidelus Boulenger, 1908). Os                  descrição de espécie
autores recuperam topologias, em grande medida, congruen-
tes com análises prévias (Zaher et al., 2009; Pyron et al., 2011)         Comentários: Barbo et al. (2012) descreveram Bothrops otavioi
e com base nos resultados obtidos, muitas vezes pela inclusão             para a população de jararacas da Ilha de Vitória situada no li-
de novas sequências, propuseram rearranjos taxonômicos no                 toral norte do Estado de São Paulo. Os autores diagnosticaram
sentido de contornar problemas com os agrupamentos artifi-                a nova espécie das populações continentais (Bothrops jararaca
ciais. Neste sentido, as tribos Alsophiini Fitzinger, 1843, Echi-         sensu lato), bem como das outras espécies insulares de com-
nantherini Zaher, Grazziotin, Cadle, Murphy, Moura-Leite e                plexo B.  jararaca (B.  alacatraz e B.  insularis; veja abaixo), por
Bonatto, 2009 e Conophiini Zaher, Grazziotin, Cadle, Mur-                 meio de um conjunto único de caracteres morfológicos (e.g.,
phy, Moura-Leite e Bonatto, 2009 e os gêneros Clelia Fitzin-              dados merísticos, morfométricos, hemipênis etc.), considera-
ger, 1826, Erythrolamprus Boie, 1826, Hypsirhynchus Günther,              dos separadamente para cada táxon. Os autores incluíram se-
1858, Phylodryas Wagler, 1830 e Phimophis Cope, 1854 foram                quências de ADN mitocondrial (cytocromo b) de B. otavioi na
redefinidos pela inclusão e/ou exclusão de táxons. O gênero               matriz de dados de Grazziotin et al. (2006) e recuperaram uma
Umbrivaga Roze, 1964 foi sinonimizado com Erythrolamprus.                 topologia que agrupou B. otavioi no clado norte do complexo
Os gêneros Antillophis Maglio, 1970, Darlingtonia Cochran,                B.  jararaca, revelando que a nova espécie apresenta o hapló-
1935, Ocyophis Cope, 1886 e Schwartzophis Zaher, Grazziotin,              tipo de citocromo b mais comum deste agrupamento. Barbo
Cadle, Murphy, Moura-Leite e Bonatto, 2009 foram revalida-                et al. (2012) discutem que o padrão geneológico observado po-
dos. Os gêneros Paraphimophis e Rodriguesophis foram erigidos             deria ser explicado por um evento de especiação recente, tal-
para acomodar respectivamente Oxyrhopus rusticus Cope, 1878               vez relacionado com as oscilações do nível oceânico durante o
(espécie-tipo por monotipia) e Rhinostoma iglesiasi Gomes,                Pleistoceno.
1915 (espécie-tipo por designação original). Além de R. iglesiasi
o gênero Rodriguesophis compreende R. chui (Rodrigues, 1993)
e R. scriptorcibatus (Rodrigues, 1993). Ainda, Grazziotin et al.                                       Referências
(2012) propõem Philodryas georgesboulengeri como nome em
substituição para Oxybelis boulengeri Procter, 1923 (pré-ocu-             Barbo, F. E., F. G. Grazzioton, I. Sazima, M. Martins e R. J. Sawaya. 2012.
pado por Philodryas boulengeri Werner, 1909) e Erythrolamprus                A new and threatened insular species of lancehead from Southeastern
albertguentheri como nome em substituição para Liophis guen‑                 Brazil. Herpetologica, 68:418‑429.
                                                                          Conrad, J. L. 2008. Phylogeny and systematics of Squamata (Reptilia)
theri Peracca, 1897 (pré-ocupado por Erytrholamprus guentheri
                                                                             based on morphology. Bulletin of the American Museum of Natural History,
Garman, 1883)                                                                310:1‑182.
                                                                          Crawford, N. G., B. C. Faircloth, J. E. McCormak, R. T. Brumfield, K.
                                                                             Winker e T. C. Glenn. 2012. More than 1000 ultraconserved elements
Atractus Wagler, 1828 (ca. 140 espécies, 34 no Brasil):                      provide evidence that turtles are the sister group of archosaurs. Biology
                                                                             Letters, 8:783‑786.
   posicionamento taxonômico e sinonimização de                           Gauthier, J. A., M. Kearney, J. A. Maisano, O. Rieppel e A. D. B. Behlke.
   espécies                                                                  2012. Assembling the Squamata tree of life: perspectives from the
                                                                             phenotype and the fossil record. Bulletin of the Peabody Museum of Natural
Comentários: Passos et al. (2012) redescobriram Atractus mi‑                 History, 53:3‑308.
                                                                          Grazziotin, F. G., M. Monzel, S. Echeverrigaray e S. L. Bonatto. 2006.
crorhynchus (na natureza e a partir de exemplares depositados                Phylogeography of the Bothrops jararaca complex (Serpentes: Viperidae):
em coleções científicas) e estabeleceram que os exemplares pre-              past fragmentation and island colonization in the Brazilian Atlantic
viamente associados a esta espécie procedentes da Amazônia                   Forest. Molecular Ecology, 2006:1‑14.




                                       Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Mudanças Taxonômicas                                                                                                                                	105


Grazziotin, F. G., H. Zaher, R. W. Murphy, G. Scrocchi, M. A. Benavides,          Pinto, R. R. e R. Fernandes. 2012. A new blind snake species of the genus
    Y. P. Zhang e S. L. Bonatto. 2012. Molecular phylogeny of the new world           Tricheilostoma from the Espinhaço range, Brazil and taxonomic status
    Dipsadidae (Serpentes: Colubroidea): a reappraisal. Cladistics, 2012:1‑23.        of Rena dimidiata (Jan, 1862) (Serpentes: Epictinae: Leptotyphlopidae).
Harvey, M. B., G. N. Ugueto e R. L. Gutberlet. 2012. Review of teiid                  Copeia, 2012:37‑48.
    morphology with a revised taxonomy and phylogeny of the Teiidae               Pyron, A., F. T. Burbrink, G. R. Colli, A. M. O. Nieto, J. L. Vitt, C. A.
    (Lepidosauria: Squamata). Zootaxa, 3459:1‑156.                                    Kuczynski e J. J. Wiens. 2011. The phylogeny of advanced snakes
Hedges, B. S. 2011. The type species of the threadsnake genus Tricheilostoma          (Colubroidea), with discovery of a new subfamily and comparison of
    Jan revisited (Squamata, Leptotyphlopidae). Zootaxa, 3027:63‑64.                  support methods for likelihood trees. Molecular Phylogenetics and Evolution,
Hedges, B. S. e C. E. Conn. 2012. A new skink fauna from Caribbean island             58:329‑342.
    (Squamata, Mabuyidae, Mabuyinae). Zootaxa, 3288:1‑244.                        Ribeiro, S., C. Nogueira, C. E. Cintra, N. J. Silva e H. Zaher. 2011.
Lyson, T. R., E. A. Sperling, A. M. Heimberg, J. A. Gauthier, B. C. King e            Description of a new pored Leposternon (Squamata, Amphisbaenidae)
    K. J. Peterson. 2011. MicroRNAs support a turtle + tuatara clade. Biology         from Brazilian Cerrado. South American Journal of Herpetology, 6:177‑188.
    Letters, 8:104‑107.                                                           Rieppel, O. e de Braga, M. 1996. Turtles as diapsid reptiles. Nature,
Mott, T. e D. Vieites. 2009. Molecular phylogenetics reveals extreme                  384:453‑455.
    morphological homoplasy in Brazilian worm lizards challenging current         Vanzolini, P. E. 2002. An aid to the identification of the South American
    taxonomy. Molecular Phylogenetics and Evolution, 51:190‑200.                      species of Amphisbaena (Squamata, Amphisbaenidae). Papéis Avulsos de
Nicholson, K., B. I. Crother, C. Guyer e J. M. Savage. 2012. It is time for a         Zoologia, 42:351‑362.
    new classification of anoles (Squamta: Dactyloidea). Zootaxa, 3477:1‑108.     Wiens, J. J., C. R. Hutter, D. G. Mulcahy, B. P. Noonan, T. M. Towsend,
Passos, P., D. Cisneros-Heredia, D. E. Rivera, C. Aguilar e W. E. Schargel.           J. W. Sites e T. W. Reeder. 2012. Resolving the phylogeny of lizards and
    2012. Rediscovery of Atractus microrhynchus and reappraisal of the                snakes (Squamata) with extensive sampling of genes and species. Biology
    taxonomic status of A. emersoni and A. natans. Herpetologica, 68:375‑392.         Letters, 8:1043‑1046
Perez, R., Ribeiro, S. e Borges-Martins, M. 2012. Reappraisal of the              Zaher, H., F. G. Grazziotin, J. E. Cadle, R. W. Murphy, J. C. Moura-
    taxonomic status of Amphisbaena prunicolor (Cope 1885) and Amphisbaena            Leite e S. L. Bonatto. 2009. Molecular phylogeny of advanced
    albocingulata Boettger 1885. Zootaxa, 3550:1‑25.                                  snakes (Serpentes, Caenophidia) with an emphasis on South American
Peters, J. A. e B. R. Orejas-Miranda. 1970. Catalogue of the Neotropical              Xenodontines: a revised classification and descriptions of new taxa. Papéis
    Squamata: Part  I. Snakes. Bulletin of the United States National Museum,         Avulsos de Zoologia, 40:115‑153.
    297:1‑347.




Bokermannohyla alvarengai, Itambé, MG (Foto: M. V. Segalla).




                                               Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
106                                                                                                                	                Ensaios & Opiniões




   Uma Nota é um Artigo Completo Publicado em Periódico?
Adrian Antonio Garda*

*	 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências – DBEZ, Campus, Universitário, Lagoa Nova, CEP 59078‑970, Natal, RN, Brasil.



    “Artigo Completo Publicado em Periódico” (ACPP) é o título                                                  Levantamento de dados
da seção central do Currículo Lattes utilizada, nacionalmente,
pelas agências de fomento para comparar pesquisadores no                                     Para responder a essas perguntas eu analisei os Curriculum
Brasil. Um artigo completo pode ser definido como um texto                               Vitae na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desen-
resultante de um trabalho de pesquisa que tenha Resumo, In-                              volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (CV Lattes), de 57
trodução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e Biblio-                            herpetólogos doutores empregados em universidades federais,
grafia Citada. Entretanto, como mostrarei adiante, o que nós                             estaduais, centros de pesquisa e museus em todo o Brasil, para
herpetólogos temos listado nessa seção não corresponde so-                               quantificar a real extensão da utilização indevida do campo
mente a esse tipo de produção.                                                           ACPP nos currículos. Classifiquei como nota qualquer publica-
    Outro tipo de publicação bastante em voga entre os her-                              ção sobre extensão de distribuição geográfica ou observações
petólogos, principalmente após o ano 2000 (Figura 1), são as                             simples de história natural, como definido anteriormente. Pu-
“Notas Científicas” (NC). Refiro-me às informações pontuais                              blicações de descrições de cantos ou girinos, hemipênis e listas
onde a definição que atribuo acima a um artigo completo não se                           de espécies resultantes de inventários faunísticos foram consi-
aplica. Sem dúvida, a definição do que é uma NC pode ser difícil                         deradas como ACPP.
(apesar da maioria das revistas fazer isso por nós). Aqui, consi-                            No total, 57 profissionais publicaram 2.794 artigos (até
dero NC aquelas publicações cujos resultados correspondem à                              Fevereiro de 2012) listados nos CV Lattes na seção de ACPP.
extensão da distribuição geográfica conhecida e a observações                            Desses, 556 (20%) são NC publicadas desde 1986 (Figura  1),
de história natural, geralmente de uma única espécie.                                    distribuídas em quantidades variáveis em nove diferentes peri-
    Nosso hábito de listar nessa seção notas de campo vem, há                            ódicos (Figura 2). A proporção individual para cada pesquisador
algum tempo, causando desconforto em muita gente. Ecólogos,                              da produção composta por NC variou de zero a mais de 65% do
botânicos e até mesmo outros zoólogos já me olharam com um                               que está listado no campo ACPP dos CV lattes.
sorriso irônico e disseram: “Ah, vocês vivem publicando aquelas                              Nove bolsistas de produtividade nível 1 concentram 1.064
notinhas…” (ainda que algumas publicações destes pesquisado-                             trabalhos, mas apenas 85 (8% do campo ACPP) correspondem
res também não se encaixem na definição acima de artigo com-                             a NC (Figura  3a,b). Ao excluirmos do total de pesquisadores
pleto). Entretanto, será que isso é realmente muito frequente                            esses bolsistas, temos 1.730 artigos e 471 notas (27,2% do
entre nós herpetólogos? Estamos mesmo citando observações                                campo ACPP) listadas pelos demais pesquisadores. Destes, 19
pontuais como se fossem artigos científicos e, se sim, com que
frequência e intensidade?




Figura 1: Número acumulado de notas científicas e professores doutores na
área de herpetologia entre os anos de 1986 e 2012. As notas estão listadas no            Figura 2: Número de notas publicadas por revista científica listadas no campo
campo “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do Curriculum Vitae na                “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do Curriculum Vitae na Platafor-
Plataforma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em                 ma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em institui-
instituições de pesquisa e ensino no Brasil.                                             ções de pesquisa e ensino no Brasil.




                                                Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Ensaios & Opiniões                                                                                                                                 	107


bolsistas de produtividade nível 2 concentram 823 artigos, dos                      reflexo da quantidade de estudantes já orientados, ou de uma
quais 181 são NC (22% do campo ACPP, Figura 3). Os 29 pes-                          proporção maior dessas publicações no início da carreira, a Fi-
quisadores restantes listaram 907 artigos, dos quais 318 são                        gura  3B deveria apresentar uma distribuição mais inclinada
NC (35%). Tendo em vista que existe uma correlação negativa                         para a direita, o que não ocorre.
entre ano de doutoramento e nível dos bolsistas de produtivi-                           De todos os 57 herpetólogos, apenas cinco que publicaram
dade (rpearson = ‑0.63, t55 = ‑6,03, p<0,0001, n = 55), percebemos                  alguma nota não listaram nenhuma delas no campo ACPP no
uma clara e preocupante tendência dos currículos dos jovens                         CV Lattes. Os campos utilizados por esses pesquisadores foram
herpetólogos brasileiros apresentarem maiores proporções de                         “Resumos Publicados em Anais de Congresso (Artigos)” e “Ou-
notas científicas (Figura 3B). Caso o número de NC fosse um                         tra Produção Bibliográfica (Notas)”.




Figura 3: Análise do número de artigos (A), do número de notas (B) e da proporção de notas (C) listadas no campo “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do
Curriculum Vitae na Plataforma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em instituições de pesquisa e ensino no Brasil.




                                             Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
108                                                                                               	               Ensaios & Opiniões




                          Implicações                                     Zoologia, no Boletim ou no Arquivos do Museu Nacional como
                                                                          B3! Por analogia, a culpa é nossa, pois estamos listando tudo
    Em conversas com outros pesquisadores, nós herpetólogos               junto no CV lattes e nos relatórios do Coleta CAPES. É fácil ver,
somos criticados por estarmos deliberadamente inflando nos-               a partir da Figura 2, que a CAPES acaba por supervalorizar o
sos currículos. Exemplos substanciam essa preocupação, tais               HR. Entretanto, se tirássemos as quase 400 publicações no HR
como pessoas que passaram em seleções de curso de pós-gradu-              dos CV lattes, este periódico não teria a mesma importância e,
ação, de professor substituto e mesmo de professor efetivo de             certamente, o valor do SAJH, dos Papéis Avulsos de Zoologia,
universidades públicas ou obtiveram recursos de órgãos de fo-             do Boletim e dos Arquivos do Museu Nacional subiriam devido
mento, cujos editais não faziam distinção entre uma nota, como            ao seu imediato aumento de representatividade!
no periódico “Herpetological Review” (HR), e um artigo científi-              Além disso, um fenômeno muito menos explorado, mas
co completo (ou mesmo davam maior valor às NC do HR, por ser              igualmente problemática é a diluição, dentro do CV Lattes do
internacional). Por essa razão, muitos cientistas nos olham com           pesquisador, das suas contribuições mais relevantes (ACPP) em
certo sarcasmo, sugerindo que estamos copiando os cururus, in-            um mar de pequenas NC. Quantas notas poderiam equivaler a
flando os pulmões para parecermos maiores do que somos.                   um artigo completo? Em minha opinião, nenhum número de
    Evidentemente, não está em discussão o inegável valor das             notas equivale a um único artigo verdadeiramente completo
NC face ao problema da escassez de dados sobre a distribuição             publicado em periódico. Muitos pesquisadores não veem com
de répteis e anfíbios na América do Sul e, em especial, no Brasil.        bons olhos a listagem de NC como ACPP (ninguém faz isso no
Essa escassez também afeta o conhecimento prosaico sobre a                exterior!) e isso, muitas vezes, pode gerar mal estar em proces-
história natural e ecologia das espécies. Tais fatores justificam         sos de avaliação de currículos e ofuscar contribuições relevan-
compartilhar esses dados com a sociedade o quanto antes. As               tes e de boa qualidade de um determinado candidato.
NCs garantem, ainda, uma ótima porta de entrada e de apren-                   Em suma, colocar ACPP misturados com NC causa os se-
dizado para os alunos de iniciação científica aprender o proces-          guintes problemas: 1)  prejudica a avaliação das nossas revis-
so de redação, submissão e divulgação da informação, tão im-              tas, muitas até centenárias, na avaliação do Qualis da CAPES;
portante em nossas carreiras. Isso é claro, desde que fique claro         2) ensina errado aos novos pesquisadores o que é um ACPP e,
de antemão para esses alunos a distinção entre NCs e ACPP.                portanto, perpassa uma ideia equivocada de ciência; 3)  afeta
    Entretanto, a preocupação com a possibilidade de inflarmos            comparações curriculares que podem influenciar negativamen-
os currículos e a justificativa pela necessidade de mais dados            te a distribuição de bolsas, o fomento à pesquisa e até mesmo
ofuscam um problema conceitual mais importante: como é que                acarretar em contratações injustas; 4) valoriza o imediatismo e
nós, herpetólogos, concebemos, interpretamos e, principal-                o compromisso com a quantidade em detrimento da qualidade,
mente, ensinamos o que é ciência? Um aluno iniciando carreira             baseado na filosofia do “Publish or Perish”; 5) dilui, no CV Lattes
na área de herpetologia não entende suficientemente bem de                do pesquisador, as suas publicações mais relevantes, ofuscando
metodologia científica para separar o joio do trigo. Está ha-             sua maior contribuição para a área.
vendo um equívoco fundamental, que vai do extremo paramé-                     Como mudar isso? A postura mais ética, na minha opinião, é
trico do índice de impacto ao extremo do tipo “metralhadora”              que cada um de nós pesquisadores liste as NCs (ao menos como
na equiparação de notas de campo a artigos científicos. Esse              definidas aqui) na seção “Outra Produção Bibliográfica”. A nova
equívoco é fruto de mensagens confusas, conflituosas, recebi-             versão dos currículos na Plataforma Lattes do CNPq oferece no
das pelos jovens pesquisadores. De um lado, a Coordenação de              campo “Natureza” dos dados gerais de “Outra Produção Biblio-
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) esti-                gráfica” a opção “Nota”. Desse modo, já existe um campo ade-
mula os programas de pós-graduação a publicarem em revistas               quado para listar essas publicações. Devemos, também, exigir
com maior índice de impacto e negligencia importantes con-                que nossos alunos façam o mesmo e, quem sabe, como Socieda-
tribuições em diversas revistas nacionais, através do sistema             de, recomendar à CAPES que não use notas para quantificar o
de qualificação de periódicos (Qualis). Do outro, a filosofia do          uso dos periódicos para confecção do Qualis, atribuindo assim o
“Publish or Perish”, que aliada ao boom das revistas online e re-         valor devido às produções nas nossas revistas frente a meros pa-
fletindo a ansiedade e o imediatismo do mundo pós-internet,               rágrafos ou um par de páginas contendo uma única observação.
vulgarizam a ciência e a história natural.
    Além de criar a possibilidade de comparações injustas
(como no caso de seleções de pós-graduação e mesmo concur-
sos), essa distorção afeta diretamente as revistas nacionais e
o apelo que estão trazendo aos jovens herpetólogos. As revis-
tas são qualificadas de acordo com seu índice de impacto pela
CAPES (através do Qualis). Entretanto, um periódico pode ser
mais bem avaliado (promovido), caso seja extensamente usa-
do pelos professores dos programas de pós-graduação daquela
área. Por conseguinte, por mais revoltante que possa parecer, o
novo Qualis, para a área “Biodiversidade”, avalia um parágrafo
no HR como B2, enquanto um artigo completo no South Ame-
rican Journal of Herpetology (SAJH), no Papéis Avulsos de                 Elachistocleis bicolor, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla).




                                       Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia
Herpetologia

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Guia de campo pegadas
Guia de campo pegadasGuia de campo pegadas
Guia de campo pegadasEmerson Silva
 
Metodologia fauna faz. salto
Metodologia fauna faz. saltoMetodologia fauna faz. salto
Metodologia fauna faz. saltoEquipe_NGA
 
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japi
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japiChave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japi
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japiAndre Benedito
 
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendo
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendoPreparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendo
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendoElismmelo55
 
Guia de borboletas frugívoras da reserva ducke
Guia de borboletas frugívoras da reserva duckeGuia de borboletas frugívoras da reserva ducke
Guia de borboletas frugívoras da reserva duckeAndre Benedito
 
Guia de identificação de gêneros de formigas
Guia de identificação de gêneros de formigasGuia de identificação de gêneros de formigas
Guia de identificação de gêneros de formigasAndre Benedito
 
Guia de palmeiras da br 319
Guia de palmeiras da br 319Guia de palmeiras da br 319
Guia de palmeiras da br 319Andre Benedito
 
Guia de lagartos da reserva ducke
Guia de lagartos da reserva duckeGuia de lagartos da reserva ducke
Guia de lagartos da reserva duckeAndre Benedito
 
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia central
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia centralGuia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia central
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia centralAndre Benedito
 
Guia de sapos da reserva ducke amazônia central
Guia de sapos da reserva ducke   amazônia centralGuia de sapos da reserva ducke   amazônia central
Guia de sapos da reserva ducke amazônia centralAndre Benedito
 
Scientific american brasil janeiro 2016
Scientific american brasil   janeiro 2016Scientific american brasil   janeiro 2016
Scientific american brasil janeiro 2016Ariovaldo Cunha
 
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006Coonass
 
Por que as abelhas estão morrendo?
Por que as abelhas estão morrendo? Por que as abelhas estão morrendo?
Por que as abelhas estão morrendo? Blanco agriCultura
 
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia central
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia centralGuia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia central
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia centralAndre Benedito
 

Mais procurados (19)

Guia pratico
Guia praticoGuia pratico
Guia pratico
 
Guia de campo pegadas
Guia de campo pegadasGuia de campo pegadas
Guia de campo pegadas
 
Metodologia fauna faz. salto
Metodologia fauna faz. saltoMetodologia fauna faz. salto
Metodologia fauna faz. salto
 
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japi
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japiChave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japi
Chave de identificação anfíbios anuros da vertente de jundiaí da serra do japi
 
Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodosEstudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
 
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendo
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendoPreparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendo
Preparação de esqueletos de pequenos e médios animais mantendo
 
Guia de borboletas frugívoras da reserva ducke
Guia de borboletas frugívoras da reserva duckeGuia de borboletas frugívoras da reserva ducke
Guia de borboletas frugívoras da reserva ducke
 
Guia de identificação de gêneros de formigas
Guia de identificação de gêneros de formigasGuia de identificação de gêneros de formigas
Guia de identificação de gêneros de formigas
 
Guia de palmeiras da br 319
Guia de palmeiras da br 319Guia de palmeiras da br 319
Guia de palmeiras da br 319
 
Guia de lagartos da reserva ducke
Guia de lagartos da reserva duckeGuia de lagartos da reserva ducke
Guia de lagartos da reserva ducke
 
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia central
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia centralGuia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia central
Guia de samambaias e licófitas da rebio uatumã – amazônia central
 
Plano de aula 6 nadja
Plano de aula 6 nadjaPlano de aula 6 nadja
Plano de aula 6 nadja
 
Guia de sapos da reserva ducke amazônia central
Guia de sapos da reserva ducke   amazônia centralGuia de sapos da reserva ducke   amazônia central
Guia de sapos da reserva ducke amazônia central
 
R0819 1
R0819 1R0819 1
R0819 1
 
Scientific american brasil janeiro 2016
Scientific american brasil   janeiro 2016Scientific american brasil   janeiro 2016
Scientific american brasil janeiro 2016
 
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006
Guia de sapos da reserva adolpho ducke, amazonia central 2006
 
18
1818
18
 
Por que as abelhas estão morrendo?
Por que as abelhas estão morrendo? Por que as abelhas estão morrendo?
Por que as abelhas estão morrendo?
 
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia central
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia centralGuia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia central
Guia de marantáceas da reserva ducke e da rebio uatumã – amazônia central
 

Destaque

06 ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj
06  ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj06  ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj
06 ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rjadrianomedico
 
Esquema para tratamento com soro antipeçonhento
Esquema para tratamento com soro antipeçonhentoEsquema para tratamento com soro antipeçonhento
Esquema para tratamento com soro antipeçonhentoNeuder Wesley
 
Classe Dos AnfíBios
Classe Dos AnfíBiosClasse Dos AnfíBios
Classe Dos AnfíBiosSimone Morais
 
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...Augusto Moraes
 
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015Alexandre Naime Barbosa
 
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentos
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentosAcidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentos
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentosadrianomedico
 
CIT - RS- Peçonhentos - Bombeiros
CIT - RS- Peçonhentos - BombeirosCIT - RS- Peçonhentos - Bombeiros
CIT - RS- Peçonhentos - BombeirosDeise
 
2422010193955manual serpentes peconhentas
2422010193955manual serpentes peconhentas2422010193955manual serpentes peconhentas
2422010193955manual serpentes peconhentaskarol_ribeiro
 
Acidentes com animais peçonhentos
Acidentes com animais peçonhentosAcidentes com animais peçonhentos
Acidentes com animais peçonhentosIsmael Costa
 

Destaque (17)

Répteis
RépteisRépteis
Répteis
 
06 ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj
06  ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj06  ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj
06 ofidismo - enfermaria 18 – clínica médica rj
 
Esquema para tratamento com soro antipeçonhento
Esquema para tratamento com soro antipeçonhentoEsquema para tratamento com soro antipeçonhento
Esquema para tratamento com soro antipeçonhento
 
Classe Dos AnfíBios
Classe Dos AnfíBiosClasse Dos AnfíBios
Classe Dos AnfíBios
 
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...
Manual de Diagnóstico e Tratamento para Acidentes com Animais Peçonhentos - M...
 
Serpentes brasileiras
Serpentes brasileirasSerpentes brasileiras
Serpentes brasileiras
 
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015
Acidentes Ofidicos Serpentes Brasil 2015
 
Reprodução cobras
Reprodução cobras Reprodução cobras
Reprodução cobras
 
Ofidismo
OfidismoOfidismo
Ofidismo
 
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentos
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentosAcidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentos
Acidentes ofídicos. cuidados imediatos e tratamentos
 
Acidentes Ofdicos
Acidentes OfdicosAcidentes Ofdicos
Acidentes Ofdicos
 
CIT - RS- Peçonhentos - Bombeiros
CIT - RS- Peçonhentos - BombeirosCIT - RS- Peçonhentos - Bombeiros
CIT - RS- Peçonhentos - Bombeiros
 
2422010193955manual serpentes peconhentas
2422010193955manual serpentes peconhentas2422010193955manual serpentes peconhentas
2422010193955manual serpentes peconhentas
 
Biologia e controle de serpentes peçonhentas
Biologia e controle de serpentes peçonhentasBiologia e controle de serpentes peçonhentas
Biologia e controle de serpentes peçonhentas
 
Acidentes com animais peçonhentos
Acidentes com animais peçonhentosAcidentes com animais peçonhentos
Acidentes com animais peçonhentos
 
Animais peçonhentos ofidismo
Animais peçonhentos ofidismoAnimais peçonhentos ofidismo
Animais peçonhentos ofidismo
 
Cobras
CobrasCobras
Cobras
 

Semelhante a Herpetologia

As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...
As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...
As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...FERNANDACOELHOSANTOS
 
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL: DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL:  DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL:  DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL: DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...Dimas Marques
 
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptx
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptxClassificação dos seres vivos - Sistemática.pptx
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptxEDUARDOMAX6
 
Itapua peixe elétrico_giora
Itapua peixe elétrico_gioraItapua peixe elétrico_giora
Itapua peixe elétrico_gioraavisaassociacao
 
Plantas da floresta atlântica
Plantas da floresta atlânticaPlantas da floresta atlântica
Plantas da floresta atlânticaAndre Benedito
 
Itapuã lagoa negra_peixes_dias
Itapuã lagoa negra_peixes_diasItapuã lagoa negra_peixes_dias
Itapuã lagoa negra_peixes_diasavisaassociacao
 
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Dimas Marques
 
Canhos &amp; manfio recursos microbiológicos para biotecnologia
Canhos &amp; manfio   recursos microbiológicos para biotecnologiaCanhos &amp; manfio   recursos microbiológicos para biotecnologia
Canhos &amp; manfio recursos microbiológicos para biotecnologiaWatson Gama
 
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02Saulo Gomes
 
Acidentes ofídicos dr. paula bernades
Acidentes ofídicos dr. paula bernadesAcidentes ofídicos dr. paula bernades
Acidentes ofídicos dr. paula bernadesadrianomedico
 
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptx
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptxAULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptx
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptxMagnoSaSouza
 
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiroDanilo Macedo
 
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...EtieneClavico
 
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbios
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbiosImpactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbios
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbiosJoão Vitor Soares Ramos
 
Classificação dos seres vivos
Classificação dos seres vivosClassificação dos seres vivos
Classificação dos seres vivosEvandro Batista
 

Semelhante a Herpetologia (20)

As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...
As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...
As regras de nomenclatura binomial de Lineu e formas de classificação biológi...
 
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL: DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL:  DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL:  DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...
O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL: DAS ORIGENS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS...
 
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptx
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptxClassificação dos seres vivos - Sistemática.pptx
Classificação dos seres vivos - Sistemática.pptx
 
Itapua peixe elétrico_giora
Itapua peixe elétrico_gioraItapua peixe elétrico_giora
Itapua peixe elétrico_giora
 
Itapua peixes cognato
Itapua peixes cognatoItapua peixes cognato
Itapua peixes cognato
 
Plantas da floresta atlântica
Plantas da floresta atlânticaPlantas da floresta atlântica
Plantas da floresta atlântica
 
Itapuã lagoa negra_peixes_dias
Itapuã lagoa negra_peixes_diasItapuã lagoa negra_peixes_dias
Itapuã lagoa negra_peixes_dias
 
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
 
Canhos &amp; manfio recursos microbiológicos para biotecnologia
Canhos &amp; manfio   recursos microbiológicos para biotecnologiaCanhos &amp; manfio   recursos microbiológicos para biotecnologia
Canhos &amp; manfio recursos microbiológicos para biotecnologia
 
ACIDENTES OFÍDICOS
ACIDENTES OFÍDICOS ACIDENTES OFÍDICOS
ACIDENTES OFÍDICOS
 
Revista codigo florestal_e_a_ciencia-wwf
Revista codigo florestal_e_a_ciencia-wwfRevista codigo florestal_e_a_ciencia-wwf
Revista codigo florestal_e_a_ciencia-wwf
 
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02
Ofidismobernarde 131231223424-phpapp02
 
Acidentes ofídicos dr. paula bernades
Acidentes ofídicos dr. paula bernadesAcidentes ofídicos dr. paula bernades
Acidentes ofídicos dr. paula bernades
 
Sistematica apostila
Sistematica apostilaSistematica apostila
Sistematica apostila
 
Evidencias evolutivas
Evidencias evolutivasEvidencias evolutivas
Evidencias evolutivas
 
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptx
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptxAULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptx
AULA_2_CLASSIFICAÇÃO E FILOGENIA ANIMAL.pptx
 
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro
1º EM: Leitura em aula - 8/fevereiro
 
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...
Aula 01 - Noções de Zoologia (regras de nomenclatura científica, divisão ...
 
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbios
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbiosImpactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbios
Impactos potenciais das alterações do código florestal sobre anfíbios
 
Classificação dos seres vivos
Classificação dos seres vivosClassificação dos seres vivos
Classificação dos seres vivos
 

Mais de Projeto Golfinho Rotador

Licitação da lanchonete do Jardim Botânico
Licitação da lanchonete do Jardim BotânicoLicitação da lanchonete do Jardim Botânico
Licitação da lanchonete do Jardim BotânicoProjeto Golfinho Rotador
 
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...Projeto Golfinho Rotador
 
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle Marx
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle MarxArqueologia Botânica dos Jardins de Burle Marx
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle MarxProjeto Golfinho Rotador
 
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapes
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapesPauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapes
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapesProjeto Golfinho Rotador
 
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental   apresentação...Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental   apresentação...
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...Projeto Golfinho Rotador
 

Mais de Projeto Golfinho Rotador (20)

Coral vivo
Coral vivoCoral vivo
Coral vivo
 
Licitação da lanchonete do Jardim Botânico
Licitação da lanchonete do Jardim BotânicoLicitação da lanchonete do Jardim Botânico
Licitação da lanchonete do Jardim Botânico
 
Lojinha do Botânico
Lojinha do BotânicoLojinha do Botânico
Lojinha do Botânico
 
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...
Espécies nativas da Mata Atlântica em Pernambuco com potencial para arborizaç...
 
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle Marx
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle MarxArqueologia Botânica dos Jardins de Burle Marx
Arqueologia Botânica dos Jardins de Burle Marx
 
2
22
2
 
Jacaranda
JacarandaJacaranda
Jacaranda
 
Listaresultado
ListaresultadoListaresultado
Listaresultado
 
Index seminum jbr
Index seminum jbrIndex seminum jbr
Index seminum jbr
 
Abelhas nativas e conservação ambiental
Abelhas nativas e conservação ambientalAbelhas nativas e conservação ambiental
Abelhas nativas e conservação ambiental
 
Cartaz seminário apime 4 v.1
Cartaz  seminário apime 4 v.1Cartaz  seminário apime 4 v.1
Cartaz seminário apime 4 v.1
 
Jardimbotanico
JardimbotanicoJardimbotanico
Jardimbotanico
 
Lista de espécies ameaçadas
Lista de espécies ameaçadasLista de espécies ameaçadas
Lista de espécies ameaçadas
 
Abelhas
AbelhasAbelhas
Abelhas
 
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapes
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapesPauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapes
Pauta lxxv ro_13.12.2013_jaboatão.dos.guararapes
 
Cartilha solar
Cartilha solarCartilha solar
Cartilha solar
 
Pedradocachorro
PedradocachorroPedradocachorro
Pedradocachorro
 
Pdflivrocaatinga
PdflivrocaatingaPdflivrocaatinga
Pdflivrocaatinga
 
Capalivro
CapalivroCapalivro
Capalivro
 
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental   apresentação...Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental   apresentação...
Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...
 

Herpetologia

  • 1. ISSn: 2316-4670 Volume 1 - número 3 - novembro de 2012 SoCIeDaDe BraSILeIra De HerPeToLogIa
  • 2. Informações gerais A revista eletrônica Herpetologia Brasileira é quadrimestral (com números em março, julho e novembro) e publica textos sobre assun- tos de interesse para a comunidade herpetológica brasileira. Ela é disponibilizada apenas online, na página da Sociedade Brasileira de Herpetologia; ou seja, não há versão impressa em gráfica. Entretanto, qualquer associado pode imprimir este arquivo. Seções Editores Gerais: Taran Grant Marcio Martins Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia: Esta se- Notícias da SBH: Fausto Barbo ção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de respon- Giovanna Montingeli sabilidade da diretoria da Sociedade. Notícias Herpetológicas Gerais: Paulo Bernarde Notícias de Conservação: Ariadne Angulo Notícias Herpetológicas Gerais: Esta seção apresenta infor- Débora Silvano mações e avisos sobre os eventos, cursos, concursos, fontes de Yeda Bataus financiamento, bolsas, projetos etc. de interesse para nossa comunidade. Obituários: Francisco L. Franco Marinus Hoogmoed Notícias de Conservação: Esta seção apresenta informações Resenhas: José P. Pombal Jr. (anfíbios) e avisos sobre a conservação da herpetofauna brasileira ou de Renato Bérnils (répteis) fatos de interesse para nossa comunidade. Trabalhos Recentes: Carlos Jared Ermelinda Oliveira Obituários: Esta seção apresenta artigos avisando sobre o fale- Fernando Gomes cimento recente de um membro da comunidade herpetológica João Alexandrino brasileira ou internacional, contendo uma descrição de sua con- Reuber Brandão tribuição para a herpetologia. Mudanças Taxonômicas: José A. Langone (anfíbios) Paulo C. A. Garcia (anfíbios) Resenhas: Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam Paulo Passos (répteis) o conteúdo de livros de interesse para nossa comunidade. Métodos em Herpetologia: Camila Both Denis Andrade Trabalhos Recentes: Esta seção apresenta resumos breves de Felipe Grazziotin trabalhos publicados recentemente sobre espécies brasileiras, Felipe Toledo ou sobre outros assuntos de interesse para a nossa comunida- de, preferencialmente em revistas de outras áreas. Ensaios & Opiniões: Julio C. Moura-Leite Luciana Nascimento Mudanças Taxonômicas: Esta seção apresenta uma lista des- Teresa Cristina Ávila-Pires critiva das mudanças na taxonomia da herpetofauna brasileira, Notas de História Natural: Cynthia Prado incluindo novas espécies e táxons maiores, novos sinônimos, Marcelo Menin novas combinações e rearranjos maiores. Marcio Borges-Martins Mirco Solé Métodos em Herpetologia: Esta seção apresenta descrições e Paula Valdujo estudos empíricos relacionados aos diversos métodos de coleta Ricardo Sawaya e análise de dados, representando a multidisciplinaridade da Contato para Publicidade: Magno Segalla herpetologia moderna. Sociedade Brasileira de Herpetologia Ensaios & Opiniões: Esta seção apresenta ensaios históricos e www.sbherpetologia.org.br biográficos, opiniões sobre assuntos de interesse em herpetolo- Presidente: Marcio Martins 1º Secretário: Giovanna Gondim Montingelli gia, descrições de instituições, grupos de pesquisa, programas 2º Secretário: Fausto Erritto Barbo de pós-graduação etc. 1º Tesoureiro: Vivian Carlos Trevine 2º Tesoureiro: Roberta Graboski Mendes Notas de História Natural: Esta seção apresenta artigos cur- Conselho: Hussam El Dine Zaher, José Perez Pombal Júnior, Magno Vicente Segalla, Ulisses Caramaschi, Taran Grant tos que, preferencialmente, resultam de observações de campo, de natureza fortuita, realizadas no Brasil ou sobre espécies que © Sociedade Brasileira de Herpetologia ocorrem no país. Os artigos não devem versar sobre (1) novos Diagramação: Airton de Almeida Cruz registros ou extensões de área de distribuição, (2) observações Foto da Capa: Enyalius iheringi, Campina Grande do Sul, PR (Foto: M. V. Segalla). realizadas em cativeiro ou (3) aberrações morfológicas.
  • 3. ÍNDICE   Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia...................... 89   Notícias Herpetológicas Gerais................................................ 94   Notícias de Conservação.......................................................... 95  Resenhas................................................................................ 98   Trabalhos Recentes................................................................. 100   Mudanças Taxonômicas........................................................... 102   Ensaios & Opiniões.................................................................. 106   Notas de História Natural........................................................ 109 Thecadactylus solimonensis, Porto Velho, RO (Foto: M. V. Segalla).
  • 4. Notícias da Sociedade 89 Brasileira de Herpetologia Simpósio sobre conservação de anfíbios e répteis Entre os principais objetivos da SBH está a promoção de eventos que permi- tam congregar pessoas interessadas no desenvolvimento da herpetologia, de modo a promover, estimular e apoiar es- tudos herpetológicos no Brasil, zelando pela conservação da fauna herpetológica brasileira. Intercalados aos congressos de herpetologia, que atualmente ocorrem nos anos ímpares, foram realizados pela SBH, desde 2001, quatro simpósios abor- dando assuntos diversos sobre répteis e anfíbios. O último, realizado com sucesso nos dias 24 e 25 de novembro, no auditó- rio do Instituto Butantan, em São Paulo, apresentou como objetivo a divulgação e discussão dos conhecimentos atuais sobre diversos aspectos relacionados à conserva- ção dos anfíbios e répteis brasileiros, uma das faunas mais ricas do mundo. O simpó- sio, intitulado “Desafios para a conserva- ção da megadiversidade: o caso dos anfí- bios e répteis brasileiros”, foi organizado pela diretoria da SBH em parceria com o Museu Biológico do Instituto Butantan, representado por Giuseppe Puorto, Erika Hingst-Zaher e Michelle Campagner. Um total de 117 pessoas se inscreve- ram para assistir o simpósio, entre alunos de graduação, pós-graduação e profissio- nais. Foram ministradas 12 palestras e realizada uma mesa redonda (esta última com a participação de quatro profissio- nais), resultando em uma excelente opor- tunidade para a discussão das mais diver- sas questões relacionadas à conservação de anfíbios e répteis. As palestras versa- ram sobre (1) a avaliação do estado de con- servação dos anfíbios e répteis brasileiros (incluindo os resultados preliminares das ANUNCIADO O VI Congresso março de 2013. Após esta data será exigi- avaliações dos anfíbios e das serpentes, Brasileiro de Herpetologia do o comprovante de pagamento da anui- concluídas este ano), (2)  efeitos de ati- dade de 2013. O pagamento da anuidade vidades agrícolas sobre as populações de Já encontram-se abertas as inscrições pode ser comprovado junto à Comissão anfíbios, (3) quitridiomicose em anfíbios, para o VI Congresso Brasileiro de Herpeto- Organizadora através do envio do e‑mail (4)  medicina veterinária aplicada a con- logia, a ser realizado na cidade de Salvador, de confirmação emitido pelo site da SBH. servação, (5) conservação ex situ praticada em Julho de 2013. Informações detalhadas Ressaltamos que existem quatro catego- pelo Zoológico de São Paulo, (6)  planos podem ser obtidas em www.cbh13.com.br. rias de preços (sócios e não sócios efeti- de ação desenvolvidos pelo RAN‑ICMBio, A SBH oferece descontos aos associa- vos), com aumento gradativo do valor a (7)  estado de conservação dos quelônios dos que estejam em dia com suas anuida- ser pago ao longo do ano. e crocodilianos, (8)  espécies endêmicas des. De acordo com o estatuto da socieda- O Comitê Organizador do VI CBH é de ilhas, (9) biogeografia da conservação, de, as anuidades deverão ser pagas até 31 constituído por Marcelo Felgueiras Napo- (10) o uso de novas filogenias para a con- de março de cada ano. Portanto, os sócios li, Presidente (UFBA), Flora Acuña Jun- servação e (11)  o problema da rã-touro em dia com a anuidade de 2012 poderão cá, Vice-Presidente (UEFS), Mirco Kienle como espécie invasora. efetuar a inscrição com desconto até 31 de Solé, Presidente da Comissão Científica Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 5. 90 Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia Participantes do Simpósio sobre conservação de anfíbios e répteis (Foto: G. Puorto). (UESC), Rejane Maria Lira da Silva, 1ª Se- Documento sobre a técnica de como método de marcação para qualquer cretária (UFBA), André Luis da Cruz, Te- ablação de dedos e artelhos forma de pesquisa científica. Nas próxi- soureiro (UFBA) e Ulisses Caramaschi, mas páginas a SBH apresenta aos asso- Presidente de Honra da Comissão Cientí- A Sociedade Brasileira de Herpetologia ciados, e à comunidade herpetológica que fica (MN). elaborou um documento em resposta à so- representa, o documento elaborado em A programação geral do VI CBH in- licitação feita pelo ICMBio/SISBIO em re- resposta ao Sr. Rodrigo S. P. Jorge, Co- clui ampla diversidade de assuntos rela- lação ao pleito do IBAMA e do Ministério ordenador de Autorização e Informação cionados ao estudo de anfíbios e répteis. Público relativo à eliminação da ablação Científica em Biodiversidade (ICMBio/ Entretanto, a organização do congresso de dedos e artelhos de anfíbios e répteis MMA). pretende oferecer espaço privilegiado para assuntos aplicados ao tema-alvo do evento, a Herpetologia Integrativa. O VI CBH terá diversas atividades si- multâneas, tais como apresentações de trabalhos (painel e oral), palestras, con- ferências, mesas-redondas, oficinas e concursos. Tais atividades possibilitarão a discussão tanto de assuntos acadêmicos quanto de aspectos aplicados, envolvendo diagnósticos e soluções para problemas ambientais. Por meio de tais discussões, espera-se promover colaborações entre pesquisadores, oferecer subsídios a pro- fissionais de empresas e órgãos gover- namentais e aprimorar da formação de estudantes. Colobodactylus taunayi, Ribeirão Grande, SP (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 6. Notícias da Sociedade 91 Brasileira de Herpetologia Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 7. 92 Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 8. Notícias da Sociedade 93 Brasileira de Herpetologia Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 9. 94 Notícias Herpetológicas Gerais 37° Congresso da Sociedade Conservação da Natureza e dos Recursos Congresso internacional de de Zoológicos e Aquários do Naturais (IUCN), em estreita colaboração Bioacústica Brasil com a Convenção sobre o Comércio Inter- nacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES) e outros órgãos internacionais para promover a conserva- ção de crocodilos e comércio legal que não ameace a sobrevivência desses répteis. A data limite para envio de resumos, resu- mos expandidos e manuscritos é 20 de abril de 2013. Maiores informações po- dem ser encontradas na página do evento: Será realizado entre 8 e 13 de setem- www.csgsrilanka.com. bro de 2013 o XXIV International Bioa- coustics Congress (IBAC) em Pirenópolis, GO. O programa inclui palestras, mesas Editais da Fundação Boticário redondas, apresentações orais, apresenta- ção de painéis, workshops e mini-cursos. Resumos serão recebidos entre 1º de ja- neiro e 15 de abril de 2013. Mais infor- mações podem ser obtidas na página do evento: www.ibacbrazil.com. XXX Congresso Brasileiro de Zoologia O evento ocorrerá entre 13 a 17 de março de 2013 no Beto Carrero World, na A cidade de Porto Alegre (RS) sediará Penha (Santa Catarina). As inscrições de pela terceira vez o Congresso Brasileiro de trabalhos serão aceitas até 13 de janeiro Os editais da Fundação Grupo Boticá- Zoologia (CBZ), que será realizado entre de 2013. O tema do congresso é “Zoológi- rio de Proteção À Natureza têm por obje- 4 e 7 fevereiro de 2014, sob a organiza- cos e Aquários: O futuro da conservação” tivo patrocinar projetos que contribuam ção da Sociedade Brasileira de Zoologia e a programação científica é composta por efetivamente para a conservação da natu- (SBZ) e da Pontifícia Universidade Católi- minicursos, palestras e conferências, in- reza no Brasil, sendo destinado somente a ca do Rio Grande do Sul (PUCRS). As duas cluindo um minicurso dentro da área de pessoas jurídicas, sem fins lucrativos, ex- edições anteriores foram em 1982 (IX) e herpetologia (Répteis sob cuidados huma- ceto o Edital de Apoio a Projetos Fundação 1996 (XXI). Mais detalhes podem ser en- nos: como manter e como tratar). Maiores Araucária e Fundação Grupo Boticário. contrados na página da SBZ: www.sbzoo- informações no Site do evento: www.con- O Edital de Apoio a Projetos, vigente logia.org.br. gressoszb2013.com.br. desde o início dos anos 90, é direcionado a todas as regiões do Brasil e possui as seguintes linhas temáticas: (1)  Ações e Conferência sobre pesquisa para a conservação de espécies conservação de crocodilianos e comunidades silvestres em ecossiste- no Sri Lanka mas naturais; (2)  Ações para implemen- tação de políticas voltadas à conservação Será realizado entre 20 e 23 de maio de de ecossistemas naturais; (3)  Ações para 2013 em Negombo (Sri Lanka) a “World a restauração de ecossistemas naturais; Crocodile Conference (22nd Working Mee- (4)  Ações para prevenção ou controle de ting of the IUCN – SSC Crocodile Specia- espécies invasoras; (5) Estudos para cria- list Group)”. O Crocodile Specialist Group ção ou manejo de unidades de conserva- (CSG) é uma rede mundial de especialis- ção; e (6) Pesquisa sobre vulnerabilidade, tas (pesquisadores e representantes de impacto e adaptação de espécies e ecossis- órgãos governamentais, ONGs e empre- têmicas a variáveis climáticas. sas) envolvidos na conservação das 23 O próximo período de inscrição de pro- espécies de jacarés, aligátores, crocodilos postas é entre a primeira quinzena de janei- e gaviais no mundo. O CSG opera sob os ro e 31 de março de 2013. As normas para o auspícios da Comissão de Sobrevivência envio de propostas podem ser encontradas Hypsiboas albomarginatus, Morretes, PR (Foto: de Espécies da União Internacional para a em: www.fundacaogrupoboticario.org.br. M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 10. Notícias 95 de Conservação Congresso Mundial de Cristiano Nogueira, da UnB, como Co-co- MPEG, MZUSP, USP, UFRPE, UFRN, Conservação da UICN ordenador. O ponto forte do processo é a UFMT, FURG, UFRGS, PUCRS, UFAM, participação da comunidade científica em UFSM, UFES, UESC, UNIFESP e RAN. Na De 6 a 15 de setembro de 2012 foi rea- todas as etapas, pois sem o conhecimento primeira oficina foram avaliadas 173 es- lizado o Congresso Mundial de Conserva- acadêmico acumulado, não conseguiría- pécies e na segunda 218, totalizando 391 ção na ilha de Jeju, Coréia do Sul. Este é o mos chegar a um resultado de qualidade espécies. Desse total, cinco espécies foram maior evento de conservação realizado no e legítimo. categorizadas como Criticamente em pe- mundo e ocorre a cada quatro anos. Parti- A avaliação das serpentes foi dividida rigo (CR), 18 como Em perigo (EN), cinco ciparam do Congresso aproximadamente em duas oficinas, realizadas neste ano como Vulnerável (VU), sete como Quase 10 mil pessoas representando mais de 160 na Academia Brasileira de Biodiversidade ameaçada (NT), 21 como Dados insufi- países (incluindo o Brasil), sendo a meta- (ACADEBIO), uma em abril e outra em ou- cientes (DD), 314 como Menos preocu- de delas especialistas em conservação. O tubro. Participaram ao todo, 24 avaliado- pante (LC) e 21 como Não aplicável (NA). congresso conteve dois grupos de eventos: res representando 16 instituições de ensi- Na atual lista oficial da fauna brasileira um fórum aberto ao público, que contava no/pesquisa e empresa privada: AMPLO, ameaçada de extinção (IN 03/03‑MMA), com quase 600 eventos, e uma assembleia de membros, os quais são estados repre- sentados pelos seus governos e que discu- tem e aprovam o programa da UICN para o quadriênio seguinte (2013‑2016), as re- soluções que guiarão a agenda de conser- vação pelos próximos quatro anos e onde são eleitos representantes para cargos da organização (presidente, tesoureiro, presidentes das comissões e conselheiros regionais). Aconteceram dois componen- tes especificamente relacionados aos an- fíbios: 1)  uma oficina de conservação de anfíbios, realizada dentro do contexto do fórum, e 2) uma moção de conservação de anfíbios submetida para consideração na assembleia, a qual foi aprovada com al- gumas modificações (Moção 020; http:// portals.iucn.org/2012motions). Maiores detalhes sobre o Congresso e seus even- tos podem ser obtidos na página: www. iucnworldconser vationcongress.org. Participantes da I Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil, Editora: AA. ACADEBIO, Iperó, SP, de 23 a 27 de abril de 2012. Foto: acervo RAN. Concluída a avaliação das serpentes no Brasil O processo de avaliação da biodiver- sidade brasileira é coordenado pela Coor- denação de Avaliação do Estado de Con- servação da Biodiversidade (COABIO), subordinada à Coordenação Geral de Espécies Ameaçadas do ICMBio, e o pro- cesso de avaliação da herpetofauna no Brasil está sob a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios, RAN‑ICMBio, que tem como Ponto Focal a Analista Ambiental, Yeda Bataus. Para o processo de avaliação das serpentes, o Centro conta com a par- ticipação de Marcio Martins, da USP, São Participantes da II Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil, Paulo, como Coordenador do táxon, e de ACADEBIO, Iperó, SP, de 22 a 26 de outubro de 2012. Foto: acervo RAN. Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 11. 96 Notícias de Conservação há cinco serpentes listadas como amea- nas regiões da Ásia, Rússia e Oceania; en- Unidos. Para maiores informações visite çadas de extinção. Após a conclusão da tretanto, ha notícias de interesse global, a página: www.amphibianark.org/amphi- avaliação atual, esse número subiu quase como as publicações recentes (incluindo bian-academy. Editora: AA. seis vezes, pois 28 espécies foram cate- um livro brasileiro), as oportunidades de gorizadas como ameaçadas de extinção. financiamento e iniciativas globais (avalia- Entretanto, esse resultado reflete muito ção de sucesso em conservação de anfíbios, Plano de Ação Nacional mais mudanças na estratégia empregada projeto BIOFRAG, etc.). Vale a pena confe- – Herpetofauna da Mata (avaliação de toda a fauna, ao invés de rir. Editora: AA. Atlântica Nordestina uma lista de espécies-candidatas, como foi feito na preparação da lista de 2003) Entre os dias 27 de agosto e 1º de se- do que uma piora significativa no estado Academia dos Anfíbios tembro de 2012, o Centro Nacional de de conservação das serpentes brasileiras. Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfí- A próxima etapa, sob coordenação da A Amphibian Ark e a Sociedade Zoo- bios (RAN‑ICMBio) realizou, em parceria COABIO, é a validação dessas avaliações e, lógica de Toledo, Estados Unidos, estão com a Universidade Federal do Rio Gran- em seguida, a publicação da lista das es- oferecendo um novo programa de capaci- de do Norte (UFRN), na cidade de Natal, a pécies que estão ameaçadas, cuja compe- tação em conservação de anfíbios chama- Oficina de planejamento para elaboração tência é do Ministério do Meio Ambiente. do Academia dos Anfíbios. O programa do Plano de Ação Nacional para Conserva- Editores: YB e MMa. visa oferecer um curso de uma semana em ção da Herpetofauna Ameaçada da Mata abril de 2013 em Toledo, Ohio, Estados Atlântica Nordestina (PAN Herpetofauna Parceria entre o Grupo de Especialistas de Anfíbios da IUCN (ASG) e a International Society for the Study and Conservation of the Amphibians (ISSCA) Recentemente for assinado um Memo- rando de Entendimento entre o Grupo de Especialistas de Anfíbios e a International Society for the Study and Conservation of the Amphibians (ISSCA). A ISSCA é uma sociedade fundada em 1982 cujo principal objetivo é promover a pesquisa e conser- vação dos anfíbios, e que publica a revista científica Alytes. O ASG e a ISSCA visam colaborar compartilhando conteúdo entre as suas respectivas publicações (Alytes no caso da ISSCA e FrogLog no caso da ASG). Como primeiro resultado dessa parceria, a ISSCA tem disponibilizado para download no site da ASG quatro trabalhos do volu- me especial sobre conservação de anfíbios da Alytes, recentemente publicado (volu- me 29, 1‑4). Para ter acesso aos trabalhos, visite a página: www.amphibians.org/re- sources/publications/alytes. Editora: AA. Novo fascículo da revista FrogLog O número 104 da revista FrogLog está disponível para download do site do Grupo de Especialistas de Anfíbios da IUCN (ASG): www.amphibians.org/blog/2012/10/22/ froglog-104. Este número concentra-se Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 12. Notícias 97 de Conservação da Mata Atlântica Nordestina). Essa ofici- em áreas estratégicas nos estados do Cea- serem executadas até novembro de 2016, na contou com a participação de 55 pesso- rá, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam- período de abrangência do PAN. Somente as representando 43 instituições das esfe- buco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Este plano por meio das parcerias e acordos estabe- ras federal, estadual e municipal, diversos de ação tem como objetivo geral “Aumen- lecidos com as instituições participantes representantes do terceiro setor, órgãos tar o conhecimento sobre as espécies-foco deste Plano de Ação, será possível alcan- de educação, pesquisa e proteção. e minimizar o efeito das ações antrópicas, çarmos os objetivos identificados. No Plano de Ação foram contempladas de forma a contribuir para a conservação A previsão do RAN‑ICMBio é que até o seis espécies de répteis e anfíbios oficial- das espécies de anfíbios e répteis contem- último bimestre de 2012, serão publicadas mente ameaçados de extinção e mais 28 pladas no PAN da Mata Atlântica nordes- as portarias de aprovação do plano de Ação, espécies com potencial risco de ameaça, tina, em cinco anos”. Foram estabelecidos bem como do Grupo Assessor, oficializan- todas com ocorrência nos remanescentes durante a oficina cinco objetivos específi- do assim este compromisso do RAN‑ICM- da Mata Atlântica Nordestina, com foco cos que somados contabilizam 47 ações a Bio com a sociedade brasileira. Editora: YB. Hypsiboas faber, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 13. 98 Resenhas Maffei, F., Ubaid, F. K. & Jim, J. 2011. Anfíbios. Fazenda Rio Claro. Lençóis Paulista. SP. Brasil. Canal 6 Editora, Bauru. 128 pp. O Prof. Jorge Jim (1942‑2011) teve toda sua vida acadêmi- ca dedicada ao estudo dos anfíbios. Desde cedo, ainda na gra- duação em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, teve sua iniciação científica orientada pelo Prof. Eu- genio Izecksohn, um dos pioneiros no estudo de anfíbios bra- sileiros e um dos zoólogos de vertebrados mais completos que conhecemos. Essa formação sólida ele levaria para seu primei- ro e único emprego universitário, como docente da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, mais tarde e até hoje fazendo parte da Universidade Estadual Paulista – Cam- pus de Botucatu. Nessa universidade, Jorge Jim desenvolveu sua carreira e dedicou-se profundamente à sua maior paixão: o ensino. Era um professor nato, com vasta cultura, opiniões fir- mes e grande facilidade em transmitir conhecimentos, influen- ciando diversas gerações de estudantes que passaram por suas mãos e, em muitas oportunidades, o escolheram como patrono ou paraninfo de suas turmas. Com a vinda do ensino de pós- -graduação, estendeu suas atividades como professor e orienta- dor de muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, sempre fiel à sua grande vontade de transmitir conhecimentos. No campo científico, ainda que não fosse um pesquisador ex- cepcionalmente produtivo, formou ou, pelo menos, influen- ciou várias gerações de herpetólogos. Nunca parou de ensinar e pesquisar, e isso o colocou na interessante posição de ser au- O corpo principal do livro trata de 40 espécies de anfíbios tor e ao mesmo tempo homenageado neste livro. Por um lado, anuros, distribuídos em 16 gêneros e sete famílias. A organiza- junto com seus orientandos Fábio Maffei e Flávio Kulaif Ubaid, ção é alfabética, o que facilita a localização de qualquer táxon desenvolvia as ideias para elaboração deste trabalho, mas foi e, apesar de não haver preocupação com o relacionamento fi- colhido por impiedoso câncer que o levou à morte antes de ter logenético das espécies estudadas, estas estão de acordo com visto sua publicação. Assim, por outro lado, muito justamente as mais modernas propostas nomenclaturais oriundas desses o livro é dedicado ao Prof. Jorge Jim e em sua homenagem é estudos. Cada espécie á profusamente ilustrada com fotogra- apresentado. fias de excelente qualidade, quase em sua totalidade obtidas O livro sobre os Anfíbios. Fazenda Rio Claro. Lençóis Paulista. em campo e mostrando o animal em seu ambiente natural. SP. Brasil constitui exemplar publicação sobre uma fauna re- Exemplares em diversas posições e posturas, em atividade de gional. Como salientam os autores, “apesar do vasto conheci- vocalização, com o saco vocal distendido, amplexos, detalhes mento sobre os anfíbios em território paulista, diversas lacunas de estruturas, girinos, desovas, comportamentos de escavação geográficas ainda persistem, sendo a região central do Estado e de exibição e mesmo eventos de predação, vão se sucedendo uma dessas lacunas…” nessas brilhantes ilustrações. Além dos infográficos, cada es- A organização do trabalho segue um formato mais ou menos pécie ainda é acompanhada por pequeno texto, onde aparecem tradicional, iniciando-se com pequena introdução sobre os an- rápidas observações sobre diversos aspectos de cada espécie, fíbios, suas ordens, sua importância ecológica e atuais ameaças. mas no geral dando uma ideia sobre a distribuição geral da es- Dois curtos textos sobre os dois biomas encontrados na região pécie no Brasil, época de ocorrência e de reprodução, aspectos estudada, o Cerrado e a Mata Atlântica, encerram essa parte e da biologia e da ecologia, detalhes de coloridos e muitos ou- segue-se a caracterização detalhada dessa região, envolvendo tros pontos interessantes ou curiosos. Essa grande quantida- sua exata localização e mapas, área, vegetação, clima, altitude de de informações visuais e escritas torna cada espécie uma e relevo. A descrição da metodologia de trabalho utilizada, en- agradável experiência, seja para o leigo apenas interessado em volvendo a periodicidade das coletas, pontos de amostragem e apreciar os anfíbios, como também para os estudiosos espe- tipos de corpos d’água explorados, são rapidamente abordados. cialistas que ali podem encontrar interessantes exemplos e Na página seguinte, há a apresentação e explicação dos infográ- elementos com os quais ainda possam não estar totalmente ficos que acompanharão cada espécie tratada, incluindo os me- familiarizados. ses de ocorrência da espécie, os biomas de ocorrência da espécie Por fim, aparece uma inovação: os autores trazem um ca- no Estado de São Paulo, os locais onde a espécie foi registrada pítulo ao qual chamam de Bastidores. Neste, apresentam in- na Fazenda Rio Claro, o tamanho real dos animais e os ambien- teressantes e úteis observações sobre como se deve proceder tes em que ocorrem. para a obtenção de boas fotografias. O que e como fotografar, Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 14. Resenhas 99 como iluminar, cuidados a serem tomados, obtenção de efeitos competência e — por que não dizer? —, até mesmo o carinho especiais, equipamentos e mesmo observações sobre a atitude e respeito pelos anfíbios anuros, reflexo indubitável de sua for- correta do fotógrafo, são abordados. Aspectos simples, úteis, mação junto ao seu professor e orientador, Dr. Jorge Jim. apresentados com objetividade e exemplificados com fotogra- Em resumo, um livro bem elaborado, bonito, informativo fias do próprio livro, são dicas importantes para as pessoas e útil. Não deve faltar em uma biblioteca herpetológica e, mais que desejem registrar fotograficamente esses interessantes que isso, não pode faltar para qualquer interessado nos anfíbios animais. do Brasil. Anfíbios. Fazenda Rio Claro. Lençóis Paulista. SP. Brasil cons- titui mais uma brilhante contribuição ao conhecimento dos Ulisses Caramaschi anfíbios anuros do Brasil. Ainda que seja regional, aborda es- Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, De- pécies em geral de grande distribuição geográfica, desta forma partamento de Vertebrados. Quinta da Boa Vista, 20940‑040, transpondo essa limitação. Os autores demonstram sua grande Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E‑mail: ulisses@acd.ufrj.br. Bolitoglossa paraensis, Belém, PA (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 15. 100 Trabalhos Recentes Provete, D. B., M. G. Garey, F. R. Da Silva e M. X. Jorda- entre estes dois biomas (maior estrutura vertical e maior va- ni. 2012. Knowledge gaps and bibliographical revi- riação dentro dos habitats na Amazônia versus maior estrutura sion about descriptions of free-swimming anuran horizontal e maior variação entre habitats no Cerrado) podem larvae from Brazil. North-Western Journal of Zoology, explicar tais resultados. O fato da filogenia não explicar varia- 8:283-286. ções em uso de microhabitats possui importantes implicações para o estudo da estrutura filogenética de comunidades. Em A despeito do recente aumento de artigos que apresentam escalas locais, demonstra que aspectos ecológicos e sua asso- descrições de girinos nos últimos anos, a maior parte dos tra- ciação com filogenia são essenciais para determinar quais pro- balhos publicados com anuros brasileiros não foca aspectos cessos afetam a estrutura de comunidades. Em escala regional, da morfologia da fase larval das espécies. Diogo Provete e ajuda a entender o papel dos filtros ambientais, da competição colaboradores realizaram uma revisão dos artigos que descre- e de processos neutros na estruturação filogenética das comu- vem girinos de vida livre de espécies brasileiras e concluíram nidades. Editor: RB. que já foram descritos os girinos de aproximadamente 61.3% dos anuros nacionais. Bufonidae se destaca como a família com menos girinos descritos (46.3%). Sugerem que estudos Liu, Y., L. Ding, J. Lei, E. Zhao e Y. Tang. Eye size varia- futuros sobre girinos devem também incluir informações tion reflects habitat and daily activity patterns in Co- sobre os ovos e os imaturos. Os autores ainda disponibili- lubrid snakes. Journal of Morphology, 273:883-893. zam uma base de informações sobre descrições de girinos na web (http://goo.gl/opquI), visando facilitar estudos futuros. Neste estudo, os autores testaram a hipótese de que o ta- Editor: RB. manho do olho de serpentes reflete adaptação ao habitat e ao padrão de atividade de forrageio. A variação do tamanho dos olhos (diâmetro) de 839 colubrídeos (49 gêneros e 66 espécies Garda, A. A., H. C. Wiederhecker, A. M. Gainsbury, e subespécies) foram analisados e correlacionados a variáveis G. C. Costa, R. A. Pyron, G. H. C. Vieira, F. P. Wer- como tamanho do corpo, tipo de habitat e modos de forrageio. neck e G. R. Colli. Microhabitat variation ex- Os resultados mostram que padrões de atividade e habitat são plains local-scale distribution of terrestrial fatores determinantes para a variação do tamanho de olhos Amazonian lizards in Rondônia, western Brazil. Bio- em espécies de colubrídeos. Ao contrário de outras espécies de tropica. Article first published online: 26 JUL 2012 DOI: vertebrados, colubrídeos diurnos apresentam olhos maiores do 10.1111/j.1744-7429.2012.00906.x que colubrídeos noturnos. Olhos de serpentes arborícolas tem tamanho absoluto maior que serpentes semiaquáticas e terres- Entender como a história filogenética, as interações eco- tres, contudo espécies destes hábitats, com atividade diurna ou lógicas e aspectos biogeográficos afetam a composição e a noturna, não apresentam diferença relativa. O tamanho dos estrutura das comunidades é um tema central da Ecologia de olhos de espécies terrestres é maior que de espécies fossoriais, Comunidades. Embora existam muitos trabalhos que tenham mas não há diferenças entre espécies semiaquáticas e fossoriais investigado o uso de microhabitats na estrutura das comuni- com hábitos noturnos. Essas observações mostram que entre dades, poucos incorporam o papel das relações de parentesco colubrídeos, a variação do tamanho do olho reflete adaptação a das espécies em tais questões. Garda e colaboradores investiga- diferentes habitats, estratégias de forrageio e padrões de ativi- ram o papel da ecologia e da filogenia para avaliar a associação dade diária, apresentando pouca relação com a filogenia deste entre a abundância de lagartos e variáveis de microhabitats grupo. Editora: MEO. em uma comunidade de 23 espécies, de sete famílias, em uma localidade de mata de terra firme em Rondônia. As espécies foram capturadas em armadilhas de queda e as variáveis foram Schaerlaeken V., V. Holanova, R. Boitel, P. Aerts, P. Ve- coletadas no local onde as armadilhas foram instaladas. Pa- lensky, I. Rehak, D. V. Andrade e A. Herrel. Built to drões locais de distribuição de recursos afetaram a variação na bite: feeding kinematics, bite forces, and head shape abundância de espécies, sendo que cupinzeiros, diâmetro das of a specialized durophagous lizards, Dracaena guia- árvores e abertura do dossel foram as variáveis mais importan- nensis (Teiidae). Journal of Experimental Zoology, tes. No entanto, embora as espécies tenham sido agrupadas de 317A:371-381. acordo com as variáveis ambientais mais importantes para sua história de vida (com base em estudos autoecológicos já dis- A malocofagia foi registrada para poucas espécies de la- poníveis), nem o uso do microhabitat ou a abundância foram gartos. Comer moluscos com carapaça requer uma morfologia afetadas pela estrutura filogenética da comunidade. Os resul- especializada que permita uma mordida eficaz, além de uma tados sugerem que, embora a comunidade tenha apresentado estratégia alimentar adaptada e eficiente para capturar, mani- estrutura quanto ao uso de microhabitat, os padrões atuais pular e ingerir estas presas. Mas, quais adaptações estão en- de uso de recursos nesta escala refletem interações ecológicas volvidas? Haveria mudança ontogenética na morfologia ou no associadas a variáveis ambientais. Esse padrão é diferente do comportamento alimentar? Muito pouco se conhece sobre este observado no Cerrado, onde não há estrutura filogenética ou aspecto em relação a espécies conhecidamente durofágicas. Os ecológica no uso de hábitat. Diferenças na estrutura de hábitat autores comparam a morfologia do crânio, a eficácia da mordida Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 16. Trabalhos Recentes 101 e a sequência alimentar de uma espécie especialista, o Jacuruxi Assis, V. R., C. A. Navas, M. T. Mendonça e F. R. Gomes. (Dracaena guianensis), e uma onívora, o Teiú (Tupinambis me‑ 2012. Vocal and territorial behavior in the Smith frog rianae). Embora ambas espécies se alimentem de moluscos, (Hypsiboas faber): Relationships with plasma levels possuem habitats e morfologia diferentes, onde D. guianensis of corticosterone and testosterone. Comparative Bio- pode ser encontrada próximo a ambientes aquáticos e apresen- chemistry and Physiology A, 163:265-271. ta dentes baixos e arredondados, características próprias da sua dieta especialista em moluscos. A análise dos movimentos de O possível compromisso entre os papéis dos glicocorticói- mastigação revelou que os jacuruxis são mais ágeis em mani- des como facilitadores da mobilização de substratos energé- pular os moluscos e, embora adultos das duas espécies tenham ticos e inibidores neurais do comportamento sexual durante força semelhante na mordida, jacuruxis possuem cabeça maior, a temporada reprodutiva encontra-se em debate. Os autores o que sugere que o fenótipo de adultos pode ser resultante da estudaram a relação entre o comportamento vocal e territorial seleção sobre jovens. Jovens de jacuruxi também possuem ca- e os níveis plasmáticos de corticosterona (CORT) e testostero- beça relativamente maior, mas, diferente dos adultos, possuem na (T) ao longo da temporada reprodutiva de Hypsiboas faber, mordida mais forte. Os autores acreditam que pode ocorrer se- uma perereca Neotropical territorial de grande porte. Os au- leção nos estágios de crescimento dos jovens, resultando em tores investigaram estas relações através de observações fo- cabeça relativamente maior e mordida mais forte. Embora não cais de machos em coros naturais, seguidas de amostragem de existam registros sobre a dieta de jovens, os autores sugerem sangue para dosagem hormonal através de radioimunoensaio. que muito provavelmente, moluscos façam parte da dieta nesta Os autores usaram, adicionalmente, uma abordagem experi- fase. Durante a mastigação dos jacuruxis, a língua tem impor- mental que consistiu na reprodução de gravações do canto de tante papel, pois auxilia na manipulação da presa, ao mesmo advertência por 10 minutos para simular uma invasão no ter- tempo que elimina fragmentos da concha. O comportamento ritório de machos focais, seguidas de observação comporta- alimentar dos jacuruxis parece ser mais adequado para esmagar mental e amostragem de sangue para dosagem hormonal. Os e processar este alimento de carapaça dura, ao mesmo tempo resultados mostraram um padrão de covariação entre CORT em que minimiza possíveis perdas da presa. Em outras pala- e T ao longo da temporada reprodutiva. Adicionalmente, a vras, feito para morder. Editora: MEO. variação individual em CORT e T foi relacionada a diferentes aspectos do comportamento: indivíduos com CORT mais altos apresentaram maiores taxas de vocalização, enquanto indiví- Sartori, M. R.; E. W. Taylor, e A. S. Abe. 2012. Nitrogen duos com níveis de esteroides mais altos, principalmente T, excretion during embrionic development of the green mostraram maior responsividade a estímulos sociais oriun- iguana, Iguana iguana (Reptilia; Squamata). Compa- dos de outros machos no coro. A simulação experimental de rative Biochemistry and Physiology A, 163:210-214. invasão territorial através do uso da reprodução do canto de anúncio da espécie não gerou alterações consistentes de com- O desenvolvimento no interior do ovo cleidóico das aves e portamento agonístico e CORT, mas reduziu T nos machos répteis impõe ao embrião o problema do acúmulo de excretas focais. Editor: FG. nitrogenados. A amônia, derivada do catabolismo proteico, é convertida em ureia, menos tóxica, ou em ácido úrico, relativa- mente insolúvel. O padrão de excreção nitrogenada do iguana verde, Iguana iguana, foi determinado durante o desenvolvi- mento embrionário usando amostras de fluido do alantoide, a partir do ovo homogeneizado por inteiro, e em amostras de plasma de jovens recém-eclodidos e adultos. A ureia foi o prin- cipal produto de excreção ao longo de todo o desenvolvimento embrionário. Foi encontrada em altas concentrações no saco alantóico, sugerindo a existência de um mecanismo presen- te na membrana do alantoide que permita a concentração da ureia. Iguanas recém-eclodidos ainda produzem ureia, enquan- to os adultos produzem ácido úrico. O curso temporal desta mudança no tipo de excreta nitrogenado não foi determinado, mas as alterações estão provavelmente relacionadas às relações hídricas associadas com o hábito terrestre dos adultos. Iguanas verdes produzem ovos com casca pergaminosa que dobram de massa ao longo da incubação devido à absorção de água; os ovos também acumulam 0,02 mM de ureia, representando 82% do total dos resíduos nitrogenados acumulados no alantoide. O aumento de massa dos ovos e da concentração de ureia tornam- -se significativos após os 55 dias de incubação, permanecendo inalterados até a eclosão. Editor: FG. Hydromedusa tectifera, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 17. 102 Mudanças Taxonômicas Répteis Squamata (correspondendo a 1.319 exemplares examinados, sendo 51 fósseis e 141 viventes), através de métodos de má- Editor: PP xima parcimônia e inferência bayesiana. Os autores utilizaram espécimes preparados por meio de técnicas tradicionais e to- Diapsida Osborn, 1903: posicionamento filogenético da mografias computadorizadas de alta resolução, perfazendo Ordem Testudines Linnaeus, 1758 uma matriz global com 610 caracteres. As topologias obtidas por meio de ambos métodos foram fundamentalmente con- Comentários: Crawford. et  al. (2012) realizaram análises fi- gruentes com os estudos morfológicos prévios (e.g., Conrad, logenômicas (> 1.000 loci de sequências ultra-conservadas de 2008), mas divergiram das topologias obtidas a partir das aná- ADN), por meio de métodos de inferência bayesiana a partir lises moleculares disponíveis (e.g., divisão basal de Iguania e de matrizes com genes concatenados, para os representantes Scleroglossa). atuais das principais linhagens de répteis (Lepidosauria e Ar- Wiens et al. (2012) realizaram análises filogenéticas mole- chosauria), com o intuito de determinar o posicionamento dos culares por meio de métodos probabilísticos (máxima veros- Testudines, haja vista que hipóteses prévias, tanto morfológi- similhança e inferência bayesiana), tratados de forma conca- cas (Rieppel e de Braga, 1996) como moleculares (Lyson et al., tenada e não-concatenada, incluindo uma amostragem de 44 2011), recuperaram os quelônios como grupo irmão de Lepido- marcadores nucleares (contabilizando 33.717 pares de bases) sauria. A hipótese de relacionamento filogenético obtida por para 161 terminais de Squamata. As topologias obtidas nes- Crawford et al. (2012) sugere que os quelônios compartilham te estudo corroboraram, em grande medida, as análises mo- um ancestral comum mais recente com os Archosauria (Aves + leculares prévias, mas divergiram das filogenias morfológicas Crocodylia). e mesmo de hipóteses geradas a partir de dados moleculares principalmente no que se refere aos seguintes pontos: recupe- rarem um ramo basal contendo Dibamidae Boulenger, 1884 + Iguania, 1817 Gekkota Cuvier, 1817 como grupo irmão dos demais Squama- Dactyloidae Fitzinger, 1843 ta; revelarem o parafiletismo de Amphisbaenia Gray, 1844 em Anolis Daudin, 1802 (ca. 390 espécies, 18 no Brasil): relação a família Teiidae Gray 1827; e o parafiletismo da Scole- revalidação e redefinição de gêneros cophidia Cope, 1864 em relação as demais Serpentes Linnaeus, 1758. Comentários: Nicholson et  al. (2012) propuseram uma nova classificação para o gênero Anolis (sensu lato) a partir de hi- póteses de relacionamento filogenético formuladas através Scincomorpha Camp, 1923 de análises moleculares concatenadas e, posteriormente, por Teiidae Gray, 1827 (ca. 140 espécies, 34 no Brasil): meio de análises de evidência total usando o critério de máxi- descrição de subfamília e descrição e revalidação de ma parcimônia. As análises moleculares realizadas pelo método gêneros de inferência bayesiana corresponderam a uma matriz de 189 táxons terminais (compreendendo 1.482 pares de bases), en- Comentários: Harvey et al. (2012) realizaram uma revisão sis- quanto as análises de evidência total incorporaram a mesma temática da família Teiidae por meio de caracteres morfológi- base de dados molecular acrescida de 51 terminais e 58 carac- cos. Os autores conduziram análises de máxima parcimônia a teres morfológicos. Os autores recuperaram topologias bem partir de formas distintas de codificação, estratégias de pesa- similares através de ambos métodos, as quais revelaram oito gem, ordenamento e inclusão/exclusão de caracteres. Harvey linhagens principais. Com base nestas topologias, Nicholson et al. (2012) também realizaram análises independentes para et al. (2012) restringiram o conceito de Anolis e revalidaram os grupos menos inclusivos dentro da família Teiidae (e.g., subfa- seguintes gêneros: Xiphosaurus Fitzinger, 1826; Norops Wagler, mílias e/ou gêneros) na tentativa de obter uma melhor resolu- 1830; Dactyloa Fitzinger, 1843; Deiroptyx Fitzinger, 1843; Cte‑ ção global do relacionamento entre os terminais considerados, notus Fitzinger, 1843; Chamalionorops Schmidt, 1919; e Audan‑ além de compilarem e discutirem dados disponíveis na litera- tia Cochran 1934. Dessa forma, dentro do território brasileiro é tura com respeito a outras hipóteses de relacionamento filoge- atualmente registrada a ocorrência de dois destes gêneros, No‑ nético, baseadas tanto em dados morfológicos quanto molecu- rops (para o antigos grupo de espécies de A. auratus – 12 spp.) lares. As topologias obtidas no estudo de Harvey et al. (2012) e Dactyloa (para o antigo grupo de espécies de A.  punctatus revelaram o merofiletismo (parafiletimos e/ou polifiletismos) – 6 spp.). da família no seu senso tradicional e, por conseguinte, os mes- mos propõem um novo arranjo taxonômico no sentido de me- lhor refletir historia evolutiva do grupo. Deste modo, os auto- Squamata Merrem, 1820 (ca. 9.000 espécies, 740 no res reconheceram três subfamílias (Callopistinae, Teiinae Estes, Brasil): filogenias sem proposição de mudanças de Queiroz e Gauthier, 1988 e Tupinambinae Estes, de Queiroz taxonômicas e Gauthier, 1988), sendo a primeira descrita para acomodar a li- nhagem mais basal dentro da família que corresponde ao gêne- Comentários: Gauthier et  al. (2012) realizaram análises fi- ro Callopistes Gravenhorst, 1837. Com o objetivo de resolver o logenéticas morfológicas a partir de 192 táxons terminais de polifiletismo dos gêneros Ameiva Meyer, 1795, Cnemidophorus Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 18. Mudanças Taxonômicas 103 Wagler, 1830 e Tupinambis Daudin, 1802 os autores descreve- Leposternon Wagler, 1824 (9 espécies, todas no Brasil): ram quatro novos gêneros (Ameivula, Aurevela, Contomastix e revalidação de gênero e descrição de espécie nova Modopheros) e revalidaram dois outros, Holcosus Cope, 1862 e Salvator Duméril e Bibron, 1839. Assim, atualmente, dentro do Comentários: Ribeiro et al. (2011) descreveram uma nova es- território brasileiro ocorrem os seguintes gêneros de Teiidae: pécie de Amphisbaenidae para o Cerrado dos Estados de Goiás e Ameiva (2  spp.), Ameivula (10  spp.), Cnemidophorus (2  spp.), Minas Gerais, alocando-a no gênero Leposternon (previamente Contomastix (2 spp.), Kentropyx (7 spp.), Teius (2 spp.), Croco‑ sinonimizado com Amphisbaena por Mott e Vieites, 2009). Em dilurus (monotípico), Dracaena (2 spp.), Salvator (2 spp.) e Tu‑ sua discussão, os autores justificaram que o gênero Leposternon pinambis (4 spp.). constitui um grupo natural dentro dos anfisbenídeos Neotropi- cais e que a topologia obtida no estudo de Mott e Vieites (2009) somente havia apresentado altos valores de suporte nas proba- Mabuyidae Mittleman, 1952 bilidades posteriores da análise bayesiana (que podem ser mui- Mabuyinae Mittleman, 1952 (ca. 61 espécies, 14 no to afetadas por decisões e/ou opções metodológicas), enquanto Brasil): descrição de espécies e de táxons supra- o suporte deste clado (contendo representantes de Amphisbae‑ específicos (gêneros e subfamílias), revalidação de na, Anops Bell, 1833, Cercolophia Vanzolini, 1992 e Leposternon) gêneros foi baixo nas análises de máxima parcimônia e verossimilhança. Ribeiro et al. (2011) comentaram que ao reanalisarem a matriz Comentários: Hedges e Conn (2012) realizaram análises fi- original de dados fornecida por Mott e Vieites (2009) obtive- logenéticas moleculares por meio de métodos probabilísticos ram uma topologia significativamente distinta a das análises (máxima verossimilhança e inferência bayesiana) para repre- prévias de máxima verossimilhança e, apesar de corroborarem sentantes do gênero Mabuya Fitzinger, 1826 (sensu lato) a par- a topologia anterior, as análises de máxima parcimônia refor- tir de uma matriz de dados composta por 3 marcadores mito- çaram os baixos valores de suporte do clado em questão. En- condriais e um (1) nuclear para 136 indivíduos (perfazendo um tretanto, Ribeiro et  al. (2011) não fornecem muitos detalhes total de 2.701 pares de bases), tratados de forma concatenada metodológicos com respeito às análises conduzidas (dados não e, em certos casos, não-concatenada (e.g., citocromo b). A partir mostrados no referido estudo). Assim sendo, de forma implíci- das topologias obtidas, mesmo considerando o baixo suporte ta, os autores revalidaram o gênero Leposternon para acomodar apresentado por vários ramos, os autores reconheceram gran- L.  maximus, bem como as demais espécies tradicionalmente de parte dos clados recuperados como 13 novos gêneros e re- alocadas no gênero Leposternon, diagnosticando a nova espé- validaram dois outros previamente colocados na sinonímia de cie pelo elevado número de annuli pós-peitorais. Consequente- Mabuya (Copeoglossum Tschudi, 1845 e Spondylurus Fitzinger, mente, o gênero Amphisbaena (sensu Ribeiro et al., 2011) cons- 1826). Ainda, com base na caracterização morfológica apresen- titui um grupo parafilético com respeito a Leposternon. tada, Hedges e Conn (2012) descreveram 24 espécies e revali- daram outras 10, sobretudo das Ilhas do Caribe. Dessa forma, temos atualmente nove gêneros reconhecidos para o território Serpentes Linnaeus, 1758 brasileiro (Aspronema, Brasilicincus, Copeoglossum, Exila, Man‑ Scolecophidia Cope, 1864 ciola, Notomabuya, Psychosaura, Trachylepis e Varzea), sendo três Leptotyphlopidae Stejneger, 1891 deles monotípicos. Trilepida Hedges, 2011 (ca. 13 espécies, 7 no Brasil): descrição de espécie Amphisbaenia Gray, 1844 Comentários: Pinto e Fernandes (2012) revisaram o posicio- Amphisbaenidae Gray, 1865 namento taxonômico das populações previamente associadas Amphisbaena Linnaeus, 1758 (ca. 92 espécies, 57 no à Trilepida dimidiata (Jan, 1862), as quais apresentavam um Brasil): elevação de subespécies ao nível específico grande hiato em sua distribuição geográfica (entre o sul do Estado de Roraima e a base da cadeia do Espinhaço no Esta- Comentários: Perez et al. (2012) revisaram o posicionamento do de Minas Gerais). Esta espécie, originalmente descrita do taxonômico de A. prunicolor e A. albocingulata (o último táxon Brasil sem localidade específica, teve posteriormente a sua tem sido tradicionalmente considerado como subespécie de localidade-tipo restrita para São Marcos, município de Boa A.  prunicolor). Apesar de A.  albocingulata ter sido tratada em Vista em Roraima (Peters e Orejas-Miranda, 1970). Pinto e nível específico por autores prévios, os referidos estudos não Fernandes (2012) estabeleceram que, em face da perda do ho- balizaram esta decisão taxonômica em comentários adequados lótipo (destruído durante a Segunda Guerra Mundial) e de sua fornecendo caracteres diagnósticos para o reconhecimento des- descrição original sucinta, não é possível associar o nome Ste‑ tes táxons na categoria de espécie (cf. Vanzolini, 2002). Perez nostoma dimidiatum Jan, 1862 com suas populações naturais et al. (2012) diagnosticaram propriamente ambos táxons (reco- e, consequentemente, designaram um neótipo para a espécie. nhecidos em nível específico) através de uma combinação única Os autores estabeleceram que a população distribuída ao lon- de caracteres morfológicos, como por exemplo pela presença da go da Serra do Espinhaço representa outra espécie para a qual série transversal de escamas pós-malares em A. prunicolor que nomearam Trilepida jani (nome em substituição a Tricheilos‑ está ausente em A. albocingulata. toma; veja Hedges, 2011), distinguindo-a dos demais Epictini Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 19. 104 Mudanças Taxonômicas Hedges, Adalsteinsson e Branch, 2009 por meio de uma com- peruana e brasileira representam Atractus natans Hoogmoed binação única de caracteres. e Prudente, 2003 (= A. emersoni Silva, 2004; veja abaixo). Em função de seu histórico nomenclatural complexo e em face da perda do holótipo, que nunca havia sido figurado, os autores Caenophidia Hoffstetter, 1939 designaram um neótipo no sentido de estabilizar a taxono- Dipsasidae Bonaparte 1838 (ca. 730 espécies, ca. 300 mia de A.  microrhynchus. Durante este processo, e com base no Brasil): redefinição de táxons supra-específicos, no exame das séries-tipo e espécimes adicionais de A. natans e sinonimização, revalidação e descrição de gêneros A. emersoni (espécies previamente identificadas erroneamente como A. microrhynchus ou A. cf. microrhynchus), os autores ob- Comentários: Grazziotin et  al. (2012) realizaram análises fi- servaram grande sobreposição entre vários complexos de carac- logenéticas moleculares para a família Dipsadidae Bonaparte teres morfológicos (e.g., dados merísticos, morfométricos e de 1838 por meio de métodos de máxima parcimônia e máxima padões de coloração) de ambas espécies e, consequentemente, verossimilhança, usando diferentes estratégias de alinhamento relegaram A. emersoni a sinonímia de A. natans. (homologia dinâmica e estática) em análises independentes. A matriz de dados foi composta por 246 terminais (representan- do 196 espécies) e oito marcadores, sendo cinco mitocondriais Viperidae Laurenti, 1768 e três nucleares, onde novas sequências foram incorporadas Crotalinae Oppel, 1811 para gêneros monotípicos previamente não amostrados (e.g., Bothrops Wagler, 1824 (ca. 50 espécies, 25 no Brasil): Sordellina Procter, 1923 e Rhachidelus Boulenger, 1908). Os descrição de espécie autores recuperam topologias, em grande medida, congruen- tes com análises prévias (Zaher et al., 2009; Pyron et al., 2011) Comentários: Barbo et al. (2012) descreveram Bothrops otavioi e com base nos resultados obtidos, muitas vezes pela inclusão para a população de jararacas da Ilha de Vitória situada no li- de novas sequências, propuseram rearranjos taxonômicos no toral norte do Estado de São Paulo. Os autores diagnosticaram sentido de contornar problemas com os agrupamentos artifi- a nova espécie das populações continentais (Bothrops jararaca ciais. Neste sentido, as tribos Alsophiini Fitzinger, 1843, Echi- sensu lato), bem como das outras espécies insulares de com- nantherini Zaher, Grazziotin, Cadle, Murphy, Moura-Leite e plexo B.  jararaca (B.  alacatraz e B.  insularis; veja abaixo), por Bonatto, 2009 e Conophiini Zaher, Grazziotin, Cadle, Mur- meio de um conjunto único de caracteres morfológicos (e.g., phy, Moura-Leite e Bonatto, 2009 e os gêneros Clelia Fitzin- dados merísticos, morfométricos, hemipênis etc.), considera- ger, 1826, Erythrolamprus Boie, 1826, Hypsirhynchus Günther, dos separadamente para cada táxon. Os autores incluíram se- 1858, Phylodryas Wagler, 1830 e Phimophis Cope, 1854 foram quências de ADN mitocondrial (cytocromo b) de B. otavioi na redefinidos pela inclusão e/ou exclusão de táxons. O gênero matriz de dados de Grazziotin et al. (2006) e recuperaram uma Umbrivaga Roze, 1964 foi sinonimizado com Erythrolamprus. topologia que agrupou B. otavioi no clado norte do complexo Os gêneros Antillophis Maglio, 1970, Darlingtonia Cochran, B.  jararaca, revelando que a nova espécie apresenta o hapló- 1935, Ocyophis Cope, 1886 e Schwartzophis Zaher, Grazziotin, tipo de citocromo b mais comum deste agrupamento. Barbo Cadle, Murphy, Moura-Leite e Bonatto, 2009 foram revalida- et al. (2012) discutem que o padrão geneológico observado po- dos. Os gêneros Paraphimophis e Rodriguesophis foram erigidos deria ser explicado por um evento de especiação recente, tal- para acomodar respectivamente Oxyrhopus rusticus Cope, 1878 vez relacionado com as oscilações do nível oceânico durante o (espécie-tipo por monotipia) e Rhinostoma iglesiasi Gomes, Pleistoceno. 1915 (espécie-tipo por designação original). Além de R. iglesiasi o gênero Rodriguesophis compreende R. chui (Rodrigues, 1993) e R. scriptorcibatus (Rodrigues, 1993). Ainda, Grazziotin et al. Referências (2012) propõem Philodryas georgesboulengeri como nome em substituição para Oxybelis boulengeri Procter, 1923 (pré-ocu- Barbo, F. E., F. G. Grazzioton, I. Sazima, M. Martins e R. J. Sawaya. 2012. pado por Philodryas boulengeri Werner, 1909) e Erythrolamprus A new and threatened insular species of lancehead from Southeastern albertguentheri como nome em substituição para Liophis guen‑ Brazil. Herpetologica, 68:418‑429. Conrad, J. L. 2008. Phylogeny and systematics of Squamata (Reptilia) theri Peracca, 1897 (pré-ocupado por Erytrholamprus guentheri based on morphology. Bulletin of the American Museum of Natural History, Garman, 1883) 310:1‑182. Crawford, N. G., B. C. Faircloth, J. E. McCormak, R. T. Brumfield, K. Winker e T. C. Glenn. 2012. More than 1000 ultraconserved elements Atractus Wagler, 1828 (ca. 140 espécies, 34 no Brasil): provide evidence that turtles are the sister group of archosaurs. Biology Letters, 8:783‑786. posicionamento taxonômico e sinonimização de Gauthier, J. A., M. Kearney, J. A. Maisano, O. Rieppel e A. D. B. Behlke. espécies 2012. Assembling the Squamata tree of life: perspectives from the phenotype and the fossil record. Bulletin of the Peabody Museum of Natural Comentários: Passos et al. (2012) redescobriram Atractus mi‑ History, 53:3‑308. Grazziotin, F. G., M. Monzel, S. Echeverrigaray e S. L. Bonatto. 2006. crorhynchus (na natureza e a partir de exemplares depositados Phylogeography of the Bothrops jararaca complex (Serpentes: Viperidae): em coleções científicas) e estabeleceram que os exemplares pre- past fragmentation and island colonization in the Brazilian Atlantic viamente associados a esta espécie procedentes da Amazônia Forest. Molecular Ecology, 2006:1‑14. Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 20. Mudanças Taxonômicas 105 Grazziotin, F. G., H. Zaher, R. W. Murphy, G. Scrocchi, M. A. Benavides, Pinto, R. R. e R. Fernandes. 2012. A new blind snake species of the genus Y. P. Zhang e S. L. Bonatto. 2012. Molecular phylogeny of the new world Tricheilostoma from the Espinhaço range, Brazil and taxonomic status Dipsadidae (Serpentes: Colubroidea): a reappraisal. Cladistics, 2012:1‑23. of Rena dimidiata (Jan, 1862) (Serpentes: Epictinae: Leptotyphlopidae). Harvey, M. B., G. N. Ugueto e R. L. Gutberlet. 2012. Review of teiid Copeia, 2012:37‑48. morphology with a revised taxonomy and phylogeny of the Teiidae Pyron, A., F. T. Burbrink, G. R. Colli, A. M. O. Nieto, J. L. Vitt, C. A. (Lepidosauria: Squamata). Zootaxa, 3459:1‑156. Kuczynski e J. J. Wiens. 2011. The phylogeny of advanced snakes Hedges, B. S. 2011. The type species of the threadsnake genus Tricheilostoma (Colubroidea), with discovery of a new subfamily and comparison of Jan revisited (Squamata, Leptotyphlopidae). Zootaxa, 3027:63‑64. support methods for likelihood trees. Molecular Phylogenetics and Evolution, Hedges, B. S. e C. E. Conn. 2012. A new skink fauna from Caribbean island 58:329‑342. (Squamata, Mabuyidae, Mabuyinae). Zootaxa, 3288:1‑244. Ribeiro, S., C. Nogueira, C. E. Cintra, N. J. Silva e H. Zaher. 2011. Lyson, T. R., E. A. Sperling, A. M. Heimberg, J. A. Gauthier, B. C. King e Description of a new pored Leposternon (Squamata, Amphisbaenidae) K. J. Peterson. 2011. MicroRNAs support a turtle + tuatara clade. Biology from Brazilian Cerrado. South American Journal of Herpetology, 6:177‑188. Letters, 8:104‑107. Rieppel, O. e de Braga, M. 1996. Turtles as diapsid reptiles. Nature, Mott, T. e D. Vieites. 2009. Molecular phylogenetics reveals extreme 384:453‑455. morphological homoplasy in Brazilian worm lizards challenging current Vanzolini, P. E. 2002. An aid to the identification of the South American taxonomy. Molecular Phylogenetics and Evolution, 51:190‑200. species of Amphisbaena (Squamata, Amphisbaenidae). Papéis Avulsos de Nicholson, K., B. I. Crother, C. Guyer e J. M. Savage. 2012. It is time for a Zoologia, 42:351‑362. new classification of anoles (Squamta: Dactyloidea). Zootaxa, 3477:1‑108. Wiens, J. J., C. R. Hutter, D. G. Mulcahy, B. P. Noonan, T. M. Towsend, Passos, P., D. Cisneros-Heredia, D. E. Rivera, C. Aguilar e W. E. Schargel. J. W. Sites e T. W. Reeder. 2012. Resolving the phylogeny of lizards and 2012. Rediscovery of Atractus microrhynchus and reappraisal of the snakes (Squamata) with extensive sampling of genes and species. Biology taxonomic status of A. emersoni and A. natans. Herpetologica, 68:375‑392. Letters, 8:1043‑1046 Perez, R., Ribeiro, S. e Borges-Martins, M. 2012. Reappraisal of the Zaher, H., F. G. Grazziotin, J. E. Cadle, R. W. Murphy, J. C. Moura- taxonomic status of Amphisbaena prunicolor (Cope 1885) and Amphisbaena Leite e S. L. Bonatto. 2009. Molecular phylogeny of advanced albocingulata Boettger 1885. Zootaxa, 3550:1‑25. snakes (Serpentes, Caenophidia) with an emphasis on South American Peters, J. A. e B. R. Orejas-Miranda. 1970. Catalogue of the Neotropical Xenodontines: a revised classification and descriptions of new taxa. Papéis Squamata: Part  I. Snakes. Bulletin of the United States National Museum, Avulsos de Zoologia, 40:115‑153. 297:1‑347. Bokermannohyla alvarengai, Itambé, MG (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 21. 106 Ensaios & Opiniões Uma Nota é um Artigo Completo Publicado em Periódico? Adrian Antonio Garda* * Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências – DBEZ, Campus, Universitário, Lagoa Nova, CEP 59078‑970, Natal, RN, Brasil. “Artigo Completo Publicado em Periódico” (ACPP) é o título Levantamento de dados da seção central do Currículo Lattes utilizada, nacionalmente, pelas agências de fomento para comparar pesquisadores no Para responder a essas perguntas eu analisei os Curriculum Brasil. Um artigo completo pode ser definido como um texto Vitae na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desen- resultante de um trabalho de pesquisa que tenha Resumo, In- volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (CV Lattes), de 57 trodução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e Biblio- herpetólogos doutores empregados em universidades federais, grafia Citada. Entretanto, como mostrarei adiante, o que nós estaduais, centros de pesquisa e museus em todo o Brasil, para herpetólogos temos listado nessa seção não corresponde so- quantificar a real extensão da utilização indevida do campo mente a esse tipo de produção. ACPP nos currículos. Classifiquei como nota qualquer publica- Outro tipo de publicação bastante em voga entre os her- ção sobre extensão de distribuição geográfica ou observações petólogos, principalmente após o ano 2000 (Figura 1), são as simples de história natural, como definido anteriormente. Pu- “Notas Científicas” (NC). Refiro-me às informações pontuais blicações de descrições de cantos ou girinos, hemipênis e listas onde a definição que atribuo acima a um artigo completo não se de espécies resultantes de inventários faunísticos foram consi- aplica. Sem dúvida, a definição do que é uma NC pode ser difícil deradas como ACPP. (apesar da maioria das revistas fazer isso por nós). Aqui, consi- No total, 57 profissionais publicaram 2.794 artigos (até dero NC aquelas publicações cujos resultados correspondem à Fevereiro de 2012) listados nos CV Lattes na seção de ACPP. extensão da distribuição geográfica conhecida e a observações Desses, 556 (20%) são NC publicadas desde 1986 (Figura  1), de história natural, geralmente de uma única espécie. distribuídas em quantidades variáveis em nove diferentes peri- Nosso hábito de listar nessa seção notas de campo vem, há ódicos (Figura 2). A proporção individual para cada pesquisador algum tempo, causando desconforto em muita gente. Ecólogos, da produção composta por NC variou de zero a mais de 65% do botânicos e até mesmo outros zoólogos já me olharam com um que está listado no campo ACPP dos CV lattes. sorriso irônico e disseram: “Ah, vocês vivem publicando aquelas Nove bolsistas de produtividade nível 1 concentram 1.064 notinhas…” (ainda que algumas publicações destes pesquisado- trabalhos, mas apenas 85 (8% do campo ACPP) correspondem res também não se encaixem na definição acima de artigo com- a NC (Figura  3a,b). Ao excluirmos do total de pesquisadores pleto). Entretanto, será que isso é realmente muito frequente esses bolsistas, temos 1.730 artigos e 471 notas (27,2% do entre nós herpetólogos? Estamos mesmo citando observações campo ACPP) listadas pelos demais pesquisadores. Destes, 19 pontuais como se fossem artigos científicos e, se sim, com que frequência e intensidade? Figura 1: Número acumulado de notas científicas e professores doutores na área de herpetologia entre os anos de 1986 e 2012. As notas estão listadas no Figura 2: Número de notas publicadas por revista científica listadas no campo campo “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do Curriculum Vitae na “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do Curriculum Vitae na Platafor- Plataforma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em ma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em institui- instituições de pesquisa e ensino no Brasil. ções de pesquisa e ensino no Brasil. Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 22. Ensaios & Opiniões 107 bolsistas de produtividade nível 2 concentram 823 artigos, dos reflexo da quantidade de estudantes já orientados, ou de uma quais 181 são NC (22% do campo ACPP, Figura 3). Os 29 pes- proporção maior dessas publicações no início da carreira, a Fi- quisadores restantes listaram 907 artigos, dos quais 318 são gura  3B deveria apresentar uma distribuição mais inclinada NC (35%). Tendo em vista que existe uma correlação negativa para a direita, o que não ocorre. entre ano de doutoramento e nível dos bolsistas de produtivi- De todos os 57 herpetólogos, apenas cinco que publicaram dade (rpearson = ‑0.63, t55 = ‑6,03, p<0,0001, n = 55), percebemos alguma nota não listaram nenhuma delas no campo ACPP no uma clara e preocupante tendência dos currículos dos jovens CV Lattes. Os campos utilizados por esses pesquisadores foram herpetólogos brasileiros apresentarem maiores proporções de “Resumos Publicados em Anais de Congresso (Artigos)” e “Ou- notas científicas (Figura 3B). Caso o número de NC fosse um tra Produção Bibliográfica (Notas)”. Figura 3: Análise do número de artigos (A), do número de notas (B) e da proporção de notas (C) listadas no campo “Artigos Completos Publicados em Periódicos” do Curriculum Vitae na Plataforma Lattes (CNPq) de 57 herpetólogos profissionais contratados em instituições de pesquisa e ensino no Brasil. Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012
  • 23. 108 Ensaios & Opiniões Implicações Zoologia, no Boletim ou no Arquivos do Museu Nacional como B3! Por analogia, a culpa é nossa, pois estamos listando tudo Em conversas com outros pesquisadores, nós herpetólogos junto no CV lattes e nos relatórios do Coleta CAPES. É fácil ver, somos criticados por estarmos deliberadamente inflando nos- a partir da Figura 2, que a CAPES acaba por supervalorizar o sos currículos. Exemplos substanciam essa preocupação, tais HR. Entretanto, se tirássemos as quase 400 publicações no HR como pessoas que passaram em seleções de curso de pós-gradu- dos CV lattes, este periódico não teria a mesma importância e, ação, de professor substituto e mesmo de professor efetivo de certamente, o valor do SAJH, dos Papéis Avulsos de Zoologia, universidades públicas ou obtiveram recursos de órgãos de fo- do Boletim e dos Arquivos do Museu Nacional subiriam devido mento, cujos editais não faziam distinção entre uma nota, como ao seu imediato aumento de representatividade! no periódico “Herpetological Review” (HR), e um artigo científi- Além disso, um fenômeno muito menos explorado, mas co completo (ou mesmo davam maior valor às NC do HR, por ser igualmente problemática é a diluição, dentro do CV Lattes do internacional). Por essa razão, muitos cientistas nos olham com pesquisador, das suas contribuições mais relevantes (ACPP) em certo sarcasmo, sugerindo que estamos copiando os cururus, in- um mar de pequenas NC. Quantas notas poderiam equivaler a flando os pulmões para parecermos maiores do que somos. um artigo completo? Em minha opinião, nenhum número de Evidentemente, não está em discussão o inegável valor das notas equivale a um único artigo verdadeiramente completo NC face ao problema da escassez de dados sobre a distribuição publicado em periódico. Muitos pesquisadores não veem com de répteis e anfíbios na América do Sul e, em especial, no Brasil. bons olhos a listagem de NC como ACPP (ninguém faz isso no Essa escassez também afeta o conhecimento prosaico sobre a exterior!) e isso, muitas vezes, pode gerar mal estar em proces- história natural e ecologia das espécies. Tais fatores justificam sos de avaliação de currículos e ofuscar contribuições relevan- compartilhar esses dados com a sociedade o quanto antes. As tes e de boa qualidade de um determinado candidato. NCs garantem, ainda, uma ótima porta de entrada e de apren- Em suma, colocar ACPP misturados com NC causa os se- dizado para os alunos de iniciação científica aprender o proces- guintes problemas: 1)  prejudica a avaliação das nossas revis- so de redação, submissão e divulgação da informação, tão im- tas, muitas até centenárias, na avaliação do Qualis da CAPES; portante em nossas carreiras. Isso é claro, desde que fique claro 2) ensina errado aos novos pesquisadores o que é um ACPP e, de antemão para esses alunos a distinção entre NCs e ACPP. portanto, perpassa uma ideia equivocada de ciência; 3)  afeta Entretanto, a preocupação com a possibilidade de inflarmos comparações curriculares que podem influenciar negativamen- os currículos e a justificativa pela necessidade de mais dados te a distribuição de bolsas, o fomento à pesquisa e até mesmo ofuscam um problema conceitual mais importante: como é que acarretar em contratações injustas; 4) valoriza o imediatismo e nós, herpetólogos, concebemos, interpretamos e, principal- o compromisso com a quantidade em detrimento da qualidade, mente, ensinamos o que é ciência? Um aluno iniciando carreira baseado na filosofia do “Publish or Perish”; 5) dilui, no CV Lattes na área de herpetologia não entende suficientemente bem de do pesquisador, as suas publicações mais relevantes, ofuscando metodologia científica para separar o joio do trigo. Está ha- sua maior contribuição para a área. vendo um equívoco fundamental, que vai do extremo paramé- Como mudar isso? A postura mais ética, na minha opinião, é trico do índice de impacto ao extremo do tipo “metralhadora” que cada um de nós pesquisadores liste as NCs (ao menos como na equiparação de notas de campo a artigos científicos. Esse definidas aqui) na seção “Outra Produção Bibliográfica”. A nova equívoco é fruto de mensagens confusas, conflituosas, recebi- versão dos currículos na Plataforma Lattes do CNPq oferece no das pelos jovens pesquisadores. De um lado, a Coordenação de campo “Natureza” dos dados gerais de “Outra Produção Biblio- Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) esti- gráfica” a opção “Nota”. Desse modo, já existe um campo ade- mula os programas de pós-graduação a publicarem em revistas quado para listar essas publicações. Devemos, também, exigir com maior índice de impacto e negligencia importantes con- que nossos alunos façam o mesmo e, quem sabe, como Socieda- tribuições em diversas revistas nacionais, através do sistema de, recomendar à CAPES que não use notas para quantificar o de qualificação de periódicos (Qualis). Do outro, a filosofia do uso dos periódicos para confecção do Qualis, atribuindo assim o “Publish or Perish”, que aliada ao boom das revistas online e re- valor devido às produções nas nossas revistas frente a meros pa- fletindo a ansiedade e o imediatismo do mundo pós-internet, rágrafos ou um par de páginas contendo uma única observação. vulgarizam a ciência e a história natural. Além de criar a possibilidade de comparações injustas (como no caso de seleções de pós-graduação e mesmo concur- sos), essa distorção afeta diretamente as revistas nacionais e o apelo que estão trazendo aos jovens herpetólogos. As revis- tas são qualificadas de acordo com seu índice de impacto pela CAPES (através do Qualis). Entretanto, um periódico pode ser mais bem avaliado (promovido), caso seja extensamente usa- do pelos professores dos programas de pós-graduação daquela área. Por conseguinte, por mais revoltante que possa parecer, o novo Qualis, para a área “Biodiversidade”, avalia um parágrafo no HR como B2, enquanto um artigo completo no South Ame- rican Journal of Herpetology (SAJH), no Papéis Avulsos de Elachistocleis bicolor, Morretes, PR (Foto: M. V. Segalla). Herpetologia Brasileira - Volume 1 - Número 3 - Novembro de 2012